terça-feira, 30 de abril de 2013

IGREJA DOS BODES DO MOVIMENTO HEDONISTA


Por Pr Silas Figueira
Estamos vivenciando nos dias atuais uma onda de igrejas e movimentos que surgem, não se sabe de onde, com doutrinas das mais absurdas, e o que tem de seguidores é algo fora do normal. Igrejas que pregam prosperidade a qualquer custo. Igrejas envolvidas com G12. Igrejas do cai cai. Igrejas que buscam unção disso unção daquilo. Igrejas judaizantes que tem arca e costuram o véu que Jesus já rasgou. Igrejas que só pregam milagres e mais milagres. Líderes com títulos dos mais diversos; apóstolo, paipóstolo, bispo, arcebispo, reverendo, eu ainda não vi vice-deus, mas daqui a pouco aparece, é só esperar. Como disse Charles H. Spurgeon: Nós somos assaltados por todo tipo de doutrinas novas. A velha fé é atacada por assim-chamados “reformadores” que adorariam reformá-la completamente. Eu espero ouvir notícias de alguma doutrina nova uma vez por semana. Tão freqüentemente como a lua muda, um ou outro profeta é movido a propor alguma nova teoria, e acreditem, ele lutará mais bravamente por sua novidade do que jamais fez pelo Evangelho. O descobridor se acha um Lutero moderno, e da sua doutrina ele pensa como Davi pensou da espada de Golias: "Não há outra semelhante."
Isso foi dito no séc. 19, de lá para cá nada mudou, pelo contrário, só vemos surgir novas igrejas com novas doutrinas, com seus líderes dizendo ser os donos da verdade.Quero deixar bem claro que não creio que todas as igrejas sejam corruptas e que os cristãos devam viver enfurnados em suas casas. Acredito que devemos nos reunir regularmente com os outros cristãos, participando de um uma igreja fundamentada na Bíblia e que reverencie a Deus. O fato é que as igrejas fundamentadas na Bíblia e onde há reverência ao nome de Deus estão se tornando cada vez mais raras nestes últimos dias. Conseqüentemente, está ficando cada vez mais difícil para uma família encontrar uma igreja que reverencie a Deus, onde todos possam amadurecer e crescer em Cristo.Diante desse quadro atual eu denominei essas igrejas que estão na contramão da Palavra de: “Igreja dos Bodes do Movimento Hedonista”.Por que Igreja dos Bodes? Porque é uma igreja onde não tem ovelhas. O que vemos nessas igrejas são bodes dando marradas, pois não se sujeitam a doutrina bíblica. Pessoas pensando que podem dar ordem a Deus e que Ele é seu escravo particular. Pessoas mais preocupadas em aparecer do que ser. Pessoas que seguem cegamente seu líder, mas não segue a Jesus nem seus ensinamentos.
Qual a diferença entre ovelhas e bodes? As ovelhas são dóceis, mansas, humildes e obedientes, já os bodes são rudes, agressivos, gostam de dar cabeçadas naqueles que a cuidam. É bom lembrar que os bodes não são ateus que repudiam a existência do Deus eterno. Pelo contrário, são aqueles que, tendo “uma forma de piedade, negam, entretanto, o poder dela”, são pessoas que estão sempre aprendendo e “nunca são capazes de chegar ao conhecimento da verdade” (2 Tm 3.5-7).
Uma coisa que podemos afirmar é que muitos seguidores dessas igrejas ou movimentos não são salvas. Elas participam da igreja apenas para ouvirem palavras agradáveis, por razões sociais, ou para fazer contatos nos negócios. Esse tipo de pessoa merece um lobo transigente como pastor.
Mas existe algum culpado por essas pessoas agirem assim? Sim. São os seus líderes que na verdade não passam de mercenários. Como disse Jesus: “Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas, por dentro são lobos roubadores” (Mt 7.15). Não são pastores no sentido da Palavra, são líderes que só se preocupam com o seu umbigo. Como disse Judas em sua carta: “...pastores que a si mesmos se apascentam; nuvens sem água impelidas pelo vento; árvores em plena estação dos frutos, destes desprovidas, duplamente mortas, desarraigadas... (Jd 12).
Esses falsos líderes que tem vários títulos são na verdade, o que podemos chamar de Pastores Réprobos. É a pior variedade possível; esses homens estão na parte inferior do amontoado de estrume (desculpe a colocação). Entregam-se ao mal e à falsa doutrina. Envolvem-se em relacionamentos com as mulheres da igreja (muitos trocam de esposas como se troca de camisa), e ensinam ou pregam falsas doutrinas. Os pastores réprobos também rejeitam a sã doutrina. Muitos não crêem na doutrina da Trindade, na salvação pela fé e sem a necessidade de obras, na inspiração das Escrituras, no nascimento virginal de Jesus Cristo, e em outros fundamentos da fé cristã. Também não vêem nada de errado com o homossexualismo e alguns na verdade até oficiam casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Esses pastores dão muita importância aos direitos humanos e às coisas mundanas, mas são muito levianos com a Bíblia.
E por que Movimento Hedonista? Porque é o tipo de igreja do movimento, da moda, da atualidade. A “Igreja do Gosto do Freguês”. Onde o que vale é o que da certo e não o que é certo. O importante é o movimento. É igual aquela história de um homem que tinha um pequeno comércio, e para atrair os fregueses ele resolveu inovar. Ele comprava frango a um preço e o revendia mais barato. Um dia ele foi questionado e lhe falaram que ele estava levando prejuízo, no entanto ele respondeu: “E o movimento? Vocês já perceberam como cresceu o movimento?” Há líderes assim, que preferem o prejuízo espiritual “dos seus fregueses” em favor do movimento.


E o que é Hedonismo? É a tendência a buscar o prazer imediato, individual, como única e possível forma de vida moral, evitando tudo o que possa ser desagradável. Hedonismo vem do grego hedoné, que significa prazer. Doutrina que considera que o prazer individual e imediato é o único bem possível, princípio e fim da vida moral.


O que temos visto hoje em várias igrejas e ministérios é exatamente isso, um evangelho disfarçado, sem vida com Deus, mas uma busca por diversão e prazer. A igreja não é um lugar para se adorar a Deus, mas um lugar para se sentir bem. Não é um lugar onde se confronta o pecado, mas um lugar onde se alisa o ego dos presentes. Um lugar onde há um grande número de adeptos, mas não de pessoas salvas, pois a palavra de salvação não é pregada, onde a psicologia está no púlpito não o Evangelho de Jesus Cristo.


Que o Senhor nos ajude a preservarmos a verdade sem nos deixar levar por essa patologia que tem assolado muitas igrejas em nosso país e no mundo. Que possamos dar ouvidos ao conselho do apóstolo Paulo a Timóteo:


“Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério” (2Tm 4.1-5).

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Que é um Evangélico?


Por Michael Horton
Os rótulos geralmente são confusos, especialmente quando o conteúdo da embalagem muda. Suco de uva pode virar vinagre com o passar dos anos na adega, porém o rótulo não muda junto com as mudanças na substância. O mesmo vale para o termo evangélico".
Desde o "Ano do Evangélico", correspondente ao bicentenário de nossa nação (no caso os EUA) em 1976, o termo - pelo menos na América do Norte - veio a identificar aqueles que salientam um determinada marca da política, uma abordagem moralista e freqüentemente legalista da vida, e certo tipo de imitação, "cafona" de estilo de evangelismo. Para alguns o termo compreende o emocionalismo que eles vêem na televisão religiosa. Para outros, hipocrisia e justiça própria. E aí há as memórias que muitos de nós, que fomos criados como evangélicos, temos: ambientes familiares fortes e cuidadosos; um senso de pertencer a um mesmo lugar, com os amigos que gostam de conversar das "coisas do Senhor".
Independente do seu passado, é importante entender o significado do termo "evangélico".
As pessoas só começaram a usar o rótulo no século XVI, designando aqueles que abraçaram o Evangelho que havia - num sentido bem real - sido recuperado pela Reforma Protestante naquele século. "Evangélico" vem de "evangel", que é o termo grego para "evangelho". Deste modo, os "evangélicos" eram luteranos e calvinistas que queriam recuperar o evangel e proclamá-lo dos altos dos telhados. Era uma designação empregada para colocar os Protestantes num agudo contraste com os Católicos Romanos e "seitas". Mas para entender por que estes Protestantes pensavam que eram realmente aqueles que recuperaram o verdadeiro e bíblico Evangelho, temos que entender o que era aquele evangelho.

