segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A obrigação de parecer feliz

Foto1

Por Maurício Zágari
Tenho pensado muito sobre fotografias. Já reparou como ninguém fotografa momentos tristes? Você já viu alguém ficar tirando fotos em velórios, registrando o instante em que recebeu zero na prova, compartilhando no Instagram a imagem do pai em coma no hospital ou fazendo álbum de fotos dos piores momentos da festa de aniversário? Se eu pego uma câmera e aponto para você, qual é sua reação imediata? Deixe ver se acertei: dar um sorriso. O dia pode estar um inferno, mas se alguém vira uma lente em sua direção… você mostra logo os dentes. Depois do clique, seu rosto volta ao normal e aquela cara de felicidade obrigatória desmonta em um segundo. Curioso isso. Alguma vez já parou para refletir por que temos essa obrigação inconsciente de mostrar para o mundo como somos inevitavelmente felizes e irremediavelmente sorridentes?

Foto2Pegue por exemplo um álbum de fotos (ainda existe isso fora do computador?)  da vida de alguém. Se você folhear da primeira à última página vai jurar que a existência daquela pessoa foi um desfile interminável de bons momentos. Sempre sorrindo. Quando a foto é em grupo, todos juntam as cabeças e… sorrisos transbordam. Pelo menos até o fotógrafo falar “pronto”. Aí aqueles rostos perenemente sorridentes vão se lembrar da conta a pagar, do desemprego, do casamento infeliz, da dor de cabeça que não passa, do namorado que te trocou por outra, da rotina, do tédio, da depressão, da crise do petróleo, do aquecimento global, do apocalipse maia! Em outras palavras; sorrisos em fotos muitas e muitas vezes não significam nada. Não representam uma felicidade real. São um mero hábito, uma formalidade. São fachadas pintadas com o único objetivo de deixar para a posteridade a impressão de que você é e sempre foi feliz.

Mas… por quê? Por que temos a obrigação de ser felizes 24 horas por dia, sete dias por semana? Curiosamente, a infelicidade é vista como uma derrota pessoal. Demonstrar para os outros que a felicidade foi ali e já volta parece uma falha de caráter. E somos tão despreparados para lidar com nossas próprias infelicidades que também não sabemos como lidar com a infelicidade dos outros – por isso há tantos infelizes sem consolo nas igrejas. O despreparo é generalizado. Se você está triste, repare que a maioria das pessoas não vai te abraçar em silêncio ou chorar com você, mas dizer frases feitas que tentam impor felicidade: “Que isso, levanta esse astral!”, “Tá triste por que, a vitória é tua!”, “Não reclama de barriga cheia, pensa nas criancinhas da Etiópia que estão morrendo de fome”, “Fica assim não, rapaz, bola pra frente, ânimo!”. Palavras, palavras e palavras… que de fato nessas horas não servem de nada – ninguém fica feliz de repente só porque alguém chegou e disse “Não fica triste não”.

Foto3Repare que Jesus não gastava muitas palavras para consolar: ele agia para gerar consolo. O Mestre, “movendo-se de íntima compaixão”, empatizava com os infelizes, chorava com eles e não fazia nenhuma questão de dizer “chora não, vai passar”. Pois Ele era “um homem de tristeza e familiarizado com o sofrimento. Como alguém de quem os homens escondem o rosto, foi desprezado, e nós não o tínhamos em estima” (Is 53.3). Jesus não forjava uma falsa felicidade. Em Mateus 26, vemos o Mestre, em um momento de extrema infelicidade, dizer no Getsêmani a Pedro e aos dois filhos de Zebedeu, entristecido e angustiado: “A minha alma está profundamente triste até à morte”. Meu Deus… que declaração! De uma honestidade e transparência que em nossos dias seria considerada vinda de um derrotado, um fracassado, um ser de segunda classe: jamais de um servo de Deus, pois, afinal, somos mais do que vencedores! Sorria, você é filho do Rei! Sim, mas… o unigênito Filho do Rei chorou de compaixão da infelicidade dos que estavam junto ao sepulcro de Lázaro e viveu sua própria infelicidade na agonia do cálice que beberia em sua plenitude: seu sorriso de agonia era banhado pelo suor de sangue que emoldurava aquele rosto de amor.

“A minha alma está profundamente triste até à morte”. Uau. Que tapa na cara da nossa obrigação de parecer sempre feliz.

