quinta-feira, 2 de maio de 2013

A perseverança dos santos e a prática contradizente de desdizer o que já foi dito.

Por Mizael Reis
Não são poucos os que desacreditam da maravilhosa doutrina da perseverança dos santos. Talvez, por uma espécie de síndrome da ética do devedor, da qual concluem que devemos tanto a Deus que a salvação não nos poderia ter alcançado tão “graciosamente”, muitos concluem que se repousa mais fortemente sobre nossos ombros a árdua tarefa de mantermo-nos salvos a fim de sermos finalmente salvos, e é por essa razão que não somos plenamente salvos e devemos manter o que pode ser perdido. Não sei como dizer isso de outra forma, mas, a meu ver, os que objetam a verdade de tal doutrina, resistindo as sobejas passagens pelas quais inequivocamente Deus salva efetiva e eternamente os seus, responsabilizam-no, mesmo que sem querer, por dizer inconsistências, sustentando inverdades, que são encontradas em sua palavra, quando por meio dela mesma promete claramente algo que na visão de alguns não significa realmente o que ele quis dizer em determinada passagem – a nosso ver - ou ao que se interpreta pelo que é claramente dito. Digo isso porque nas passagens das quais se extrai a doutrina da perseverança dos santos, Deus diz fazer determinada obra em prol da salvação para os quais ele quis redimir. Daí alguns reinterpretam tais declarações divinas, dando-lhes novos significados as suas promessas, tornando-o confuso, quase incompreensível.
No desejo de ser puramente bíblico, analisemos alguns textos dos quais se conclui a salvação inalienável dos eleitos, e de contínuo constataremos que pessoas estão torcendo o que Deus claramente disse sobre os salvos a fim de invalidar uma doutrina com a qual não comungam.
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, Para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus para vós, que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo,” (1 Pe 1.3-5)
Por meio da pena petrina Deus nos diz que a salvação da qual fazemos parte fora nos dada como uma herança incorruptível. Ora, todas às vezes que tal palavra ocorre nas Escrituras ela tem o sentido de exprimir seu real significado, ou seja, que algo uma vez dito como incorruptível jamais poderá se corromper. Assim se sucederá na ressurreição dos salvos. Nós ressurgiremos e seremos transformados para vida. Deus há de eliminar a corruptibilidade de nossa efêmera vida mortal, revestindo-a de uma celestial e perene incorruptibilidade com a qual permaneceremos eternamente salvos e eternamente livres de uma possível corrupção. Da mesma forma, creio eu, quando em Pedro Deus qualifica nossa herança como incorruptível, pretende nos dizer que uma vez dada à nós tal salvação, a mesma não poderá ser perdida, nem usurpada de nós pelo que no mundo seja corruptível. Igualmente, Pedro nos diz que nossa salvação é incontaminável, ou seja, que não se pode contaminar. Ora, se caso nossa salvação nos pudesse ser tirada ou por nós perdida, onde estaria o sentido desta palavra quando relacionada a nossa salvação? Se for possível ao cristão genuinamente regenerado vir a perder-se totalmente ao ponto de que aquilo que um dia foi chamado de puro venha torna-se impuro, onde haverá congruência na ocorrência da palavra incontaminável ligada a natureza daquele que é passível de contaminar-se? Ainda, Pedro diz que nossa salvação não pode murchar. O inverno do pecado não pode murchar a flor de nossa eterna salvação! A luz de nossa salvação não perderá jamais seu fulgor frente às investidas do maligno. A viveza de nossa redenção não pode enrugar-se, isso porque estamos guardados em Deus para salvação. Assim, se nossa salvação puder ser corrompida pela nódoa do pecado a ponto de perder-se fatalmente; contaminar-se a ponto de perder a incontaminalidade prometida, se puder murchar ao ponto de perder sua beleza dantes inalienável, e se tal salvação puder ser roubada e perdida, mesma a tal sendo guardada por Deus na inviolabilidade celestial, então não vejo como compreender as palavras do texto sagrado, senão condicioná-las, segundo essa pueril compreensão, a condição de o cristão ser isso tudo se ele quiser ser isso tudo, imputando sobre o texto uma condicional que claramente não existe, esvaziando o sentido das palavras empregadas no texto, sob nenhuma justificativa plausível no texto, senão para tão somente discordar da perseverança dos santos.
“Com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo; Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória”. (Ef 1.13,14)
Somos salvos e por Deus selados com o Espírito Santo. O selo desde os tempos remotos era usado a fim de garantir a inviolabilidade do objeto selado, mantendo-o em sua genuinidade. Era uma proteção com a qual cartas e objetos seriam garantidos contra a falsidade investida contra o seu remetente. Assim, quando Paulo faz uso dessa palavra confortando-nos ao dizer que nosso selo é o Espírito Santo, procura garantir-nos que ao peregrinarmos nesse mundo rumo ao nosso destino, somos inviolavelmente posse daquele que nos selou. Somos de Jesus Cristo, o qual nos garante a chegada ao nosso destino, preservando-nos por meio do seu selo, O Espírito Santo. Se é possível que nós possamos nos perder, mesmo sendo selados com o Espírito Santo, não vejo qual o sentido de se valer de tal palavra, visto que nossa salvação a despeito do selo, não nos garanta que somos posse daqueles que nos marcou como sua herdade, passível de perda. Ainda o texto diz que o Espírito Santo que nos foi dado como um selo inalienável é o “penhor da nossa herança”. O que é um penhor? Um penhor é um objeto que garante o cumprimento da quitação de uma dívida. É o contrato do qual se espera do devedor o seu fiel cumprimento com o seu credor. O Espírito Santo fora nos dado como penhor na promessa de que Jesus cumprirá aquilo que pelo
“Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela sua vida”. (Rm 5.8-10)
Os pecadores justificados foram salvos da ira destinada aos impiedosos. Deus nos amou e o seu amor o levou para o calvário por nós. O texto acima diz que, se alguém foi alvo da piedade do Eterno, sendo salvo pela obra redentora da cruz, o tal está liberto da ira de Deus a ser derramada sobre os ímpios, e isto é garantido pelo fato do texto certificar-nos de que, se alguém foi salvo agora muito mais o será a eternidade. Ou seja, se já fomos reconciliados na morte de Jesus Cristo, certamente que seremos mantidos a salvo na sua vida, e visto que ele vive para sempre, nós também para sempre viveremos. “Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles.” (Hb 7.25) Em razão de sua vida, nós viveremos. E assim como ele jamais morrerá, nós seremos por sua eterna vida preservados e conservados para sempre. É por isso que a Escritura diz que fomos “chamados, santificados em Deus Pai, e conservados por Jesus Cristo” (Jd 1.1)
“Para o que fui constituído pregador, e apóstolo, e doutor dos gentios. Por cuja causa padeço também isto, mas não me envergonho; porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia”. (2 Tm 1.12)
O que Paulo afirma aqui? É triste que passagens tão claras como essa estejam sendo submetidas a diluição daqueles cujas mentes não desejam se comprometer como uma salvação tal que não se pode perder. Paulo está certo de que? A despeito das adversidades que constantemente lhe sobrevinham, apóstolo não titubeava, pelo que, a fim de mostrar-nos como tais adversidades se constituíram numa fraca inimiga tentando impedi-lo de caminhar, ele evoca sua fé naquele que é poderoso para guardá-lo, e transpondo as adversidades resultantes de seu apostolado e pregação entre os gentios, rumo aquele grande dia, ou seja, o de sua salvação.
"As evita os falatórios profanos, porque produzirão maior impiedade. E a palavra desses roerá como gangrena; entre os quais são Himeneu e Fileto; Os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de alguns. Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade. Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra". (1 Tm 16-21)
Ora, se Deus conhece os que são seus e o apóstolo por meio dessa declaração distanciou as ações de Himineu e Fileto das ações de um crente fiel que possa de fato Deus conhecer, qual era o tipo de fé que os dois naufragaram? Seria a fé que possui àqueles a quem Deus conhece? Se for, qual então seria a lição de Paulo por meio do contraste feito entre os que naufragaram e os que não naufragarão mediante essa declaração, "Deus conhece os que são seus"?
A lição a se aprender das palavras de Paulo é que os que são conhecidos por Deus e os que proferem - fidedignamente - o nome de Cristo se apartarão da iniquidade, e não submergirão em perene queda como naufragaram, por exemplo, Himineu e Fileto. É o que nos diz o texto de João:
"E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro". (1 Jo 3.3)
"Purifica-se" tem como objetivo neste texto explicar uma ação resultante do que é nascido de Deus. A palavra não é imperativa e sim conclusiva.
Deus conhece os que são seus.
"A qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória". (1 Co 1.12)
Quem conhece a Deus nunca crucificará ao senhor do Glória. Jamais se afastará definitivamente a ponto de perder-se fatal e irreversivelmente. Assim, os que são conhecidos por Deus não incorrerão nesse pecado, o de crucificar ao Senhor da Glória, por meio de uma incrédula e contumaz rejeição. O texto diz que aquele que conhece ao Senhor nunca seria capaz de crucificá-lo, e isso é facilmente interpretado pelo emprego da palavra “nunca” a qual quer dizer nada além de “jamais fazer isso”, jamais incorrer no erro dos príncipes deste mundo os quais nunca conheceram aquele ao qual estão crucificaram.
"Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos." (Rm 8.29)Não há possibilidade de Deus esquecer-se daqueles que ele predestinou, visto que seu conhecimento foi soberanamente planejado a manifestar-se por meio de um plano que tem como objetivo final a glorificação. De quem? Daqueles cujos quais ele conheceu para serem conforme a imagem de Jesus Cristo:
E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou.” (Rm 8.30)
Não há possibilidade de que um crente predestinado, chamado e justificado possa, em um momento de sua vida perde-se totalmente e não galgar o último passo desse elo inseparável e inevitavelmente concretizado na vida dos que são de Deus.
"Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura diz de Elias, como fala a Deus contra Israel, dizendo:” (Rm 11.2) - Deus não pode rejeitar àqueles que ele conheceu. Não que o faz por meio de coação frente à exigência daqueles pelos quais ele salvou e sim porque Ele quis que fosse assim. Se ele conheceu, é certo de que ele não lhes rejeitará, ele conheceu os 7000 que estavam na caverna, bem como conhece um remanescente provido segundo a eleição da graça e da mesma forma que livrou os profetas escondidos, igualmente livrará os seus da danação preparada para os que não se arrependerem.
"Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo." (Jo 17.24)
Como pode haver possibilidade de se perderem aqueles que estarão sempre com Jesus onde Ele estiver, O Jesus encarnado amado antes da fundação do mundo? Sob nenhuma hipótese uma vida salva por Deus perder-se-á, isso porque os que são conhecidos por Deus, o serão por toda a eternidade. Estarão para sempre no reduto de Deus tal como sempre Deus se fez neste eternamente presente.
"Pai justo, o mundo não te conheceu; mas eu te conheci, e estes conheceram que tu me enviaste a mim. E eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja." (Jo 17.25,26)
Como haveria possibilidade de tamanha união ser dissolvida?
"Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um" (Jo 17.21,22)
Aqui o Evangelista não poderia ter sido mais incisivo. Como tamanha aliança poderá ser quebrada? Ao Senhor Jesus ser-lhe-í-a possível desatar-lhe sua aliança com o Pai? Evidente que não. Eles são Um junto com o Espírito Santo. Pois então, assim como a união do Pai com o Filho é indissolúvel, tal o é e sempre será a união dos que pelo Pai foram dados a Jesus para conhecê-lo. É isso que diz o texto acima, eles serão um com Jesus, assim como Jesus é um com o Pai. Afirmar que há possibilidade de separação entre Jesus e os crentes verdadeiros, consistirá em afirmar que há possibilidade de separação naqueles cuja união foi citada no contexto com exemplo da união dos crentes com Cristo, a saber, Jesus e o Pai. O texto diz “assim sejam – unidos – como tu é Eu o somos – Jesus e o Pai.
“As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que, mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai. Eu e o Pai somos um.” (Jo 10.27-30)
Aqueles que são conhecidos por Jesus ouvem a sua voz, o seguem e jamais se perderão porque a indissolubilidade que acompanha a Trindade revelar-se-á também sobre aqueles que o Pai der a Jesus Cristo, e é por essa razão que Jesus conclui sua promessa mostrando-nos a união que há entre o Deus Trino, quando disse: “Eu e o Pai somos um”. Elas não hão de perecer disse Jesus. Contudo, a despeito dessa afirmação inquestionável há aqueles que por meio de uma interjeição – porém – abrem uma concessão que não existe no texto, por meio de uma conjunção adversativa que sequer existe no texto, do tipo “porém”, “entretanto”. Ou seja, dizem ser verdade o texto sobre os que fazem por onde para validá-lo em suas vidas. Os cristãos não perecerão se não perecerem. Eles não serão arrebatados, caso não permitam que o sejam. Contudo, essas exceções, relativizam o próprio poder do Pai, que no texto é razão de os crentes não se perderem. Eles estão guardados pelo poder do Pai que a todos é maior. A sua mão é forte para mantê-los. Abrir uma exceção sobre o destino imputado sobre os que foram salvos, significa a abrir exceção sobre a forte mão de Deus. Há algo que possa enfraquecê-la a ponto de que seus filhos lhe sejam tirados de seu regaço? Se há algo, a justificativa de Jesus, explicando por qual motivo não nos perderemos tornar-se-á fraca, pois é sujeita a circunstancias que a fraquejam.
Mas há alguns que não o conhecem, e os tais são os que nunca conheceram a Jesus e não alguns que o conhecendo foram desconhecidos por Jesus ali na frente.
“Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação.” (1 Co 1.21)
O mundo aqui conota os ímpios e os crentes consistem naqueles que serão salvos. Na mesma conclusividade segue o texto abaixo:
“Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai, que fôssemos chamados filhos de Deus. Por isso o mundo não nos conhece; porque não o conhece a ele.” (1 Jo 3.1)
Quem não conhece a Jesus não guarda sua palavra:
“E vós não o conheceis, mas eu conheço-o. E, se disser que o não conheço, serei mentiroso como vós; mas conheço-o e guardo a sua palavra.” (Jo 8.55)
A evidência a ser revelada naqueles aos quais o Pai conhece é que guardarão sua palavra e a evidência a ser revelada naqueles ditos quais Deus não conhece não guardarão a sua palavra. E por isso que João, ao lado da declaração do mestre nos alerta:
“Aquele que diz: Eu conheço-o, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade.” (1 Jo 2.4)
Conhecer a Jesus implica em ser antes conhecido por ele.
“Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?” (Gl 4.9) – Paulo exclama: Como vocês poderiam voltar aos rudimentos deste mundo se foram conhecidos por Deus na eternidade? (Ele exclama tal incoerência a não ser experimentada pelos que foram genuinamente conhecidos por Deus).
E todo aquele que é conhecido por Deus guarda os seus mandamentos e nele está a verdade. Assim, por meio desses versículos acima, afirmo: Existem os que por Deus são conhecidos, e esses são os que foram predestinados, desde a eternidade, a se apropriarem da salvação. Contudo, existem os que embora membrados em suas reuniões assemelhando-se como ovelhas de Cristo sorrateira e sutilmente no arraial dos santos, não passam de ímpios e de não-convertidos, e os tais, nunca foram conhecidos por Deus, muito embora se parecessem com um cristão. É o que pode ser entendido pelas palavras de Jesus abaixo:
“Porfiai por entrar pela porta estreita; porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não poderão. Quando o pai de família se levantar e cerrar a porta, e começardes, de fora, a bater à porta, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos; e, respondendo ele, vos disser: Não sei de onde vós sois; Então começareis a dizer: Temos comido e bebido na tua presença, e tu tens ensinado nas nossas ruas. E ele vos responderá: Digo-vos que não sei de onde vós sois; apartai-vos de mim, vós todos os que praticais a iniqüidade. Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, e Isaque, e Jacó, e todos os profetas no reino de Deus, e vós lançados fora.” (Lc 13.24-28)
Há pessoas tentando entrar pela porta estreita sem submeter-se à ela. Estão entre nós, mas não são de nós. Porém, permanecerão entre nós, até que o Pai – Deus – por fim, feche a porta permanentemente, e dirá os falsos cristãos a verdade sobre suas vidas: “De onde sois vós? Não sei de onde sois vós”, em outras palavras, “não conheço você”, e ainda, eles sempre praticaram a iniquidade, muito embora se mostrassem por vezes, “interessados” para entrar na porta, na qual nunca lhes foi permitido entrar. Estes reprovados alegarão, vejam, alegarão que “comeram na presença do senhor – quem sabe uma alusão a ceia, comungada de forma indigna e infiel - e participaram do ensino bíblico na igreja. Eles participaram do símbolo da fé e da comunhão da fé sem serem genuinamente da fé, senão que eram membros locais da igreja, sem que fossem membros espirituais da Igreja de Cristo.
Ainda, sobre essa passagem, Mateus é mais incisivo e faz uso da palavra a qual nos é de grande interesse e valia na discussão em pauta:
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas. E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade”. (Mt 7.22,23)
Nem todo que diz “Senhor”, conforme nos diz o evangelista, são de Deus. Nem todos que estão entre nós se dizendo salvos são de fato salvos, a fim de que por meio da fé fraca e débil destes, que nestes, em algum momento se manifestará, se faça comparações banais visando comprometer uma visão de uma fé genuinamente dada e jamais retirada, alegando que por meio do abandono desses a fé que supostamente possuíam se possa concluir que um genuíno cristão pode perder a fé genuína. Esses que se dizem ser nada são, senão homens cujas vidas não foram transformadas, muito embora se passem como cristãos ao serem frequentes aos cultos e as funções da Igreja. E ainda simularão piedade quando frente ao Reto juiz alegarão vida santa. Eles dirão que profetizaram, expulsaram demônios, isso depois de Cristo ter dito aos seus que é por meio de contínua oração e jejum que os demônios serão expelidos, visando convergência, e alegarão terem feito maravilhas pelo nome de Jesus. Todas essas “defesas” se desmoronarão frente aquele cuja onisciência é infinita e serão reputadas como obras falaciosas e mentirosas, quando por meio de uma única declaração, Jesus levantar o tapete de seus corações e mostrar-lhes as suas sujeiras: “Nunca vos conheci”. É impossível que esses os quais Jesus disse nunca tê-los conhecido sejam alguns dos quais ele disse ter conhecido antes da fundação do mundo, isso porque nunca “ter conhecido”, não é a mesma coisa que dizer “ter conhecido um tempo e deixar de conhecer em outro”, e sim, que nunca foram de Deus, nunca foram salvos, nunca foram conhecidos desde a eternidade, isso porque os que são conhecidos por Deus, como tenho dito acima, praticam obras genuínas, mas, destes, porém, nada ficará de pé frente ao senhor Jesus, eles não possuem obras. Jesus não se comportaria com tamanha mentira – reverentemente falando – dizendo nunca ter conhecido alguém que ele já conheceu, quando estes antes de estarem ali prontos a serem condenados foram-lhes servos fiéis em uma vida pregressa, mas que agora não são mais.
Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.” (Mt 7.23)
“Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” (Rm 8.29)
Como os grupos dos dois textos acima podem corresponder às mesmas pessoas, visto que suas obras são e sempre serão diferentes e também sendo que um grupo Jesus NUNCA o conheceu e o outro foi conhecido desde a eternidade? Deus não pode mentir.
Há outros inúmeros textos – se continuasse escrevendo o texto ficaria grande demais - que poderiam ser evocados e submetidos a uma análise por meio da qual concluiríamos o que já fora detectado, ou seja, que toda tentativa de refutar a doutrina da perseverança dos santos é quase sempre fundamentada sob um processo de desdizer o texto interpretando-o por meio de exceções que inexistem no texto. Sempre há um “se” alegam os contradizentes sobre aquilo que Deus diz efetivamente fazer. Que Deus possa nos livrar desse comportamento o qual não pode ser chamado de outra coisa, senão de adulteração da verdade.

