segunda-feira, 6 de maio de 2013

A doutrina da Trindade, uma introdução


















Por Hélio
Uma das objeções mais formuladas por aqueles que combatem a doutrina da Trindade é que ela não tem embasamento bíblico, segundo eles alegam, daí a promoverem uma visão unicista da essência divina. A meu ver, há 3 abordagens para responder a esta objeção, sobre se a Bíblia dá ou não dá suporte à doutrina da Trindade (ou do Unicismo).

A primeira é que, conforme a multiplicidade de igrejas e dissensões prova por si só, a Bíblia dá margem não só à sã doutrina (que é objeto constante das cartas de Paulo a Timóteo - 1 Ti 1:3, 6:3; 2 Ti 1:13 ), como também a pequenas variações doutrinárias que não influem decisivamente no conjunto da obra redentora de Cristo (forma de batismo, guarda da Lei, dons espirituais, etc.).

A segunda é que esta multiplicidade de interpretações, principalmente com textos isolados de difícil explicação, dá também vazão às mais variadas aberrações doutrinárias, como se pode facilmente perceber. Por exemplo, os Testemunhas de Jeová dizem que Jesus não é Deus, os mórmons batizam pelos mortos e têm livros 'adicionais' à Bíblia, e por aí vai.

A terceira é a resposta, propriamente dita, à objeção: a Bíblia NÃO DÁ suporte à versão "mecânica" unicista da essência divina. E isto por razões relativamente muito simples, que passo a explicar:

A questão da doutrina da Trindade é central no cristianismo. Não é por outra razão que ela foi profundamente discutida na origem da Igreja Cristã. A primeira preocupação dos apóstolos e dos cristãos que os seguiram foi defender o fato de que Jesus é, de fato, Deus, ou seja, a doutrina da Encarnação. Não foi uma disputa fácil, pois o gnosticismo e o arianismo (as Testemunhas de Jeová são arianas, por exemplo) eram forças poderosas que ameaçavam minar as doutrinas básicas da Igreja Cristã. Após terem sido combatidas e vencidas, e a doutrina da Encarnação ter sido reconhecida como fundamental, os líderes da nascente Igreja Cristã (que ainda não era a Igreja Católica como a conhecemos hoje, temos que reforçar essa verdade), se depararam com a questão da Trindade, que, mesmo com todas as evidências bíblicas, era negada pela facção minoritária dos modalistas em geral (sabelianismo, monarquianismo, patripassianismo, subordinacionismo, etc.). De forma resumida, eles criam na Encarnação (razão pela qual – a princípio - não se misturaram com os arianos e gnósticos), mas afirmavam que não havia 3 Pessoas distintas - eterna e consubstancialmente coexistentes - no Deus Único cristão. Para eles, o Deus cristão é absolutamente Único, sem qualquer distinção de Pessoas, mas que se apresenta em manifestações ou modos (daí o 'modalismo') distintos.

Ora, nunca é demais insistir no argumento de que, se Deus é absolutamente Único, e não há nEle nenhuma distinção entre Pai, Filho e Espírito Santo, então o fato incontornável é que esse Deus absolutamente Único morreu absolutamente na cruz, e o mundo ficou sem Deus da sexta-feira da Paixão ao domingo da Ressurreição, o que é claramente absurdo. Por outro lado, se Jesus era apenas uma 'manifestação', uma espécie de 'extensão de Deus', como dizem os unicistas, então o fato é que não foi Jesus, 100% homem e 100% Deus, que morreu na cruz, mas uma espécie de 'espectro substituto' do sacrifício que Deus fez de SI MESMO pelos nossos pecados, conforme dizem, entre outros textos, Isaías 53 e Filipenses 2:

5 Tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus,

6 o qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar,

7 mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens;

8 e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz.

Um dos textos bíblicos mais profundos sobre esta questão está em Hebreus 9, que não por acaso começa - no seu v. 14 - a mostrar as 3 Pessoas coexistentes na Trindade operando conjunta e distintamente para a nossa salvação:


Heb 9:14 Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?

Heb 9:15 E por isso é Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna.

Heb 9:16 Porque onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador.

Heb 9:17 Porque um testamento tem força onde houve morte; ou terá ele algum valor enquanto o testador vive?

