quinta-feira, 9 de maio de 2013

A Soberania de Deus e as Nossas Orações

Arthur W. Pink

"E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve." 1 João 5:14
Existem algumas perguntas que surgem na mente das pessoas quando pensam acerca da soberania de Deus.
Já dissemos que as pessoas são incapazes de escolher ser salvos de seus pecados a menos que Deus mesmo mude sua natureza pecaminosa.
Então, a primeira pergunta que responderemos é esta: se Deus realiza o câmbio na natureza das pessoas, por que devem esforçar-se os crentes em pregar o evangelho a todos? temos aprendido que por natureza os homens são pecaminosos, que por si mesmos não podem escolher crer em Cristo. Por que, então, os crentes devem urgir às pessoas a crerem? A resposta é esta: aos crentes lhes é ordenado por Deus pregar o evangelho a todos.
Não pregamos o evangelho pensando que os ouvintes inconversos tenham em si mesmos a capacidade para receber a Cristo como seu Senhor. Pregamos porque sabemos que isto é o que Deus tem nos comissionado fazer.
Sabemos que quando o evangelho é pregado, Deus mesmo fala eficazmente a alguns daqueles que escutam. Àquelas pessoas que Deus tem escolhido, lhes é dada a disposição para crer. Crer que Deus está no controle de tudo é de grande ajuda e estímulo para a pregação evangélica. Os crentes sabem que as pessoas escolhidas por Deus se arrependerão dos seus pecados quando escutem acerca de Jesus Cristo o Salvador.
De fato, esta convicção de que Deus está realizando seus propósitos mediante a pregação, é a base da verdadeira pregação evangélica. Veja Isaias 55:10-11, 2 Coríntios 2:14-17, Romanos 10:14-15 e 1 Pedro 1:23.
Em segundo lugar, outra pergunta que pode surgir é esta: se Deus tem determinado o que vai acontecer, e se também tem o controle sobre tudo o que acontece, então, existe alguma razão para orar? Se Deus já tem tomado todas as decisões, seguramente a oração não tem valor algum. Nós não podemos mudar a vontade de Deus. A nossa resposta é a seguinte: devemos entender o significado verdadeiro da oração. Alguns dizem que a oração é a forma em que Deus permite que as nossas vontades tenham influência no que acontece. Mas a Bíblia ensina claramente que é Deus quem faz com que as coisas sucedam. Portanto, a idéia de que as nossas orações fazem que as coisas aconteçam é errada. Outras pessoas dizem que a oração é uma forma de conseguir que Deus mude a Sua vontade. Mas, como já vimos, Deus já tem decidido exatamente o que vai acontecer. A oração não é algo que possamos usar para mudar as coisas; a nossa oração não muda a vontade de Deus.
A oração é a maneira assinalada por Deus para honrá-Lo. A oração é um meio de adoração a Deus. a oração é o reconhecimento de que dependemos totalmente de Deus, por todo o que somos e o que temos. A oração é o método divino para pedir a bênção de Deus.
A oração faz com que percebamos quão pequenos e fracos somos, e quão grande é Deus. a oração é um dom de Deus para seu povo, a fim de que eles Lhe peçam as coisas que Deus tem determinado. As orações dos crentes formam parte do plano de Deus para efetuar os Seus propósitos eternos. (Veja os seguintes textos que afirmam esta verdade: Mateus 5:10; 1 João 5:14; Romanos 8:26-27).
Além disso, Deus tem determinado que a oração seja um meio para efetuar sua vontade, tal como a pregação do evangelho é o meio utilizado por Deus para salvar os pecadores. As orações dos crentes formam parte do plano de Deus para executar Seus propósitos eternos.
Assim sendo, quando os crentes oram não o fazem para mudar o plano de Deus, senão para que o pano de Deus seja executado. Os crentes podem orar por certas coisas com confiança porque sabem que estão incluídas no plano de Deus. Quando dizemos a Deus as nossas necessidades, estamos encomendando-nos ao Seu cuidado, e Lhe suplicamos que trate com elas de conformidade com Seu plano. Então, pode perceber-se que a oração é basicamente uma atitude, uma atitude de dependência total de Deus. A oração é o oposto de dizer a Deus o que Ele tem que fazer, porque a oração pede para que a vontade de Deus seja feita. Assim, isto responde a nossa pergunta acerca da razão para orar. Os crentes oram por coisas que concordam com o plano que Deus tem pré-determinados, ou seja, coisas que são parte do mesmo plano de Deus. Os crentes oram, não para mudar o plano de Deus, senão para aceitá-lo e achar a bênção de Deus através desse plano.
Em terceiro lugar, talvez a seguinte pergunta tenha chegado a inquietar você: Se Deus tem decidido todo o que sucede, então por que devem preocupar-se os crentes em serem bons? Se Deus tem planejado que os crentes serão bons, então, por que devem preocupar-se de sê-lo eles mesmos?
Mais uma vez, a resposta básica é que os crentes fazem bem, porque Deus tem lhes mandado fazer o que é bom. Em realidade, o conhecimento de que Deus controla todas as coisas ajuda os crentes a realizar o que é bom.
Os crentes confiam em que Deus pode lhes dar a capacidade de realizar coisas boas. Os verdadeiros crentes sabem que em si mesmos não têm o poder de fazer o que Deus tem lhes ordenado. É, portanto, que confiam em que Deus pode lhes dar a fortaleza que necessitam para obedecer a Sua vontade.
Por último, talvez você tenha pensado que é injusto e cruel de parte de Deus escolher só certas pessoas para serem salvas. Porém, lembre-se do seguinte: se Deus não tivesse escolhido e salvo alguns, então ninguém teria sido salvo do pecado. Se Deus não tivesse escolhido ninguém, então todos nós teríamos morrido em nossos pecados. Deus não é injusto ao escolher salvar alguns e outros não, porque ninguém tem o direito de ser salvo, quer dizer, Deus não "deve" a salvação para ninguém. A salvação é inteiramente um assunto da bondade de Deus para as pessoas que não a merecem. Deus tem mostrado sua bondade a certas pessoas, segundo melhor Lhe pareceu a Ele (veja Mateus 11:25-27).
Nós poderíamos pensar que teria sido melhor que Deus salvasse todos, mas não estamos capacitados para decidir isto. Não somos capazes de ver e compreender todo o que Deus vê e compreende. Os caminhos de Deus não são como os nossos caminhos, e nós não podemos compreendê-los integramente (Veja Isaias 55:8-9 e Romanos 11:33-36). Todo quanto podemos dizer é que Deus tem demonstrado seu amor na eleição e salvação de gente que não merece sua bondade. Então, permita-me fazer-lhe uma última pergunta: É você uma das pessoas que Deus tem escolhido para salvação? Existe algum desejo em seu coração de ser uma das pessoas que pertencem a Deus?
TEXTOS BÍBLICOS:
João 17:6, 9: "Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra. (...) Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus".
2 Pedro 1:3: "Visto como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e virtude".
Efésios 2:10: "Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas".
1 Pedro 1:5: "Que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo".
1 Samuel 3:18: "Então Samuel lhe contou todas aquelas palavras, e nada lhe encobriu. E disse ele: Ele é o SENHOR; faça o que bem parecer aos seus olhos".
Jó 1:20-21: "Então Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou. E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o SENHOR o deu, e o SENHOR o tomou: bendito seja o nome do SENHOR".
Este artigo foi traduzido do espanhol para o português por Daniela Raffo. Este artigo é parte de um livro que foi traduzido de uma versão abreviada em inglês intitulada "Quem está no controle?", publicado por Grace Publications Trust, e em sua versão original em inglês por Baker Book House. O título da versão original em inglês é: "A soberania de Deus".

