segunda-feira, 22 de abril de 2013

Curso básico de pastor salafrário, módulo 1

Por Avelar Jr.
É incontável a quantidade de indivíduos com testemunhos mirabolantes que se encontra no nosso meio graças à ingenuidade e ignorância do povo de Deus. Estamos sempre prontos a acolher pseudopastores que, em troca de fama e dinheiro fáceis, exploram a fé de pessoas incautas.
Se você reparar, hoje em dia qualquer “seboso” vira “pastor” (e geralmente não é nem pastor de igreja, é “conferencista”, pastor que não cuida de rebanho mas de si próprio). A palavra pastor nunca esteve tão descaracterizada e desacreditada como está hoje.
(*) Para ser pastor do dia para a noite basta:
1) Inventar um testemunho sensacionalista que crie uma espécie de “etiqueta” para o cara, como “o homem de Deus do galinheiro”, “o profeta que era pistoleiro”, “o ex-padre drag-queen” e por aí vai;
2) Criar bordões e frases de efeito lançadas como metralhadoras na platéia babona para não ser esquecido e distorcer o significado dos textos bíblicos decorados para acalentar o ego da multidão dizendo o que ela quer ouvir;
3) Conseguir o apoio de pastores tão mercenários quanto ele ou tão estúpidos quanto o rebanho.
4) Um programa de rádio ou TV é opcional e, dependendo dos fatores, caro; mas fatalmente a mídia dá uma turbinada no negócio – então, para mercenários principiantes, recomenda-se o YouTube, um blog grátis e o Orkut para divulgação, além de cartazes coloridos com abundância de erros de português, para que o público alvo possa entendê-lo sem subestimá-lo;
5) Um título de doutor ou de apóstolo comprado também incrementa - gente burra tem orgasmos múltiplos com títulos de importância, ainda que falsos, e mesmo que o portador não tenha competência linguística e bagagem de conhecimento que corresponda (gente burra não vê a diferença desde que você tenha a atitude “never stop the music” e faça muita zoada)…
Não tem limites a criatividade para histórias de vidas pregressas toscas. Não adianta achar que já viu tudo porque pastor ruim é igual a telefone móvel: quando você pensa que viu de tudo, aparecem mais modernos para que você possa ser assaltado. Ou seja, a impiedade e ambição são mais frenéticas que a tecnologia.

Aborto: Fácil de Matar



BrucePor André Couto
Quem não se lembra do filme Duro de Matar, protagonizado pelo ator Bruce Willis, que, inacreditavelmente, sai ileso das peripécias, aos trilhões de tiros que enfrenta na pele de um policial? Na contramão do filme, o Congresso Nacional pode estrelar o filme “Fácil de Matar”, com a pretensa proposta de reforma do Código Penal Brasileiro. Para quem ainda não sabe, através de Comissão Especial Interna do Senado Federal, senadores examinam o Projeto de Lei do Senado nº 236, de 2012, elaborado por uma Comissão de Juristas, conforme prevê o Regimento Interno do Senado Federal. A proposta está nas mãos do senador Pedro Taques (PDT-MT), relator do projeto, que poderá, convenientemente, produzir um relatório com base nos debates que ocorreram nas audiências públicas e nas sugestões e manifestações recebidas da sociedade.
O que todos querem saber, pelo menos eu, é se o senador vai manter no texto que recebeu da Comissão de Juristas a possibilidade de exclusão do crime de aborto em que, “se por vontade da gestante, até a décima segunda semana gestação, quando o médico ou psicólogo constatar que a mulher não apresenta condições psicológicas de arcar com a maternidade”, ela terá direito ao abortamento. É bom lembrar que o parecer do senador Pedro Taques ainda será apreciado e votado pela Comissão Especial para, em seguida, ser submetido ao plenário do Senado. Isso quer dizer que, se a parte polêmica do anteprojeto que trata do aborto for aprovada pela Comissão, ainda terá de passar pelo crivo dos 81 senadores, antes de ser encaminhada à Câmara dos Deputados.
Além das excepcionalidades já previstas no Código Penal, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por 8 votos a 2, em 2012, que o aborto em caso de anencefalia (bebês sem cérebro) não é crime. E agora o anteprojeto de reforma que tramita no Congresso diz que o aborto não será crime se praticado até a décima segunda semana de gestação. O assunto não tem consenso e o debate se acirra à medida que as opiniões são levadas a público. É o caso do Conselho Federal de Medicina, que em nota declarou ser a favor da vida, mas que respeita a autonomia da mulher que, até a 12ª semana, já tomou a decisão de praticar a interrupção da gravidez.
Ainda é duvidosa a manifestação do CFM. Não está claro se a posição do Conselho representa a opinião dos médicos brasileiros, ou se por detrás dessa mera expectativa há interesses financeiros ou eugênicos (ciência que estuda as condições mais propícias à reprodução e melhoramento da raça humana). Os argumentos dos que desejam flexibilizar o crime de aborto esmeram-se na “autonomia” da mulher, no sentido de decidir o que fazer sobre o seu próprio corpo, esquecendo-se que há dentro de si um corpo autônomo e independente.
O direito à vida é um preceito constitucional. Em minha opinião, isso descredencia qualquer possibilidade de exclusão de ilicitude para o crime de aborto, inclusive para as já previstas no CP. Assim sendo, também defendo que a vida começa na concepção. Ora, a vida intrauterina, que passa por diversas fases, deve ser respeitada, a não ser que comprovadamente traga riscos à saúde da mãe. Chamar um feto que está na 12ª semana de gestação de “conglomerado de células”, como alguns preferem, é desrespeitoso e leviano. Veja o que diz o Dr. Flávio Garcia, de uma clínica de fertilização: “Na 12ª semana de gestação, quase todos os órgãos e estruturas do feto estão formados. Eles continuarão a crescer e desenvolver até o parto. Os dedos das mãos e pés já se separaram e os pelos e unhas iniciam o seu crescimento. Os genitais começam a assumir seu aspecto final feminino ou masculino. O líquido amniótico começa a se acumular à medida que os rins do bebê começam a excretar urina. Os músculos das paredes intestinais começam a se movimentar – é o peristaltismo intestinal – contrações no interior do intestino que ajudam na digestão e movimentação dos alimentos. O bebê mede cerca de 9 a 11 cm (da cabeça aos pés) e pesa em torno de 20 gramas”. À luz dessa constatação, a prática do aborto é uma violência.
Pois bem, a minha esperança é que os parlamentares a favor da vida e da família impeçam tal inclusão, que chamo de loucura, em nosso ordenamento jurídico. Manifeste sua opinião também, participe, junte-se ao coro daqueles que amam a vida e as crianças.

