sábado, 21 de julho de 2012

A visão é turva

Sonho com uma igreja onde o discipulado não seja visto essencialmente como um método de fazer crescer numericamente. Onde não sejam estabelecidas metas e cronogramas de crescimento e multiplicação, como fazem os gerentes de marketing das grandes corporações comerciais. No Evangelho de Mateus, capítulo 10, quando Jesus enviou seus discípulos pelas cidades para pregar, ele não disse nada sobre quantidade ou taxa de sucesso. Não estabeleceu nenhuma estratégia de abordagem, a não ser a de quando entrassem em alguma casa, declarar: "paz sobre esta casa!", e se houvesse algum filho da Paz ali, ela repousaria sobre a pessoa. Jesus não fez grandes campanhas publicitárias, não disse nada para agradar as pessoas simplesmente com a intenção de atraí-las. Embora Jesus curasse muita gente e expulsasse demônios, não fazia propaganda disso. Ele apenas disse que era para anunciar a chegada do Reino de Deus e que haveria lugares que receberiam a Palavra e outros não. Simples assim. O discipulado aprendido com Jesus e os apóstolos por todo o Novo Testamento não tem seu foco ou ênfase na multiplicação do número de pessoas alcançadas, mas no ensino da Palavra. As "células", ou reuniões nas casas, aconteciam na igreja primitiva com a finalidade de promover profunda comunhão e aprendizado prático entre a irmandade. Sim, eram uma grande família. Estavam mais para grupos de convivência do que simples reuniões de estudo superficial do texto bíblico e chá com biscoito. Tudo lhes era comum, inclusive as necessidades que alguns passavam. As ofertas eram recolhidas não para comprar terrenos, construir templos ou bancar a vida luxuosa dos líderes, mas para suprir as carências que os irmãos mais pobres tinham. Muitos sinais e prodígios eram feitos pelos apóstolos, mas nem os milagres físicos eram tão prodigiosos quanto o amor vivido e proclamado naqueles dias pelos discípulos de Jesus, de forma contínua e verdadeira. Havia profundo temor no coração de todos, era um só o sentimento de comunhão e o Senhor acrescentava, todos os dias, os que iam sendo salvos. Não tenho nada contra o crescimento numérico. É claro que eu quero que o Evangelho alcance muitas pessoas; se possível, todos os que estão a minha volta. Mas nem sempre os números frios sintetizam realidades espirituais muito para além das estatísticas. O problema é quando se faz do crescimento um deus e aí passa a valer qualquer estratégia, qualquer método e desculpa para atrair as pessoas. O foco passa de pregar o que É certo para pregar o que DÁ certo. Vejo muitas igrejas cheias, lotadas de gente vazia, escravizadas por seus próprios interesses e desejos mesquinhos. Crentes não em Deus, mas no milagre prometido que às vezes demora para chegar, nas correntes infinitas de orações e sacrifícios pessoais. São lugares onde as reuniões de oração agora são chamadas de campanha e têm, em alguns casos, sete dias ou sete semanas para fazer acontecer o milagre. Quem decreta o milagre não é Deus, mas o "homem de Deus", emocionado e eufórico. E "Deus" fica como que "obrigado" a realizar o que pedem através do ato profético e do sacrifício deixado no altar. Nesses lugares, quem chega, e vai sendo chamado de discípulo, vai aprendendo a arte do proselitismo religioso/denominacional. São transformados em corretores da fé na plaquinha da igreja, o que é muito diferente da consciência de um só corpo e um só batismo pregado pelo apóstolo Paulo. Este modelo de igreja exige muito entretenimento, muita mudança exterior e asséptica, muito falso moralismo, mas que pouco tem a ver com as mudanças mais profundas até alcançar a mente de Cristo. Será este o fim? Infelizmente, para este modelo de "igreja mercado", não vejo um futuro diferente. Queria estar errado, mas este modelo vai crescer muito ainda e se alastrar porque há uma demanda e um propósito para isso. A intenção é transmitir uma falsa sensação de conversão, sem compromisso real com a Palavra. As pessoas são carentes deste misticismo, e quando ele é feito em nome de "Jesus", parece que ganha validade. Suas mentes estão cauterizadas. São cegos guiando cegos. Pensam estar agindo em nome de Deus, mas o que é adorado nestes lugares é o poder dos seus próprios líderes. Entretanto, a verdadeira igreja é de Deus. É invisível. Não tem fronteiras. As portas do inferno não prevalecem contra ela. Os discípulos de Jesus são identificados não pelo nome no letreiro de suas comunidades, mas pelo amor vivido e praticado visceralmente. O Evangelho não fica só no discurso, mas é ensinado e pregado com a própria vida, mesmo que seja preciso perdê-la. A santidade ensinada não é externa, mas faz sentido e morada na vida, na caminhada dia após dia, mudando o caráter verdadeiramente. O compromisso com o outro não é o tapinha nas costas de quem diz: "estamos juntos", mas não se envolve até as últimas consequências. Este discipulado não acontece somente entre os que estão debaixo de uma "cobertura espiritual", não acontece somente na "célula", entre um grupo restrito ou em uma hora delimitada. O encontro com Deus não está marcado para um lugar isolado do mundo exterior. O Peniel de verdade é o Evangelho praticado na rua, no trabalho, na família e também fora da igreja. O verdadeiro discipulado se aprende espiritualmente e não emotivamente. O fruto deste ensino até pode vir de forma numérica também, mas vem essencialmente na mudança provocada na vida dos discípulos. O Deus que disse: "vá e faça discípulos de todas as nações" te abençoe rica, poderosa e sobrenaturalmente!