Ovelhas Desgarradas


Por Jorge Fernandes Isah
Diante do número de irmãos que têm optado em não congregar, e que não integram uma igreja local, resolvi escrever sobre o assunto, pois o considero de extrema gravidade e danoso à vida do cristão. O intuito não é o de uma critica pura e simples mas uma exortação, mostrando que a Bíblia não abre precedentes para o crente viver sem congregação, a despeito de uma “teologia moderna” que se dissemina e procura afastar o cristão do seu compromisso com Deus e a igreja (e o aproxima cada vez mais de si mesmo e do seu individualismo).
Nem tão-pouco quero fazer-me superior ou melhor do que qualquer pessoa, visto que sou um mísero pecador, resgatado e regenerado pela graça de nosso Senhor e Salvador. Portanto, espero sinceramente que o texto sirva como ajuda e reflexão, para que os irmãos assumam os seus postos no reino do bendito Senhor Jesus, conforme o chamado que Ele fez (e faz) a cada um.
 
A) PRINCIPAIS ARGUMENTOS DOS “SEM IGREJA”:
 
a) A igreja apostatou; portanto, estou desobrigado de pertencer a ela.
 
b) Já que sou salvo, para quê igreja?
 
c) Você não conhece a minha vida, ela é difícil demais! E as circunstâncias me impedem de congregar.
 
d) Respeito a sua opinião, mas não vejo a igreja como imprescindível na vida do crente, afinal, os tempos são outros...
 
B) REFUTAÇÃO AOS ARGUMENTOS DOS “SEM IGREJA”:
(As respostas não seguem a mesma ordem das questões, e muitas vezes, se intercambiam):
 
1 - Começando pelo fim, pouco importa a minha opinião ou a de qualquer crente, seja quem for, se ela não estiver embasada nas Escrituras. O importante é o que Deus quer e nos manda fazer. E a Sua vontade está claramente expressa na Bíblia de tal forma que somente em desobediência nos recusamos a cumpri-la; ou por negligência, quando deixamos de buscá-la diariamente. Se não refletimos a vontade de Deus, como testemunhas da transformação que Ele operou em nós, por melhor intenção que haja, estaremos errados e fadados ao engano e tropeço. E a minha opinião será sempre irrelevante diante da vontade soberana, santa e justa do nosso bom Deus.
 
2 - O Senhor Jesus Cristo morreu por Sua Igreja, a qual resgatou com o seu próprio sangue, exclusivamente para livrá-la deste mundo (Atos 20.28; Ef. 5.25). Portanto, não podemos minimizar a sua importância e achar que por causa da apostasia quase absoluta entre as denominações, o Senhor “abandonou” e se esqueceu do seu povo. Cristo morreu na cruz do Calvário pela Sua igreja, que é o corpo do qual Ele é a Cabeça (Col. 1.18); para que, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo e cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, o homem perfeito, e não segundo a vaidade da nossa mente (Ef. 4.13-17).