O "Evangel"
A Reforma era uma coleção de "solas" - esta é a palavra latina para "somente". Eles vibravam ao dizer "Sola Scriptura!", significando, "Somente as Escrituras". A Bíblia era a "única regra para fé e prática" (Westminster) para os reformadores. Você vê que a igreja acreditava que a Bíblia era totalmente inspirada e infalível, mas a igreja era o único intérprete infalível da Bíblia. Os Reformadores acreditavam que a Tradição era importante e que os Cristãos não a deveriam interpretar por eles mesmos, mas que todos os cristãos sejam clérigos ou leigos, deveriam chegar a um comum entendimento e interpretação das Escrituras juntos. A Bíblia não deveria ser exclusivamente deixada aos "espertos", mas isso nunca significou para os Reformadores que cada cristão deveria presumir que ele ou ela pudessem chegar a interpretações da Bíblia sem a orientação e assistência da Igreja.
O principal ponto de "Sola Scriptura" então, era este: Não deveria ser permitido à Igreja fazer regras ou doutrinas fora das Escrituras. Não existem novas revelações, nem papas que ouvem diretamente a voz de Deus, e nada que a Bíblia não apresente deveria ser ordenado aos cristãos.
O segundo "sola" era "Solo Christus", "Somente Cristo". Isto não queria dizer que os Reformadores não criam na Trindade - pois o Pai e o Espírito Santo eram igualmente divinos, mas que Cristo, sendo o "Deus-Homem" e nosso único Mediador, é o "Homem de frente" para a Trindade. "Aquele que me vê a Mim, vê ao Pai que me enviou", disse Jesus. Num tempo em que meros seres humanos estão tomando o lugar de Cristo como Mediador entre Deus e cristãos, os reformadores proclamaram juntamente com Paulo: "Há somente um Deus e um Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem" (1 Tim. 2: 5). Eu cresci em igrejas onde tínhamos "apelos ao altar" e esta pode ser a coisa mais próxima que nós cristãos modernos temos do "chamado ao altar" medieval, a missa. Em nossas igrejas, o pastor atuaria como mediador, vendo nossa mão levantada "enquanto cada cabeça está baixa e cada olho fechado", e nós iríamos para a frente onde ele estava, o chamado "altar" e repetiríamos uma oração após ele. Então ele afirmaria que, tendo "feito a oração", nós agora estaríamos salvos. Eu me lembro de ter sido "salvo" novamente, e novamente. Quando me senti culpado após uma particular e desagradável noite de sábado, lá ia eu novamente ao altar. Cristãos medievais estavam sempre apavorados até a morte, por ver que poderiam morrer com pecados não confessados e assim iriam para o inferno. Assim, a missa era uma oportunidade de "estar em dia com Deus" e de "encher a banheira" que tinha tido um vazamento por causa do pecado.
Os reformadores, porém, diriam àqueles dentre nós que vivem ansiosos quanto ao fato de estar ou não dentro do favor de Deus, ou se estamos cedendo demais ou obtendo vitória: "Somente Cristo!" É a Sua vida e não a nossa, que conta para a nossa salvação; foi a Sua morte sacrificial e ressurreição vitoriosa que nos assegurou vida eterna. Porque Ele "entregou tudo"; o Seu mérito cobre totalmente o nosso demérito.
E isso nos traz ao próximo "sola" - "Sola Gracia" (Somente a Graça!) Roma acreditava na graça; de fato, a Igreja insistia que, sem a graça, ninguém poderia ser salvo. Só que a graça era o tipo de "um pó mágico" que ajudava a pessoa a viver uma vida melhor - com a ajuda de Deus. Os reformadores, em contrapartida, diziam que a graça não é uma substância que Deus nos dá para vivermos uma vida melhor, mas sim uma atitude em relação a nós, aceitando-nos como justos por causa da santidade de Cristo, e não nossa.
Por isso eles lançaram o quarto "somente" (sola), que sabemos ser "Sola Fide" (somente a fé). Considerando que somos salvos somente pela graça, como obtemos essa graça? Roma argumentava que essa graça era distribuída pela igreja através dos vários métodos que os "altos escalões" haviam inventado. Fé mais amor, ou fé mais boas obras, ou alguma coisa assim, tornou-se a fórmula para a salvação. Os reformadores ao contrário, insistiam que do início ao fim, "salvação é obra do Senhor" (João 2: 9). "O Espírito dá vida; o homem em nada colabora" (João 6: 55). "Não depende da decisão, nem do esforço do homem, mas da misericórdia de Deus" (Rom 9: 16). Assim a fé em si mesma é um dom da graça de Deus e não se pode dizer dela que seja "a coisa" que nós fazemos na salvação: Pois nós não somos nascidos da vontade da carne ou da vontade do homem, mas de Deus" ( João 1: 13).
No minuto em que uma pessoa olha para "Cristo somente" para sua salvação, dependendo da Sua vida santa e sacrifício substitutivo na cruz, naquele exato momento ela ou ele é justificado (posto em posição de justiça, declarado justo, santo, perfeito). A própria santidade de Cristo é imputada (creditada) na conta do crente, como se ele ou ela tivessem vivido uma vida perfeita de obediência - mesmo enquanto aquela pessoa continua a cair repetidamente no pecado durante sua vida. O Cristão não é alguém que está olhando no espelho espiritual, medindo a proximidade de Deus pela experiência e progresso na santidade, mas é antes alguém que está "olhando para Cristo, o Autor e Consumador da nossa fé"( Heb. 12: 2). Resumindo, é o estilo de vida de Cristo, não o nosso, que atinge os requisitos de Deus, e é por Ele que a justiça pode ser transferida para nossa conta, pela fé (olhando somente para Cristo).
Finalmente, os reformadores disseram que tudo isso significa que Deus é quem tem todo o crédito. "Soli Deo Gloria" (Somente a Deus seja a Glória) era a forma que eles colocavam - nosso último "sola", que quer dizer, "A Deus somente seja a Glória" Um evangélico, portanto, era centrado em Deus; alguém que estava convencido de que Deus havia feito tudo e que não restava nada que o homem considerasse seu a não ser seu próprio pecado. Isto não apenas transformou radicalmente a vida devocional dos crentes que o abraçaram, mas toda a estrutura social também.
Numa velha taverna do século XVII em Heidelberg, na Alemanha, lê-se no alto "Soli Deo Gloria!" Johann Sebastian Bach, o famoso compositor, assinou todas as suas composições com aquele slogan da Reforma. Do mesmo modo, um outro compositor, Handel, declarou, "Que privilégio é ser membro da igreja evangélica, saber que meus pecados estão perdoados. Se nós fossemos deixados à mercê de nós mesmos, meu Deus, o que seria de nós?" Grandes e nobres vidas requerem grandes e nobres pensamentos, e a soberania e a graça de Deus são, para o crente, grandes e nobres pensamentos. Os reformadores disseram a Roma o que J.B.Philipps, o tradutor inglês da Bíblia, disse à igreja contemporânea: "O Deus de vocês é muito pequeno".
A Reforma, a qual produziu o termo "evangélico", também recuperou a doutrina bíblica do "sacerdócio universal de todos os santos" e a noção bíblica do chamado e vocação. A igreja tinha dividido os cristãos em primeira classe (aqueles que serviriam no "ministério cristão em tempo integral") e segunda classe (aqueles que estavam empregados em serviços "seculares"). Os reformadores concediam, por direito, que todos os cristãos são sacerdotes e são, por isso, ministros de Deus, independente de estarem varrendo uma sala para a glória de Deus, moldando uma peça de cerâmica, defendendo um cliente na corte, curando um paciente, ordenhando uma vaca, ou conduzindo uma congregação no louvor. Não há o "secular" e o "sagrado" - Deus criou o mundo inteiro e fez a vida neste mundo como algo inseparável de nossa própria humanidade.
Como nós ajustamos as coisas hoje?
A questão, é claro, é se "evangélico" hoje significa o que significou há quinhentos anos.
Em primeiro lugar, muitos dos evangélicos de hoje têm uma visão das Escrituras inferior à que a igreja de Roma tinha no século XVI. Instituições evangélicas de peso duvidam da confiabilidade da Bíblia e de sua infalibilidade - a menos, claro, que se trate daquilo que eles já decidiram que é verdade. Outros acreditam que a Bíblia é inerrante, porém acrescentam novas regras e revelações ao cânon. "A Bíblia é suficiente", nos aconselhariam os reformadores. Os sermões, com muita freqüência, são "pop-inspiracionalistas" discursos superficiais de "Como criar filhos positivos" ou "Como ter uma auto-estima" em detrimento de sérias exposições das Escrituras. De acordo com o Gallup, "Os EUA são um país de iletrados bíblicos", ainda que 60 milhões deles se consideram "evangélicos".
Em segundo lugar, muitos evangélicos modernos também não acreditam que Cristo é suficiente. Às vezes pessoas muito boas e nobres substituem Cristo como nosso único Mediador, assim como o Espírito Santo. Enquanto louvamos o Espírito juntamente com o Pai e o Filho, o Filho tem este papel único de nosso único advogado e Mediador. Não devemos olhar para a obra do Espírito nos nossos corações, mas para a obra de cristo na cruz. Às vezes, nós temos mediadores humanos que não são o Deus-Homem Jesus Cristo. Precisamos de outras coisas pelo meio, como a figura do pastor no "apelo" do altar ao qual me referi anteriormente. Não muito tempo atrás eu vi um tele-evangelista de sucesso tirando o fone do gancho e informando seus telespectadores que "esta é sua conexão com Deus". Uma banda secular, "Depeche Mode", canta sobre "Seu próprio Jesus Pessoal" que pode ser contactado ao se pegar no fone e fazendo sua confissão. Enquanto estivermos neste assunto, também deveríamos mencionar que foi a venda de indulgências de John Tetzel (redução do período no purgatório em troca de valores em dinheiro) que inspirou as "Noventa e Cinco Teses "de Lutero, desencadeando a Reforma. "Quando a moeda bate no cofre", o coro cantava, "uma alma do purgatório é vivificada". Será que isso realmente é diferente da venda da salvação que temos visto na televisão cristã, rádio, e mesmo em muitas igrejas? Dinheiro e salvação têm sido distorcidos para serem uma coisa só no meio de muitos de nós. "Eles vendem salvação a você", canta Ray Stevens, "enquanto eles cantam 'Amazing Grace' ('Graça Maravilhosa')".
Muitos evangélicos hoje crêem que "Somente a Graça" (sola gracia) é algo como livre-arbítrio, uma decisão, uma oração, uma ida até a frente, uma segunda bênção, algo que nós façamos por Deus que nos dará confiança de sermos alvo do Seu favor. Doutrinas como eleição, justificação e regeneração são discutidas quase que nunca, porque elas mostram o quadro de uma humanidade que é incapaz e nem ao menos pode cooperar com Deus em matéria de salvação. Se nós formos salvos é Deus e Deus somente que deverá faze-lo.
E sobre "Somente a Fé" (sola fide)? Muitos evangélicos acham que a fé não é suficiente. Se um indivíduo crê em Cristo e daí sai e o anuncia, será que a fé é suficiente? Alguns insistem que a fé mais a entrega, ou a fé mais a obediência, ou fé mais um sincero desejo de servir ao Senhor servirão como uma fórmula. O fato de que os evangélicos hoje lutam com estas questões indica que nós não ouvimos o "som seguro" de "Somente a Fé" em nossas igrejas. Fé é suficiente porque Cristo é suficiente.
Como se comparariam os evangélicos de hoje com os seus predecessores em matéria de "Somente a Deus seja a Glória"? Auto-estima, glória-própria, centralidade do "eu" parecem dominar a pregação, ensino e a literatura popular do mundo evangélico. Os evangélicos de hoje sabem muito pouco do grande Deus dos reformadores - um Deus que faz tudo conforme o Seu agrado, em relação aos céus e às pessoas sobre a terra e "que faz tudo conforme o conselho da Sua vontade" (Dn. 4; Ef. 1: 11). Os evangélicos hoje, refletindo sua cultura e sociedade mais ampla, estão intimidados por um Deus que é Deus. Porém que outro Deus é digno de confiança? Em poucas palavras, que outro Deus existe? Louvar ao Deus de uma experiência pessoal ou o Deus de preferência pessoal é louvar um ídolo. Os reformadores levaram isso a sério, e aqueles que quiserem ser evangélicos genuínos também devem faze-lo.

