domingo, 6 de janeiro de 2013

A TRÍPLICE CONVERSÃO DO CRISTÃO

Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho
Oscar Cullmann disse que os cristãos necessitam de três conversões. A primeira é do mundo para Cristo, o arrependimento. A segunda, para a igreja, o compromisso. A terceira, para o mundo, o testemunho. O termo “conversão” é usado no sentido de mudança radical na vida.Um cristão é um convertido a Cristo. Não se nasce cristão. Deus tem filhos, mas não netos. Não se é cristão por geografia ou por nascer em lar cristão. Cristão é quem crê em Jesus e o segue: “As minhas ovelhas escutam a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna, e por isso elas nunca morrerão. Ninguém poderá arrancá-las da minha mão” (Jo 10.27-28). O cristão ouve a Jesus, é conhecido por ele, segue-o e tem a vida eterna.
A segunda conversão é à igreja. Ela é obra do sangue de Jesus: “Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação” (Ap 5.9-10). Quem rejeita a igreja alegando seus defeitos é arrogante e não entendeu o evangelho. Presume-se perfeito. Faz-se juiz da igreja. É ruim de convivência e culpa os outros. Está em pecado. Mas é tão orgulhoso que nem nota isso. A igreja é imperfeita, mas um dia será perfeita: “Quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele” (1Jo 3.2).
A igreja local não é uma faceta do corpo de Cristo. Ela é o corpo de Cristo: “Pois bem, vocês são o corpo de Cristo, e cada um é uma parte desse corpo” (1Co 12.27). Não se pode seguir a Jesus sem ser igreja. Quem o segue já é igreja e deve amá-la: “Porque ninguém odeia o seu próprio corpo. Pelo contrário, cada um alimenta e cuida do seu corpo…” (Ef 5.29). Ame a igreja, corpo de Cristo, do qual você faz parte. Isto é compromisso. O convertido a Cristo é convertido à igreja.
A terceira conversão é para o mundo. É o testemunho. O monasticismo surgiu na Igreja Católica no século IV, como busca de santidade fora da sociedade. O protestantismo recusou esta visão alienada e insistiu na vida social. Como Jesus, a igreja não é do mundo: “Assim como eu não sou do mundo, eles também não são” (Jo 17.16). Mas é enviada ao mundo, como Jesus: “Assim como tu me enviaste ao mundo, eu também os enviei” (Jo 17.18).
Ela deve ser diferente do mundo. Mas não pode se alienar. Deve mostrar Jesus ao mundo. O valor do sal não é no saleiro, mas na comida. Sal guardado não salga. O cristão deve ser apaixonado pela vida. Deve viver os valores de Jesus onde está. Há pastores apaixonados por conventos, mas ele não é nosso campo de ação. É o mundo.
Você se converteu do mundo para Cristo. Converta-se à igreja. Converta-se ao mundo. Foi salvo? Engaje-se na igreja, e testemunhe ao mundo. Não use apenas palavras. Use o caráter.

Se há guerra dentro, haverá guerra fora!