Crente “Big Brother” que somente se interessa com o que se passa na própria “casa”, preocupado exclusivamente com seus afazeres diários, subsistência e disputas pessoais, e em ganhar o "jogo", no mínimo, está equivocado quanto ao seu chamado, se é que entende o que venha a ser o chamado de Deus. Ouçamos a sentença do Senhor em Mt 16.25: “Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á”.
 
Valorizar os problemas, eximindo-nos da nossa responsabilidade e dever, e esquivando-nos de cumprir a nossa obrigação como cristãos, é escamotear e não se comprometer com Cristo; é preocupar-se unicamente consigo mesmo em detrimento da obra de Deus e da igreja; é lançar um fardo extra nos ombros de irmãos que fazem exatamente o que eu e você desprezamos, mas não cansamos de alardear que fazemos: esses irmãos evangelizam, confortam, assistem ao próximo, e glorificam e honram ao nosso Senhor obedecendo-O (“as minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem” – Jo 10.27; “E por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo?” Lc 6.47).
 
Em contrapartida, “A sociedade de consumo diz: ‘Fique em casa, feche a porta, assista à televisão, tenha suas coisas e seja você mesmo do seu jeito’. Esta não é a vontade de Deus... Devemos estar em comunidade, em nossa vizinhança, na igreja, na família, em vez de viver o individualismo de nossa sociedade. Ande no Espírito. O Espírito busca reunir a igreja. Você está em sintonia com ele?... Que cada um de nós esteja comprometido com Cristo na prática, nos trabalhos de sua igreja, na perseverança para alcançar o reino de Deus, na divulgação do evangelho e na busca em servir uns aos outros em Cristo”1

3 - Deus sabe tudo; conhece cada célula do nosso corpo muito melhor do que jamais saberemos. Ele reconhece as nossas dificuldades, os nossos problemas, mas, se como disse antes, os valorizamos ou nos utilizamos deles para não fazer aquilo que Ele quer e nos ordena fazer, não agimos contrariamente ao que dizemos? Se falo que a minha vida está nas mãos de Deus, se afirmo que espero Nele, e somente Nele, mas me curvo diante das circunstâncias, elas se tornam maiores do que Deus; e não somente são obstáculo e empecilho, mas transformam-se no fio condutor que nos levará a uma vida apenas secular, guiando-nos na contramão do verdadeiro cristianismo (e a Igreja é parte dele).

Ao dizer que amo a Cristo, e Cristo me ama, e que Ele é incapaz de me sustentar e capacitar, e que sou incapaz de servi-lO, não ajo antagonicamente? Será que passaríamos por provas pelas quais Estevão, Pedro, Tiago e Paulo passaram? Ficaríamos confinados por 14 anos na prisão por recusar-nos a negar a Cristo como John Bunnyam e Richard Wurmbrand? Sacrificaríamos a vida, a família e a saúde por amor a Deus e ao próximo como o fizeram William Tyndale, John Hus, William Carey e David Brainner?

4 - Vejo muitos irmãos sofrendo, tanto na igreja como fora dela. Mas os irmãos que congregam têm o conforto da Palavra, da exortação e admoestação da pregação, a comunhão com os santos, o auxílio e consolo que Deus providenciará a cada um, pois “Deus é muito formidável na assembléia dos santos, e para ser reverenciado por todos os que o cercam” (Sl 89.7).
 
Por sua vez, esses irmãos confortarão igualmente outros irmãos, exortando e auxiliando naquilo que Deus os capacitou como instrumentos de bênçãos na igreja (“... para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus” – 2 Co 1.4). Estando eles debaixo da autoridade e proteção de Deus e da autoridade e proteção que Deus outorgou à Igreja (Mt 18.15-20), a qual é responsável pela sustentação dos santos e pela realização da obra do Senhor na terra.
 
O sofrimento pode até ser o mesmo, mas Deus usará de santificação e edificação no primeiro caso, enquanto os crentes em rebeldia estarão sob a disciplina e correção do Senhor. Paulo, em Hebreus 10.25, diz: "E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras, não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia".

5 - A história mostra a Igreja do Senhor, desde os tempos apostólicos, sendo perseguida. Satanás, de todas as formas, tentou frustrar os planos de Deus (e ainda hoje ele tenta), trazendo dor, tribulação, perseguição e morte à Igreja. Contudo, movidos pelo amor de Cristo, o poder do Espírito Santo e o serviço dos santos, ela cresceu, expandiu-se, refletindo a autoridade que Deus lhe investiu. Muitos sacrificaram seus bens, reputação, a família e a própria vida. Cristãos e mais cristãos foram levados para as arenas com seus familiares, e desde o filho menor ao chefe da casa, todos foram martirizados. Qual era o objetivo dos romanos? Qual o objetivo do diabo? Que adorassem a César e rejeitassem a Cristo; e assim a igreja desapareceria, e com ela o Evangelho e a salvação do homem... O que jamais ocorrerá, visto que o próprio Senhor nos diz: "edificarei a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16.18).

Na idade média, a igreja romana perseguiu, torturou e martirizou milhares de crentes fiéis, que não se submetiam ao seu jugo diabólico; e igualmente esses irmãos perderam tudo, e bastaria negar a sua fé, mas preferiram a morte. Como Pedro disse diante dos seus inquisidores em Atos 5.29: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (e aqui, “aos homens”, inclui-se a obediência que devotamos a nós mesmos. Pois temos o amargo gosto de satisfazer as nossas vontades julgando-as como de Deus, quando são apenas apelos carnais. Que cada um de nós ore ao Senhor, e um dia possamos dizer como Paulo em Gl 6.4: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”).

