terça-feira, 14 de maio de 2013


Por Jorge Fernandes Isah
Relendo o livro “Eleitos de Deus”, de R. C. Sproul [1], na página 50, deparei-me com um quadro baseado no pensamento de Agostinho, elaborado com o intuito de elucidar os quatro estágios do homem segundo a visão reformada da predestinação. Decidi portanto analisá-lo sinteticamente, sem abarcar todas as implicações e pormenores, o que não quer dizer que o fiz levianamente.
1)
Antes da Queda:
Sproul: O homem era capaz de pecar e capaz de não pecar.Eu: Não se vê na Bíblia nenhuma afirmação quanto a essa conjectura. Ela é mais fruto de uma premissa que justifique a Queda do ponto de vista humano, do que do ponto de vista da soberania de Deus; e uma tendência ou tentativa de "absolver", de "inocentar" Deus da Queda do homem, como se Ele precisasse de um advogado ou alguém que o defendesse (ao mesmo tempo em que O acusa), de não ser sábio e perfeito naquilo que fez sábia e perfeitamente. Ainda que a maioria dos calvinistas aceite a predestinação, o decreto eterno, e a Queda como partes integrantes do propósito divino, não aceitam a Sua ação efetiva e direta na Queda do homem.Por isso se afirma, desde Agostinho, que Adão detinha o livre-arbítrio. Mas onde está escrito que ele o tinha? Tanto que à primeira tentação sofrida, cedeu e pecou; e a sua capacidade de não-pecar em nada lhe serviu e em nada o ajudou a se preservar do pecado. Se Adão tinha a capacidade de pecar ou não, por que ele escolheu justamente aquilo que não conhecia, e do qual nada sabia?
Afirmar a neutralidade de Adão quanto à possibilidade de escolha (e o livre-arbítrio pressupõe neutralidade de escolha, não estando ela sujeita a nenhuma coerção externa ou mesmo interna) é ir contra a lógica. A própria mentira da serpente, distorcendo uma ordem clara e expressa de Deus (e a ordem de Deus não é uma espécie de coerção?) demonstra que houve uma influência exterior, e de que essa influência foi acolhida no coração de Adão e, portanto, ele decidiu que aquilo que Deus havia dito era mentira, e de que aquilo que a serpente havia dito era verdade. Como ele conseguiu chegar a tal conclusão se sua escolha estava neutralizada pelo livre-arbítrio? Seria possível a Adão alguma escolha em meio à neutralidade?A neutralidade pressupõe a não-escolha. Se há neutralidade, como escolher? E se não havia o deliberado desejo de se rebelar contra Deus, como lhe foi possível desobedecê-lO? E não sabendo o que é o mal (que até então não havia no Éden), como Adão poderia escolhê-lo? Conhecendo apenas o bem, é possível escolher o mal que não se conhece?A questão aqui não é de capacidade ou liberdade de escolha, mas do decreto eterno de Deus que fez com que Adão caísse, a fim de que se cumprisse toda a vontade divina.Adão não havia pecado, mas era necessário e inevitável que pecasse, pela vontade decretiva de Deus.
E foi o que aconteceu.
2)Depois da Queda:
Sproul: O homem é capaz de pecar e incapaz de não pecar.

Eu: Esses conceitos são uma tentativa de se entender a ação do pecado na vida do crente e do não-crente. Contudo, muitos incrédulos escolhem não pecar, mesmo quando estão diante da opção de fazê-lo. Como explicar essa situação? O ímpio sempre pecará?
A meu ver, o livre-arbítrio ou a capacidade da vontade humana estarão sempre sujeitos à vontade decretiva divina e, portanto, jamais teremos escolhas livres, nem mesmo segundo a nossa natureza [2].O fato não é se temos ou não a capacidade de escolha, mas em que situação e circunstâncias nossas escolhas são livres. Livres de quem? De Deus?Muitos calvinistas [3] querem fugir é da idéia do determinismo, ou seja, como Deus pode decretar tudo no universo, inclusive os mais insignificantes e míseros eventos e pensamentos, se o homem é livre para escolher, seja qual for essa noção de liberdade, e mesmo que ela seja limitada pelo poder soberano de Deus?Segundo o padrão 2, o ímpio jamais deixará de pecar, e a sua escolha será sempre para o pecado. Contudo, existe a diferença entre natureza e pecado. A natureza caída não pressupõe necessariamente como fim o pecado, ele encontra-se em um "estado pecaminoso", aquele estado em que o homem está em deliberada rebeldia a Deus, contudo, ainda sob o poder controlador de Deus, o qual ativamente age mesmo no ímpio, e assim, nem sempre ele será levado a pecar. Deus o usará muitas vezes para cumprir o propósito de não-pecar. Aí está o dilema.Da mesma forma que ao regenerado não se pressupõe a capacidade de não-pecar totalmente. O seu estado saiu do "pecaminoso" para o "santo" ainda que ele cometa pecados, e a maioria das suas decisões sejam em favor do pecado.O que temos aqui não é a liberdade da vontade humana, mas a liberdade divina de fazer com o homem o que bem quiser, e que fará com que réprobos escolham não pecar, e fará com que santos escolham pecar.