Por Josemar Bessa
Se pudéssemos ir para o sol o conflito entre nós iria conosco. Se chegarmos a Marte, descobriremos que a guerra nos seguirá. Se construirmos naves que sondem e nos levem além da nossa galáxia, as “armas” de guerra irão conosco. A história do mundo foi e é escrita com sangue em cada uma de suas páginas.
Nos dias dos heteus, e os hicsos, e os elamitas, e os sumérios, nos dias de Tiglate-Pileser e Salmanasar e Senaqueribe e Assurbanipal, nos dias de Nabopolassar e Nabucodonosor, nos dias de Ciro, e Cambyses , e de Dario, e Xerxes, e de Artaxerxes, nos dias de Filipe da Macedônia e Alexandre, o Grande; nos dias da Cassandro e Antígono, e Lisímaco e Ptolomeu, e Antíoco, e Seleuco, nos dias de Pompéia, e César e Hannibal, e Scipio, nos dias de Átila, e Genghis Kahn, e Kublai Khan, e Tamerlão, nos dias de Carlos Magno e Napoleão, e Wellington, e nos dias de Bismarck e o Kaiser Wilhelm II, e Hitler...Guerra! Há um conflito no coração do universo, e sua história é escrita com sangue.
Por quê? Por orgulho pessoal. O pecado começou no coração de Lúcifer quando ele levantou-se contra Deus por orgulho. Nabucodonosor disse: "Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a minha glória e majestade para o meu excelente?" E Alexandre, o Grande sentou-se nas margens do rio Indus e chorou porque não havia mais nenhum mundo para conquistar. Napoleão disse: "A conquista me fez, e conquista deve manter-me." Você pode imaginar a emoção que sentiu Hitler, o povo alemão, a juventude da Alemanha... quando centenas de milhares de pessoas levantaram as mãos com suas tochas e bradaram “Heil Hitler”? Orgulho pessoal, orgulho nacional... ORGULHO!

Por quê? Pela supremacia nacional, por exemplo. Hamilcar tomou seu pequeno menino, Hannibal, e fez o rapazinho jurar ódio eterno e destruição do Império Romano. O Japão na Segunda Guerra Mundial lutou por seu lugar ao sol, isso é algo inerente ao espírito humano caído.
"Som, o som do clarim, preencha o pífaro!

Deixe todo o mundo tremer e proclamar,

Há mais glória em uma hora de luta

Do que em uma era sem um nome!"
Tudo o que é externo pode tentar controlar, mas jamais deter o que flui do coração do homem.
A violência é um fator constante na história humana, e simplesmente todo o desenvolvimento tecnológico em nada trouxe melhoras morais para nosso mundo e cultura, e não trará. Quando a igreja pensa que mudará a cultura com ações que se equivalem aquilo que o mundo tem feito, num esforço de auto-melhoramento... ela é tão irrelevante quanto tudo que o homem faz nesta direção.
Todo o tipo de perversão inunda o coração humano, tentar reformá-lo é obra fútil. Vivemos numa cultura tão bestializada, que fazer violência a uma tartaruga ( ou ao ovo da tartaruga) é infinitamente mais grave do que fazer violência e matar uma criança por nascer.
Guerras, assassinatos, roubos, estupro, vandalismo, tráfico de drogas, violência doméstica, raiva no trânsito, crueldade...

Por quê? Como tudo isso se perpetua na vida humana?

A análise marxista (que é a mesma de grande número de cristãos hoje ) diz que tudo isso tem a ver com a economia, o abismo entre ricos e pobres, a luta de classes... A prosperidade estatal devia ser a resposta... Mas os países que abraçaram o marxismo têm sido e foram os países mais violentos do mundo no último século, com milhões e milhões de mortos.

A análise darwiana é que este é simplesmente o homem, o macaco nu, lutando por seu território e direitos de acasalamento, afastando quaisquer agressores... Ou seja, isso é o que a vida é – é a resposta fatalista evolutiva. Mas o homem ira evoluir e evoluir...
A psiquiatria e a psicologia moderna nos dão uma miríade de respostas contradizentes...

Mas o que diz o Cristianismo? "De onde vêm as guerras e pelejas entre vós?” Tiago 4:1

É uma verdadeira tragédia quando a resposta da “igreja” seja a mesma do mundo – tentando aplicar assim os “remédios” inúteis que o mundo vem tentando desde sempre, achando que a igreja nada mais é que uma grande Ong tentando mudar o mundo dessa forma junto com as milhares de Ongs existentes, ou seja, mais do mesmo...