Os crentes devem sentir-se culpados o tempo todo?



Por Kevin DeYoung
Imagino que existem inúmeros crentes que raramente sentem o aguilhão da consciência ou as tristezas do arrependimento. Mas também conheço muitos, muitos crentes (incluindo eu mesmo) que facilmente se sentem infelizes por coisas que não fazem ou fazem-nas menos do que perfeitamente. De fato, estou convencido de que a maioria dos cristãos sérios vivem quase constantemente com um baixo senso de culpa.

Como nos sentimos culpados? Deixe enumerar algumas maneiras.

  • Poderíamos orar mais.
  • Não somos bastante ousados em evangelizar.
  • Gostamos demais de esportes.
  • Assistimos freqüentemente a filmes e à televisão.
  • Nosso tempo devocional é curto e esporádico.
  • Não contribuímos de modo suficiente.
  • Compramos um novo móvel.
  • Não lemos muito para nossos filhos.
  • Nosso filhos comem Cheetos e batatas fritas.
  • Reciclamos pouco.
  • Precisamos perder alguns quilos.
  • Poderíamos usar melhor nosso tempo.
  • Poderíamos viver em um lugar mais difícil ou em uma casa menor.

O que fazemos por trás de todos esses cenários de culpa? Não sentimos aquele tipo de remorso paralisante por causa dessas coisas. Mas essas imperfeições podem ter um efeito cumulativo pelo qual até o crente maduro pode sentir-se como alguém que está desapontado a Deus e, talvez, um mero cristão.