Conclusão
Muitas pessoas se perguntam por que o povo da "Reforma" parece bravo. Ninguém quer estar ao redor de pessoas bravas - e eu não gostaria de ser conhecido como uma pessoa "brava". Mas precisamos encarar o fato de que estes são tempos de grande infidelidade para o povo de Deus. A nós foi dada uma fé rica, com Cristo no centro. Porém trocamos nossa rica dieta por um saco de pipocas e estamos mal nutridos. Se os evangélicos terão a mesma saúde espiritual que tiveram em épocas passadas, eles terão que voltar para as verdades que fazem de "evangélicos" "evangélicos". A Bíblia - nosso único fundamento; Cristo - nossa única esperança; Graça - nosso único evangelho; Fé - nosso único instrumento; a Glória de Deus - nosso único alvo; o Sacerdócio de todos os santos - nosso único ministério. Este evangelicalismo original ainda é suficiente para fazer, mesmo de nossas menores vitórias, algo muito grande.

Por uma teologia apologética brasileira
















Por Leonardo Gonçalves

A apologética cristã – um discurso em defesa das doutrinas cristas - é talvez um dos tópicos mais negligenciados pelos nossos estudiosos. Raramente consta no currículo de algum seminário e comumente se confunde com a heresiologia. No entanto, o atual quadro do cristianismo me faz pensar que poucas vezes ela foi tão necessária. Em tempos difíceis como os nossos, em que evangélicos estão dando as mãos aos católicos, espíritas e budistas em nome do “diálogo inter-religioso” e em que despontam novas espiritualidades, algumas estranhas e avessas ao evangelho de Jesus, é preciso que a liderança séria do nosso país se desperte para a necessidade de elaborarmos uma sólida apologética com a qual possamos combater as doutrinas modernas, geralmente diluídas entre filosofias ocas e relativizantes.

Uma das razões porque defendo que a teologia brasileira deve ter ênfase apologética, vem do nosso contexto histórico-cultural. Os portugueses trouxeram o catolicismo romano. Os africanos arribaram suas crenças em espíritos orixás. Os nativos contribuíram com suas crenças animistas. Isso sem falar no êxodo que houve por ocasião das guerras mundiais, quando japoneses, italianos, poloneses, alemães aportaram por aqui, cada grupo trazendo sua própria cultura religiosa, a qual se misturaria com as crenças já diluídas dos brasileiros. A verdade é que vivemos em uma nação continental onde credos e raças se confundem e exercem influencia sobre a sociedade e a religião, demandando dos pastores e pesquisadores um constante raciocínio apologético.

A segunda razão porque defendo a tese de que a teologia brasileira deve ser apologética, é a nossa obstinação em importar tendências. Historicamente acostumados a toda sorte de crenças estrangeiras, o povo brasileiro tem como praxe a “tolerância”. Na verdade, a nossa cultura se parece mais com uma grande esponja, a qual tudo absorve e incorpora, e esta tendência também pode ser vista nas igrejas. Assim, em um mesmo segmento evangélico é possível encontrar conceitos que variam da Teologia da Prosperidade ao Teísmo Aberto, e do Neopentecostalismo ao Liberalismo Teológico. É necessário que a liderança séria do nosso país seja revestida de uma percepção apologética e através de meditação e submissão à Palavra, comece a separar os alhos dos bugalhos.

A terceira razão porque defendo a elaboração de uma teologia apologética nacional é que ninguém conhece melhor a igreja brasileira do que os crentes brasileiros. Obviamente que, como muito do que acontece no cenário teológico é um déjà vu de alguma teologia que surgiu lá fora, a produção de apologistas estrangeiros é de grande importância para nós. Não podemos, porém, negligenciar o fato de que nosso país tem uma problemática própria e muitas das nossas inquietudes não perturbam os grandes mestres da apologia internacional. Lá, fala-se muito em ateísmo e evidências da ressurreição, mas aqui no Brasil o numero de ateus e de pessoas que não crêem na ressurreição é consideravelmente menor, sendo este assunto, em certo sentido, menos relevante para nós. Por outro lado, o brasileiro convive com espiritismo, reencarnacionismo e ritos africanos que se misturam com crenças cristas, mas pouca gente lá fora está preocupada com isso. Assim, ao importar todos os livros de apologética estrangeira, memorizar seus jargões e despejar aquele “grande conhecimento” sobre nossos ouvintes, corremos o risco de ser supérfluos ao ponto de responder perguntas que ninguém está fazendo.

Creio que o momento é oportuno para implantar a apologética em nossas escolas teológicas, dando a ela não um papel secundário, mas essencial na formação dos nossos teólogos e líderes eclesiásticos. Também penso que as editoras evangélicas não perderiam em investir em apologistas nacionais tanto ou até mais do que investem na tradução de obras estrangeiras, pois o que percebo é uma grande carência de estudos especializados voltados para nossa realidade nacional. Penso ainda que a popularidade dos blogs e sites que se dedicam à defesa do cristianismo em um contexto tupiniquim é a prova cabal de que jamais houve momento melhor para se investir nos apologistas nacionais.

Diálogo com um unicista, por e-mail


Por Ciro Sanches Zibordi

PRIMEIRO E-MAIL

— Pastor Ciro, vi em seu blog sobre o batismo em nome de Jesus. Fique sabendo que a Trindade é uma doutrina em que não se encontra na Bíblia, foi criada por homens, por 318 bispos católicos; quando fala em nome, está falando no singular um nome, e não nomes; quando você clama pelo Pai, Ele tem que ter um nome, não é mesmo? Então, esse nome obviamente será Jesus. Leia com cuidado a Palavra de Deus, pois o Diabo quer arrebatar a verdade da sua mente para que não veja a verdade! — disse o unicista.