Jornalista desafia ativistas a imitarem protesto de evangélicos


Jornalista desafia ativistas a imitarem protesto de evangélicos

A jornalista Rachel Sheherazade, âncora do jornal ‘SBT Brasil’, voltou a criticar a corrupção e os ativistas contrários ao deputado e pastor Marco Feliciano (PSC-SP). (Vale a pena conferir o vídeo abaixo).
No dia 17 de abril, a jornalista desafiou os “ativistas anti-Feliciano” a protestarem contra a “bancada mensaleira”, formada pelos deputados João Paulo Cunha e José Genoíno, ambos do PT de São Paulo e condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo conhecido como mensalão.
Rachel ressaltou que nenhum movimento social se mobilizou para protestar contra os parlamentares condenados num dos maiores casos de corrupção do páis.
Na última quarta-feira (17) um grupo de evangélicos da Assembleia de Deus Ministério de Madureira se reuniu na sala onde acontecia a reunião da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ), em Brasília, para protestar contra a permanência dos deputados José Genoino (PT-SP) e João Paulo Cunha (PT-SP), ambos condenados pelo Supremo Tribunal Federal.

Santidade:Temporal ou Eterna?



Por Jorge Fernandes Isah

"Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" [Hb 12.14].

Primeiro, vamos definir a palavra santo, que quer dizer separado. Como Deus é santo, Ele é separado de toda a Sua criação. Existe a idéia errônea e antibíblica de que a criação é a extensão de Deus, como se tudo o que veio a existir pelo poder da Sua palavra fizesse parte dEle. Ora, esta visão é pagã, comumente chamada de panteísmo [grego: pan, "tudo", + theós, "deus"], a qual define ser Deus o todo, e o todo Deus; uma espécie de universalidade dos seres, onde o conjunto de todas as criaturas [materiais e espirituais], a sua totalidade, compõem a unidade de Deus. O problema desta doutrina é que a criação e o Criador se confundem e se fundem, assim como o infinito e o finito, o material e o espiritual, o que leva à idéia de que tanto um como o outro são autocriados ou podendo ser criados por outra força. Mas toda essa confusão é fruto de outra artimanha do maligno, sempre promovendo a mentira, o qual "não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira" [Jo 8.44]. A Bíblia nos revela o contrário: toda a criação, seja o bem e o mal, material e espiritual, está separada de Deus, não é uma "extensão" dEle, nem subsiste e vive nEle, mas é sustentada e sobrevive por Ele.

Bem diferente do sistema proclamado pelos pagãos, anacrônico à Bíblia: a criação existe, vive e se mantém pelo poder de Deus, segundo a Sua vontade, nada além disso.

De certa forma, o entendimento errado dos atributos divinos leva até mesmo cristãos a cogitarem inadvertidamente uma espécie de "panteísmo". A confusão está na incompreensão da doutrina da onipresença e onisciência, que diz não haver lugar no universo onde Deus não esteja; não que está a ocupar todo o espaço, visto estar fora dele, mas no sentido de que tudo o que acontece, seja onde for, encontra-se diante de Deus e é promovido por Ele; e de que também tem o conhecimento perfeito de tudo, em seus mínimos detalhes, e nada pode escapar à Sua infinita presença. Como o salmista diz: "Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também" [Sl 139.7-8]. O que a Escritura diz claramente é que Deus está em todos os lugares, não há recôndito que não alcance, o que é diametralmente oposto à idéia de que Ele é tudo, e tudo é Ele: "Porventura sou eu Deus de perto, diz o Senhor, e não também Deus de longe? Esconder-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? diz o Senhor. Porventura não encho eu os céus e a terra? diz o Senhor" [Jr 23.23-24].

