terça-feira, 16 de abril de 2013

As jumentinhas de Balaão

Por Hélio

Houve um tempo (não tão antigo assim) em que os jornais raramente davam notícias sobre os evangélicos (então chamados de "protestantes") e, quando o faziam, geralmente eram apenas informações neutras ou positivas sobre algum trabalho evangelístico ou social que eles desenvolviam. Hoje, infelizmente, parece que as notícias sobre "evangélicos" correspondem a uma subseção das páginas policiais. Frequentam-nas autoproclamados "apóstolos", "bispos" e "pastores" dos mais variados matizes. A Folha de S. Paulo informa na edição de hoje (disponível na Folha Online), que a Justiça aceitou denúncia do Ministério Público, e abriu ação penal contra Edir Macedo e mais nove integrantes da cúpula da Igreja Universal, por movimentação financeira suspeita de R$ 4 bilhões no período de 2003 a 2008. Parece que todas as suspeitas que envolvem a organização em questão serão investigadas pelo Poder Judiciário, com amplo direito de defesa obviamente.

Este novo escândalo se soma a outros tantos perpetrados por igrejas que se dizem evangélicas, como o caso do apóstolo e da bispa da Igreja Renascer. Em casos como esses, os líderes investigados rapidamente tentam levantar uma nuvem de poeira para desviar a atenção, dizendo-se perseguidos porque estão pregando o evangelho. Ainda que outras tantas igrejas evangélicas se sintam animadas a levantar os seus membros em defesa de uma suposta fraternidade cristã, o fato é que muitos crentes viram apenas massa de manobra nas mãos de seus líderes, que assim agem - não raras vezes - na base da troca de favores e esconderijos com os outros que estão na berlinda. Tudo isso estimula uma verdadeira briga de torcidas organizadas na saída do estádio, como parece que muitas igrejas se tornaram, associações de fãs (com alguns fanáticos incluídos no pacote). É tudo na base do "eles contra nós", "nós contra eles", sendo que não fica muito claro quem é que são "eles" nem quem somos "nós". Afinal, o diabo tem as costas largas, e é fácil jogar a culpa nele por todas as mazelas e escândalos que caem repetidamente sobre as costas dos iluminados de plantão. Assim, a igreja evangélica brasileira, genericamente considerada, se movimenta num ridículo comportamento de manada, em que a grande vítima pisoteada é o evangelho puro e simples de Jesus Cristo.

Confesso que, quando essas igrejas neopentecostais surgiram e se consolidaram no decorrer das décadas de 70, 80 e 90, embora já houvesse muitas denúncias sobre suas práticas - no mínimo - esdrúxulas, eu mantinha um pé atrás antes de criticá-las, movido pela advertência de Jesus aos seus discípulos quando estes se preocupavam com um homem que expulsava demônios em nome do Mestre, que lhes respondeu: "Quem não é contra nós, é por nós" (Marcos 9:40). Eu imaginava que eles não eram contra nós. Não queria generalizar este "eles" e "nós", tão comum nas torcidas organizadas atuais. Hoje, passadas as décadas, eu chego a conclusão de que eles são sim contra nós, não porque nós temos qualidades maravilhosas, mas eles são contra o evangelho simples da mensagem da cruz e da salvação que há em Cristo, que é o que existe de mais precioso em nossas vidas. Como o volume financeiro acima descrito fala por si só, essas igrejas estão muito mais preocupadas com algo também precioso: ELE, o dinheiro que amealham dos incautos que caem em suas redes. Tanto que uma observação rápida de suas pregações televisivas mostra que eles raramente falam do nome de Jesus, como se tivessem vergonha de citá-lo. Falam genericamente de um "deus" que não sabemos se tem "D" maiúsculo, que cobre de bens todos aqueles que entregam seu dinheiro a eles. Por essas e outras razões, não vejo mais como enquadrá-los no versículo acima, já que desprezam a graça de Deus e são manifestamente contra o verdadeiro evangelho de Cristo e contra nós, que compomos o Corpo de Cristo universalmente reunido, independentemente da denominação cristã em que estão.