Está claro que é necessária a morte do testador, e como o texto cristalinamente aponta, esse testador é o próprio Deus. Ou seja, a prevalecer o entendimento unicista, ou Deus morreu INTEIRAMENTE na cruz, ou quem morreu (Jesus) era apenas uma 'extensão' dEle, e nesse caso, podia ser qualquer outro ser humano, ou mesmo um anjo, já que a idéia (absurda) é exatamente essa de um sacrifício, digamos, 'menor'. Neste caso, portanto, NÃO HÁ SALVAÇÃO. Ou seja, mesmo que os unicistas fossem, a príncipio, defensores da doutrina da Encarnação, as suas idéias terminam levando, em última instância, à negação da própria doutrina da Encarnação !!!!

A doutrina da Trindade, ainda que inalcançável à razão (como sempre insisto) e às representações ideográficas (como a da ilustração acima), é a única que admite que, de fato, foi Deus quem morreu na cruz, conforme predito pelos profetas e confirmado pelos apóstolos. Naquela cruz estava Jesus Cristo, 100% Deus e 100% homem, morrendo pelos nossos pecados, já que era impossível ao homem salvar-se a si mesmo, e mesmo assim o mundo não ficou sem Deus enquanto Jesus desceu à sepultura.

Foi por esta razão que os pais da Igreja primitiva não contemporizaram com a tese unicista, porque sabiam que, a prevalecer essa idéia, a salvação de Cristo Jesus estaria ANULADA, pelas razões que já comentei anteriormente. Não foi por má vontade, por dificuldade de diálogo, por uma cosmovisão mais ampla, por vontade de falar bonito, que a doutrina da Trindade foi defendida pela Igreja nascente e prevalece até hoje, mas por absoluta necessidade, por ser a doutrina da Trindade FUNDAMENTAL para explicar a SALVAÇÃO, ou seja, que o mundo não ficou sem Deus durante a paixão, crucificação e morte de Cristo, e que foi Deus, de fato, quem morreu oferecendo-se a Si mesmo como sacrifício pelos nossos pecados. É exatamente esta salvação que não existiria, se prevalecesse a idéia unicista.

O concílio de Nicéia, em 325 d.C., apenas oficializou o que JÁ estava nas Escrituras, e representava aquilo que a imensa maioria da Igreja JÁ cria nos 3 séculos anteriores, e felizmente crê até hoje. Os unicistas, espertamente, sabendo que é 'bonito', entre os evangélicos, falar mal dos católicos romanos, dizem que "foi a Igreja Católica que, atendendo às ordens de Constantino, "impôs" a doutrina da Trindade", o que é uma mentira histórica, por duas razões básicas:

1) A Igreja Católica, na época, era o que o nome 'católico' em grego significa exatamente: uma igreja 'universal'. Não havia ainda, como os católicos afirmam, uma supremacia do bispo de Roma, o 'papa', tanto que o 'papa' Silvestre I, inimigo de Constantino, nem compareceu ao Concílio de Nicéia. A Igreja de então era universal, em que os principais bispos (ou 'patriarcas') eram os de Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém. A supremacia do bispo de Roma, o 'papa', só veio a se estabelecer mais fortemente a partir do século VI, e somente sobre a ala ocidental da Igreja, já que a ala oriental (modernamente, os 'ortodoxos'), NUNCA a aceitou e continuou sendo governada pelos 'patriarcas' principais.

2) Constantino, que, segundo os unicistas, teria imposto a doutrina da Trindade, morreu ariano. Tecnicamente falando, ele morreu como uma espécie de Testemunha de Jeová do séc. IV. Ora, como é possível que ele 'impusesse' a doutrina da Trindade no Concílio de Nicéia se ele nem cria que Jesus é, de fato, TOTAL, COEXISTENTE e COMPLETAMENTE Deus? Logo, o Concílio de Nicéia decidiu algo contrário ao que o próprio Constantino cria. Como é que alguém impõe algo no que não crê?

Portanto, feitos esses esclarecimentos, não há como aceitar as teses unicistas, não há como fazer um 'acordo' delas com a doutrina da Trindade, porque elas anulam o que os cristãos têm de mais valioso, que é a SALVAÇÃO. A doutrina da Trindade foi uma formulação teológica fundada nas Escrituras que a Igreja Cristã, então nascente, encontrou para resolver alguns problemas lógicos que a idéia da Unicidade de Deus apresenta e, dentre os unicistas, NENHUM deles se dispõe a enfrentá-los.