Como Criador de todas as coisas, Ele conhece todo o processo exaustivamente, desde o nascimento até a morte, da existência à destruição, sendo que nada acontece sem que seja da Sua vontade ou alheio a ela, "porque o Senhor dos Exércitos o determinou; quem o invalidará? E a sua mão está estendida; quem pois a fará voltar atrás?" [Is 14.27]. O esclarecimento é necessário para não se ter dúvidas de que Deus está separado da Sua criação, de que Ele não faz parte dela, mas está aparte dela; de que são coisas distintas, ainda que a criação seja completamente dependende de Deus e da Sua vontade, sem o que jamais existiria ou sobreviveria.

Então Deus é e está separado de toda a criação, ainda que ela seja consequência do Seu atributo de onipotência; porém como Deus é perfeito, puro e justo, é distinto da criação, que não possui a perfeição, a pureza e justiça divinas, sendo imperfeita, impura e injusta.

As obras de Deus não são Deus, ainda que existam por e para Deus, logo, pertencentes e sujeitas a Ele [tanto para nascer, viver ou morrer], sem que possam "contaminá-lO", antes é o Senhor quem as santifica ou não, segundo a Sua soberana vontade.

Por isso a Bíblia afirma que todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus [Rm 3.23]. Há uma separação natural entre o Criador e as criaturas em virtude de suas naturezas distintas, agravada pelo pecado [que torna as criaturas ainda mais distantes do Senhor], sendo que, do ponto de vista temporal, Deus se aproximará daquelas que foram salvas eternamente por Cristo, e jamais se achegará àquelas eternamente destinadas à perdição.

Do ponto de vista atemporal, Deus sempre estará próximo do eleito, mesmo que, no tempo, ele ainda não seja convertido; pois a salvação aconteceu no tempo, mas foi decretada na eternidade. Graças a Ele, Cristo, o Cordeiro sem pecado, o qual morreu na cruz e ressuscitou para que os eleitos, diante de Deus, estivessem mais alvos e mais brancos do que a neve [Sl 51.7], sem nenhuma mácula, santos como santo é o nosso Deus, "porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo" [1Pe 1.16].

No tempo, a santidade se inicia na regeneração que o Espírito Santo opera em nós, como a boa obra de Deus iniciada e que atingirá o ápice na eternidade [Fp 1.6], quando o nosso corpo corruptível se transformar em incorruptível, e formos semelhantes a Cristo nosso Senhor [1Co 15.52-53]; quando não haverá mais morte, nem pecado. Ele operará a santidade através da incorruptível "palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre" [1Pe 1.23]. Portanto, o ser santo é algo inalcançável para o homem, somente o Senhor é quem pode torná-lo e fazê-lo separado do mundo, e ligado a Ele; tirados do meio da Sua criação, de entre as criaturas corruptíveis, tornando-o filho adotivo em Cristo, e assim será mantido pelo Seu poder e graça.

Eternamente, já somos salvos antes da fundação do mundo, muito antes do nascimento e queda do primeiro homem, pois o decreto divino estabeleceu que os eleitos, em número certo e definido, seriam tantos quanto Deus escolheu, conheceu e predestinou para serem conforme a imagem de Cristo [Rm 8.29]. Desta forma todos os eleitos [mesmo os que ainda não foram regenerados no tempo] já são salvos e santos. Pode parecer estranho que um homem em pecado, irregenerado, tenha comunhão com Deus. A Bíblia diz que o Senhor abomina o pecado. Porém, como o Espírito Santo faria uma obra de regeneração em um pecador? Haveria como Deus ter comunhão com o ímpio? Segundo as Escrituras, não! A pergunta é: em que ponto o homem deixa de ser ímpio? Como é possível ao homem sair da esfera pecaminosa para a santa? Teríamos de concordar com os arminianos de que somente após escolher a Deus o homem poderá ter comunhão com Ele. Ou seja, a decisão humana o santifica ao ponto de ser capaz de reconhecer em Cristo o seu salvador, e então, somente então, ter o privilégio de comunhão com Deus. O que remeteria os méritos da regeneração ao homem, não a Deus. Mas há uma profusão de textos bíblicos que desmentem essa hipótese. Paulo diz: "Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus.Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só" [Rm 3.10-12].

O dilema persiste: o homem não pode se tornar santo nem Deus ter comunhão com o pecador. Logo, Deus, que está fora do tempo, já nos tem como santos, porque fomos santificados eternamente. Ao promulgar o decreto eterno, sendo o Senhor imutável, e de que toda a Sua vontade se realizará infalivelmente, "pois nenhum dos teus propósitos pode ser impedido" [Jó 42.2], mesmo sem ainda existir, o eleito já está salvo, já é santo. A vontade e decisão em eleger um povo para Si não aconteceu no tempo, mas muito antes dEle criar o tempo. Também escolheu que o processo ocorresse no tempo e, por nossas limitações, tomássemos consciência da pecaminosidade natural, do estado degradante, da morte iminente e incontestável, caso não tivesse nos escolhido. Pois a santidade divina é que nos impede de permanecer no pecado, transformando pecadores em santos aos nossos olhos, mas aos Seus olhos já fomos santificados pelo sacrifício de Cristo, muito antes do Senhor morrer na cruz.

