terça-feira, 21 de maio de 2013

O que fazer quando sou perseguido pela fé em Jesus?

 
Por Maurício Zágari

Muitos irmãos sofrem perseguição por sua fé em Cristo - possivelmente você já sofreu. Ela pode se manifestar de maneiras variadas, da zombaria e segregação à agressão física e morte. Como devemos lidar com isso? Como reagir quando alguém pega no nosso pé ou nos destrata pela nossa crença em Jesus? Revidamos? Abaixamos a cabeça? Há uma forma bíblica de proceder quando isso ocorre? Sim, há. E para termos convicção sobre ela e estarmos preparados para reagir biblicamente à perseguição teremos de percorrer algumas passagens das Escrituras, introjetá-las fundo em nossa alma e viver da difícil maneira a que elas nos ensinam.

Ao longo dos 2.000 anos de História do Cristianismo sempre houve perseguição, em escalas variadas. O martírio sempre foi uma constante. Nos três primeiros séculos, confessar Jesus era passaporte para ser estraçalhado por leões, incinerado na fogueira e torturado de formas inimagináveis. Os séculos se passaram e os cristãos continuaram a sofrer nas mãos dos mais variados tipos de gente, de islâmicos e cristãos de outras tradições (católicos nas mãos de protestantes e protestantes nas mãos de católicos, dependendo da época e do local) a ateus e comunistas. Ainda em nossos dias, ministérios como a Missão Portas Abertas se dedicam a denunciar a perseguição a cristãos por todo o mundo e, por meio de trabalhos como o realizado por eles, sabemos que em cerca de 90 países do mundo existe atualmente perseguição religiosa ativa (saiba mais AQUI).

No Brasil somos abençoados. Não existe, por definição, perseguição religiosa, uma vez que, segundo a Missão Portas Abertas, "o individuo é perseguido se for privado de qualquer dos elementos fundamentais da liberdade religiosa". E mais: “Perseguição não se refere a casos individuais, mas sim, quando um sistema, político ou religioso, tira a liberdade de um cristão ou o acesso à Bíblia, restringe ou proíbe o evangelismo de jovens e crianças, atividades da igreja e de missões". Assim, em nosso país não chegamos a esse ponto. Há uma grande intolerância, mas não "perseguição".
 
Só que, se nos permitirmos fugir dessa definição e nos ativermos ao senso comum, podemos entender como perseguição até mesmo todo tipo de bullying que ocorre em muitos lugares. Ser evangélico hoje gera chacota para muitos. Rejeição da família por outros (conheci uma jovem cujos pais católicos não permitiam que ela frequentasse uma igreja evangélica). Piadas estereotipadas em programas de televisão. Proprietários que se recusam a alugar imóveis para igrejas. Eu mesmo, em certa empresa em que trabalhei, tive de ouvir que eu "não era criativo devido à minha religião", simplesmente porque me recusei a editar uma revista corporativa de uma grande companhia fabricante de cigarros.

Verdade seja dita: por razões históricas, espirituais ou mesmo por culpa de certos setores da igreja evangélica e suas práticas questionáveis, hoje em dia dizer-se evangélico é, para enorme parcela de nossa sociedade, sinônimo de ser bitolado, massa de manobra, ignorante, ingênuo, homofóbico, medieval, supersticioso e coisas dessa linha. Eu já tive de enfrentar muitos desses adjetivos e muitas situações desagradáveis. Você já?

Feita essa constatação, voltamos à pergunta: quando nos deparamos com situações em que nos sentimos discriminados ou mesmo perseguidos devido à nossa crença em Jesus, como eu e você devemos reagir? Mais ainda: como devemos nos sentir?
 
Em primeiro lugar, temos de saber que é previsível que seremos perseguidos: "De fato, todos os que desejam viver piedosamente  em Cristo Jesus serão perseguidos" (2 Tm 3.12). Paulo já sabia disso 2.000 anos atrás. E as profecias dizem que nos últimos dias a perseguição só tende a piorar. Mas isso não deve ser motivo de temor, se considerarmos que importa mais viver a eternidade ao lado de Deus sofrendo nesta vida do que viver bem e ter morte espiritual. O próprio Jesus disse que seríamos "bem-aventurados", ou seja, "felizes", se fossemos perseguidos por amor a Ele: "Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos céus. Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa os insultarem, perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês. Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a recompensa de vocês nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês" (Mt 5.10-12).

Sei que você já leu essa passagem tantas vezes que, de repente, o sentido e a profundidade das palavras acabaram se perdendo. Então vamos prestar muita atenção aos detalhes. Repare o que Jesus está dizendo: ser perseguido por amor a Ele é razão de felicidade. Se você for perseguido por amor a Cristo - for insultado, ofendido e até mesmo se mentirem contra você - deve se alegrar. Mais do que isso, deve se regozijar, o que significa festejar ou ter prazer, contentamento, satisfação, júbilo. Naturalmente que sua natureza humana recusa-se a sentir isso na hora em que fazem troça de você, quando te acusam de forma estereotipada, quando sofre no emprego por ter colegas que pegam no seu pé devido a sua ética cristã, quando sua  família se levanta contra você por se declarar um servo de Jesus.
 
Só que... quem disse que ser cristão é agir como nossa natureza humana dita? Ser cristão é agir como a natureza de Cristo dita. E, se assim o fizermos, "grande é a recompensa" que nos espera nos céus. E o parâmetro que Jesus estabelece como exemplo são os profetas perseguidos do passado. A esse respeito, Hebreus 11 é riquíssimo. Veja, por exemplo,  o que se diz acerca do príncipe do Egito que virou pastor em Midiã: "Pela fé Moisés, já adulto, recusou ser chamado filho da filha do faraó, preferindo ser maltratado com o povo de Deus a desfrutar os prazeres do pecado durante algum tempo. Por amor de Cristo, considerou a desonra riqueza maior do que os tesouros do Egito, porque contemplava a sua recompensa" (Hb 11.24-26)

E não para por aí. O autor aos hebreus fala das situações horripilantes que muitos tiveram de enfrentar por fidelidade a Deus e fé nele. Transcrevo aqui esse trecho, em forma de tópicos, de forma a pontuar melhor o que ele diz:

