terça-feira, 6 de março de 2012

Sofrimento — Bem ou Mal?


Por William Fitch
Pedro lembra aos crentes que o próprio Cristo sofreu; e lhes diz que eles são "participantes das aflições de Cristo" naquilo que agora suportam. "Ora, pois, já que Cristo padeceu por nós na carne, armai-vos também vós com este pensamento." (I Ped. 4:1). "Mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo." (I Ped. 4:13). A lembrança dos sofrimentos do seu Mestre santificará e temperará o seu sofrimento e dor.
A resposta cristã ao problema do sofrimento deve pôr-se face a face ante este fato supremo. Fora daí, realmente não há resposta. Mas as Escrituras são muito enfáticas sobre isto. Os profetas 0 viram assim: "homem de dores, e experimentado nos trabalhos" (Is. 53:3). Os evangelhos 0 apresentam como Alguém que "tomou sobre si as nossas enfermidades, e levou as nossas doenças" (Mat. 8:17). Os apóstolos declaram que Ele "aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz" (Fil. 2 :7-8). E mais: "para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas" (I Ped. 2:21). Ainda mais do que isto nos é revelado. A razão do sofrimento é dada pormenorizadamente. "Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu. E, sendo ele consumado, veio a ser a causa de eterna salvação para todos os que lhe obedecem." (Heb. 5:8-9). É digno de nota o fato de que, sempre que o exemplo de Cristo nos é apresentado nas Escrituras para nossa imitação, é Seu exemplo no sofrimento que é citado.
Isso é altamente significativo. Indubitavelmente, o nosso Senhor tinha disposição para a obediência desde o princípio dos Seus dias na terra. Todavia, foi na escola do sofrimento que Ele aprendeu a prática da obediência. Através de um longo curso de provação e sofrimento Ele aprendeu a obediência. A dispensa do sofrimento teria significado dispensa da liderança. "Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe, trazendo muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da salvação deles." (Heb. 2:10). O sofrimento ficou gravado em cada passo que Jesus deu. Por esta razão, "naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode so¬correr aos que são tentados" (Heb. 2:18).
Se havemos de responder à pergunta, "Sofrimento — Bem ou Mal?", devemos partir daqui. No coração da história está Jesus Cristo. Ele foi aperfeiçoado mediante o sofrimento. Submeteu-Se livremente à agonia e à ignomínia da cruz, e ali sofreu por todos os homens. Ao fazê-lo, esgotou o cálice do sofrimento até o fim. O sofrimento Lhe era necessário. Deus usou o sofrimento para prepará-lo para o sacrifício supremo. Ele Se encarnou para poder aprender a obediência. Suportou a vontade divina como um jugo, em vez de brandi-lo como um cetro. Este é o credo do cristão. Cristo mesmo provou o sofrimento até às maiores profundezas. Portanto, Ele entende. Portanto, Ele pode socorrer os que passam por sofrimentos e provações.

Cristo e o Sofrimento Humano


Por Mauricio Andrade
O sofrimento humano deve atingir o cristão na mesma intensidade com que atingiu Jesus Cristo. É impossível imaginar sensibilidade maior do que a demonstrada por nosso Senhor diante da complexidade da angústia, dor e confusão humanas. Observe-se, por exemplo, o choro do Senhor diante do túmulo de Lázaro, em Betânia (João 11.35). Devemos nos perguntar a razão de Jesus ter chorado ali – mas dentro do contexto da narrativa e das informações que ela nos dá. Assim, lembremo-nos de que foi o próprio Jesus que, intencionalmente, demorou-se ainda dois dias onde estava, após receber a notícia da doença de Lázaro. E deixou claro que era melhor que ele não estivesse em Betânia – e não pudesse intervir na doença – a fim de que seus discípulos tivessem nova oportunidade de crer nele. Ou seja, ele sabia o que estava para fazer; tinha o controle da situação e a conduzia para um fim específico e bom. Então, por que ele chora diante daquele quadro de desespero e dor? Por que ele se comove e se agita, tendo Maria a seus pés a dizer-lhe “Senhor, se estivesses aqui meu irmão não teria morrido!”? Seria fingimento? Parte de uma atuação diante das pessoas, já que, todo o tempo, ele sabia o que tinha ido fazer ali?