Logo, esse quadro é ainda uma tentativa de justificar a Queda, o estado natural do homem, e o estado regenerado do homem, a partir do próprio homem, e não de Deus.
3)Renascido ou Regenerado:Sproul: O homem é capaz de pecar e capaz de não pecar.

Eu: Em quais condições? De pecar estando livre de Deus? De não pecar estando livre de Deus?
Novamente voltamos ao dilema dos itens 1 e 2.Até que ponto o homem é livre de Deus para escolher pecar e não pecar?Até que ponto Deus é soberano para fazer com que o homem peque e não peque?Até que ponto o homem pode ser livre sem ferir a soberania de Deus?Até que ponto Deus é soberano e o homem livre?Até que ponto a natureza humana pode determinar o grau de liberdade do homem em relação a Deus?
Ou estamos falando de conceitos que se opõem e se anulam?
A questão é:
a)Deus é soberano,
ou
b)O homem é livre; e Deus não é soberano, ou não existe.
4)Glorificado:
Sproul: O homem é capaz de não pecar e incapaz de pecar.

Eu: Finalmente um conceito bíblico. Este é o único em todo o quadro que tem o respaldo da Escritura, e que não implica em nenhuma bobagem como a liberdade de escolha do homem, seja pela neutralidade do livre-arbítrio ou parcialmente determinada por Deus.
Na eternidade não pecaremos porque o pecado não mais existirá, seremos iguais a Cristo, e impedidos de pecar. Não há aqui nenhum conceito embutido de liberdade do homem. Ou opção de escolha. Seremos assim porque Deus assim o quer, da mesma forma que os outros "estágios" do eleito também o são pela exclusiva vontade de Deus.
Se na glória não seremos "livres", por que o somos agora ou antes?
A liberdade é um desejo do homem, mas há de se entender que ela não pode deixar de prescindir a soberania de Deus. E, por conseguinte, a Sua glória. A Bíblia é clara em afirmar que Deus não abre mão da Sua glória, portanto, por que Ele criaria o homem com alguma liberdade? Apenas se Ele quisesse se ver livre de nós, como os deístas concluem, crendo num deus negligente, que pouco ou nada liga para a sua criação. Porém, esse não é o caso do Deus bíblico, que reina sobre o universo, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder [Hb 1.3].Acontece que a liberdade existe, em princípio, para validar a responsabilidade do homem. Quer a maioria dos calvinistas queira ou não. Para se afirmar a responsabilidade não é preciso validá-la pela liberdade (como disse anteriormente, não importa o grau nem o estágio de liberdade, ela sempre significará livre de Deus).A responsabilidade humana está diretamente ligada à autoridade divina, que estabeleceu a transgressão como pecado, e como conseqüência a punição e condenação pela infração cometida.É simples. O homem é acusado e condenado não por ser livre para escolher, mas porque cometeu o delito, a infração, violando a Lei de Deus. Seja por vontade própria ou não; o que é irrelevante.
Isso é que faz do homem um pecador; isso é que o torna réu; isso é que o condenará, e o levará a receber o castigo eterno do próprio Deus. Nada além disso.
Portanto, tanto o conceito de liberdade, como o de responsabilidade atrelada à liberdade do homem, são falsos e antibíblicos.