Eis a parte delicada: às vezes devemos nos sentir culpados, porque às vezes somos culpados de pecado. Além disso, a complacência na vida cristã é um perigo real, especialmente na América.

Mas, apesar disso, não creio que Deus nos redimiu pelo sangue de seu Filho para que nos sintamos como fracassos permanentes. Depois do Pentecostes, Pedro e João pareciam torturados por temor introspectivo e repugnante de si mesmos? Paulo se mostrou constantemente preocupado com o fato de que poderia fazer mais? Admiravelmente, Paulo disse em certo momento: "De nada me argúi a consciência" (1 Co 4.4). E acrescentou logo: "Nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor". Parece que Paulo dormia toda noite com uma consciência limpa. Então, por que tantos crentes se sentem culpados o tempo todo?

1. Não recebemos completamente as boas-novas do evangelho. Esquecemos que fomos vivificados com Cristo. Fomos ressuscitados com ele. Fomos salvos somente pela fé. E isso é um dom de Deus, e não um resultado de obras (Ef 2.4-8). Podemos ficar com tanto medo do antinomianismo – um perigo legítimo –, que receamos falar profusamente sobre a graça de Deus. Mas, se nunca fomos acusados de ser antinomianos, talvez o evangelho não nos foi apresentado em toda a sua glória extraordinária (Rm 6.1).

2. Os cristãos tendem a motivar os outros por culpa e não por graça. Em vez de instarmos nossos irmãos a serem o que realmente são em Cristo, nós os ordenamos a fazerem mais para Cristo (quanto à motivação correta, ver Rm 6.5-14). Por isso, vemos a semelhança com Cristo como algo em que estamos realmente fracassando, quando deveríamos vê-la como algo que já possuímos e no qual precisamos crescer.

3. A maior parte de nosso baixo nível de culpa se enquadra na ambígua categoria de "não fiz o suficiente". Examine a lista que apresentamos. Nenhum dos itens é necessariamente pecaminoso. Dizem respeito a possíveis infrações, percepções e maneiras como gostaríamos de fazer mais. Essas são as áreas mais difíceis de lidarmos porque, por exemplo, nenhum crente jamais confessará que tem orado de modo suficiente. Assim, é sempre fácil nos sentirmos horríveis quanto à oração (ou à evangelização, ou a contribuir, ou a qualquer outra disciplina cristã). Precisamos ter cuidado para não insistirmos em algum padrão de prática quando a Bíblia insiste apenas em um princípio geral.

Quero dar um exemplo. Todo crente tem de contribuir generosamente, para as necessidades dos santos (2 Co 9.6-11; Rm 12.13). Podemos insistir nisso com absoluta certeza. Mas, como é essa generosidade, quanto devemos dar, quanto devemos reter – essas coisas não estão delimitadas por alguma fórmula, nem podem ser exigidas por compulsão (2 Co 9.7). Portanto, se queremos que as pessoas sejam mais generosas, faremos bem se seguirmos o exemplo de Paulo em 2 Coríntios e enfatizarmos as bênçãos da generosidade e a sua motivação alicerçada no evangelho, em vez de envergonharmos os outros que não contribuem muito.

4. Quando somos verdadeiramente culpados de pecado, é imperativo que nos arrependamos e recebamos misericórdia de Deus. Paulo tinha uma consciência limpa não porque nunca pecava, e sim porque, eu imagino, buscava imediatamente o Senhor, quando sabia que havia errado, e descansava no "nenhuma condenação" do evangelho (Rm 8.1). Se confessarmos os nossos pecados, disse João, Deus é fiel e justo para nos perdoar e nos purificar de toda injustiça (1 Jo 1.9). Deus não nos salvou para nos sentirmos miseráveis o tempo todo. Ele nos salvou para que vivamos na alegria de nossa salvação. Portanto, quando pecamos – e todos pecamos (1 Rs 8.46; 1 Jo 1.8) –,confessamos o pecado, somos purificados e prosseguimos.

Isso enfatiza um dos grandes perigos da culpa constante: aprendemos a ignorar nossa consciência. Se pecamos verdadeiramente, precisamos arrepender-nos e rogar ao Senhor que nos ajude a mudar. Mas, se não estamos pecando, se não somos tão maduros como deveríamos ser, nem tão disciplinados como outros crentes, nem estamos fazendo escolhas diferentes que talvez sejam aceitáveis, mas não extraordinárias, não nos devemos sentir culpados. Devemos nos sentir desafiados, estimulados, inspirados, mas não culpados.

Como pastor, isso significa que não espero que todos em minha igreja sintam-se apavorados a respeito de tudo que prego. Afinal de contas, é justo que todos obedeçamos aos mandamentos de Deus. Não perfeitamente, não sem alguns motivos incertos, nem tão plenamente como deveríamos, mas com fidelidade e obediência que agrada a Deus. A pregação fiel não exige que os cristãos sinceros sintam-se miseráveis o tempo todo. De fato, a melhor pregação deve fazer que os cristãos sinceros vejam mais de Cristo e experimentem mais de sua graça