A questão é de perspectiva: quando olhamos para nós mesmos, não temos a visão do resultado [ainda que a Bíblia nos revele o fim de todo eleito: a eternidade diante de Deus]. O fato de estarmos no tempo revelará um encadeamento de situações, as quais serão reveladas progressivamente, indicando o estado de regeneração ou de corrupção. Mesmo assim, para muitos, será impossível conhecer o real estágio em que se encontram, e o fim que os aguarda; apenas no dia do Juízo tomarão conhecimento de que estavam mortos, e permanecerão mortos. Ao passo que, para o Senhor, não somente os fatos, mas todo o fim já é do Seu conhecimento. Como tudo ocorrerá segundo o Seu desejo, seguindo rigorosamente o decreto eterno em que todos os detalhes foram determinados, Deus conhece os Seus escolhidos, e já os tem por certo como Seus. Ou seja, para nós, é um processo; para Deus, já está tudo consumado.

Certo é que somos nós a alcançar a santidade [não é Deus quem a alcança por nós; já que Ele é e sempre foi santo, e não precisa alcançar nada, pois é e sempre foi o perfeito Senhor do universo]. Deus nos capacita, nos habilita e transforma para sermos santos, constituindo-nos o corpo do Seu Filho Amado, o qual é a cabeça. E assim seremos um com todos os escolhidos, os quais são justificados exclusivamente por Deus. A obra é dEle, mas nós é que somos feitos santos e mantidos santificados. Assim, devemos sempre buscá-la, clamar ao Senhor que nos transforme a cada dia, para que a boa obra seja concluída naquele dia.

E, ao fim, como o próprio Senhor disse, seremos um com Ele, assim como o Pai é um com o Filho [Jo 17.21]; separados para Ele, por intermédio dEle, para a Sua glória; definitivamente afastados do pecado, da morte, da corrupção e do mal; o que não é panteísmo, mas Cristianismo bíblico, por que as criaturas destinadas à perdição estarão irremediavelmente separadas de Deus na eternidade, ao contrário de nós.

Alerta: nada do que disse seja mal-interpretado; a santidade é uma obra completa de Deus nos eleitos, mas se o homem não é santo, e despreza a santidade, não é eleito, nem "verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece" [Jo 3.36].

