sexta-feira, 21 de junho de 2013

Três fatos a respeito do Problema do Mal


Por Samuel Falcão

Embora todos não possam concordar em tudo quanto se refere a este problema intrincado, há pelo menos três fatos que todos os teístas admitirão neste particular: 1. A existência do mal, 2. O fato de Deus não poder ser o autor do mal, e 3. O fato de Deus permitir que o mal exista.
a) O primeiro fato que todos temos de reconhecer é a existência do mal ou pecado no mundo. Os sofrimentos a que todos estamos sujeitos; o egoísmo que caracteriza todos os ho­mens; os inúmeros atos maus que têm sido cometidos por todos os membros da raça humana através das eras; a existência de pecados como o orgulho, o ódio, a cobiça, os ciúmes, as menti­ras, a lascívia e um sem número de pecados semelhantes a es­tes, pecados que nós mesmos experimentamos, e pecados que vemos ao nosso redor, em nosso próximo. Todos estes fatos conspiram em provar o triste, mas incontestável fato de que o mal existe no mundo. Quereis uma prova do numa só palavra? A guerra. Já se disse que a história da humanidade tem sido escrita com sangue, porque é a história de suas guer­ras. E a guerra, a maior loucura e a maior crueldade que o homem é capaz, revela a dolorosa condição do gênero humano sob o domínio do pecado.
A realidade do mal é tão evidente que os pagãos foram levados a pensar que existem no mundo duas forças eternas e opostas entre si, as quais têm estado e estarão em luta constan­te para todo o sempre. Nós, que cremos num Deus eterno e onipotente, não podemos concordar com essa teoria. Não cre­mos nesse dualismo. Mas não podemos negar a realidade do mal, não só porque sabemos de sua existência por nossa pró­pria experiência, mas especialmente porque a revelação de Deus afirma essa existência e anuncia sua final derrocada, no fim desta luta terrível. Sabemos que o bem é eterno, porque tem sua fonte em Deus, que não teve princípio nem terá ja­mais fim; mas o mal é transitório, porque começou no tempo, com os seres criados, e acabará (no sentido de ser vencido) no tempo marcado por Deus, depois de ter realizado seu propósito. E assim, na eternidade, para onde marchamos, o bem reinará supremo, sem oposição, (ver Rom. 16:20).
b) O segundo fato que todos temos de admitir é que Deus não é o autor do mal. O Deus em quem cremos é infinita­mente bom e perfeito. Não podia ser o originador do mal. Todas as Escrituras ensinam que Deus é infinitamente santo e por isso, não podia ser o autor de algo que é exatamente o oposto de sua natureza. O verdadeiro conceito do mal por si mesmo nega a possibilidade de se atribuir sua origem a Deus. O mal em sua essência opõe-se, é contrário a Deus e suas perfeições, em su­ma, viola suas leis. A Bíblia ensina que até certas coisas que em si mesmas não são pecaminosas, podem tornar-se tais, se as praticarmos contra nossa consciência, isto é, contra aquilo que supomos ser a vontade de Deus (cf. Rom. 14:14, 23; 1Cor.8:8-13).
Que o mal se opõe a Deus vem sugerido pela figura da luz e das trevas, empregada pela Bíblia para designar a Deus e a Satanás, respectivamente. “Deus é luz, e não há nele treva ne­nhuma” (1Jo.1:5). Mas o reino de Satanás é o reino das tre­vas (Ef.6:12; At.26:18; Col. 1:12,13). Que são as trevas? São a ausência da luz. Assim, pois, que é o mal? E a ausência de Deus, de quem procede todo o bem. Portanto, Ele não pode ser o originador do mal, visto como não pode contradizer-se a si mesmo. Não pode ser ao mesmo tempo luz e trevas. Esta é a razão pela qual Tiago declara em sua epístola: “Deus não pode ser tentado pelo mal” (Tg.1:13).
Estas considerações sugerem uma pergunta muito impor­tante: qual é a natureza e qual é a origem do mal? É o mal uma tendência impessoal, ou se originou numa pessoa?
O mal não pode ser uma tendência impessoal, porque neste caso teríamos de admitir uma das duas: ou Deus e o autor do pecado, ou existem duas forças opostas entre si no mundo. Nou­tros termos, se o mal fosse uma tendência, ou seria ele criado por Deus (o que importaria em negar a santidade divina), ou o dualismo seria uma verdade. E então, como começou o mal?
A única explicação possível da origem do mal é a existên­cia de um ser superior ou ser moral que, tendo sido feito livre, podia opor-se a Deus. No momento em que Deus criou um ser moral, inteligente, livre e responsável, dotado de vontade que podia opor-se à sua, ele criou a possibilidade de se desobede­cer a essa sua vontade e, portanto, criou a possibilidade do pe­cado que, como já vimos, é algo contrário a Deus ou é afasta­mento de Deus. Ser moral é o que é livre e responsável e, portanto, tem o direito de obedecer ou de desobedecer a Deus. Além do que, não há valor algum na obediência que não se acompanha da possibilidade de desobedecer. Visto como Deus não se pode contradizer a si mesmo, não podia negar a um livre agente o direito de desobedecer-lhe; ou, noutras palavras, não podia tirar-lhe o que ele próprio lhe houvera dado — a liberdade.
