segunda-feira, 11 de março de 2013

Quando o meu deus sou eu

Por Maurício Zágari
Sempre que lemos a passagem do bezerro de ouro em Êxodo 32 temos um sentimento ruim com relação ao povo de Israel. Deus o tinha livrado do Egito, fez aquele incrível milagre da abertura do Mar Vermelho (você consegue imaginar a experiência de ter visto e vivido aquilo?) e ainda assim aquelas pessoas tomaram as rédeas de sua vontade, passaram por cima da vontade do Senhor e fizeram o que lhes parecia mais conveniente. Dá para entender a decepção de Moisés ao ver aquilo, traduzida numa fúria que o fez quebrar as tábuas com os mandamentos. Sim, aquelas pessoas foram de uma falta de fé, de um imediatismo e de um egoísmo atroz. Mas... por que as condenamos? Já parou para pensar que se estivesse entre eles você faria parte da multidão idólatra? E a explicação é simples: faz parte da má natureza humana não ter paciência de esperar em Deus  e resolver tomar as rédeas de seu destino, sem aguardar por aquilo que o Senhor planejou fazer. Israel erigiu o bezerro de ouro simplesmente porque não teve fé suficiente para esperar o tempo de Deus. Só que o tempo chegou e Moisés desceu do monte. O resultado você sabe.

Nas palavras de Deus, quem não tem fé para esperar por Sua ação e erra pela autossuficiência é "corrupto" e "desviado". Ouça o que Ele diz a Moisés:  "Vai, desce; porque o teu povo, que fizeste sair do Egito, se corrompeu e depressa se desviou do caminho que lhe havia eu ordenado".  O desagrado do Todo-Poderoso é claro. A partir do versículo 9, Ele deixa claro que não há como abençoar quem assim o faz: "Disse mais o Senhor a Moisés: Tenho visto este povo, e eis que é povo de dura cerviz. Agora, pois, deixa-me, para que se acenda contra eles o meu furor, e eu os consuma".

Duro. Uma leitura superficial nos leva a crer que a ira do Pai se acende apenas pela idolatria. Mas se formos fundo nessa passagem veremos o que havia no coração do povo, a origem dessa idolatria. Em Êxodo 1, as causas de todo o problema ficam bem claras: "Mas, vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte, acercou-se de Arão e lhe disse: Levanta-te, faze-nos deuses que vão adiante de nós". Aí está. O povo queria respostas rápidas. Não soube esperar. Queria que Moisés já tivesse descido. Estava impaciente. Não teve fé de que a demora tinha uma razão divina. Como quem esperava "tardou", o povo decidiu resolver da sua forma, à sua maneira, com suas próprias mãos. Pecado. Aquele povo sem fé, sem paciência e sem esperança estava tão ávido por resolver logo as coisas - da sua maneira - que veja a hora em que a Bíblia revela que começaram a adorar o bezerro: "No dia seguinte, madrugaram, e ofereceram holocaustos, e trouxeram ofertas pacíficas; e o povo assentou-se para comer e beber e levantou-se para divertir-se". Repare a pressa: eles madrugaram.

A avidez daqueles que eram chamados de "povo de Deus" fez com que acordassem de madrugada para cometer seu pecado, tão impacientes que estavam. Se Deus não resolve, vamos nós mesmos tomar a frente! E logo! Esperar o sol nascer para quê?

A partir do versículo 21, temos a explicação ainda mais profunda da falta de fé, impaciência, autossuficiência e consequente idolatria do povo de Deus: "Perguntou Moisés a Arão: Que te fez este povo, que trouxeste sobre ele tamanho pecado? Respondeu-lhe Arão: Não se acenda a ira do meu senhor; tu sabes que o povo é propenso para o mal". Eis aí, meu irmão, minha irmã. O mal que carregamos em nosso coração é o grande culpado. Somos maus e por isso não acreditamos que Deus pode fazer o melhor para nós se apenas esperarmos mais um pouco. Somos maus e por isso nos guiamos por vista e não por fé. Somos maus e por isso tomamos das mãos de Deus a solução para nossas dúvidas e questões. Somos maus e por isso praticamos a idolatria: seja a de um bezerro de ouro, seja a de nós mesmos, quando nos pomos no lugar de Deus, o atropelamos e dizemos "seja feita a MINHA vontade".

Tomamos as decisões no tempo que achamos conveniente de forma "desenfreada", como diz o versículo 25. Isto é, sem freios, sem nada que nos faça parar: a razão, conselhos, pregações, testemunhos, exortações, nada. Nada nos freia. Nada nos para. Queremos e por isso fazemos, mesmo que saibamos que deveríamos esperar o tempo de Deus. Moisés era a pessoa certa. Era por Moisés que deviam esperar. Mas, pela impaciência e falta de fé de que Moisés chegaria, o povo pegou um substituto, Arão, e com ele fez o bezerro de ouro. Pobres miseráveis.

A Bíblia nos revela o desfecho daquele pecado: desgraça.  Três mil homens foram mortos a espada. E mais: "Feriu, pois, o Senhor ao povo". Falta de fé. Impaciência. Autossuficiência. Idolatria. Pecado. Uma coisa leva à outra. A última etapa dessa sequência é morte e sofrimento.

Meu irmão, minha irmã. Se você deseja algo de Deus, não deixe que as aparências o enganem. Não se deixe conduzir pelas circunstâncias ou pelo que humanamente falando parece ser. Deus não trabalha segundo padrões humanos. Deus não age no tempo do homem. A lógica de Deus não é a nossa lógica. Deus cria situações aparentemente sem solução, verdadeiros becos sem saída, apenas para saber até onde vai a sua fé nEle. Você confia ou não? Crê no que parece impossível ou não? Na maioria das vezes o mal que há em nós nos leva a esquecer nossa fé e agir de modo que possamos "ver", "controlar". Mas sem fé é impossível agradar a Deus. E aí não esperamos Moisés. Pegamos um Arão qualquer e dizemos: "Você serve. Pois você estamos vendo e com você à vista temos como controlar nossas vidas. Agora faça o bezerro de ouro". Pronto. A desgraça está feita.