"Alguns foram
1. torturados e
2. recusaram ser libertados, para poderem alcançar uma ressurreição superior. Outros
3. enfrentaram zombaria e açoites, outros ainda foram
4. acorrentados e colocados na prisão,
5. apedrejados,
6. serrados ao meio,
7. postos à prova,
8. mortos ao fio da espada.
9. Andaram errantes,
10. vestidos de pele de ovelhas e de cabras,
11. necessitados,
12. afligidos e
13. maltratados.
O mundo não era digno deles.
14. Vagaram pelos desertos e montes, pelas cavernas e grutas.
Todos estes receberam bom testemunho por meio da fé; no entanto, nenhum deles recebeu o que havia sido prometido. Deus havia planejado algo melhor para nós, para que conosco fossem eles aperfeiçoados"
(Hb 11.32-40). Aos olhos do mundo, derrotados. Aos olhos de Deus, o mundo não era digno deles.
E de modo muito prático? Você que sofre no trabalho por bullying de colegas, na escola, na universidade, na vizinhança ou em qualquer outra instância por sua fé em Jesus, como deve reagir? Mandar todo mundo pro inferno? Orar pedindo que a mão de Deus pese sobre quem te faz mal? Entrar em bate-bocas, acusações, troca de farpas, vendetas e outras formas de beligerância? Não. Nada disso. Pois isso, meu irmão, minha irmã, biblicamente é uma reação carnal e diabólica. O que Jesus nos ensina mais uma vez é contrário à natureza humana. Pois o homem natural reage com violência e ira. O homem espiritual segue o que Jesus de Nazaré ensinou: põe o outro acima de si, aceita as bofetadas e os açoites (físicos ou morais), suporta a provação e as perdas mas se recusa a agir com vingança, a se defender ou a devolver na mesma moeda. Segue em silêncio o caminho do seu calvário pessoal. E não sou eu quem diz, é ensinamento do próprio Salvador do mundo, do manso Cordeiro (novamente em tópicos, para captar mais a sua atenção):

"Vocês ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente’.  Mas eu lhes digo:
1. Não resistam ao perverso.
2. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra.
3. E se alguém quiser processá-lo e tirar-lhe a túnica, deixe que leve também a capa.
4. Se alguém o forçar a caminhar com ele uma milha, vá com ele duas.
5. Dê a quem lhe pede, e não volte as costas àquele que deseja pedir-lhe algo emprestado".
Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo’. Mas eu lhes digo:
6. Amem os seus inimigos e
7. orem por aqueles que os perseguem,
para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos. Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa receberão? Até os publicanos fazem isso!"
(Mt 5.38-47).

Mas, Zágari, não posso revidar quem me persegue nem um pouquinho? Minha vontade é de acabar com a raça daquele incircunciso! Bem... responda você mesmo: "Abençoem aqueles que os perseguem; abençoem, e não os amaldiçoem" (Rm 12.14). E mais: "Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: 'Minha é a vingança; eu retribuirei', diz o Senhor.  Pelo contrário: 'Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber. Fazendo isso, você amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele'.  Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem" (Rm 12.19-21).
 
Seremos perseguidos, isso é um fato bíblico inescapável. O mandamento cristão é não revidar. Nada de lançar aviões contra os edifícios de quem nos persegue. Nada de invadir países para matar os inimigos. Nada de proferir nem sequer uma palavra de maldição contra nossos perseguidores. Jesus nos ensina a abençoá-los, a amá-los, a orar por eles, a alimentá-los, a saciá-los, a fazer-lhes o bem, a adotar uma postura pacificadora, a aguentar os murros na outra face. Quem de nós faz isso? Pouquíssimos, sejamos francos. A notícia é que esses pouquissimos são os que estão agindo como Deus deseja. A boa notícia para esses é que haverá recompensa na eternidade para os que engolirem sua humanidade, sofrerem perdas e danos por amor a Cristo e tiverem a nobreza de superar a vontade humana de dar o troco ou agir com violência verbal ou física. Não é preciso ter nascido de novo para pagar a perseguição na mesma moeda. Mas só quem nasceu de novo pode, pelo poder do Espírito, suportar tudo calado, negar-se a si mesmo e carregar a cruz até o dia de sua morte.

E esses, Jesus diz, são os bem-aventurados. Os felizes. Você está sofrendo qualquer tipo de perseguição pela sua fé, meu irmão, minha irmã? Sorria em silêncio. Você é feliz aos olhos de Deus. E grande será sua recompensa na eternidade.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

O que fazer quando não sei o que fazer?

Engrenagem1
Por Maurício Zágari
Coleciono antiguidades. Algo que me fascina, em especial, são as engrenagens de relógios antigos. É incrível a perfeição com que aquilo funciona. Uma pecinha tem o número certo de dentes, que ao rodar faz girar outra pecinha, que por sua vez movimenta uma roldana, que puxa um parafuso, que desloca um pêndulo, que roda uma outra pecinha e, por fim, o ponteiro se move. Perfeito. Uma mecânica onde tudo se encaixa, tudo funciona direitinho, sem um milímetro de erro. Agora, experimente remover somente um pequenino parafuso dessa complexa engrenagem. O resultado é que todo o relógio, aquela enorme maquinária formada por pequeninas peças que se encaixam e trabalham com perfeição… para de funcionar. A ordem que Deus estabeleceu para as coisas também é assim.

Creio que em absolutamente todas as determinações bíblicas a 
Engrenagem2engrenagem funciona maravilhosamente bem. Um exemplo: a família. A Bíblia é extremamente clara quanto ao funcionamento dessa magnífica máquina. Cada peça tem seu papel e sua posição e todas são essenciais para o funcionamento do todo. Mas, para que o tic-tac flua sem nenhum problema, cada um tem de fazer a sua parte. Não adianta a roda dentada querer balançar ou o pêndulo desejar rodar: se isso acontecer, os ponteiros param e a máquina pifa. Então, nesse grande relógio chamado família, a esposa tem, por exemplo, de ser submissa ao marido (Gn 3.16b; Ef 5.22-24; Cl 3.18; Tt 2.3-5; 1Pe 3.1). O marido, por sua vez, tem o papel de amar a esposa com dignidade e como Cristo amou a Igreja – ou seja, priorizá-la antes de si mesmo (Ef 5.25-30; Cl 3.19; 1Pe 3.7). Os pais precisam criar os filhos na disciplina do Senhor e educá-los na fé cristã, de modo sábio, evitando que se irem ou se irritem (Ef 6.4; Cl 3.21; Pv 19.18; Pv 29.17; Pv 3.12; Pv 22.6; Dt 8.5; Hb 12.7; Pv 13.24). Os filhos devem obedecer e honrar os pais em tudo, atentando para sua instrução com sabedoria (Rm 1.30; 2Tm 3.2; Cl 3.20; Êx 20.12; Ef 6.1-3; Pv 5.7; Pv 2.1; Pv 4.10; Pv 1.8; Pv 19.27; Pv 10.1; Pv 6.20; Pv 13.1; Pv 15.20; Pv 19.26; Pv 28.7; Pv 19.13; Pv 13.24; Pv 17.21). Assim como um relógio, se todas as pecinhas fizerem o que a Bíblia lhes ordena, ou seja, cumprirem esses seus papéis, a vida em família será sempre abençoada. Pois a engrenagem estará funcionando exatamente como determina o manual do relojoeiro. Se, porém, apenas uma das peças agir de modo diferente daquele que Deus estipulou, toda a máquina apresentará problemas: vai adiantar, atrasar, parar de funcionar ou simplesmente explodir.