Ordenação e Tradição Humana


Por Vincent Cheung
Por essa razão, torno a lembrar-lhe que mantenha viva a chama do dom de Deus que está em você mediante a imposição das minhas mãos. (2 Timóteo 1.6)
Timóteo recebeu “o dom de Deus” quando Paulo impôs suas mãos sobre ele. Isso refere-se ao mesmo incidente mencionado em 1 Timóteo 4.14, onde é dito que um corpo de presbíteros impôs as mãos sobre Timóteo (em cujo caso Paulo teria sido um dos presbíteros), ou a um evento separado no qual apenas Paulo impôs as mãos sobre ele. Não existe nenhuma evidência bíblica para sugerir que a imposição de mãos, mesmo quando dons espirituais são conferidos, está reservada para a ordenação formal praticada hoje. Todavia, certo teólogo iguala o que Paulo descreve aqui com a ordenação formal de nossas denominações. Então, ele observa que a ordenação não é um reconhecimento de dons já presentes, mas uma concessão de dons não possuídos anteriormente. E, adiciona, esse dom é a autoridade para pregar.
Todos os três pontos são errados ou enganosos.
Primeiro, há evidência bíblica insuficiente para estabelecer a teoria de ordenação afirmada pelas denominações hoje. De fato, há evidência bíblica insuficiente para estabelecer as próprias denominações formais. Havia ordem na igreja, crentes trabalhando juntos em acordo, e conferências de presbíteros para discutir questões doutrinárias, mas tudo isso não se traduz numa instituição elaborada governada por concílios regionais e nacionais. Se um grupo de crentes decide se unir dessa maneira para fornecer apoio e prestação de contas mútuas como uma questão de vantagem e conveniência prática, não me oponho a isso. Contudo, seria errado eles desprezarem, criticarem ou de alguma forma pensar menos de cristãos que agem de acordo com os princípios bíblicos, mas diferem deles em detalhes não definidos ou restringidos por princípios bíblicos. Os princípios bíblicos para o governo da igreja são ricos, claros e inflexíveis, mas permitem muita liberdade nos detalhes, e simplesmente não requerem uma estrutura denominacional, ou muitas das teorias e práticas assumidas hoje. Se você impõe seus próprios princípios de governo eclesiástico sobre outros quando a Escritura não ensina ou os requer, então você está seguindo o exemplo dos fariseus, no fato de você alegar proteger a ordem prescrita da igreja, quando está na verdade protegendo tradições inventadas por homens.
Segundo, é enganoso dizer que a ordenação não é um reconhecimento de dons já presentes, mas uma concessão de dons não possuídos anteriormente. Essa é uma inferência muito ampla a partir de um versículo limitado e específico. De acordo com a Bíblia, Deus concede dons espirituais de diferentes formas. Algumas vezes eles são dados diretamente, sem nenhuma agência humana. Outras vezes são dados em resposta à oração. Por exemplo, Paulo diz que a pessoa que fala em línguas deve orar para que possa interpretá-las. Então, algumas vezes eles são dados por meio de agentes humanos, como quando os presbíteros e Paulo impuseram suas mãos sobre Timóteo. O que chamamos ordenação é um reconhecimento público do chamado. O chamado já existe, quer a igreja o reconheça ou não. Os dons espirituais sempre seguem o chamado. Eles apoiam o chamado da pessoa, e o capacitam a cumpri-lo. Mas os dons nem sempre são concedidos através da ordenação, nem o reconhecimento do chamado pela igreja é sempre necessário. E se Deus chama alguém para repreender a igreja ou se opor a uma denominação? Quem o ordenou então? Ou isso nunca acontece? Qual é a evidência bíblica que torna nossas denominações e seu reconhecimento formal algo necessário? Não existe nenhum princípio rígido de ordenação na Bíblia. Isso é uma questão de ordem eclesiástica. Algumas vezes Deus a usa, outras não. Deus ainda é Deus. Quer a política da nossa igreja permita Deus ser Deus ou não, ele ainda pode fazer o que quiser.
Teólogos frequentemente afirmam doutrinas que restringem as práticas corretas àquelas já afirmadas por suas denominações. Eles começam a partir da Bíblia, então adicionam suas tradições a ela, e o resultado são as políticas denominacionais, que eles afirmam ser a pura doutrina escriturística e criticam aqueles que discordam. Mas o ensino da Bíblia deixa espaço para a soberania de Deus, muita variedade, e a liberdade para adaptar. Os cristãos poderiam aceitar a ordem eclesiástica prescrita por suas tradições como uma questão de conveniência prática, mas uma vez que se torna mais que isso – uma vez que se torna uma doutrina formal que define o certo e o errado – eles deveriam se rebelar contra ela. Que ninguém te roube da liberdade que Cristo comprou para você. Ai da denominação cuja rebelião contra o evangelho está na ordem e política da igreja.