Tenha fé. Tenha paciência. Tenha confiança. Jesus não é só alguém em quem fingimos confiar quando cantamos "Rompendo em fé" nos cultos. Isso é mole de fazer. Cantar e não fazer é facílimo. Facílimo e mentiroso. Pois na hora que precisamos romper em fé mesmo... será que o fazemos? Ou assumimos o controle da situação, nos aliançamos com Arão e pecamos?
Deus não se interessa por um povo que não confia nele. Os que não souberam esperar acabaram mortos ou feridos. É assim que você quer acabar?

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Esse cara sou eu?

 
Por Josemar Bessa
 
Fim de ano e muitas listas dos melhores do ano começam a pipocar na mídia. Mas isso não acontece apenas na grande mídia, mas nas coisas menores como – melhor blog, mais acessado, melhor canal do youtube, mais visualização, Twitter com mais seguidores, Facebook mais curtido, compartilhado...

As listas humanas tem como objetivo nosso orgulho. Queremos ser maiores. Queremos ser melhores. Queremos poder olhar para o lado e julgarmos segundo a nossa lista...

O nosso mundo é assim, cheio de listas. Já olhou o último jornal? Livro...? Listas por toda parte. A página de esportes está cheia delas. O melhor jogador de futebol, tênis,...

Todo ano olhamos a lista dos vencedores do Oscar. Ah! lista dos concursos de beleza. Prêmio Esso para a imprensa no Brasil, Pulitzer nos Estados Unidos...

O mundo editorial tem sua relação de livros em suas categorias - best-sellers. As listas do mundo da música com seus discos de platina, ouro, Grammy... várias premiações no Brasil e no mundo. As listas do mundo financeiro, sua lista de maiores empresas... A lista da Forbes - as pessoas mais ricas... As listas e prêmios do teatro..,

Pôxa! isso não te cansa?

O mundo religioso agora tem sua lista de superigrejas, as mais confortáveis, maiores centros de adoração, as que mais crescem, as que tem mais membros, as que tem mais artistas, as que tem mais deputados, as mais ricas...

As listas do "não olhes, não toques,..." - O objetivo de todas essas listas é o mesmos. A glória humana. Infelizmente na igreja e no mundo.

Depois de examinar cuidadosamente todas essas listas, me pergunto: Quem realmente se importa? Duvido que Deus alguma vez tenha se impressionado com o tamanho de qualquer coisa.

Seu Livro certamente coloca a qualidade acima da quantidade.

Seu Livro também subverte a idéia do que é grande: "Quem quiser tomar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva " - Estranho né? (ver Mt 20.20-28).

O contexto indica, nesse ensino de Cristo que nada há de errado no "desejo" de ser grande, desde que

(1) busquemos o tipo certo de grandeza;
(2) deixemos que Deus decida o que è grandeza;
(3) estejamos prontos a pagar o preço total que a grandeza segundo Deus exige, e (isso é fundamental!)
(4) nos contentemos em esperar pelo juízo de Deus para resolver toda a questão de quem é grande afinal.

Contudo, é vitalmente importante saber o que Cristo quis dizer quando empregou a palavra grande com relação aos homens, e o que Ele tinha em mente não se pode achar no léxico ou dicionário.

Só é bem compreendido quando visto em seu amplo cenário teológico. Ninguém cujo coração teve uma visão de Deus; por mais curta e imperfeita que essa visão possa ter sido, jamais se permitirá pensar de si ou de outrem como sendo grande. Ver Deus, quando Ele se manifesta em temível majestade aos espantados olhos da alma, fará o adorador cair de joelhos com temor e júbilo, e o encherá de tão dominante senso de grandeza divina, que só terá de clamar espontaneamente: "Só Deus é grande!"

Então vemos que obviamente há duas espécies de grandezas reconhecidas nas Escrituras - a grandeza incriada e absoluta pertencente só a Deus, e a grandeza finita e relativa conseguida ou recebida por certos amigos de Deus, que pela obediência e renúncia própria, procuraram tornar-se tão semelhante a Deus quanto possível. É essa última espécie de grandeza que devíamos estar buscando.

A essência do ensino de Cristo é que a verdadeira grandeza está no caráter, caráter esse que deve ser uma expressão da beleza infinita de Cristo,  não na capacidade ou posição. Em sua cegueira, os homens (no mundo e na "igreja ") - sempre pensaram que os talentos superiores tornam grande um homem, e é isto que a vasta maioria acredita hoje. Cristo ensinou, e por sua vida demonstrou, que a grandeza está em maiores profundidades.

Depois de Cristo ter servido (e Seu serviço incluiu a morte) "Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome". Cristo achou fácil servir porque não tinha pecado. Nada nEle se rebelava contra as mais modestas ministrações.

Todo ensino de Deus vai contra tudo que Adão é em nós. É necessário um genuíno amor a Deus para vencer essa realidade em nós. Cristo sabia onde estava a verdadeira grandeza, e nós não o sabemos.

Tentamos galgar alta posição quando Deus ordenou que fôssemos para baixo: "Quem quiser ser o primeiro entre vós, será vosso servo".
Parece, de fato, que Deus se alegra em nos fazer lembrar que coisas grandes não o impressionam. Que Sua maior glória está em alcançar a vitória apesar das dificuldades, como no caso de Davi com Golias, dos hebreus contra os egípcios no mar Vermelho, dos poucos de Gideão e do pequeno grupo de discípulos de Jesus. Mas quando estou pronto a sugerir que ignoremos as listas, encontro uma nas Escrituras; na verdade, uma porção delas!

Deus, por exemplo, não apenas faz a lista dos Dez Mandamentos, que descrevem seu caráter santo, como lista também das coisas que detesta encontrar em suas criaturas. Lembra algumas? "Olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que planeja projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia contendas entre ' irmãos" (Pv 6.16-19).

Paulo nos ajuda fazendo uma lista do "fruto do Espírito" (Gl 5 22,23) –
“Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei.”

Pedro relaciona as qualidades do cristão a caminho do amadurecimento (2Pe 1.5-8),

“E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, E à ciência a temperança, e à temperança a paciência, e à paciência a piedade, E à piedade o amor fraternal, e ao amor fraternal a caridade. Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, não vos deixarão ociosos nem estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.”

e João, um rol das igrejas do primeiro século que eram exemplos dignos de atenção (Ap 2:1-3.22). Há listas de qualificações para o presbítero e também para o diácono... Listas, listas e mais listas! Desde que sejam de autoria do Deus vivo, faríamos bem em ler e obedecer cada uma delas.