Como os cristãos devem lidar com os Santos dos Últimos Dias


Por Russell D. Moore
Cristãos eventualmente se perguntam por que os Mórmons acreditam em um sistema tão inacreditável: tabuas de ouro traduzidas ao se colocar os “óculos mágicos”, uma sociedade avançada de antigos índio-israelitas americanos que não deixaram nenhuma evidência arqueológica, uma “revelação” sobre poligamia que foi revertida quando Utah precisou assim fazer para se tornar um Estado, uma “revelação” barrando Mórmons negros de exercer o sacerdócio, mudada após o triunfo do movimento dos direitos civis, uma eternidade de bebês espirituais que produzem divindades, e roupa intima com proteção especial.
O que nós precisamos entender é que os Santos dos Últimos dias (SUD) acreditam nessas coisas pela mesma razão em que pessoas em todo lugar acreditam nas coisas que acreditam: elas querem acreditar nisso. Poucos convertidos ao Mormonismo são convencidos do trabalho profético de Joseph Smith por argumentos racionais. De fato, missionários Mórmons não pedem por isso, pelo contrário, se apoiam em um “ardor no peito” para comprovar que as afirmações de Smith são verdadeiras.
Para entender o atrativo do Mormonismo, evangélicos deveriam ler os escritos dos Santos dos Últimos dias que explicam porque eles amam sua religião.
Coke Newell, um convertido à igreja dos SUD em sua adolescência, expõe o porquê um vegetariano usuário de drogas iria achar a igreja SUD atraente. Ao fazê-lo, ele exalta os antigos mistérios da cosmologia e escatologia Mórmon: de um Deus e uma Deusa que produzem uma prole para um futuro no qual seres humanos divinizados irão governar um vasto cosmos. Newell deixa claro que ele não está simplesmente convencido por causa das afirmações de Joseph Smith; ele está convencido porque ele ama a figura da realidade que eles retratam.
Isso não deveria ser uma surpresa para os Cristãos que leram a revelação do apóstolo Paulo sobre as raízes da idolatria humana no primeiro capitulo de Romanos.  Seres humanos caídos têm afeições e inclinações, que eles então apoiam em crenças, se convencendo de que seu sistema é verdadeiro.  Sendo esse o caso, evangélicos devem ter mais do que apenas uma abordagem genérica para derrubar as afirmações dos Mórmons.  Devemos apresentar também uma história que entre em contrapartida à história Mórmon: uma que ressoa com a beleza da verdade e da santidade.
Sermões evangélicos de “como fazer” não vão alcançar os nossos vizinhos SUD.  Tampouco as igrejas anti-teológicas que focam na experiência cristã e na piedade, desconectadas de conteúdo doutrinário.  Pelo contrário, nós devemos apresentar o evangelho da maneira que os apóstolos fizeram após o Pentecostes: como um “mistério” que agora explica  tudo nos termos dos propósitos de Deus em Jesus Cristo.
Como exemplo de como proclamar o evangelho aos Mórmons, nós devemos prestar atenção à proclamação de Paulo para uma sociedade cultural que se assemelha a de Salt Lake City: o território pagão de Éfeso. Paulo apresentou Jesus como chave para o entendimento do plano cósmico de Deus, como a razão para a existência humana , adoração humana,  paternidade humana e até mesmo sexualidade humana. Paulo não se envergonha de falar do que nós intuitivamente parecemos saber que é verdade: que existe uma antiga guerra na qual as questões humanas são apenas uma parte.
O apóstolo entende que para os Efésios, e para os Mórmons, e para todos nós distantes de Cristo, o fascínio da falsidade é porque a falsidade é parasita da verdade. Nós precisamos não apenas perguntar para os Mórmons se eles acreditam em coisas que são perigosas e que não são verdadeiras; eles acreditam. Nós precisamos perguntar também porque eles acreditam nessas coisas, e confrontá-los com a verdade revelada.
Santos dos Últimos dias não precisam de uma visão anti-Biblíca e insatisfatória da esperança Cristã que não é muito mais do que uma eterna repetição na prática. Pelo contrário, nossos vizinhos SUD (e todos nós) precisamos ouvir da glória Bíblica e do universo restaurado no qual seres humanos irão governar com Cristo sobre todas as coisas, um universo no qual a própria natureza está livre da maldição e no qual a amizade, o amor e a comunhão entre os seres humanos continuará a crescer para sempre. Famílias SUD não precisam apenas ouvir que nós somos pro-família. Eles precisam entender que nós somos pro-família porque a família reflete a Paternidade de Deus (Efésios 3.14), uma Paternidade que acha sentido, não em bebês espirituais pré-mortais, mas na filiação de Jesus Cristo (Romanos 8.15).
Sim, nós precisamos de apologética direcionada a Mórmons.  E, independente do que alguns líderes evangélicos podem dizer, nós não devemos dar as costas para a triste realidade de que o Mormonismo não é nem remotamente Cristão. Mas nós devemos nos lembrar de que nós não iremos convencer os Mórmons somente com argumentos racionais.
Isso significa que nós não podemos nos apoiar em tentativas óbvias de apontar discrepâncias no Livro de Mórmon, ou provas arqueológicas contra a civilização Nefita, ou buracos filosóficos na cosmologia Mórmon. Todas essas coisas são importantes, mas nós devemos lembrar que, no fundo de seus corações, Mórmons temem que Joseph Smith esteja errado. Eles, como nós antes da conversão, estão “suprimindo a verdade” (Romanos 1.18).
O Espirito pode vencer sobre esse tipo de enganação, e Ele o faz pela Palavra da Verdade.  Isso não significa argumentar por meio de versículos-chave, necessariamente. Significa apresentar a grande imagem da Escritura, culminando tudo no auge de toda a verdade, Jesus de Nazaré. Esse não é o subjetivo, irracional “queimando no peito” dos nossos amigos missionários Mórmons.  Mas vamos nos lembrar onde eles encontraram essa linguagem de “queimação no peito”.
Quando Jesus estava andando com os discípulos desanimados para Emaús, ele lhes mostrou por toda a Escritura como Cristo era o foco de toda ela. Depois que ele os deixou, eles disseram um para o outro: “E disseram um para o outro: Porventura não se nos abrasava o coração, quando pelo caminho nos falava, e quando nos abria as Escrituras?” (Lucas 24.32).
Este não foi, e não é, o relativismo anti-proposicional da epistemologia pós-moderna, nem tampouco o misticismo irracional no ocultismo da Nova Era. Esse é o coração humano criado à imagem de Deus, livre pelo Espírito, ressoando com a verdade. Isso é o que o apóstolo João quer dizer quando escreve que nós conhecemos o espírito da verdade pelo espírito do erro porque aquele que é de Deus “nos ouve”, os instrumentos profético-apostólicos da revelação divina (1 João 4.6).
Nós devemos nos lembrar disso quando chamarmos nossos vizinhos SUD para jantar em nossas casas, ou quando amavelmente passarmos uma tarde com diligentes missionários Mórmons. Quando a revelação divina é apresentada em toda sua Cristocêntrica glória, há um anseio dentro de nós por isso. Isso porque é verdade. E mais do que isso, é a verdade, o caminho e a vida. Essas são as boas novas para os Santos dos Últimos Dias, e para antigos pecadores como nós.

Os erros dos clichês cristãos pós-modernos


Por Maurício Zágzri
Vivemos a era das frases curtas. De repente a nossa fé pulou no imaginário de uma enorme parcela da Igreja brasileira da Bíblia e dos livros para adesivos de automóvel, 140 caracteres do twitter, fotos com frasezinhas do Facebook, slideshows no YouTube, blogs com três ou quatro parágrafos. Preguiçosos que somos, passamos a ser governados por teologia fast food em vez de por leituras com introdução, desenvolvimento e conclusão. Ao longo de algum tempo,  fiz uma coletânea de clichês gospel que ouço pelos arraiais evangélicos (das igrejas organizadas aos desigrejados) para que possamos comentar cada um. Leia e veja se você já não ouviu essas frases serem repetidas montes de vezes - sem que aqueles que as falam tenham gasto cinco minutos refletindo sobre seu significado. Vamos analisá-los biblicamente e historicamente:

- "Eu declaro/decreto a bênção" - Bênçãos são benefícios vindos unilateralmente de Deus e por decisão soberana dEle. Ninguém pode declarar ou decretar uma bênção, pois está fazendo aquilo que só o Senhor pode fazer. Quem o faz toma o lugar de Deus e, portanto, pratica idolatria. Sem falar que essa afirmação, fruto da chamada "Confissão Positiva", tem raízes em religiões demoníacas de Nova Era (saiba mais sobre isso no post Demonologia da Prosperidade).

- "Eu tomo posse da bênção" - "tomar posse" significa literalmente se apossar de algo que não é seu. Quem "toma posse" é um posseiro, ou seja, alguém que invadiu um local que não lhe pertence e impõe pela força e presença o domínio sobre o que é dos outros. Como vimos acima, bênção é um benefício outorgado por Deus, por sua soberania. Quem quer "tomar posse" de uma bênção está dizendo, em outras palavras, que vai arrancar do Senhor na marra aquilo que quer para si e que só receberia se fosse concedido pelo Todo-Poderoso. Logo, essa frase, (cunhada com base no Antigo Testamento, quando o povo de Israel entrou na Terra Prometida e teve de "tomar posse" dela na base da briga, visto que era habitada por outros povos) é uma afronta à vontade soberana de Deus, que concede bênçãos a cada um conforme lhe apraz e não porque as tomamos dele à força.

