terça-feira, 6 de novembro de 2012

O fenômeno dos padres-popstars: uma breve análise

Por Johnny Bernardo 


Voltemos à década de 60. Enquanto católicos de Pittsburgh experimentavam o que chamavam de “renovação espiritual”, quatro meninos de Liverpool (Inglaterra) sacudiam o mundo com os reis do iê-iê-iê. Ordenado padre aos 25 anos de idade, em 1966, nos EUA, José Fernandes de Oliveira – mais conhecido como Padre Zezinho -, dava seus primeiros passos na arte da música, da literatura, do teatro e, mais tarde, em 1969, dos meios de comunicação. Foi com a música, no entanto, que o recém – ordenado padre seria conhecido como um dos “maiores” fenômenos da música cristã. De volta ao Brasil, o Padre Zezinho causou polêmica e, ao mesmo tempo, admiração, ao adicionar às missas do Santuário São Judas Tadeu, na Zona Sul de São Paulo, instrumentos sacramentados pelos Beatles, como guitarras e baterias. Fã secreto de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, o Padre Zezinho foi chamado desde “estrela” até “achincalhador da fé” por introduzir ritmos até então demonizados pelo Vaticano. Sua opção por uma liturgia mais aberta, no entanto, ganharia fôlego com a chegada do Movimento Carismático ao Brasil, ainda na década de 60. O crescimento das igrejas pentecostais autônomas – com forte presença nas camadas menos abastadas da sociedade – e das cruzadas promovidas por pastores e missionários americanos – caracterizadas por campanhas de cura e libertação -, foi um dos motivadores do surgimento de movimentos como o liderado pelo Padre Zezinho e da vinda da Renovação Católica Carismática ao Brasil. Começando por Campinas, a RCC foi levada para diversas cidades e regiões do Brasil. Organizados por padres jesuítas, encontros como “Experiências no Espírito Santo” e “Experiência de Oração” conduziram centenas de católicos de volta a vida devocional. Apesar de praticamente na penumbra entre as décadas de 70 e 80 (André Ricardo de Souza, Religião & Sociedade, julho de 2007), a realização – primeiro em 1973 e depois em 74 – de dois grandes congressos e a adesão de leigos e figuras conhecidas do clérigo brasileiro, como o Monsenhor Jonas Abib, serviram de combustão ao crescimento experimentado nas décadas seguintes. O lançamento do livro “Sereis Batizados no Espírito Santo”, em 1972, do padre Haroldo Rahn que, juntamente com Bernard Shuster e o Dom Cipriano Chagas, foram os pioneiros e compunham a liderança nacional da RCC, deu, também, grande impulso aos carismáticos. Fundada pelo padre salesiano Jonas Abib, em 1978, a Comunidade Canção Nova – com sede na cidade de Cachoeira Paulista, interior de São Paulo e que é composta por emissora de rádio, televisão, um centro de evangelização com capacidade para 70 mil pessoas, além de capelas, restaurantes, alojamentos etc. – serviu de base para o surgimento de outras comunidades e associações como a Associação do Senhor Jesus (ASJ), dirigida e fundada pelo padre Eduardo Dougherty na década de 80. É a partir daí que a RCC começa a chamar da mídia com o surgimento de comunidades de vida, rádios, TVs e revistas. Zé Pretinho, Irmã Floriza e Tia Laura de Piquete (São Paulo) surgem nessa época e arrebanham mais adeptos (Portal Carismático – consulta feita em 20/10/2012, às 16hs). Os padres cantores É a partir da década de 90 que a RCC ganha, de fato, visibilidade com o desenvolvimento de técnicas de marketing e a projeção de padres cantores na mídia. “A figura do padre de meia idade na sacristia e atrás do altar é substituída no imaginário social por homens jovens e sorridentes, com grande poder de comunicação e utilizadores da música e da mídia como os próprios veículos de transmissão da mensagem religiosa. Os programas televisivos de domingo passam a abrir espaço para mais um artista: o padre Marcelo Rossi, jovem, de boa aparência e atlético, figura que contrasta radicalmente da imagem de sacerdote presente no imaginário dos brasileiros”, lembra a pesquisadora Sílvia Regina Alves Fernandez, do Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais, órgão consultivo ligado à CNBB. Além de Marcelo Rossi, nos anos seguintes outros padres – popstars como o surfista e mais novo diocesano até então ordenado no Brasil, Padre Zeca que, em 2007 deixou o sacerdócio e quatro anos depois casou com uma americana, Marcelo Manzotti – conhecido como padre samba-rock e que realiza o Evangeliza Show -, Fábio de Melo, Juarez de Castro, Adriano Zandoná e um dos mais exóticos, o padre Alexandro Campos – que combina em seus shows missa mesclada com sons de viola e berrante -, conduzem centenas de fieis a estádios, ginásios, pistas de corridas e santuários por todo o país. Também estão presentes na mídia, dividindo programas televisivos com personalidades da sociedade, cantores (as) e bandas seculares. “Outro fator importante para o sucesso desses padres é a aproximação com as pessoas nos ritos religiosos e fora deles”, acrescenta a pesquisadora Sílvia Regina. É com o ex-professor de educação física e membro de uma família de classe média de São Paulo, no entanto, que o Catolicismo Romano reconquistaria dezenas de adeptos. Ordenado sacerdote em 1/12/1994, aos 17 anos, Marcelo Mendonça Rossi ficou conhecido no final da década de 90 por suas adaptações e empréstimos de liturgias e canções evangélicas, como “Anjos de Deus”. Participações em filmes, indicação ao Grammy 2002 e colaborações com diversos meios de comunicação descrevem sua trajetória como sacerdote e pop star. A inauguração de um mega – santuário em Santo Amaro, nesta sexta-feira (2),com capacidade para abrigar 25 mil pessoas, mostra a força do movimento carismático e, ao mesmo tempo, a tentativa de superação das concorrentes neopentecostais, como a Universal do Reino de Deus e a Igreja Mundial do Poder de Deus que também possuem mega – templos na região.