Apesar de Mahatma Gandhi não ter tido uma vida centrada em Cristo, nosso Senhor, sua lista, na forma de contrastes, sobre os "sete pecados capitais" merece atenção: “Riqueza sem trabalho, prazer sem consciência, conhecimento sem caráter, comércio sem moral ciência sem humanidade, adoração sem sacrificio, política sem princípios” Muito bom! Mas essa é uma lista apenas para ser lida! Se fixe nas listas do teu Deus!

Lembrei de uma essencial - Leia com atenção e devagar (Miquéias 6.8) - Notem o aprofundamento dos conceitos. Andar com Deus. Andar humildemente com Deus. Andar humildemente com teu Deus. Miquéias explicita os princípios absolutos ''exigidos" pelo Senhor. Sopre a poeira sobre a lista de Miquéias: "Praticar a justiça, amar a misericórdia, andar humildemente com teu Deus".
E aí, esse cara sou eu? Esse cara é você?

Miserável homem que sou

Miseravel1 
Por Maurício Zágari
Qual é o momento mais importante da nossa caminhada de fé? Para uns, é o instante da conversão. Para outros, é o dia do batismo. Há também os que consideram o momento mais importante a hora da morte, quando finalmente darão o glorioso passo de entrada na casa do Pai. Cada pessoa elege aquele ponto da trajetória com o Senhor que mais marcou sua vida. Tenho também o meu. Claro que sei que todos esses momentos são fundamentais e memoráveis, mas entendo que a conversão e a morte, por exemplo, são os momentos mais importantes de nossa vida. Mas em se tratando da caminhada de fé, ou seja, do bom combate, da nossa trajetória de vida com Jesus, há um dia em que tudo muda e, por isso, o tenho guardado num lugar especial do coração. É quando cai a ficha e você, como Paulo, exclama: "Miserável homem que sou!".

Naturalmente, na hora da conversão existe uma dose dessa percepção. É quando, pela ação do Espírito Santo, nos enxergamos como condenados ao inferno e dissociados de Deus e, assim, somos rendidos ao Evangelho da graça. Mas há uma diferença entre se perceber um pecador perdido e se perceber um cristão miserável. Pois muitos são convertidos a Cristo, ganham a cidadania do Reino dos Céus, são adotados como filhos de Deus e, a partir daí, deveriam passar a viver de acordo com a natureza de Jesus, sendo mansos e humildes. Mas a realidade nos mostra que muitos e muitos são os que começam a se considerar quase super-heróis. Mais que vencedores. Vitoriosos. Filhos do Rei. Tanques blindados. Bombas atômicas a serviço dos céus, prontos para arrebentar com os ímpios e com os "menos espirituais". Vestem uma capa de grandeza e passam a considerar o resto da humanidade parte de um segundo escalão de pessoas. É como se manifesta um pecado muito comum a nós, cristãos: a soberba espiritual.

Já vi muitos assim. Arrogantes. Impiedosos. Cujo maior prazer é apontar o cisco no olho do outro. E confesso: eu mesmo já fui assim. Pois não entendia que todo homem de Deus é, antes de tudo, também um homem. Humano. E, como tal, cheio de falhas, crenças equivocadas, arrogância, vaidade e montes e montes e montes de defeitos. Se você é um cristão sincero, olhará para dentro de si e verá o quão problemático e falho é. Mas eu me via como "o eleito", "o escolhido". Algo à parte dos demais, tão espiritualmente certo em tudo e muito superior aos cristãos "menos santos". Falava dos que cometiam pecados (diferentes dos meus, pois eu também sempre pecava) como fracos, frios, fariseus, lobos em pele de ovelha, crentes em quem não se pode confiar. Eu era o tal. Eles eram o joio. Que tremendo bobo eu era, só rindo de mim.

Miseravel2Porque um dia a realidade despencou na minha cabeça como uma bigorna. E foi quando as escamas caíram de meus olhos e enxerguei que, mesmo sendo cristão há muitos anos, continuava sendo um miserável. Que não era melhor do que ninguém. Que meus dons, talentos, ministérios, qualidades, santidade e tudo o mais que havia em mim não era mérito meu, mas do Pai das luzes. Ele me concedeu como empréstimo, não sou dono de nada e posso perdê-los a qualquer hora. Por outro lado, o pecado que cometo é sim mérito (ou demérito) meu. Ou seja: no dia em que você, como cristão, vê claramente que tudo o que tem de bom vem de Deus e o que tem de mau vem de si... aí exclama: "Miserável homem que eu sou!".

Passei a amar muito mais o apóstolo Paulo quando compreendi como nunca antes o que ele diz em Romanos 7.14ss: "Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim. Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado".

Prestou muita atenção ao que leu agora? Paulo - o grande apóstolo Paulo, o homem que foi arrebatado e viu o Céu ainda em vida - vivenciou esse magnífico momento: como cristão, mesmo já com anos de convertido, enxergou o que tantos e tantos em nossas igrejas ainda nãos viram: que nós...

1. Somos carnais
2. Somos vendidos à escravidão do pecado
3. Agimos de modo incompreensível aos nossos próprios olhos
4. Fazemos o que detestamos e não o que preferiríamos
5. Somos habitação do pecado (que percepção assustadora, pois sabemos que também somos habitação do Espírito Santo)
6. Somos fantoches do pecado, que nos leva a agir contrariando o que cremos e o que queremos viver
7. Temos membros obedientes a uma lei que guerreia contra a lei da nossa mente
8. Somos prisioneiros da lei do pecado que está em nossos membros
9. Mesmo salvos, somos miseráveis - pois vivemos dominados pelo pecado

Em outras palavras, mesmo cristãos nós somos miseráveis, pois vivemos o tempo todo sob a sombra de nossa própria pecaminosidade. O dicionário revela o que "miserável" significa: desprezível, torpe, vil, insignificante, reles, ínfimo, desgraçado, infeliz, mísero. Uau. Que soco na boca do estômago de nossa soberba espiritual.

A percepção dessa realidade é extremamente humilhante, nos põe em nosso devido lugar e nos conduz a um ambiente espiritual de profunda submissão a Deus e desapego de nós mesmos. Paulo teve essa percepção: mesmo sendo cristão era um miservável pecador. Alguém que o Senhor precisava permitir ser afligido por um mensageiro de Satanás esbofeteador para que não se exaltasse pela grandeza das revelações que recebeu. Um mero humano, como eu e você.