— É mesmo? Fique sabendo que você está equivocado. A Trindade é uma doutrina bíblica irrefutável. É a unicidade que é herética. Explique-me João 14.16, para início de conversa. Nessa passagem, o próprio Senhor Jesus deixa claro que Ele, o Pai e o Espírito Santo são três Pessoas distintas — respondi.

SEGUNDO E-MAIL

— Joao 10.30: “Eu e o Pai somos UM”. Aqui explica a humanidade perfeita de Cristo. Deus se fez carne e habitou entre nós; Jesus como Homem podia orar; Ele foi submisso ao Pai, pois, quando Ele vier nas nuvens, você verá só um trono, e não três. Olha bem e veja o quanto você está enganado, e que Deus tenha misericórdia da sua vida, pois você se faz semelhante às pessoas do mundo, crendo em uma doutrina sem base que levará muitos à condenação. Jesus é Espírito; Ele estava em carne não podia habitar nos corações das pessoas ainda, pois o Espírito não tem carne e nem ossos.

— Não mude de assunto, meu irmão. Explique-me João 14.16, uma passagem que não deixa dúvidas quanto à tripessoalidade da Deidade — respondi.
TERCEIRO E-MAIL

— A alegação que fazem os defensores desta teoria — pastores e leigos — é de que a palavra “outro” é tradução do termo grego allos, que significa outro de mesma natureza. Segundo eles, como foi Jesus que pronunciou a frase “Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro (allos) Consolador”, e allos significa outro de mesma espécie, Jesus está se referindo a outro ser da mesma espécie que Ele. Sendo Jesus Deus, o Espírito da verdade deve ser um outro Deus diferente de Jesus, um outro Deus? Responda!

— Sim, o termo que aparece é allos, e não heteros, pois o Pai é o Consolador, Jesus é o Consolador e o Espírito é outro Consolador. Três Pessoas da mesma natureza e essência que formam um só Deus! Tripessoalidade na Divindade, e não triteísmo (três Deuses). Agora, me explique João 14.16. Não fuja da pergunta. Jesus estava olhando para um espelho e dizendo: “Eu rogarei ao Pai [que sou eu mesmo], para que Ele [que sou eu mesmo] vos envie outro Consolador [que sou eu mesmo]”? Estude a Palavra, meu irmão, sob a iluminação do Espírito, pois o Senhor Jesus nunca mentiu. Abandone os ensinos desses que dizem ter a “voz da verdade”.
QUARTO E-MAIL

— Última vez que eu vou lhe dizer: que Deus tenha misericórdia de você e o abençoe!

— Acorde! Ainda há tempo de aprender a Palavra de Deus e deixar o herético e blasfemo movimento unicista. E lembre--se: um único versículo, João 14.16, é o bastante para refutar a herética doutrina da unicidade.
QUINTO E-MAIL

— A palavra “Trindade” existe em sua Bíblia? Verifique de Gênesis a Apocalipse. Não existem três tronos, e sim um só. Em Mateus 28.19, o Senhor Jesus falou em parábolas, dando uma ordenança para batizar... Em Lucas 24.45-49, Ele disse que em seu nome se pregasse o arrependimento para remissão dos pecados. Pedro, em Atos 2.38, com autoridade responde: “arrependei-vos, e cada um de vos seja batizado em nome de Jesus Cristo”. Sabe por que Pedro e a igreja primitiva realizaram o batismo em nome de Jesus? Que Jesus Cristo lhe revele o batismo da unicidade! Ah, não se esqueça de procurar a palavra “Trindade” em sua Bíblia — provocou-me o unicista.

— Eu também lhe faço outra pergunta: As palavras “unicismo”, “unicista” ou “unicidade” aparecem na sua Bíblia? Verifique entre Gênesis a Apocalipse. Mas, antes de falarmos sobre o batismo, de modo mais amplo, insisto: explique-me o texto de João 14.16. Ah, e não se esqueça de procurar o termo “unicidade” em sua Bíblia — respondi-lhe, também com uma pequena provocação.

ÚLTIMO E-MAIL

— Em relação a João 14.16, Jesus em João 8.56-59 declara aos judeus que é Deus. Em João 10.30 e 17.11 diz que Ele e o Pai são um. Em João 14.6-10 Ele disse: “Ninguém vem ao Pai senão por mim” e “estou há tanto tempo convosco”. Em Atos 20.28 está escrito: “Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constitui bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com o seu próprio sangue”. Em Judas vv.1-4 está escrito que Deus é o único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo. Em 1 João 5.20 vemos que Jesus é o verdadeiro Deus. A unicidade está clara nos textos citados. Em João 1.1 quem era o Verbo?

— Caro irmão, eu sei que a estratégia dos unicistas (esta palavra não está na Bíblia!), adeptos da unicidade (este vocábulo também não aparece nas Escrituras!) e partidários do unicismo (este termo também não consta da Bíblia!), é citar várias referências bíblicas fora de contexto… Bem, a fim de não dificultar a nossa conversa, seria interessante o irmão explicar-me somente o texto de João 14.16. O que significa a Pessoa divina do Deus Filho pedir a Ele mesmo que envie ao mundo Ele mesmo, sendo que Ele mesmo já estava no mundo? E, se Ele já estava no mundo, e Ele é uma única Pessoa (como o irmão explicou), por que faria um pedido para si mesmo? Em contrapartida, eu me comprometo a responder às questões anteriores, principalmente as ligadas ao batismo. Já lhe adianto, entretanto, que “em nome”, em Mateus 28.19, tem função distributiva, denotando que engloba os três nomes das Pessoas da Trindade. Aguardo sua resposta, a fim de prosseguirmos a nossa amigável conversa — concluí.

Aguardando a resposta quanto João 14.16 por parte de qualquer adepto da unicidade... Mas, quanto ao argumento recorrente dos unicistas de que no Céu não haverá três tronos, o certo é que Jesus está assentado à direita do Pai (Cl 3.1,2) e ficou em pé quando Estêvão foi apedrejado (At 7.55). Será que Deus Filho está sentado no chão? Os unicistas precisam estudar o Evangelho Segundo João e Apocalipse, para descobrirem que o Deus Filho está assentado no trono, à destra do Deus Pai.

Finalmente, os unicistas alegam que Jesus nunca é chamado de Deus Filho, textualmente. Ora, chamar o Senhor Jesus de Deus Filho decorre de coerência. Afinal, o título Deus Pai seria desnecessário se não houvesse o Deus Filho. A título de exemplo, muitos se referem aos ex-presidentes Bush, dos Estados Unidos, como pai e filho, a fim de distingui-los. Ademais, o próprio Deus Pai chama o Senhor Jesus de Deus (Hb 1.8).

Herança não é salário!



Por Josemar Bessa

A herança dos que estão em Cristo é incalculável... Somos “herdeiros de todas as coisas”...

Herdeiros da salvação – “Não são porventura todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?” - Hebreus 1:14

Herdeiros da vida eterna – “Para que, sendo justificados pela sua graça, sejamos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna.” - Tito 3:7

Herdeiros da Graça da vida – “...sendo vós os seus co-herdeiros da graça da vida” - 1 Pedro 3:7

Herdeiros da promessa – “Por isso, querendo Deus mostrar mais abundantemente a imutabilidade do seu conselho aos herdeiros da promessa, se interpôs com juramento” - Hebreus 6:17

Herdeiros da Justiça – “e foi feito herdeiro da justiça que é segundo a fé.” - Hebreus 11:7

Herdeiros do reino – “...e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?” - Tiago 2:5 - E muito mais poderia ser mencionado... mas...

O que constitui uma herança? Willian Guthrie (1620 – 1665) diz:

“O pagamento de um soldado não é herança; também não constitui herança os honorários de um advogado ou de um médico; nem lucros do comércio; nem os salários provenientes do trabalho.

As recompensas da fadiga e da habilidade humana são os ganhos das mãos que as recebem. O que é herdado, por outro lado, pode ser a propriedade de um recém-nascido... e assim a herança, o diadema, há muito conquistado pelo braço vigoroso da coragem de outro, e pela primeira vez incluído no brasão de um escudo gasto em combates, agora está sobre o berço do recém-nascido que chora."

Se somos filhos somos herdeiros – Mas somos filhos? Todos os homens em Adão estão mortos em delitos e pecados – “Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), Efésios 2:5“E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados” -  Efésios 2:1 – Não podemos e não temos o poder de determinar nosso nascimento... “E vos vivificou!” – “Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.” -  João 1:13

Nascidos e mantidos vivos soberanamente! Como um defunto não pode herdar uma propriedade, assim uma alma morta não pode herdar o reino de Deus. “E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo...” - Romanos 8:17 – Filhos são herdeiros.