Nas questões de atritos pessoais a coisa é igual. Deus criou um padrão que devemos seguir quando, por exemplo, alguém nos faz mal. Só que, sejamos francos e realistas, quase nenhum cristão age diante de agressões ou ataques conforme a Bíblia estipula. Nessas horas temos duas opções: fazer o que achamos que tem de ser feito ou seguir ao pé da letra o que o manual do construtor dessa grande engrenagem chamada sociedade determina.

Engrenagem3Assim, se lhe fizeram mal, eis como o manual diz que você deve agir: “Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta” (Mt 5.23-24). Mais ainda: “não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas” (Mt 5.39-41); ou, para ir além: “Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12.20-21). Portanto, não espere que, devolvendo mal com mal, retribuindo ofensa com ofensa ou agressão com agressão, vai obter o favor de Deus. O mecanismo foi feito para funcionar quando damos a outra face, abençoamos quem nos faz mal ou amamos os inimigos em ações práticas. Se agirmos conforme nossos instintos ou segundo os critérios da nossa sociedade – que não leva desaforo para casa – o que vai rodar é o relógio do mundo e não o de Deus.

Escolhi como exemplos os papéis na família e a forma como reagimos diante de uma agressão ou ofensa por serem áreas, em especial, em que os cristãos enfrentam muita dificuldade de se comportar segundo o padrão do evangelho. Só que não tem jeito, Deus estabeleceu um mecanismo de funcionamento perfeito para cada área. Se seguirmos ao pé da letra o que estipula o manual do construtor da vida, podemos descansar em Sua soberania, na certeza de que as coisas fluirão. Mas se dermos o nosso jeito, agirmos conforme nossa vontade e deixarmos nossos impulsos e desejos substituírem a boa, perfeita e agradável vontade de Deus, além de nos tornarmos idólatras vamos fazer a máquina bater pino.

Engrenagem4Ser uma peça em uma engrenagem perfeita não é fácil. Exige obediência a uma rotina de funcionamento. Exige trabalho em conjunto com outras peças extremamente diferentes de nós. Exige atrito diário com as outras partes da engrenagem. Exige reciclagens constantes, com restauração de pequenos defeitos que nos impedem de funcionar como manda o manual. Exige a consciência de que, se quebrarmos e perdermos a funcionalidade, teremos de ser removidos para não prejudicar o todo. Exige saber que não servimos para nada longe das outras peças. Exige a certeza de que o construtor conhece cada peça individualmente, criou cada uma em detalhes e só ele entende plenamente o funcionamento da máquina. Exige a compreensão de que, se não seguirmos o manual, vamos fazer não só com que nossas ações não sirvam para o objetivo para o qual fomos criados, mas isso afetará todas as outras peças e prejudicará o funcionamento da engrenagem como um todo.

Engrenagem5Muitas vezes nós não sabemos o que fazer em determinada situação de nossa vida. Nos vemos encurralados, sem noção de para que lado virar, como agir, que passo dar. Nessas horas, é importante lembrar que Deus sabe o que faz. E a Bíblia sempre nos diz o que fazer, por mais que suas determinações nos pareçam estranhas ou contrariem nossos desejos e vontades. Não é para praticar sexo antes do casamento? Deus sabe o que faz. Não é para namorar em jugo desigual? Deus sabe o que faz. Não é para sonegar imposto? Deus sabe o que faz. Não é para se divorciar porque “acabou o amor”? Deus sabe o que faz. Não é para reter o dízimo? Deus sabe o que faz. Não é para abandonar a comunhão dos irmãos depois de ter sido magoado por eles? Deus sabe o que faz. É para perdoar quem te traiu, enganou, abusou sexualmente, roubou, agrediu, mentiu, irritou, fraudou, prejudicou, caluniou, expôs seus segredos, humilhou, defraudou, decepcionou? Deus sabe o que faz.

Você é um peça fundamental numa grande engrenagem. Aprenda como ela funciona e aja – em tudo e nos mínimos detalhes – de acordo com o manual. Não tem como dar errado, acredite. Pois Deus sabe o que faz.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

O que fazer quando não sei o que fazer?

Engrenagem1
Por Maurício Zágari
Coleciono antiguidades. Algo que me fascina, em especial, são as engrenagens de relógios antigos. É incrível a perfeição com que aquilo funciona. Uma pecinha tem o número certo de dentes, que ao rodar faz girar outra pecinha, que por sua vez movimenta uma roldana, que puxa um parafuso, que desloca um pêndulo, que roda uma outra pecinha e, por fim, o ponteiro se move. Perfeito. Uma mecânica onde tudo se encaixa, tudo funciona direitinho, sem um milímetro de erro. Agora, experimente remover somente um pequenino parafuso dessa complexa engrenagem. O resultado é que todo o relógio, aquela enorme maquinária formada por pequeninas peças que se encaixam e trabalham com perfeição… para de funcionar. A ordem que Deus estabeleceu para as coisas também é assim.