Miseravel3Honestamente? Quanto mais leio as epístolas paulinas, mais admiro Paulo. E mais me apiedo dos crentes que se apresentam como anjos de santidade. Pois não chegaram ainda ao sublime ponto de admitir que são miseráveis. Vejo muitos que são assim. E isso gera em mim um sentimento misto de pena com tristeza, confesso. Creio ser muito mais digno, bíblico e honesto reconhecer com a boca no megafone: sou cristão, salvo somente pela graça imerecida de Deus, mas ao mesmo tempo carrego o corpo dessa morte amarrado nas costas - o que faz de mim um miserável pecador. Que depende única e exclusivamente da misericórdia do Senhor para continuar respirando, quanto mais entrar no Céu. Pois sei o mal que há em mim e como meu lado sombrio é feio, disforme e animalesco. Como você se enxerga, meu irmão, minha irmã? Você se orgulha da sua santidade ou se abate pela sua natureza humana pecadora?

Chega a ser muito entristecedor ver os "crentes sem mácula" metendo dedos na cara "dos que pecam", sendo que carregam na alma lodo do pior tipo. Isso é um dos pecados mais falados e criticados por Jesus: a hipocrisia. Já vivi nesse mundo, sei de perto o que é. E reconheço esse meu pecado com temor diante do PaiMiseravel4: pequei por me achar menos pecador do que os demais pecadores. Miserável homem que sou. Ah, que bendito dia em que o Espírito Santo me fez reproduzir essas palavras do apóstolo Paulo! Dia em que enxerguei que não é porque aceitei Jesus que virei um ser angelical, mas que continuo sendo um pecador compulsivo e incorrigivel, totalmente dependente da graça. A diferença é que, sabendo da miserabilidade que existe em mim, consigo chegar com humildade aos pés do Senhor, banhá-los em lágrimas e enxugá-los com meus cabelos. No passado, o crentão que eu era ficaria de pé, nariz levantado, peito estufado,  ao lado do Rei dos Reis, e diria: "E aí, Paizão, tamos numa boa, né? Sou teu eleito, meu chapa, gente boa igual a mim não há. E vamos lá mandar esses crentes carnais pro inferno, julguemos juntos, eu e o Senhor, os meus irmãos, pois estou a fim de ver sangue!".

Sim, aquele foi o dia mais importante. Pois na conversão eu fui salvo, mas me sentia o tal por isso. No batismo saí das águas me achando o puro, o imaculado. Mas no dia em que caí em mim, vi que mesmo salvo continuo pecando sem parar, caí de joelhos, tremi e murmurei: miserável... homem... que... sou...

Gosto de pensar que após a morte irei para o Céu. Não por mim, que não valho nada, mas pela Cruz. Só pela Cruz. Pela graça. Pelo amor. Pelo perdão. Por Jesus. E, ao chegar lá, pode ser que eu ouça "bem-vindo, servo bom e fiel". Mas acredito muito mais que vou ouvir: "Bem-vindo, miserável pecador. Você não tem mérito algum, mas por causa do sacrifício de meu Filho eu o porei sobre o muito. Venha e participe da alegria do seu senhor!".

Paulo estava certo: somos miseráveis. Eu, você, todos os cristãos. E bendito seja o Senhor, que pela graça um dia nos chamou para sua maravilhosa luz e tempos depois iluminou a nossa realidade de cristãos pecadores. Não é o seu caso? Então clame a Deus, na esperança de que Ele te mostre o quão miserável você é. Acredite: é uma das maiores bênçãos para a alma que você poderá receber ao longo de toda a sua vida.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,

Será que eu sou joio?