O texto diz, mais de uma vez, que Jesus amava! Ele amava Lázaro e amava suas irmãs. Ele amava pecadores e, no processo de se identificar com eles, amava-os em sua fragilidade, angústia e perplexidade diante da morte. Fragilidade por causa da impossibilidade deles de lidar com a morte de forma cabal; angústia porque a percebem inevitável; perplexidade porque não compreendem completamente que eles mesmos são responsáveis, em seu pecado, pela presença da morte a rondar-lhes a vida.
Finalmente, Jesus chora porque vê a confusão daquelas pessoas que, mesmo confiando nele e conhecendo-o intimamente, estão fracas demais, sob o peso das emoções e da dor, para perceber que podem confiar nele em qualquer momento da vida – ou da morte. Por exemplo, ao ordenar que tirem a pedra que tampava a entrada do sepulcro, Jesus encontra a oposição confusa da própria irmã do morto. Eu e você sabemos que o que Marta mais queria naquele momento era ter seu irmão de volta. E, no entanto – não em falta de fé, mas em confusão de espírito – ela se opõe à retirada da pedra apresentando um motivo menor, banal mesmo, quando se leva em conta tudo o que está acontecendo. Jesus não lhe diz que o milagre não será realizado por causa de sua “falta de fé”. Ao contrário, gentilmente lhe conforta e anima a alma, e prossegue realizando aquilo que já tinha determinado fazer antes mesmo de chegar a Betânia.
Nestes dias quando a notícia da morte repentina de centenas de pessoas atinge nosso país, é preciso manter Cristo no foco de nossa atenção, a fim de que nossa sensibilidade não se torne, apenas, um emaranhado de sentimentos que nos tirarão as forças e a confiança nele. Jesus é o foco da atenção na narrativa de João 11 – não Lázaro, não suas irmãs, nem mesmo o sofrimento delas. Cristo – que tem o controle de todas as coisas e ao, mesmo tempo, chora com os que choram – é o nosso referencial. Isso não só nos manterá confiantes em sua Palavra, mas nos tornará realmente úteis àqueles cuja fragilidade, angústia e perplexidade diante da morte, precisam de nossa presença e apoio, inclusive porque muitos deles ainda carecem de Vida – Vida em Jesus.
Fonte: Blog Fiel

O que não dizer para aqueles que estão sofrendo


Por Ed Welch
“Poderia ser pior. Você poderia ter quebrado as duas pernas.”
Nós temos algumas maneiras interessantes de animarmos uns aos outros.
A maioria dos nossos comentários genéricos para pessoas que estão sofrendo são oferecidos com boas intenções, e a maioria deles é tratada pelos receptores como equivocados, não como maliciosos, mas, com certeza, seria bom melhorarmos nosso histórico de encorajamento.
Todos nós poderíamos fazer uma lista das 10 palavras que falamos (ou ouvimos) que mais nos fazem sentir vergonha, quando nos lembramos delas. Aqui vai uma que, eu suspeito, estaria em muitas dessas listas:

“O que Deus está te ensinando por meio disso?”

Hmmm. Isso é verdade. Deus, de fato, nos ensina em nosso sofrimento, e ele trabalha todas as coisas para o bem. Concordamos com C. S. Lewis quando ele diz que a dor é o megafone de Deus para acordar um mundo ensurdecido. Mas a história de Jezebel e suas entranhas servindo de comida para os cães também é verdade. Estamos aqui para procurar verdades que sejam relevantes, pastorais e edificantes.

Considere alguns dos problemas dessa pergunta:

Ela tende a ser condescendente. Se você já ouviu essa pergunta de alguém, você provavelmente não ouviu compaixão acompanhando.
Ela sugere que o sofrimento é uma charada decifrável. Deus tem algo específico em mente, e nós temos que adivinhar o que é. Bem vindo a um jogo cósmico de 20 perguntas, e é melhor descobrir a resposta logo; de outra forma, o sofrimento continua.
Ela sugere que nós fizemos algo que desencadeou o sofrimento.
Ela passa por cima do chamado de Deus a todos que sofrem: “Confiem em mim”.