Creio que em absolutamente todas as determinações bíblicas a 
Engrenagem2engrenagem funciona maravilhosamente bem. Um exemplo: a família. A Bíblia é extremamente clara quanto ao funcionamento dessa magnífica máquina. Cada peça tem seu papel e sua posição e todas são essenciais para o funcionamento do todo. Mas, para que o tic-tac flua sem nenhum problema, cada um tem de fazer a sua parte. Não adianta a roda dentada querer balançar ou o pêndulo desejar rodar: se isso acontecer, os ponteiros param e a máquina pifa. Então, nesse grande relógio chamado família, a esposa tem, por exemplo, de ser submissa ao marido (Gn 3.16b; Ef 5.22-24; Cl 3.18; Tt 2.3-5; 1Pe 3.1). O marido, por sua vez, tem o papel de amar a esposa com dignidade e como Cristo amou a Igreja – ou seja, priorizá-la antes de si mesmo (Ef 5.25-30; Cl 3.19; 1Pe 3.7). Os pais precisam criar os filhos na disciplina do Senhor e educá-los na fé cristã, de modo sábio, evitando que se irem ou se irritem (Ef 6.4; Cl 3.21; Pv 19.18; Pv 29.17; Pv 3.12; Pv 22.6; Dt 8.5; Hb 12.7; Pv 13.24). Os filhos devem obedecer e honrar os pais em tudo, atentando para sua instrução com sabedoria (Rm 1.30; 2Tm 3.2; Cl 3.20; Êx 20.12; Ef 6.1-3; Pv 5.7; Pv 2.1; Pv 4.10; Pv 1.8; Pv 19.27; Pv 10.1; Pv 6.20; Pv 13.1; Pv 15.20; Pv 19.26; Pv 28.7; Pv 19.13; Pv 13.24; Pv 17.21). Assim como um relógio, se todas as pecinhas fizerem o que a Bíblia lhes ordena, ou seja, cumprirem esses seus papéis, a vida em família será sempre abençoada. Pois a engrenagem estará funcionando exatamente como determina o manual do relojoeiro. Se, porém, apenas uma das peças agir de modo diferente daquele que Deus estipulou, toda a máquina apresentará problemas: vai adiantar, atrasar, parar de funcionar ou simplesmente explodir.

Nas questões de atritos pessoais a coisa é igual. Deus criou um padrão que devemos seguir quando, por exemplo, alguém nos faz mal. Só que, sejamos francos e realistas, quase nenhum cristão age diante de agressões ou ataques conforme a Bíblia estipula. Nessas horas temos duas opções: fazer o que achamos que tem de ser feito ou seguir ao pé da letra o que o manual do construtor dessa grande engrenagem chamada sociedade determina.

Engrenagem3Assim, se lhe fizeram mal, eis como o manual diz que você deve agir: “Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta” (Mt 5.23-24). Mais ainda: “não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas” (Mt 5.39-41); ou, para ir além: “Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12.20-21). Portanto, não espere que, devolvendo mal com mal, retribuindo ofensa com ofensa ou agressão com agressão, vai obter o favor de Deus. O mecanismo foi feito para funcionar quando damos a outra face, abençoamos quem nos faz mal ou amamos os inimigos em ações práticas. Se agirmos conforme nossos instintos ou segundo os critérios da nossa sociedade – que não leva desaforo para casa – o que vai rodar é o relógio do mundo e não o de Deus.

Escolhi como exemplos os papéis na família e a forma como reagimos diante de uma agressão ou ofensa por serem áreas, em especial, em que os cristãos enfrentam muita dificuldade de se comportar segundo o padrão do evangelho. Só que não tem jeito, Deus estabeleceu um mecanismo de funcionamento perfeito para cada área. Se seguirmos ao pé da letra o que estipula o manual do construtor da vida, podemos descansar em Sua soberania, na certeza de que as coisas fluirão. Mas se dermos o nosso jeito, agirmos conforme nossa vontade e deixarmos nossos impulsos e desejos substituírem a boa, perfeita e agradável vontade de Deus, além de nos tornarmos idólatras vamos fazer a máquina bater pino.

Engrenagem4Ser uma peça em uma engrenagem perfeita não é fácil. Exige obediência a uma rotina de funcionamento. Exige trabalho em conjunto com outras peças extremamente diferentes de nós. Exige atrito diário com as outras partes da engrenagem. Exige reciclagens constantes, com restauração de pequenos defeitos que nos impedem de funcionar como manda o manual. Exige a consciência de que, se quebrarmos e perdermos a funcionalidade, teremos de ser removidos para não prejudicar o todo. Exige saber que não servimos para nada longe das outras peças. Exige a certeza de que o construtor conhece cada peça individualmente, criou cada uma em detalhes e só ele entende plenamente o funcionamento da máquina. Exige a compreensão de que, se não seguirmos o manual, vamos fazer não só com que nossas ações não sirvam para o objetivo para o qual fomos criados, mas isso afetará todas as outras peças e prejudicará o funcionamento da engrenagem como um todo.

Engrenagem5Muitas vezes nós não sabemos o que fazer em determinada situação de nossa vida. Nos vemos encurralados, sem noção de para que lado virar, como agir, que passo dar. Nessas horas, é importante lembrar que Deus sabe o que faz. E a Bíblia sempre nos diz o que fazer, por mais que suas determinações nos pareçam estranhas ou contrariem nossos desejos e vontades. Não é para praticar sexo antes do casamento? Deus sabe o que faz. Não é para namorar em jugo desigual? Deus sabe o que faz. Não é para sonegar imposto? Deus sabe o que faz. Não é para se divorciar porque “acabou o amor”? Deus sabe o que faz. Não é para reter o dízimo? Deus sabe o que faz. Não é para abandonar a comunhão dos irmãos depois de ter sido magoado por eles? Deus sabe o que faz. É para perdoar quem te traiu, enganou, abusou sexualmente, roubou, agrediu, mentiu, irritou, fraudou, prejudicou, caluniou, expôs seus segredos, humilhou, defraudou, decepcionou? Deus sabe o que faz.

Você é um peça fundamental numa grande engrenagem. Aprenda como ela funciona e aja – em tudo e nos mínimos detalhes – de acordo com o manual. Não tem como dar errado, acredite. Pois Deus sabe o que faz.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

O que fazer quando tudo vai mal?

Sad1 Por Mauricio Zágari
Quando alguém se casa, é comum que diga que seus votos valem "...na alegria e na tristeza, na saúde e na pobreza...".  Em outras palavras, os votos devem valer nas horas boas, alegres, quando tudo vai bem; ou na barra pesada, na tristeza, no desemprego, na doença, quando está tudo ruim. Interessante é que em nossa aliança com Deus isso parece que não vale. Para muitos de nós, quando tudo vai bem é festa na igreja, louvores de mãos erguidas, glória e aleluia. Mas quando as circunstâncias da vida desandam, passamos a culpar Deus e nos afastamos dele. Ou murmuramos. Ou agimos como quem não tem fé no Senhor. Qual é, afinal, a postura que o cristão deve ter quando tudo vai mal?

