quarta-feira, 29 de maio de 2013

Deus Faz Com Que As Pessoas Acreditem

A.W. Pink
"Do SENHOR vem a salvação."Jonas 2:9
Talvez esteja você maravilhado de que, se Deus é soberano, por que não salva todo mundo de seus pecados? Sabemos que Deus salva algumas pessoas, mas por que não salva também a outras? Não podemos dizer que algumas pessoas sejam demasiadamente más para que Deus não as salve, porque Paulo, o servo do Senhor, escreveu em 1 Timóteo 5:15 que ele foi o maior dos pecadores. Pelo que, se Deus pode salvar o primeiro dos pecadores, então ninguém é demasiadamente mau para não poder ser salvo. É então Deus incapaz de salvar alguns simplesmente porque eles não desejam serem salvos?
Antes de responder esta pergunta, pensemos acerca da experiência de pessoas que têm chegado a ser cristãs. Antes de chegar a serem crentes, elas não desejavam conhecer a Deus. Elas caminhavam pelos seus próprios caminhos e não pelos de Deus. Então, qual foi a mudança neles que as fez acreditar e se converter nas pessoas que são hoje? Um crente responderia nas palavras de 1 Coríntios 15:10: "pela graça de Deus sou o que sou". Contudo, todos os verdadeiros crentes dirão que, embora fossem responsáveis pelas suas próprias ações, pela Sua graça Deus foi capaz de controlar e dirigir as suas vontades. Isto significa que eles estiveram dispostos a receber a Cristo como Salvador, mas foi Deus quem primeiro lhes deu a disposição de crer. É só uma parte da verdade dizer que a gente não é convertida porque não quer acreditar. Não é toda a verdade. Por que então a gente não crê? A resposta é porque não têm fé. A fé é o dom de Deus, e Deus a concede às pessoas que Ele tem escolhido. Lemos em Atos 13:48 que todos aqueles que estavam ordenados para vida eterna acreditaram.
Assim sendo, a razão do por que Deus não salvou todo mundo é que Deus o Pai é soberano na salvação. Ele outorga o dom da fé salvadora só a quem Lhe apraz. Existem muitos textos na Bíblia que mostram que desde o Pai é soberano na salvação dos homens. Vamos a mencionar alguns exemplos.
Em primeiro lugar, em Romanos 9:21-23 nos diz que Deus é como um oleiro e nós, como o barro. As pessoas a quem Deus tem escolhido e as que não têm escolhido são inteiramente iguais em si mesmas. Se Deus não salvara aqueles que têm escolhido, então todo mundo se perderia; ou seja, todos iriam pro inferno. Mas Deus faz uma diferença entre as pessoas, assim como o oleiro faz da mesma massa diferentes classes de objetos, alguns para enfeitar e outros para usos ordinários.
Deus pode fazer o que quer com o que é dEle, ou seja, com a gente que Ele criou. O Juiz de toda a terra fará o que é justo. A Bíblia, como já temos visto em Atos 13:48, diz que todos os que foram escolhidos para a vida eterna acreditarão. Este versículo mostra claramente que o crer é o resultado da eleição de Deus. Também mostra que só certas pessoas têm sido escolhidas para a vida eterna, o qual significa que eles serão salvos de seus pecados. Este versículo ensina que todos aqueles que são escolhidos por Deus, sem lugar a dúvidas chegarão a acreditar no Senhor Jesus Cristo.
Em segundo lugar, Romanos 11:5 nos diz que existem pessoas no mundo que têm sido escolhidas pela graça de Deus. Também nos diz por que estas pessoas têm sido escolhidas para salvação. Não foram eleitas porque Deus visse de antemão que eram boas pessoas. Foram eleitas simplesmente pela bondade de Deus para com aqueles que não a merecem.
Em terceiro lugar, 1 Coríntios 1:26-29 nos diz que Deus não tem escolhido a muitos sábios, nem poderosos, nem muitos nobres para que acreditem nEle. Ao contrário, tem elegido a alguns dos mais vis e fracos para que sejam Seu povo. Isto nos mostra que é Deus definitivamente quem escolhe às pessoas para que sejam salvas, porque a eleição de gente débil e simples é prova de que a salvação não tem nada a ver com as qualidades das pessoas mesmas. A eleição é inteiramente pela bondade de Deus e não devido a nenhuma outra razão.
Em quarto lugar, em Efésios 1:3-5 lemos que Deus escolheu seu povo antes da fundação do mundo. Em amor os escolheu, para que viessem a serem santos e sem mácula, seus filhos e suas filhas. Isto mostra que o povo de Deus foi eleito antes da queda de Adão, e nos ensina também o motivo pelo que Deus os escolheu. Como o texto o indica, os indicou para serem adotados como filhos Seus, para louvor de Sua glória e de Sua graça (veja os versículos 5, 6 e 12). Também nos diz que foram escolhidos conforme o Seu propósito soberano e Seu beneplácito (veja os versículos 9-11).
Em quinto lugar, em 2 Tessalonicenses 2:13, o apóstolo Paulo agradece a Deus que tenha escolhido os Tessalonicenses para salvação, mediante a santificação pelo Espírito e a fé na verdade. Isto ensina que todo o povo de Deus é eleito para ser salvo e que é o Espírito Santo quem assegura que creiam a verdade.
Em sexto lugar, 2 Timóteo 1:9 declara que Deus chama e salva seu povo, não pelo que tenham feito, senão pela sua bondade e amor e Ele quis demonstrar aos Seus. Também ensina que isto foi determinado pelo conselho eterno da Trindade, antes que o mundo existisse.
Finalmente, a Bíblia nos diz claramente, em muitos outros textos, que Deus tem escolhido um povo para que seja salvo (veja os textos na nota no final deste capítulo). E já que foram eleitos por Deus, eles buscam a Deus. Assim sendo, não há necessidade de temer que Deus não tenha escolhido você; se você O está procurando sinceramente, com certeza é porque Deus escolheu você. Por natureza ninguém busca a salvação de Deus, porque todos estão espiritualmente mortos e separados de Deus. Então, se tu desejas a salvação que Deus dá, esse desejo é evidência de que Deus te ama e está operando em você. Esta é uma das verdades mais alentadoras que se encontram na Bíblia; não duvide, a fé é o dom de Deus. Assim que, se você acredita, Deus tem lhe dado essa fé, porque é o Seu desejo que você a tenha. Esta é uma verdade maravilhosa, não é?
TEXTOS BÍBLICOS:
Os seguintes textos afirmam que Deus tem escolhido um povo para salvação:
Efésios 1:4-5: "Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade".
Efésios 1:11: "Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade".
Atos 13:48: "E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se, e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna".
Marcos 13:20: "E, se o Senhor não abreviasse aqueles dias, nenhuma carne se salvaria; mas, por causa dos eleitos que escolheu, abreviou aqueles dias".
Romanos 9:11-26: "Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor. Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú. Que diremos, pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma. Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece. Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra. Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer. Dir-me-ás então: Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem tem resistido à sua vontade? Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios? Como também diz em Oséias: Chamarei meu povo ao que não era meu povo; E amada à que não era amada. E sucederá que no lugar em que lhes foi dito: Vós não sois meu povo; Aí serão chamados filhos do Deus vivo".
Romanos 11:5-7: "Assim, pois, também agora neste tempo ficou um remanescente, segundo a eleição da graça. Mas se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se, porém, é pelas obras, já não é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra. Pois quê? O que Israel buscava não o alcançou; mas os eleitos o alcançaram, e os outros foram endurecidos".
João 15:16: "Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda".
Mateus 20:16: "Assim os derradeiros serão primeiros, e os primeiros derradeiros; porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos".
Mateus 22:14: "Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos".
2 Timóteo 1:9: "Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos".
2 Timóteo 2:10: "Portanto, tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna".
1 Tessalonicenses 1:4-5: "Sabendo, amados irmãos, que a vossa eleição é de Deus; porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza, como bem sabeis quais fomos entre vós, por amor de vós".
1 Pedro 1:1-2: "Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia; eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas".
Romanos 8:28-30: "E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou".
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Por Quem Cristo Morreu?


