quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Por Jorge Fernandes Isah

Primeiro, antes de iniciar as considerações, é necessário definir alguns termos:
a) Livre-arbítrio - crença de que a vontade humana tem um poder inerente de escolha com a mesma facilidade entre alternativas. Ou seja, o poder de escolha contrária ou a liberdade da indiferença. A vontade é livre de qualquer causação necessária.
b) Autonomia - qualidade da vontade ou do intelecto que o capacita a funcionar a favor ou contra qualquer curso particular de ação, por meio disso exibindo uma capacidade inata.
Definições postas, vamos ater-nos aos pontos chaves que levam à incoerência do livre-arbítrio [1]:
A idéia do livre-arbítrio é de que dele depende a responsabilidade humana. Porém, quando se questiona a origem dessa responsabilidade, tem-se como argumento que ela procede do livre-arbítrio. Está formado o argumento circular vicioso.
Para o arminiano, Deus não atropela o livre-arbítrio, logo a vontade humana não tem causação externa. Desta forma, estão asseguradas a integridade e a responsabilidade do homem. Porém, se isso não é tolice, é presunção, porque Deus sempre fará toda a Sua vontade, e nada nem ninguém pode-lhe frustrar a vontade [Is 46.10]; ao passo que o homem é sempre escravo, seja do pecado, seja da justiça [Rm 6.17-18].
A vontade se automove em resposta ao que a mente conhece, e pode causar tanto a ação em resposta às influências como resisti-las. O que me leva à pergunta: se o conhecimento intelectual [aqui incluidas a moral e a ética] será o ponto de partida, o príncipio avaliativo da vontade, como a vontade será livre? Esse conhecimento sempre virá de uma fonte externa e provavelmente virá como um argumento verdadeiro ou falacioso. Se o conhecimento for corrompido, manipulado ou integral, quais são as bases para que ele seja correto? Será possível eu ter esse conhecimento inato do que é certo e errado sem qualquer influência externa? E a vontade não poderá ser "induzida" pelo conhecimento adulterado? Ainda que esse conhecimento seja bíblico, no sentido das informações corretas, o intelecto pode não processá-las legitimamente, e induzir a vontade a uma escolha errada.
 