A resposta é: fazer tudo ao contrário do que dá vontade.

Como assim? A proposta do Evangelho é contracultural. É nadar contra a correnteza. É seguir na contramão. Portanto, quando dá vontade de reclamar, a proposta da Cruz é "em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco" (1 Ts 5.18). Devemos sempre ler a Bíblia com um olho no microscópio, ou seja, atentando para os menores detalhes. No caso, importa reparar na palavra "tudo". Se é para em "tudo" darmos graças, ou seja, em "tudo" agradecermos, o que Paulo nos ensina é que devemos ser gratos a Deus também quando tudo vai mal.

Sad2Estranho, não é? Mas... se pararmos para pensar, o Evangelho é estranho. Deus se fazendo homem? Deus querendo sofrer por quem não merece? Deus perdoando a escória da humanidade? Quem entende? Só que, quando compreendemos que "todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" (Rm 8.28), entendemos que, mesmo quando tudo vai mal, esse mesmo tudo está cooperando para o nosso bem. E isso nos desperta gratidão a Deus.

As tribulações também proporcionam benefícios. "Também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança" (Rm 5.3,4). Isto é, quando tudo vai mal Deus está fazendo crescer em nós perseverança (fundamental para "perseverar até o fim e ser salvo" - Mt 24.13), experiência (úteis em muitas circunstâncias e para podermos ajudar o próximo) e esperança (essencial para nos manter de pé nas piores horas).

Mas quando tudo vai mal o que é preciso fazer? O segredo Paulo nos diz em sua epístola aos Romanos: "Regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, na oração, perseverantes" (Rm 12.12). Ter paciência. E "paciência" é a "capacidade de tolerar contrariedades, dissabores, infelicidades; é o sossego com que se espera uma coisa desejada". Tolerância. Sossego. Persistência. Paz. Assim, o cristão que tem fé demonstra tolerância com os problemas, permanece sossegado na adversidade, espera com paciência Deus decretar o fim do período de duras provas, sabendo que depois tudo irá bem.

Sad3Fazer tudo ao contrário do que dá vontade. Logo, na pobreza devemos doar. Na tristeza, glorificar. No choro, agradecer. No sofrimento, esperar. Na decepção com o próximo, amar. E, em tudo isso, ter uma certeza: "Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas" (2 Co 4.15-18).

Se Deus permite que tudo vá mal hoje é para que tudo vá bem na eternidade. Por quê? Não faço ideia. O que meu desemprego e as dificuldades financeiras vão gerar de benefícios? Não sei. O que as dores que inundam meu corpo farão de bem por mim? Ignoro. O que ser vilipendiado por quem me chamava de "amigo" traz de vantagens? Só o Senhor sabe. O que amargar desamor de quem você menos esperava somará na sua vida? Difícil entender.

Sad4Fazemos festas surpresas para quem amamos, damos presentes fora de uma data especial para entes queridos, deixamos inesperados recados em batom no espelho do banheiro para nossos cônjuges. Eles não sabem que serão surpreendidos. Mas nós sabemos. Deus também gosta de nos fazer surpresas. E elas virão na eternidade. Hoje, tudo vai mal. Na vida eterna, a surpresa nos espera: "Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam" (1 Co 2.9).

Prepare-se para encarar momentos nada surpreendentes de angústia nesta vida. E prepare-se para ser surpreendido com maravilhas na eternidade.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

O Problema do Mal

Por Carlos Osvaldo Pinto
A existência do mal, em suas variadas formas, mas particularmente naquelas que são aparentemente injustificadas, levanta dificuldades lógicas e psicológicas quanto à existência e/ou ao caráter de Deus. Embora raramente isso seja levantado pelos que argumentam contra a existência de Deus por causa da presença do mal no universo, o problema não é uma questão de grau, mas de simples existência.

 “Mal” é um termo de difícil definição, em particular devido à natureza limitada de nosso conhecimento e à falta de um acordo quanto à perspectiva a partir da qual tentar uma definição.

Via de regra, mesmo teístas ardorosos acabam adotando uma definição antropocêntrica do mal, e isso lhes dificulta um tratamento exegético adequado da evidência bíblica.

Por outro lado, uma definição mais teocêntrica fecha a possibilidade de um diálogo significativo com os “ateólogos”.

Em geral, um evento é entendido como “mal” (ou, se quisermos adjetivar, “mau”) se:
  • Causar algum dano (de qualquer dimensão) ao bem estar físico e/ou emocional de uma criatura capaz de sensação;
  • Ocorrer algum tratamento desumano ou injusto de uma criatura capaz de sensação;
  • Causar perda de oportunidade ou desenvolvimento por causa de doença e/ou morte, particularmente “prematura”;
  • Impedir que um indivíduo leve uma vida significativa e/ou virtuosa;
  • Violar algum código moral ou roubar direitos essenciais a alguém;
  • Constituir a “privação” ou a deterioração de algum “bem”.

Taxonomia do Mal

Mal Moral. Esta categoria engloba males que resultam do mau uso da capacidade de escolha de algum agente moral. Inclui atos específicos de “maldade” (mentira, desonestidade, violência, destruição) em maior ou menor grau.

Mal Natural. Em contraste com o mal moral, o mal natural resulta da operação de processos naturais, nos quais nenhum agente moral pode ser responsabilizado pelo dano resultante. Exemplos clássicos são desastres naturais como furacões e tornados, terremotos e maremotos, deslizamentos de terra e enchentes, e também doenças devastadoras como a leucemia e o mal de Alzheimer.

Uma qualificação importante
Boa parte do que é considerado males naturais consiste, na verdade, de males morais precipitados por negligência, ganância ou pura e simples estupidez humana.
  • Câncer no pulmão pode ser causado por fumo inveterado.
  • Destruição em massa num terremoto pode ser causada pela ganância de empreendedores ou neligência de governantes (ou ambos).
  • Enchentes têm como causa frequente a irresponsabilidade de cidadãos e/ou  governantes.
Quando causados pelo exercício da vontade de agentes morais, tais males são melhor qualificados como morais, ou pelo menos híbridos, i.e., males naturais exacerbados por erros de natureza moral.

