sábado, 27 de abril de 2013

Desobediência, O Fator da Queda no Éden



Por João Calvino
Uma vez que não é um delito leve, mas um crime abominável, aquele que Deus puniu com tanta severidade, somos levados a considerar a própria natureza do pecado na queda de Adão, a qual transmitiu a todo o gênero humano horrível punição de Deus.
É pueril o que tem sido vulgarmente admitido quanto à intemperança da gula. Como se de fato, na abstinência de apenas uma única espécie de fruta, tenha residido a suma e essência de todas as virtudes, quando por toda parte sobejavam todas e quantas delícias apetecíveis, e naquela abençoada fecundidade da terra lhe estava à mão a fartar, não apenas abundância, como também variedade! Deve-se, portanto, mirar mais alto, visto que a proibição da árvore do conhecimento do bem e do mal foi um teste de obediência; de modo que, ao obedecer, Adão podia provar que se sujeitava à autoridade de Deus, de livre e deliberada vontade. Com efeito, o próprio nome da árvore evidencia que o propósito do preceito não era outro senão que, contente com sua sorte, o homem não se alçasse mais alto, movido de ímpia cobiça.
Mas a promessa mediante a qual ele poderia fazer jus à vida eterna por todo tempo em que comesse da árvore da vida, bem como, em contrário, o horrendo anúncio de morte, assim que provasse da árvore do conhecimento do bem e do mal, visava a testar-lhe e a exercitar-lhe a fé.
Daqui, não é difícil concluir de que maneiras Adão provocou a ira de Deus contra si.
Na verdade, não de forma improcedente, pronuncia-se Agostinho,quando diz que o orgulho foi o princípio de todos os males, porque, não houvesse a ambição impelido o homem acima do que era próprio e justo, poderia ele permanecer em sua condição original. Contudo, da própria natureza da tentação que Moisés descreve deve buscar-se definição mais completa. Ora, uma vez que, por sua falta de fidelidade, a mulher é afastada da Palavra de Deus pela sutileza da serpente, já se comprova que o princípio da queda foi a desobediência. É o que também Paulo confirma, ensinando que, pela desobediência de um só homem, todos se tornaram perdidos [Rm 5.19].
Entretanto, ao mesmo tempo é preciso notar que o primeiro homem se alijou da soberania de Deus, porque não só se fez presa aos engodos de Satanás, mas ainda, desprezando a verdade, se desviou para a mentira. E de fato, desprezada a palavra de Deus, quebrantada lhe é toda reverência, pois não se preserva de outra maneira sua majestade entre nós, nem seu culto é mantido íntegro, a não ser enquanto atenciosamente ouvirmos sua voz. Conseqüentemente, a raiz da queda foi a falta de fidelidade.
Mas, daqui emergiram ambição e orgulho, aos quais foi adicionada ingratidão, porquanto, ao desejar mais do que lhe fora concedido, ignobilmente Adão desdenhou a tão grande liberalidade de Deus pela qual havia sido enriquecido. Na verdade, esta foi uma impiedade monstruosa, a saber, a um filho da terra parecer pouco que fosse criado à semelhança de Deus, se também não lhe fosse acrescentada a igualdade.
Se a apostasia, pela qual o homem se subtrai ao mando de seu Criador, é uma vil e execrável ofensa, ou, melhor dizendo, insolentemente lança de si o jugo, é debalde tentar atenuar o pecado de Adão.5 Se bem que não foi simples apostasia; ao contrário, apostasia associada com vis impropérios contra Deus, já que Adão e Eva subscrevem às caluniosas insinuações de Satanás, com que acusa falsamente a Deus de mentira, de inveja e de maldade.
Por fim, a falta de fidelidade abriu a porta à ambição; a ambição, porém, foi a mãe da obstinação, de sorte que os homens, alijando o temor de Deus, se arrojaram aonde quer que os levava a cupidez. E assim corretamente ensina Bernardo, que a porta da salvação nos está aberta quando, hoje, recebemos pelos ouvidos o evangelho, exatamente como, quando se escancararam a Satanás, foi por essas janelas introduzida a morte. Ora, jamais teria Adão ousado repudiar o imperativo de Deus, a não ser que não lhe desse crédito à palavra. Era este, de fato, o melhor freio para adequadamente regular-lhe todas as inclinações: que nada é melhor do que, mercê de estrita obediência aos preceitos de Deus, amar a justiça; em seguida, que a meta final da vida feliz é ser por ele amado. Portanto, arrebatado pelas blasfêmias do Diabo, Adão aniquilou, quanto estava a seu alcance, toda a glória de Deus.