A Fonte de Nossa Violência

"Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês?" Tiago nos leva para dentro de nós mesmos e nos mostra a origem dos nossos problemas e do problema que nós somos. Ele diz que há uma guerra civil acontecendo dentro e não fora. Nosso prazeres estão descontrolados e deformados, e em campanha e disputa em todos os membros de nosso corpo.
Eles estão lutando por gratificação, e para ter toda a gratificação a sua própria maneira – Eis o problema – o ciúme, a ambição, o egoísmo e a luxúria estão todos lutando todo o tempo para se expressarem, buscando expressão máxima. Essa é a verdadeira análise – esta é a análise do cristianismo, este é o diagnóstico de Deus da condição humana.
Toda sua abordagem é essencialmente pessoal e interior. Ela não diz, é a luta de classes, é o processo evolutiva natural, ou é uma doença, e o homem precisa de cura com análise e comprimidos... Não! O cristianismo diz “De onde vem as guerras e pelejas? Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês?"
Seus desejos próprios são a causa de todas as violências – entre países, entre casais, em todas as grupos sociais... Não o seu ambiente, não a sua casa infeliz, não o seu pai sem amor, seu marido insensível, violência do seu bairro, a dor que sofreu, ou sua pobreza... coisas assim são resultados que se retroalimentam exarcebando mais ainda as “paixões que guerreiam dentro de vocês” - mas eles não são responsáveis... o problema está dentro e “de suas paixões...”
Não posso culpar minha educação pelo meu comportamento... Pessoas que se dizem horrorizados com a falta de paz no mundo, fazem protestos... Largam suas esposas quebrando a paz e vivendo uma guerra no lar enquanto clamam por paz no mundo – “as paixões que guerreiam dentro de vocês!”
Não podemos apontar a conduta dos nossos pais como explicação para as “guerras que existem entre nós” – não posso apontar minha composição genética... Todas essas respostas são fugas. Nosso ambiente não justifica as guerras, ele é o resultado das paixões que guerreiam dentro de nós!
Então, o problema é que os nossos desejos estão em guerra dentro de nós, e é inevitável que essa guerra ecloda na vida externa.
Sempre foi assim. Nossos primeiros pais tiveram um filho primogênito, Caim – Não havia uma “sociedade” em volta... Lutas sociais... mas ele assassinou o seu irmão. O problema nunca foi externo.
Queda! Alienação de Deus. Estas coisas aconteceram no início da história humana: “De onde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam?” - Tiago 4:1
Não é trágico que muitos que se dizem “igreja” tenham uma visão oposta ao claro ensino bíblico, e acreditem que medidas, estratégias humanas... irão externamente resolver o problema da guerra da alma humana, sendo a guerra e peleja externa apenas um reflexo dela? Não é trágico quando a igreja chega ao mesmo diagnóstico errado do mundo, e se esforce para aplicar os mesmos remédios que o homem vem tentando desde sempre?

Se a origem da violência está dentro de cada pessoa, não é esta conclusão desesperadora? Sem dúvida é. Mas a Verdade de Deus não nos deixa no desespero, mas isso, já é assunto para outro artigo. Por hora, encerremos com as palavras de Cristo:

Se Deus quer que todos os homens se arrependam, então temos um problema. Não, uma heresia.



Por Mizael Reis
Se existe uma questão discutida na teologia reformada cuja longevidade parece-nos não ter fim, é a conciliação que se procura fazer entre a redenção particular e o querer de Deus em desejar que todos os homens se arrependam e sejam salvos. Confesso que, só de escrever tal coisa, me envolve a clara convicção de que tal conciliação não me parece ser possível, posto que, a meu ver se contradizem claramente, ou ainda, faz com que o desejo e as palavras de Deus se contradigam. Sei que tal tema é de arquear as sobrancelhas, e sei que serão muito mais levantadas pela forma com a qual tratarei a questão. Contudo, muitos de nós vivemos com mistérios, os quais nós chamamos de paradoxos. A interpretação tradicional sustenta sua crença resignadamente admitindo humildemente o paradoxo da questão. Eu também admito certo grau de mistério na forma como eu, e alguns poucos teólogos enxergamos o problema proposto. Mas permanecerei crendo neste mistério do que render-me ao outro. Um direito que me assiste. Sei que para os reformados que discordam da crença de que Deus deseja que todos os homens se arrependam, essa visão é amplamente comprometedora, da qual fluem algumas outras inconsistências. Eu, porém, no presente artigo ater-me-ei a questão do inclusivismo.