Por Maurício Zágari
No evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus, no capítulo 13, o Mestre conta uma parábola:
O reino dos céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo; mas, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou o joio no meio do trigo e retirou-se. E, quando a erva cresceu e produziu fruto, apareceu também o joio. Então, vindo os servos do dono da casa, lhe disseram: Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem, pois, o joio? Ele, porém, lhes respondeu: Um inimigo fez isso. Mas os servos lhe perguntaram: Queres que vamos e arranquemos o joio? Não! Replicou ele, para que, ao separar o joio, não arranqueis também com ele o trigo. Deixai-os crescer juntos até à colheita, e, no tempo da colheita, direi aos ceifeiros: ajuntai primeiro o joio, atai-o em feixes para ser queimado; mas o trigo, recolhei-o no meu celeiro
Jesus é claríssimo nessa parábola. Ele diz que ao longo da História da Igreja os verdadeiramente salvos conviveriam diariamente com pessoas postas ali “pelo inimigo” mas que por razões as mais variadas convivem com os santos na assembleia como se fossem santos. Conviverão, cantarão juntos no louvor, muitos terão cargos na igreja e até se tornarão pastores. Mas foram postos ali pelo inimigo e, como tal, estão ali para fazer o que é característico do inimigo: roubar, matar e destruir.
Cem por cento das vezes nós nos consideramos trigo.
Eu nunca vi ninguém chegar e dizer “olha, vou te contar uma coisa, eu sou joio”. Todo mundo se acha trigo. Até mesmo o joio, se você for reparar. Porque, como diz a parábola, o joio é tão parecido com o trigo que imagino que deve ser difícil até mesmo ele se distinguir. É como o patinho feio, que achava que era pato até crescer e descobrir que era cisne. E como o joio foi “semeado” (repare, o texto não diz que foi “plantado”, mas sim “semeado”) isso significa que foi posto entre o trigo ainda em seus estágios inicias de desenvolvimento. Só aos poucos é que o joio vai crescendo e fazendo o que lhe é natural: prejudicar o trigo.
A grande questão aqui é: já parou pra pensar que o joio pode ser você?
O joio pode ser você
“Ai, Zágari, essa doeu! Que acusação forte! Tá dizendo que eu não sou salvo, mas que fui posto pelo diabo no meio da Igreja pra atrapalhar?” Bom… lamento informar, mas pela parábola de Jesus há uma grande possibilidade de ser isso mesmo. E para você não dizer que estou te julgando, deixa eu fazer uma confissão: eu mesmo já me fiz essa pergunta. “Será mesmo que eu sou trigo?”.
A Biblia diz que pelos frutos conhecereis as arvores. E Gálatas 5.22,23 revela o fruto que dá aquele que tem o Espirito: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Então se eu tenho o Espirito em mim, ou seja, se eu sou trigo, tenho de manifestar essas virtudes. E a verdade é que muitas e muitas vezes não manifesto. Peco desbragadamente pela falta de amor, choro pela falta de alegria, tenho tão pouca paz em meu coração que preciso tomar rivotril, sou absolutamente impaciente com as pessoas. Também em muitos momentos não sou amável e muito menos bondoso. Minha fidelidade a Deus frequentemente é posta à prova, tenho surtos de raiva que de mansidão passam longe e… dominio próprio… ah, sobre esse eu até tenho vergonha de falar. Parece que em muitos e muitos momentos em não tenho domínio sobre nada: quem me vence é minha concupiscência. Então, diante desse quadro todo, vejo essa como uma pergunta bastante legitima: será que eu sou joio?
Eu sei: não é um pensamento agradável, especialmente pela parte que diz “atai-o em feixes para ser queimado”.
E aí, o que fazer?
Mas e aí, o que fazer? Bem, aqui entra a minha reflexão. Deus é capaz de transformar água em vinho. Ou cinco pães e dois peixes em alimento para uma multidão. Ou um olho morto e cego em um órgão funcional. Jesus consegue fazer a pele pútrida e decaída de um leproso ficar limpa, lisa e nova. Jesus pega um vazio disforme e dele esculpe o universo Então a verdade bíblica é que Jesus tem todo o poder para transformar qualquer coisa em qualquer coisa.
Diante disso, será que Jesus pode transformar um joio posto pelo diabo no meio dos santos em trigo? De cara, a tentação é afirmar categoricamente: sim! Mas essa é uma pergunta com grandes implicações teológicas. Pois elegerá Deus os não-eleitos? Vamos a Romanos 9.22: “Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição”. Se os vasos de ira foram “preparados para a perdição” o que fará o Senhor? Os despreparará? Voltará atrás?
Sim, Deus é onipotente. Mas algumas coisas Ele não faz, para manter sua coerência. Por isso creio que, embora o Todo-Poderoso tenha todo poder dos céus e da terra para transmutar um joio em trigo Ele não o faz simplesmente porque isso contrariaria seus propósitos eternos. A verdade é dolorosa, triste e horrível, mas cumpre a justiça divina: bilhões de pessoas vão para o inferno. Dessas, muitas faziam parte daquele grupo que se intitulava “cristão” pelo simples motivo de frequentar uma igreja. Só que muitos dos que se intitulam “cristãos”… são joio. Não estou inventando, está na Biblia. Acredito que esses serão aqueles que no grande e terrível dia do juízo dirão ao Criador: “Senhor, Senhor”. Pois um hindu não diria isso de Jesus. Um muçulmano também não. Mas um suposto cristão diria. Viraria para o Rei dos Reis e o chamaria de “Senhor”. Só que a resposta será devastadora para esses supostos cristãos: “Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade” (Mateus 7.23).
Por isso temo pelo joio. Pois estão entre nós. Cantam no coral. Produzem CDs gospel. Apresentam programa de TV evangélicos. Cantam louvores nas rádios. Passam salvas na igreja. Estão nos conselhos. Recepcionam visitantes. Pregam. Possuem blogs cristãos na internet. Têm cara de trigo, cheiro de trigo, linguajar de trigo, roupas e adereços de trigo, Bíblias de estudo embaixo do braço, terno e gravata… mas um dia ouvirão “Nunca vos conheci”. Que perspectiva terrível.
Deus poderia transformar joio em trigo? Lógico que poderia. Ele pode pegar qualquer coisa que o diabo faça e tornar santo. Mas no que tange à salvação, Deus já sabe quem são os vasos preparados para a perdição.
Eu espero não ser um deles. Muitas das minhas atitudes me fazem por vezes pensar que sou. Mas eu tenho uma esperança, que está cravada numa cruz sanguinolenta. A esperança de que, pela graça de um carpinteiro que morreu torturado e humilhado, mediante a fé que Deus plantou em meu coração, eu seja um trigo meio torto, meio esgarçado, meio ressecado…mas um trigo. Porque, meu irmão, minha irmã, por mais que um trigo esteja debulhado, meio capenga e mal-ajambrado, ele herdará o Céu – pois o Todo-Poderoso decretou: “Recolhei-o no meu celeiro”
Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Quando perdoar se torna fácil!


Por Josemar Bessa 

E José lhes disse: Não temais; porventura estou eu em lugar de Deus? Vós bem intentastes mal contra mim; porém Deus o intentou para bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar muita gente com vida. Gênesis 50:19-20

Contemplamos uma excelente teologia na vida de José. Ninguém que tem o caráter de José poderia ter uma má teologia. Este homem tem uma visão correta de Deus.

O que ele diz aos seus irmãos tem uma importância espiritual tremenda: "Vós bem intentastes mal contra mim; porém Deus o intentou para bem, para fazer como se vê neste dia..." - Essas palavras são um manual da doutrina cristã da Providência de Deus. Podemos defini-la assim: é a ação santa, poderosa e sábia de Deus que rege TODAS as Suas criaturas e todas as suas ações. Nem um pardal cai no chão sem o controle de Deus, sem que seja expressão de Sua vontade, todos os cabelos de nossa cabeça estão contados... Ele governa tudo... Nada acontece sem Deus.

Como essa doutrina ( negada por muitos ao tentar aumentar o homem e diminuir Deus  ) foi essencial para José. Doutrina correta é indispensável para vida correta, caráter correto... José atravessou dificuldades enormes. Imagine ele na prisão, sofrendo injustiça nas mãos de seus irmãos... Sem precisar ouvir tantos sermões e sem resistência a Verdade, em Sua bondade Deus lhe ensinou a doutrina da Providência: que o propósito de Deus em Sua Soberania absoluta está controlando e determinando os acontecimentos de nossa vida. E agora então José está pregando este sermão maravilhoso aos seus irmãos: "O que vocês fizeram a mim quando eu ainda era um garoto, foi pura maldade, mas com isso Deus estava determinando algo bom em Seu perfeito plano”.