A MAQUININHA DO CARTÃO E A GENEROSIDADE DE STÊNIO MÁRCIUS

Por Antognoni Misael 
Ano passado editei parte da declaração do cantor Stênio Marcius que dizia: “Jamais a venda de CDs será prioridade. Não quero nada, fama, elogios, reconhecimento, estou bem satisfeito com a salvação. Quero + de Cristo!” Mais surpreendido fiquei quando tive uma experiência real com o querido Stênio e sua esposa, Selma – que pode parecer simples, porém foi fantástica. Durante alguns dias pude ser grandemente abençoado com a presença do querido e suas canções no evento do Encontro para a Consciência Cristã na cidade de Campina Grande-PB. Canções como O Tapeceiro, É n’Ele, Alguém como eu, dentre tantas cantadas naquele tabernáculo com mais de 6 mil pessoas, me fizeram imaginar uma sinfonia de louvor sendo entoada na eternidade para a glória de Deus. Há tempos que eu almejava ver a igreja do Senhor O adorando com canções de graça, sem mantra, pula-pula, frases desconexas, rimas pobres, etc., onde a arte, a glória e a honra são oferecidas ao maior artista, o Rei do Universo. O fato mais relevante ocorreu quando me dirigir ao standard dos CD’s do Stênio Marcius para adquirir o seu mais novo álbum A Beleza do Rei. Ao me dar conta de que estava sem dinheiro em espécie e acreditando que os queridos usavam a tão prática maquininha do Cielo para cartões de crédito e débito, perguntei a Selma se vendiam em débito automático. Ela me falou que infelizmente não tinham a maquininha. No mesmo instante, ao informar que iria realizar o saque num caixa eletrônico mais próximo e em seguida retornar para a compra fui interceptado por ela que disse: – “leve o CD, e quando puder deposite o valor em nossa conta indicada no encarte do disco”! No momento não aceitei, visto que nunca tinha feito uma compra de CD assim; embora não pondo em jogo a minha honestidade, mostrei que reprovei essa transação haja vista não ser conveniente pra quem vende: “- estamos no Brasil, e isso não é legal”, falei em tom de riso. Selma insistiu. Me constrangeu ao dizer que levasse pois sempre faz isso quando as pessoas estão sem o dinheiro na hora, e que Deus nunca lhes deixou faltar as despesas investidas nas prensagens dos discos. “- Não é você nem as pessoas que compram nossos discos que nos sustentam, mas Deus! Leve o CD, seja abençoado, e quando puder nos abençoe”, foi mais ou menos isso que ouvi. Contudo, diante dessa situação resolvi ficar com o disco “A Beleza do Rei” e constrangido com a alegria, fé e energia dela, fiquei por ali a observá-la fazer o mesmo com alguns irmãos que por lá passavam crendo que iam compra o CD via maquininha. Pouco tempo depois chega Stênio, super simpático, atencioso, gente de Deus. Pessoal, naquela oportunidade pude conversar um pouco e conhecer de perto alguém que não tem nada de astro, mas é gente simples, humilde, cheia de graça, e que vive literalmente na dependência de Deus. Alguém que de fato não tem pretensão de fama, riqueza, dinheiro, e sucesso na mídia, como bem frisou ele outrora, “estou satisfeito com a salvação”. Que possamos aprender com tal exemplo. Enquanto os astros de “Gezui$” cobram altos ingressos em prol de show’s onde o dito cujo entra pelos fundos e no fim foge pela culatra cumprindo o seu contrato profissional (ou até mesmo com medo do assédio de muitos “gospelmaníacos”), tem gente fazendo a obra de forma séria e abençoando a igreja do Senhor com simplicidade e excelência. Nos dias de hoje, falando-se de música cristã, as diferenças são claras. Quem tem olhos, veja!