Para que o homem pudesse escolher "neutramente", seria necessário que não tivesse nenhum conhecimento, que sua mente fosse vazia, um ponto morto, mas aí entra a questão: como a vontade poderia se decidir sem nenhuma base? Na sorte, deixada a cargo do acaso, seria a opção. Visto a liberdade espontânea do livre-arbítrio somente nos remeter ao acaso. Mas, e como seríamos responsáveis, já que não exercemos nenhuma influência causal na decisão?
Portanto a teoria do livre-arbítrio destrói a responsabilidade em vez de apoiá-la. Como posso ser responsabilizado por ações surgidas de um livre-arbítrio que, pelo fato de ele ser livre, não está também sob o meu controle? [nem sob o controle divino também, ao ver do arminiano].
Se um argumento pode levar a vontade a se decidir, onde está a neutralidade moral? O argumento causou a escolha. A própria Bíblia deveria ser desconsiderada pelo "livrearbitrista", visto ser ela a fonte da Lei Moral, a qual estabelece o significado de bem e mal, e levá-nos a compreensão do que é a santidade e o pecado. Ela nos influenciará decididamente na escolha entre o que é santo e o que é pecaminoso. Logo, onde está a neutralidade? E ficam perguntas: Deus é neutro? As Escrituras são neutras? O mundo é neutro? Em qual aspecto da vida, seja eterna ou temporal, se percebe neutralidade moral? Ou se está sob a influência do bem, ou sob a influência do mal. Não existe nada que seja moralmente neutro, que pratique atos neutros [sem efeito algum]. Portanto é ilógico dizer que a vontade humana seja neutra, visto sê-la influenciada por Deus ou satanás. Senão, porque Davi, Isaías e Paulo diriam que todos pecaram [todos!] e destituídos estão da glória de Deus? [Sl 14.2-3; Is 59.2-11; Rm 3.23, 5.12]. Se todos pecaram, somos todos pecadores, a nossa vontade está corrompida, deteriorada, sob a influência do pecado e sem a menor possibilidade de ser neutra, e poder escolher o bem. Para que o arminiano não concorde com isso, ele terá de rejeitar a Bíblia como a palavra inspirada de Deus.
A questão não é se podemos escolher, mas como e de que forma escolhemos. E se somos pecadores, a nossa escolha será sempre na direção do pecado,"porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser" [Rm 8.7]. Desta forma, a Bíblia afirma que o homem natural é um pecador, o qual é desprovido da capacidade de obedecer a Deus, tornando-o moralmente responsável, tenha ou não capacidade moral. O homem será sempre condenável diante de Deus se não obedecê-lO, ou seja, a desobediência aos princípios morais estabelecidos pelo Criador é que o tornam responsável por seus delitos. A responsabilidade moral não está baseada na capacidade moral [que o homem natural não possui] ou no livre-arbítrio [que nenhuma criatura possui], mas na autoridade e soberania de Deus que determinou a não-obediência aos Seus mandamentos como a causa pela qual o homem será condenado e tornado indesculpável.
Por isso, pode-se afirmar seguramente que o livre-arbítrio é indefensável, ilógico e não-factível. A vontade humana é livre em qual sentido? Por exemplo, um hindu que nasceu no hinduísmo e cuja família se submete ao regime de castas, e crê na divindade de um inseto, qual seria a sua capacidade natural de não escolher adorar ao inseto? Para que isso acontecesse, ele teria de ser confrontado pela verdade, e reconhecer que tanto o sistema de castas como a adoração ao inseto é uma tolice, uma mentira que o quer manter escravizado na ignorância de Deus.
Se ele não for confrotado pela verdade [e a verdade é externa], ele jamais se livrará da mentira. Por que a mentira é o que ele tem por verdade, transmitida por sua família e clã [externamente] e o influenciará a sempre pensar nos seus pressupostos como verdadeiros, quando o que tem são falsas premissas a induzi-lo ao engano.

Onde está a neutralidade para que ele possa escolher livremente? Se o livre-arbítrio é o movimento da mente em certa direção, a neutralidade poderia levá-lo a essa direção? Ou as influências externas à mente, as quais está sujeito, determinarão a sua decisão? Então, está claro que esse movimento da mente não é livre, e de que ninguém toma decisões livres, mas todas elas estão sujeitas à influência, a fatores causais.

Muitos arminianos têm certeza de que possuem o livre-arbítrio, apenas porque presumiram tê-lo; e garantem que não sofrem nenhuma espécie de influência em suas decisões "livres". Porém, fica a pergunta: quem tem a certeza de que não está sujeito, ainda que minimamente, a influências que afetariam a sua vontade? Por exemplo, estar sob o efeito de medicamentos, bactérias e vírus, ou sob a ação de partículas subatômicas ou cósmicas. Ou seja, para que essa neutralidade fosse "livre" teria que, no mínimo, ser onisciente e conhecer exautivamente tudo afim de se ter certeza de não haver alguma causa a operar sobre a vontade humana; muito antes de ser confrontado pela cosmovisão cristã. Como nenhum ser humano é onisciente e apenas Deus o é, o livre-arbítrio não pode levar jamais o homem a uma escolha neutra, sem influências ou antecedentes, sem que se detenha qualquer pressuposição.

Para que a escolha fosse neutra, era preciso que não houvesse o sentido de bem ou mal [a Lei Moral]. O hindu, sobre a influência do hinduísmo, entenderá o mal como o bem, e o bem como o mal, "fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo!" [Is 5.20]. Por si só ele jamais poderá compreender e entender [interiormente] o significado verdadeiro e real do que é bem e mal a fim de escolher entre um e outro.

O livre-arbítrio em si mesmo não detém nem o bem nem o mal, como algo neutro manteria o indivíduo numa posição de não-escolha, de não-vontade, onde ele permaneceria num ponto vago, numa posição sem solução, incapaz de se definir, porque nada lhe é indentificado; e assim, se está nesse ponto morto, como será levado a agir? Em que bases? Se é neutra, não é causada, logo, qualquer semelhança com o acaso não é mera coincidência. E se a mente é levada a agir pelo acaso, como poderá ser responsabilizada?