- "Tá amarrado" - parte do princípio de que podemos atar demônios com amarras espirituais. Não existe tal expressão na Bíblia e o que as Escrituras nos ensinam a fazer com os demônios é expulsá-los imediatamente quando se manifestam, e não amarrá-los. Não vemos nenhum exemplo bíblico de Jesus ou os apóstolos "amarrando" demônios. O padrão bíblico é: "Cala-te e sai".  Jesus não perdia tempo dialogando com demônios, apenas os mandava ficar quietos e então os expulsava. O único episódio de possessão em que Jesus vai além do "cala-te e sai" é o do gadareno. E, mesmo assim, a ordem de Cristo não é amarrar ninguém, mas sair na hora da pobre alma atormentada.

- "Temos que voltar ao modelo da Igreja primitiva" - se fizermos isso, estamos lascados. A Igreja primitiva, ao contrário do que existe no imaginário popular cristão, estava a anos-luz da perfeição. Em Atos lemos casos como os de Ananias e Safira, discordâncias com os judaizantes, brigas internas entre crentes como Paulo e Pedro, duplas missionárias sendo divididas por discordâncias. A esmagadora maioria das epístolas do NT foi escrita para consertar as montanhas de erros que os primeiros cristãos cometiam. Na Ceia do Senhor muitos iam só para matar a fome e os que levavam mais não dividiam com quem não tinha posses. Se lemos as sete cartas às igrejas de Apocalipse vemos como a maioria estava distante da vontade de Deus. Nos 313 anos em que houve perseguição do Império Romano aos cristãos, surgiu o fenômeno dos "lapsi", aqueles que, ao contrário dos mártires, negavam Jesus perante as autoridades para salvar suas vidas - e não foram poucos os que fizeram isso. Nas catacumbas, que eram essencialmente cemitérios subterrâneos, os cristãos mais ricos tinham direito a sepulturas mais luxuosas que os pobres e, muitas vezes, ganhavam câmaras inteiras exclusvas para suas famílias. Havia muitos privilégios concedidos aos abastados na Igreja primitiva.

Além disso, a Igreja primitiva foi assolada por montes e montes de heresias que surgiram em seu seio, como gnosticismo, sabelianismo, modalismo, monofisismo, eutiquianismo, pelagianismo, marcionismo, ebionismo e outros "ismos" que denunciam como ela era dividida, como havia desacordos, divergências de visão e rachas. Tudo isso mostra que retomar o modelo da Igreja primitiva não é viver um Evangelho puro e simples, como muitos pensam, é voltar a uma época cheia de enormes poluições, divisões, pecados e problemas no seio do Corpo de Cristo. Igualzinho aos nossos dias.

- "Os primeiros cristãos se reuniam em lares e não em templos, por isso devemos voltar a esse modelo" - os primeiros cristãos, aqueles cheios de imperfeições que vimos acima, só se reuniam em lares por uma única razão: como por 313 anos o cristianismo foi considerada uma religião criminosa pelo Império Romano, qualquer um que se confessasse cristão tinha seus bens tomados, era preso, torturado e morto. Por isso, o culto a Jesus tinha de ser feito de modo escondido. O único lugar onde havia um mínimo de privacidade eram os lares dos cristãos, que podiam simular uma visita social e ali realizavam suas liturgias. Mas, com o Edito de Milão, no ano 313, decreto que liberou a religião cristã, imediatamente os que se ocultavam, ávidos por comungar com mais irmãos, começaram a erguer templos onde pudessem se ajuntar e reverenciar o Senhor coletivamente. Em pouco tempo, graças à liberdade religiosa, o culto em lares tinha sido extinto.

Para fazer um paralelo com nossos dias, é só ver o caso da China, por exemplo, onde não se pode cultuar Jesus publicamente e por isso lá existe a chamada "igreja subterrânea", ou seja, os irmãos são obrigados a se reunir em pequenos grupos, nos porões de suas casas, para cultuar Jesus em oculto. Se você perguntar a um membro desses grupos em lares se eles preferem esse tipo de modelo ou se gostariam de ter templos onde se reunir em maior quantidade e celebrar a liturgia da adoração com muito mais irmãos (como eu já fiz, em entrevistas com membros da Igreja subterrânea chinesa para reportagens que escrevi), verá que TODOS eles dão preferência ao ajuntamento em santuários, onde poderiam comungar em maior número, num local dedicado e visível, que servisse de referência para os não cristãos em sofrimentos saberem que ali podem encontrar ajuda. Uma reunião num lar dificilmente será encontrada por quem está vivendo aflições que só Deus pode aliviar, o que não ocorre se você tem um templo bem visível.

- "Jesus não criou uma religião" - a palavra "religião" vem do latim "religare" e significa "ligar duas partes separadas". Portanto, em sua essência, religião cristã é o contato entre Cristo e o homem, é o "religare" entre o Pai e o filho. Religião, assim, é relacionamento, é intimidade. Logo, quando ora você pratica religião. Quando lê a Bíblia você pratica religião. Etimologicamente, qualquer pessoa que se liga a Deus é um religioso sim senhor, pois pratica o "religare". Portanto, ao ensinar a oração do Pai Nosso, Jesus nos estava ensinando a ser religiosos, no sentido de sabermos nos comunicar bem com o Pai. Quando ouvimos "pedis e nada recebeis pois pedis mal", o que está sendo dito é "você está praticando mal a sua religião". É claro que, como muitas palavras da língua portuguesa (como "manga", que pode ser a fruta ou uma parte de uma blusa), o termo "religião" pode ter o significado de "prática organizada de uma fé", basta ver no dicionário. É a "famigerada" instituição. Em geral é nessa acepção que a frase em questão é dita. Nesse sentido, quando Jesus diz a Pedro que sobre Ele (a Pedra) seria erguida Sua Igreja, o Mestre está estabecendo-se como o alicerce, o fundamento da fé que se seguiria pelos milênios a seguir. Só que Ele em nenhuma passagem da Bíblia  especifica como o homem deveria manter o Corpo sobre esse fundamento. Isso é uma decisão que Jesus deixou a cargo do homem. Fato é que se Jesus nunca instituiu uma organização religiosa que o tivesse como alicerce, também nunca proibiu. Repare que o que Jesus critica, por exemplo, nos maus fariseus em momento algum é sua organização ou o fato de cultuarem  Deus de modo institucional, sua crítica a eles era uma questão do indivíduo, do coração, e não da instituição: a hipocrisia, a falsa aparência de piedade, a religiosidade aparente sem um "religare" autêntico, sempre questões de foro pessoal e nunca institucional.

- "Jesus nunca construiu templos, por isso devemos nos reunir em lares" - se Jesus nunca construiu templos, também nuca construiu casas. Por esse argumento, se não devemos adorá-lo em templos institucionais também não poderíamos adorá-lo em lares. Dá na mesma. A resposta e a solução para essa pendenga de se podemos ou não cultuar Jesus em templos está em duas passagens bíblicas. Em João 4.19ss, lemos o diálogo entre o Mestre e a samaritana: "Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que tu és profeta. Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai.  Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade". Eis a primeira resposta: seja no templo, num lar, no monte ou em Jerusalém, importa adorar em espírito e em verdade. Se é o que a pessoa faz, não se pode condenar o local só porque Jesus nunca construiu um edifício.