A.W. Pink

"Conhecidas são a Deus, desde o princípio do mundo, todas as suas obras" Atos 15:18
No Capítulo 4 vimos que Deus o Pai é soberano na salvação. Ele concede o dom da fé para que as pessoas possam crer. Deus dá esta fé só àqueles que Ele tem escolhido e sem dúvidas tem o direito de atuar como e quando quer neste assunto.
Agora, neste capítulo mostraremos que Deus o Filho é também soberano na salvação. Há quem predicam que Cristo morreu para fazer que a salvação do pecado fora possível para todo mundo. Porém, isto não pode ser verdade porque Jesus mesmo disse que Ele daria vida eterna só àqueles que lhe foram "dados" pelo Pai. Atente para as palavras de Jesus em João 17:2: "Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste".
Muitas passagens na Bíblia ensinam que Cristo morreu somente por aqueles que Deus escolheu. Vejamos algumas destas passagens. Temos visto que antes da fundação do mundo Deus escolheu um povo para ser salvo. A Bíblia ensina que Cristo veio ao mundo para fazer a vontade do Pai. Em João 6:38 lemos as seguintes palavras de Jesus: "Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou". Também Jesus falou do povo que Deus lhe havia dado em João 17:6, dizendo: "Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mos deste...". Fica claro então que Deus tem escolhido certas pessoas para serem salvas, e que Jesus, realizando a vontade de Deus, morreu para executar a salvação deles.
Outro ponto que devemos considerar é o seguinte: quando Jesus morreu, ele tomou o lugar dos pecadores culpados e sofreu em lugar deles, a fim de que eles não tivessem que sofrer o castigo pelos seus pecados. Se Jesus tivesse sofrido e morrido em lugar de todos, então ninguém teria que sofrer pelos seus pecados. Ou seja, Deus, sendo justo, não poderia exigir dois pagamentos pelos mesmos pecados, vendo-Se obrigado a deixar livres a todos.
No entanto a Bíblia fala de pessoas que morrem em seus pecados e a eles Jesus diz: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno..." (Mateus 25:41). Resulta claro então que Jesus não morreu por todos, porque existem algumas pessoas que receberão a maldição de Deus e terão de sofrer pelos seus pecados.
(Nota: também devemos ter em conta o fato de que muitas pessoas já estavam no inferno antes que Cristo viesse e morresse. Resulta evidente que Cristo não fez nada para salvar àqueles que já estavam perdidos antes de sua vinda).
Vemos em Hebreus 9:24 que Cristo Jesus "entrou (...) no mesmo céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus". Também em Hebreus 7:25 diz: "Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles". Perceba que Jesus não está intercedendo a favor de todos (como também nos fala Romanos 8:34: "Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós."), que Cristo intercede só a favor dos eleitos. Cristo afirma isto mesmo quando diz em João 17:9: "Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus". No Antigo Testamento, o sumo sacerdote intercedia diante de Deus em favor deste mesmo povo. Numa forma semelhante, Cristo tem realizado o sacrifício de si mesmo pelos pecados de todos aqueles que o Pai tem escolhido, e agora, como sumo sacerdote, ele intercede por eles no céu. Assim sendo, já que cristão só intercede a favor do povo eleito de Deus, isto quer dizer que morreu só por eles.
Em João 6:44 Cristo diz: "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia". Também diz o mesmo em 6:65: "E dizia: Por isso eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lhe for concedido". Isto ensina que é o poder divino o que faz com que o pecador esteja disposto a acudir a Cristo e que, por natureza, todos estão indispostos para vir. Sabemos que algumas pessoas nunca virão a Jesus. Por que não vêm? Alguns respondem que Jesus nunca constrange ninguém para recebê-Lo como Salvador. Em certo sentido, isto é verdade, mas em outro sentido está completamente errado. Cristo tem o poder para fazer com que a gente venha a Ele, porque Ele é Deus mesmo, o Todo Poderoso. Uma razão pelas quais muitas pessoas não vêm a Jesus é porque Cristo não teve o propósito de salvá-las. Cristo teve a intenção de salvar só àqueles que Deus tinha elegido. Ele usa seu divino poder para fazer que estas pessoas em particular estejam dispostas a recebê-Lo como Senhor e Salvador.
Cristo afirmava este ensino em muitos textos. Por exemplo, ele diz em João 6:37: "Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora". Em João 10:26 diz: "Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito".
Em João 5:21 diz que "...assim como o Pai ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer". Em Mateus 11:27 Cristo diz que "...ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar".
Em Mateus 1:21 diz: "...e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados". Jesus mesmo disse em Mateus 20:28 que veio dar sua vida em resgate por "muitos". Perceba que não diz que veio dar sua vida em resgate por "todos". Mateus 26:28 declara: "...isto é o meu sangue; o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados".
Em João 10:11, Cristo afirma que dará sua vida "pelas ovelhas". Efésios 5:25 afirma que Cristo entregou-se a si mesmo pela "Sua Igreja". Hebreus 9:28 declara que "...Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os pecados de muitos...". Também vemos o mesmo no Antigo Testamento, na profecia de Isaias 53:12: "...ele levou sobre si o pecado de muitos...", e "pela transgressão do meu povo ele foi atingido" (versículo 8), e "...com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniqüidades deles levará sobre si" (versículo 11).
Finalmente, vamos prestar atenção em alguns textos da Bíblia que parecem ensinar que Jesus morreu por todos os homens sem exceção. Ao ler cuidadosamente estes textos perceberemos que realmente não ensinam tal coisa. Em 2 Coríntios 5:14 diz que Jesus morreu "por todos". No entanto, se lemos o versículo 15, podemos apreciar que "todos" referem-se a "todos os crentes".
Ao dizer "um morreu por todos" indica que Cristo morreu por todos os Seus. Em 1 Timóteo 2:6 diz que Cristo "se deu a si mesmo em preço de redenção por todos". mas a Bíblia usa esta palavra "todos" em várias maneiras: às vezes significa "alguns de cada classe", outras vezes a palavra "todos" pode significar "cada um de uma espécie em particular" ou "toda classe de pessoas".
Nesta passagem significa que Jesus morreu por toda classe de pessoas, ricos e pobres, poderosos e fracos. Já temos visto outras passagens que ensinam claramente que Cristo morreu por todos os eleitos de Deus. Outro versículo em Hebreus 2:9 nos diz que "pela graça de Deus, provasse a morte por todos". Mas em seguida declara que "todos" são somente os filhos de Deus. (O versículo 10 refere-se a muitos filhos, o versículo 11 os chama de "irmãos", o versículo 13 fala de "os filhos que Deus me deu", o versículo 16 os chama "a semente" de Abraão e o versículo 17 diz que Ele morreu "para expiar os pecados do povo").
Então, já vimos que a Bíblia mostra claramente que o Senhor Jesus morreu por aqueles que o Pai escolheu para salvação. Não há limite nem no valor nem no poder da salvação de Deus, porém em sua soberania Cristo tem assegurado que esta redenção seja aplicada somente ao povo que Deus escolheu. Portanto, posso fazer-lhe uma pergunta muito importante?
É você uma das pessoas eleitas por Deus? Você foi salvo por Jesus?

