sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Você é bem informado ou um palpiteiro?


Por Maurício Zágari
Vivemos na era da opinião. Todo mundo tem sempre que ter algo a dizer sobre tudo. A consequência é que, como eu e você não sabemos tudo sobre tudo, acabamos expressando visões a respeito dos mais variados assuntos sem nenhuma base, nenhum conhecimento real. E, com isso, influenciamos montes de pessoas com opiniões que não passam de mero achismo e que só vão prejudicar os demais. Todavia, existe um ato de bravura ligado a isso de que parece que a humanidade se esqueceu, que é confessar abertamente: EU NÃO SEI.
Querido, querida, você não tem a obrigação de saber tudo. Eu não entendo de montes de coisas. Quando dava aula em seminário teológico, meus alunos ficavam espantadíssimos porque às vezes me perguntavam coisas e eu respondia: “Eu não sei”, pois todos os demais professores da escola davam respostas sobre tudo o que eles perguntavam. Obviamente, porque, quando não sabiam, para não passarem por ignorantes, inventavam ou davam opiniões, mas não SABIAM de fato. “Professor, Adão tinha umbigo?”. “Ah, claro, porque, veja bem, eu acho que…”. E esse achismo é que mata. Já eu não cometia esse tipo de atrocidade à honestidade: “Professor, os loucos vão pro Céu?”. “Eu não sei”. “Professor, por que Deus cria pessoas que Ele já sabe que vão pro inferno?”. “Eu não sei”. “Professor, se o diabo não é onisciente e onipresente como ele tenta 7 bilhões de habitantes do planeta ao mesmo tempo”. “Eu não sei”!!!

Existem mais coisas que não sei, ou seja, para as quais não tenho respostas, do que as que eu sei explicar. Falta-me conhecimento em muitas áreas. O mesmo ocorre com você. O mesmo ocorre com pastores e teólogos famosos. E aí começa o problema.

Pega mal para uma suposta autoridade não ter respostas na nossa cultura atual. Então o que ela faz? Inventa aquilo que mais lhe parece fazer sentido. No popular: entra pelo chutômetro. Só que as bases de suas afirmações em enorme parte das vezes são mero achismo, mera especulação. Mas como são pastores, teólogos e cantores gospel FAMOSOS, a palavra deles vira o 67o livro da Biblia. Por que eu destaquei “famosos”? Porque a fama é uma desgraça que te obriga a ter opiniões sobre tudo e converge os olhares para você. Pior: se você é famoso, os outros acreditam no que você diz. E tem muita gente famosa causando grandes estragos nos crédulos.


Ano passado fui a uma conferência teológica e lá encontrei a esposa de um pastor que por sua vez é muito amigo de outro pastor que tem pregado que Deus não tem controle sobre as tragédias do mundo, a tal Teologia Relacional (versão brasileira do Teísmo Aberto americano). O inventor dessa heresia é muito famoso, tem milhares de seguidores nas mídias sociais e até tinha uma coluna numa respeitada revista cristã (que justamente por ser séria teve a hombridade de demiti-lo) e vive tuitando muito sobre os valores dessa teologia, entre um verso e outro de poesias. Almocei com essa senhora e por saber que ela era próxima do “herege da vez” (como ele mesmo se autointitulou) com muita curiosidade lhe perguntei afinal de contas qual era a dele com esse pensamento novo – um pensador que eu admirara tanto no passado mas que tinha criado uma teologia antagônica à Bíblia. Ao que ela me respondeu: “Zágari, ele tem muito mais perguntas do que conclusões”. Diante disso, eu passei a me questionar: se ele tem perguntas sem conclusão, por que não diz EU NÃO SEI em vez de começar a lançar aos quatro ventos suas meras elocubrações como se fossem afirmações e verdades descidas do Céu trazidas por anjos em bandejas de prata? Pois ao fazer isso ele está irresponsavelmente contaminando milhares de pessoas com suas dúvidas sem apresentar respostas biblicamente embasadas.
Esse mal corrói nossas celebridades gospel. Afirmam muito, quando sabem pouco. Já participei diversas vezes de um programa de rádio de debates cristãos numa famosa rádio do Rio de Janeiro. E tive a oportunidade de ouvir, por exemplo, um pastor famoso de uma igreja famosa por lançar músicas que se tornam hits nacionais dizer absurdos homéricos do ponto de vista bíblico. “Se eu entrar numa boate o Espirito Santo fica na porta”, rompeu em fé o tal, que provavelmente nunca viu na Biblia que o Espirito habita em nós e que onde a luz brilha as trevas se dissipam e não o contrário. Eu, uma humilde ovelhinha, tive de lhe ensinar: “Pastor, acho que o senhor está falando de algo que NÃO SABE. Pois a Biblia não diz isso”. Ele passou o resto do programa de cara feia para mim e nem se despediu na hora de ir embora. Talvez ele não saiba divergir em ideias como um bom cristão.
Na faculdade de Jornalismo ouvi certa vez de um professor o seguinte: “Vergonha não é não saber, é se conformar em não saber e não buscar saber”. Creio que esse é o caminho. Pois hoje quem mais forma opiniões no Brasil (em especial no meio cristão) são a televisão, a rádio e a internet, não são mais os púlpitos. E a quantidade de gente que está nesses lugares dizendo absurdos, heresias, bobagens teológicas, erros bíblicos, opiniões desembasadas e coisas similares beira a maioria. Pessoas que não procuram o conhecimento. Que só querem informação e que cansam de repetir o que ouviram de alguém: não investigaram, não estudaram, não conferiram. Ouviram por aí. Mas afirmam com uma certeza acadêmica! O resultado disso é que daqui a pouco vemos pastores defendendo lutas de UFC, celebridades defendendo a participação de cantores gospel em programas de TV onde se oferecem oferendas a Iemanjá, cristãos anônimos defendendo loucuras do ponto de vista bíblico e outras insanidades teológicas. Não tem certeza se a Biblia aprova aquilo? Diga “eu não sei”. Não saia defendendo uma ideia se você não sabe se Deus aprova.