Prioridades na família


 
Por Rev. Hernandes Dias Lopes

A família é um projeto de Deus. Foi a primeira instituição divina. E foi criada para a glória de Deus e nossa felicidade. Para que a família colime esse elevado propósito, necessário se faz que observemos algumas prioridades.
Em primeiro lugar, Deus precisa vir antes das pessoas. Devemos amar a Deus com toda a nossa alma e de toda a nossa força. Devemos buscar em primeiro lugar o seu reino e a sua justiça. Para ser um discípulo de Jesus é preciso estar disposto a deixar pai e mãe e amá-lo mais do que qualquer outra pessoa, por mais achegada que seja a nós. Deus ocupa o primeiro lugar em nossa vida, ou então, ainda não sabemos o que é segui-lo. O que é importante destacar é que, quanto mais amamos a Deus, mais amamos nossa família e mais fortes ficam nossos relacionamentos interpessoais. A nossa relação com Deus cimenta os demais relacionamentos, colocando-os dentro de uma correta perspectiva.
 Em segundo lugar, o cônjuge precisa vir antes dos filhos. Pecam contra o cônjuge e contra os filhos, aqueles que colocam os filhos em primeiro plano e o cônjuge em segundo plano. O maior presente que podemos dar aos nossos filhos é amar, com desvelo, o nosso cônjuge. A maior necessidade dos filhos é ver o exemplo dos pais. Não há família saudável onde os relacionamentos estão fora dos trilhos. Investimos nos filhos, quando investimos em nosso casamento. Cuidamos dos filhos, quando priorizamos nosso cônjuge.
 Em terceiro lugar, os filhos precisam vir antes dos amigos. Precisamos ter discernimento para buscarmos as primeiras coisas primeiro. Nossos amigos são importantes, mas nossos filhos são mais importantes. Aqueles que não cuidam da sua própria família estão em total descompasso com o projeto de Deus. Não podemos sacrificar nosso relacionamento com os filhos para dar mais atenção aos nossos amigos. Nenhum sucesso vale a pena quando o preço a pagar é o sacrifício dos nossos filhos. Os pais precisam entender que seus filhos são prioridade. Precisam investir neles o melhor do seu tempo e o melhor de seus recursos. Precisam criá-los na admoestação e na disciplina do Senhor. Não podem procá-los à ira para quem não fiquem desanimados.
 Em quarto lugar, as pessoas devem vir antes das coisas. Vivemos numa sociedade materialista e consumista. As prioridades estão invertidas. As pessoas esquecem-se de Deus, amam as coisas e usam as pessoas. Devemos, ao contrário, adorar a Deus, amar a pessoas e usar as coisas. Quando colocamos coisas no lugar de pessoas tornamo-nos insensíveis e apartamo-nos do projeto de Deus. Há pessoas que, infelizmente, têm mais cuidado com o carro do que com os membros da família. São mais zelosos com seus objetos pessoais do que com os relacionamentos dentro de casa. Amam mais os bens materiais do que os membros da família.
 Em quinto lugar, o reino de Deus precisa vir antes dos nossos projetos. Temos visto muitos crentes dando para a Deus a sobra dos seus bens, de seus talentos e do seu tempo. São pessoas que só se preocupam com as coisas terrenas. Correm atrás de seus próprios interesses enquanto a obra de Deus fica relegada a segundo plano. Essas mesmas pessoas, nas palavras do profeta Ageu, semeiam muito e colhem pouco; vestem-se, mas não se aquecem; comem, mas não se satisfazem; e o salário que recebem, colocam-no num saco furado. O pouco que trazem, Deus o assopra, porque não aceita sobras, uma vez que requer primícias. Precisamos buscar em primeiro lugar o reino de Deus. Precisamos investir as primícias da nossa renda na promoção do reino de Deus. Precisamos investir em causas de consequências eternas. Nossa felicidade pessoal e familiar alcançarão sua plena realização, quando essas prioridades estiverem alinhadas em nossa vida!

Todo homem é Pelagiano por natureza!