É necessário retornar à polêmica do arianismo para verificar como a heresia ariana caminha de braços dados com a doutrina unicista. Isto porque negar a Trindade significa também negar a Imutabilidade de Deus e a própria Encarnação. E é este exatamente o ponto central do arianismo, heresia que Ário defendeu no século III. Ário dizia que o Verbo (Jesus) era, de fato, pré-existente à criação, mas que Ele havia sido gerado em algum ponto do tempo, e, portanto, não era Deus, mas uma espécie de “ser divino”, ou "sabedoria" divina, como alguns arianos modernos afirmam. Ora, admitir que Jesus (o Verbo) foi gerado num determinado ponto do tempo que não a eternidade, significa dizer que Ele é apenas uma criatura, não Deus. Sendo uma criatura, e não Deus, Jesus seria então, mutável. E Deus, como bem sabemos, é IMUTÁVEL. Observem agora como a sutileza do erro opera: se o Filho foi criado num determinado ponto do tempo (que não a eternidade), então houve um tempo em que Deus Pai não era Pai, mas passou a sê-lo. Logo, DEUS SERIA MUTÁVEL !!! E, sendo Deus mutável, esta idéia termina por anular o próprio Deus, já que ele deixa de ser IMUTÁVEL como sempre afirmamos que era, é e será, e como Ele próprio se apresenta na Bíblia ("o Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação" - Tiago 1:17). E se Jesus é apenas uma criatura, não foi Deus quem morreu na cruz, logo não há como o sacrifício de Jesus possa salvar alguém. Isto também anula a salvação.

Logo, de uma tacada só, o arianismo, aqui disfarçado de unicismo, anula a salvação e nega a própria existência de Deus. É por isso que se diz que Jesus foi gerado eternamente, e a idéia de eternidade é algo que a mente humana não consegue alcançar. Se Jesus não tivesse sido gerado eternamente, Deus teria se tornado Pai no decurso do tempo, e isto quebraria a sua condição de imutável, o que, em última instância, anula a existência de Deus e torna vã a fé.

O que é a doutrina da Trindade?

Por John Piper
A doutrina da Trindade é fundamental para a fé cristã. Ela é crucial para um apropriado entendimento de como Deus é, como Ele se relaciona conosco e como devemos nos relacionar com Ele. Mas ela também levanta muitas questões difíceis. Como Deus pode ser um e três ao mesmo tempo? A Trindade é uma contradição? Se Jesus é Deus, por que os Evangelhos registraram ocasiões nas quais Ele orou a Deus?

Apesar de não podermos entender completamente tudo sobre a Trindade (ou sobre qualquer outra coisa), é possível responder questões como essas e chegar a uma sólida compreensão do que significa ser Deus três em um.
A Trindade é contraditória?

Essa pergunta leva-nos a investigar mais de perto uma definição muito útil da Trindade que eu mencionei anteriormente: Deus é único em essência, mas triplo em personalidade. Essa formulação pode nos mostrar por que não há três deuses e por que a Trindade não é uma contradição.

Para que alguma coisa seja contraditória, ela deve violar a lei da não-contradição. Esta lei afirma que A não pode ser A (é) e não-A (não é) ao mesmo tempo e no mesmo sentido. Em outras palavras, você se contradiz quando afirma e nega a mesma sentença. Por exemplo, se eu digo que a Lua é feita inteiramente de queijo, mas, então, também digo que a Lua não é feita inteiramente de queijo, estou me contradizendo.

Algumas afirmações podem parecer contraditórias à princípio, mas não o são realmente. O teólogo R.C. Sproul cita como exemplo uma famosa afirmação de Dickens: "Esse foi o melhor dos tempos, esse foi o pior dos tempos". Obviamente isso é uma contradição se Dickens está dizendo que esse foi o melhor dos tempos no mesmo sentido em que esse foi o pior dos tempos.