Hoje, não sofremos qualquer ameaça, pelo menos no Brasil e por enquanto. Podemos nos reunir livremente em qualquer lugar, a qualquer hora, sem sermos ameaçados por nada (talvez por isso, somos tão acomodados e inoperantes).

No mundo, especialmente o islâmico e comunista, crentes no Senhor são privados de conforto, de acesso a água, comida, escolas, hospitais, de assistência; são caçados, encarcerados, mortos; perdem os poucos bens que possuem, perdem o lar, os filhos, a esposa ou marido, perdem a própria vida, mas resistem a negar a Cristo (há material vasto e informações atuais no endereço http://www.portasabertas.org.br/ e também em http://www.vozmartir.org/ 2). Serão eles melhores do que nós? Ou o nosso Deus menor que o deles?
 
C) CONCLUSÃO:
 
Respeito opiniões, sejam as de qualquer um. E respeito os que julgam a igreja descartável. Contudo, creio que os crentes têm e devem espelhar-se em Cristo Jesus, o qual é o nosso exemplo, e quem nos move a agir e a decidir em prol de uma vida cristã. É Ele quem opera em nós tanto o querer como o fazer, segundo a Sua vontade (Flp 2.13), mas "que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra" (1Tes 4.4); "a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos" (Jd 3). Oro para que Deus nos guie no cumprimento da Sua vontade, porque é pela igreja que a multiforme sabedoria de Deus faz-se conhecida dos principados e potestades nos céus (Ef. 3.10).

E cada um dos irmãos que não congrega atualmente, ore a Deus para que Ele lhes dê uma igreja local onde possam servir, honrar e glorificar o Seu santo nome...

Se isso é a Igreja, sou mais o meu quarto



“Assim, pois, as igrejas em toda a Judéia, e Galiléia e Samaria tinham paz, e eram edificadas; e se multiplicavam, andando no temor do Senhor e consolação do Espírito Santo.” – At 9.31

“E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos.” – Ef 1.22-23
“A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo, e demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo; para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus, segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor, no qual temos ousadia e acesso com confiança, pela nossa fé nele. ” – Ef 3.8-12


Já ouvi muitas fábulas em relação à permanência dos crentes numa igreja. Uma delas diz que a igreja é igual à arca de Noé, um lugar cheio de bichos e suas necessidades fisiológicas, e que cheira mal, porém é melhor estar lá dentro do que lá fora em meio ao dilúvio. Outra diz que crente é igual uma abelha: num enxame (ou igreja), vence qualquer inimigo; sozinho, morre num tapa só. Daí a se pensar que a igreja é um organismo super-poderoso, e deve ser mesmo, afinal é nada mais, nada menos que o Corpo de Cristo, Daquele que venceu a morte e o inferno ao levar sobre Si todos as maldições e enfermidades da raça humana. Mas será que a Igreja de Cristo é isso que vemos?

É muito fácil abrir uma igreja. Aluga-se uma garagem e já dá para iniciar uma congregação. Pensa-se num nome pomposo (que tal Igreja Transcontinental da Majestade do Alto? – está muito difícil achar um nome de igreja que não exista), convida-se os vizinhos e amigos e pronto: temos uma Igreja! Se fosse só isso estaria ótimo, o problema é o que é ensinado e vivido por lá.
Já percebeu como sempre há a mesma desculpa para a abertura de uma nova denominação (corrupção da antiga, envolvimento com maçonaria, erros doutrinários, etc), porém na nova se repetem os mesmos, ou até piores, erros da anterior? Ou seja, não há a intenção real de se fazer uma Igreja segundo a Palavra, apenas a de se criar mais um papado.

Sim, papado. A Igreja evangélica brasileira é próspera em papas. Há o Bento XVI e há o papa de cada denominação. Cada fundador se torna um papa, infalível e insubstituível. A permanência no poder é eterna, e os estatutos asseguram que a igreja não sairá de suas rédeas curtas. Quem ousa se levantar contra o “papa” é logo taxado como em rebelião, e expulso ou convencido sutilmente a deixar a denominação. E assim uma nova igreja é criada, e o círculo se repete indefinidamente, causando estranheza principalmente em quem não é cristão, pela quantidade absurda de placas diferentes.

Fico imaginando se Lutero vivesse nos dias de hoje… em seu tempo, precisou se opor a apenas um papa. Hoje, teria que imprimir milhares de teses, uma para cada papa evangélico. Um Lutero só não conseguiria fazer isso não!

O absurdo das várias denominações é tão escancarado que basta andar pelas ruas das cidades para o verificar. Aqui em São Paulo, na Av. Águia de Haia (zona leste da capital), há 6 anos atrás havia três denominações na mesma quadra. O pior: três casas (ou templos) grudados, um depois do outro, porta com porta. Sinceramente, a intenção nesse lugar é evangelizar ou apenas demonstrar o poder da sua denominação que, claro, precisa gritar mais do que as outras vizinhas caso os cultos sejam no mesmo horário? E isso não acontece só nessa rua, acontece em todos os lugares: se as igrejas não são vizinhas de porta, são de quadra, de rua. Mas o lugar permanece ruim e violento do mesmo jeito.