Filhos nasceram soberanamente... Filhos são mantidos vivos... Sou filho? O mesmo verso continua: “...se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados.” - Romanos 8:17

Filhos tem a mesma natureza. A Verdade é a expressão do caráter de Deus... Seus filhos amam a verdade, seus filhos vivem a verdade... seus filhos não amam o mundo... “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele.”  1 João 2:15 – E essa vida não está relacionada a receber um salário, é a vida de Deus se expressando em seus filhos... “...se é certo que com ele padecemos...” – Se o mundo não amou a verdade, não amou a Luz, não amou o Filho de Deus... ser transformado diariamente a Sua imagem nos coloca na mesma situação.

Sou filho? Não é difícil usar a expressão Abba Pai – Mas quando é o Espírito que regenera um homem e faz crescer nele o grito: “Abba Pai” – temos infinitamente mais do que uma crença apenas intelectual... um auto-convencimento... temos uma nova natureza de filhos – “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós...” - Romanos 8:9

Não podemos estar na carne e no Espírito... e as duas situação são inconfundíveis. Todos os filhos de Deus e herdeiros em Cristo são guiados pelo Espírito a uma vida de santidade: “Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus.” - Romanos 8:14

Todos os co-herdeiros com Cristo serão glorificados com Ele. O que espera você, a herança invisível ao mundo... faz você alegremente enfrentar as dores que restam nesta terra e desprezar os “prazeres transitórios do pecado”? O que você espera a cada dia que o motiva a viver e se deleitar em Deus? Você está cheio de uma esperança além desta vida que faz todos os prazeres presentes parecerem cada vez menores e todos os sofrimentos suportáveis? Isso mantinha os pés do herdeiro Paulo firmes – “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.” - Romanos 8:18

Essa tremenda esperança, Paulo diz, é compartilhada por todos os filhos de Deus. A herança que os espera é tão grande que faz com que todos os sofrimentos, e todos os problemas num mundo que despreza Deus, despreza a Verdade, que está sob maldição de Deus, que é marcado por dor... parecer pequeno em comparação a herança... é assim que os filhos e herdeiros vivem. Este é o resultado da nova natureza pulsando em seus novos corações.

Como a justificação é a união e comunhão com Cristo em sua justiça, e a santificação é a união e comunhão com Cristo em sua santidade, ou seu caráter santo, a adoção é a união com Cristo em sua qualidade de Filho.

“...se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados.” - Romanos 8:17 – Como com Ele, o Herdeiro de todas as cosas, sem cruz, não há coroa. Sem sofrimento, sem herança. E isso inclui tudo. Não apenas o sofrimento por perseguição da verdade... mas sim todo gemido neste mundo caído... dor,  doenças, decepções, morte... que são enfrentados de tal forma que Cristo é glorificado ante aos olhos do mundo e na prazer e deleite de nossos corações em todas essas circunstâncias. Tudo isso perdeu, nos herdeiros, o poder de tirar o deleite pleno em Cristo ou destruir a fé nascida na regeneração. Com que palavras poderosas o Apóstolo Paulo expressa isso:

“Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada. Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus. Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, Na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora. E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo. Porque em esperança fomos salvos. Ora a esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê como o esperará? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos.” - Romanos 8:18-25

domingo, 28 de abril de 2013

Ele nos deu respostas


Por Jorge Fernandes Isah

Deus é imutável. Ponto. Deus é eterno. Ponto. Deus é soberano. Ponto. Ainda que alguém não saiba adequadamente a correlação entre esses atributos e suas implicações diretas, os cristãos, em geral, não resistirão em sustentá-las como verdadeiras. Porque a Bíblia expõe-nas e instrui-nos sobre cada um desses pontos. É claro que estou a falar de cristãos não-liberais, não-heterodoxos, não-humanistas, não-marxistas e bíblicos. Chega a ser surreal este esclarecimento, mas é que se pode encontrar cristãos que sequer crêem em Cristo. O que em si mesmo é contraditório e absurdo. Mas deixemo-los de lado com suas inconsistências e desatinos.

A questão é: afirmei, em vários escritos, a imutabilidade divina, bem como a do Seu decreto eterno, ao ponto de escrever o texto "Deus não tem escolhas". Mas, e nós, temos escolhas? E, a partir da resposta, podemos dizer se a realidade é ou não mutável?

Primeiro, transcreverei alguns versos do livro de Atos dos Apóstolos:

“A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos” [2.23]

“Mas vós negastes o Santo e o Justo, e pedistes que se vos desse um homem homicida. E matastes o Príncipe da vida, ao qual Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas” [3.14-15]

Porque verdadeiramente contra o teu Santo Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer” [4.27-28]

São declarações contundentes de Pedro, a delinear nitidamente duas coisas quanto ao tema proposto:

1) Deus determinou tudo o que aconteceria ao Seu Filho Amado na eternidade, desde a encarnação até a morte na cruz, culminando com a Sua ressurreição.

2) Pedro acusou o povo de ajuntarem-se com as autoridades para prender, crucificar e matar o Santo e o Justo.

3) Esta idéia foi anteriormente proclamada por Cristo, referindo-se ao Seu ministério terreno e àquele que o trairia, Judas: "E, na verdade, o Filho do homem vai segundo o que está determinado; mas ai daquele homem por quem é traído!" [Lc 22.22]

Há duas realidades, se assim podemos dizer. Uma eterna, outra temporal. Uma divina, outra humana. Contudo, estariam elas dissociadas? Seriam conflitantes? Ou se dariam autonomamente uma da outra? Os versos claramente indicam que não. E mais, que as ações humanas estão completamente subordinadas à vontade de Deus, de tal forma que, assim como Ele previamente decretou, assim acontecerá infalível e inexoravelmente. Como Jó anunciou: "Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido" [Jó 42.2].

O ponto aqui é que Deus coordena os pensamentos, a vontade, as decisões e ações do homem de maneira que toda a realidade, tudo o que parece ocasional, fortuito, sem ligações implícitas e visíveis, estão interligadas, tecidas por um único fio condutor: o próprio Deus. Ele é a fonte de todas as coisas, sem o qual nada existiria, ainda que o nada precisasse dEle para existir. Até mesmo o nada não pode prescindir de Deus. Assim como tudo, o nada não é autônomo, nem se origina em si mesmo. Deus é portanto a origem de todas as coisas, sejam materiais ou espirituais. Elas são partes da Sua obra, uma obra em execução no tempo, aos olhos carnais, mas totalmente definida, acabada, inalterável, aos olhos divinos, como disse Tiago: “Conhecidas são a Deus, desde o princípio do mundo, todas as suas obras” [At 15.18].

Tem-se de entender que não dá para sair do rigor do texto bíblico, o qual é muito claro em asseverar tanto a imutabilidade da vontade divina, como o poder para realizá-la.

Quando se diz que o homem é colaborador de Deus, estamos, ainda que inconscientemente, dando-lhe um valor e uma prerrogativa que não tem, nem existem. Toda a criação é meramente instrumento de Deus, e não pode colaborar em nada para que o Seu plano aconteça, quanto mais frustrá-lo de qualquer forma. A linguagem antropomórfica presente na Escritura é uma forma rudimentar de expor idéias e sentimentos perfeitos a criaturas em estado imperfeito. Ele se utilizou de símbolos e sinais inteligíveis para nos instruir e orientar no entendimento dos Seus propósitos, e na relação que temos com eles. Guardadas as devidas proporções, seria o mesmo que um adulto conversar com um bebê; ele terá de usar mais do contato físico e visual para se fazer entender de maneira pueril à inteligibilidade ainda não desenvolvida e infantil da criança.

Porém, isso não quer dizer que devemos ignorar ou desprezar o que de mais profundo revela a Escritura, simplesmente porque não nos parece legítimo investigá-la, seja por medo ou preguiça. Para isso Deus nos deu o Consolador, o Espírito Santo, a nos ensinar todas as coisas [Jo 14.26]. Quando Cristo diz “todas as coisas”, não está dizendo algumas, uma porção, ou quase tudo. Ele é incisivo em ressaltar tudo. Mas o que seria tudo? Ele mesmo diz: tudo quanto vos tenho dito” [Jo 14.26]. Ocorre que muitos crentes estão satisfeitos com uma parte da revelação, quando a ordem do Senhor é para que aprendamos tudo; não temendo conhecer tudo; não nos acovardando diante de tudo. Até mesmo essas coisas, seja a indolência ou o entorpecimento, estão sob o restrito controle de Deus, para que entendamos que tudo, absolutamente tudo, está fundado, edificado, sobre a Sua vontade.

Alguém afirmou, certa vez, “que tudo muda, menos Deus”. Até que ponto isso é verdade? Se Deus não muda, não mudam Sua vontade, plano e execução. Para que isso acontecesse, Deus teria de ser mutável. E como já disse em algum lugar, se Deus é mutável, ainda que remotamente cogitado, não seria Deus. Logo, a realidade para Deus não é mutável. Nem todas as contingências presentes nela. Para Ele, tudo está pronto. Então, voltamos à pergunta inicial: temos escolhas?