Respondendo brevemente a esses quatro problemas,

Sofrimento nos leva à humildade. As Escrituras nos fornecem vários comentários sobre o sofrimento humano, mas nenhum deles é exaustivo. O mistério do sofrimento nos lembra que somos ainda como crianças que não entendem como bons pais poderiam colocar dificuldades em seu caminho. À luz do mistério, a humildade é natural e necessária. Para aqueles que conversam com pessoas que sofrem, a humildade perante o Senhor é expressa em humildade perante aquele que sofre.
Nós interpretamos o sofrimento além da conta. Eu estou conversando com uma pessoa que passou por sofrimentos horríveis em sua vida, e “O que Deus está tentando te dizer?” tem sido a questão que todo mundo pergunta. Ela já se perguntou por anos o porquê de não ter achado a resposta ainda. Só o que ela pode imaginar é que ela é pecadora demais para entender, ou que Deus não está respondendo seus questionamentos – então ela alterna momentos de culpa e de frustração. Jó, no Antigo Testamento, e o cego de nascença, no Novo Testamento (João 9), deveriam nos manter afastados das especulações sem fim a respeito dos intentos de Deus. Nenhum dos dois entendeu o que Deus estava ensinando para eles.
Focar na relação pecado-sofrimento pode ser perigoso. Claro, a pergunta pode não assumir logo de cara que a pessoa está em pecado. Ela pode ter sido elaborada de forma positiva, tipo “O que você tem aprendido sobre Deus nisso tudo?”. Mas, a não ser que haja uma conexão muito clara entre o pecado e o sofrimento da pessoa, e isso é óbvio para todos os crentes do planeta, então não deveríamos fazer essa conexão e fazer tudo que pudermos para impedir a pessoa que sofre de fazer o mesmo. Muitos de nós vemos mais dos nossos pecados quando estamos sofrendo – eu sei que eu vejo – mas isso não significa que nosso pecado foi a causa do sofrimento.
Idéias podem trabalhar contra a fé. Com isso, não quero dizer que devemos ser estóicos de cabeça vazia em nosso sofrimento. Mas quando nosso objetivo principal é descobrir a mensagem pessoal sobre uma deficiência específica de nossas vidas, estamos descansando em nosso entendimento humano, não no caráter plenamente revelado de Deus. A fé é nosso chamado no sofrimento – fé em Jesus Cristo. Isso não é um salto impensado em direção ao desconhecido. É uma mudança no coração, de nós para Jesus. Em nosso sofrimento, queremos lembrar que Deus é, de fato, bom e compassível. A encarnação de Jesus e seu sofrimento voluntário, culminando na cruz, são evidências inegáveis. Assim, devemos confiar nele.

Alguns ouviram a pergunta “O que Deus está te ensinando?” e, apesar de não serem edificados, também não foram desmotivados. Provavelmente essa pergunta não foi a primeira a ser feita, e foi feita em um meio a um relacionamento já estabelecido. Na dúvida, desista completamente de fazê-la.

Substitua por algo assim:

“Como posso orar por você?”

Essa é uma pergunta trabalhosa. Com ela, estamos nos achegando ao que sofre, estamos lembrando a eles que Deus ouve, estamos pedindo que eles considerem as promessas de Deus, e estamos dizendo que os levaremos em nosso coração. Se você receber uma resposta como “ore para Deus me deixar em paz” ou um olhar de desprezo – algo que sugira raiva ou indiferença espiritual – fale então de algo que seja uma promessa de Deus, como o conforto de saber que ele nos ama e está sempre conosco.

Melhor ainda, podemos orar pela pessoa ali mesmo. “Como eu posso orar por você agora?”. E em seguida vem a parte mais importante – dar seguimento. Quando oramos por alguém, deveríamos continuar orando até que vejamos o agir de Deus.

E não fui eu quem disse aquilo sobre as duas pernas. Eu sou culpado de muitos outros comentários nada edificantes, mas eu não disse aquele das pernas. Um “amigo meu” quem falou. É sério.