Nós somos chamados para ser sal e luz. Como sal e luz mantém um lugar insosso e escuro? Como, em meio a tantas igrejas, ainda há pessoas morando nas ruas, pessoas se drogando, se prostituindo, roubando e matando? Pessoas mentindo, enganando, chantageando, manipulando? Por que, com tantas igrejas, o Brasil está a cada dia pior? Não deveria ocorrer o contrário?

O que vou dizer agora poderá escandalizar muita gente, mas é o que penso: muitas que se dizem igrejas não o são, espiritualmente falando, não passando de um “clubinho de eleitos”. Você chega, entra no clube, paga a mensalidade, ouve as assembléias, se diverte (canta, dança, ri, chora, extravasa) e vai embora mais feliz, entretido momentaneamente. Aí chega em casa, a criança continua gritando, o marido bebendo, a vizinha atrapalhando, o chefe atormentando; afinal a instituição que se autodenomina igreja, apesar de citar a Deus, não Lhe dá espaço para atuação, preferindo a manifestação de espíritos dançarinos, saltadores, giratórios, que promovam bastante carnaval no recinto. Assim, enganados muitas vezes por “fogo estranho”, não deixamos o Espírito Santo agir em nós, nos transformando, e por isso continuamos vendo todos os defeitos nos outros e na droga de vida que temos.

Note bem, sou pentecostal, acredito nos dons espirituais, mas atribui-se ao Espírito Santo algumas coisas nas igrejas que só por Deus!!!

Se a igreja não consegue transformar quem está dentro, imagine transformar a realidade ao seu redor… E se a igreja não transforma vidas, apenas as “transtorna”, já não é igreja, não é congregação, comunhão, é apenas distração e sacrifício para almejar as bênçãos divinas.

É estranho, mas quanto mais aprendemos a Verdade da Palavra, mais distantes nos tornamos de uma igreja. Não deveria ser o contrário? Não deveríamos nos lançar com maior amor à congregação, sabendo que lá estaremos proclamando o amor ao próximo e a Deus?

O problema é que a igreja não nos transmite amor. Tudo é aparência. Os pastores não têm amor pelas ovelhas, e sim por tosquia-las. As ovelhas, por sua vez, querem estar mais próximas de seus pastores, e para isso não medem esforços, mesmo que seja necessário pisotear outras ovelhas que estejam em seu caminho. É cada um por si e Deus por todos. A igreja se tornou o reino do diz-que-me-diz, onde uns apontam os erros dos outros e todos se acham santos. Só que os erros são apontados não com amor, mas com juízo. Adulterar ou engravidar antes do casamento? Aparte-se de mim!!! Mas mentir e roubar um pouquinho poooooooode!

Mas não pára por aqui. É cada dia mais difícil ouvir uma pregação até o fim. São palavras previsíveis, de exaltação (quase nunca exortação), bom ânimo, esperança, revelações e revelamentos que nunca se realizam (essa noite Deus está curando suas feridas! – as feridas não são curadas, e no culto seguinte: essa noite Deus está completando a obra em sua vida! – e a obra não é completa, aí no culto seguinte a mesma coisa sempre). Não ouvimos pastores, ouvimos doutores em auto-ajuda: todas as bênçãos nos pertencem, somos cabeça e não cauda, o diabo está debaixo dos nossos pés, mas no dia seguinte ainda temos dívidas, problemas, doenças, vazio.
Será que Deus deixou de agir? Ou a instituição que se diz “igreja” é que fala por Ele com engano, a fim, mesmo que inconscientemente, de desacredita-Lo?

Não consigo mais ouvir sermões de auto-ajuda e falsas promessas. Não consigo mais sentar num banco de uma igreja, sabendo que a principal hora não é a da pregação, mas a da coleta. Não aguento mais uma hora de louvor, com bandas desafinadas e cantores “se achando”, provocando o choro fácil não por unção, mas porque, na assembléia dos santos, todos temos motivos para chorar. Simplesmente não aguento mais isso, e peço perdão a Deus se isso O desagrada, mas não quero ir numa igreja por falsidade e ficar vendo defeito em tudo, como foi das últimas vezes.

Eu queria frequentar A Igreja. Não a imagino um mega-templo, com poltronas acolchoadas, ar-condicionado, altar gigante. Eu a imagino uma casa simples, com pessoas simples independente de sua situação financeira. Eu a imagino um lugar onde a acolhida é com amor sincero, não com um risinho forçado e o “seja-bem-vinda-amada” de praxe. Eu a imagino com pessoas que contribuem voluntariamente e com alegria, e que se importam com o irmão ao lado, suprindo-o de acordo com suas necessidades. Sinceramente não consigo frequentar um local onde, em nome de Deus, são lançados gafanhotos devoradores sobre quem não paga a mensalidade. A Igreja que eu quero frequentar tem problemas, pois tem pessoas com problemas, mas lá é possível discordar, perguntar, até duvidar, sabendo que ninguém levará nada para o pessoal, continuando a haver amor apesar das diferenças. A Igreja que eu quero frequentar é uma em Deus, reflete Sua Graça e Misericórdia, Sua Alegria e Beleza, mesmo que, aos olhos humanos, possa não passar de um casebre. Na Igreja que eu quero frequentar mal dá para definir seus líderes, pois o maior se faz de menor, o serve e não busca ser servido. A Igreja que eu quero frequentar traz os ensinamentos de Deus, segue a sã doutrina, não as doutrinas temporárias de homens. A Igreja que eu quero frequentar transforma não só os que lá estão, mas toda a realidade à sua volta, pois se importa com os famintos, os drogados, os excluídos de toda a sorte