A Bíblia dá a entender que toda vez que Deus criou um ser moral, submeteu-o a uma prova para ver se lhe obedecia ou não, dando-lhe uma oportunidade de decidir ser a favor ou contra Deus. Foi este o caso dos anjos, e foi igualmente o caso do homem, no princípio. O mesmo aconteceu até com o homem Jesus Cristo, quando o Espírito o impeliu ao deserto para ser tentado pelo diabo. Apesar de ser Filho, precisou aprender a obediência através de seus sofrimentos (Heb.5:8).
A Bíblia não diz exatamente quando e como o mal come­çou, mas revela que por causa do orgulho, Satanás deu-lhe ori­gem. Quando Deus criou o homem, o mal já existia, visto como, antes da queda, proibiu-lhe comer do fruto da árvore da ciên­cia do bem e do mal. Penso que esta é a razão por que Deus proveu redenção para o homem, porém não para Satanás e seus anjos. Não foi o homem que originou o espírito de revolta contra Deus, e de certo modo foi vítima do grande adversário de Deus. Note-se nesta conexão que o inferno não foi feito para o homem, mas foi “preparado para o diabo e seus anjos” (Mat. 25:4l).
Concluímos, pois, que o mal começou com a desobediência de um ser moral, que se rebelou contra Deus e levou o homem a seguir-lhe as pegadas. Depois de começar com um ato de desobediência e revolta, o mal tornou-se uma tendência nos seres desobedientes. Temos aí por que todos os descendentes de Adão nascem com uma natureza pecaminosa, como o decla­rou Davi: “Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl.51:5). Deus é o único que pode modificar e extinguir essa tendência mediante uma completa transforma­ção chamada nas Escrituras novo nascimento.
c) O terceiro fato que precisamos admitir, com referên­cia a este assunto, é que Deus decidiu permitir o mal, permitir que o pecado entrasse no mundo. Admitir a santidade de Deus é reconhecer que Ele não podia ser o originador do mal, como já vimos. Mas, por outro lado, crer em sua onipotência é reco­nhecer que o mal não podia vir a existir sem que Ele o permi­tisse. É claro que Ele decidiu, por algumas razões não revela­das de todo, permitir que o mal penetrasse no mundo. Contudo não precisamos inquietar-nos com as razões de Deus, por­que Ele mesmo nos tem dito em sua Palavra que “as coisas en­cobertas pertencem ao Senhor nosso Deus; porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre” (Deut. 29:29). Todavia não devemos esquecer que, permitindo a existência do mal, Deus é capaz de controlá-lo e também de extingui-lo no devido tempo, como é certo que vai fazer.
Que Deus domina o mal e os seres malignos vemo-lo no fato de Satanás não poder fazer qualquer mal a Jó, enquanto Deus não lho permitiu, e ainda assim somente até onde Deus permitiu. Mesmo para entrar nos porcos, os demônios precisa­ram pedir que Cristo lho permitisse (Mat.8:31,32). O desejo de Satanás, durante muito tempo, fora naturalmente destruir Jó, mas nada pôde fazer sem a permissão divina. Porém, pelo fato de permitir que Satanás fizesse o que desejava, Deus me­rece censura pelos atos do maligno? Certo que não. O mesmo se diga dos homens. Todos nascemos em pecado, e nossa ten­dência é cada vez mais para o pecado. Deus entretanto domina em nós essa tendência, interferindo ou deixando de interferir permitindo ou não permitindo que nos afastemos dele até onde queiramos. Algumas vezes Deus coíbe as ações dos ho­mens, como no caso de Abimeleque, a quem Ele disse: “Daí o ter impedido eu de pecares contra mim, e não te permiti que a tocasses” (Gen.20:6). Que Deus é capaz de dominar até os desejos dos homens vem declarado em Ex. 34:24, onde lemos: “Ninguém cobiçará a tua terra, quando subires para compare­cer na presença do Senhor teu Deus três vezes no ano”. Ou­tras vezes, no entanto, Deus permite que os homens procedam como querem, abandonando-os às suas próprias tendências e de­sejos. Lemos, por exemplo, que “nas gerações passadas, Deus permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios cami­nhos” (At.14:16). Lemos também que “lhes fez o que deseja­vam” (Sl.78:29). Ainda lemos em Rom.1:24,28 que, por cau­sa do orgulho, da ingratidão e da vaidade dos homens, Deus “os entregou à imundícia, pelas concupiscências de seus pró­prios corações, para desonrarem os seus corpos entre si; e por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para pratica­rem coisas inconvenientes”. (Leia-se também Deut. 8:2; 2Cron. 32:31; Os.4:7).

