segunda-feira, 8 de abril de 2013

Quem escolhe? Deus ou nós?

Dois Caminhos
Por Tiago Vieira
Essa pergunta tem levantado acirrados debates teológicos. Somos nós que escolhemos ser salvos ou é Deus, em Sua soberania, que escolhe quem Ele quer? Será que todos tem oportunidade de salvação?
A princípio talvez sua resposta seja: "somos nós que escolhemos, afinal todos tem oportunidade". Mas será que é isso mesmo que a Bíblia ensina? Vamos analisar os textos bíblicos e depois você poderá responder com mais precisão.
A Bíblia não diz que Deus amou o mundo?
Sim, com certeza!
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”
João 3:16 RA
E amar o mundo não significa escolher todas as pessoas do mundo?
Não! Veja o que Jesus falou sobre Seus discípulos:
“Se vocês fossem do mundo, o mundo os amaria por vocês serem dele. Mas eu os escolhi entre as pessoas do mundo, e vocês não são mais dele. Por isso o mundo odeia vocês.”
João 15:19 NTLH
Então não somos nós que escolhemos a Deus? É Ele que nos escolhe?
Exatamente. Assim Ele diz:
“Não foram vocês que me escolheram; pelo contrário, fui eu que os escolhi para que vão e dêem fruto e que esse fruto não se perca.”
João 15:16a NTLH
Quando Ele nos escolheu?
Antes da criação do mundo.
"Antes da criação do mundo, Deus já nos havia escolhido para sermos dele por meio da nossa união com Cristo, a fim de pertencermos somente a Deus e nos apresentarmos diante dele sem culpa..."
Efésios 1:4 NTLH
Mesmo sendo Deus que nos escolheu, será que Ele não nos escolheu por que sabia das nossas obras futuras?
Não, pois a salvação não depende das nossas obras, mas sim do plano e da graça de Deus.
"Deus nos salvou e nos chamou para sermos o seu povo. Não foi por causa do que temos feito, mas porque este era o seu plano e por causa da sua graça. Ele nos deu essa graça por meio de Cristo Jesus, antes da criação do mundo."
2 Timóteo 1:9 NTLH
Tem algum exemplo na Escritura que mostre isso?
Sim, Jacó e Esaú são um bom exemplo de que Deus não leva em consideração as obras de ninguém na hora de escolher.
"Mas, para que a escolha de um deles fosse completamente de acordo com o plano de Deus, o próprio Deus disse a Rebeca: “O mais velho será dominado pelo mais moço.” Disse isso antes de eles nascerem e antes de fazerem qualquer coisa, boa ou má. Assim ficou confirmado que é de acordo com o seu plano que Deus escolhe aqueles que ele quer chamar, sem levar em conta o que eles tenham feito. Como dizem as Escrituras Sagradas: “Eu escolhi Jacó, mas rejeitei Esaú.”
Romanos 9:11 e 12 NTLH
Amar um e rejeitar outro antes de nascerem não é uma grande injustiça de Deus?
De modo nenhum. Veja:
"Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum! Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia."
Romanos 9:14-16
Que direito Deus tem pra agir assim?
O direito que o Criador tem sobre aquilo que Ele cria.
"Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra?"
Romanos 9:20 e 21
Mas por que Deus escolhe uns e não escolhe outros?
Porque quer mostrar o seu poder sobre os vasos da ira e também mostrar a sua glória nos vasos de misericórdia.
"E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para perdição, para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?"
Romanos 9:22-24 RC
Acho que Deus pode escolher pessoas para muitas coisas, mas não para a salvação. Onde a Bíblia diz que é escolha para a salvação?
Em várias passagens das Escrituras, veja um exemplo:
"Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade, para o que também vos chamou mediante o nosso evangelho, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo."
2 Tessalonicenses 2:13 e 14 RA
Será que não foi por que eu quis buscar a Deus que Ele me deu a salvação?
Não, pois o homem natural, afastado de Deus, nunca o busca. Como está escrito:
"Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só."
Romanos 3:10-12 RC
Sim, mas eu tive fé. A minha fé não veio antes da escolha de Deus?
Não! Primeiro é preciso que Deus escolha a pessoa, para que então ela tenha fé.
"Pois esta é a ordem que o Senhor Deus deu a nós, o seu povo: “Eu coloquei você como luz para os outros povos, a fim de que você leve a salvação ao mundo inteiro.” Quando os não-judeus ouviram isso, ficaram muito alegres e começaram a dizer que a palavra do Senhor era boa. E creram todos os que tinham sido escolhidos para ter a vida eterna."
Atos 13:47 e 48 NTLH
Mas a fé é minha ou é um dom de Deus?
A fé é um dom de Deus!
"Por causa da bondade de Deus para comigo, me chamando para ser apóstolo, eu digo a todos vocês que não se achem melhores do que realmente são. Pelo contrário, pensem com humildade a respeito de vocês mesmos, e cada um julgue a si mesmo conforme a fé que Deus lhe deu."
Romanos 12:3 NTLH
E o meu arrependimento?
Até o arrependimento tem que ser concedido por Deus.
"E ao servo do Senhor não convém contender, mas, sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se, porventura, Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em cuja vontade estão presos."
2 Timóteo 2:24-26 RC
Então ninguém pode ser salvo se Deus não permitir?
Exatamente. Foi isso que Jesus falou.
"E prosseguiu: Por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido."
João 6:65 RA
Há mais textos que falam isso?
Sim. Veja:
"Todos aqueles que o Pai me dá virão a mim; e de modo nenhum jogarei fora aqueles que vierem a mim. Pois eu desci do céu para fazer a vontade daquele que me enviou e não para fazer a minha própria vontade. E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum daqueles que o Pai me deu se perca, mas que eu ressuscite todos no último dia."
João 6: 37-39 NTLH
Então por que Jesus falou até por meio de parábolas? Não foi pra que todas as pessoas pudessem entender Sua mensagem?
Muito pelo contrário, Ele usou parábolas justamente para que os que não foram eleitos não entendam, não se arrependam e, conseqüentemente, não sejam perdoados.
"Jesus disse a eles: —A vocês Deus mostra o segredo do seu Reino. Mas para os que estão fora do Reino tudo é ensinado por meio de parábolas, para que olhem e não enxerguem nada e para que escutem e não entendam; se não, eles voltariam para Deus, e ele os perdoaria."
Marcos 4:11 e 12 NTLH
Eu nunca tinha visto as coisas dessa forma. Pode me mostrar mais textos que mostrem isso?