A afirmação, "se nós não temos o livre-arbítrio, não podemos ser responsáveis pelas nossas ações", é verdadeira? Em qual sentido? Quem a provou como verdade? E uma pergunta muito mais explícita ainda: à luz das Escrituras, qual a relação entre responsabilidade e liberdade? Onde elas aparecem, e onde estão especificadas a sua conexão?

São perguntas que o arminiano não se dispõe a responder. Para ele, basta estabelecer o axioma, e pronto. Provar, para quê?

Por essas e outras, o livre-arbítrio é incoerente, e incapaz de levar o homem a lugar algum. Como teoria autonomista não encontra respaldo bíblico, sustentando-se apenas e tão somente pelo seu apelo humanista, ou seja, antibiblicamente; porque nada mais é do que o desejo de se ter um poder para decidir independentemente, chegando à blasfêmia de se cogitar mesmo uma autonomia de Deus. O que não passa de uma estúpida pretensão ou delírio diabólico, cujo único objetivo é tornar o homem num "deus" independente e livre de Deus. O que felizmente é impossível.

NÃO TOQUEIS NOS MEUS UNGIDOS



“Não toqueis em meus ungidos, não maltrateis meus profetas” (Salmo 105.15, King James).

Por Isaltino Gomes Coelho Filho

No meu grupo de estudos teológicos em Monte Dourado, no Vale do Rio Jari (imponente tributário do majestoso Amazonas), alguém levantou esta questão de não tocar nos ungidos do Senhor, exatamente quando estudávamos Tito, no tocante ao caráter do obreiro. Comentei que o Salmo 105.15 vem sendo usado equivocadamente, para defender a intocabilidade de obreiros que esgrimem o texto para se colocarem acima da crítica. Eles são ungidos do Senhor e nada se lhes pode fazer, mesmo quando estão em pecado.

A questão é que, embora os termos hebraicos sejam mesmo meshiahay e nabhyay (“meus ungidos” e “meus profetas”), a alusão não é a uma classe de homens, como os profetas quando da profecia já institucionalizada, e sim a família eleita, os patriarcas até Jacó. O contexto é bem claro: todo o salmo alude a Israel no Egito. A ordem para não tocar nos ungidos e profetas do Senhor, no texto, foi dirigida às nações pagãs, por onde a família eleita peregrinou, antes de chegar ao Egito. São os episódios envolvendo Abraão, Isaque e Jacó em seus conflitos com seus vizinhos. Esses vizinhos deviam saber que não podiam tocar na família ungida, os ungidos e profetas de Deus. O episódio de Gênesis 20.1-7 elucida isso bem. Não se podia tocar em Sara. Em Gênesis 20.7 aparece, pela primeira vez, o termo “profeta” (nabhi) e é aplicado a Abrão. Os ungidos e profetas intocáveis e não maltratáveis, no texto, são os patriarcas. Não o pastor do século 21. Tanto é assim que à frente dos meshiahay e nabhyay, os ungidos e profetas, foi enviado “um homem, José, vendido como escravo” (v. 17). Ele salvou os ungidos e profetas da fome, ao introduzi-los no Egito.
 
Minha preocupação não é ser do contra nem mostrar que todo mundo está errado. É, isso sim, alertar para que textos bíblicos não sejam usados fora do contexto para provar teses para as quais eles não foram destinados. O pastor deve ser respeitado e obedecido (Hb 13.17). Quando faz seu trabalho bem feito deve receber salário em dobro. O “dupla honra” (diplês timês), de 1Timóteo 5.17, significa “dobrados honorários”, como bem traduziu a King James.O pastor há que ser respeitado e bem pago. Mas não está acima da crítica e não é intocável. A igreja local tem autoridade sobre ele, bem como tem autoridade sobre todos os crentes. Aliás, é preciso resgatar a autoridade da igreja. Ela não está subordinada a pessoas, mas ao seu Senhor, e seus membros estão debaixo da autoridade dela.
 