Talvez alguém possa objetar que pessoas se convertem nessas igrejas. Eu também não tenho dúvidas disso, porque já vi pessoas se convertendo nos lugares mais improváveis, inclusive estudando com seguidores de religiões que nada tinham de cristãs, mas que nelas despertaram o interesse pelo Deus verdadeiro. Afinal, "buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração" (Jeremias 29:13). Outra objeção que pode ser levantada contra a minha percepção da situação, é a de que, ainda que maneira meio capenga, fragmentos do evangelho são pregados nessas igrejas. Refuto esta opinião recorrendo à jumentinha de Balaão (Números 22), grande pregadora daqueles tempos. Muitos séculos depois, ao entrar triunfalmente em Jerusalém, também montado num jumentinho, sendo criticado pelos fariseus quanto ao barulho que o povo fazia, Jesus lhes disse que se eles se calassem, até as pedras clamariam (Lucas 19:40). Ora, Se Deus falou através de uma jumenta, Ele pode falar através de quem (ou do que) Ele quiser, logo a crítica não procede. Portanto, não tenho dúvidas de que pessoas honestas e corretas podem se converter nessas igrejas. Só tenho uma dúvida cruel quanto a isso: depois de realmente convertidas, elas continuam lá?

O homem, esse desconhecido



Por Rev. Hernandes Dias Lopes
Alex Carrell escreveu um livro com este título, “o homem, esse desconhecido”. O homem conhece o mundo ao seu redor, mas não conhece a si mesmo. Explora o espaço sideral, mas não viaja pelos labirintos da sua alma. Investiga os segredos da ciência, mas não ausculta seu próprio coração. A pergunta do salmista ainda ecoa nos nossos ouvidos: “Que é o homem?” (Sl 8.4). As respostas foram muitas: “O homem é um bípede depenado”; “o homem é a medida de todas as coisas”; “o homem é um caniço agitado pelo vento”. O rei Davi, respondeu a essa pergunta de forma magistral: “Fizeste-o [...] por um pouco menor do que Deus, e de glória e de honra o coroaste. Deste-lhe domínio sobre as obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste” (Sl 8.5,6). O homem foi criado por Deus e criado para ser o gestor da criação. A origem do homem está ancorada em Deus e seu propósito é ser co-regente de Deus, como mordomo da criação. Destacamos, aqui três verdades sublimes acerca do homem.
1. O homem é a imagem de Deus criada. O homem não veio à existência por geração espontânea nem por um processo evolutivo de milhões e milhões de anos. Nossa origem não está ligada aos símios; nossa gênese está ligada a Deus. Fomos criados por ele e somos à semelhança dele. O homem é a coroa da criação de Deus. Foi criado um pouco menor do que Deus e coroado de glória e honra. Somos um ser físico e espiritual. Temos um corpo e uma alma. Podemos amar a Deus e adorá-lo. Podemos conhecê-lo e responder ao seu amor. Nenhum outro ser tem essa característica. Os anjos são espíritos, mas não tem corpos. Os animais têm corpos, mas não têm espírito. Temos corpo e espírito. Somos a imagem de Deus criada.
2. O homem é a imagem de Deus deformada. O pecado entrou na história humana com a queda dos nossos primeiros pais. O pecado atingiu todo o nosso ser, corpo e alma; razão, emoção e vontade. O pecado não destruiu à imagem de Deus em nós, mas a deformou. Agora, não podemos ver, com diáfana clareza, a imagem de Deus no homem, pois o pecado a desfigurou. Somos como uma poça de água turva. A lua com toda a sua beleza ainda está refletindo, mas não conseguimos ver essa imagem refletida; não porque a lua não esteja brilhando, mas porque a água está suja. A corrupção do pecado atingiu todos os homens e o homem todo. Todos os homens pecaram e o homem é todo pecado. Não há parte sã em sua carne. Tudo foi contaminado pela mancha do pecado.
3. O homem é a imagem de Deus restaurada. O homem criado e caído, é agora restaurado. Essa restauração, porém, não é autoproduzida. Ela não vem do próprio homem, vem de Deus. É Deus mesmo quem tomou a iniciativa de restaurar sua imagem em nós. E como Deus fez isso? Enviando seu Filho ao mundo! Ele é a imagem expressa e exata de Deus. Nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade. Jesus veio ao mundo para nos trasladar do império das trevas para o reino da luz. Ele veio para nos tirar do calabouço da escravidão para a liberdade. Ele veio para nos arrancar das entranhas da morte para a vida. Em Cristo temos perdão, redenção e restauração. Por meio de Cristo somos feitos filhos de Deus e herdeiros de Deus. A imagem de Deus criada e, deformada pelo pecado, é restaurada por Cristo. Pela operação da graça, nascemos de novo, nascemos de cima, nascemos do Espírito e somos co-participantes da natureza divina. A glória e a honra perdidas na queda são agora restauradas na redenção!