Sim. O apóstolo Paulo, após falar sobre o povo de Israel e mostrar que mesmo dentro do povo escolhido haviam escolhidos, fala sobre a época da igreja:
"A mesma coisa também acontece agora, isto é, por causa da graça de Deus, ainda existe um pequeno número daqueles que ele escolheu. Essa escolha se baseia na graça de Deus e não no que eles fizeram. Porque, se a escolha de Deus se baseasse no que as pessoas fazem, então a sua graça não seria a verdadeira graça. E isso quer dizer que não foi o povo de Israel que encontrou o que estava procurando. Quem encontrou foi apenas um pequeno grupo que Deus escolheu; os outros não quiseram ouvir o chamado de Deus. Como dizem as Escrituras Sagradas: 'Deus endureceu o coração e a mente deles; deu-lhes olhos que não podem ver e ouvidos que não podem ouvir até o dia de hoje.' "
Romanos 11:5-8 NTLH
Deus endurece o coração e a mente das pessoas?
Sim, Ele endurece o coração e a mente de quem quer quando isso é necessário para cumprir Seu plano.
"Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos, nem entendam com o coração, e se convertam, e sejam por mim curados."
João 12:40 RA
Pode mostrar algum exemplo disso na Bíblia?
Sim. Faraó é um bom exemplo de alguém que teve o coração endurecido por Deus.
"Porém o SENHOR endureceu o coração de Faraó, e não os ouviu, como o SENHOR tinha dito a Moisés."
Êxodo 9:12 RC
"Porque, como está escrito nas Escrituras Sagradas, Deus disse a Faraó: “Foi para isto mesmo que eu pus você como rei, para mostrar o meu poder e fazer com que o meu nome seja conhecido no mundo inteiro.” Portanto, Deus tem misericórdia de quem ele quer e endurece o coração de quem ele quer."
Romanos 9:17 e 18 NTLH
Tenho uma dúvida: Judas Iscariotes era um escolhido?
Não, Judas não era um escolhido. Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus fala que eles foram escolhidos, exceto Judas.
"Eu afirmo a vocês que isto é verdade: o empregado não é mais importante do que o patrão, e o mensageiro não é mais importante do que aquele que o enviou. Já que vocês conhecem esta verdade, serão felizes se a praticarem. —Não estou falando de vocês todos; eu conheço aqueles que escolhi. Pois tem de se cumprir o que as Escrituras Sagradas dizem: 'Aquele que toma refeições comigo se virou contra mim'. Digo isso a vocês agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vocês creiam que 'EU SOU QUEM SOU'."
João 13:16-19 NTLH
Pedro fala que Judas se desviou para ir para o seu próprio lugar.
“E, orando, disseram: Tu, Senhor, conhecedor do coração de todos, mostra qual destes dois tens escolhido, para que tome parte neste ministério e apostolado, de que Judas se desviou, para ir para o seu próprio lugar.”
Atos 1:24 e 25 RC
Isso quer dizer que algumas pessoas já estão predestinadas para a condenação?
Veja:
“Porque se introduziram furtivamente certos homens, que já desde há muito estavam destinados para este juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de nosso Deus, e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo.”
Judas 4 RC
Se é assim, então quer dizer que Deus criou essas pessoas para serem condenadas?
Exatamente.
“O Senhor fez tudo para um fim; sim, até o ímpio para o dia do mal.”
Provérbios 16:4 RC
Existem muitos escolhidos?
Jesus disse que não.
"Porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos."
Mateus 22:14 RC
E os escolhidos podem perder a salvação?
Não, pois ninguém pode arrebatar as ovelhas da mão de Jesus, e nada pode nos separar do amor de Deus, pois é Ele que nos justifica.
"As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar."
João 10:27-29 RA
"Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor."
Romanos 8:38 e 39 RA
"Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica."
Romanos 8:33 RA
Mas há pessoas que abandonaram a fé cristã. Elas não perderam a salvação?
Não, pois na verdade nunca foram salvas. A Bíblia diz que são como porcas que foram lavadas e voltaram para a lama. Jesus diz que nunca conheceu essas pessoas. Mesmo que tenham feito milagres, expulsado demônios e profetizado em Seu nome, nunca foram Dele.
"Portanto, aqueles que chegaram a conhecer o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo e que escaparam das imoralidades do mundo, mas depois foram agarrados e dominados por elas, ficam no fim em pior situação do que no começo. Pois teria sido muito melhor que eles nunca tivessem conhecido o caminho certo do que, depois de o conhecerem, voltarem atrás e se afastarem do mandamento sagrado que receberam. O que aconteceu a essas pessoas prova que são verdadeiros estes ditados: 'O cachorro volta ao seu próprio vômito' e 'A porca lavada volta a rolar na lama'."
2 Pedro 2:20-22 NTLH
"Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade."
Mateus 7:21-23 RA
E o que acontecerá com aqueles que morreram sem conhecer a Palavra de Deus?
Perecerão, pois a única forma de salvação é a fé em Cristo.
"Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados."
Romanos 2:12 RC
"Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim."
João 14:6 RA
"E em nenhum outro há salvação; porque debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, em que devamos ser salvos."
Atos 4:12 RA
Pode citar mais textos que falam sobre o assunto?
Sim. Aí estão:
"... havendo sido predestinados, conforme o propósito dAquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da Sua vontade; com o fim de sermos para louvor da Sua glória ..."
Efésios 1:11-12
"Sabendo, amados irmãos, que a vossa eleição é de Deus; porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder ... e vós fostes feitos nossos imitadores ..."
1 Tessalonicenses 1:4-6
"... tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus ..."
2 Timóteo 2:10
"... segundo a fé dos eleitos de Deus ..."
Tito 1:1
"Mas vós sois a geração escolhida ... o povo adquirido ..."
1 Pedro 2:9
"... vencerão os que estão com Ele, chamados, e eleitos, e fiéis."
Apocalipse 17:14
"Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste."
João 17:2
"Pois pela graça de Deus vocês são salvos por meio da fé. Isso não vem de vocês, mas é um presente dado por Deus. A salvação não é o resultado dos esforços de vocês; portanto, ninguém pode se orgulhar de tê-la."
Efésios 2:8 e 9
"... o qual, tendo chegado, aproveitou muito aos que pela graça criam."
Atos 18:27
"Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou."
Romanos 8:28-30