Crer é também agir



Por Marcelo Berti

Em 1972 em Londres, John Stott lançava um pequeno livro que foi referência para o cristianismo de sua época: “Your Mind Matters” que ficou conhecido em português como “Crer é também pensar”, publicado seis anos mais tarde no Brasil. Nesse livreto Stott escreveu sobre a expressa dicotomia existente entre a Fé e a Razão visando demonstrar que não são mutuamente-excludentes, mas mutuamente necessárias no exercício da fé cristã. Provavelmente o que moveu Stott a escrever esse livro foi o avanço da ideologia de que a fé cristã é uma expressão de uma crendice infundada e que não se pode explicar, e não uma Fé que Pensa e Conhece.

Essa foi a marca fundamental desse livreto, mas muitos dos seus leitores provavelmente se esqueceram do modo como o autor encerra seu livro: Ele nos convida a evitar o intelectualismo estéril da fé. Uma das grandes decepções do intelectualismo da fé é sua capacidade de conduzir cristãos à reflexão inerte, que nada faz. Esse modo de viver a fé de nada adianta: A Fé ensinada pelas Escrituras implica em ação.

Em Romanos 1.5, Paulo demonstra isso ao usar uma expressão muito interessante: “por quem [Jesus Cristo] recebemos a graça e a missão de pregar para louvor do seu nome, a obediência da fé entre todas as nações” (BJ). Essa pequena expressão é de altíssima significância:

Em primeiro lugar ela nos demonstra que a obediência da fé era o conteúdo da missão dos apóstolos. Observe que a expressão “missão de pregar” foi traduzida em outras versões (ARA, NVI) por “apostolado” em referência ao ministério de Paulo. Ou seja, por intermédio de Jesus Cristo Paulo pregava a obediência da fé entre os gentios: “Porque não ousarei discorrer sobre coisa alguma, senão sobre aquelas que Cristo fez por meu intermédio, para conduzir os gentios à obediência” (Rm.15.18; cf. Rm.10.3, 16).

Em segundo lugar ela nos ensina que para Paulo a aceitação da mensagem de Cristo é entendida como um ato de obediência à Vontade de Deus (cf. Jo.6.40). Ou seja, exercer fé (crer) para Paulo estava relacionado a uma postura prática de submissão a Deus, o que implica no abandono das vontades pessoais, a submissão às vontades do pecado e a completa sujeição ao Senhorio de Deus: “uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça” (Rm.6.18); “Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna” (Rm.6.22).

Em terceiro lugar ela nos ensina a pensar na fé como um ato essencialmente prático. É bem verdade que a fé é fundamentada não na sabedoria humana, mas no poder de Deus (1Co.2.5) que é oferecida graciosamente por Deus como um presente imerecido (Ef.2.8), mas é recebida por aqueles que “glorificam a Deus pela obediência da vossa confissão quanto ao evangelho de Cristo” (2Co.9.13).

Portanto, temos que nos lembrar constantemente da funcionalidade da nossa fé em submissão ao nosso Deus, na realização de Sua vontade em uma vida em conformidade com Seu caráter. Não podemos ter a fé somente como um conjunto de informações sobre nossa religiosidade (credo): A Fé que recebemos nos conduz a uma vida de boas obras, que o Próprio Deus preparou para realizarmos (Ef.2.10).

Que sejamos assim: homens e mulheres cheios de fé que conduzem muitas pessoas à obediência da fé em Cristo Jesus (At.11.24).

Brasil Laico – A grande mentira

Por João A. de Souza Filho
As autoridades brasileiras enfrentam um grande dilema quando precisam separar o religioso do secular, e, nesse afã de legislar as questões étnicas, religiosas e culturais costumam se perder. Sim, porque as etnias possuem culturas religiosas e culturais; e estas, geralmente são culturas advindas de crenças e práticas religiosas .

Os constituintes de 1988 tentaram separar a igreja do Estado, mas, enraizada na cultura brasileira, a igreja – e me refiro à igreja católica apostólica romana – continua a gozar de privilégios únicos na nação. Agora um projeto que entrou em regime de urgência favorece a igreja de Roma em todos os setores da sociedade brasileira. Confesso que não tive acesso ao teor do projeto.

Existem perguntas que precisam ser respondidas: Quem mantém a iluminação das catedrais, a reforma de templos católicos históricos e outros benefícios? E as grandes instituições de caráter filantrópico que não fazem filantropia, como Universidades e hospitais que não mais atendem ao pobre e ao necessitado, mas que continuam isentas de impostos? E ouvi dizer que em algumas cidades o imposto de transmissão ITBI vai para os cofres da igreja!

Um véu de mistério encobre essas e outras questões. Quem fiscaliza a grande quantidade de dinheiro que é recolhido ou ofertado pelo povo nas grandes festas das padroeiras? E onde é aplicado o dinheiro? E o lucro dos objetos religiosos vendidos em Aparecida do Norte?
Recolhem-se os impostos devidos ao Estado? São questões que não incomodam a sociedade brasileira, porque o Estado laico fecha os olhos em tudo o que se refere aos católicos romanos, mas os mantêm bem abertos quando se trata da igreja evangélica.