Lei e Graça: revelação divina


Por Jorge Fernandes Isah

Qual o objetivo da Lei? [1]Salvar? Condenar?

Há uma terrível confusão entre os cristãos. Muitos acham que a Lei teve, em algum momento da história, o caráter de salvar. Fica a pergunta: quem foi salvo? Houve um homem, apenas um, que fosse salvo por ela? Nenhum. Então, por que veio a Lei? “Foi ordenada por causa das transgressões”, disse Paulo [Gl 3.19], “porque onde não há lei também não há transgressão” [Rm 4.15]. Parece que é mais ou menos isso que não somente os ímpios querem, mas muitos cristãos também. Talvez numa forma inconsciente de antinomia; talvez por desejarem pecar livremente; talvez por descuido ou ignorância; talvez porque o laicismo grite mais alto do que a lei de Deus no coração. Ou seria, meramente, outra forma de soberba dos tempos modernos? Um intelectualismo estereotipado com o intuito de se apresentar como alguém civilizado, progressista e não-retrógrado? O certo é que a lei tem o caráter de revelar o pecado, mas não somente isso, de também puni-lo. Contudo, esse preâmbulo será alvo de outra postagem, o que me interessa agora é responder à pergunta: a Lei pode salvar? Ou Deus deu-lhe vida para que todos fossem julgados e condenados por ela?