Adoradores, sim, mas incrédulos!


 
Por Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho
“Assim diz o SENHOR: Apresenta-te no pátio da casa do SENHOR e diz aos habitantes das cidades que vêm adorar na casa do SENHOR, todas as palavras que te mando que lhes fales; não omitas uma só palavra. Pode ser que ouçam e se convertam do seu mau caminho, para que desista do mal que planejo fazer-lhes por causa da maldade de suas ações” – Jeremias 26.2-3 (Almeida Século 21).
 
Palavra dura, mas bem clara: eram adoradores, mas incrédulos. Quem vê a dimensão que o termo “adorador” tomou no cenário evangélico, pensa que io que de mais importante podemos fazer é cantar corinhos ingênuos, com cara de quem sofre crise de cálculo renal, isto é, fazendo ar de quem sente dor, franzindo testa, levantando mãos, revirando olhos. Isto é o cúmulo do status da espiritualidade evangélica: cantar letras fraquinhas em músicas capengas, com instrumentos banais, fazendo ar compungido.
 
Os contemporâneos de Jeremias iam ao templo para adorar, mas eram incrédulos. Jogo de cena, voz tremelicada, gestual, nada disso é relevante, mas sim se a pessoa é convertida. Os adoradores do tempo de Jeremias não eram.
 
Alguns me dirão que não devo duvidar da conversão de ninguém nem julgar ninguém. Devo e posso. Jesus autoriza: “Pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7.16). Tanta gente dá bordoada em pastores, por que não posso duvidar de adoradores que não mostram na vida o que cantam? Por que sou obrigado a concordar com a idéia, falsa por sinal, de que cantar é sinal de espiritualidade? Desde quando ser adorador (cantar no culto) é sinal de conversão? O sinal de conversão são os frutos de uma vida regenerada. Estou cansado de pregar em igrejas onde os menestréis adoradores não levam Bíblia e saem do templo na hora da pregação. Estou cansado de ver tanta adoração na igreja evangélica brasileira e não ver vida séria.
 
Estou chocado com a falta de espiritualidade dos evangélicos, apesar do excesso de adoradores. Eis um trecho do livro que estou preparando sobre o fruto do Espírito e onde cito o jornal inglês The Guardian:
 
Veja-se esta notícia, profundamente chocante, que veio na coluna do jornalista Cláudio Humberto, que é publicada em vários jornais brasileiros e na Internet, e que extrai do “Jornal de Brasília”: “CONTAGEM MACABRA - Criticando a crescente violência no Rio, o jornal inglês The Guardian acredita que ‘milhares vão morrer antes dos Jogos Olímpicos de 2016’. E fala de um novo tipo de bandidos: os traficantes evangélicos”. Aonde chegamos! Traficantes evangélicos? Como pode acontecer isto? Onde está aquele povo que tinha tanta preocupação com a conduta que excluía das igrejas quem fumasse um simples cigarro ou bebesse um copo de cerveja? Como chegamos a ter traficantes em nossas igrejas? Que evangelho está sendo pregado e que atraiu estas pessoas? Como alguém pode ter fé em Cristo (um evangélico, antigamente, era quem cria e seguia a Jesus) e ser traficante, arruinando vidas, vendendo morte, destruindo lares? Onde está o fruto do Espírito na vida desses evangélicos?

Adorar faz bem a quem adora. A pessoa se libera, solta energias, faz gestos, faz cara de sofredor, manifesta status (generalizou-se a idéia de que ser adorador é ser espiritual), mas o importante é retidão. Não é concebível haver evangélicos que sejam traficantes! Há tempos que pipocam notícias, esparsas e logo abafadas, de conivência de igrejas evangélicas com traficantes. Estes traficantes evangélicos devem adorar, mas não são convertidos.

Precisamos de crentes convertidos. De servos rendidos a Cristo. De gente regenerada pelo Espírito. Pode se ser adorador sem ser convertido. Mas não se pode ser convertido sem ter frutos dignos de arrependimento (Mt 3.8). Que tal menos alarido e mais frutos de convertidos?