quinta-feira, 2 de agosto de 2012

O que faço com esta dor no meu peito?

Faz pouco tempo que descobri que o grande autor, pensador e apologista G. K. Chesterton viveu acometido por uma dor tão profunda que chegou perto de tirar a sua própria vida. Mais do que quase qualquer outro pensador cristão ortodoxo, ele levou a sério o impacto das obras de Friedrich Nietzsche. Nietzsche previu o fim da ética e da própria vida pública em virtude do fato de o mundo chegar à conclusão de que Deus não existe. Na ausência de uma convicção da existência do Senhor, todo e qualquer tipo de noção de certo e errado seria absurdo e fatalmente abolida. A única coisa que sobraria seria o direito pela força. Ou seja, toda a existência humana seria uma longa série de disputas por poder: poder pessoal, poder social, poder de certos grupos sobre outros grupos, poder de ideias sobre outras ideias. Poder viria a ser o fio condutor de toda uma nova sociedade. Literalmente os fortes sobrepujariam os fracos. Os fracos, mesmo no seu direito, perderiam. Hoje vemos isso na nossa sociedade. Os fortes se impõem. Os fortes se tornam mais fortes. Os ricos se tornam cada dia mais ricos. Os desprovidos de meios, seja por riquezas ou por violência, são cada vez menos capazes de se defender contra a onda de injustiça e de exploração. O cenário é angustiante. Pelo menos os que conseguem enxergar um pouco além das suas paredes certamente não vivem tranquilos. Tranquilidade, felicidade e paz neste mundo são reservados para os alienados, os loucos, as crianças e os que abraçam uma fé de outro mundo. Eu tenho fé. Mas eu vivo aqui. Essa dicotomia entre onde eu estou e para onde eu vou um dia é o vórtice da minha angústia. Assim como Paulo falou em Romanos, eu gemo. A natureza geme. O próprio Espírito Santo intercede por nós, com gemidos inexprimíveis. Há dias, sim, nos quais não vejo tão claramente a profunda tragédia da existência humana. Há dias em que me perco num pôr do sol. Há dias em que me deleito numa leitura ou num filme arrebatador. Mas há dias em que, após desligar o filme, lembro-me das minhas tristezas, dos meus desapontamentos, das decepções, dos amigos que se mostraram menos que amigos, dos conselheiros em quem depositei confiança e que me fizeram bem. Só que hoje não é mais assim. Meu mundo encolheu mais um pouco. Minha história ficou mais um pouco complicada. Meu mundo ficou um pouco mais pobre. Então choro. O peito aperta. Tomo mais um comprimido para minha pressão não subir. E o silêncio da minha sala grita. Fere a minha alma. Então olho para Deus e pergunto: “Até quando, Senhor? Será que a vida toda vai ter que ser isso? Altos e baixos? Alívio e estresse, seguido de mais alívio e mais um baque?”. A jornada segue. Ladeira acima, vou tentando galgar com fidelidade. Tento falar algo aqui no blog que vai contribuir para a sua vida. Busco nas Escrituras a luz. Acho-a. Sim, eu a acho. Uma luz. Um passo a mais. E muitos me agradecem. Só que não sabem que de mim não há nada de bom para dar. Tudo de bom que temos recebemos do Pai do Céu. Pessoas me lembram que há outros que sofrem. O que fazer com a dor de ver uma criança que morre de fome? De um bairro que não tem saneamento básico quando os que têm a mão nos cofres financiam projetos faraônicos que avançam a sua carreira de vaidade e poder? Vamos nos manifestar? Vamos empunhar placas nas ruas. Já sei, pintemos a cara. Isso. Quem sabe ajudaremos os jornais a preencher mais uma coluna na primeira página. Eles agradecem, certamente. Pois é pelo espetáculo que conseguem vender. Enchemos os bolsos dos donos do picadeiro. Sim, porque pelo espetáculo ajudamos a dar mais um brilho à tragicomédia pública que desfila nas telinhas. Vamos votar em alguém. Certamente alguém vai dar um jeito nisso tudo. Só que já vi candidatos nobres mergulharem no caldo do Estado e, anos depois, com um olhar envidraçado, parecem peões parados num tabuleiro sobre o qual eles não têm controle nenhum. Paladinos cujo cavalo foi para o brejo. Suas espadas enferrujadas e penduradas lembram que um dia criam em algo. Seus nomes chegaram a significar algo nobre, um dia. Mas faz tempo que não ouvimos mais deles. Este mundo tem jeito? A Bíblia diz que o mundo jaz no poder do maligno. É um verbo incomum. Muitos acham que “jazer” é apenas um modo antigo de dizer “deitar”. Mas não é. “Jazer” é o verbo que descreve a postura de um defunto. Um morto jaz. Não creio que o mundo vá mudar. Mas meu coração ainda dói. Vejo alguém com necessidade e quero ajudar. Jesus nos ensinou a fazer isso. Mais ainda, o Espírito nos move. Compaixão é uma palavra que literalmente descreve um movimento das entranhas. Algo que nos impulsiona do fundo do nosso ser. Só que o mundo nos deixa brutalizados e calejados. De tanto assistir às barbaridades pela televisão, de tanto ser bombardeados por um tsunami de tragédias, absurdos, injustiças e violências, ficamos como quem não consegue mais se mover. Afinal, começar onde? Vamos acabar com a escravatura mais antiga do mundo? Sim, porque há 600 milhões de indianos, conhecidos como “intocáveis”. Eles são escravos das classes mais avantajados. Têm que viver sua vida inteira em absoluta e inquestionável subserviência. Suas mulheres são estupradas sem que esse ato bestial redunde nas menores consequências para os seus agressores. Se o mundo inteiro se mobilizasse, conseguiríamos fazer uma diferença? Mas e o meio ambiente, o tráfico de escravos, as experiências das empresas farmacêuticas em vilarejos africanos e os genocídios movidos pelo mercado de petróleo? Qual dos males deste mundo vamos resolver de vez?