Um velho puritano disse: "Deus pode desenhar uma linha reta com uma vara torta".  Ou seja,  coisas que para nós parecem confusas e incompreensíveis, são coisas que Deus está usando para trazer a realidade a Sua límpida e clara vontade. Ele desenha uma linha reta com uma vara torta.

José pregou essa boa teologia ainda com lágrimas nos olhos ao se dar conhecer aos irmãos. Ele não queria humilhar os irmãos ou atacá-los de qualquer forma que seja, ele estava os instruindo e ensinando uma boa teologia. A Bíblia está cheia de ilustrações sobre o controle da Providência de Deus sobre tudo.

Olhe o pecado de Adão. O representante legal de todos os homens pecou e se rebelou contra Deus. O que poderia ser pior? O pecado entrou no mundo e passou a todos, porque todos morreram em Adão. Nascemos pecadores e culpados. E tudo que fazemos como homens naturais expressão isso. Nós merecemos a ira de Deus, o inferno, a maldição e a condenação.  Simplesmente é inacreditável os homens se queixarem porque crianças morrem tão jovens, porque tanta miséria no mundo e em nossa vidas, doença, tristeza... Não há como compreender porque as pessoas se surpreendem com isso. Se você começar com a opinião bíblica sobre a humanidade, que somos maus, então, é claro, todas essas coisas - tristezas, tribulações... serão esperadas. Agora, o que Adão fez por maldade, Deus usou e determinou para o bem. Qual foi o bem vinda através do pecado de Adão? Deus deste o princípio planejou nos dar outro Adão, um Adão infinitamente melhor, o último Adão - Cristo! A revelação de Seu Filho! Um Salvador! Um Redentor! Aquele que tem uma justiça perfeita, divina, eterna! Infinitamente melhor do que Adão jamais poderia ter sido. Que revelaria toda a Glória só conhecia pela Trindade por toda a eternidade! E não graças a Adão, mas tudo graças a Deus. Você vê como a doutrina de José se encaixa como uma chave perfeita na fechadura da história? Adão agiu com um propósito mal, mas Deus tinha um propósito perfeito para aquilo, Ele tornou aquilo num bem infinito: "Vós bem intentastes mal contra mim; porém Deus o intentou para bem" - Gênesis 50:20

Mas não há melhor exemplo disso do que a Cruz do Calvário. Todos nós, os salvos, fomos resgatados através de um assassinato cruel que foi determinado desde toda a eternidade: "...do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo". Apocalipse 13:8 - No Calvário o homem deu o seu pior. Nenhuma maldade se compara aos acontecimentos daquele dia. Se Deus pôde usar os atos mais cruéis da história para realizar a coisa mais maravilhosa jamais ouvida, então todos os outros eventos da vida humana nada são para Sua Providência invencível!

A Cruz é, ao mesmo tempo, o maior pecado da história e a maior benção da história. Quem diz se gloriar na cruz e não vê a Providência e o controle Soberano de Deus em todas as circunstâncias da vida, ou os nega, está em perfeita contradição.

Pedro, no primeiro sermão da era da igreja, proclamou exatamente esta verdade: "A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos; Ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela" - Atos 2:23-24

O mundo crucificou Cristo pela maldade e depravação de seu coração:  "...a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más" -  João 3:19. E eu e você temos participação direta nessa maldade insana - nossos pecados o levaram a cruz. Mas Deus em Seu Plano eterno determinou e usou isso para o bem. A maior maldade da história resultando por causa da providência soberana de Deus no maior bem.

José chorou quando estava falando com seus irmãos. Lembrou da Soberania e Providência perfeitas de Deus, lembrou de como Deus usou caminhos inacreditáveis em sua vida e glorificou a Deus.

Ele poderia perdoar seus irmãos com muita facilidade, porque ele conseguiu ver em tudo a mão invisível de Deus operando para o seu bem. Ele foi ferido, tratado injustamente... tudo que poderia ser para o seu mal, Deus redundou em bem. Devemos esperar a roda dar o giro completo. Vamos descobrir que não perdemos nada por sermos pacientes, por engolir a raiva, por ter um espírito perdoador de acordo com o padrão de nosso Salvador: "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem" (Lucas 23.34).

Olhe para o que José diz aos seus irmãos. Era o momento ideal para José feri-los, mas ele diz: "Agora, pois, não temais; eu vos sustentarei a vós e a vossos filhos. Assim os consolou, e falou segundo o coração deles" - Gênesis 50:21

É fácil imaginar como ele poderia dar o troco aos seus irmãos sendo governador de todo o Egito. Mas ele põe a mão em seus ombros e beija as suas faces. Ele diz - Judá, não tenha medo; Simeão, não tenha medo; Benjamim, meu irmão, não tenha medo... não lhes farei mal, vou alimentá-los e cuidarei de seus filhos. Irei fazer a vocês todo o bem possível enquanto eu viver.
Isso é cristianismo! Isso é semelhança com Cristo! "Antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo”. Efésios 4:32
Somente a compreensão das doutrinas sobre Deus podem levar a uma vida que o exalta.

O Ódio de Deus


Por Kyle Baker

É comum ouvir-se hoje nas igrejas a respeito do amor de Deus. Porém, coisa raríssima é encontrar o ódio de Deus como tópico de debate. Quando isso acontece, usa-se certo adágio para princípio de conversa: "Deus odeia o pecado, mas ama o pecador!". Pergunte à maioria dos crentes professos a respeito do ódio de Deus e eles lhe responderão de modo similar.

Examinemos as Escrituras para ver se isso é verdade!

Inicialmente, permita-nos responder a pergunta: "Deus odeia o pecado?".
Hebreus 1.8, 9: "Mas a respeito do Filho, diz 'O teu trono, ó Deus, subsiste para todo o sempre; cetro de eqüidade é o cetro do teu reino. Amas a justiça e odeias a iniqüidade; por isso Deus, o teu Deus, escolheu-te dentre os teus companheiros, ungindo-te com óleo de alegria'".

O escritor de Hebreus cita uma passagem de Salmos e a aplica ao Senhor Jesus Cristo. É claro que Deus ama a justiça e odeia a impiedade. Portanto, Deus odeia o pecado! Isto também é afirmado em outras passagens:

Provérbios 6.16-19: "Há seis coisas que o SENHOR odeia, sete coisas que ele detesta: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que traça planos perversos, pés que se apressam para fazer o mal, a testemunha falsa que espalha mentiras e aquele que provoca discórdia entre irmãos".