Na verdade, do ponto de vista humano, sim. Sempre estamos a escolher algo. No dia-a-dia é demonstrável desde as coisas mais corriqueiras às mais importantes, e isso acontece na vida de qualquer um. Muitas vezes somos levados a decidir mesmo para outras pessoas. Até os animais fazem escolhas, segundo sua natureza. Mas o que estou a dizer é que nossas escolhas acontecerão segundo a imutabilidade das coisas. Em outras palavras, Deus estabeleceu todos os nossos atos, os quais são imutáveis. Na perspectiva humana é como se tivéssemos escolhas, mas elas invariavelmente serão decididas segundo o plano divino. Somos livres para fazer a vontade de Deus em todos os aspectos, assim como nossas escolhas desembocarão sempre no que Ele quer; sem acidentes, imprevistos e percalços, como diz o Senhor: "Eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a mim. Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade" [Is 46.9-10].

Da mesma forma, a segunda pergunta, “a realidade é ou não mutável?”, será respondida. Para Deus há apenas uma realidade, a que planejou e levou a cabo executar. Uma única realidade efetivada no tempo. Para nós, é mutável, pois não somos oniscientes como Deus é, e vemos tudo fragmentado, limitado, e imperfeitamente. Como a nossa vontade não é soberana, compreendemos o mundo como instável, em constante variação. Por não compreendermos a realidade, ela nos é incompreensível. Por não apreendê-la, nos é inconcebível. Por não dominá-la, nos é incontrolável. Por não conhecê-la, nos é indistinguível. O que não quer dizer a impossibilidade de se tomar alguns indícios e averiguá-los. Mas estarão sempre confinados aos limites da nossa imperfeição; reduzidos e subordinados ao que Deus restringiu-nos saber e perceber.

Este assunto está na órbita da soberania de Deus, como tudo o mais também está; revelando a impossibilidade escriturística da soberania divina ser compartilhada com o homem, em qualquer nível ou condição. Se tal fosse verdade, o homem seria capaz de criar para si mesmo várias realidades, e essa liberdade implicaria em que cada um de nós poderia ter a sua realidade pessoal, alheia e aparte de outras realidades. Se a vontade do homem fosse livre de Deus, e o que o compatibilismo proclama é isso, teríamos numa cidade de 50.000 habitantes, 50.000 realidades em progressão. O que representaria o caos; até mesmo para Deus, o qual estaria incapacitado de ordená-las, visto serem autônomas, autoexecutáveis, autodeterminadas. Deus não teria como fazer nada, apenas observaria impotente a desordem e a anarquia na Criação. Deixar-se-ia amarrado pela volição do homem; o que, em última instância, tornaria a criatura em posição de preeminência sobre o Criador, que teria planejado um mundo ineficiente, indesejado, anômalo, denotando, em algum aspecto, a sua própria imperfeição. Em outras palavras, não haveria a realidade de Deus, apenas a de suas criaturas guiando-o por trilhas miseráveis, imperfeitas e caóticas. Nem mesmo Deus daria conta de arrumar tamanha bagunça, exatamente por ela estar fora do Seu controle. É mais ou menos o que os defensores do livre-arbítrio propõem; porque livre-arbítrio significa autonomismo, independência, tomar decisões livres de Deus. Da mesma forma, o compatibilismo, sem aceitar o autonomismo, proclama duas realidades distintas, onde a liberdade humana [uma liberdade onde não se é livre, mas é] está subjugada a Deus, mas permanece livre. É como se existisse a partir da não-existência. É como se fosse, não sendo. É o próprio "samba-do-crioulo-doido", a afirmar que ela é, quando não é. Esquizofrenia latente, pode-se dizer.

A falta de lógica dos dois sistemas, livre-arbítrio e compatibilismo[1], tornam-os em inimigos quando são irmãos siameses a se socarem. Por isso há uma grande dificuldade em se entender o conceito um do outro, pois as divergências, no fim das contas, ficam no campo semântico, da retórica. Os termos bíblicos são utilizados por ambos, diversamente, para, enfim, resultar em quase a mesma coisa: o poder da criatura. Mas isso é impossível quando entendemos que a menor escolha, o menor gesto, a ação mais insignificante do homem, não estando subordinada a Deus, poderia dar início a uma cadeia de fatos e situações não planejadas, e que fugiriam ao Seu controle. Contrariando o próprio Senhor: "Ainda antes que houvesse dia, eu sou; e ninguém há que possa fazer escapar das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá?" [Is 43.13].

Portanto, ainda que aparentando o contrário, existe apenas uma realidade: a divina; à qual estamos presos, e da qual não podemos nos desvencilhar; mesmo que aos olhos carnais pareça ser eu o condutor do meu destino; mesmo que o mundo grite à volta: há muitas realidades! Elas são frações, fragmentos do todo complexo e inimaginável que Deus teceu, e que, no fim das contas, é a Realidade, única e imutável de todo o universo.

Por isso a Bíblia[2] nos revela o Deus não-mutável, não-suscetível, não-impotente, não-domesticado; ela não nos revela um deus em progressão, se desenvolvendo, relacionando-se de igual para igual com as criaturas; sentindo, aprendendo, se emocionando, como se participasse de uma simbiose onde os papeis se confundiriam, fazendo-se indistinguíveis. Esse deus ficaria demente com a nossa demência. Ele se desacreditaria, e regrediria da sua própria condição de deus, humanizando-se ao ponto de não se reconhecer mais como deus, como criador, mas chegando ao nível das criaturas, assim como os humanistas querem, e insistem em querer, para alcançarem o que sempre pretenderam: proclamar o ceticismo e a não-existência de Deus.