O Problema do Mal

Por Carlos Osvaldo Pinto
A existência do mal, em suas variadas formas, mas particularmente naquelas que são aparentemente injustificadas, levanta dificuldades lógicas e psicológicas quanto à existência e/ou ao caráter de Deus. Embora raramente isso seja levantado pelos que argumentam contra a existência de Deus por causa da presença do mal no universo, o problema não é uma questão de grau, mas de simples existência.

 “Mal” é um termo de difícil definição, em particular devido à natureza limitada de nosso conhecimento e à falta de um acordo quanto à perspectiva a partir da qual tentar uma definição.

Via de regra, mesmo teístas ardorosos acabam adotando uma definição antropocêntrica do mal, e isso lhes dificulta um tratamento exegético adequado da evidência bíblica.

Por outro lado, uma definição mais teocêntrica fecha a possibilidade de um diálogo significativo com os “ateólogos”.

Em geral, um evento é entendido como “mal” (ou, se quisermos adjetivar, “mau”) se:
  • Causar algum dano (de qualquer dimensão) ao bem estar físico e/ou emocional de uma criatura capaz de sensação;
  • Ocorrer algum tratamento desumano ou injusto de uma criatura capaz de sensação;
  • Causar perda de oportunidade ou desenvolvimento por causa de doença e/ou morte, particularmente “prematura”;
  • Impedir que um indivíduo leve uma vida significativa e/ou virtuosa;
  • Violar algum código moral ou roubar direitos essenciais a alguém;
  • Constituir a “privação” ou a deterioração de algum “bem”.

Taxonomia do Mal

Mal Moral. Esta categoria engloba males que resultam do mau uso da capacidade de escolha de algum agente moral. Inclui atos específicos de “maldade” (mentira, desonestidade, violência, destruição) em maior ou menor grau.

Mal Natural. Em contraste com o mal moral, o mal natural resulta da operação de processos naturais, nos quais nenhum agente moral pode ser responsabilizado pelo dano resultante. Exemplos clássicos são desastres naturais como furacões e tornados, terremotos e maremotos, deslizamentos de terra e enchentes, e também doenças devastadoras como a leucemia e o mal de Alzheimer.