Terceiro, quanto à autoridade para pregar, isso pelo menos precisa ser esclarecido. A Bíblia ensina que todos os cristãos são sacerdotes em Cristo (Apocalipse 1.6). E visto que todos somos sacerdotes, a implicação irresistível é que todos os cristãos podem pregar e administrar a ceia e o batismo. A coisa curiosa é que nem todas as igrejas e denominações que admitem o primeiro (que todos os crentes são sacerdotes) irão ao mesmo tempo reconhecer o último (que todos podem pregar e administrar as ordenanças sagradas). Isso acontece porque as pessoas nessas igrejas e denominações são hipócritas. Eles dizem o que dizem para distingui-los dos católicos, mas então praticam a mesma coisa em suas congregações. O Novo Testamento de fato ensina que deve haver líderes dentro das congregações, e como uma questão de ordem eclesiástica, eles são geralmente aqueles que pregam e administram a ceia e o batismo. Isso é para manter a excelência na atividade da igreja e para impedir o caos e a confusão. Contudo, outros cristãos não estão impedidos dessas coisas como uma questão de doutrina e princípio.
Deus é maior que nossas tradições e nossas denominações. Muitíssimas pessoas dizem que creem nisso, mas negam em suas doutrinas e práticas. Se Deus quer ordenar a alguém, ele na verdade não precisa de nenhuma aprovação ou reconhecimento humano. Ele frequentemente arranja o reconhecimento humano para manter a boa ordem, mas nada na Escritura indica que isso deva acontecer ou que deva acontecer de determinada forma. Cristo é o único mediador entre Deus e os homens. Não devemos permitir algo em nossa política eclesiástica que pareça negar isso.
Se Deus quer entregar suas palavras ou suas bênçãos por meio de homens, isso é direito seu. Mas se Deus deseja entregar essas diretamente, não cabe à igreja proibi-lo. A igreja é uma comunidade de pessoas individualmente redimidas e chamadas por Deus. Ele arranja pessoas para crerem no evangelho pelo ministério de agentes humanos, tal como a pregação de um pastor ou membro de uma igreja particular. Ele faz isso por inúmeras razões, tais como a ordem estabelecida, a comunidade e os relacionamentos entre os homens, e para exercitar e recompensar aqueles que pregam. Mas Deus não precisa de agentes humanos mesmo quando diz respeito à pregação do evangelho, e não devemos ressentir ou rejeitar alguém se ele recebe algo da parte de Deus sem nossa mediação.
Se você teme que isso levaria ao caos, então isso mostra que você adotou grandemente a mentalidade dos fariseus e católicos. Essa é a mentalidade que pensa que precisamos usar tradições humanas para reforçar os preceitos divinos, e isso removendo-se a liberdade que a revelação divina permite, incluindo a liberdade que Deus reserva para si. Se alguém se converte à fé cristã ou possui um ministério à parte do nosso controle, sua fé e ministério ainda estão sujeitos à palavra de Deus, e podem ser testadas pela palavra de Deus. E essa é a única base legítima para testar sua conversão ou chamado ao ministério. Ele não tem nenhuma obrigação de responder ou se submeter a tradições humanas que não prometeu cumprir. E se essas tradições violam a palavra de Deus, ele tem obrigação de romper com elas.
Pode ser verdade que a igreja está em tempos difíceis. Muitas pessoas estão se afastando das congregações locais, e as falsas doutrinas abundam. Contudo, a resposta não é uma teologia de controle por meio de tradições feitas por homens, mas uma teologia de liberdade em Cristo. Que Cristo atraia o povo que ele escolheu e chamou! Quanto aos cristãos, eles são responsáveis perante Cristo, não as tradições humanas. Portanto, desafie-as quando apropriado e necessário. É frequentemente aceitável se submeter a costumes humanos em prol do amor e da ordem, mas não porque seja requerido de você como uma questão de princípio.
Marcos 9 nos diz que um homem estava expulsando demônios em nome de Jesus, mas os discípulos disseram-lhe para parar de fazê-lo por não ser um deles. Jesus respondeu: “Não o impeçam. Ninguém que faça um milagre em meu nome, pode falar mal de mim logo em seguida, pois quem não é contra nós está a nosso favor”. Quem ordenou a essa pessoa? Por mãos de quem Deus conferiu dons espirituais a esse homem? Nem mesmo Jesus na Terra fez isso. Mas Deus no céu o fez, e aparentemente sem qualquer agência ou aprovação humana. Como observa um estudioso do Novo Testamento, o próprio Jesus não teve sanção humana oficial para o seu ministério. As tradições humanas são frequentemente tão perigosas quanto as ameaças à ordem que elas procuram eliminar. E eles frequentemente se afastam da ortodoxia que alegam proteger, ao ponto que até mesmo ordenariam o assassinato do próprio Filho de Deus. Todos os cristãos devem ser livres para servir a Deus, sob as diretrizes estritas, mas algumas vezes amplas, da Palavra de Deus, e não das restrições de tradições humanas.