Mas o confortador é saber que Deus adverte ao mundo para não tocar nos que são seus, no seu povo. A igreja de Jesus se compõe de homens e mulheres que são os ungidos e os profetas de Deus neste mundo. Quando se encontrou com Saulo no caminho de Damasco, Jesus não lhe perguntou por que ele perseguia os membros da seita O Caminho. Perguntou-lhe: “Por que me persegues?” (At 9.5). A perseguição que Saulo fazia aos seguidores de Jesus era vista pelo Senhor como uma perseguição a ele, o Senhor. Ele toma as dores do seu povo. Se o pastor for perseguido por membros da igreja que se lembre que o Senhor Jesus vê e acerta as contas com aqueles membros da igreja. Eu, particularmente, sem ser o queridinho do Papai do céu, experimentei isso. Deixei com Deus para que cuidasse da situação. Ele cuidou. O tempo é o segundo melhor juiz dos eventos (o primeiro é Deus) e mostra quem é quem.
 
Pastores: lideremos nossos rebanhos, mas sejamos humildes para reconhecer nossos erros e evitemos colocar-nos acima da crítica. Ovelhas: respeitem, amem e honrem seus pastores. Dêem-lhes sustento digno. Pastores e ovelhas: o Senhor cuida de nós. Não briguemos. Entreguemos a Deus. Mundo: respeite o povo de Deus.

O Problema do Mal

Por Carlos Osvaldo Pinto

A existência do mal, em suas variadas formas, mas particularmente naquelas que são aparentemente injustificadas, levanta dificuldades lógicas e psicológicas quanto à existência e/ou ao caráter de Deus. Embora raramente isso seja levantado pelos que argumentam contra a existência de Deus por causa da presença do mal no universo, o problema não é uma questão de grau, mas de simples existência.

 “Mal” é um termo de difícil definição, em particular devido à natureza limitada de nosso conhecimento e à falta de um acordo quanto à perspectiva a partir da qual tentar uma definição.

Via de regra, mesmo teístas ardorosos acabam adotando uma definição antropocêntrica do mal, e isso lhes dificulta um tratamento exegético adequado da evidência bíblica.

Por outro lado, uma definição mais teocêntrica fecha a possibilidade de um diálogo significativo com os “ateólogos”.

Em geral, um evento é entendido como “mal” (ou, se quisermos adjetivar, “mau”) se:

  • Causar algum dano (de qualquer dimensão) ao bem estar físico e/ou emocional de uma criatura capaz de sensação;
  • Ocorrer algum tratamento desumano ou injusto de uma criatura capaz de sensação;
  • Causar perda de oportunidade ou desenvolvimento por causa de doença e/ou morte, particularmente “prematura”;
  • Impedir que um indivíduo leve uma vida significativa e/ou virtuosa;
  • Violar algum código moral ou roubar direitos essenciais a alguém;
  • Constituir a “privação” ou a deterioração de algum “bem”.

Taxonomia do Mal


Mal Moral. Esta categoria engloba males que resultam do mau uso da capacidade de escolha de algum agente moral. Inclui atos específicos de “maldade” (mentira, desonestidade, violência, destruição) em maior ou menor grau.

Mal Natural. Em contraste com o mal moral, o mal natural resulta da operação de processos naturais, nos quais nenhum agente moral pode ser responsabilizado pelo dano resultante. Exemplos clássicos são desastres naturais como furacões e tornados, terremotos e maremotos, deslizamentos de terra e enchentes, e também doenças devastadoras como a leucemia e o mal de Alzheimer.

Uma qualificação importante

Boa parte do que é considerado males naturais consiste, na verdade, de males morais precipitados por negligência, ganância ou pura e simples estupidez humana.

  • Câncer no pulmão pode ser causado por fumo inveterado.
  • Destruição em massa num terremoto pode ser causada pela ganância de empreendedores ou neligência de governantes (ou ambos).
  • Enchentes têm como causa frequente a irresponsabilidade de cidadãos e/ou  governantes.