"Ouvindo isto, os discípulos ficaram grandemente maravilhados e disseram: Sendo assim, quem pode ser salvo? Jesus, fitando neles o olhar, disse-lhes: Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível".
Mateus 19:25 e 26
"Para ele, os seres humanos não têm nenhum valor; ele governa todos os anjos do céu e todos os moradores da terra. Não há ninguém que possa impedi-lo de fazer o que quer; não há ninguém que possa obrigá-lo a explicar o que faz.”
Daniel 4:35
“Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu sou o Senhor, que faço todas estas coisas.”
Isaías 45:7
"Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar."
Mateus 11:27
"Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade."
Filipenses 2:13
Nesse estudo aprendemos que é Deus quem nos escolhe, e nos escolhe entre as pessoas do mundo. Descobrimos que Ele opera em nós tanto o querer quanto o efetuar, que é poderoso para endurecer o coração de quem quer, e ter misericórdia de quem quer, pois, assim como um oleiro, Ele tem poder sobre o barro para, da mesma massa, fazer um vaso para honra e outro para desonra, segundo a Sua vontade.
Vimos também que a escolha foi feita antes da criação do mundo, e não levou em conta as nossas obras, nem boas nem más. Deus fez Sua escolha de acordo com o Seu plano. O homem natural não pode nem quer buscar a Deus, pois a própria fé é um dom de Deus, e o arrependimento tem que ser concedido por Ele.
Aqueles que o Pai deu a Jesus inevitavelmente irão a Ele, e os que vão a Ele jamais serão lançados fora. Os eleitos nunca perecerão, pois ninguém pode arrebatar as ovelhas da mão de Jesus e da mão do Pai.
Espero que você seja fortalecido na fé em saber que é de Deus que depende a nossa salvação, e que Ele merece todo o crédito e todo o mérito pela obra realizada em nós.
Glória somente a Deus!

deus, não é Deus















Por Jorge Fernandes Isah
Deus é Deus. Não importa o que eu pense, nem se penso. Ele continua Deus. Não importa o que eu faça, nem o que não faça. Ele é Deus. Não importa o que creia, nem o que não creia. Ele permanece, e sempre será Deus. É uma afirmação simplista? Sim. Mas nela está contida uma verdade absoluta: Deus não é outra coisa a não ser Deus. Ainda que eu me aventure a rotulá-lo ou redefini-lo, nada o fará deixar de ser o que é: “eu sou o que sou” [Ex 3.14].

Nem a fé, nem o ceticismo. Nem as boas obras, nem as más. Nem a morte, nem a vida. Nem o bem, nem o mal. Ou qualquer outra coisa que eu seja ou produza. Ainda que o universo não existisse, Deus é Deus. Imutável, Todo-Poderoso, Soberano, Perfeito, Justo e Santo.

Então se dirá: como sabe essas coisas? Como saber que Deus é Deus? Não dependerá daquilo que apreendo dEle, de como o vejo e me relaciono? Deus não depende de mim?

A verdade é que todas as criaturas têm um relacionamento com Deus. Seja a matéria ou a anti-matéria, seja o físico ou o espiritual, seja forma ou amorfa, viva ou morta, certa ou errada, possível ou impossível, verdadeira ou falsa. Tudo se relaciona com Deus, pois Ele é o criador de todas as coisas, e nada pode vir à existência sem que Ele determine que exista, nem mesmo os pensamentos, nem mesmo o que não pensamos; “porque todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” [Jo 1.3].

Ele não depende em nada de nós.

Até mesmo o que não existe se relaciona com Ele, pois por sua vontade não o trouxe a existência. Nada pode autoexistir ou surgir sem que Ele queira, pois seu plano é certo e infalível. Como está escrito: “Sabei que o Senhor é Deus; foi ele que nos fez, e não nós a nós mesmos” [Sl 100.3].

[Apenas como uma hipótese ou uma hipérbole, o não-relacionamento é uma forma de relacionamento].

Os réprobos relacionam-se com Deus, rejeitando-o, desprezando-o, blasfemando, opondo-se, pecando e cultivando a impiedade como afronta à Sua santidade. Não importa se consciente ou inconsciente, se voluntário ou involuntário, tencionando fazê-lo ou não, se por dolo ou distração, se livre ou obrigado, o fato é que todo pecado, e por conseguinte toda criatura, tem um relacionamento com o Criador: O Senhor olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos: não há quem faça o bem, não há sequer um” [Sl 14.3]. E isto vale também para satanás e seus anjos.

Ao final, todos têm um relacionamento com Deus, independente de se querer ou não; independe da vontade, pois tudo no universo está sujeito a Ele, contido e limitado pelo Seu poder: pois o Seu “reino é um reino eterno; o teu domínio dura em todas as gerações” [Sl 145.19]. Foi o que Paulo também disse: “Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração” [At 17.28].

A dependência seja em qual nível for revelará o tratamento que Deus dispensa e a forma como nos portamos diante dEle. Nada acontece por acaso, nem cairá no esquecimento, porque o “Senhor guarda a todos os que o amam; mas todos os ímpios serão destruídos” [Sl 145.20]; ainda que faça o sol se levantar sobre maus e bons, e a chuva descer sobre justos e injustos [Mt 5.45]. O que me leva a concluir que o Senhor tem um relacionamento pessoal com cada uma de Suas criaturas, tanto as eleitas como as réprobas, pois até mesmo estas cumprem o Seu propósito eterno, segundo os Seus desígnios, de criar “até o ímpio para o dia mal” [Pv 16.4].