Cessaram os dons espirituais?


Por Pr Marcello Oliveira
Os dons espirituais têm sido temas de acalorados debates na academia, na internet e principalmente nos blogs. Os dons espirituais não foram dados à igreja para projeção humana nem como aferidor da verdadeira espiritualidade. Os dons espirituais foram dados para a edificação do corpo de Cristo. Pelo exercício correto dos dons a igreja cresce de forma saudável. Os dons são recursos que o próprio Espírito de Deus concedeu à igreja para que ela pudesse ter um crescimento saudável e também suprir as necessidades dos seus membros.
Há pelo menos três posições em relação aos dons espirituais dentro da igreja:
  1. Os cessacionistas. São aqueles que crêem que os dons espirituais registrados em 1Coríntios 12 foram restritos aos tempos dos apóstolos. Para estes os dons não são contemporâneos e nem estão mais disponíveis na igreja contemporânea.
  2. Os ignorantes. São aqueles que não conhecem nada sobre os dons. Paulo orienta os coríntios para não serem ignorantes com respeito aos dons espirituais. Havia pessoas na igreja que ignorava esse assunto, e por isso, não podia utilizar a riqueza dessa provisão divina para a igreja.
  3. Os que crêem na atualidade dos dons espirituais. São aqueles que crêem que os mesmos dons espirituais concedidos pelo Espírito Santo no passado estão disponíveis para a igreja atualmente.
Amados, quem tem a última palavra? Nossos pressupostos, ou a infalível e inerrante Palavra de Deus? Partindo do princípio que a Palavra de Deus é a nossa regra de fé e prática, abordaremos a questão, afirmando que os dons espirituais não cessaram. Eles são contemporâneos e estão disponíveis para a edificação do corpo de Cristo.
Veja o que Paulo disse em 1 Coríntios 12.4-6:
Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo.
E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo.
E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.
Note que aqui, a Trindade está presente. No versículo 4, Paulo se refere ao Espírito Santo; no versículo 5, a palavra Kyrios refere-se ao Senhor Jesus Cristo e no versículo 6, Paulo refere-se ao Deus Pai. Pelo contexto, Paulo ensina a igreja que eles haviam abandonado aos ídolos mudos e agora estava seguindo uma nova direção: A direção do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Depois de ensinar a mudança de direção que a igreja deveria seguir, o apóstolo falará sobre a natureza dos dons espirituais. No mesmo texto de 1Co 12.4-6, Paulo fala de “dons”, de “serviços” e de “realizações”. Isso nos fala da natureza dos dons espirituais. Ou seja, os dons têm uma tríplice natureza.
1) Quanto à origem dos dons eles são chamados charismata. Paulo diz: “Ora os dons são diversos” (12.4). A palavra charismata vem de charis, graça. Assim, Paulo está falando da origem dos dons. O dom espiritual procede da graça de Deus. Ora se procede da graça de Deus, eles acabaram? Não! Se cessaram os dons, cessou-se a graça de Deus. Isto é impossível! Os dons são originados na graça de Deus e são ministrados, doados e distribuídos pelo Espírito Santo. A origem dos dons nunca está no homem, mas sempre na graça de Deus.
2) Quanto ao modo de atuar, o dom é diaconia. Paulo diz: “E também há diversidade nos serviços” (12.5). A palavra “serviços” no grego é diaconia. Isso se refere ao modo de atuação do dom que é prontidão para servir. Os dons são dados não para projeção pessoal, mas para o serviço. Deus nos dá dons para servirmos uns aos outros e não para nos exaltarmos nossas virtudes ou habilidades. A finalidade do dom espiritual não é autopromoção, mas a edificação do próximo.
3) Quanto à finalidade os dons são energémata. Paulo conclui: “E há diversidade nas realizações” (12.6). A palavra energémata vem de energia, de obras exteriores. É a energia (poder) de Deus operando nos cristãos e transbordando para a vida da comunidade. O dom espiritual é para ajudar alguém, fazer algo para alguém, trabalhar por alguém e realizar alguma coisa para alguém. Não é uma espiritualidade intimista e subjetiva. Ela é transbordante, edificante, relevante.
Eis uma preciosidade: Por que Jesus não transformou pedras em pães? Ele não poderia fazê-lo? Sim. Então, porque não o fez? Simples, milagres devem ser feitos e realizados em favor do próximo e nunca para benefício próprio!
Conclusão.
Os propósitos divinos para os dons são:
a) Os dons são dados a cada membro do corpo. Todos os cristãos, salvos por Jesus, têm pelo menos um dom. Isto não é uma palavra minha, são as Escrituras que afirmam esta verdade (cf 1Co 12.7). Cada membro do corpo de Cristo tem pelo menos um dom.
b) Os dons têm um propósito. Eles são dados visando a um fim proveitoso, ou seja, a edificação da igreja.
c) É o Espírito Santo que distribui soberanamente os dons. “Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas as coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente” (12.11). Paulo está falando que é o Espírito Santo quem distribui os dons e também quem age eficazmente na vida daquele que exerce o dom. O homem é apenas um instrumento, mas o poder é do Espírito.
O apóstolo Paulo usou quatro verbos que ilustram a soberania de Deus na distribuição dos dons espirituais. O Espírito Santo distribui (12.11), Deus dispõe (12.18), Deus coordena (12.24) e Deus estabelece (12.28). Do começo ao fim Deus está no controle. Não há espaço para vaidades e autopromoção. Portanto, busquemos com excelência os melhores dons. Eles estão disponíveis nos celeiros celestiais.
Nele, que concede os dons para a sua igreja nos dias atuais
Pr. Marcello Oliveira

Como assim, “não toqueis no ungido do Senhor…”?!