Foto4Podemos considerar que a Bíblia é o álbum de fotografias de Jesus de Nazaré. Nela estão registrados os principais momentos da vida do Cordeiro de Deus. Mas, ao contrário dos nossos álbuns humanos, Ele não tentou nunca simular uma felicidade inextinguível, uma vida de alegria todo dia. No álbum de fotos de Jesus vemos sim momentos felizes, como a festa de casamento em Caná, seus muitos encontros com seus amigos, sua entrada triunfal em Jerusalém. Mas esse álbum é também o registro de sua humilhação. O vemos cuspido. O vemos apanhando com chibatas. O vemos sendo esbofeteado. O vemos sendo ofendido e caluniado. O vemos nu. Com sua pele sangrenta totalmente exposta numa cruz, os genitais à mostra, sem ter como cobrir sua vergonha porque suas mãos estavam cravadas na madeira. Não, o álbum de fotos do Pão da Vida não teve nunca a intenção de simular uma felicidade interminável e onipresente, mas sim a intenção de desnudar a verdade da Verdade, para que nós mesmos possamos desnudar a nossa verdade. Ante os homens e ante o Pai. Seja ela de felicidade ou infelicidade. Que lição para seres que sentem-se na obrigação de estar sempre aparentando felicidade!

Não simule uma existência paradisíaca e extraordinariamente feliz, meu irmão, minha irmã. Celebre sim e muito os momentos bons e alegres, isso é importante. Diria até que é vital. Mas nunca perca a honestidade de reconhecer seus períodos de infelicidade, pois eles são lamentavelmente muito preciosos. Eles moldam nosso caráter, nos fazem refletir, nos levam a mudar de rumo, nos dão a humildade de chegar em oração a Deus e confessar que só nele temos felicidade acima de qualquer circunstância.

Meu desejo sincero é que no álbum de fotografias da sua  vida haja mais fotos de sorrisos do que de lágrimas. Desde que os sorrisos sejam sinceros – a mera contração de músculos do rosto não atesta um coração sorridente. Mas, se as lágrimas vierem, não as esconda por trás de um sorriso forçado e obrigado. Fotografe-as na sua lembrança para nunca se esquecer delas. Quem só quer se lembrar dos momentos felizes está abrindo mão da sua verdade enquanto homem. Assuma seus momentos infelizes. Deixe-os desempenhar seu papel em sua vida. E jamais se esqueça deles – pelo contrário, ponha-os na melhor moldura que puder.

Foto5No Jardim das Oliveiras, o coração de Jesus se encheu de infelicidade. No caminho do Calvário, o coração de Jesus se encheu de infelicidade. Suspenso na cruz, o coração de Jesus se encheu de infelicidade. Só que, mais à frente, depois do calvário e da crucificação, houve uma sepultura vazia. Lembre-se que o pão e o vinho são uma foto dessa sepultura. São a lembrança honestamente sorridente da vitória eterna. E é a foto desse sepulcro que nos garante uma felicidade que durará para sempre, a partir do momento em que dermos nosso primeiro passo na eternidade. E é por isso que, creio eu, no Céu não haverá fotografias: pois lá não precisaremos simular uma felicidade aparente. Lá, a felicidade não dependerá de a demonstrarmos. Na eternidade, a felicidade simplesmente é. A presença de Deus descartará no Céu o que será inútil, como revela Apocalipse 21: não haverá templo algum, pois o Senhor Deus todo-poderoso e o Cordeiro são o seu templo.  Tampouco haverá sol nem lua, pois a glória de Deus será a luz do Céu – e o Cordeiro, a sua candeia.  Suas portas jamais se fecharão de dia, pois ali não haverá noite. 

Sim, creio que no Céu não haverá fotos, pois serão desnecessárias num lugar em que as melhores lembranças que pudermos ter da vida terrena não deixarão saudades e onde caminharemos ao lado de um Deus que enxugará dos nossos olhos toda lágrima. E lá não haverá mais morte. Nem tristeza. Nem choro. Nem dor. 

Só felicidade.

5 Sinais de que Você Glorifica a Si Mesmo



É importante reconhecer o fruto de autoglorificar-se em você e em seu ministério. Que Deus use esta lista para lhe conceder sabedoria diagnóstica. Que ele use esta lista para expor seu coração e redirecionar seu ministério.

Autoglorificar-se fará com que você:

1. Ostente em público o que deveria ser mantido em particular.  

Os fariseus são um vívido exemplo primário para nós. Porque eles viam suas vidas como gloriosas, eles eram ligeiros em ostentar essa glória diante dos olhos de quem estivesse vendo. Quanto mais você pensa que você já chegou lá, e quanto menos você vê a si mesmo como necessitando de graça resgatadora, mais você tenderá à autorreferência e à autocongratulação. Por você estar atento à autoglorificação, você vai trabalhar para conseguir maior glória mesmo quando não estiver consciente de que está fazendo isso. Você tenderá a contar histórias pessoais que fazem de você o herói. Você encontrará maneiras, em cenários públicos, de falar de atos privados de fé. Por você se achar digno de aplausos, você buscará os aplausos de outros encontrando maneiras de apresentar a si mesmo como “piedoso”.