Pragmatismo evangélico, o que é isto?

Por Antônio Pereira Jr.

“E os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, tomaram cada um o seu incensário e puseram neles fogo, e colocaram incenso sobre ele, e ofereceram fogo estranho perante o SENHOR, o que não lhes ordenara‖.– Lv 10.1 

Talvez você esteja se perguntando: “Pragma…, o quê?” Não, não é uma nova praga de lavouras! O Pragmatismo é uma doutrina filosófica surgida no século 14, nos Estados Unidos, que propõe um método para determinar o significado dos termos fundamentais da linguagem a partir de sua contextualização prática. Não entendeu? Vou explicar. Constituído a partir da palavra grega “pragma”, ação, atividade, coisas de uso, o pragmatismo estendeu-se para a Inglaterra e outros países, como a Itália, perdurando, sob variadas formas, até nossos dias. A concepção do que constitui o pragmatismo varia para cada pensador, de modo a não ser possível torná-la precisa inteiramente de maneira unitária. Todavia, para a maior parte de seus adeptos, o pragmatismo se apresenta a um só tempo como um método científico e como uma teoria acerca da verdade. Esta é concebida em sentido dinâmico. A verdade não diz respeito aos objetos, mas antes às idéias, ou às formas de relação concretas que os homens têm com os objetos. Deste modo, ela deve ser determinada mediante a consideração destas relações. O pragmatismo desvia o olhar das substâncias primeiras, presentes no pensamento dogmático, para considerar as consequências, os fatos produzidos por determinadas inter-relações. Ta difícil? Também acho. Vou tentar ser mais claro. Convencionou-se chamar de pragmatismo a concepção moderna de que devemos fazer de tudo, ou seja, sejamos práticos, para conseguirmos os fins desejados. O que pode ser resumido na seguinte frase: “Não importa os meios, o importante é o fim”. Com isso, as igrejas que adotam a filosofia pragmática atropelam os meios bíblicos e se enveredam pelo caminho de Nadabe e Abiú – Levítico 10:1. Eles foram, a princípio, abençoados por Deus – No monte Sinai eles haviam visto a santidade de Deus bem de perto (Êxodo 24:1). Foi depois daquela visão que eles se tornaram sacerdotes (Êxodo 28:1). Trouxeram fogo de qualquer lugar (meios), apenas para manter o povo entretido (fins). Eles chegam com toda esta coreografia nova, com cerimonial não estabelecido, com movimentos que Deus não conhecia e com fogo que não havia sido consagrado. Tudo isso o evangelicalismo tem feito nos dias hodiernos. Não devemos ser contra o fogo genuíno de Deus, devemos ser contra o fogo estranho que as pessoas estão introduzindo nas Igrejas dizendo que é fogo de Deus, quando na verdade, não passa de cinzas humanas. Nadabe e Abiú tinham fins, no entanto, os meios não foram apropriados. Fazendo isso eles abandonaram os meios preestabelecidos e se transformam em objeto do juízo divino. Não será isso que acontece hoje? O verdadeiro “fogo” tem origem, se manifesta dentro de certos meios e sempre tem um fim predeterminado por Deus. O objetivo é sempre a Glória de Deus. Dizer que alguma coisa aconteceu na reunião, nos encontros de avivamento, nas vigílias e não se preocupar se é de Deus ou não, é um erro. Spurgeon já nos advertia cerca de 120 anos atrás: ―O fato é que muitos gostariam de unir igreja e palco, baralho e oração, danças e ordenanças. Se nos encontramos incapazes de frear essa enxurrada, podemos, ao menos, prevenir os homens quanto à sua existência e suplicar que fujam dela. Quando a antiga fé desaparece e o entusiasmo pelo evangelho é extinto, não é surpresa que as pessoas busquem outras coisas que lhes tragam satisfação. Na falta de pão, se alimentam com cinzas; rejeitando o caminho do Senhor, seguem avidamente pelo caminho da tolice‖. As Igrejas, ávidas por novidades, estão introduzindo determinados elementos no culto que não glorificam a Deus. Estava andando pelas ruas do Recife, quando ouvi um carro de som anunciar sem nenhum receio: “Gostaríamos de convidar todo o povo de Deus para o „forró de Jesus‟, estarão conosco vários cantores…” Quase caio pra trás. Não, não ia caindo pela unção do locutor, era justamente pela falta dela. E olhe que pouca coisa me espanta em termos de novidades. O que virá depois? A lambada de Jesus? A caipirinha de Jesus? Os puritanos tinham algo que eles chamavam de “Princípio Regulador do Culto”. Em outras palavras, a Bíblia determina o quê, como e quando. O fogo de Deus não é encontrado no fundo de quintal, ele tem que vir do céu. No entanto, imitá-lo é fácil. Nessa confusão vale uma dica: Não devemos pergunta se dá certo, mas se está certo. Pouca gente quer espiritualidade com compromisso, com submissão à vontade de Deus; o que interessa são os resultados, os sinais, as profecias de sucesso. Você pode enganar as pessoas em nome de Deus, mas não a Ele. Temo e tremo ao ver pessoas falarem todo tipo de absurdos aos outros em nome do Divino, alguns acham até que tem a agenda do Criador e já dizem com antecedência o que Ele vai fazer daqui a dias, meses ou anos. Infelizmente – ou felizmente – eu não tenho essa capacidade. Eu sei que o Senhor pode fazer, mas não sei o tempo exato nem O manipulo de acordo com a minha vontade. Se eu não posso manipular o vento, imagine o Espírito de Deus – O vento assopra onde quer (João 3.8 a). Lembremo-nos das palavras de Jeremias: ―Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra: os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam de mãos dadas com eles; e é o que deseja o meu povo. Porém, que fareis quando estas coisas chegarem ao seu fim?‖ c. 5, v. 30-31. (grifo nosso). Leia ainda Jeremias 23:9-33; 28:1-4; Ezequiel 13 e 14.