Primeiro, como é de praxe, vamos às definições dos termos:
1) Lei – A palavra lei foi usada para traduzir o termo hebraico “tora”, que significa instrução ou doutrina, e a palavra grega “nomos”, que significa hábito estabelecido. Em ambos os casos indicam alguma regra ou regulamento imposto sobre o homem ou a natureza por um poder superior. Ao legislador reserva-se o direito de punir toda infração e desobediência.
2) Lei Natural – É a Lei de Deus gravada nos corações humanos “testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os” [Rm 2.15]; ao ponto em que até mesmo os gentios que não têm a lei, ao fazerem naturalmente as coisas que são da lei, para si mesmos são lei [v.14].
3) Lei Mosaica – Ela se divide em:
a) Lei Moral – resumida nos Dez Mandamentos, ou Dez Palavras, que regula a relação do homem com Deus e o próximo.
b) Lei Civil – são aplicações ou amplificações da Lei Moral a casos específicos, detalhando os Dez Mandamentos.
c) Lei Cerimonial – regulava os ritos relativos ao sacerdócio e aos sacrifícios, o ministério no santuário do Tabernáculo e depois no Templo.
A lei natural escrita nos corações do homem, quando da Criação, não foi suficiente para que ele não pecasse; de tal maneira que, pela corrupção do homem, foi necessário escrevê-la, literalmente, para lembrar-nos da obrigação que temos diante de Deus.
Analisemos o caso de Adão: Se não houvesse a lei, a ordem expressa de Deus para não pecar/desobedecer, comendo do fruto da árvore do bem e do mal, ele estaria tranquilamente até hoje no Éden, pois não precisaria da lei para se salvar, já que estava “salvo”. Porém, quando Deus lhe deu o mandamento, ele teve o nítido caráter de revelar o pecado “latente” em Adão; mostrando a sua imperfeição do ponto de vista não da Criação, como algo bom, mas em relação a Deus. Os privilégios dos quais desfrutava, a partir da lei e do pecado [que invariavelmente aconteceria e não havia como não acontecer], perderam-se, e o homem passou a viver como uma miserável criatura. Com ele, o qual era o cabeça da humanidade, toda a Criação caiu, não do seu caráter perfeito, mas da ordem natural, tornando-se em caos [Gn 3.16-19]. O natural se tornou antinatural, e foi preciso que o próprio Deus, na pessoa de Cristo, encarnasse e viesse ao mundo para restabelecer a ordem perdida, primeiro, nos eleitos e, quando da sua segunda vinda, em todo o Cosmos.
Pausa.
Apenas para evitar confusão, o meu entendimento é de que a ordem lógica das coisas não foi essa, mas antes se deu pelo amor de Deus para com os eleitos e, assim, veio a Criação, a Queda, a Redenção e a Santificação. Deus determinou todas as coisas por causa dos eleitos e, por eles, fez ver ao mundo o seu amor, graça, justiça e glória, ainda que o mundo não possa ver nem entender, mas os que foram chamados exclusivamente por ele a Cristo, o verão como é.
Voltando da pausa.
Portanto, qualquer um que disser que a lei poderia levar à salvação, em alguma hipótese, estará a cometer um grave erro. Ela vem para condenar, revelando o pecado e decretando a punição do infrator, e do ponto de vista pedagógico, levar os eleitos a Cristo, do qual somos completamente dependentes para sermos restaurados. Com isso não estou a dizer que voltaremos à condição de Adão, no Éden, antes da Queda; que para muitos era perfeita, mas perfeita em quê? Ou em relação a quê? Se na primeira oportunidade Adão não exitou em pecar?
Para a maioria dos cristãos, e mesmo a maioria calvinista, regindo-se pelo pensamento de Agostinho [2], o primeiro homem podia escolher entre pecar e não pecar. Contudo, fica a pergunta: diante da lei, o que se evidenciou na natureza de Adão e em nós? O pecado. Não a possibilidade de rejeitá-lo, nem de se manter puro, incontaminado, mas uma disposição natural para a depravação, para a rebeldia. É o que Paulo parece dizer: “Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus” [Rm 3.19]. Pensem comigo: se Adão não tivesse pecado, a lei o salvaria, mas o salvaria de quê? Qual justiça Adão buscaria na lei? Ela não lhe traria benefício algum, nenhum “extra” se a cumprisse, mas o de manter-se no estado em que se encontrava. “De toda a árvore do jardim comeras livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” [Gn 2.16-17]. A lei veio portanto para salvá-lo? Ou para condená-lo? Qual é o seu papel? Em que Adão foi favorecido? Em nada, porque a Queda era inevitável. A lei veio revelar que Adão [e nós, os quais pecamos juntamente com ele], não podia não pecar, mas certamente pecaria, como pecou. Porque Deus encerrou tudo debaixo do pecado; e guardou-nos debaixo da lei, desde Adão; e encerrou-nos para a fé que havia de se manifestar em Jesus Cristo, para que fôssemos justificados [Gl 3.21-24].
Assim, Cristo não veio restaurar a perfeição do homem, a qual não havia, mas fazer-lhe perfeito. Primeiro, por imputação, o seu sacrifício já nos fez e tornou-nos perfeitos nele; e segundo, de fato, quando na eternidade, ao contrário do Éden, será impossível ao homem pecar. Cristo veio restaurar a condição inicial do homem antes da lei, quando não havia a possibilidade de pecado, visto não haver o “aio” que estabeleceria e normatizaria uma conduta e prática pecaminosa. Antes da lei, era impossível para Adão pecar. Antes da lei, Adão não teria como cair. Sem a lei, Adão permaneceria em seu estado de pureza “irresponsável”. Sem a lei e seus preceitos, ele era “livre” e não poderia ser acusado de nenhuma transgressão, pois não havia o que transgredir. Mas quando Deus lhe deu uma ordem, e mostrou-lhe o castigo caso desobedecesse a ordem, Adão não pode resistir. Em sua natureza, o pecado ainda não se manifestara, mas estava pronto a se revelar, a se desenvolver, bastando para isso as condições necessárias, o momento propício para tornar público o que estava oculto. A lei, em sua condição explicitamente condenatória, trouxe o pecado à tona, e fez com que todos se tornassem injustificáveis em si mesmos; que a possibilidade de falar por meio das obras fosse silenciada definitivamente; “porque pela lei vem o conhecimento do pecado” [Rm 3.20]. E, por ela, somos feitos pecadores, e indesculpáveis diante de Deus.
A lei não traz vida para a salvação, mas a morte [Rm 7.9-11]. A lei não justifica, mas acusa. Jamais liberta, mas escraviza [Gl 4.21-31]. A lei poderia absolver alguém, hipoteticamente falando, se todos não fossemos pecadores. A lei poderia declarar um homem justo, se todos não fossem injustos. A lei promete uma vida impossível, e uma morte evidente. A lei reclama que se olhe a realidade do pecado, e é inadmissível não vê-lo. E por isso é maravilhosa, santa, perfeita, pois sem ela, jamais seria revelado aos eleitos o amor de Deus. Jamais haveria Cristo, homem, e a certeza de um dia sermos como ele. Jamais seríamos perfeitos, mas num estado de falsa perfeição. A lei não nos exalta, mas humilha. Traz sobre todos os ímpios a ira de Deus [Ef 2.3]. Nos coloca em nossos devidos lugares, como carentes, desesperadamente sujeitos à misericórdia, autoridade, graça e poder de Deus. A lei nos põe debaixo da maldição, para sermos resgatados por Cristo, o qual se fez maldição por nós [Gl 3.13].
Em todos os aspectos da lei, ela não tem como nos salvar, nem alguém pode ser salvo por ela. Se a lei pudesse trazer vida, a justiça teria sido por ela; mas aprouve a Deus nos chamar à vida por seu Filho Amado Jesus Cristo. Por ele, somos feitos santos, e nos fará de fato santos, não porque escolhemos ser santos, mas porque ele nos escolheu santificar; e, uma vez com ele, com ele estaremos para sempre em perfeição e santidade.
Concluindo, a lei foi criada por Deus para estabelecer e determinar o caráter pecaminoso de nossa alma, do contrário não haveria pecado, pois não haveria transgressão, nem inobservância da lei. O que exclui qualquer possibilidade de justiça e justificação, de tal forma que estaria o homem livre para agir segundo o seu coração, sem impedimento, como um homem sem lei [Rm 7.9].
Não há nenhuma oferta de “boas novas” na lei, hipotética ou real, que propõe a salvação estando à disposição de todos que aceitassem a tarefa de obedecê-la até à perfeição; especialmente porque, além de Cristo, ninguém mais foi capaz de cumpri-la, logo, não há base para qualquer suposição teológica que corrobore a justificação legal.
A lei trouxe a justiça ao nos tornar injustos, revelando a justiça de Deus e a necessidade de sermos justificados por ele. Em outras palavras, o que ela revela é o completo desperdício e inutilidade do homem buscar a justiça de Deus na lei, sendo ela mesma a revelar-nos a sua ineficiência para a salvação. Foi o que Paulo disse: “Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para viver para Deus” [Gl 2.19].
Adão, ainda que não houvesse lei teria de ser regenerado em sua natureza; o que a lei fez foi revelar-lhe, e a todos nós, que os seus caminhos eram maus, e de que carecia de Deus para ser resgatado, transformado, e colocado na trilha dos seus perfeitos e santos caminhos.

Sobre julgar o próximo

 
Por Maurício Zágari
A senhora que faz limpeza em minha casa é uma irmã em Cristo. Há alguns dias ela chegou para o trabalho, tocou a campainha e abri a porta. Ela não deu dois passos dentro de casa e disparou a falar sobre o pastor fulano de tal, que fora preso porque tinha estuprado não sei quantas mulheres, isso, aquilo e aquilo outro. “No trem vindo pra cá todo mundo só falava sobre esse assunto”, disse, tentando puxar papo e dar continuidade à polêmica comigo. Eu estava por fora da história e, por isso, fiquei escutando enquanto ela, empolgadíssima, praticamente mandava o tal pastor para o inferno, já julgado e condenado. Depois de relatar a arrepiante história com a empolgação de uma criança que ganhou um presente novo, ela ficou enfim em silêncio, enquanto aguardava que eu disparasse palavras de condenação ao tal pastor. Eu pensei um segundo e disse a ela: “Bem, vamos aguardar que se prove que de fato ele é culpado, não é? E, se for, vamos orar pela restauração da vida dele”. Pela cara dessa senhora percebi que era tudo o que ela não esperava ouvir. Porque é muito mais gostoso e empolgante acreditar que algum cristão cometeu um pecado cabeludo do que crer na sua inocência – afinal, saber que os outros pecaram faz com que nos sintamos melhor com nossa própria natureza pecaminosa, como se o pecado alheio tivesse a capacidade de diminuir o nosso. Pude perceber que ela ficou sem ação diante do que falei, pois esperava que eu – como todas as pessoas do trem – começasse a alimentar a polêmica, assumir a culpa do homem e relegá-lo para o sétimo círculo do inferno. Só que não é isso que a Bíblia ensina.

Na faculdade de Jornalismo, aprendemos uma regra básica da profissão: nunca ouça um lado só da história. Pois todo relato sempre terá mais de uma versão, mais de um ponto de vista, e os implicados sempre vão defender os seus interesses. Isso é algo tão evidente que, se assim não fosse, não haveria juízes para intermediar disputas, nem árbitros, para dizer se foi pênalti ou não: o atacante sempre vai afirmar que o zagueiro pôs a mão na bola dentro da área e o zagueiro sempre vai negar. Por isso, ninguém conhece uma moeda por inteiro sem ver suas duas faces. No entanto, muito frequentemente nós assumimos verdades sobre outros só porque “alguém disse”. O que, em linguagem bíblica, é exatamente o que significa “julgar o próximo”.