Porém, essa afirmação não é contraditória, porque ele está dizendo que em um sentido esse foi o melhor dos tempos, mas em outro sentido esse foi o pior dos tempos. Levando esse conceito à Trindade, não é uma contradição para Deus ser tanto três quanto um porque Ele não é três e um no mesmo sentido. Ele é três num sentido diferente do qual Ele é um. Assim, não estamos falando com uma linguagem dobre. Não estamos dizendo que Deus é um e, então, negando que Ele é um ao dizer que Ele é três. Isto é muito importante: Deus é um e três ao mesmo tempo, mas não no mesmo sentido.

Como Deus é um? Ele é um em essência. Como Deus é três? Ele é três em personalidade. Essência e personalidade não são a mesma coisa. Deus é um em certo sentido (essência) e três em um sentido diferente (personalidade). Já que Deus é um em um sentido diferente do qual Ele é três, a Trindade não é uma contradição. Só haveria contradição se disséssemos que Deus é três no mesmo sentido em que Ele é um.

Então, uma olhada mais de perto para o fato de que Deus é único em essência, mas triplo em personalidade, foi útil para mostrar por que a Trindade não é uma contradição. Mas como isso nos mostra que há apenas um Deus e não três? Muito simples: Todas as três pessoas são um Deus porque, como vimos acima, todas elas são a mesma essência. Essência significa a mesma coisa que "ser". Assim, já que Deus é uma única essência, Ele é um único ser, não três. Isso torna mais claro por que é tão importante entender que todas as três pessoas são a mesma essência. Pois se nós negamos isso, estamos negando a unidade de Deus e afirmando que há mais do que um ser de Deus (ou seja, há mais do que um Deus).

O que vimos até agora provê um entendimento básico da Trindade. Mas é possível aprofundar-nos mais. Se pudermos entender mais precisamente o significado de essência e personalidade, como esses dois termos diferem e como se relacionam, teremos um mais completo entendimento da Trindade.

Essência e Personalidade

Essência.

O que essência significa? Como eu disse anteriormente, significa o mesmo que ser. A essência de Deus é o Seu ser. Para ser mais preciso, essência é aquilo que você é. Sob o risco de soar muito físico, essência pode ser entendida como o “material” do qual você “consiste”. Certamente estamos falando por analogia aqui, pois não podemos entender essência de uma forma física em relação a Deus. “Deus é espírito” (Jo.4.24). Além disso, claramente não devemos pensar em Deus “consistindo” de outra coisa além da divindade. A “substância” de Deus é Deus, não um monte de “ingredientes” que misturados produzem a divindade.

Personalidade.

Em relação à Trindade, nós usamos o termo “pessoa” diferentemente do que usamos no dia-a-dia. Portanto, geralmente é difícil ter uma definição concreta de pessoa quando usamos esse termo em relação à Trindade. Por “pessoa” não queremos dizer um “indivíduo independente”, assim como eu e outro ser humano somos independentes e existimos separados um do outro. Por “pessoa” queremos dizer alguém que se trata como “eu” e aos outros como “vós”. Então, o Pai, por exemplo, é uma pessoa diferente do Filho porque Ele trata ao Filho como “Tu”, apesar de Se tratar como “Eu”. Assim, em relação à Trindade, podemos dizer que “pessoa” significa um sujeito distinto que Se trata como “Eu” e aos outros dois como “Vós”. Esses sujeitos distintos não são uma divisão no ser de Deus, mas “uma forma de existência pessoal que não é uma diferença no ser”[3].

Como elas se relacionam?

O relacionamento entre essência e personalidade, então, é como segue. Na unidade de Deus, o ser indiviso é um “desdobramento” em três distinções pessoais. Essas distinções pessoais são modos de existência no ser divino, mas não são divisões do ser divino. Elas são formas pessoais de existência e não uma diferença no ser. O antigo teólogo Herman Bavinck declarou algo muito útil sobre isso: “As pessoas são modos de existência no ser; conseqüentemente, as pessoas diferem entre si como um modo de existência difere de outro, e – usando uma ilustração comum – como a palma aberta difere do punho fechado”[4]. Já que cada uma dessas “formas de existência” são relacionais (e assim são pessoas), cada uma delas é um distinto centro de consciência, cada um deles Se tratando como “Eu” e aos outros como “Vós”. Porém, todas essas três pessoas “consistem” da mesma “matéria” (ou seja, o mesmo “o que”, ou essência). Como o teólogo e apologista Norman Geisler explicou, enquanto essência é “o que” você é, pessoa é “quem” você é. Então, Deus é um “o que”, mas três “quem”.