Temos que lembrar que os discípulos adoraram muitas vezes o Senhor na cadeia. E Jesus também nunca construiu uma cadeia. Outra passagem reveladora que contradiz essa frase incoerente está nas palavras de Jesus relatadas em Mateus 18.20: "Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles". Se houver dois ou três reunidos em nome de Jesus num templo de uma igreja institucional Ele ali não estará? Se houver dois ou três reunidos em nome de Jesus num templo do tipo que Jesus nunca ergueu Ele não se fará presente? A resposta é óbvia. Então o fato de Jesus nunca ter construído um templo, uma igreja ou uma catedral é absolutamente irrelevante, desde que haja ali dois ou três reunidos em Seu nome e o adorando em espírito e em verdade. Quem perde tempo combatendo isso e advogando furiosamente a reunião em lares só está perdendo tempo.

- "Não cai uma folha da árvore se Deus não deixar" - embora faça sentido biblicamente, visto que Deus é soberano e controla tudo o que ocorre no universo, sejam fatos bons ou tragédias, essa frase não está em nenhum lugar da Bíblia.

- "Sou cristão, não evangélico" - essa frase é fruto da vergonha de ser designado pela mesma nomenclatura de  igrejas e pastores que têm enlameado o bom nome da Igreja evangélica. Então, para evitar ser associados por amigos e parentes a esses grupos, muitos têm optado por se dizer apenas "cristãos" e repudiam enfaticamente o nome "evangélico". Mais do que deixar de ser evangélicos, se tornam antievangélicos. Isso é nonsense, pelo simples fato que não resolve nada. Os que enlameiam nosso nome também se dizem "cristãos". Pela mesma lógica, deveríamos abandonar esse termo também?  A resposta é óbvia.  Etimologicamente, "evangélico" é o que segue o Evangelho de Jesus. Historicamente, "evangélico" é o que segue o Evangelho conforme resgatado pela Reforma Protestante. Logo, se você é cristão, professa o Evangelho de Cristo e coaduna com os cinco "solas" da Reforma... você é evangélico, queira ou não. É uma nomenclatura de 500 anos que define quem tem essas características. Renegar isso é dizer que você não é o que você é. Portanto, em vez de dizer "não sou o que sou, sou só cristão" por vergonha de ser associado a igrejas e pastores dos quais se envergonha, o ideal é deixar claro para os de fora que nós somos sim evangélicos, enquanto os que praticam atrocidades em nome da fé é que não são.

Se alguém faz piadinha pelo fato de você ser evangélico, em vez de mudar sua nomenclatura aproveite a oportunidade e explique para o piadista a razão de você portar esse honroso nome, fale que evangélico significa "aquele que segue o Evangelho de Cristo conforme resgatado pelos reformadores", explique por que os falsos cristãos não são evangélicos e aproveite para explicar o que são as boas-novas da salvação do genuíno Evangelho de Cristo. Assim, ser humilhado por ser evangélico é uma excelente oportunidade não de mudar por vergonha o que te define, mas sim de explicar aos não cristãos o que é o Evangelho da salvação. De e-van-ge-li-zar. A escolha é sua.

- "Deus é amor e por isso não controla as tragédias nem desastres naturais, como os tsunamis" -  essa heresia teológica vem sendo pregada por um pequeno grupo que segue a linha do Teísmo Aberto americano, uma linha de pensamento que no Brasil foi chamada por um pastor evangélico que não se diz evangélico de Teologia Relacional. Ele e mais um punhado de pastores e acadêmicos celebrados nas mídias sociais (além de um grupinho de pessoas que tentam pegar carona em suas celebridades para se promover) começaram a propagar essas ideias pelas redes sociais, dizendo que Deus abriu mão de sua soberania e não controla as tragédias que ocorrem no mundo. Segundo essa heresia, Deus só está preocupado em relacionamentos e o conceito de Jeová controlando as forças da natureza seria fruto da incorporação de valores da filosofia e da religião grega no Cristianismo. Esquecem que Deus abriu o Mar Vermelho e o Rio Jordão, que Jesus acalmou a tempestade, que o Sol "parou" e retrocedeu, que houve um terremoto no momento em que Jesus entregou o seu Espirito... para essa heresia tudo isso são metáforas, o que associa esse pensamento à diabólica Teologia Liberal de Bultmann e outros teólogos - segundo a qual a Bíblia não é literal e muitos de seus relatos são apenas fábulas. Ao propagar essa afirmação, os adeptos da Teologia Relacional destituem Deus daquilo que é indissociável de Sua essência: Seu poder absoluto sobre todas as coisas e Sua soberania sobre tudo o que ocorre no universo. É, portanto, uma afirmação antibíblica e anticristã.

- "Padussinhô" - cumprimento que originalmente tinha um significado muito bonito e bíblico: "A paz do Senhor". O problema é que a expressão de popularizou de tal forma que as pessoas nem pensam mais no significado do termo. Passam umas pelas outras no corredor da igreja e soltam um "Padussinhô" sem nem se tocar do profundo significado da expressão. Da próxima vez que você for saudar alguém com essas palavras, concentre-se em seu belo significado: que você está desejando a aquele irmão a paz que excede todo o entendimento vinda do Príncipe da Paz, que saudava seus amigos desejando exatamente a mesma coisa. Lembra das palavras do Mestre ao chegar, ressurreto, entre os discípulos, por exemplo, em Lucas 24? "Falavam ainda estas coisas quando Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: Paz seja convosco!". Não deixemos uma saudação tão significativa perder seu sentido: ao a falarmos, que de fato estejamos desejando paz a aquela pessoa. Só um porém: você já parou para pensar o que exatamente significa "paz"? Significa "Quietação de ânimo, sossego, tranquilidade, ausência de dissensões, boa harmonia, concórdia, reconciliação". Vale a pena investir um tempo meditando sobre cada um desses valores que dedicamos aos irmãos.

- "Temos que contextualizar o Evangelho à cultura de cada época e sociedade" - a afirmação em si é correta, isso é exatamente o que temos de fazer. Não adianta pregarmos o Evangelho no século 21 de túnica e sandália de couro. O problema é que alguns setores da Igreja têm levado essa ideia correta além no limite de segurança. Têm conduzido esse conceito ad absurdum. Com isso, tentam com tanta força e ímpeto falar a linguagem de nossos tempos para atrair o mundo que acabam muitas vezes sendo mais mundo que Igreja. É o que ocorre, principalmente, entre a chamada Igreja emergente: os próprios pastores acabam cometendo excessos e absurdos como pregar falando palavrões de púlpito e recomendar a ida a seus membros a shows de artistas com letras anticristãs e estéticas agressivas, como Ozzy Osbourne e Titãs (grupo que tem canções altamente antibíblicas, como "Igreja", "Homem Primata" e "Epitáfio"). É preciso muita cautela. Pois nunca podemos esquecer que o Evangelho é, sempre foi e sempre será escândalo para os que não creem e que é contracultura. Isso em qualquer época e em qualquer cultura.

- "Fala, Deus" - geralmente é dito quando um pregador diz algo que o irmão ou a irmã acham que deveria ser ouvido por alguém da igreja ou por toda a congregação. É uma espécie de "toma, desgraçado, que Deus tá dizendo aquilo que eu penso que você deveria ouvir". Na maioria das vezes não é dito com amor no coração e, por isso, é algo reprovável. A não ser que a exortação seja para si mesmo. Aí... fala, Deus!