Uma maneira alternativa de dizer isso seria classifcar como  males naturais apenas aqueles cuja ocorrência não pode ser atribuída a agentes morais meramente humanos.

Uma categoria à parte é a do chamado mal hediondo, no qual agentes morais exacerbam a violência, a crueldade, a desumanidade em nome de preferências ou ojerizas pessoais.

Holocausto
  • Linchamentos tipo Ku-Klux-Klan (e garotões de Brasília)
  • Cárceres privados e incestos
  • É geralmente essa categoria de males que provoca o desafio dos ateólogos à existência de Deus.

Maneiras Excludentes de Lidar Com o Problema

Ilusionismo – Negar a realidade do mal

Monismos orientais e ocidentais advogam que há uma única realidade e que o mal é uma ilusão.
  • O hinduísmo tradicional diz que todo o mundo material é maya (ilusão).
  • Baruc Spinoza argumentou que nada pode ser taxado de mau pois faz parte da infinita bondade do quadro total.
  • Ciência Cristã afirma que “o mal . . . Não tem base real. É um erro do homem mortal.”
Respostas ao Ilusionismo
A impressão da existência do mal é uma persistência universal. Como explicar essa impressão?

Será que é prova de bom senso negar totalmente a percepção sensorial de todas as pessoas? Isso tornaria a própria percepção do panteísta altamente suspeita.

Se o mal é apenas ilusão, por que a dor que ele causa é real no nível mais íntimo do ser humano?

O Ateísmo – Afirmar a realidade do mal e negar a realidade de Deus

Um silogismo famoso (Epicuro, Hume, etc.)
  • Se Deus é Todo-Poderoso, Ele pode eliminar o mal.
  • Se Deus é Todo-Benevolente, Ele eliminará o mal.
  • Mas, o mal continua a existir.
  • Logo, Deus como entendido pelos teístas, não existe.
  • I.e., se existir, não será onipotente.
  • I.e., se existir, não será onibenevolente.
O Ateísmo – Negar a bondade de Deus ou negá-lO como a Realidade Última.

Um outro silogismo
  • Ou (1) nosso senso moral existe porque Deus quis assim ou (2) Deus quis assim porque o senso moral sempre existiu.
  • Se (1) é fato, Deus é arbitrário quanto ao que é certo, e não é essencialmente bom.
  • Se (2) é fato, Deus não é a Realidade Última, pois ao menos uma vez esteve sujeito a algum padrão externo.
  • Em qualquer um dos casos acima, ou em ambos, Deus não é o que os teístas reivindicam.
  • Logo, Deus como entendido pelos teístas, não existe.
O Ateísmo – Há outras abordagens usadas por ateólogos para propor a inexistência de Deus ou a improbabilidade de Sua existência.

Deus e o mal são logicamente incompatíveis.
Deus e o mal são praticamente incompatíveis.
Deus poderia ter criado um mundo sem a presença do mal.
  • Esta é a forma mais comum de crítica ao teísmo cristão em nossos dias.
  • Ela não precisa recorrer às pressuposições embutidas nos silogismos anteriores.
Respostas Cristãs ao Ateísmo

Jay Adams ilustra uma abordagem calcada na soberania de Deus, baseando-se em Rm 9.17 (no livro The Grand Demonstration: A Biblical Study of the So-Called Problem of Evil, 1991), e argumentando que o propósito do mal (e da misericórdia) é revelar a natureza de Deus.

Vários outros autores seguem em parte o argumento de Leibnitz (este é o melhor dos mundos possíveis), sugerindo que embora este não seja o melhor dos mundos, é o melhor (e necessário) caminho para o melhor dos mundos (onde sequer a possibilidade do mal venha a surgir eternamente).

Para que o mal inexistisse, Deus poderia
(a)    não ter criado mundo algum;
(b)   ter criado um mundo sem criaturas livres;
(c)    ter criado um mundo onde criaturas livres não pecassem;
(d)   ter criado um mundo onde criaturas livres pecassem.

A resposta teísta à alegação dos ateólogos que os cenários (a), (b) e (c) são melhores que o cenário (d) é que o cenário (d) é o caminho para que tais criaturas livres eventualmente fossem definitiva e eternamente livres da presença e da ameaça do pecado e do mal por uma redenção em que o próprio Deus experimentasse o maior dos males em favor de Suas criaturas.

Maneiras Abrangentes de Lidar Com o Problema

Aqui afirma-se a realidade de Deus e do Mal.
Dentre várias formas abrangentes, destacam-se:
O Dualismo
O Panenteísmo (ou teologia do processo)
O Finitismo em várias formas
  • Deus não é onipotente
  • Deus não é onisciente
  • Deus não era livre (ou soberano) para não criar
O Dualismo – O Bem e o Mal em eterna oposição
Primeiro argumento dualista
  • Bem e mal são antitéticos.
  • Nada pode originar o seu oposto.
  • Logo, Bem e Mal são eternos.
Resposta teísta
  • A segunda premissa só é verdade em termos essenciais, não em termos incidentais.
  • Além disso, a existência de opostos não garante a eternalidade de seus primeiros princípios.
Segundo argumento dualista
  • Deus é o criador de tudo que existe.
  • O mal é algo que existe.
  • Logo, Deus é o autor do mal.
Resposta teísta
  • A primeira premissa é verdade em termos essenciais, não em termos incidentais. Deus criou os elementos necessários à combustão, mas não os incêndios. Deus concedeu a liberdade, mas não é responsável pelo seu mau uso.
  • Além disso, o mal não é uma entidade criada independente, mas a deterioração ou privação de algum bem numa entidade no que tange à sua natureza. Isso não equivale a negar a realidade do mal, mas sua realidade independente.
O Panenteísmo – Deus é coextensivo com a Criação

No panenteísmo o mal é inerente à matéria, que é vista como eterna ou pré-existente
  • Deus não é o criador mas o modelador.
  • O mal é algo que existe continuamente e será derrotado incrementalmente pela ação conjunta de Deus e dos que O Seguem.
  • Deus quer, busca, tenciona, tenta e trabalha para eliminar o mal, mas ainda não tem poder agregado suficiente para fazê-lo.
Resposta teísta

O Neo-Teísmo – Há limitações autoimpostas por Deus ao criar seres moralmente livres.
  • O neo-teísmo alega interpretar as Escrituras mais corretamente ao reconhecer limitações em Deus.
  • Alega ainda atribuir uma atividade mais direta de Satanás nos chamados males naturais.
  • Alega que a liberdade humana seja absoluta (ou libertária) para que Deus seja isento do Mal.
  • Define mal (e bem) em termos essencialmente humanos (aquilo que nos causa medo, dor e tensão).
Respostas Teístas ao Neo-Teísmo
  • O neo-teísmo lê seletivamente e deixa de lado aspectos contextuais e literários que justificam supostas limitações divinas.
  • Concede a Satanás muito mais campo de ação do que as Escrituras sugerem, mesmo à luz de “ele foi homicida desde o princípio” (Jo 8.44).
  • Acaba por isentar Deus da responsabilidade pelo bem, já que a criatura é plenamente responsável e livre.
  • Desconsidera a glória de Deus como o propósito último e maior do universo (que inclui o desfrute de Deus pela criatura que a Ele responda em fé).