Eu sei que a maioria dos pastores lendo esta coluna pensarão que nunca fariam isso. Mas estou convencido de que há mais “desfile de piedade” no ministério pastoral do que tendemos a pensar. Esta é uma das razões pelas quais eu acho conferências pastorais, reuniões de presbitério, assembleias gerais, convenções, e reuniões de plantação de igreja desconfortáveis às vezes. Após uma sessão ao redor da mesa, essas reuniões podem se degenerar a um “concurso de cuspe” de ministério pastoral, onde somos tentados a menos do que honestos sobre o que de fato está acontecendo em nossos corações e em nossos ministérios. Após celebrar a glória da graça do evangelho, há demasiado recebimento de glória autocongratulatória por pessoas que parecem precisar de mais aplausos do que merecem.

2. Seja demasiadamente autorreferente

Todos nós sabemos disso, todos nós já vimos isso, todos nós já ficamos desconfortáveis com isso, e todos nós já fizemos isso. Pessoas orgulhosas tendem a falar muito de si mesmas. Pessoas orgulhosas tendem a gostar mais de suas próprias opiniões do que das opiniões dos outros. Pessoas orgulhosas pensam que suas histórias são mais interessantes e cativantes do que as dos outros. Pessoas orgulhosas pensam que eles sabem e entendem mais do que os outros. Pessoas orgulhosas pensam que conquistaram o direito de serem ouvidas. Pessoas orgulhosas, por basicamente terem orgulho do que sabem e do que fizeram, falam muito sobre ambos. Pessoas orgulhosas não falam a respeito de suas fraquezas. Pessoas orgulhosas não falam a respeito de suas falhas. Pessoas orgulhosas não confessam pecado. Então pessoas orgulhosas são melhores em colocar os holofotes sobre si mesmas do que em refletir a luz de suas histórias e opiniões de volta para a gloriosa e completamente imerecida graça de Deus.

3. Fale quando deveria ficar calado.

Quando você pensa que já chegou lá, você é bem orgulhoso e confiante de suas opiniões. Você confia em suas opiniões, então você não está tão interessado nas opiniões dos outros quanto deveria estar. Você tenderá a querer que seus pensamentos, perspectivas e pontos de vista vençam em qualquer reunião ou conversa. Isso significa que você estará muito mais confortável do que você deveria estar com dominar um grupo com sua conversa. Você falhará em ver que na multidão de conselhos há sabedoria. Você falhará em ver o ministério essencial do corpo de Cristo em sua vida. Você falhará em reconhecer suas tendências e sua cegueira espiritual. Você não irá a reuniões formais ou informais com um senso pessoal de necessidade do que os outros têm a oferecer, e você controlará a conversa mais do que deveria.

4. Fique quieto quando deveria falar.

A autoglorificação pode ir para o outro lado também. Líderes que são muito autoconfiantes, que involuntariamente atribuem a si mesmos o que poderia apenas ser efetuado pela graça, frequentemente veem reuniões como uma perda de tempo. Por serem orgulhosos, eles são muito independentes, então as reuniões tendem a ser vistas como uma interrupção irritante e inútil de uma agenda ministerial já sobrecarregada. Por causa disso, ou eles acabarão com todas as reuniões ou as tolerarão, tentando finalizá-las o mais rápido possível. Então eles não lançam suas ideias para consideração e avaliação porque, francamente, eles não acham que precisam. E quando suas ideias estão na mesa e sendo debatidas, eles não entram na briga, porque eles pensam que o que eles opinaram ou propuseram simplesmente não precisa de defesa. A autoglorificação fará com que você fale demais quando você deveria ouvir, e com que você não sinta necessidade de falar quando você certamente deveria.

5. Se importe demais com o que os outros pensam de você.

Quando você caiu no pensamento de que você é alguma coisa, você quer que as pessoas reconheçam esse “alguma coisa”. Novamente, você vê isso nos fariseus: avaliações pessoais de autoglorificação sempre levam a um comportamento de busca por glória. Pessoas que pensam que chegaram a algum lugar podem se tornar hipersensíveis a como outras pessoas reagem a elas. Por você ser hipervigilante, observando a maneira pela qual as pessoas em seu ministério respondem, você provavelmente nem sequer percebe como você faz as coisas por autoaclamação.

É triste, mas frequentemente ministramos o evangelho de Jesus Cristo por causa de nossa própria glória, não pela glória de Cristo ou a redenção das pessoas sob nossos cuidados. Eu já fiz isso. Eu já pensei durante a preparação de um sermão que um certo ponto, colocado de certa maneira, poderia ganhar um detrator e eu já fiquei observando à procura da reação das pessoas enquanto eu pregava. Nesses momentos, na pregação e na preparação de um sermão, eu abandonei meu chamado como embaixador da eterna glória de outro pelo propósito de conseguir para mim o louvor temporário dos homens