AS ESCRITURAS E O PECADO


Por A. W. Pink
Há seriíssimas razões para crermos que grande parte da leitura e do estudo bíblicos, nestes últimos poucos anos, não tem sido de grande proveito para aqueles que disso se tem ocupado. E vamos mais longe; pois tememos grandemente que, em muitos casos, isso tem sido antes uma maldição do que uma bênção. Estamos perfeitamente cônscios de que esta é uma linguagem dura, mas não mais forte do que o caso exige. Os dons divinos podem ser sujeitados a uso errôneo, e as misericórdias divinas podem ser alvo de abusos. Que assim tem sido, naquilo que aqui salientamos, é evidente através dos frutos produzidos.
Até mesmo o homem natural pode (e com freqüência o faz) atirar-se ao estudo das Escrituras com o mesmo entusiasmo e prazer que faria se estudasse as ciências. Quando assim faz, aumenta o seu cabedal de conhecimentos, mas também aumenta o seu orgulho. Tal como o químico atarefado em fazer experiências interessantes, o pesquisador intelectual da Palavra é invadido de satisfação ao fazer ali alguma descoberta; mas a alegria deste último não é mais espiritual do que a alegria daquele primeiro.
Outrossim, tal como os sucessos de um químico geralmente acentuam o seu senso de importância própria, levando-o a olhar com desdém para outros, que sejam mais ignorantes que ele mesmo, assim também, desafortunadamente, dá-se no caso daqueles que investigam a numerologia, a tipologia, a profecia bíblica e outros temas dessa natureza.
O estudo da Palavra de Deus pode ser levado a efeito com base em vários motivos. Alguns lêem-na a fim de satisfazerem seu orgulho literário. Em certos círculos tornou-se algo respeitável e popular a obtenção de um conhecimento geral do conteúdo da Bíblia, simplesmente por ser considerado como defeito de educação a ignorância dela. Outros lêem a Bíblia para satisfazer seu senso de curiosidade, como o fariam com qualquer outro livro famoso. Ainda outros lêem-na para satisfazer seu orgulho sectarista. Esses consideram um dever estar bem familiarizados com as crenças particulares de sua própria denominação, pelo que também buscam ansiosamente textos de prova que dão apoio ao que eles chamam de ''nossas doutrinas''. Ainda há aqueles que lêem a Bíblia com a finalidade de argumentar com êxito com aqueles que discordam de suas opiniões. Em toda essa atividade, entretanto, não há qualquer pensamento acerca de Deus, não há qualquer anelo pela edificação espiritual, e, portanto, não há qualquer beneficio real para a alma.
Assim sendo, de que maneira nos podemos beneficiar da Bíblia? A passagem de II Timóteo 3:16,17 não nos fornece clara resposta para essa pergunta? Lemos ali: "Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra." Observemos o que aqui é omitido: as Sagradas Escrituras não nos foram dadas a fim de satisfazer nossa curiosidade intelectual e nem nossas especulações carnais, e sim para habilitar-nos para toda boa obra, e isso mediante o ensino, a reprovação e a correção. Envidaremos esforços por ampliar isso com a ajuda de outros trechos bíblicos.
1. O indivíduo se beneficia espiritualmente quando a Palavra o convence de pecado.
Este é o seu primeiro préstimo: revelar a nossa depravação, desmascarar a nossa vileza, tornar conhecida a nossa iniquidade. A vida moral de um homem pode ser irrepreensível, seu trato com os seus semelhantes pode ser sem faltas; mas quando o Espírito Santo aplica a Palavra ao seu coração e à sua consciência, abrindo os seus olhos fechados pelo pecado para que perceba a sua relação e a sua atitude para com Deus, então ele exclama: "Ai de mim! Estou perdido!" (Isaías 6:5). É desse modo que toda a alma verdadeiramente salva é levada a perceber a necessidade que tem de Cristo. "Os sãos não precisam de médicos, e, sim, os doentes" (Lucas 5:31). Contudo, somente quando o Espírito aplica a Palavra, com poder divino, é que qualquer indivíduo é levado a sentir-se enfermo, enfermo até à morte.
Essa convicção, que impressiona o coração com o fato de que o pecado produziu tremenda devastação na constituição humana, não se restringe à experiência inicial, que precede de imediato à conversão. De cada vez que Deus bendiz a sua Palavra em meu coração, sou levado a sentir quão longe ando do padrão que Ele me apresenta, a saber: "...tornai-vos santos também vós mesmos em todo vosso procedimento" (I Pedro 1:15). Aqui, por conseguinte, temos o primeiro teste a ser aplicado: quando leio acerca dos tristes fracassos de diferentes personagens das Escrituras, isso me faz perceber quão infelizmente parecido com eles eu sou? E quando leio sabre a vida bem-aventurada e perfeita como a de Cristo, isso me faz reconhecer quão terrivelmente diferente sou eu dEle?
2. O indivíduo se beneficia espiritualmente quando a Palavra o faz entristecer-se por causa do pecado.
Com respeito ao ouvinte do solo rochoso foi dito que "...esse é o que ouve a palavra e a recebe logo, com alegria; mas não tem raiz em si mesmo, sendo antes de pouca duração..." (Mateus 13:20, 21). Porém, acerca daqueles que foram convencidos de pecado, sob a pregação de Pedro, está registrado que eles se sentiram compungidos em seus corações (ver Atos 2:37). O mesmo contraste se verifica hoje. Muitos ouvem um sermão floreado ou um discurso sobre a ''verdade dispensacional'', que exibe a capacidade de oratória ou mostra a habilidade intelectual do orador, mas que, usualmente, não contém qualquer aplicação à consciência. Aquela exposição é recebida com aprovação, mas ninguém é humilhado diante de Deus e nem é levado a andar mais perto dEle, por ela.
Porém, deixe-se que um servo fiel do Senhor (o qual pela graça divina não busca adquirir reputação por ''brilhantismo'') faça os ensinamentos bíblicos exercerem pressão sabre o caráter e a conduta, desvendando os tristes fracassos até mesmo dos melhores entre o povo de Deus, e embora a multidão despreze o mensageiro, as pessoas realmente regeneradas sentir-se-ão gratas pela mensagem que as leva a se lamentarem diante de Deus e a clamarem: "Desventurado homem que sou!" (Romanos 7:24). Assim acontece quando lemos pessoalmente a Palavra. E assim sucede quando o Espírito Santo a aplica de tal maneira que sou levado a ver e a sentir minha corrupção íntima, para que eu seja verdadeiramente abençoado.
Que palavra encontramos no trecho de Jeremias 31:19: "Na verdade, depois que me converti, arrependi-me; depois que fui instruído, bati no peito; fiquei envergonhado, confuso, porque levei o opróbrio da minha mocidade!"
Meu prezado amigo, você conhece algo parecido com essa experiência? Os seus estudos da Palavra de Deus produzem um coração quebrantado e o levam a humilhar-se perante Deus? Fica você convicto de seus pecados, de tal modo que é levado a arrepender-se diariamente perante ele? O cordeiro pascal tinha de ser comido com ''ervas amargas'' (Êxodo 12:8). Por semelhante modo, quando realmente nos alimentamos da Palavra, o Espírito Santo a torna "amarga" para nós, antes de tornar-se doce ao nosso paladar. Notemos a ordem das coisas, no trecho de Apocalipse 10.9: "Fui pois, ao anjo, dizendo-lhe que me desse o livrinho. Ele então me fala: Toma-o, e devora-o; certamente ele será amargo ao teu estômago, mas na tua boca, doce coma mel". Essa será sempre a ordem da experiência: primeiramente deve vir a lamentação, e somente depois vem o consolo (Mateus 5:4); primeiro a humilhação, e depois a exaltação (I Pedro 5 :6).
3. O indivíduo se beneficia espiritualmente quando a Palavra o conduz à confissão de pecado.
As Escrituras são proveitosas para a "repreensão" (II Timóteo 3:16); e a alma honesta está pronta a reconhecer as suas próprias faltas. Mas acerca do indivíduo carnal é declarado: "Pois todo aquele que pratica o mal, aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem argüidas as suas obras" (João 3:20). "Deus tenha misericórdia de mim, um pecador", é o clamor dos corações renovados; e cada vez que somos revivificados pela Palavra (Salmo 119), recebemos nova revelação e renovada convicção de nossas transgressões aos olhos de Deus. "O que encobre as suas transgressões, jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia" (Provérbios 28:13). Não pode haver prosperidade nem frutificação espirituais (Salmos 1:3), enquanto ocultarmos em nosso seio as nossas culpas secretas; somente quando são livremente reconhecidas perante Deus, e isso com detalhes, é que desfrutaremos de Sua misericórdia.
Não há paz real para a consciência e nem descanso para o coração, enquanto sepultarmos a carga do pecado não confessado. O alívio só nos é outorgado se confessarmos o pecado a Deus. Notemos bem a experiência de Davi: "Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos, pelos meus constantes gemidos todo o dia. Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim; e o meu vigor se tornou em sequidão de estio." (Salmos 32:3,4).
Essa linguagem figurada mas vigorosa lhe parece ininteligível? ou a sua própria história espiritual a explica? Há muitos versículos nas Escrituras que nenhum comentário pode interpretar satisfatoriamente, mas que a experiência pessoal pode fazê-lo. Verdadeiramente bem-aventuradas são as palavras seguintes: "Confessei-te o meu pecado e a minha iniqüidade não mais ocultei. Disse: Confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniqüidade do meu pecado." (Salmos 32:5)
4. O indivíduo se beneficia da Palavra, espiritualmente falando, quando ele odeia o pecado com maior profundidade.
"Vós, que amais o SENHOR, detestai o mal: ele guarda as almas dos seus santos, livra-os da mão dos ímpios" (Salmos 97:10). "Não podemos amar a Deus sem odiar aquilo que Ele odeia. Não somente devemos evitar o mal, recusando-nos a continuar nele, mas também devemos declarar guerra contra ele, voltando-nos contra ele com indignação no íntimo" (C.H. Spurgeon).
Um dos testes mais seguros que se pode aplicar à professada conversão é a atitude do coração para com o pecado. Sempre que o princípio de santidade houver sido implantado, necessariamente haverá repulsa por tudo quanto é profano. E se nosso repúdio ao mal for genuíno, então seremos gratos quando a Palavra reprovar até mesmo o mal de que nem suspeitávamos.