Uma qualificação importante
Boa parte do que é considerado males naturais consiste, na verdade, de males morais precipitados por negligência, ganância ou pura e simples estupidez humana.
  • Câncer no pulmão pode ser causado por fumo inveterado.
  • Destruição em massa num terremoto pode ser causada pela ganância de empreendedores ou neligência de governantes (ou ambos).
  • Enchentes têm como causa frequente a irresponsabilidade de cidadãos e/ou  governantes.
Quando causados pelo exercício da vontade de agentes morais, tais males são melhor qualificados como morais, ou pelo menos híbridos, i.e., males naturais exacerbados por erros de natureza moral.

Uma maneira alternativa de dizer isso seria classifcar como  males naturais apenas aqueles cuja ocorrência não pode ser atribuída a agentes morais meramente humanos.

Uma categoria à parte é a do chamado mal hediondo, no qual agentes morais exacerbam a violência, a crueldade, a desumanidade em nome de preferências ou ojerizas pessoais.

Holocausto
  • Linchamentos tipo Ku-Klux-Klan (e garotões de Brasília)
  • Cárceres privados e incestos
  • É geralmente essa categoria de males que provoca o desafio dos ateólogos à existência de Deus.

Maneiras Excludentes de Lidar Com o Problema

Ilusionismo – Negar a realidade do mal

Monismos orientais e ocidentais advogam que há uma única realidade e que o mal é uma ilusão.
  • O hinduísmo tradicional diz que todo o mundo material é maya (ilusão).
  • Baruc Spinoza argumentou que nada pode ser taxado de mau pois faz parte da infinita bondade do quadro total.
  • Ciência Cristã afirma que “o mal . . . Não tem base real. É um erro do homem mortal.”
Respostas ao Ilusionismo
A impressão da existência do mal é uma persistência universal. Como explicar essa impressão?

Será que é prova de bom senso negar totalmente a percepção sensorial de todas as pessoas? Isso tornaria a própria percepção do panteísta altamente suspeita.

Se o mal é apenas ilusão, por que a dor que ele causa é real no nível mais íntimo do ser humano?

O Ateísmo – Afirmar a realidade do mal e negar a realidade de Deus

Um silogismo famoso (Epicuro, Hume, etc.)
  • Se Deus é Todo-Poderoso, Ele pode eliminar o mal.
  • Se Deus é Todo-Benevolente, Ele eliminará o mal.
  • Mas, o mal continua a existir.
  • Logo, Deus como entendido pelos teístas, não existe.
  • I.e., se existir, não será onipotente.
  • I.e., se existir, não será onibenevolente.
O Ateísmo – Negar a bondade de Deus ou negá-lO como a Realidade Última.

Um outro silogismo
  • Ou (1) nosso senso moral existe porque Deus quis assim ou (2) Deus quis assim porque o senso moral sempre existiu.
  • Se (1) é fato, Deus é arbitrário quanto ao que é certo, e não é essencialmente bom.
  • Se (2) é fato, Deus não é a Realidade Última, pois ao menos uma vez esteve sujeito a algum padrão externo.
  • Em qualquer um dos casos acima, ou em ambos, Deus não é o que os teístas reivindicam.
  • Logo, Deus como entendido pelos teístas, não existe.
O Ateísmo – Há outras abordagens usadas por ateólogos para propor a inexistência de Deus ou a improbabilidade de Sua existência.

Deus e o mal são logicamente incompatíveis.
Deus e o mal são praticamente incompatíveis.
Deus poderia ter criado um mundo sem a presença do mal.
  • Esta é a forma mais comum de crítica ao teísmo cristão em nossos dias.
  • Ela não precisa recorrer às pressuposições embutidas nos silogismos anteriores.
Respostas Cristãs ao Ateísmo

Jay Adams ilustra uma abordagem calcada na soberania de Deus, baseando-se em Rm 9.17 (no livro The Grand Demonstration: A Biblical Study of the So-Called Problem of Evil, 1991), e argumentando que o propósito do mal (e da misericórdia) é revelar a natureza de Deus.