- "Eis que eu te digo..." - nos arraiais pentecostais significa que está começando uma profecia da parte de Deus. Nada contra. Sou pentecostal e creio na atualidade dos dons. O problema é que ser "profeta" dá status entre os irmãos, como se a pessoa que profetiza fosse merecedora de um amor especial da parte de Deus. Por isso, não são poucas as pessoas que simulam profecias e, com isso, cometem o gravíssimo pecado de pôr nos lábios do Senhor o que Ele não falou. Sem falar do estrago causado junto à pessoa a quem a falsa profecia foi dirigida, que vai acreditar que Deus lhe deu algum direcionamento que na verdade não deu. Assim, antes de dizer "eis que eu te digo"... trema!

- "Em nome de Jesus" - a expressão é bíblica e o Mestre nos autorizou a usá-la. A questão é que muitos a estão usando com significados que não deveriam ter, como se fosse um "abracadabra". Como disse Walter McAlister no livro "O Fim de uma Era", tem sido usada com o sentido de "tem que dar certo". "Eu vou conseguir esse emprego em nome de Jesus". "Você vai namorar fulano, em nome de Jesus". "O liquidificador vai funcionar agora, em nome de Jesus". Na verdade, qual é o significado bíblico dessa expressão? Quando alguém permite que outra pessoa faça algo em seu nome, está lhe concedendo a autoridade pessoal que detém. Por exemplo, se um soldado raso chega a um capitão e lhe diz para preparar um automóvel o capitão não lhe obedecerá, pois o soldado não tem autoridade de solicitar isso a um superior. Mas se um general diz a um soldado raso: "Vá até o capitão em meu nome e lhe diga para preparar um automóvel", aquele soldado acabou de receber a autoridade que o general tem sobre o capitão para aquela tarefa especifica. Então ele pode chegar ao capitão e dizer: "Estou vindo em nome do general solicitar que prepare o carro" e o capitão obedecerá o soldado porque o pedido é segundo a autoridade do general. Em nome dele. Com Jesus é igual. Os homens não têm autoridade de expulsar demônios. Mas quando você expulsa "em nome de Jesus", é a autoridade que nos foi concedida por Deus que está realizando aquele feito. Do mesmo modo, ser humano algum tem poder em si para curar uma doença sem ser por meios médicos. Mas se você ora "em nome de Jesus" pela cura, é a capacidade milagrosa de curar que Jesus tem e que nos foi concedida que está atuando. Ou seja, a forma correta de usarmos essa expressão é somente quando podemos substitui-la por "segundo a autoridade de Jesus concedida a mim para este fim".

- "Jesus não criou hierarquias nem liturgias" - errado. Basta você ver que no céu existem anjos e arcanjos. O prefixo "arc" significa "o principal", "o primeiro", "o de maior autoridade". Por isso, arcebispo é o principal dos bispos. Do mesmo modo, fica claro que no reino celestial o arcanjo tem um papel hierarquicamente superior a um anjo. Esse princípio do mundo espiritual também é aplicado na terra. A Bíblia manda respeitarmos as autoridades e diz que nenhuma autoridade há que não tenha sido constituída por Deus. Também manda servos obedecerem seus senhores. Afirma à mulher que deve ser submissa ao marido. Ou seja, em todas as instâncias da vida humana - seja política, profissional ou familiar - as Escrituras deixam claro que há uma hierarquia. Seria de se estranhar muito que justamente na vida espiritual isso não ocorresse. A Bíblia deixa claro que havia na Igreja do primeiro século pessoas com cargos de supervisão (o "bispo", conforme mencionado nas epístolas a Tito e Timóteo. Os apóstolos tinham um papel de liderança, basta ver no episódio de Ananias e Safira e basta reparar como Paulo dá determinações às igrejas em suas epístolas. E aqui cabe uma observação: hierarquia não quer dizer que alguém é melhor do que outro ou mais especial. Simplesmente que desempenha uma função com maior poder de decisão. É como o capitão de um time de futebol: ele é igual aos demais, mas dentro de campo é quem dá as decisões. E, acima dele, está o técnico, que tem, inclusive, o poder de decidir substituir o capitão.

Já a liturgia fica clara quando Jesus institui a Ceia. É um cerimonial litúrgico por natureza: tem ordem, as etapas seguem uma ordem, há um modo de proceder, há a repetição da forma de fazer a cada vez que se celebra. A História conta que os encontros da Igreja no primeiro século seguiam uma liturgia não muito diferente dos cultos de hoje, com louvores cantados, a leitura das cartas ou textos considerados canônicos e uma exposição do Evangelho por quem liderava o encontro. Logo, hierarquia e liturgia não foram, como alguns equivocadamente afirmam, instituídos pelo imperador Constantino ao oficializar a fé cristã como religião oficial do Estado: são bem anteriores - no mínimo 200 anos anteriores.

- "Posso ser cristão em casa, sozinho, sem congregar" - esse é um erro vindo do desconhecimento sobre a essência de nossa fé. O Evangelho é, por essência, um estilo de vida coletivo. 1 Coríntios 12 deixa claro que somos um corpo. Um membro decepado de um corpo é uma anomalia grotesca. Jesus nunca propôs o isolamento como padrão e, mesmo quando se retirava para orar sozinho, levava consigo alguns de seus apóstolos. Portanto um cristão que não congrega está desobedecendo o padrão divino.

- "Não existe pecadinho ou pecadão" - existe sim. A partir do momento em que existe um pecado (a blasfêmia contra o Espirito Santo) que não tem perdão e que a Bíblia diz que há pecados que são para a morte e outros que não são (independente da interpretação que se dê a isso, há muitas: "Se alguém vir pecar seu irmão, pecado que não é para morte, orará, e Deus dará a vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore. Toda a iniquidade é pecado, e há pecado que não é para morte" - 1 Jo 5.16,17.), automaticamente  fica claro que há gradações. Só haver um pecado imperdoável já é prova disso. No sentido de que qualquer pecado é desobediência a Deus... naturalmente todo pecado é equivalente, mas isso não desmerece que em suas consequências há sim níveis. A Bíblia é clara quanto a isso.

- "Manto!" - essa só pentecostal entende. Se bem que eu sou pentecostal e até hoje não entendi isso.

Por enquanto é isso. Se você se lembrar de mais algum clichê dos nossos dias usado nas igrejas, entre desigrejados, entre tradicionais ou pentecostais...não importa, entre cristãos em geral, basta acrescentar nos comentários. Só peço uma coisa: explique por que aquela palavra, expressão ou frase está biblicamente incorreta. Apenas mencioná-la não vai acrescentar. Se for o caso, faremos uma apreciação em cima do seu comentário.

Quem sabe assim, parando para pensar sobre o que falamos sem pensar... paremos um pouco para pensar sobre o que falamos! E, talvez, seja o caso de eliminarmos certas frases feitas do nosso meio que parecem corretas mas na verdade só servem para confundir. Ou não servem para nada mesmo. Tão ligados na fiação, varão e varoa dos mantos de fogo?

Paz a todos vocês que estão em Cristo