Quando causados pelo exercício da vontade de agentes morais, tais males são melhor qualificados como morais, ou pelo menos híbridos, i.e., males naturais exacerbados por erros de natureza moral.

Uma maneira alternativa de dizer isso seria classifcar como  males naturais apenas aqueles cuja ocorrência não pode ser atribuída a agentes morais meramente humanos.

Uma categoria à parte é a do chamado mal hediondo, no qual agentes morais exacerbam a violência, a crueldade, a desumanidade em nome de preferências ou ojerizas pessoais.

Holocausto

  • Linchamentos tipo Ku-Klux-Klan (e garotões de Brasília)
  • Cárceres privados e incestos
  • É geralmente essa categoria de males que provoca o desafio dos ateólogos à existência de Deus.

Maneiras Excludentes de Lidar Com o Problema


Ilusionismo – Negar a realidade do mal

Monismos orientais e ocidentais advogam que há uma única realidade e que o mal é uma ilusão.

  • O hinduísmo tradicional diz que todo o mundo material é maya (ilusão).
  • Baruc Spinoza argumentou que nada pode ser taxado de mau pois faz parte da infinita bondade do quadro total.
  • Ciência Cristã afirma que “o mal . . . Não tem base real. É um erro do homem mortal.”

Respostas ao Ilusionismo

A impressão da existência do mal é uma persistência universal. Como explicar essa impressão?

Será que é prova de bom senso negar totalmente a percepção sensorial de todas as pessoas? Isso tornaria a própria percepção do panteísta altamente suspeita.

Se o mal é apenas ilusão, por que a dor que ele causa é real no nível mais íntimo do ser humano?

O Ateísmo – Afirmar a realidade do mal e negar a realidade de Deus

Um silogismo famoso (Epicuro, Hume, etc.)

  • Se Deus é Todo-Poderoso, Ele pode eliminar o mal.
  • Se Deus é Todo-Benevolente, Ele eliminará o mal.
  • Mas, o mal continua a existir.
  • Logo, Deus como entendido pelos teístas, não existe.
  • I.e., se existir, não será onipotente.
  • I.e., se existir, não será onibenevolente.

O Ateísmo – Negar a bondade de Deus ou negá-lO como a Realidade Última.

Um outro silogismo

  • Ou (1) nosso senso moral existe porque Deus quis assim ou (2) Deus quis assim porque o senso moral sempre existiu.
  • Se (1) é fato, Deus é arbitrário quanto ao que é certo, e não é essencialmente bom.
  • Se (2) é fato, Deus não é a Realidade Última, pois ao menos uma vez esteve sujeito a algum padrão externo.
  • Em qualquer um dos casos acima, ou em ambos, Deus não é o que os teístas reivindicam.
  • Logo, Deus como entendido pelos teístas, não existe.

O Ateísmo – Há outras abordagens usadas por ateólogos para propor a inexistência de Deus ou a improbabilidade de Sua existência.

Deus e o mal são logicamente incompatíveis.

Deus e o mal são praticamente incompatíveis.

Deus poderia ter criado um mundo sem a presença do mal.

  • Esta é a forma mais comum de crítica ao teísmo cristão em nossos dias.
  • Ela não precisa recorrer às pressuposições embutidas nos silogismos anteriores.

Respostas Cristãs ao Ateísmo

Jay Adams ilustra uma abordagem calcada na soberania de Deus, baseando-se em Rm 9.17 (no livro The Grand Demonstration: A Biblical Study of the So-Called Problem of Evil, 1991), e argumentando que o propósito do mal (e da misericórdia) é revelar a natureza de Deus.

Vários outros autores seguem em parte o argumento de Leibnitz (este é o melhor dos mundos possíveis), sugerindo que embora este não seja o melhor dos mundos, é o melhor (e necessário) caminho para o melhor dos mundos (onde sequer a possibilidade do mal venha a surgir eternamente).

Para que o mal inexistisse, Deus poderia

(a)    não ter criado mundo algum;

(b)   ter criado um mundo sem criaturas livres;

(c)    ter criado um mundo onde criaturas livres não pecassem;

(d)   ter criado um mundo onde criaturas livres pecassem.