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Por Augustus Nicodemus Lopes
Há várias passagens na Bíblia onde aparecem expressões iguais ou semelhantes a estas do título desta postagem:
A ninguém permitiu que os oprimisse; antes, por amor deles, repreendeu a reis, dizendo: Não toqueis nos meus ungidos, nem maltrateis os meus profetas (1Cr 16:21-22; cf. Sl 105:15).
Todavia, a passagem mais conhecida é aquela em que Davi, sendo pressionado pelos seus homens para aproveitar a oportunidade de matar Saul na caverna, respondeu: “O Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele [Saul], pois é o ungido do Senhor” (1Sm 24:6).
Noutra ocasião, Davi impediu com o mesmo argumento que Abisai, seu homem de confiança, matasse Saul, que dormia tranquilamente ao relento: “Não o mates, pois quem haverá que estenda a mão contra o ungido do Senhor e fique inocente?” (1Sm 26:9). Davi de tal forma respeitava Saul, como ungido do Senhor, que não perdoou o homem que o matou: “Como não temeste estender a mão para matares o ungido do Senhor?” (2Sm 1:14).
Esta relutância de Davi em matar Saul por ser ele o ungido do Senhor tem sido interpretado por muitos evangélicos como um princípio bíblico referente aos pastores e líderes a ser observado em nossos dias, nas igrejas cristãs. Para eles, uma vez que os pastores, bispos e apóstolos são os ungidos do Senhor, não se pode levantar a mão contra eles, isto é, não se pode acusa-los, contraditá-los, questioná-los, criticá-los e muito menos mover-se qualquer ação contrária a eles. A unção do Senhor funcionaria como uma espécie de proteção e imunidade dada por Deus aos seus ungidos. Ir contra eles seria ir contra o próprio Deus.
Mas, será que é isto mesmo que a Bíblia ensina?
A expressão “ungido do Senhor” usada na Bíblia em referência aos reis de Israel se deve ao fato de que os mesmos eram oficialmente escolhidos e designados por Deus para ocupar o cargo mediante a unção feita por um juiz ou profeta. Na ocasião, era derramado óleo sobre sua cabeça para separá-lo para o cargo. Foi o que Samuel fez com Saul (1Sam 10:1) e depois com Davi (1Sam 16:13).
A razão pela qual Davi não queria matar Saul era porque reconhecia que ele, mesmo de forma indigna, ocupava um cargo designado por Deus. Davi não queria ser culpado de matar aquele que havia recebido a unção real.
Mas, o que não se pode ignorar é que este respeito pela vida do rei não impediu Davi de confrontar Saul e acusá-lo de injustiça e perversidade em persegui-lo sem causa (1Sam 24:15). Davi não iria matá-lo, mas invocou a Deus como juiz contra Saul, diante de todo o exército de Israel, e pediu abertamente a Deus que castigasse Saul, vingando a ele, Davi (1Sam 24:12). Davi também dizia a seus aliados que a hora de Saul estava por chegar, quando o próprio Deus haveria de matá-lo por seus pecados (1Sam 26:9-10).
O Salmo 18 é atribuído a Davi, que o teria composto “no dia em que o Senhor o livrou de todos os seus inimigos e das mãos de Saul”. Não podemos ter plena certeza da veracidade deste cabeçalho, mas existe a grande possibilidade de que reflita o exato momento histórico em que foi composto. Sendo assim, o que vemos é Davi compondo um salmo de gratidão a Deus por tê-lo livrado do “homem violento” (Sl 18:48), por ter tomado vingança dos que o perseguiam (Sl 18:47).
Em resumo, Davi não queria ser aquele que haveria de matar o ímpio rei Saul pelo fato do mesmo ter sido ungido com óleo pelo profeta Samuel para ser rei de Israel. Isto, todavia, não impediu Davi de enfrentá-lo, confrontá-lo, invocar o juízo e a vingança de Deus contra ele, e entregá-lo nas mãos do Senhor para que ao seu tempo o castigasse devidamente por seus pecados.
O que não entendo é como, então, alguém pode tomar a história de Davi se recusando a matar Saul, por ser o ungido do Senhor, como base para este estranho conceito de que não se pode questionar, confrontar, contraditar, discordar e mesmo enfrentar com firmeza pessoas que ocupam posição de autoridade nas igrejas quando os mesmos se tornam repreensíveis na doutrina e na prática.
Não há dúvida que nossos líderes espirituais merecem todo nosso respeito e confiança, e que devemos acatar a autoridade deles – enquanto, é claro, eles estiverem submissos à Palavra de Deus, pregando a verdade e andando de maneira digna, honesta e verdadeira. Quando se tornam repreensíveis, devem ser corrigidos e admoestados. Paulo orienta Timóteo da seguinte maneira, no caso de presbíteros (bispos/pastores) que errarem:
“Não aceites denúncia contra presbítero, senão exclusivamente sob o depoimento de duas ou três testemunhas. Quanto aos que vivem no pecado, repreende-os na presença de todos, para que também os demais temam” (1Tim 5:19-20).
Os “que vivem no pecado”, pelo contexto, é uma referência aos presbíteros mencionados no versículo anterior. Os mesmos devem ser repreendidos publicamente.
Mas, o que impressiona mesmo é a seguinte constatação. Nunca os apóstolos de Jesus Cristo apelaram para a “imunidade da unção” quando foram acusados, perseguidos e vilipendiados pelos próprios crentes. O melhor exemplo é o do próprio apóstolo Paulo, ungido por Deus para ser apóstolo dos gentios. Quantos sofrimentos ele não passou às mãos dos crentes da igreja de Corinto, seus próprios filhos na fé! Reproduzo apenas uma passagem de sua primeira carta a eles, onde ele revela toda a ironia, veneno, maldade e sarcasmo com que os coríntios o tratavam:
“Já estais fartos, já estais ricos; chegastes a reinar sem nós; sim, tomara reinásseis para que também nós viéssemos a reinar convosco.
Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens.
Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós, sábios em Cristo; nós, fracos, e vós, fortes; vós, nobres, e nós, desprezíveis.
Até à presente hora, sofremos fome, e sede, e nudez; e somos esbofeteados, e não temos morada certa, e nos afadigamos, trabalhando com as nossas próprias mãos. Quando somos injuriados, bendizemos; quando perseguidos, suportamos; quando caluniados, procuramos conciliação; até agora, temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos.
Não vos escrevo estas coisas para vos envergonhar; pelo contrário, para vos admoestar como a filhos meus amados. Porque, ainda que tivésseis milhares de preceptores em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais; pois eu, pelo evangelho, vos gerei em Cristo Jesus. Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores” (1Cor 4:8-17).
Por que é que eu não encontro nesta queixa de Paulo a repreensão, “como vocês ousam se levantar contra o ungido do Senhor?” Homens de Deus, os verdadeiros ungidos por Ele para o trabalho pastoral, não respondem às discordâncias, críticas e questionamentos calando a boca das ovelhas com “não me toque que sou ungido do Senhor,” mas com trabalho, argumentos, verdade e sinceridade.
“Não toque no ungido do Senhor” é apelação de quem não tem nem argumento e nem exemplo para dar como resposta.