A igreja visível no Brasil transborda de opiniões. Todo mundo tem opiniões. Pouquíssimos sabem dar argumentos sólidos, bíblicos e teológicos para justificar seus pensamentos. E os que o fazem não estão na grande mídia. Geralmente, para ganhar dinheiro, poder e fama, quem está na grande mídia maipula as massas cristãs que simplesmente… não sabem. É por isso que chega um pregador fanfarrão na TV pedindo dinheiro em troca de “unção financeira” e milhares dão seu suado dinheirinho porque NÃO SABEM que aquilo é um pecado chamado simonia e uma inacreditável heresia. Ou que uma cantora gospel diz que o povo atravessou o Mar Vermelho saltando, cantando e dançando e a igreja termina os cultos aos saltos achando aquilo o máximo, porque NÃO SABE o desacordo bíblico que é aquilo – o povo estava apavorado pela aproximação de faraó e não feliz da vida.
Chega de opiniões. Chega de achismos. Não me interessa o que as celebridades pensam. Não me interessa o que um famoso gospel acredita ser fato. E sugiro que você faça o mesmo. Ele ou ela é apenas mais um na multidão de pessoas que têm uma opinião, com a diferença que alguém lhe deu um microfone na mão. Eu quero buscar a verdade. Quero ir atrás dos que sabem. Dos que gastaram horas e horas e horas não assistindo a lutas de UFC ou vendo programas de TV com cantores gospel, mas estudando a Palavra, lendo bons livros dos melhores autores cristãos, frequentando seminários teológicos sérios, dedicando seu tempo ao saber. Para que cada vez mais eu possa substituir a honra de dizer EU NÃO SEI pela honra de dizer AGORA EU APRENDI.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Evangélicos podem ajudar a decidir eleições municipais deste ano


Durante a campanha presidencial de 2010, muito analistas acreditam que os evangélicos foram determinantes para a realização de um segundo turno. Questões como a legalização do aborto e o casamento homossexual passaram a ser debatidos também nos púlpitos. José Serra (PSDB) colocou inclusive líderes como Silas Malafaia e Valdomiro Santiago para falar durante o horário eleitoral na TV.
Além disso, Dilma Rousseff (PT) foi amplamente criticada pela ala conservadora do catolicismo, mas teve ao seu lado líderes da Assembleia de Deus, Renascer e outras denominações.
Para a eleição a prefeito deste ano, a maioria dos partidos já fazem uma aproximação, buscando atrair o voto da maior quantidade de igrejas possível. O assunto foi tema de uma reportagem publicada nesta segunda-feira pela “Folha de São Paulo”.
Em São Paulo, o Partido Social Cristão (PSC), próximo da Assembleia de Deus, e Partido Republicano Brasileiro (PRB), ligado à Igreja Universal, se uniram para lançar Celso Russomanno como seu candidato.
Lideranças de partidos maiores como PT, PSDB e PMDB também buscam uma aproximação com os religiosos, querendo que essa aliança dê uma melhor imagem para seus candidatos.

Fernando Haddad, pré-candidato do PT, e atual ministro da Educação, possivelmente terá dificuldades para conquistar o voto dos evangélicos por conta do polêmico “kit gay” que tentou distribuir nas escolas. Por outro lado, ele conta com o apoio de setores progressistas da Igreja Católica.

Para especialistas, as igrejas são alvo dos políticos porque o púlpito muitas vezes serve de palanque e os pastores têm público cativo.

“O pastor mantém a neutralidade o máximo que pode. Por que vai pedir voto antes da hora e correr o risco de alguém da congregação simpatizar com o adversário?”, explica o vereador evangélico Carlos Apolinário (DEM).
Segundo a Folha, as igrejas pentecostais são muito procuradas, em especial Assembleia de Deus, Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça de Deus, Igreja Renascer em Cristo e Igreja Mundial do Poder de Deus.
O motivo desse interesse político é a penetração das igrejas na periferia, onde um pastor geralmente já tem ascendência sobre os fiéis.

“Os pentecostais estão em regiões com nível de escolaridade menor, então é mais fácil construir um discurso”, diz o cientista político Cesar Romero Jacob. Isso não garante que pastores possam impor um “voto de cabresto religioso”. ”Em São Paulo, o peso das religiões é diminuído diante da força do PT e do PSDB. São os partidos que dão o tom da disputa na cidade”, diz Jacob.

Na eleição de 2008, por exemplo, Marta Costa (PSD) disputou a reeleição como vereadora tendo o apoio do seu pai, o pastor José Wellington Bezerra da Costa, presidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus. Mesmo assim elegeu-se pelo DEM com apenas 40 mil votos, menos que os 50 mil conquistados pelo ex-judoca Aurélio Miguel (PSDB).
Segundo o sociólogo Antônio Flávio Pierucci, da USP, a maior influência das igrejas é o poder de veto. ”Não existe voto religioso no sentido de um grupo votar em quem o pastor manda, mas a religião pode levar o cidadão a não escolher determinado candidato que apoia bandeiras contrárias a sua fé”, explica.

Para ele, aborto e casamento gay não são temas municipais e por isso a mobilização dos religiosos se dará em outras frentes.