Uma das maiores aberrações que já ouvi um pastor pregar

or Renato Vargens

 Vi no isso no facebook no "mar-dito" e não acreditei. Confesso que ouvi uma das mais aberrativas pregações de toda a minha vida. Na mensagem o pregador afirmou que Jesus possuía uma casa de praia. O cara fundamentou sua pregação num relato apócrifo de que Jesus assumiu aos 12 anos a carpintaria de seu pai e enriqueceu fazendo mesas e cadeiras. No entanto o que mais me assustou no vídeo não foi as bobagens do herético pastor, mas sim a empolgação do povo com o ensino do falso profeta. Sinceramente a ignorância bíblica dos presentes a esse culto me fez ruborizar de vergonha. Onde já se viu tamanha besteira? Pois é, para defender essa funesta teologia os "pastores de Genésio"estão dispostos a fazer qualquer coisa. Caro leitor, diante do exposto, repito: Eu odeio a Teologia da Prosperidade. Repudio veementemente seus conceitos e doutrinas. Na pregação, só faltou o cara defender a tese de que Jesus possuía uma casa com 20 quartos, piscina, sala de jogos, sauna e campo de futebol. Diante dessa loucura manipulativa resta-nos clamar a Deus por misericórdia, pedindo ao Senhor que abra os olhos do seu povo livrando-os do engodo proferido por lobos inescrupulosos.

O Deus em quem não creio

Por Davi Lago 
Muitas vezes quando me perguntam se eu acredito em Deus, eu respondo: “Depende de que Deus você está falando”. Eu não creio, por exemplo, num “Deus banqueiro” que serve apenas para resolver nossos problemas financeiros. Não creio também num “Deus” que criou o mundo e o abandonou, como crêem os deístas; nem num “Deus tapa-buraco” de nossas ignorâncias; nem num “Deus de indulgências” que barganha favores para os homens. Se for um desses deuses que você tem em mente, então eu sou o maior ateu do universo. Há vários deuses no supermercado religioso contemporâneo. Mas são todos tão mesquinhos, que não vale a pena desperdiçar tempo falando sobre eles. Dá agonia ter que aturar tanta frivolidade. Como é possível crer num “Deus” que não zela por sua própria glória? Como crer num “Deus” que não seja onipotente, perfeito e digno de louvor? Não creio num “Deus” que possa ser colocado numa caixa e estudado num laboratório. Não creio num “Deus” que seja só amor sem justiça, ou que seja somente justiça sem amor. Não creio num “Deus” inseguro, instável e mutável como o temperamento humano ou a bolsa de valores. Não tenho fé para crer num “Deus” ilógico, irracional e absurdo. Não creio num “Deus” que seja um mero passatempo e entretenimento para uma vida alienada. Não creio num “Deus” que não tenha o controle do cosmo e fique amedrontado diante de demônios e outros deuses. Não creio num “Deus” antiquado que precisa ser readaptado de tempos em tempos. Não creio num “Deus” insensível ao sofrimento, ao racismo e à escravidão. Não creio num “Deus” que serve apenas como um conforto ilusório para minhas tristezas. Não creio num “Deus” limitado, impotente diante da natureza, que nada sabe sobre o futuro, como afirmam os teístas abertos. Um “Deus” assim é digno de dó e piedade. Também não posso crer num “Deus” antropocêntrico, que adora o homem e coloca a vontade humana acima da sua. Não creio ainda num Deus impessoal como acreditam os hindus. Esse “Deus” não passa de uma “energia superior”, que não se relaciona com a humanidade e nem é consciente de si. Perceba: não posso crer num “Deus” que não passa de uma projeção humana, um “Deus” à imagem e semelhança do homem, assim como afirmou Feuerbach. Nesse “Deus” eu não creio. Nem no “Deus pai super-protetor” que Freud negou. Um “Deus” assim teria apenas um monte de filhos mimados e insuportáveis. Se foi um desses deuses que Nietzsche afirmou que está morto, graças a Deus que ele está morto e não existe mais. Aliás, ele nunca existiu. E que ninguém tenha a ideia insana de reinventá-lo. No funeral desse “Deus”, não choraremos. Creio que rejeitar esses falsos deuses é o primeiro passo da verdadeira fé.