É aqui que o Brasil mente pra si mesmo. Não somos um Estado laico, mas católico romano. Constitucionalmente o Estado é laico, na prática é católico romano. Haja vista o envolvimento dos governos sempre que um Papa visita o país. Quem arca com as despesas?

Ora, que se use um mesmo peso e uma só medida para todas as religiões e igrejas, porque o Estado é laico, não religioso.

Existe um rumor de que os templos católicos sejam extensão da Sé de Roma, uma espécie de consulado, e que, portanto, são invioláveis. Ora, não sei se isto é verdade – que me respondam com documentos comprobatórios os que desse tema sabem – porque se o for, então não podem recolher ofertas nem dízimos, por se tratarem de consulados. Mas, é aqui que as autoridades se perdem, porque Roma tem um poder religioso, social e político sobre as nações do mundo, e consegue, pelo que se vê, manter as benesses político-sociais de que precisa.

Separar o religioso, isto é, a igreja do laicato é tarefa hercúlea. Porque este é o Brasil indecifrável, místico, em que fé e política, ação social e ideologias se mesclam e se enraízam formando uma nova cultura. Num país em que o religioso e o secular vivem lado a lado – nem sempre harmoniosamente – desde os tempos do império, é preciso coragem para legislar e separar a religião do Estado.
Existe ainda muito preconceito contra tudo o que não se afirma como católico romano. Ou estou errado ao fazer este juízo?
Ora, num Estado laico não se pode manter símbolos religiosos em locais públicos, é o que afirma o Ministério Público Federal de São Paulo. Reagindo contra a ação pública que o MPF ajuizou em São Paulo, o Ministro Gilmar Mendes do Supremo reagiu com ironia: “Tomara que mandem retirar o Cristo Redentor”.

A questão não é a presença de símbolos religiosos – esses fazem parte da cultura ocidental cristã. A Cruz e o crucifixo são os símbolos mais vistos nas repartições públicas, nas escolas, nos tribunais de justiça, e olhando-se pela ótica positiva estão ali para lembrar que um homem fez a diferença dois mil anos atrás, morrendo a favor dos pecados da humanidade. A partir dessa leitura, esses símbolos são bons.

Por outro lado, deve-se respeitar os que nesses símbolos não acreditam, e, sendo laico, o Estado deveria retirá-los das repartições públicas! Um Estado deve ser imparcial e respeitar todas as crenças sem favorecer a estes ou aqueles. Assim, as estátuas religiosas dos católicos e das religiões afro-brasileiras, e também os monumentos à Bíblia deveriam ser retirados dos locais públicos. Em certo sentido, os espaços públicos, como praças, praias, entradas de cidades e montes ficariam mais natural sem esses monumentos religiosos. O Cristo Redentor no Rio deveria acolher ao seu lado outras representações religiosas.
Não seria isso, no entanto, uma afronta à espiritualidade do povo? Pois, procedendo assim, negaremos nossa herança cristã. Pedi a um amigo, bispo de uma igreja, que me desse sua opinião, já que ele exerce alta função em defesa das leis. E ele me disse:
“Estado laico é aquele que não toma partido em matéria de religião, isto é, não favorece religião alguma. O objetivo da regra não é proteger o Estado e sim a liberdade de culto. Impede-se que o Estado restrinja a liberdade de culto, seja perseguindo, seja favorecendo excessivamente certa confissão religiosa. Os símbolos são expressão de cultura e não ofendem o Estado laico. Nem os feriados, ou o Cristo Redentor, e nem a estátua de Têmis nas portas dos Tribunais”.

“A constituição americana foi a primeira a dispor sobre a matéria e diz o seguinte: "O Congresso não aprovará nenhuma lei relativa ao estabelecimento de religião ou que proíba seu livre exercício". Esse é o espírito da regra, proteger a liberdade de culto. Não visa a dar ao Estado uma faceta exclusivamente secularizada, despida absolutamente de suas raízes religiosas. Os símbolos, ainda que católicos, são cristãos e, a meu ver, nos interessam, pois mantém viva a lembrança que a nossa herança, inclusive quanto ao modelo de Estado, é cristã. Idéias como a democracia, dignidade da pessoa humana, solidariedade, etc., obviamente possuem fontes cristãs, e assinalar isso simbolicamente não implica qualquer prejuízo à regra do Estado laico.”

Falou. E eu acrescento:

O que não deve ocorrer num Estado laico são os benefícios do Estado à igreja de Roma em detrimento das demais. Em inaugurações públicas lá está o bispo diocesano, ou o padre da paróquia representando Roma, e por que não se convidam os líderes de outros grupos sejam estes evangélicos ou não? Os direitos devem ser estendidos a todas as religiões, sim, até àquelas de que não gostamos. O Estado que se diz laico, não poderia beneficiar este ou aquele grupo. Ou beneficia a todos, ou não leva ninguém para a inauguração. Se um bispo católico romano é convidado, todos os líderes que representam outras religiões daquela região devem ser convidados também.