Contudo o relacionamento ou dependência de Deus não significa conhecimento, saber quem Ele verdadeiramente é. Apenas aqueles que são predestinados e chamados para serem conforme a imagem de seu Filho, para que “ele seja o primogênito entre muitos irmãos” [Rm 28.29], podem conhecê-lo. Não digo reconhecê-lo por algumas particularidades, pelos indícios que a criação nos revela da Sua majestade, pela impossibilidade de haver o acaso e a aleatoriedade na vida, mas pelo que é, e nos revelou de Si mesmo.

Em linhas gerais, Deus se revelará apenas a quem quiser, pois não é um exercício do quanto podemos conhecê-lo, mas do quanto quer que saibamos. Ainda que não seja a essência do versículo, ele pode muito bem ser aplicado nesta situação: “assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que se compadece” [Rm 9.16]. Ele é misericordioso até mesmo em Se revelar, e isso é simplesmente fantástico: a forma como o Todo-Poderoso quis se mostrar. Porém se não for por Ele, não o será. Se não for pela regeneração da mente natural, o homem não o conhecerá. Se não for através da revelação especial, o que se apreende será apenas uma concepção incompleta, não elucidativa, errônea, ao ponto em que não passará de uma mera criação humana, transformando em lenda ou ficção o que é real e verdadeiro.

Estará evidenciada a incapacidade do homem, por si só, de conhecê-lo. E ela não poderá ser corrigida se não for pelas mãos de Deus. Se Ele não transformar o barro dando-lhe vida, o novo-nascimento, nada feito. “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus... Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo” [Jo 3.3, 7].

Pois os regenerados, as ovelhas, serão apartadas dos bodes; aquelas à direita, e estes à esquerda. Então o Senhor dirá aos que estiverem à sua direita: "Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo" [Mt 25.34]. E dirá também aos que estiverem à sua esquerda: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos" [Mt 25.41].

As ovelhas não são bodes, nem os bodes, ovelhas. E Cristo não os confunde; antes criou-os separados, com propósitos distintos, com o fim de ser glorificado; e naquele dia, todos verão a Sua obra concluida. E ela passa necessariamente pela regeneração dos pecadores, aqueles que receberam a Sua misericórdia e não nasceram do sangue, “nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” [Jo 1.13], o qual ordenou que assim fosse, antes da fundação dos séculos, para a nossa glória também. Porque o que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiu ao coração do homem, é o que Ele preparou e reservou aos que o amam. Revelando-as pelo seu Espírito; “porque ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus” [Rm 2.11].

Tais coisas são reveladas através da Bíblia Sagrada, a própria voz do Senhor falando aos nossos ouvidos. Mostrando-nos o que Ele é, o que somos, as promessas que nos são reservadas, na esperança de que se cumprirão infalivelmente, porque assim nos diz, e assim será. Como escrevi certa vez, não há silêncio nas Escrituras. Jamais Deus se calará àqueles que tiveram seus ouvidos abertos, a mente aberta, o coração de pedra transformado em carne; pois somente Ele é capaz de dar vida ao defunto, tirando-o das trevas e levando-o para a luz, Jesus Cristo, o qual "eu vi, e tenho testificado que este é o Filho de Deus"[Jo 1.34].

Porque Deus estará sempre a se revelar ao Seu povo, para que o conhecimento seja entre Pai e filhos, através do Unigênito, Cristo, em cujas mãos estão todas as coisas, e nas quais fomos entregues, porque ouvimos a Sua voz e Ele nos conhece, e nos deu a Sua vida para que jamais pereçamos, como ovelhas desgarradas levadas ao aprisco pelo Pastor [Jo 10.27-28].

Como está escrito: “Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido” [Jo 10.14].

Sem Cristo e o Evangelho, o conhecimento de Deus é impossível! E se tem apenas o deus que se quer, e no qual estupidamente se acredita.

E esse deus, não é Deus!

Santidade:Temporal ou Eterna?













Por Jorge Fernandes Isah

"Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" [Hb 12.14].

Primeiro, vamos definir a palavra santo, que quer dizer separado. Como Deus é santo, Ele é separado de toda a Sua criação. Existe a idéia errônea e antibíblica de que a criação é a extensão de Deus, como se tudo o que veio a existir pelo poder da Sua palavra fizesse parte dEle. Ora, esta visão é pagã, comumente chamada de panteísmo [grego: pan, "tudo", + theós, "deus"], a qual define ser Deus o todo, e o todo Deus; uma espécie de universalidade dos seres, onde o conjunto de todas as criaturas [materiais e espirituais], a sua totalidade, compõem a unidade de Deus. O problema desta doutrina é que a criação e o Criador se confundem e se fundem, assim como o infinito e o finito, o material e o espiritual, o que leva à idéia de que tanto um como o outro são autocriados ou podendo ser criados por outra força. Mas toda essa confusão é fruto de outra artimanha do maligno, sempre promovendo a mentira, o qual "não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira" [Jo 8.44]. A Bíblia nos revela o contrário: toda a criação, seja o bem e o mal, material e espiritual, está separada de Deus, não é uma "extensão" dEle, nem subsiste e vive nEle, mas é sustentada e sobrevive por Ele.

Bem diferente do sistema proclamado pelos pagãos, anacrônico à Bíblia: a criação existe, vive e se mantém pelo poder de Deus, segundo a Sua vontade, nada além disso.