Deus Escolhe os Seus


Por J. I. Packer
Pois ele [Deus] diz a Moisés: "Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. " Assim, pois, não depende de quem quer, ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia. ROMANOS 9.15,16
O verbo eleger significa "selecionar ou escolher". A doutrina bíblica da eleição consiste em que, antes da Criação, Deus selecionou da raça humana, antevista como decaída, aqueles a quem Ele redimiria, traria à fé, justificaria e glorificaria em Jesus Cristo e por meio dele (Rm 8.28-39; Ef 1.3-14; 2 Ts 2.13,14; 2 Tm 1.9,10). Esta escolha divina é uma expressão da graça livre e soberana, porque ela é não cons¬trangida e incondicional, não merecida por qualquer coisa naqueles que são seus objetos. Deus não deve aos pecadores nenhuma misericórdia de qualquer espécie, mas somente condenação; por isso, é surpreendente, e razão de sempiterno louvor, que Ele tenha decidido salvar alguns de nós; e louvor duplicado porque sua escolha incluiu o envio de seu próprio Filho para sofrer, como portador do pecado, pelos seus eleitos (Rm-8.32).
A doutrina da eleição, como toda verdade acerca de Deus, envolve mistério e, algumas vezes, incita à controvérsia. Mas na Escritura é uma doutrina pastoral, incluída ali para ajudar os cristãos a verem quão grande é a graça que os salva, conduzindo-os à humildade, confiança, alegria, louvor, fidelidade e santidade como resposta. É o segredo de família dos filhos de Deus. Não sabemos quem mais Ele escolheu entre aqueles que ainda não crêem, nem tampouco a razão por que nos escolheu em particular. O que de fato sabemos é que, primeiro, se não tivéssemos sido escolhidos para a vida, não seríamos crentes agora (pois somente o eleito é trazido à fé), e, em segundo lugar, como crentes eleitos podemos confiar que Deus completará em nós a boa obra que Ele começou (1 Co 1.8,9; Fp 1.6; 1 Ts 5.23,24; 2 Tm 1.12; 4.18). Assim, o conhecimento da eleição por parte de uma pessoa traz conforto e alegria.
Pedro nos diz que devemos "confirmar a [nossa] vocação e eleição" (2 Pe 1.10) — isto é, certificá-la. A eleição é conhe¬cida por seus frutos. Paulo sabia da eleição dos tessalonicenses por sua fé, esperança e amor, a transformação interna e externa que o evangelho tinha operado em sua vida (1 Ts 1.3-6). Quanto mais as qualidades para as quais Pedro exortou seus leitores aparecerem em nossa vida (virtude, conhecimento, domínio próprio, perseverança, piedade, fraternidade, amor: 2 Pe 1.5-7), mais seguros estaremos da própria eleição que nos foi concedida.

Os eleitos são, de um ponto de vista, a dádiva de Deus ao Filho (Jo 6.39; 10.29; 17.2,24). Jesus testifica que veio a este mundo especificamente para salvá-los (Jo 6.37-40; 10.14-16,26-29; 15.16; 17.6-26; Ef 5.25-27), e qualquer relato de sua missão deve enfatizar isto.

Reprovação é o nome dado à eterna decisão de Deus a respeito dos pecadores que Ele não escolheu para a vida. Sua decisão é, em essência, não para mudá-los, como os eleitos são destinados a ser mudados, mas deixá-los ao pecado, como em seus corações eles já desejam fazer, e finalmente para julgá-los como merecem pelo que têm feito. Quando em casos particulares Deus os entrega a seus pecados (isto é, remove as restrições à prática de coisas desobedientes que desejam fazer), isto já é o começo do julgamento. Ele se chama "endu¬recimento" (Rm 9.18; 11.25; cf. SI 81.12; Rm 1.24,26,28), que leva inevitavelmente culpa maior.
A reprovação é uma realidade bíblica (Rm 9.14-24; 1 Pe 2.8), mas não a que se relaciona diretamente com a conduta cristã. Até onde os cristãos saibam, os reprovados não têm face, não nos cabendo tentar identificá-los. Devemos, antes, viver à luz da certeza de que qualquer um pode ser salvo, se ele ou ela arrepender-se e colocar sua fé em Cristo.
Devemos ver todas as pessoas que encontramos como possivelmente incluídas entre os eleitos.