A resposta teísta à alegação dos ateólogos que os cenários (a), (b) e (c) são melhores que o cenário (d) é que o cenário (d) é o caminho para que tais criaturas livres eventualmente fossem definitiva e eternamente livres da presença e da ameaça do pecado e do mal por uma redenção em que o próprio Deus experimentasse o maior dos males em favor de Suas criaturas.

Maneiras Abrangentes de Lidar Com o Problema


Aqui afirma-se a realidade de Deus e do Mal.

Dentre várias formas abrangentes, destacam-se:

O Dualismo

O Panenteísmo (ou teologia do processo)

O Finitismo em várias formas

  • Deus não é onipotente
  • Deus não é onisciente
  • Deus não era livre (ou soberano) para não criar

O Dualismo – O Bem e o Mal em eterna oposição

Primeiro argumento dualista

  • Bem e mal são antitéticos.
  • Nada pode originar o seu oposto.
  • Logo, Bem e Mal são eternos.

Resposta teísta

  • A segunda premissa só é verdade em termos essenciais, não em termos incidentais.
  • Além disso, a existência de opostos não garante a eternalidade de seus primeiros princípios.

Segundo argumento dualista

  • Deus é o criador de tudo que existe.
  • O mal é algo que existe.
  • Logo, Deus é o autor do mal.

Resposta teísta

  • A primeira premissa é verdade em termos essenciais, não em termos incidentais. Deus criou os elementos necessários à combustão, mas não os incêndios. Deus concedeu a liberdade, mas não é responsável pelo seu mau uso.
  • Além disso, o mal não é uma entidade criada independente, mas a deterioração ou privação de algum bem numa entidade no que tange à sua natureza. Isso não equivale a negar a realidade do mal, mas sua realidade independente.

O Panenteísmo – Deus é coextensivo com a Criação

No panenteísmo o mal é inerente à matéria, que é vista como eterna ou pré-existente

  • Deus não é o criador mas o modelador.
  • O mal é algo que existe continuamente e será derrotado incrementalmente pela ação conjunta de Deus e dos que O Seguem.
  • Deus quer, busca, tenciona, tenta e trabalha para eliminar o mal, mas ainda não tem poder agregado suficiente para fazê-lo.

Resposta teísta

O Neo-Teísmo – Há limitações autoimpostas por Deus ao criar seres moralmente livres.

  • O neo-teísmo alega interpretar as Escrituras mais corretamente ao reconhecer limitações em Deus.
  • Alega ainda atribuir uma atividade mais direta de Satanás nos chamados males naturais.
  • Alega que a liberdade humana seja absoluta (ou libertária) para que Deus seja isento do Mal.
  • Define mal (e bem) em termos essencialmente humanos (aquilo que nos causa medo, dor e tensão).

Respostas Teístas ao Neo-Teísmo

  • O neo-teísmo lê seletivamente e deixa de lado aspectos contextuais e literários que justificam supostas limitações divinas.
  • Concede a Satanás muito mais campo de ação do que as Escrituras sugerem, mesmo à luz de “ele foi homicida desde o princípio” (Jo 8.44).
  • Acaba por isentar Deus da responsabilidade pelo bem, já que a criatura é plenamente responsável e livre.
  • Desconsidera a glória de Deus como o propósito último e maior do universo (que inclui o desfrute de Deus pela criatura que a Ele responda em fé).

Algumas Sugestões


Precisamos abordar a questão do mal a partir de uma plataforma de fé, e não apenas de reação aos argumentos dos ateólogos. Mais precisa ser dito e escrito a partir das Escrituras.

Não basta apontar para os argumentos dos ateólogos como fruto apenas de uma reação emocional à existência do mal (embora esse fator me pareça preponderante).

Precisamos cuidar para não sermos insensíveis à dor genuína, enquanto tentamos não ser coniventes com a mera especulação diletante.

Precisamos lidar exegeticamente com as alegações do neo-teísmo e com a atitude laissez-faire que ele tende a produzir.