Creio que se defendermos a crença de que Deus, embora eleja alguns da raça caída para salvação, deseja que todos os homens sem exceção sejam salvos, tal visão, a meu ver, desaguará em duas crenças, das quais uma antes era raramente defendida mas encontra terreno amplo atualmente, e a outra é defendida por um considerável número de reformados. A primeira é o inclusivismo que será tratado nessa primeira postagem, e a segunda é a expiação ilimitada que se opõe a redenção particular que será tratada em um artigo posterior.
Analisemos primeiramente o inclusivismo. Antes, uma sintética definição do inclusivismo se faz necessária. O inclusivismo diz que Deus salva pessoas por meio de Cristo, a sua revelação especial e tais pessoas constituem-se em povos cujas terras o evangelho já alcançou. Porém, existem pessoas, habitantes de terras nas quais o evangelho ainda não foi anunciado, e por essa razão, muitos têm morrido sem que pudessem ouvir a mensagem do evangelho. Deus, em sua infinita misericórdia, a fim de oportunizar a salvação a estes, provê outros meios além da revelação especial para salvá-los. Tais meios constituem-se em outras formas de se “crer em Deus” de uma forma “justa”, sincrética e moralmente conciliatória com o cristianismo. Assim o chamado “problema soteriológico do mal” é resolvido, respondendo a complexa [para alguns] pergunta que se segue: Como Deus salva os não evangelizados? O inclusivista responde: Por outros meios [religiões, natureza, conduta de ética semelhante a cristianismo], pois eles não conhecem a Cristo, e destiná-los ao inferno sem que antes possam ter tido a oportunidade de crer no verdadeiro Deus é no mínimo inconciliatório com a crença num Deus cuja natureza é amor. Por mais que para muitos, tal tema nada possa contribuir ou convergir para a discussão em apreço, analisemos a minha tese. Primeiro relembremos o versículo-chefe dessa discussão:

“Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? diz o Senhor DEUS; Não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva?” [Ezequiel 18.23]


Retoricamente Deus pergunta se porventura ele se
compraz na morte do ímpio. Creio que a chave para compreendermos tal versículo está contida no verso 31:

“Lançai de vós todas as vossas transgressões com que transgredistes, e fazei-vos um coração novo e um espírito novo; pois, por que razão morreríeis, ó casa de Israel?” [ v.31]

A quem tal pergunta foi direcionada? A qual povo tal exortação foi estendida? A todos os povos? Evidente que não, mas à Israel somente. Agora reflitamos. Se Deus não deseja que o ímpio pereça, e se por ímpio entendermos todos os ímpios, indistintamente e sem exceção a povoarem o planeta - leve em conta os que povoavam o mundo no tempo dessa mensagem - a enumerar todos os ímpios da terra, e se entendermos assim, e interpretarmos a ocorrência dessa palavra, pela qual Deus demonstrou um desejo semelhante dessa forma, não haveria uma inconsistência em Deus, de querer a salvação de todos os ímpios, mas ao mesmo tempo, expressar tal desejo unicamente à Israel por meio da mensagem que só a eles foi transmitida? Sabemos que no tempo que antecedeu a plenitude dos tempos, Deus ocultou sua graça a todos os povos, revelando-a seletivamente à Israel, e isso é o que entendemos por abrangência do evangelho do NT, em detrimento da seletividade da eleição no AT, onde nesta a salvação foi claramente restringida por Deus somente ao seu povo, Israel. Por essa razão não me admira o fato de, por exemplo, haver 159 ocorrências da palavra misericórdia somente nos salmos, quase sempre ditas e contidas numa súplica, e todas elas terem sido feitas por lábios israelitas, e não por povos por Deus rejeitados. Algumas passagens ajudam-nos a compreendermos a restritividade de Deus no AT, como o que se segue:

“Que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranha às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo”. [Ef 2.12]


O texto acima é claro, ao ponto de distanciar-nos de quaisquer interpretações que não se alinhem à seguinte conclusão: Deus privou povos no AT de conhecerem o seu nome e por ele serem salvos.