Essa foi também a experiência de Davi: "Por meio dos teus preceitos consigo entendimento; par isso detesto todo caminho de falsidade" (Salmos 119:104). Observemos atentamente que não devemos meramente "abster-nos do pecado", pois "detesto"; e não somente a "alguns" ou "muitos" pecados, mas antes, a "todo caminho de falsidade", e não apenas a "todo mal" mas a "todo caminho de falsidade". E continua o salmista: "Por isso tenho por em tudo retos os teus preceitos todos, e aborreço todo caminho de falsidade" (Salmos 119:128).
No entanto, dá-se exatamente o contrário no caso do ímpio: "De que te serve repetires os meus preceitos e teres nos lábios a minha aliança, uma vez que aborreces a disciplina e rejeitas as minhas palavras? " (Salmos 50:16,17).
E em Provérbios 8:13, lemos: "O temor do SENHOR consiste em aborrecer o mal; a soberba, a arrogância, o mau caminho, e a boca perversa, eu os aborreço". Ora, esse temor piedoso nos vem através da leitura da Palavra (ver a passagem de Deuteronômio 17:18,19). Com razão, pois, é que alguém declarou: "Enquanto não odiarmos ao pecado, não poderemos mortificá-lo, ninguém clamará contra o pecado, como os judeus clamaram contra o Cristo: ''Crucifica-O! Crucifica-O!'', enquanto realmente não abominar o pecado como Ele foi abominado" (Edward Reyner, 1635).
5. O indivíduo se beneficia espiritualmente quando a Palavra o leva a abandonar o pecado.
"Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor" (II Timóteo 2:19). Quanto mais lemos a Palavra com o objetivo definido de descobrir o que é agradável e o que é desagradável ao Senhor, mais a Sua vontade tornar-se-á conhecida por nós; e se os nossos corações forem corretos diante dEle, mais ainda os nossos caminhos se harmonizarão com a Sua vontade. Então é que andaremos "na verdade" (II João 4).
No fim do sexto capítulo da segunda epístola aos Coríntios algumas promessas preciosas são dadas àqueles que se separarem dos incrédulos. Observemos, naquela passagem, a aplicação feita pelo Espírito Santo. Não diz o Senhor "Tendo, pois, ó amados, tais promessas, consolemo-nos e nos entreguemos à complacência...", e, sim: "Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne, como do espírito..." (II Coríntios 7:1).
"Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado" (João I5:3). Eis aqui uma outra importante regra, par meio da qual nos deveríamos testar com freqüência: a leitura e o estudo da Palavra de Deus está produzindo a purgação de minha conduta? Desde os dias antigos vinha sendo feita a indagação: "De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho?" E a resposta do salmista inspirado declara: ''Observando-o segundo a Tua Palavra" (Salmo119:9).
Sim, não basta ler a Palavra, crer nela ou memorizá-la; mas é preciso haver a aplicação pessoal da Palavra ao nosso "caminho". É quando "damos ouvidos" a exortações como aquelas que estipulam: "Fugi da impureza!" (I Coríntios 6:18), "Fugi da idolatria" (I Coríntios 10:14), "... foge destas cousas..." – da cobiça apaixonada pelo dinheiro (1 Tim. 6:11) e "Foge, outrossim, das paixões da mocidade" (II Tim. 2:22), é que o crente é levado a separar-se do mal, na prática; pois então o pecado não somente tem sido confessado, mas também tem sido "deixado" (ver Provérbios 28:13).
6. O indivíduo se beneficia espiritualmente quando a Palavra o fortalece contra o pecado.
As Sagradas Escrituras nos foram dadas não somente com o propósito de revelar-nos a nossa pecaminosidade inata, ou a fim de mostrar as muitas e muitas maneiras mediante as quais carecemos "da glória de Deus" (Romanos 3:23), mas igualmente para ensinar-nos como podemos obter livramento do pecado, como podemos ser livres de desagradar a Deus. "Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti" (Salmos 119:11). E de cada um de nós é requerido o seguinte: "Aceita, pego-te, a instrução que profere, e põe as suas palavras no teu coração" (Jó 22:22).
O de que precisamos é, particularmente, dos mandamentos, das advertências, das exortações da Bíblia, para que sejam como que nosso tesouro particular; devemos memorizá-los, meditar sobre os mesmos, orar a seu respeito e pô-los em prática. Eis a única maneira eficaz de se evitar que um terreno qualquer seja invadido por ervas daninhas: é semear ali a boa semente: "...vence o mal com o bem" (Romanos 12:21). Por conseguinte, quanto mais "ricamente" estiver habitando em nós a Palavra de Cristo (ver Colossenses 3:16), menos espaço haverá para o exercício do pecado, em nossos corações e em nossas vidas.
Não é suficiente apenas assentirmos à veracidade das Escrituras, mas é necessário que elas sejam recebidas em nossos afetos. É uma verdade soleníssima aquela em que o Espírito Santo especifica a base da apostasia, "...porque ao amor da verdade eles não receberam" (II Tessalonicenses 2:10, grego).
"Se essa semente ficar apenas na língua ou na mente, para que seja apenas uma questão de palavras ou de especulação, não demorará muito para que desapareça. A semente que jaz à superfície será apanhada pelas aves do céu. Portanto, que cada qual a esconda no profundo do ser; que vá dos ouvidos para a mente, da mente para o coração; e que ela penetre cada vez mais profundamente. Somente ao exercer ela um domínio soberano sobre o coração, é que a receberemos na força de seu amor – quando ela é mais cara para nós que nossas concupiscências mais queridas, então nos apegamos a ela". (Thomas Manton).
Não há qualquer outra coisa que nos preserve das infecções deste mundo, que nos livre das tentações de Satanás, que se mostre preservativo tão eficaz contra o pecado, como a Palavra de Deus recebida em nossos afetos: "No coração tem ele a lei do seu Deus; os seus passos não vacilarão" (Salmos 37:31). Enquanto a verdade mostrar-se ativa em nosso íntimo, despertando-nos a consciência e sendo realmente amada par nós, seremos preservados da queda. Quando José foi tentado pela esposa de Potifar, respondeu ele: "... como, pois, cometeria eu tamanha maldade, e pecaria contra Deus?" (Gênesis 39:9). A Palavra de Deus se achava em seu coração, pelo que também prevaleceu sobre os seus desejos. Essa é a inefável santidade, o grandioso poder de Deus, o qual é poderoso tanto para salvar como para destruir.
Nenhum de nós sabemos em que ocasião será sujeito às tentações; portanto, é mister estarmos preparados contra elas. "Quem há entre vós que ouça isto? que atenda e ouça o que há de ser depois?" (Isaías 42:23). Sim, compete-nos antecipar o futuro e nos fortalecermos intimamente para ele, entesourando a Palavra em nossos corações, para as emergências futuras.
7. O indivíduo se beneficia espiritualmente quando a Palavra o leva a praticar o contrário do pecado.
"... o pecado é a transgressão da lei" (I João 3 :4). Deus diz: "Farás...'', mas o pecado retruca: "Não quero". Deus diz: "Não farás...", e o pecado diz: "Farei". Assim, pois, o pecado é a rebeldia contra Deus, é a determinação do indivíduo seguir o seu próprio caminho (ver Isa. 53:6).
Isso capacita-nos a entender que o pecado é uma espécie de anarquia no campo espiritual, o que pode ser comparado com o ato de sacudir uma bandeira vermelha no rosto de Deus. Ora, a atitude oposta ao pecado contra Deus é a submissão a Ele, da mesma maneira que o contrário da iniqüidade é a sujeição à lei. Portanto, praticar o contrário do pecado é andar na vereda da obediência.
Esta é uma das outras grandes razões pelas quais as Escrituras nos foram dadas: tornar conhecida a senda pela qual devemos andar, o que agrada a Deus. As Escrituras são proveitosas não somente para repreensão e correção, mas também para a "instrução na justiça".
Neste ponto, pois, encontramos outra importante regra mediante a qual devemos testar freqüentemente a nós mesmos: Os meus pensamentos estão sendo formados, o meu coração está sendo controlado e a minha conduta e as minhas obras estão sendo regulamentadas pela Palavra de Deus? Eis o que o Senhor exige: "Tornai-vos, pois, praticantes da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos" (Tiago 1:22). E aqui temos a declaração de como devem ser expressos a nossa gratidão e os nossos afetos por Cristo: "Se Me amais, guardareis os Meus mandamentos" (João 14:15). Para tanto, é necessário a ajuda divina. Davi orava: "Guia-me pela vereda dos teus mandamentos, pois nela me comprazo" (Salmos I19:35).
"Precisamos não somente de luz para reconhecermos o nosso caminho, mas também de um coração bem disposto para andar por esse caminho. A orientação é necessária por causa da cegueira das nossas mentes; e os impulsos eficazes da graça são necessários par causa da fraqueza dos nossos corações. Não cumpriremos o nosso dever mediante a mera noção das verdades, a menos que as abracemos e as sigamos". (Manton). Notemos que o salmista falava sabre a "... vereda dos Teus mandamentos..." Não aludia ele a algum caminho pessoal, auto-escolhido, e, sim, a um caminho bem demarcado; não se trata de uma estrada "pública", mas de uma vereda ''particular''.
Que tanto o escritor como o leitor se aquilatem, honesta e diligentemente, como na presença de Deus, pelas sete coisas acima enumeradas. O estudo da Bíblia, prezado amigo, o tem tornado uma pessoa mais humilde, ou mais orgulhosa – orgulhosa com o conhecimento que assim adquiriu? Esse estudo o elevou na estima de seus semelhantes, ou o rebaixou a um lugar inferior, na presença de Deus? Tem isso produzido, em sua experiência, uma atitude de mais profunda repulsa e asco par si mesmo, ou tornou-o mais complacente? Isso tem feito com que aqueles que entram em contato consigo, aos quais talvez você ensine, digam: "Gostaria de ter o seu conhecimento sobre a Bíblia!"; ou isso os tem levado a orar: "Senhor, dá-me a fé, a graça e a santidade que tens conferido a meu amigo ou professor?'' "Medita estas cousas, e nelas sê diligente, para que o teu progresso a todos seja manifesto" (1 Timóteo 4:15).
Extraido do livro de A. W. Pink Enriquecendo-se Com a Bíblia, Ed. Fiel, 1979.