De certa forma, o entendimento errado dos atributos divinos leva até mesmo cristãos a cogitarem inadvertidamente uma espécie de "panteísmo". A confusão está na incompreensão da doutrina da onipresença e onisciência, que diz não haver lugar no universo onde Deus não esteja; não que está a ocupar todo o espaço, visto estar fora dele, mas no sentido de que tudo o que acontece, seja onde for, encontra-se diante de Deus e é promovido por Ele; e de que também tem o conhecimento perfeito de tudo, em seus mínimos detalhes, e nada pode escapar à Sua infinita presença. Como o salmista diz: "Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também" [Sl 139.7-8]. O que a Escritura diz claramente é que Deus está em todos os lugares, não há recôndito que não alcance, o que é diametralmente oposto à idéia de que Ele é tudo, e tudo é Ele: "Porventura sou eu Deus de perto, diz o Senhor, e não também Deus de longe? Esconder-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? diz o Senhor. Porventura não encho eu os céus e a terra? diz o Senhor" [Jr 23.23-24].

Como Criador de todas as coisas, Ele conhece todo o processo exaustivamente, desde o nascimento até a morte, da existência à destruição, sendo que nada acontece sem que seja da Sua vontade ou alheio a ela, "porque o Senhor dos Exércitos o determinou; quem o invalidará? E a sua mão está estendida; quem pois a fará voltar atrás?" [Is 14.27]. O esclarecimento é necessário para não se ter dúvidas de que Deus está separado da Sua criação, de que Ele não faz parte dela, mas está aparte dela; de que são coisas distintas, ainda que a criação seja completamente dependende de Deus e da Sua vontade, sem o que jamais existiria ou sobreviveria.

Então Deus é e está separado de toda a criação, ainda que ela seja consequência do Seu atributo de onipotência; porém como Deus é perfeito, puro e justo, é distinto da criação, que não possui a perfeição, a pureza e justiça divinas, sendo imperfeita, impura e injusta.

As obras de Deus não são Deus, ainda que existam por e para Deus, logo, pertencentes e sujeitas a Ele [tanto para nascer, viver ou morrer], sem que possam "contaminá-lO", antes é o Senhor quem as santifica ou não, segundo a Sua soberana vontade.

Por isso a Bíblia afirma que todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus [Rm 3.23]. Há uma separação natural entre o Criador e as criaturas em virtude de suas naturezas distintas, agravada pelo pecado [que torna as criaturas ainda mais distantes do Senhor], sendo que, do ponto de vista temporal, Deus se aproximará daquelas que foram salvas eternamente por Cristo, e jamais se achegará àquelas eternamente destinadas à perdição.

Do ponto de vista atemporal, Deus sempre estará próximo do eleito, mesmo que, no tempo, ele ainda não seja convertido; pois a salvação aconteceu no tempo, mas foi decretada na eternidade. Graças a Ele, Cristo, o Cordeiro sem pecado, o qual morreu na cruz e ressuscitou para que os eleitos, diante de Deus, estivessem mais alvos e mais brancos do que a neve [Sl 51.7], sem nenhuma mácula, santos como santo é o nosso Deus, "porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo" [1Pe 1.16].

No tempo, a santidade se inicia na regeneração que o Espírito Santo opera em nós, como a boa obra de Deus iniciada e que atingirá o ápice na eternidade [Fp 1.6], quando o nosso corpo corruptível se transformar em incorruptível, e formos semelhantes a Cristo nosso Senhor [1Co 15.52-53]; quando não haverá mais morte, nem pecado. Ele operará a santidade através da incorruptível "palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre" [1Pe 1.23]. Portanto, o ser santo é algo inalcançável para o homem, somente o Senhor é quem pode torná-lo e fazê-lo separado do mundo, e ligado a Ele; tirados do meio da Sua criação, de entre as criaturas corruptíveis, tornando-o filho adotivo em Cristo, e assim será mantido pelo Seu poder e graça.

Eternamente, já somos salvos antes da fundação do mundo, muito antes do nascimento e queda do primeiro homem, pois o decreto divino estabeleceu que os eleitos, em número certo e definido, seriam tantos quanto Deus escolheu, conheceu e predestinou para serem conforme a imagem de Cristo [Rm 8.29]. Desta forma todos os eleitos [mesmo os que ainda não foram regenerados no tempo] já são salvos e santos. Pode parecer estranho que um homem em pecado, irregenerado, tenha comunhão com Deus. A Bíblia diz que o Senhor abomina o pecado. Porém, como o Espírito Santo faria uma obra de regeneração em um pecador? Haveria como Deus ter comunhão com o ímpio? Segundo as Escrituras, não! A pergunta é: em que ponto o homem deixa de ser ímpio? Como é possível ao homem sair da esfera pecaminosa para a santa? Teríamos de concordar com os arminianos de que somente após escolher a Deus o homem poderá ter comunhão com Ele. Ou seja, a decisão humana o santifica ao ponto de ser capaz de reconhecer em Cristo o seu salvador, e então, somente então, ter o privilégio de comunhão com Deus. O que remeteria os méritos da regeneração ao homem, não a Deus. Mas há uma profusão de textos bíblicos que desmentem essa hipótese. Paulo diz: "Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus.Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só" [Rm 3.10-12].

O dilema persiste: o homem não pode se tornar santo nem Deus ter comunhão com o pecador. Logo, Deus, que está fora do tempo, já nos tem como santos, porque fomos santificados eternamente. Ao promulgar o decreto eterno, sendo o Senhor imutável, e de que toda a Sua vontade se realizará infalivelmente, "pois nenhum dos teus propósitos pode ser impedido" [Jó 42.2], mesmo sem ainda existir, o eleito já está salvo, já é santo. A vontade e decisão em eleger um povo para Si não aconteceu no tempo, mas muito antes dEle criar o tempo. Também escolheu que o processo ocorresse no tempo e, por nossas limitações, tomássemos consciência da pecaminosidade natural, do estado degradante, da morte iminente e incontestável, caso não tivesse nos escolhido. Pois a santidade divina é que nos impede de permanecer no pecado, transformando pecadores em santos aos nossos olhos, mas aos Seus olhos já fomos santificados pelo sacrifício de Cristo, muito antes do Senhor morrer na cruz.