As religiões têm seus símbolos religiosos. A cruz faz parte do cristianismo, assim como a espada e a meia-lua fazem parte da cultura islâmica e o martelo e a foice da religião comunista.
É bom que este tema seja levantado num momento em que o projeto de lei 1736/2009 estará sendo apreciado e votado pelo plenário.
No jornal Estado de São Paulo (11/08/2009) Gilmar Mendes declarou: “Se aprofundarmos essa discussão e formos radicais, vamos rever o calendário? Nós estamos agora no ano de 2009, que significa 2009 anos depois de Cristo. Vamos colocar isso em xeque? O próprio calendário, o sábado, o domingo, será revisto? A Páscoa, o Natal?”, questionou. “Muito daquilo que se diz que é algo religioso, uma expressão de símbolo religioso, na verdade é uma expressão da civilização ocidental cristã”, opinou.
Tem razão, neste ponto, o ministro, porque o calendário, os domingos, o Natal e a Páscoa têm origem na cristandade.
Mas, senhor ministro, se vivêssemos num Estado laico, como os ateus querem que vivamos, desapareceriam todos os feriados religiosos da nação, como o Natal, a Páscoa, o 2 de Novembro, o 12 de Outubro e outras datas em que se cultuam os santos católicos. É bom e ruim. Bom, porque prevaleceria o bom senso, e os verdadeiramente cristãos não precisariam se submeter a tais feriados. Ruim, porque seria a negação de uma cultura cristã, seja católica ou protestante.
Já pensou nisso? É aqui que o Estado deveria agir como laico – mas, a grande mentira é que se defende um Estado laico à parte do que é religioso, enquanto o próprio Estado continua a ser bem religioso – e a favor dos católicos romanos.
O Brasil deve ser laico sem favorecer a católicos, protestantes, budistas ou a quem quer que seja. O Brasil laico de hoje é uma farsa, uma grande mentira a céu-aberto.

É de se pensar.

Deixando o nosso "Tabernáculo": Morre Dalla Willard


Por Clóvis Gonçalves 
É claro que algo vai acontecer. Abandonaremos o nosso corpo atual em determinado momento, e a nossa partida e o que deixaremos para trás não parecerão agradáveis àqueles que gostam de nós. Mas esse momento, como Paulo também afirma, simplesmente será uma questão de "deixar o corpo e habitar com o Senhor" (2Co 5:8).
 Os primeiros cristãos diziam que os que passavam pela morte física "dormiam". Nessa condição estamos, como dizemos ainda hoje de uma pessoa adormecida, "mortos para este mundo". Para aqueles que ficam existe uma semelhança óbvia, embora superficial, entre o corpo daquele que dorme e o corpo de outro que passou ao mundo pleno. Mas nesse modo de falar não havia intenção de dizer que estaríamos inconscientes. A consciência persiste enquanto dormimos, e do mesmo modo quando "dormimos em Jesus" (1Ts 4:14; At 7:60). A diferença é simplesmente uma questão daquilo de que estamos conscientes. Na verdade, na morte "física" nós nos tornamos conscientes e desfrutamos de uma riqueza de experiência que jamais conhecemos antes.
 O evangelizador americano Dwight Moody observou já perto do fim da vida: "Um dia, breve, vocês vão ouvir dizer que eu morri. Não acreditem nisso. Eu então estarei mais vivo do que nunca". Quando os dois guardas chegaram para levar Dietrich Bonhoeffer ao cadafalso, ele puxou de lado um amigo e brevemente lhe disse: "Isso é o fim, mas para mim é o princípio da vida".

Como então deveríamos conceber a transição? O não termos uma forma de concebê-la é uma das coisas que a torna persistentemente aterrorizadora mesmo para aqueles que têm plena confiança em Jesus. O inimaginável é para nós naturalmente assustador. Mas há duas metáforas que creio serem corretas e também úteis. Elas podem nos ajudar a saber o que devemos esperar no momento em que deixarmos o nosso "tabernáculo", o nosso corpo (2Co 5:1-6).

A primeira é de Peter Marshall, e ficou famosa alguns anos atrás. É a metáfora de uma criança brincando à noite com seus brinquedos. Pouco a pouco ela vai ficando cansada e abaixa a cabeça para repousar um pouco, continuando a brincar preguiçosamente. A próxima coisa que ela vivência ou "prova" é a luz da manhã de um novo dia inundando a cama e o quarto para onde sua mãe ou seu pai a levou. O interessante é que nunca nos lembramos do momento em que adormecemos. Não o "vemos", não o "provamos".

Outra metáfora é de uma pessoa que passa por uma porta entre dois recintos. Ainda em relação com as outras pessoas do recinto que ela está deixando, já começa a enxergar e conversar com as pessoas do outro recinto, que podem estar totalmente ocultas àqueles que ficaram para trás. Antes da disseminação do uso de pesados sedativos, era bem comum observar algo parecido com isso. A pessoa que faz a transição muitas vezes começa a falar com aqueles que partiram antes dela. Eles nos vão receber enquanto estamos ainda em contato com aqueles que ficam. As cortinas se abrem para nós pouco antes de passarmos.

Falando do esplendor dessa passagem para o mundo pleno dos "céus reabertos", John Henry Newman comenta o seguinte: "As coisas maravilhosas do novo mundo já são agora mesmo o que serão então. São imortais e eternas; e as almas que então ficarem conscientes delas as verão na sua tranqüilidade e na sua majestade, onde sempre estiveram... A vida que então começará, bem o sabemos, durará para sempre; no entanto, com toda a certeza, se a memória for então para nós o que é hoje, esse será um dia certamente a ser celebrado perante o Senhor pelos séculos dos séculos". Será o nosso nascimento num mundo pleno de Deus.

Dalla Willard, 04/09/1935 - 08/05/2013
A Conspiração Divina