Existe a regra de ouro do trânsito que, se for aplicada a sua vida, vai ajudá-lo muito a não cometer o pecado do julgamento: “Na dúvida, não ultrapasse”. Em outras palavras, se alguém te diz algo negativo sobre um terceiro indivíduo que não está ali para se defender, não assuma imediatamente como uma verdade, mesmo que a pessoa que te passou a informação em questão seja alguém próximo de você, o seu melhor amigo ou alguém da sua família. Sempre desconfie.

Lembre-se que uma mera afirmação contada como uma grande verdade não quer dizer absolutamente nada: se eu digo que o céu é vermelho ele não será menos azul por causa disso. Mas nós, seres humanos,  somos como grandes papagaios, que propagamos maldosas inverdades, meias-verdades ou realidades distorcidas só porque alguém nos falou – e como o ser humano tem um prazer sádico e inerente de falar mal dos outros, repetimos a quem quiser ouvir sem ter sequer escutado o que os réus têm a dizer. E acreditamos em tudo! Tenho visto isso com uma frequência avassaladora entre nós, cristãos. Lembre-se das mulheres que foram a Salomão para ele decidir de qual das duas era o filho. Ambas juravam de pés juntos que eram a mãe. Salomão não acreditou, simplesmente tirou a prova dos nove e averiguou sabiamente os fatos em sua totalidade.

Uma passagem bíblica específica sobre o assunto é o julgamento de Jesus, relatado em Mateus 26. Não só porque mostra como é a coisa mais fácil do mundo levantar falsas testemunhas cheias de provas e afirmações contra alguém, mas, principalmente, porque mostra o exemplo do Mestre acerca de como reagir. Repare: “Ora, os principais sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam algum testemunho falso contra Jesus, a fim de o condenarem à morte. E não acharam, apesar de se terem apresentado muitas testemunhas falsas“. Veja que estamos falando de pessoas que na sociedade eram altamente conceituadas, eram sacerdotes e autoridades e que apresentaram muitas provas. Mas foi tudo articulado com um único objetivo: sujar o bom nome daquele homem.

Vamos adiante: “Mas, afinal, compareceram duas, afirmando: Este disse: Posso destruir o santuário de Deus e reedificá-lo em três dias. E, levantando-se o sumo sacerdote, perguntou a Jesus: Nada respondes ao que estes depõem contra ti? Jesus, porém, guardou silêncio“. De tudo, as antipalavras do Mestre são o que mais me maravilha. O homem que teve sua honra achincalhada e seu nome lançado na lama não berrou nem esperneou para se defender. Não apresentou provas ou testemunhas que o inocentassem. Mas “guardou silêncio”. Confirmando Isaías 53.7: “Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca“. Eis o padrão cristão.

Sei que é difícil, pois nossa natureza clama por justiça. Mas foi o que o manso Cordeiro fez. Em seu exemplo, ele demonstrou que o juízo de Deus é muito, muito, mas muito mais severo que o dos homens – e do que qualquer coisa que você possa fazer para revidar ataques ou maledicências contra você. Lembre-se de Hebreus 10.31: “Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo“. E tem mais uma coisa: um cristão autêntico – aquele que errou no passado, se arrependeu de seus pecados, alcançou a misericórdia de Deus e se esforça por não errar mais – não condena pessoas, ainda que sejam culpadas. Pois sabe que elas são tão pó como ele. Porque o cristão que se arrependeu de fato de seus erros e sabe que o ser humano é passível de errar e ser reerguido por Cristo não devolve mal com mal. Ora e torce pela restauração do pecador. O cristão de verdade não quer prejudicar ninguém – pois sempre tem a esperança de que o outro chegue ao arrependimento e produza frutos para o Reino de Deus. O cristão de verdade não destrói: constrói. Pois quem veio para destruir você sabe quem é.

Em Romanos 12, Paulo nos ensina algo que quase nenhum cristão faz: “Não torneis a ninguém mal por mal; esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens; se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens; não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor“. Depois de mostrar o que espera aquele que receberá a vingança de Deus pelo mal que praticou contra o próximo, o apóstolo nos diz o que fazer: “Pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem“. Mas isso só faz quem é cristão de verdade.

Essa é a atitude bíblica. Esse é o procedimento. É isso o que pelo menos devemos tentar fazer. Vejo pessoas famosas do “meio evangélico” indo para a TV e a Internet para, em vez de pregar o Evangelho, agredir, atacar, ofender. Os modelos que a Igreja tem hoje agem contrariamente aos ensinamentos de Jesus. Não siga esses exemplos, meu irmão, minha irmã. Há muitos frequentadores de igreja que desejam o mal ao próximo. Que estimulam o disse-me-disse sobre o último escândalo da moda. Sem meias palavras: isso é demoníaco. É assim, entre outras coisas, que se mede um verdadeiro servo de Deus: como ele zela pelo próximo, em especial os que erraram contra si. Então, se você de fato é trigo e não joio, preserve as pessoas e lute em aconselhamento e oração para que cheguem ao arrependimento e à salvação.

Minha sugestão sincera: não se junte à massa dos que tomam de Deus o papel de juiz. Se pastor fulano estuprou alguém, se o irmão da tua igreja cometeu esse e aquele pecado, se estoura a última polêmica gospel… a atitude mais bíblica que você tem a fazer é se calar. Não se assente na roda dos escarnecedores cristãos. Não alimente o disse-me-disse. Não ponha lenha na fogueira. Sei que o Diabo fica tentando pôr a lenha na sua mão, mas resista a ele. Deixe que a língua coce, garanto que depois passa. Tente guardar silêncio e agir com amor perdoador e sofredor, pois aí a justiça do alto funcionará em favor de todos: dos acusados e dos acusadores. Inclusive você.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

Dez motivos para não participar da “Marcha para Jesus”


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Por Rev. Ageu Cirilo de Magalhães Jr.