A questão é de perspectiva: quando olhamos para nós mesmos, não temos a visão do resultado [ainda que a Bíblia nos revele o fim de todo eleito: a eternidade diante de Deus]. O fato de estarmos no tempo revelará um encadeamento de situações, as quais serão reveladas progressivamente, indicando o estado de regeneração ou de corrupção. Mesmo assim, para muitos, será impossível conhecer o real estágio em que se encontram, e o fim que os aguarda; apenas no dia do Juízo tomarão conhecimento de que estavam mortos, e permanecerão mortos. Ao passo que, para o Senhor, não somente os fatos, mas todo o fim já é do Seu conhecimento. Como tudo ocorrerá segundo o Seu desejo, seguindo rigorosamente o decreto eterno em que todos os detalhes foram determinados, Deus conhece os Seus escolhidos, e já os tem por certo como Seus. Ou seja, para nós, é um processo; para Deus, já está tudo consumado.

Certo é que somos nós a alcançar a santidade [não é Deus quem a alcança por nós; já que Ele é e sempre foi santo, e não precisa alcançar nada, pois é e sempre foi o perfeito Senhor do universo]. Deus nos capacita, nos habilita e transforma para sermos santos, constituindo-nos o corpo do Seu Filho Amado, o qual é a cabeça. E assim seremos um com todos os escolhidos, os quais são justificados exclusivamente por Deus. A obra é dEle, mas nós é que somos feitos santos e mantidos santificados. Assim, devemos sempre buscá-la, clamar ao Senhor que nos transforme a cada dia, para que a boa obra seja concluída naquele dia.

E, ao fim, como o próprio Senhor disse, seremos um com Ele, assim como o Pai é um com o Filho [Jo 17.21]; separados para Ele, por intermédio dEle, para a Sua glória; definitivamente afastados do pecado, da morte, da corrupção e do mal; o que não é panteísmo, mas Cristianismo bíblico, por que as criaturas destinadas à perdição estarão irremediavelmente separadas de Deus na eternidade, ao contrário de nós.

Alerta: nada do que disse seja mal-interpretado; a santidade é uma obra completa de Deus nos eleitos, mas se o homem não é santo, e despreza a santidade, não é eleito, nem "verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece" [Jo 3.36].

Cristo não é Senhor dos que correm, mas dos quais se compadece

Por Jorge Fernandes Isah
Há um trecho na Escritura que sempre me comoveu desde que o li, a primeira vez, logo após a minha conversão. As palavras de Jesus soavam duras demais para os meus ouvidos sensíveis e pouco acostumados com a verdade; e não considerava o caráter justo de Deus, muito menos a sua obra como eficaz, na qual ele veria o fruto do seu trabalho e se satisfaria; o que vale dizer que Cristo considerou a sua obra concluída, acabada e não por terminar, como querem alguns, ainda que inconscientemente [Is 53.11].

A maioria utiliza-no em seu caráter santificador, com perguntas do tipo: Você conhece Jesus?... Você obedece a Deus?... O seu entendimento sobre Cristo é apenas cognitivo?... Quando vai conhecê-lo em seu coração? Ou afirmações parecidas com: Você tem de viver o Evangelho... Não basta crer, pois até os demônios crêem... O seu relacionamento tem de ser pessoal com Deus. E por aí afora...[1]

Não estou dizendo que as perguntas e as afirmativas estão erradas, mas elas falham em compreender algo fundamental e que tem sido relegado a um ponto senão obscuro, ininteligível, para nós; e toda vez que o trecho é comentado ou usado, emprega-mo-lo como se destinado exclusivamente para fariseus, hereges e ímpios; porém há algo muito mais fantástico em sua sentença, algo que me emociona sobremaneira, hoje mais que ontem: o esforço pessoal é irrelevante para Deus, pois importa-lhe tão somente os eleitos, aqueles que escolheu por sua vontade. E ponto final.

Estou a defender o antinomismo? De forma alguma! Acontece que a lei não é objeto de salvação, mas o salvo tem prazer em cumpri-la[2]. Enquanto, para o ímpio, resta obedecer-lha, em seu caráter temporal, para não ser punido, sem que haja qualquer prazer em sujeitar-se. E nem mesmo a lei é o que separa eleitos de réprobos, salvos de condenados, mas a eleição eficaz de Deus, a qual determinou a condição de cada um dos seres humanos; como está escrito: E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo... Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” [Mt 25.33, 34, 41]. Os santos não foram incluídos no Reino por um sistema de recompensa, como uma “bonificação” aos obedientes, um prêmio aos que se mantêm fiéis a Deus; mas o Reino foi criado para os eleitos, os santos, antes da fundação do mundo, como o lugar onde todos os escolhidos reinarão “com toda a sorte de bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” [Ef 1.3]. Por isso, ele nos elegeu antes da Criação, para sermos “santos e irrepreensíveis diante dele em amor” [Ef 1.4]; e “nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado” [Ef 1.5-6].

A ação divina não é passiva, do tipo, Deus viu que o homem se salvaria, se santificaria, se esforçaria em entrar no Reino, aceitaria-no e, então, somente então, Deus o predestinaria e o elegeria. Mas que eleição é essa onde o eleito é quem se auto-predestina? Onde o escolhido se auto-escolhe e impõe a sua escolha por seus próprios méritos para aquele que o predestinou? O que vem primeiro, a predestinação ou o esforço do eleito em satisfazê-la, e por isso, ser predestinado? Seria o mesmo que dizer que alguém se afogou antes de entrar na água. A predestinação, por mais que se queira distorcer o seu sentido, tem somente uma definição, de acordo com o Priberam:

predestinar - (latim praedestino, -are)
v. tr.
1. Eleger desde a eternidade (ex.: afirmou que Deus predestina os justos).
2. Destinar para grandes coisas ou para determinado fim. = eleger
3. Destinar com antecedência