Algumas Sugestões

Precisamos abordar a questão do mal a partir de uma plataforma de fé, e não apenas de reação aos argumentos dos ateólogos. Mais precisa ser dito e escrito a partir das Escrituras.

Não basta apontar para os argumentos dos ateólogos como fruto apenas de uma reação emocional à existência do mal (embora esse fator me pareça preponderante).

Precisamos cuidar para não sermos insensíveis à dor genuína, enquanto tentamos não ser coniventes com a mera especulação diletante.

Precisamos lidar exegeticamente com as alegações do neo-teísmo e com a atitude laissez-faire que ele tende a produzir.

O seu deus é idiota?

IDIOTA 
Por João Pedro Cavani
Ai dos que escondem profundamente o seu propósito do SENHOR, e as suas próprias obras fazem às escuras, e dizem: Quem nos vê? Quem nos conhece?” (Isaías 29:15)

Um dia, eu estava passando pelo calçadão da minha cidade por volta das 6 horas da tarde. Estava voltando do escritório da igreja onde eu trabalho; tinha ido lá pegar uns livros meus que ia precisar. Foi quando vi uma das cenas que mais me revoltou até hoje: uma mulher, vestida de saia e cabelo até o joelho, portanto uma crente como manda o figurino, que estava fumando. Foi instantâneo: ao chegar em casa, escrevi no meu mural do Facebook a situação que eu acabei de contar, e coloquei depois a seguinte frase: “esse tipo de gente deve achar que Deus é idiota”. Algumas pessoas naturalmente comentaram sobre a hipocrisia visível dessa mulher, mas um dos comentários ali a defendeu, dizendo que nós teríamos que “amá-la como Jesus a amou”, e que ninguém tem o direito de julgar o coração de ninguém.

Essa história ilustra o tempo no qual nós estamos vivendo. Esse é um tempo extremamente complicado, pois ninguém tem direito à opinião. É até irônico dizer isso, principalmente porque hoje existe uma facilidade imensa em relação a difundir as ideias que a gente tem: basta que as publiquemos, por exemplo, na internet, como eu fiz, e de maneira extremamente rápida e dinâmica muita gente vai ver e passar adiante. Só que ninguém gosta de ser contrariado, ou que alguém defenda uma ideia contrária à sua. Dessa forma, hoje temos um conceito de “cada um na sua” mais evidente do que a tempos anteriores. Funciona assim: você pensa estar certo? Ótimo para você e para quem concorda com você. Só não venha querer impor o seu ponto de vista sobre mim!

Claro que esse conceito prejudica muito o trabalho dos filhos de Deus, que são luz do mundo. O Deus deles afirmou ser “o caminho, a verdade e a vida” (João 14:6), ou seja, ele é o parâmetro que define o que é certo e o que é errado. Se estiver de acordo com os princípios de Deus, está certo. Se não estiver, está errado. Acontece que, em algumas igrejas, esse conceito encontrou morada e as está tornando cheias, porém irrelevantes na sociedade na qual estão inseridas. Há uma mudança na mensagem da Bíblia, de forma a torná-la mais “aceitável”, e o que se pode perceber nos nossos dias é que o “Deus” dessas igrejas se tornou nada além de um idiota. Por quê? Porque ele ama, ou melhor, é obrigado a amar a todas as pessoas indistintamente, sem que esse amor cause nessas pessoas alguma mudança. Esse amor se tornou subjetivo, relativo, e meramente emocional. Esse amor nos faz chorar, mas nada acontece em termos práticos de forma a causar diferença na vida daqueles que Deus ama. Esse amor não é algo que nos constrange e nos incentiva a mudar, mas é algo que leva ao comodismo e a conformar-se em ser um mero pecador.

Gostaria de perguntar a você, então, se o seu Deus é um idiota, tal qual o “Deus” daquela mulher e o do de tantos outros por aí. Como o “Deus” no qual você crê te enxerga? Como o amor desse “Deus” age em você? Para isso, nada melhor do que investigar, na própria Palavra do único Deus verdadeiro, o que ele mesmo diz a respeito de situações assim. Proponho que nos baseemos em Isaías 29:9-16 para isso. Bora? =)

1.      Religião que embriaga (v. 9-12)

Você, provavelmente, já teve a experiência de cruzar o caminho de um bêbado. Você sabe que identificar uma pessoa bêbada é a coisa mais fácil do mundo, pois os sinais são claros: alguém que está bêbado fala de forma confusa, anda de forma cambaleante, quase caindo, e faz coisas esquisitas, as quais alguns (eu não!) acham até engraçadas. E aí é que está a coisa interessante nessa história: apesar dos sinais, o bêbado nunca admite que está bêbado, já reparou? E, em alguns casos, ele até tenta convencer as pessoas ao redor dele que não está bêbado. Isso sim que é engraçado! É extremamente óbvio constatar que uma pessoa está embriagada, porque os sinais são absurdamente claros. E, naturalmente, é inútil para o bêbado, por mais que se esforce, tentar negar o óbvio. E, de acordo com o texto de Isaías, era esse efeito que a religião que eles viviam na época estava provocando neles: a incapacidade de perceber o óbvio.

Deus, por intermédio de Isaías, disse ao povo: “bêbados estão, mas não de vinho; andam cambaleando, mas não de bebida forte” (v. 9). O que estava, então, embriagando o povo? Exatamente, a religião. Ela era nada além de algo que, em vez de alertar o povo da gravidade do seu estado, apenas o cegava e distorcia a sua visão. O Senhor derramou cegueira sobre o povo, fechando seus olhos e ouvidos, que eram os profetas (v. 10), de forma que eles não tinham a menor capacidade de entender a revelação do Senhor (v. 11), o que fazia a pecaminosidade do povo aumentar sem precedentes.