Estas — é claro — não são as únicas coisas que Deus odeia; elas são apenas uma pequena lista. Podemos dizer "amém", de coração, à primeira parte do adágio sob exame: "Deus odeia o pecado".

Permita-nos responder a pergunta: "(Mas) Deus ama o pecador?".

Salmos 5.3-7: "De manhã ouves, Senhor, o meu clamor; de manhã te apresento a minha oração e aguardo com esperança. Tu não és um Deus que tenha prazer na injustiça; contigo o mal não pode habitar. Os arrogantes não são aceitos na tua presença; odeias todos os que praticam o mal Destróis os mentirosos; os assassinos e os traiçoeiros o SENHOR detesta. Eu, porém, pelo teu grande amor, entrarei em tua casa; com temor me inclinarei para o teu santo templo".

O salmista diz que Deus "odeia todos os que praticam o mal" e que ele detesta "os assassinos e os traiçoeiros". Aqui Deus odeia o próprio pecador, não só seus pecados. Repare no contraste: Deus odeia o praticante do mal, mas ama o salmista com "grande amor".

Salmos 11.4-7: "O Senhor está no seu santo templo; o Senhor tem o seu trono nos céus. Seus olhos observam; seus olhos examinam os filhos dos homens. O SENHOR prova o justo, mas o ímpio e a quem ama a injustiça, a sua alma odeia. Sobre os ímpios ele fará chover brasas ardentes e enxofre incandescente; vento ressecante é o que terão. Pois o Senhor é justo, e ama a justiça; os retos verão a sua face".

Percebemos que a alma de Deus odeia quem ama a injustiça, e sobre tais pessoas ele derramará brasas ardentes e enxofre incandescente como castigo eterno. Repare também aqui que Deus odeia o ímpio, mas ama o justo!

Romanos 9.10-16: "E esse não foi o único caso; também os filhos de Rebeca tiveram um mesmo pai, nosso pai Isaque. Todavia, antes que os gêmeos nascessem ou fizessem qualquer coisa boa ou má — afim de que o propósito de Deus conforme a eleição permanecesse, não por obras, mas por aquele que chama —foi dito a ela: 'O mais velho servira ao mais novo'. Como está escrito: 'Amei jacó, mas rejeitei [gr., odiei] Esaú'. E então, que diremos? Acaso Deus é injusto? De maneira nenhuma! Pois ele diz a Moisés: 'Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão'. Portanto, isso não depende do desejo ou do esforço humano, mas da misericórdia de Deus".

Antes de Jacó e Esaú terem nascido e antes de eles terem feito o bem ou o mal, Deus jã fizera a escolha de quem amaria e de quem odiaria. Isso aconteceu exclusivamente para que o bom propósito de Deus e seus atributos pudessem ser conhecidos (Rm 9.17-23). O amor e o ódio de Deus não dependem da "vontade humana", mas apenas de Deus. Por ser o supremo governante e criador do universo, é natural que Deus tenha o direito de escolher a quem amar e a quem odiar.

Portanto, o adágio "Deus odeia o pecado, mas ama o pecador", segundo a Bíblia, é falso. A afirmação encontrada na Escritura a respeito do ódio de Deus pode causar duas reações em quem a ouvir. Ela é capaz de endurecer o coração de modo a quem alguém diga: "Como o Deus descrito pela Bíblia pode ser justificado ao agir dessa forma?". Essa pessoa também é capaz de pensar:

"Não posso servir a um Deus que não ama todas as pessoas", ou talvez "Nunca fiz nada de mal para merecer o ódio de Deus". Além disso, outras pessoas afirmarão sua incapacidade de julgar a Deus dessa forma (Rm 9.20). Eles percebem que a Palavra de Deus é a descrição verdadeira de Deus, e que esses atributos de Deus devem ser aceitos. Na verdade, eles não devem ser só aceitos, mas devem ser motivo de júbilo; porque este é Deus, e precisamos nos regozijar na verdade de sua revelação!

As passagens acima fazem distinção entre o ódio e o amor. Deus odeia quem pratica o mal, mas ama o salmista. Deus odeia o ímpio, mas ama o justo. Deus odeia Esaú, mas ama Jacó. Qual é a diferença? Como um pode ser ímpio e o outro justo? A diferença é Jesus Cristo e sua obra realizada na cruz Por causa do sangue de Cristo vertido, os eleitos de Deus são declarados justos (Rm 5.9). A diferença não é questão de quem peca e de quem não o faz, por que não há diferença; todos pecaram e estão destituídos da graça de Deus (Rm 3.22,23). A diferença é Jesus Cristo, e apenas ele!

Deus não ama e odeia as pessoas. Elas são amadas ou odiadas — esses são pensamentos opostos na Escritura. Quem foi comprado por Jesus Cristo na cruz jamais foi odiado por Deus. Vimos que a Escritura afirma o ódio de Deus pelo pecador, mas aquele por quem Cristo morreu nunca é considerado pecador aos olhos de Deus. Ele foi eleito e amado em Cristo desde antes da fundação do mundo (Ef 1.4,5). Quando Deus olha para seus filhos (aqueles a quem ele escolheu amar), ele não os odeia porque sua inocência foi assegurada pelo Senhor Jesus Cristo.

Efésios 2.4, 5: "Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida com Cristo, quando ainda estávamos mortos em transgressões — pela graça vocês são salvos".

Repare no que Paulo diz Deus ama os eleitos mesmo quando estavam mortos em transgressões. (Em outras palavras, quando eles chafurdavam no pecado, antes de serem regenerados.) É responsabilidade de toda pessoa pesquisar as Escrituras e descobrir se ela é um filho amado de Deus, ou se ela se encontra entre aqueles que Deus escolheu odiar. Um se regozijará com a revelação de Deus, o outro endurecerá o coração contra a verdade.

Sepultar ou cremar: uma perspectiva cristã



Por David W. Jones

Com a falta de orientação moral explícita da Escritura, a cremação tornou-se uma opção crescentemente popular para crentes e descrentes contemporâneos. Apesar disso, para boa parte da história, a cremação tem sido evitada e desencorajada por quase toda a tradição judaico-cristã. Então, como desenvolvemos uma ética bíblica da cremação?