Por Josemar Bessa
 
Certa vez George Whitefield (1714-1770) disse que qualquer homem que está familiarizado com a natureza humana e a propensão do seu próprio coração, deve inevitavelmente reconhecer que a justiça própria é o último ídolo a ser erradicado do coração.
 Há apenas duas formas pelas quais o homem pode ter paz verdadeira com Deus. A primeira é ter um coração completamente livre de qualquer pecado. Quando Adão era santo havia perfeita paz, mas ela foi quebrada. Todos nós pecamos, e esta porta (a perfeição própria do coração – ser um ser merecedor de algo da parte de Deus) está para sempre fechada para toda a nossa raça.
 De todos os nascidos de mulher, de todos que pisaram esta terra, apenas um entrou no céu por seus próprios méritos, Cristo, o Filho de Deus. Só nEle e em seus méritos a paz agora é possível: “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo; Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.” - Romanos 5:1-2
 A maneira com que podemos certamente garantir uma falsa paz e nos destruir é fechar os olhos as ofensas infinitas do pecado, do pecador a um Deus infinitamente santo, é minimizar o pecado acreditando ser possível ter algum mérito diante de Deus, é se fazer cego para nossas próprias consciências e nos convencermos de que realmente não somos culpados além de toda possibilidade de reparação e de toda possibilidade de ter algum mérito diante de Deus que nos faça digno de reivindicações diante dEle.
 Justiça própria é o maior ídolo humano. Ele tem “reinado” não só no mundo secular, mas em grande parte daqueles que dizem ter crido no evangelho. Um evangelho que não destrói o ídolo justiça-própria, que mantém espaço para a justiça própria e mérito humano na salvação...  não é evangelho de forma nenhuma. Homens assim passam seus dias no engendramento de desculpas transformando o mal em bem, o demérito em mérito, a necessidade de graça em reivindicações.
 Tendo nascido caído em um mundo caído; tendo nascido sob um pacto de obras, é natural para todos nós recorrer a um pacto de obras para a nossa salvação eterna. E nós temos orgulho diabólico suficiente para pensarmos em ter um alguma glória em nossa salvação. Todo homem é Pelagiano por natureza. E portanto, não é de se admirar que sem a obra o soberana do Espírito abracemos facilmente a “liberdade” humana, nossa capacidade de colocarmos sobre nossa força e desejo o passo fundamental da nossa salvação. O ídolo justiça-própria é terrível e o mais resistente no coração caído. É a atitude mais comum debaixo do sol. É um mal que floresce em todas as idades, todas as classes sociais, todos os níveis intelectuais – do analfabeto ao homem que possua a maior quantidade de títulos acadêmicos, o ídolo justiça-própria reina!
 Nada ofende tanto nossa sociedade, cultura... e muitas vezes a igreja de nossos dias,  do que atacar o ídolo justiça-própria. Vozes revoltadas logo se levantam com paixão avassaladora para defendê-lo. Eis a grande dificuldade hoje com as Doutrinas da Graça, pois ela não poupa o ídolo justiça-própria, então, se torna uma pedra de tropeço. A justiça toda suficiente de Cristo não deixa espaço para a auto-justiça. O ego se levanta então furioso. Esse não é um erro periférico, é um erro fatal!
 Auto-justiça nasceu com o pecado e ela cresce com o crescimento do pecado. De maneira perversa, quanto mais o pecado cresce em uma sociedade, cultura e no coração humano, mas a auto-justiça floresce, mas o ídolo justiça-própria é entronizado. A disposição para negar o seu crime é universal entre os homens. Nada, senão a Graça Soberana, pode efetivamente erradicar o hábito da auto-justificação. O homem tem uma grande estima por si mesmo, por sua bondade... e não o oposto como é pregado hoje.
 Nada na natureza humana parece mais obstinado, ou mais difícil de erradicar do que o espírito meritório. Deixado entregue ao seu próprio coração, o homem vive em pecado, morre em pecado, e deita-se para sempre na tristeza eterna; mas não renuncia sua própria bondade e abandona suas esperanças hipócritas de que pode merecer algo de um Deus totalmente santo.
 Se não podemos falar como Jeremias: “O Senhor é a Nossa Justiça” – Tudo que dissermos estará a serviço do engano:  “Naqueles dias Judá será salvo e Jerusalém habitará seguramente; e este é o nome com o qual Deus a chamará: O SENHOR é a nossa justiça.” - Jeremias 33:16