Ora, predestinar é claramente a atitude de destinar antecipadamente, de previamente decidir, e não o ato de antever o que irá acontecer e então determinar que aconteça. E, então, fica a pergunta: quem garantiu que o evento aconteceria? Deus? O homem? O acaso? Forças impessoais? Ou a cooperação mútua dessas forças? O que não entendo é: se Deus viu o que iria acontecer, como algo certo, visto tê-lo previsto, por que o determinaria já que o fato é, em si mesmo, exequível em sua realização, e não dependeu da sua vontade ou decisão para ser observado? Pelo contrário, o fato previsto seria soberanamente livre, impedindo que Deus agisse para mudá-lo, ainda que não fosse do seu agrado. Isso não levaria à conclusão de que esse "Deus" antes de ser pessoal é um "Deus" impessoal? E a presdestinação, assim como a eleição, não passaria de uma piada sem graça, um xiste, que tornaria esse "Deus" num mero espectador, a endossar obrigatoriamente até mesmo o que lhe contrariaria? Em outras palavras, a sua soberania seria uma lenda, e tudo, desde a Criação, teria de ter outra explicação; tudo, na verdade, não poderia vir da vontade desse "Deus", mas de outra força, pois o que ele faz é consentir que cada evento ocorra como visto, e a sua vontade seja adequada a cada evento de tal forma que eles permaneçam imutáveis. A vontade dele se subordinaria à inexorável realização do ato antevisto. Por todos os lados, o que temos aqui não é o Deus bíblico, mas um "Deus" impotente, escravo da visão; um "Deus" transitivo quando a revelação nos apresenta o Deus intransitivo, completo e perfeito em si mesmo. Contudo, estou saindo do foco desta postagem, ainda que este seja um elemento pertinente a ela...

Voltando à vaca-fria, do ponto de vista humano, seria possível se equilibrar em uma corda-bamba, sem pára-quedas, dez mil pés de altitude, com ar rarefeito, rajadas fortes de vento, chuvas, gelo, e a gravidade puxando-o incontinênti para baixo?[3]. Como manter-se assim, por si só? Quais forças o sustentariam, impedindo-o de despencar em queda-livre? De ser tragado no espaço? Essa é a condição do homem diante do pecado e da condenação; fatalmente será sugado por eles, destruído, se Deus não agir ativamente, em todo o processo, sustentando-o na corda-bamba. Na verdade, ele nos tirou dela, e nos colocou são e salvos no chão, em terra firme, enquanto quem tomou o nosso lugar foi Cristo. E os ímpios? Os que não se esborracharam ainda no chão? Estão precipitados no ar, a espera de juntarem-se aos corpos estatelados no abismo.

Mas, esse não é o trecho em questão, que me comoveu nos últimos anos. Então, qual é?

“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” [Mt 7.21]

Bem, a exigência de obediência está evidente, não é? Claro! Somente entrarão nos céus aqueles que fazem a vontade do Pai, certo? Sim. Então, onde está o problema apontado por você? De haver uma leve distorção nesse ensino? Respondendo a mim mesmo, pergunto: quem faz a vontade do Pai? Alguém, entre nós, é capaz disso? Há de se entender que a vontade divina não é uma parte, nem fração ou divisão. Não são peças de um quebra-cabeças que se vai montando; ela é pronta e acabada, não restando o que pôr ou retirar. O Senhor referiu-se a ela como “a vontade”, única, inseparável, não-repartida. Assim, quem se habilita ao Reino dos céus?

Seguindo o esquema soteriológico vigente no presente século, Cristo morreu por todos, e cabe a cada um dentre todos, alcançá-lo por seus próprios meios, como um feito, uma obra pessoal. Segundo esse mesmo sistema, o homem pode conseguir salvar-se mas pode perder-se novamente ao falhar em cumprir a vontade do Pai. Mas não bastaria uma falha para tudo ir por água abaixo? Ou seja, mesmo que Cristo tenha morrido por todos, é possível que ninguém seja salvo, pois o princípio da obediência é a vontade divina como um todo, completa, não uma partícula, não uma seção; visto a salvação vir pela fé em Cristo, mas a fé não ser suficiente, pois se tem de, ainda que seja no ato inicial, alcançá-la pelo esforço individual de aceitar aquilo que está sendo proposto.

O arrependimento não justifica o erro, nem pode anulá-lo. O arrependimento é o agradecimento por, ainda que errando, Deus nos haver perdoado; é o reconhecimento daquilo que fez ao anular a dívida que tínhamos, pelo sacrifício de Cristo na cruz. O arrependimento não pode nos livrar da condenação, por isso, Judas permaneceu condenado em seus pecados, mesmo reconhecendo seus erros. Uma dívida não pode ser paga a menos que seja quitada. Como não nos foi possível remi-la, Jesus tomou o nosso lugar e, "havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz" [Cl 2.14]; perdoando-nos todas as ofensas. Elas foram pagas de uma só vez, pela obediência completa do Filho de Deus, não sendo possível imputar a quem foi perdoado nova condenação. No tribunal de Cristo não há recursos nem apelações, dívida paga, dívida quitada, não há débitos, nem a possibilidade de serem reavidos, cobrados e pagos outra vez. Por isso, Paulo diz que é impossível ao salvo recair e ser novamente renovado para o arrependimento; se tal coisa acontecesse, "de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério" [Hb 6.6].

Voltando ao exemplo do homem em queda-livre, sem pára-quedas, o que pode ele fazer além de esperar por um milagre? Nada. É o caso do homem em relação à sua salvação. Não lhe resta nada a fazer, pois o que foi feito por Cristo é plenamente eficaz, de tal forma que nenhum acréscimo é-lhe permitido, sendo perfeito, e ao perfeito não se adiciona coisa alguma. Porque ele, e somente ele, foi capaz de satisfazer toda a vontade do Pai; de obedecê-la integralmente, sem falhas nem tropeços, equilibrando-se na corda-bamba de ponta a ponta, dominando-se a si mesmo sem inclinar-se para um lado ou outro do abismo. Por isso, tem a autoridade para responder aos réprobos: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade” [Mt 7.22-23].