Gostaria de sugerir aos cristãos que comecem a abordar essa questão considerando três questões fundamentais para qualquer metodologia ética.

1. Quais normas morais se aplicam a essa situação?

Existem três referências momentâneas a cremação na Bíblia que vale a pena considerar (1 Sm 31.11-12; Amós 2.1-3; 6.8-11), mas, essas referências são em grande parte acidentais e não dão orientação moral explícita. Um apelo à lei moral conforme expressa no Decálogo pode ser útil, contudo, porque o oitavo mandamento aborda a administração material. A norma moral expressa é descrita negativamente como “Não furtarás” (Ex 20.15). No entanto, pode ser descrita positivamente como “Respeite bens materiais” ou “Administre propriamente as posses materiais”. E administração não é sinônimo de moderação. Administrar significa tomar conta de algo corretamente, e assim a opção mais barata e mais fácil – geralmente cremação – não é necessariamente a mais moral.

Como mencionado mais cedo, a tradição judaico-cristã historicamente tem entendido o chamado bíblico para administração adequada de posses materiais ensinando que o sepultamento é o melhor jeito de lidar (ou administrar) o corpo de um falecido – independentemente de uma análise custo-benefício. Como o apóstolo João escreveu, “como é de uso entre os judeus na preparação para o sepulcro.” (João 19.40). Como exemplo, indivíduos importantes na Escritura que foram sepultados – não cremados – incluem-se: Raquel (Gn 35.19-20), José (Gn 50.25; Êx 13.19; Js 24.32), Arão (Dt 10.6), Moisés (Dt 34.5-8), Josué (Js 24.30), Samuel (1 Sm 25.1), Davi (1 Rs 2.10), João Batista (Mt 14.12), Lázaro (João 11.17-18), Estêvão (Atos 8.2), e, é claro, Jesus Cristo (João 19.38-42).

2. Qual método melhor demonstra o amor de Deus e o amor ao próximo?

A Escritura nos ensina que o amor a Deus e o amor pelos outros (mesmo os falecidos) é uma marca do caráter cristão (Jo 11.1-44). Então, qual método de funeral melhor demonstra o amor de Deus e ao próximo? Assumindo uma visão global dos seres humanos, o corpo do falecido deve ser respeitado e aqueles que escolhem o procedimento de funeral devem demonstrar amor ao próximo – incluindo a pessoa que faz planos para enterrar o seu próprio corpo. Dentre as doutrinas que formam e informam tal amor em relação a um cadáver – incluindo o nosso próprio – estão a dignidade do corpo humano e a ressurreição física futura.

A dignidade do corpo humano é apoiada por ensinamentos bíblicos como o “muito bom” (Gn 1.31) de Deus, o homem feito à imagem de Deus (Gn 1.26-27), a encarnação de Cristo (Hb 2.14), e a redenção do corpo humano (Rm 8.23). Do mesmo modo, a ressurreição física futura é ensinada em passagens como 1 Coríntios 15.35-49 e Filipenses 3.20-21. Note, também, que na Escritura cadáveres sepultados são referidos como pessoas – geralmente pelo nome – não como coisas ou pessoas extintas (Mc 15.45-46; Jo 11.43). Além disso, a palavra mais predominante usada no Novo Testamento para descrever a morte de um crente é “dormir”, um termo empregado por Jesus (Mt 9.24; Mc 5.39; Lc 8.52; Jo 11.11) e Paulo (1 Co 11.30; 15.6, 18, 20, 51; 2 Co 5.6-8; 1 Ts 4.13-16).

À vista dessas passagens, entendemos que o corpo é mais do que uma casca temporária habitada por um período. O “eu” real tem tanto componentes materiais quanto imateriais. De fato, o homem é um ser holístico com um corpo, alma, e espírito. Embora, na morte o corpo humano não mais hospede uma alma/espírito, mesmo assim o corpo precisa de respeito e dignidade. Assim como a alma/espírito é renovada na conversão (2 Co 5.17), o corpo físico também será renovado e reunido com a alma/espírito no fim dos tempos (1 João 3.2; Rm 8.23). Tal raciocínio começa a dar direção moral para a ética da cremação.

3. Qual método traria mais glória a Deus?

As principais opções disponíveis para a maioria são a cremação e sepultamento. Por uma variedade de razões, aqueles que encaram essa decisão devem se inclinar mais para uma opção ou a outra – mas raramente a glória de Deus é citada como justificativa. Em vez disso, as escolhas funerárias são geralmente baseadas em fatores proveitosos como despesa, preocupação ambiental, e facilidade de transporte, entre outras justificativas pragmáticas. De novo, a opção mais barata ou mais fácil não é sempre (ou mesmo geralmente) o caminho que traz mais glória a Deus.

Dos tempos bíblicos até metade do século XIX, a igreja estava praticamente unida na visão de que o sepultamento traz mais glória a Deus. Crentes têm fundamentado que o sepultamento reflete melhor a administração adequada do corpo e o valor divino do mundo material, retrata de forma mais visível a mensagem do evangelho, comunica de forma mais clara a esperança da ressurreição do corpo futuro, e expressa de forma mais nítida a promessa de uma existência física eterna. Certamente, nem todos vão concordar com essa posição, mas a igreja construiu essa visão em parâmetros bíblicos e teológicos (e não no dualismo platônico difundido no mundo bíblico). Na verdade, dado que a cremação era comum no mundo greco-romano, sabemos que a preferência consistente da igreja não reflete ética utilitária ou acomodação cultural. Em vez disso, sepultamento reflete uma cosmovisão judaico-cristã distinta.

Apesar da preferência histórica da igreja pelo sepultamento, nem todas as mortes permitem aos entes queridos uma oportunidade de escolher o método do funeral. Fatores como a localização e a maneira da morte, parâmetros legais específicos de uma nação, como também os recursos da família vão fundamentar práticas e decisões funerárias. No entanto, se há escolha, crentes contemporâneos abertos à cremação deveriam ser aconselhados a cuidadosamente considerar a prática e avaliá-la à luz da Palavra de Deus.
Afinal, dentro da tradição cristã, funerais não são simplesmente modos de descartar cadáveres, nem são sobre recordar falecidos ou expressar pesar. Em vez disso, para crentes, funerais devem ser eventos centrados em Cristo, testificando toda a mensagem e esperança do evangelho.