terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Senhor das Tentações

Por Vincent Cheung

Quando alguém for tentado, jamais deverá dizer: “Estou sendo tentado por Deus”. Pois Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Cada um, porém, é tentado pelo próprio mau desejo, sendo por este arrastado e seduzido. Então esse desejo, tendo concebido, dá à luz o pecado, o e pecado após ter se consumado, gera a morte.

Meus amados irmãos, não se deixem enganar. Toda boa dádiva e todo o dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes. Por Sua decisão Ele nos gerou pela palavra da verdade, a fim de sermos os primeiros frutos de tudo o que Ele criou. (Tg 1.13-18)

Séculos de tradição religiosa tem insistido em que Deus não pode ser o autor do pecado. Eu tenho refutado isto em um número de lugares.[1] Existe a aceitação de que para Deus ser a causa metafísica direta de todo o mal comprometeria a Sua retidão. Eu tenho demonstrado que isto não tem base e não é inteligente, e negar que Deus é o autor do pecado é negar também a Sua soberania e providência. De fato, é um ataque ao Seu próprio Ser e posição como Deus.

Pois que todo acontecimento, seja bom ou mal, tem de ter uma causa metafísica. Se não existe causa, então este acontecimento seria ele próprio Deus; contudo, não estamos falando sobre Deus, mas sobre o que acontece na Sua criação. Se a causa não é Deus, então deve ser alguma outra coisa. E se for alguma outra coisa, então este acontecimento e a sua causa estão fora do controle direto de Deus. Isto é uma forma da heresia do dualismo, a de que existem duas ou mais forças mais elevadas trabalhando no universo, talvez uma para reger o bem e a outra para reger o mal. É uma filosofia pagã, e é resultado da doutrina de que Deus não é o autor do pecado.

Todos os tipos de aceitações arbitrárias são contrabandeadas para dentro da discussão. Algumas pessoas pensam que para Deus ser o “autor” do pecado é o mesmo que Ele “cometer” pecado – isto é, para Deus causar o mal no sentido metafísico seria para Ele o mesmo que praticar o mal no sentido moral. Mas esta suposição é destruída apenas por se afirmá-la claramente deste modo. É óbvio que as duas pertencem a duas diferentes categorias de ações e acontecimentos. Acrescentando, uma vez que Deus é quem define o Bem e o mal, para Ele cometer o mal, Ele antes deve estabalecer que seria um mal Ele fazer tal coisa, e então ir adiante e fazê-la. Em outras palavras, a menos que Deus desaprove a Si mesmo, então o que for que Ele faça é justo por definição. Não cabe aos teólogos definir o mal para Ele, dizendo-Lhe que, mesmo sendo Deus sobre todas as coisas, Ele não deve reinar diretamente sobre o mal, mas que Deus tem que ser Deus somente sobre o bem, e satã deve ser o deus sobre o mal, para reger um reino que o próprio Deus não pode tocar. Tal doutrina é uma blasfêmia da mais alta categoria. Insistimos que Deus é o autor de todas as coisas; portanto Deus é o autor do pecado.

Algumas pessoas fazem a objeção de que se Deus controla diretamente todas as coisas, então isto se transforma na doutrina do panteísmo. Esta objeção nos economiza tempo porque ela imediatamente nos mostra a falta de inteligência deles e a sua habilidade inferior como pensadores, de modo que não os levaremos muito a sério daqui para frente. A objeção brota do absurdo princípio de que Deus se identifica com o que Ele controla, de modo que se Deus controla diretamente todas as coisas, então Ele é identificado com todas as coisas, o que é panteísmo. Sendo esta aceitação arbitrária e sem justificativa, nós eliminamos a objeção simplesmente pela exposição e rejeição da hipótese.

A pessoa que exibe a suposição é então deixada com um infeliz dilema. Ou seja, já que eles assumem que Deus se identifica com aquilo que Ele controla, então eles têm de negar que Deus controla diretamente qualquer parte da Sua criação, ou têm de afirmar que Deus é identificado com qualquer coisa que Ele tenha controle direto. Eles precisam então afirmar que Deus não tem controle direto sobre qualquer coisa, ou que Deus é identificado com pelo menos uma parte da Sua criação. Qualquer das duas opções faria deles não-Cristãos. Em sua tentativa de apresentar uma objeção inteligente contra a total soberania de Deus e controle direto sobre todas as coisas, eles se tornaram pagãos e heréticos.