Assim, a essência divina não é algo que existe “acima” ou “separada” das três pessoas, mas a essência divina é o ser das três pessoas. Não devemos pensar nas pessoas como seres definidos por atributos acrescentados ao ser de Deus. Wayne Grudem explica:
“Mas se cada pessoa é plenamente Deus e tem todo o ser divino, então tampouco devemos pensar que as distinções pessoais são alguma espécie de atributos acrescentados ao ser divino... Em vez disso, cada pessoa da Trindade tem todos os atributos de Deus, e nenhuma das pessoas tem algum atributo que não seja também possuído pelas outras. Por outro lado, precisamos dizer que as pessoas são reais, que não são apenas modos diferentes de enxergar o ser único de Deus... a única maneira de fazê-lo é dizer que a distinção entre as pessoas não é uma diferença no “ser”, mas sim uma diferença de “relações”. Trata-se de algo bem distante da nossa experiência humana, na qual cada “pessoa” distinta é também um ser distinto. De algum modo o ser divino é tão maior que o nosso que dentro do seu ser único e indiviso pode haver um desdobramento em relações interpessoais, de forma tal que existam três pessoas distintas”.[5]
Ilustrações Trinitárias?

Há muitas ilustrações que têm sido oferecidas para nos ajudar a entender a Trindade. Embora existam algumas ilustrações úteis, devemos reconhecer que nenhuma ilustração é perfeita. Infelizmente, há muitas ilustrações que não são apenas imperfeitas, mas erradas. Uma ilustração com a qual devemos tomar cuidado diz: “Eu sou uma pessoa, mas também sou um estudante, um filho e um irmão. Isso explica como Deus pode ser tanto um quanto três”. O problema com essa ilustração é que ela reflete uma heresia chamada modalismo. Deus não é uma pessoa que desempenha três diferentes papéis, como essa ilustração sugere. Ele é um Ser em três pessoas (centros de consciência), não simplesmente três papéis. Essa analogia ignora as distinções pessoais em Deus e as transforma em meros papéis.

Resumo

Vamos revisar rapidamente o que vimos.

1. A Trindade não é uma crença em três deuses. Há um único Deus e nós nunca devemos desviar-nos disso.

2. Esse único Deus existe como três pessoas.

3. As três pessoas não são partes de Deus, mas cada uma delas é total e igualmente Deus. No ser único e indiviso de Deus há um desdobramento em três relações interpessoais, de forma tal que existam três pessoas. As distinções na Divindade não são distinções de Sua essência, nem são acréscimos à Sua essência, mas são o desdobramento da unidade de Deus, do ser indiviso, em três relacionamentos interpessoais, de modo que há três pessoas reais.

4. Deus não é uma pessoa que assume três papéis consecutivos. Essa é a heresia do modalismo. O Pai não se tornou o Filho e, então, o Espírito Santo. Pelo contrário, sempre houve e sempre haverá três pessoas distintas na Divindade.

5. A Trindade não é uma contradição porque Deus não é três no mesmo sentido em que Ele é um. Deus é um em essência e três em personalidade.

Aplicação

A Trindade é extremamente importante porque Deus é importante. Conhecer mais completamente a Deus é uma forma de honrá-Lo. Além disso, devemos admitir o fato de que Deus é triuno para aprofundar nossa adoração. Nós existimos para adorar a Deus. E Deus busca pessoas que O adorem “em espírito e em verdade” (Jo.4.24). Portanto, devemos sempre empenhar-nos em aprofundar nossa adoração a Deus, tanto em verdade quanto em nosso coração.

A Trindade tem uma aplicação muito importante na oração. O padrão geral de oração na Bíblia é orar ao Pai através do Filho e no Espírito Santo (Ef.2.18). Nossa comunhão com Deus deve ser reforçada por um conhecimento consciente de que estamos nos relacionando com um Deus tri-pessoal.

A conscientização dos papéis distintos que cada pessoa da Trindade tem em nossa salvação pode servir especialmente para nos dar grande conforto e apreciação por Deus em nossas orações, assim como nos ajudar a ser específicos ao dirigi-las a Deus. Porém, apesar de reconhecer os papéis distintos de cada pessoa, nunca devemos pensar nesses papéis de forma tão separada que as outras pessoas não estejam envolvidas. Pelo contrário, em tudo que uma pessoa está envolvida, as outras duas também estão envolvidas, de uma forma ou de outra.