No dia, 03/09/2009, o então Presidente da República, Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou a lei que instituiu o Dia Nacional da Marcha para Jesus.
Estavam ali, naquele ato, alguns líderes do governo, juntamente com o bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, Marcelo Crivella, e os bispos da Igreja Renascer em Cristo, Estevam e Sônia Hernandes. A sanção do presidente veio apenas tornar oficial uma prática que se repete a cada ano. Considerando o tamanho do evento e a quantidade de irmãos que mobiliza, alisto abaixo dez motivos que cada cristão deveria considerar para não participar desta marcha. As informações que dão base à análise podem ser encontradas em sites de promoção da marcha:
1. A igreja que organiza a maior parte da marcha é conduzida por um homem que se autodenomina apóstolo. Este é um erro cada vez mais frequente em algumas denominações. É sabido que o título “apóstolo” foi reservado àquele primeiro grupo de homens escolhidos por Cristo. Após a traição e suicídio de Judas, os apóstolos escolheram outro para ocupar seu lugar (At 1.15-20), mas, como foi feita esta escolha? Que critérios foram usados? 1º) Ter sido discípulo de Jesus durante o seu ministério terreno; 2º) Ter sido testemunha ocular do Cristo ressurreto. Portanto, ninguém que não tenha sido contemporâneo de Cristo ou dos apóstolos (como Paulo o foi) pode sustentar para si o título de apóstolo;
2. A igreja que organiza a marcha ensina a Teologia da prosperidade (crença de que o cristão deve ser próspero financeiramente), Confissão positiva (crença no poder profético das palavras — assim como Deus falou e tudo foi criado, eu também falo e tudo acontece), Quebra de maldições (convicção de que podem existir maldições, mesmo na vida dos já salvos por Cristo) e Espíritos territoriais (crença em espíritos malignos que governam sob determinadas áreas de uma cidade);
3. A filosofia da marcha está fundamentada em uma Teologia Triunfalista (tudo sempre vai dar certo, não existem problemas na vida do crente), tendo como base textos como Êxodo 14 (passagem de Israel no mar Vermelho) e Josué 6 (destruição de Jericó);
4. De acordo com os sites que organizam a marcha, uma das finalidades dela é promover curas e libertações;
5. A marcha não celebra culto, mas “show gospel”;
6. Os líderes do movimento propagam que a marcha tem o poder de “mudar o destino de uma nação”;
7. Na visão do grupo, com base em Josué 1.3: “Todo lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado”, a marcha é uma reivindicação do lugar por onde passam na cidade;
8. Na visão do grupo, a marcha serve para tapar as “brechas deixadas pelos atos ímpios de nossa nação”;
9. Na visão do grupo, a marcha destrói “fortalezas erguidas pelo inimigo em certas áreas em nossas cidades e regiões”;
10. A marcha tem caráter isolacionista, próprio de gueto, e não o que Cristo nos ensinou, a saber, envolvimento amplo na sociedade, como sal e luz (Mt 5.13-16), com irrepreensível testemunho cristão: “…mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação” (1 Pe 2.12).
Ademais, é importante observar que toda a organização da marcha está centrada nas mãos de uma igreja apenas, excluindo-se o alegado caráter de união entre os evangélicos.
Tanta força e entusiasmo deveriam ser canalizados para a pregação do evangelho. As pesquisas indicam que os evangélicos já somam 25% da população brasileira, no entanto, a imoralidade, a corrupção e a violência estão cada vez maiores em nosso país. Os canais de TV, os programas de rádio, bem como as marchas não têm gerado transformação de vida em nosso povo.
A marcha que Cristo ensinou à sua igreja foi outra, silenciosa e efetiva, tal qual o sal penetrando no alimento (Mt 5.13); pessoal e de relacionamento, como na igreja primitiva (At 8.4); cotidiana e sem cessar, como entre os primeiros convertidos (At 2.42-47).
Que Deus nos restaure essa visão.

O Mito do Livre Arbítrio

Walter Chantry

A maioria das pessoas diz que crê no “livre-arbítrio”. Você tem alguma idéia do que isso significa? Acredito que você achará grande quantidade de superstição sobre este assunto. A vontade é louvada como o grande poder da alma humana, que é completamente livre para dirigir nossa vida. Mas, do que ela é livre? E qual é o seu poder?

O mito da liberdade circunstancial

Ninguém nega que o homem tem vontade – ou seja, a capacidade de escolher o que ele quer dizer, fazer e pensar. Mas, você já refletiu sobre a profunda fraqueza de sua vontade? Embora você tenha a habilidade de fazer uma decisão, você não tem o poder de realizar seu propósito. A vontade pode planejar um curso de ação, mas não tem nenhum poder de executar sua intenção.

Os irmãos de José o odiavam. Venderam-no para ser um escravo. Mas Deus usou as ações deles para torná-lo governador sobre eles. Escolheram seu curso de ação para fazer mal a José. Mas, em seu poder, Deus dirigiu os acontecimentos para o bem de José. Ele disse: “Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem” (Gn 50.20).


E quantas de nossas decisões são terrivelmente frustradas? Você pode escolher ser um milionário, mas a providência de Deus talvez o impedirá. Você pode decidir ser um erudito, mas a saúde ruim, um lar instável ou a falta de condições financeiras podem frustrar sua vontade. Você escolhe sair de férias, mas, em vez disso, um acidente de automóvel pode enviar-lhe para o hospital.


Por dizer que sua vontade é livre, certamente não estão queremos dizer que isso determina o curso de sua vida. Você não escolheu a doença, a tristeza, a guerra e a pobreza que o têm privado de felicidade. Você não escolheu ter inimigos. Se a vontade do homem é tão poderosa, por que não escolhemos viver sem cessar? Mas você tem de morrer. Os principais fatores que moldam a sua vida não se devem à sua vontade. Você não seleciona sua posição social, sua cor, sua inteligência, etc.


Qualquer reflexão séria sobra a sua própria experiência produzirá esta conclusão: “O coração do homem traça o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos” (Pv 16.9). Em vez de exaltar a vontade humana, devemos humildemente louvar o Senhor, cujos propósitos moldam a nossa vida. Como Jeremias confessou: “Eu sei, ó Senhor, que não cabe ao homem determinar o seu caminho, nem ao que caminha o dirigir os seus passos” (Jr 10.23).


Sim, você pode escolher o que quer e pode planejar o que fará, mas a sua vontade não é livre para realizar qualquer coisa contrária aos propósitos de Deus. Você também não tem o poder de alcançar seus objetivos, mas somente aqueles que Deus lhe permite alcançar. Na próxima vez que você tiver tão enamorado de sua própria vontade, lembre a parábola de Jesus sobre o homem rico. O homem rico disse: “Farei isto: destruirei os meus celeiros, reconstruí-los-ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens... Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma” (Lc 12.18-21). Ele era livre para planejar, mas não para realizar. O mesmo acontece com você.

O mito da liberdade ética

A liberdade da vontade é citada como um fator importante em tomar decisões morais. Diz-se que a vontade do homem é livre para escolher entre o bem e o mal. Novamente temos de perguntar: do que ela é livre? E o que a vontade do homem é livre para escolher?

A vontade do homem é o seu poder de escolher entre alternativas. Sua vontade decide realmente suas ações dentre várias opções. Você tem a capacidade de dirigir seus próprios pensamentos, palavras e atos. Suas decisões não são formadas por uma força exterior, e sim dentro de você mesmo. Nenhum homem é compelido a agir em contrário a sua vontade, nem forçado a dizer o que ele não quer dizer. Sua vontade guia suas ações.


Isso não significa que o poder de decidir é livre de todas as influências. Você faz escolhas baseado em seu entendimento, seus sentimentos, nas coisas de que gosta e de que não gosta e em seus apetites. Em outras palavras, a sua vontade não é livre de você mesmo! As suas escolhas são determinadas por seu caráter básico. A vontade não é independente de sua natureza, e sim escrava dela. Suas escolhas não moldam seu caráter, mas seu caráter guia suas escolhas. A vontade é bastante parcial ao que você sabe, sente, ama e deseja. Você sempre escolhe com base em sua disposição, de acordo com a condição de seu coração.