Há alguns aspectos a serem abordados aqui:
1) Ímpios podem ser usados por Deus para fazerem a sua obra, segundo a sua vontade, já que também são servos, como tudo o que foi criado está-lhe sujeito e a servi-lo. Portanto, haverá nessa lista de “desconhecidos do Senhor”, pastores, missionários, teólogos, e mesmo pessoas que, aos olhos humanos e carnais, eram irrepreensíveis, assim como Paulo era entre os judeus [Fp 3.6].
2) Eles podem fazer muitas coisas, como: profetizar, expulsar demônios e outras maravilhas, mas isso não lhes assegurará a participação no Reino; evidência de que, como disse no início deste texto, Deus não se importa com o nosso esforço pessoal, o qual nada vale se não for como conseqüência dele nos conhecer, predestinar, chamar, justificar e glorificar; verbos que guardam em si ações diretas, ativas de Deus na vida daqueles que destinou a “serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” [Rm 8.29].
3) A despeito de tudo o que fizeram, em nome de Cristo, ele lhes dirá abertamente: “Nunca vos conheci”. Essa afirmação guarda um tesouro, não para os desconhecidos, mas para os conhecidos. Dirão alguns que isso é a prova da presciência, da antevisão divina, assim como um vidente vê o futuro, apenas e tão somente, sem poder intervir nele. A palavra “conheci” procede do grego ginosko[4] indicando “ter a ver com”, “conhecer pessoalmente”. Cristo quis dizer que “não tinha nada a ver com aqueles homens”, “que nunca teve nada a ver com eles”, “que os desconhecia”, por isso deviam apartar-se dele. Fica a pergunta: se Cristo morreu por eles, como era possível que não os conhecesse e tivesse um conhecimento pessoal? Em contrapartida, aqueles que “conhece”, têm tudo a ver consigo, são-lhe íntimos, têm uma relação estreita, ao ponto do Pai vê-los por intermédio do Filho, que satisfaz a sua vontade. E a satisfez plenamente na cruz, ao morrer por aqueles que o Pai lhe deu, os quais jamais se perderão e sairão das suas mãos. Cristo morreu por suas ovelhas apenas, não por todas, e ele mesmo se encarregou de agregar as que ainda não estavam em seu aprisco... e elas ouvirão a sua voz, “e haverá um rebanho e um Pastor” [Jo 10.16]. Por isso, Cristo ainda diz: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós... Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” [Jo 15.16, 17.9].

A relação aqui é de posse; somos de Cristo, assim como somos do Pai, o mundo não é de Cristo, no sentido específico da salvação, do ato expiatório do Senhor ser objetivado aos eleitos, e não à humanidade genericamente. Somos de Cristo, pois, por nós, morreu, resgatando-nos com o seu próprio sangue [At 20.28]. A segurança do eleito está nele, o qual nos conhece, e destinou-nos infalivelmente a que o conhecêssemos. Em outras palavras, Cristo nos conhece, e não há a menor chance daqueles que conhece não o conhecê-lo. Por isso, além de revelar a qualidade moral da obediência [no que todos os cristãos concordam], a qual é o padrão para fazer parte do Reino, incontestavelmente o trecho da Escritura reivindica a salvação e a reprovaçao como escolhas diretas de Deus sobre os homens, adquirindo o sentido exato de que a verdade comunicada é esta: “assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que se compadece... Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer” [Rm 9.16, 18].

O que o Paulo quer dizer com isso? Você curou? Ótimo, mas não confie na cura que fez... Profetizou? Não confie em sua profecia... Expulsou demônios? Isso não lhe garante nada... Fez milagres? Cuidado!.. Fez maravilhas? E daí?... Se Deus falou por intermédio de uma jumenta, e usou ímpios como Ciro, Balaão e Judas para realizarem feitos muito maiores do que esses; por que não pode usá-lo? E, mesmo assim, nem o animal ou aqueles homens foram salvos, antes foram condenados, “para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama” [Rm 9.11]. Logo, o que impede Deus de usá-lo na pregação, no evangelismo, no sustento ministerial, e ainda assim condená-lo?

Para concluir, mais duas colocações:

Primeira, como já disse, não estou defendendo nenhum conceito antinomiano, nem de que as exortações da Bíblia para que busquemos a Deus, obedeça-mo-lo, e sejamos santos como ele é santo, são inúteis e incapazes de serem cumpridas. Nada disso! A obediência não é um salvo-conduto para se ingressar no Reino, pelo contrário, se não houver o chamado divino, e Deus não o capacitar a realizar esses e outros feitos para a sua glória, nem mesmo a maior de todas as maravilhas o impedirá de ir para o inferno. Servir a Deus e ser-lhe obediente são consequências e não causas da salvação. O eleito, após a regeneração, deverá buscar, se esforçar, e lutar para, dia após dia, ser transformado à imagem de Cristo, não como algo intrínseco à sua natureza, mas como dádiva do Senhor pela qual somos, nos movemos e existimos. Em outras palavras, se o eleito busca, se esforça e luta para ser como o seu Senhor, é porque Deus opera nele até mesmo nos pensamentos e desejos menos evidenciáveis, de tal forma que se cumpra a promessa de Deus tê-lo elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade... para alcançar a glória de nosso Senhor Jesus Cristo [2Ts 2.13-14].

Segunda, o entendimento da soberania de Deus não é algo que pode ser mudado conforme a nossa conveniência. Algo que sempre me trouxe paz é saber que, mesmo numa eventual não-eleição [como uma hipótese], e sendo condenado ao fogo do inferno, eu daria glória a Deus, bendiria-o, e declararia a todos a sua santidade, perfeição, justiça, mesmo em meio as labaredas eternas, pois a sua vontade irretocável cumprir-se-ia soberanamente.

Com isso, não estou a duvidar da minha salvação e eleição, mas reconhecer que o Senhor permanece o que é e sempre foi, que a sua natureza não pode ser abalada em nenhum aspecto, ainda que o inferno fosse o meu destino. Não está errado reconhecer a justiça e perfeição divinas por nos salvar; mas o fato de não ser salvo, e estar destinado à condenação, não o tornaria injusto, mau ou tirano. Por ser essa a sua vontade e, portanto, santa e perfeita.
Fazendo uma analogia, utilizando-me de um trecho do livro de Jó, Deus permanece Deus a despeito da minha condição e situação, pois "nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor" [Jó 2.21].