Pastores e seus Críticos: Pastores

 Pastores e seus Críticos: Pastores 
Por Gabriel Fluhrer

Com a consciência devida das responsabilidades, gostaria de aventurar-me sobre a fina camada de gelo de como os pastores devem receber – e como os membros devem oferecer – críticas. A razão pela qual eu sinto entusiasmo para fazer isto é que eu tive, nesses anos como ministro, alguns bons críticos e oro para que outros possam trazer benefícios de seus sábios conselhos. Então, irei postar algumas coisas sobre esse assunto.
Em primeiro lugar: como os pastores devem receber críticas? São inúmeros os blogs e artigos sobre esse assunto, e muito deles são úteis. Entretanto, uns podem dar a impressão de que pastores, usualmente, estão inseguros, defensivos e aterrorizados com suas críticas. Talvez muitos estejam. Mas se cremos em nossa teologia como calvinista, esses traços não devem caracterizar um pastor reformado. Além disso, não são apenas os pastores que podem ser culpados. Congregações muitas vezes não conseguem criticar seus pastores de maneiras remotamente cristãs.
Com essas coisas em mente, o pastor deve saber que irá receber críticas, não “se”, mas “quando”. Portanto, que nós, ministros, como diz a Versão Autorizada, “nos portemos como homens” e nos prepararemos para isto. Aqui estão algumas coisas para considerarmos e cingirmos nossas mentes:
 
1. Reconheça que, como um ministro, em primeiro lugar e acima de tudo, você é pecador. Diga a si mesmo: “Eu não tenho nada para me vangloriar diante de Deus. Eu não estou apenas habitualmente errando, mas inclinado a fazer apenas o que me afasta de sua graça maravilhosa em Cristo”. Cante com o escritor deste hino: “O meu ser é vacilante, toma-o, prende-o com amor”. Comece por aqui e você colocará o machado na raiz de sua postura defensiva.
 
2. O segundo resulta do primeiro: Se eu sou um pecador como a Bíblia diz que sou (e todos nós somos), de onde vem o orgulho? De onde vem a postura defensiva? Certamente é loucura achar que eu sou notável e que eu estou convencendo outras pessoas a achar que eu sou. Afinal, Deus olha o coração, e isso é uma verdade aterrorizante. Então, sabendo que meu coração é mais traiçoeiro que tudo isso, eu devo receber as críticas com os olhos do meu coração escancarados: a pessoa que traz a queixa contra mim está sendo muito benéfica, não importa o que ele ou ela diga. Ele não sabe nem metade da história. Na verdade, meu coração poderia gerar uma letra de funk que faria um oficial do BOPE carioca corar.¹ Assim, não importam as críticas, há muitas coisas piores que eu penso e com que me divirto do que o que a pessoa trouxe à minha atenção.
 Lembre as palavras de Samuel Rutherford quando uma mulher o elogiou depois de um culto no Dia do Senhor: “Mulher, se você conhecesse a escuridão do meu coração, reuniria seus filhos e fugiria”. Certamente isso faria alguém se engasgar numa manhã de domingo, mas seria difícil encontrar palavras mais verdadeiras.
 
3. Dados os pontos 1 e 2, a terceira coisa, mesmo que pareça clichê, é ir direto a Cristo. O que isso realmente significa? Bem, vou pegar emprestado o título de uma palestra que o Dr. Ryken deu uma vez: significa que realizamos o ministério pastoral em união com o Cristo ressuscitado. Não vamos a um salvador morto, mas a um vivo, que nos ama e nos chamou para o ministério. Portanto, confesse à Ele seu orgulho e aqueça-se em sua graça. O Espírito Santo tem trazido você aqui, sua santificação nessa área é intensamente pessoal. O Deus Espírito te traz aqui e o Deus Filho te limpa!
 Ministros são muito bons em serem como fariseus – parecem bons pelo lado de fora, mas dentro são cheios de todo tipo de miséria. Esqueça – Deus vê isso e nos ama de qualquer forma, em Cristo. Ele estilhaça qualquer pretensão de orgulho por lembrar que nós somos simplesmente servos de Cristo.
 Coloque isso firmemente em sua mente: nosso trabalho como ministros será facilmente esquecido quando morrermos, menos por umas poucas famílias, amigos e almas que ministramos. Outro irá tomar nosso lugar. Graças a Deus, o próximo irá fazer melhor que nós! E isso será assim até Jesus voltar. Essa não é uma verdade depressiva, mas sim libertadora: já que eu não sou a soma do meu ministério, mas minha vida está escondida com Deus em Cristo, eu sou livre para trabalhar sem preocupação.
 A crítica dada em amor e recebida com humildade permite aos ministros uma oportunidade tremenda de crescimento. Nos dá a oportunidade de sermos mais efetivos no avanço do reino de Cristo. E nos lembra o que realmente somos, maus como a Bíblia diz que somos. Então, vamos ouvir com atenção, pesar cuidadosamente nossas respostas e sermos gratos por críticos sábios. A seguir, examinaremos os deveres daqueles que criticam.