Na verdade, existem passagens no AT, pelas quais Deus revelou-nos o seu desejo futuro de abrigar outros povos além, de Israel, ao grande reduto do evangelho, a ser revelado de igual modo no tempo futuro. À Israel Deus disse:
“O SENHOR não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos;” [DT 7.7]
No Início do capítulo no qual o verso acima está incluído, Deus diz que dará as terras de nações estranhas ao seu povo escolhido. Deus ordena a destruição desses, tal como destruiu os homens em tempos diluvianos, valendo-se da mesma justiça que lhe compete. Em seguida, Deus fala-lhes sobre a eleição com a qual foram contemplados, e cuja qual as outras nações, chamadas por Deus de estranhas, não receberam. O que parece mais coerente dizer sobre o paradeiro dos que Deus não se revelou? Ou seja, qual foi o destino das nações as quais Deus não se propôs se revelar a elas? Salvação? Mas como poderíamos supor tal coisa, posto que, no NT Deus diz ter rejeitado tais nações, como se pode concluir no verso abaixo?

“Que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranha às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo”. [Ef 2.12]

Ou ainda, pelo texto abaixo:

“Vós, que em outro tempo não éreis povo, mas agora sois povo de Deus; que não tínheis alcançado misericórdia, mas agora alcançastes misericórdia” [1 Pe 2.10]

Essa é a magnitude do evangelho em relação o tempo da Lei. Neste, Deus resgatou pra si, um único povo, de uma única língua e raça, a fim de torná-lo sua propriedade, e por ela ser glorificado, acima e diante de outras nações, cada qual com seus respectivos deuses. É certa que Deus pregou a povos estranhos como a Nínive. Porém, isso se constitui, a meu ver, numa exceção de prerrogativa divina, da qual não podemos inferir uma regra. Pois a própria realidade a eximiria, bem como os versículos que a sustentam. Deus não quis salvar todos os povos antes do evangelho. Tal ato de misericórdia estava reservado, por Ele mesmo, para a revelação do evangelho. É fato que no tempo do AT Deus restringiu-se, decretatoriamente, a revelar-se somente a Israel, como se vê, claramente no texto abaixo:
“Porque és povo santo ao SENHOR teu Deus; e o SENHOR te escolheu, de todos os povos que há sobre a face da terra, para lhe seres o seu próprio povo.” [DT 14.2]



Ou pela pena de Amós:



“De todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido; portanto eu vos punirei por todas as vossas iniqüidades.” [Am 3.2]



Mesmo podendo recorrer a outros versículos, por meio dos quais tal conclusão se enrobusteceria mais e mais, atenho-me aqui, para fazer uma pergunta: Como Deus pode desejar a salvação de todos os homens, e, por conseguinte, não desejar a morte dos ímpios, e isso sem exceção, se Ele mesmo foi quem se propôs a revelar-se privadamente a Israel, e dele, resgatar o seu povo exclusivo? Como poderíamos conciliar a interpretação mais popular de Ezequiel 18.23 com o fato inconteste de que o próprio Deus não se revelou a todos os povos no antigo testamento, banindo-os a condenação? É como diz Paulo, tais povos [nós, gentios] eram sem Deus no mundo, e ele diz isso aos gentios, esclarecendo-os de que em tempos pregressos ao do evangelho, eles não tiveram a oportunidade que hoje gozam, de serem salvos. Isso porque Deus não quis, e nisso consiste a grandiosidade do tempo do evangelho em relação ao tempo da lei. Neste, Deus salvou um povo, de uma única língua e raça. Naquele, Deus pretende salvar muitos homens. Não apenas de um povo, mas de todo povo, de toda raça, tribo e língua. No AT, vemos uma promessa futura, na qual Deus promete aumentar as cercas que delimitam sua provisão misericordiosa às demais nações:



“E farei tremer todas as nações, e virão coisas preciosas de todas as nações, e encherei esta casa de glória, diz o SENHOR dos Exércitos.” [Ag 2.7]



“Todas as nações que fizeste virão e se prostrarão perante a tua face, Senhor, e glorificarão o teu nome.” [Sl 86.9]



Assim, compreendemos terminantemente a áurea promessa do derramamento do Espírito Santo, a ser derramado em todas as nações:



“E há de ser que, depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões.” [JL 2.28]


No evangelho, os salvos não são chamados de uma única nação, senão de todas as nações serão recolhidos e comporão o povo exclusivo de Deus.


Mediante a prova bíblica, tal verdade é irrefutável. As Escrituras são sobejamente claras. Foi Jesus quem disse que, a pregação do evangelho é estendida a todas as nações: “Mas importa que o evangelho seja primeiramente pregado entre todas as nações” [Mc 13.10] Os profetas, porém, em tempos de Israel foram revestidos por tal alçada mundialmente englobadora? Não, não foram. Senão vejamos: A palavra de Jeremias foi essa: “Ouvi a palavra que o SENHOR vos fala a vós, ó casa de Israel.” [Jr 10.1] A Missão de Ezequiel foi de igual modo restritiva à casa de Israel: “E dize ao rebelde, à casa de Israel: Assim diz o Senhor DEUS: Bastem-vos todas as vossas abominações, ó casa de Israel!” [Ez 44.6]. Amós não foi diferente: “Porque assim diz o SENHOR à casa de Israel: Buscai-me, e vivei.” [Am 5.4]. Por essas bases poderemos compreender por qual razão em “tempos passados [Deus] deixou andar todas as nações em seus próprios caminhos” [At 14.2]



Diante do que disse, não há possibilidade de sustentar a crença de que Deus deseja que todos os homens se salvem, visto que ele mesmo não quis que tal coisa acontecesse, a menos, e ai chego ao cerne da proposta do artigo, que se creia que Deus deseja que todos os homens sejam salvos, e para atingir tal propósito, ou ainda justificar tal querer, se creia que Deus provê meios diferentes para a sua salvação, meios que se somarão à mensagem da revelação especial, cuja qual muitos povos a desconhecem. Vejamos um exemplo. Das nações rejeitadas por Deus no AT, encontram-se os egípcios. A tenda da congregação não chegou até eles, eles não possuíam a arca, que simboliza a presença de Deus, e sequer entraram no templo da Glória de Deus, para nele o devotarem culto. Reflita nisso ao lado da leitura do texto chave da questão:



“Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? diz o Senhor DEUS; Não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva?” [Ezequiel 18.23]



Esse texto compreende tal nação? O querer de Deus envolve-os? Se não, como Deus não deseja que o ímpio egípcio não morra, se a mensagem contida no texto acima, não lhes foi direcionada, senão aos Israelitas? Eles sequer souberam dessa mensagem. Sequer ouviram-na pelo profeta. Eram como diz Paulo “Sem Deus no mundo” [Ef 2.12]