O som de seu canto era justo e terrível!

 

Por Josema Bessa

Se não entendermos que a vida é uma guerra, então a oração intensa só será constante quando aflições específicas nos atingirem. Esse tem sido o padrão baixo e triste da grande maioria dos que se dizem cristãos.

Mas toda nossa vida deve ser vivida no complexo campo de batalha onde o sofrimento é inevitável – “Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo.” - 2 Timóteo 2:3 – A igreja não existe de forma nenhuma para tornar a vida mais confortável. A igreja existe para te preparar para ser essa espécie de soldado descrito por Paulo, que tudo sofre por amor a Cristo. Porque estamos no mundo para lutar por Cristo... proclamar a Verdade, expressar Sua glória.

A uma passagem em O Senhor dos Anéis, quando o exército de Rohan vai para a batalha contra os Orcs de Mordor:

“Pela manhã soprou um vento vindo do mar e a escuridão foi removida, e as hostes de Mordor lamentaram e o terror tomou conta deles, e eles fugiram, e foram mortos, e os cascos da ira passaram sobre eles. E então todo o exército de Rohan começou a cantar, e cantavam como mataram... pois a alegria da batalha estava neles, e o som de seu canto era justo e terrível”

“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.” - 2 Timóteo 4:7

“Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo.” - 2 Timóteo 2:3

Essa deve ser nossa vida, mas temos que admitir que naturalmente não somos como os valorosos cavaleiros de Rohan. Somos naturalmente fracos. Nem sempre tão nobres, nem sempre tão leais... Mas Paulo nos desperta em 2 Timóteo 2 para o que está de fato em jogo em nossas vidas e nos oferece uma fonte inesgotável de força e torna para cada um de nós a oração uma prioridade urgente.

Paulo mostra em 2 Timóteo 2 a dura realidade. Ele diz que a vida não é fácil, o ministério não é fácil, a igreja não é fácil, o mundo é terrível... Viver neste mundo proclamando a Verdade do Evangelho da graça, proclamando um Deus Santo, justo, que do “céu manifesta sua ira sobre toda a impiedade dos homens...” – é difícil. Mas temos que ter um espírito guiado por Deus ao ponto de podermos “cantar” como os cavaleiros de Rohan – “...pois a alegria da batalha estava neles, e o som de seu canto era justo e terrível”- Conhecemos um canto assim enquanto sofremos como bons soldados de Cristo?

2 Timóteo é o canto do cisne do apóstolo Paulo. Ele está morrendo... chegando ao fim do combate... ele o chama de bom – Ele fala aqui sobre “sofrimento” no verso 3, “trabalhador” – no verso 6 – “sofrimento” no verso 9, “suportar” no verso 10, “obreiro” no verso 15, “trabalho” no verso 21, “adversários” no verso 25.... É exatamente por isso que Paulo começa o verso 1 dizendo: “...fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus.” - 2 Timóteo 2:1 – Precisamos de uma força que vai muito além de nós mesmos, e a encontramos na graça que está em Cristo. Que está disponível a nós não para uma luta pessoal, por interesses pessoais... mas para ouvirmos o chamado com coragem: “Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo.” - 2 Timóteo 2:3

Naqueles dias, diz Paulo (2 Timóteo 1) –  a MAIORIA dos cristãos o abandonaram quando ele foi posto na prisão (v.15). Eles viram a dor chegando, eles viram as implicações que tudo aquilo teria para eles, para suas famílias... e aquele não era o cristianismo que eles esperavam, mas devemos lembrar que aquele é o único cristianismo que existe – quem dera eles cantassem como os cavaleiros de Rohan – “...pois a alegria da batalha estava neles, e o som de seu canto era justo e terrível”

Mas podemos ver uma bela exceção em um homem cheio da graça e da coragem que dela flui, chamado Onesíforo e toda a sua família. Agora Paulo diz a Timóteo, que era apenas um jovem: “Você precisa de coragem também. Isso não vai ser fácil. E é aqui que você encontrará força infinita para que a “alegria da batalha” esteja em você: “Na graça que há em Cristo Jesus” – Eis a fonte de onde toda força necessária flui.