Vale lembrar que o livro de Isaías vem denunciar exatamente a questão do pecado do povo, e isso pode ser percebido desde o primeiro capítulo do livro. Nele, você verá que as palavras do livro são destinadas a Judá e Jerusalém (1:1), mas o Senhor se refere a eles como “Sodoma e Gomorra” (1:10), cidades destruídas no passado em razão da podridão moral que nelas havia. Pesado, hein?

Outro dado interessante: no Brasil, de acordo com o último censo do IBGE (2010), as religiões evangélicas foram as que mais cresceram, ao passo que o número de católicos diminuiu muito no país em relação aos últimos anos. Avivamento? Novos tempos? A grande pergunta é: esse crescimento produziu alguma alteração significativa na maneira de pensar do brasileiro? Eu não acho que isso tenha acontecido. Ao contrário, vemos muita heresia surgindo em todos os contextos, e temos muito mais notícias de “cristãos” dando vexame por aí do que realmente sendo sal e luz. Persegue-se bênçãos e mais bênçãos, mas não há preocupação com o que realmente importa: a luta contra o pecado. Expulsa-se capeta em tudo que é canto, mas a luta contra nós mesmos e nossas paixões foi abandonada.

Assim, esse crescimento todo vem de Deus? Claro que sim! Mas a pergunta é: com qual objetivo? Penso que nossa situação atual tem tudo a ver com o juízo que Deus executou no passado ao seu povo. Existem “profetas”, “apóstolos”, “pastores”, “missionários”, “irmãos”, e existem muitas “mensagens” e “profecias”. Contudo, elas provêm de pessoas que estão cegas, porque não são capazes de entender o que Deus quer falar. E o que ele quer falar?

2.      Juízo contra o cego (v. 13-16)

O que o Senhor faria em meio a uma situação dessas? Ele nos conta a partir de agora. Em primeiro lugar, ele constata os resultados de uma religião que embriaga: honras e glórias apenas com os lábios e não com o coração, e temor a Deus que consiste apenas em mandamentos de homens, aprendidos maquinalmente (v. 13). Com certeza, uma religião que cega o homem para a sua verdadeira essência só poderia gerar falsos adoradores. E é assim que o Senhor nos ensina a identificar uma religião falsa: ela ignora o que de fato o homem é, desvia o foco da nossa verdadeira necessidade, e produz gente cega. Mas, cegos em que sentido? Deus explica, dizendo que continuaria a fazer obra maravilhosa no meio daquele povo, a qual destruiria a sabedoria de seus sábios (v. 14). Essa sabedoria que seria destruída está denunciada nos versículos 15 e 16: aqueles que fazem tudo às escuras, escondidinhos, achando que ninguém está vendo, e depois querem negar o que fizeram. Diz o Senhor que essa atitude é tão absurda e impensável quanto um vaso de barro dizer a quem o fez algo como “não foi ele quem me fez! Eu apareci sozinho!”, e destina profundo juízo a quem assim pensa: “ai de você!” (v. 15).

É por isso que o cristianismo é único, e se diferencia de qualquer outro sistema de pensamento no mundo. Isso porque o cristianismo é o único sistema de pensamento que responsabiliza o autor do crime pelo próprio crime! Embora isso seja óbvio na teoria, na prática você vê que as coisas não são bem assim. Exemplificando: há quem diga que o ladrão é ladrão porque teve uma infância complicada e pobre, que o homossexual o é porque foi criado assim pelos pais, e que o usuário de drogas é um simples produto do meio em que ele vive. Sabe aquele adolescente em crise que vive dando trabalho aos pais? Coitado, a culpa não é dele, mas dos seus hormônios… sabe aquele jovem que cresceu nos caminhos do Senhor, mas que hoje vive longe deles? Então, é porque começou a andar com uma galera aí que fez a cabeça dele… coitado! A culpa não é dele! É exatamente contra essa ideologia que o Senhor se manifestou, e é exatamente assim que uma religião que ignora os princípios da sua Palavra também vai ensinar a pensar.

A Bíblia ensina que todos são pecadores porque nascem assim (Salmos 51:5), e, como vimos, nos mostra que é impossível separar a ação cometida de quem a cometeu. É por isso que todos nós somos culpados, e carecemos da glória de Deus (Romanos 3:23). Nossos pecados são produto das intenções do nosso coração e de nossos próprios desejos (Tiago 1:14), e não de uma fonte externa. Assim, pecamos porque queremos. Ninguém pode nos forçar a fazer algo se nós não queremos fazer. Pressão popular ou companhias não formam ninguém, e sim, mostram o que está habitando no nosso coração. Foi o próprio Jesus que disse: não é o que o homem põe na boca que o contamina, e sim o que já está lá, pois o que sai da boca do homem é reflexo do que está dentro dele (Marcos 7:20 – aliás, nesse mesmo capítulo, nos versículos 6 e 7, Jesus cita exatamente o texto que nós estudamos aqui).

Conclusão: quem é o idiota agora?

Até aqui, você aprendeu a perceber as coisas como Deus as percebe. Ele vê uma obra e já conclui que ela foi resultado de uma ação de alguém. Ela não existiria se alguém não a tivesse feito. Dessa forma, a religião que ele quer que nós assimilemos é aquela que não culpa a ninguém além de nós mesmos pelas nossas pisadas na bola.

Não seja mais um cego, que tenta colocar a culpa sempre em outras coisas. E não permita que a sua religião tire a culpa de cima de você. Somente através do reconhecimento de que nós mesmos somos os vilões, e não a sociedade, ou os políticos, ou qualquer outra pessoa, é que alguma coisa vai mudar. É isso que Deus quer que eu e você enxerguemos, pois só assim alguém pode experimentar profunda transformação o seu ser. Nada vai mudar enquanto a culpa que é nossa for atribuída a outra pessoa.

Deus não é idiota, pois ele sabe muito bem o que o homem é, e sabe que somente quando ele se convencer do que realmente é que as coisas vão mudar. Por isso, não o tenha como idiota, achando que você pode se livrar de uma culpa que é sua. E não se faça de idiota, fingindo que não é contigo.