É por essa razão que a sua vontade não é livre para fazer o bem. Sua vontade é serva de seu coração, e seu coração é mau. “Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração” (Gn 6.5). “Não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Rm 3.12). Nenhum poder força o homem a pecar em contrário à sua vontade; os descendentes de Adão são tão maus que sempre escolhem o mal.


Suas decisões são moldadas pelo seu entendimento, e a Bíblia diz sobre todos os homens: “Antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato” (Rm 1.21). O homem só pode ser justo quando deseja ter comunhão com Deus, mas “não há quem busque a Deus” (Rm 3.11). Seus desejos anelam pelo pecado, e, por isso, você não pode escolher a Deus. Escolher o bem é contrário à natureza humana. Se você escolher obedecer a Deus, isso será resultado de compulsão externa. Mas você é livre para escolher, e sua escolha está escravizada à sua própria natureza má.


Se carne fresca e salada fossem colocadas diante de um leão faminto, ele escolheria a carne. Isso aconteceria porque a natureza do leão dita a escolha. O mesmo se aplica ao homem. A vontade do homem é livre de força exterior, mas não é livre das inclinações da natureza humana. E essas inclinações são contra Deus. O poder de decisão do homem é livre para escolher o que o coração humano dita; portanto, não há possibilidade de um homem escolher agradar a Deus sem a obra anterior da graça divina.


O que muitas pessoas querem expressar quando usam o termo livre-arbítrio é a idéia de que o home é, por natureza, neutro e, por isso, capaz de escolher o bem ou o mal. Isso não é verdade. A vontade humana e toda a natureza humana é inclinada continuamente para o mal. Jeremias perguntou: “Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as suas manchas? Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal” (Jr 13.23). É impossível. É contrário à natureza. Portanto, os homens necessitam desesperadamente da transformação sobrenatural de sua natureza, pois sua vontade está escravizada a escolher o mal.


Apesar do grande louvor que é dado ao “livre-arbítrio”, temos visto que a vontade do homem não é livre para escolher um curso contrário aos propósitos de Deus, nem é livre para agir em contrário à sua própria natureza moral. A sua vontade não determina os acontecimentos de sua vida, nem as circunstâncias dela. Escolhas éticas não são formadas por uma mente neutra, são sempre ditadas pelo que constitui a sua personalidade.

O mito da liberdade espiritual

No entanto, muitos afirmam que a vontade humana faz a decisão crucial de vida espiritual ou de morte espiritual. Dizem que a vontade é totalmente livre para escolher a vida eterna oferecida em Jesus ou rejeitá-la. Dizem que Deus dará um novo coração a todos que, pelo poder de seu próprio livre-arbítrio, escolherem receber a Jesus Cristo.

Não pode haver dúvida de que receber a Jesus Cristo é um ato da vontade humana. É freqüentemente chamado de “fé”. Mas, como os homens chegam a receber espontaneamente o Senhor? A resposta habitual é: “Pelo poder de seu próprio livre-arbítrio?” Como pode ser isso? Jesus é um Profeta – e receber a Jesus significa crer em tudo que ele diz. Em João 8.41-45, Jesus deixou claro que você é filho de Satanás. Esse pai maligno odeia a verdade e transmitiu, por natureza, essa mesma propensão ao seu coração. Por essa razão, Jesus disse: “Porque eu digo a verdade, não me credes”. Como a vontade humana escolherá crer no que a mente humana odeia e nega?


Além disso, receber a Jesus significa aceitá-lo como Sacerdote – ou seja, utilizar-se dele e depender dele para obter paz com Deus, por meio de seu sacrifício e intercessão. Paulo nos diz que a mente com a qual nascemos é hostil a Deus (Rm 8.7). Como a vontade escapará da influência da natureza humana que foi nascida com uma inimizade violente para com Deus? Seria insensato a vontade escolher a paz quando todo as outras partes do homem clamam por rebelião.


Receber a Jesus também significa recebê-lo como Rei. Significa escolher obedecer seus mandamentos, confessar seu direito de governar e adorá-lo em seu trono. Mas a mente, as emoções e os desejos humanos clamam: “Não queremos que este reine sobre nós” (Lc 19.14). Se todo o meu ser odeia a verdade de Jesus, odeia seu governo e odeia a paz com Deus, como a minha vontade pode ser responsável por receber a Jesus? Como pode um pecador que possui tal natureza ter fé?


Não é a vontade do homem, e sim a graça de Deus, que tem ser louvada por dar a um pecador um novo coração. A menos que Deus mude o coração, crie um novo espírito de paz, veracidade e submissão, a vontade do homem não escolherá receber a Jesus Cristo e a vida eterna nele. Um novo coração tem de ser dado antes que um homem possa escolher, pois a vontade humana está desesperadamente escravizada à natureza má do homem até no que diz respeito à conversão. Jesus disse: “Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo” (Jo 3.7). A menos que você nasça de novo, jamais verá o reino de Deus.


Leia João 1.12-13. Essa passagem diz que aqueles que crêem em Jesus foram nascidos não “da vontade do homem, mas de Deus”. Assim como a sua vontade não é responsável por sua vinda a este mundo, assim também ela não é responsável pelo novo nascimento. É o seu Criador que tem de ser agradecido por sua vida. E, “se alguém está em Cristo, é nova criatura” (2 Co 5.17). Quem escolheu ser criado? Quando Lázaro ressuscitou dos mortos, ele pôde, então, escolher obedecer o chamado de Cristo, mas ele não pôde escolher vir à vida. Por isso, Paulo disse em Efésios 2.5: “Estando nós mortos em nossos delitos, [Deus] nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos” (Ef 2.5). A fé é o primeiro ato de uma vontade que foi tornada nova pelo Espírito Santo. Receber a Cristo é um ato do homem, assim como respirar, mas, primeiramente, Deus tem de dar a vida.


Não é surpreendente que Martinho Lutero tenha escrito um livro intitulado A Escravidão da Vontade, que ele considerava um de seus mais importantes tratados. A vontade está presa nas cadeias de uma natureza humana má. Você que exalta, com grande força, o livre-arbítrio está se agarrando a uma raiz de orgulho. O homem, caído no pecado, é totalmente incapaz e desamparado. A vontade do homem não oferece qualquer esperança. Foi a vontade, ao escolher o fruto proibido, que nos colocou em miséria. Somente a poderosa graça de Deus oferece livramento. Entregue-se à misericórdia de Deus para a sua salvação. Peça ao Espírito de Graça que crie um espírito novo em você.

Nossos olhos estão secos!