Sem isso a inconstância será o teu nome! Willian Gurnall ( 1616 - 1679  ) diz sobre alguém assim:
“Nós conhecemos muitas pessoas que se juntaram ao exército de Cristo e gostaram de ser um soldado por uma batalha ou duas, mas logo tiveram o suficiente e acabaram desertando. 
Há momentos em que um santo é chamado a confiar em um Deus que se retira (parecendo ficar apenas sofrimento).  “Quando andar em trevas, e não tiver luz nenhuma, confie no nome do SENHOR, e firme-se sobre o seu Deus.” - Isaías 50:10. 
Isso requer um passo corajoso de fé para se aventurar na presença de Deus com a mesma ousadia como Ester foi diante de Assuero. Mesmo quando não podemos ver que haja um sorriso iluminando seu rosto, sua face... quando não vemos o cetro de ouro estendido para nós chamando para nos aproximarmos, temos de avançar então com esta nobre resolução:  "Se eu perecer, pereci" - Ester 4:16. 
O que leva a nossa fé um passo além: Devemos confiar também quando parece que “Deus nos mata!” – devemos em meio a batalha declarar como Jó: "Ainda que ele me mate, ainda assim eu confio nele" - Jó 13:15
É preciso uma fé submissa para uma alma marchar firmemente para a frente enquanto Deus parece disparar contra aquela alma e atirar suas carrancas como flechas envenenadas contra ele. Este é um trabalho duro e vai testar a coragem do cristão. No entanto, este é o espírito que encontramos na pobre mulher cananéia, que pegou as balas que Cristo “disparou” contra ela, e com uma ousadia humilde enviou-as de volta em sua oração: “...Então chegou ela, e adorou-o, dizendo: Senhor, socorre-me! Ele, porém, respondendo, disse: Não é bom pegar no pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos. E ela disse: Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores. Então respondeu Jesus, e disse-lhe: O mulher, grande é a tua fé! Seja isso feito para contigo como tu desejas. E desde aquela hora a sua filha ficou sã.” -  Mateus 15:25-28
Seu trabalho e sua vida tem que ficar, permanecer e ir para fora do palco juntos. Persistindo até o fim  sob tua sela mesmo com um espinho na sua carne, quando a estrada parece interminável e sua alma pede uma baixa precoce. Você já devia ter pesado  todas as dificuldades envolvidas na tua vocação desde o início... sabendo que o chamado é para sofrer como um bom soldado. 
Nós conhecemos muitas pessoas que se juntaram ao exército de Cristo e gostaram de ser um soldado por uma batalha ou duas, mas logo acharam que já tinham tido o suficiente e acabaram desertando. Eles impulsivamente se alistaram para deveres cristãos, e facilmente foram persuadidos a assumir uma profissão de fé, e então, facilmente foram também persuadidos a jogar tudo fora. Como a lua nova, eles brilharam um pouco na primeira parte da noite, mas sumiram antes que a noite acabasse.
Deixar de abraçar a cruz – “sofrendo como um bom soldado”, deixar de orar sempre. Deixar de estar com toda a armadura de Deus. Deixar de nos saciar todo o tempo em Cristo... tira a alegria da batalha, nos enchendo de vergonha ao fugir por sempre termos estado na verdade centrados em nós mesmos.”

Paulo diz: “Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus.” - 2 Timóteo 2:1 – Eis porque a oração não é algo para dias de aflições especiais e inesperadas... a oração deve ser constante porque a vida é uma guerra. Toda força que vem de dentro de nós é frágil e sequer pode ser chamada força. Mas há outro tipo de força: “...fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus.” - 2 Timóteo 2:1

Veremos então os inimigos agirem como os orcs de Mordor diante dos Cavaleiros de Rohan e como os cavaleiros cantaremos:

Pela manhã soprou um vento vindo do mar e a escuridão foi removida, e as hostes de Mordor lamentaram e o terror tomou conta deles, e eles fugiram, e foram mortos, e os cascos da ira passaram sobre eles. E então todo o exército de Rohan começou a cantar, e cantavam como mataram... pois a alegria da batalha estava neles, e o som de seu canto era justo e terrível”