A meu ver, a única solução para essa questão, embora a Escritura não a ratifique [Assim creio, por ser restritivista] é o inclusivismo. A única forma de afirmar que Deus deseja que todos os homens sejam salvos, será conciliar tal coisa com uma crença na qual Deus procure oportunizar a salvação a todos indistintamente e tal crença consiste no Inclusivismo. Isso não é universalismo. O universalismo é determinista, pois diz que Deus inevitavelmente salvará a todos. O inclusivismo, ao contrário, diz que Deus faz a salvação ser potencialmente possível a todos os povos, mesmo aos que estão além dos marcos do seu povo, havendo ainda a possibilidade de condenação. Mas ninguém será condenado, sem que antes não tenha tido a clara oportunidade dada por Deus de se converter. E essa é a única visão com a qual se poderá afirmar categoricamente que Deus não deseja que nenhum ímpio seja condenado ao inferno. Afirmar que Jesus é o único caminho que nos conduz a salvação, ao lado da afirmação de que Deus deseja que todos os homens sejam salvos, inclusive os que morreram sem terem sequer ouvido o nome de Jesus, nas terras onde, muitos ainda morrerão sob tal condição, é expor Deus a uma visão mais turva e nublada da qual se acarretará implicações ainda mais desastrosas.



Concluindo, creio que a crença de que Deus deseja que todos os homens sem exceção se salvem redundará sem sombra de dúvida no Inclusivismo, a única linha teológica que afirma estar a salvação cabalmente ao alcance de todos os homens no mundo, e que sempre esteve, a despeito da ausência de Jesus Cristo.

"Só Presto Contas a Deus"

Por Augustus Nicodemus Lopes

Esse é o pensamento do evangélico típico de nossos dias.

Quando fui perguntado recentemente por alguém sobre a maior necessidade da igreja evangélica no Brasil não tive dúvidas em responder que é o exercício da disciplina bíblica. Sei que existem igrejas que disciplinam seus membros e líderes e até cometem abusos nisso. Mas creio que já se tornaram a minoria. Na minha avaliação, a grande maioria das igrejas de todas as denominações não exerce a disciplina eclesiástica sobre seus membros e líderes, ou quando o fazem, o fazem de forma equivocada, arbitrária e sem levar em consideração os ensinamentos das Escrituras sobre o assunto.
 
Para mim esse assunto é relevante, pois a disciplina da Igreja tem como alvo manter a sua pureza e restaurar os faltosos, e se constitui numa das marcas da verdadeira Igreja de Cristo. Onde os pecados passam impunes, os faltosos não são repreendidos, corrigidos e restaurados, onde os líderes cometem pecados públicos claros e não dão conta a ninguém de seus atos, poderá estar ali a verdadeira Igreja do Senhor, pela qual ele derramou seu sangue precioso, em busca de um povo puro e santo?
 
Para mim, tudo começa pela absoluta falta de dar conta de seus atos que caracteriza líderes e membros
 
das igrejas. Ninguém se sente devedor a ninguém, senão a Deus – esquecendo que foi o próprio Deus quem instituiu a disciplina eclesiástica como instrumento do seu desejo de manter a Igreja pura e restaurar os caídos. Isso é claro especialmente no caso de líderes que construíram seu império eclesiástico e que não se encontram debaixo de qualquer pessoa ou grupo que poderia corrigi-los e discipliná-los em caso de falta. Pecam impunemente em nome do perdão e da tolerância divina.
 
As próprias igrejas não exercem a vigilância, o zelo e o cuidado que deveriam para com seus membros faltosos. Preferem ocultar os pecados cometidos ou exercer algum tipo de restrição que mal pode ser reconhecida como disciplina. E os membros – não se sentem obrigados a prestar contas de seus atos às igrejas que freqüentam e portanto, em caso de serem argüidos de seus pecados e erros, não se sujeitam e não acatam qualquer medida corretiva e simplesmente mudam-se para outra igreja.

Na minha opinião, é um estado caótico de coisas, que compromete a imagem dos evangélicos diante do povo, que toma conhecimento do comportamento irregular de líderes e crentes pela mídia. Juntamente com a crise de identidade e doutrinária, a falta de disciplina contribui para o agravamento da situação de UTI em que a igreja evangélica brasileira se encontra.