Por  Josemar Bessa
 
Nenhuma outra geração teve uma visão tão superficial do pecado como a nossa. Leia essas palavras do Puritano William Beveridge (1637–1708), e veja a diferença para os nossos dias:

“Eu não posso orar como convém, mas eu peco. Eu não posso ouvir ou pregar um sermão de forma perfeita, mas eu peco. Eu não posso dar ofertas ou receber o sacramento de forma totalmente pura, mas eu peco. Não, eu não posso confessar sequer os meus pecados perfeitamente, mas as minhas próprias confissões ainda são agravos deles. Meu arrependimento precisa se arrepender, minhas lágrimas precisam ser lavadas, e a própria lavagem das minhas lágrimas ainda precisam ser lavadas mais uma vez com o sangue do meu Redentor. "

William Beveridge, "Private Thoughts" -  (Londres, 1720).

Somos uma geração que não chora: Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados. - Mateus 5:04

Nossa tragédia está em nossos olhos secos.

Martinho Lutero escreveu em 1521:

“Nós fomos chamados a uma vida de arrependimento.
Esta vida, por isso,
não é justiça,
mas o crescimento em justiça,
não é saúde perfeita,
mas a cura,
não sendo,
mas tornando-se,
Não descanso,
mas o exercício.
Nós não somos ainda o que havemos de ser,
mas estamos crescendo em direção a isso inexoravelmente (Santificação).
O processo ainda não está terminado,
mas está acontecendo.
Este não é o fim,
mas é a estrada.
De forma plena ainda não brilhamos  em glória,
mas tudo está sendo purificado.”

Lutero está afirmando que o arrependimento é a única forma de progresso diário na vida cristã.

Mas em nossa superficialidade nossa geração acredita que o culto deve ser um momento leve, descontraído, de boas dicas para a vida, auto-ajuda... Que ao fim todos devem ter experimentado sentimentos doces e agradáveis apenas, devem se sentir leves... Nada desagradável deve fazer parte do culto... fazer as pessoas se sentirem bem é o propósito. Com isso, o verdadeiro arrependimento foi banido do culto, e sem ele, não temos um verdadeiro culto:

“Agora, porém, me alegro, não porque vocês foram entristecidos, mas porque a tristeza os levou ao arrependimento. Pois vocês se entristeceram como Deus desejava, e de forma alguma foram prejudicados por nossa causa. A tristeza segundo Deus produz um arrependimento que leva à salvação e não remorso, mas a tristeza segundo o mundo produz morte”. 2 Coríntios 7:8-9

Achamos algo duro e pesado: “Chorai! Quebre seus corações!” – Pregação bíblica equilibrada em cada tema é a necessidade da hora. O estado da igreja, o estado de cada membro individual, de forma geral, na igreja de nossos dias, pede um ministério de grande despertamento sobre o arrependimento.

Um grande pregador ao ouvir Whitefield pregar disse: “Eu senti que em todo o meu ministério eu dei conforto muito cedo” – Se um pregador acha que a coisa mais importante na pregação é ter um sermão aceito e admirado por quem ouve, necessariamente irá tirar qualquer “ofensa”, desconforto, algo que leve a tristeza... deles.

O arrependimento não é produzido por corações bons em detrimento aos corações maus, o arrependimento bíblico é um dom de Deus. A natureza humana o bombeia sempre para fora de seu coração de pedra. Um sermão que move congregações ao arrependimento sob a convicção do Espírito, é um ouro fino, um artigo precioso e raro na terra em nossos dias. Assim toda a pregação se tornou fraca e isso é agravado por três fatores.

1)  O apelo do evangelismo moderno não tem sido focado em arrependimento, mas no alistamento. Mas um para o grupo...

2)  Igrejas inteiras tornaram-se simplesmente sem vontade e incapazes de aceitar a realidade da culpa pessoal ( com todo suporte que a psicologia humanista dá para isso ) e, portanto, incapazes de reconhecer sua necessidade desesperadora de arrependimento verdadeiro e bíblico.

3)   “Pecado” – é uma palavra cada vez mais raramente ouvida em nossa sociedade, exceto em caso de crimes.... As próprias igrejas não tem noção, ou negam, a união do homem com Adão, que todos nós estamos envolvidos em sua rebelião, culpa, depravação e maldição, que cada ser humano já nasce assim. Os valores humanistas corromperam os púlpitos.  O elemento central de arrependimento foi banido. O elemento central foi banido da Grande Comissão – que diz: “e que em seu nome seria pregado o arrependimento para perdão de pecados a todas as nações, começando por Jerusalém”. - Lucas 24:47

A mensagem apostólica ao mundo é um testemunho de “arrependimento para com Deus e de fé em nosso Senhor Jesus Cristo” ( Atos 20.21). Qual foi a mensagem em Atenas, para os gregos sofisticados? “No passado Deus não levou em conta essa ignorância, mas agora ordena que todos, em todo lugar, se arrependam. Pois estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio do homem que designou. E deu provas disso a todos, ressuscitando-o dentre os mortos" - Atos 17:30-31

Assim, o arrependimento é algo que muda a mente, mudando valores, metas, propósitos, visão do pecado, horror ao pecado e não simplesmente a alguns pecados particulares... A mudança é radical, tanto interna como externamente – mente, julgamento, vontade, comportamento, estilo de vida, motivos, propósitos... tudo está envolvido. Leva o homem a ir numa direção nova e viver uma nova vida.

Considere esta definição bíblica de arrependimento feita no século XVII, quando a Verdade foi vista mais claramente que em nossos dias sombrios e a preocupação de agradar e para com a honra de Deus transcendia qualquer desejo de agradar a uma congregação ou aos homens:

Movido pelo reconhecimento e sentimento, não só do perigo, mas também da impureza e odiosidade do pecado como contrários à santa natureza e justa lei de Deus; apreendendo a misericórdia divina manifestada em Cristo aos que são penitentes, o pecador pelo arrependimento, de tal maneira sente e aborrece os seus pecados, que, deixando-os, se volta para Deus, tencionando e procurando andar com ele em todos os caminhos dos seus mandamentos - Ezeq. 18:30-31 e 34:31; Sal.51:4; Jer. 31:18-19; II Cor.7:11; Sal. 119:6, 59, 106; Mat. 21:28-29.

Ainda que não devemos confiar no arrependimento como sendo de algum modo uma satisfação pelo pecado ou em qualquer sentido a causa do perdão dele, o que é ato da livre graça de Deus em Cristo, contudo, ele é de tal modo necessário aos pecadores, que sem ele ninguém poderá esperar o perdão - Ez. 36:31-32 e 16:63; Os. 14:2, 4; Rom. 3:24; Ef. 1: 7; Luc. 13:3, S; At. 17:30,31.

Como não há pecado tão pequeno que não mereça a condenação, assim também não há pecado tão grande que possa trazer a condenação sobre os que se arrependem verdadeiramente - Rom. 6:23; Mat. 12:36; Isa. 55: 7; Rom. 8:1; Isa. 1: 18.,

Os homens não devem se contentar com um arrependimento geral, mas é dever de todos procurar arrepender-se particularmente de cada um dos seus pecados - Sal. 19:13; Luc. 19:8; I Tim. 1:13, 15.

Isso é o que a Bíblia ensina, esse é o arrependimento que desejamos, e é isso que nós desejamos que todos amem, acreditem e preguem a partir de seus corações.