Vários outros autores seguem em parte o argumento de Leibnitz (este é o melhor dos mundos possíveis), sugerindo que embora este não seja o melhor dos mundos, é o melhor (e necessário) caminho para o melhor dos mundos (onde sequer a possibilidade do mal venha a surgir eternamente).

Para que o mal inexistisse, Deus poderia
(a)    não ter criado mundo algum;
(b)   ter criado um mundo sem criaturas livres;
(c)    ter criado um mundo onde criaturas livres não pecassem;
(d)   ter criado um mundo onde criaturas livres pecassem.

A resposta teísta à alegação dos ateólogos que os cenários (a), (b) e (c) são melhores que o cenário (d) é que o cenário (d) é o caminho para que tais criaturas livres eventualmente fossem definitiva e eternamente livres da presença e da ameaça do pecado e do mal por uma redenção em que o próprio Deus experimentasse o maior dos males em favor de Suas criaturas.

Maneiras Abrangentes de Lidar Com o Problema

Aqui afirma-se a realidade de Deus e do Mal.
Dentre várias formas abrangentes, destacam-se:
O Dualismo
O Panenteísmo (ou teologia do processo)
O Finitismo em várias formas
  • Deus não é onipotente
  • Deus não é onisciente
  • Deus não era livre (ou soberano) para não criar
O Dualismo – O Bem e o Mal em eterna oposição
Primeiro argumento dualista
  • Bem e mal são antitéticos.
  • Nada pode originar o seu oposto.
  • Logo, Bem e Mal são eternos.
Resposta teísta
  • A segunda premissa só é verdade em termos essenciais, não em termos incidentais.
  • Além disso, a existência de opostos não garante a eternalidade de seus primeiros princípios.
Segundo argumento dualista
  • Deus é o criador de tudo que existe.
  • O mal é algo que existe.
  • Logo, Deus é o autor do mal.
Resposta teísta
  • A primeira premissa é verdade em termos essenciais, não em termos incidentais. Deus criou os elementos necessários à combustão, mas não os incêndios. Deus concedeu a liberdade, mas não é responsável pelo seu mau uso.
  • Além disso, o mal não é uma entidade criada independente, mas a deterioração ou privação de algum bem numa entidade no que tange à sua natureza. Isso não equivale a negar a realidade do mal, mas sua realidade independente.
O Panenteísmo – Deus é coextensivo com a Criação

No panenteísmo o mal é inerente à matéria, que é vista como eterna ou pré-existente
  • Deus não é o criador mas o modelador.
  • O mal é algo que existe continuamente e será derrotado incrementalmente pela ação conjunta de Deus e dos que O Seguem.
  • Deus quer, busca, tenciona, tenta e trabalha para eliminar o mal, mas ainda não tem poder agregado suficiente para fazê-lo.
Resposta teísta

O Neo-Teísmo – Há limitações autoimpostas por Deus ao criar seres moralmente livres.
  • O neo-teísmo alega interpretar as Escrituras mais corretamente ao reconhecer limitações em Deus.
  • Alega ainda atribuir uma atividade mais direta de Satanás nos chamados males naturais.
  • Alega que a liberdade humana seja absoluta (ou libertária) para que Deus seja isento do Mal.
  • Define mal (e bem) em termos essencialmente humanos (aquilo que nos causa medo, dor e tensão).
Respostas Teístas ao Neo-Teísmo
  • O neo-teísmo lê seletivamente e deixa de lado aspectos contextuais e literários que justificam supostas limitações divinas.
  • Concede a Satanás muito mais campo de ação do que as Escrituras sugerem, mesmo à luz de “ele foi homicida desde o princípio” (Jo 8.44).
  • Acaba por isentar Deus da responsabilidade pelo bem, já que a criatura é plenamente responsável e livre.
  • Desconsidera a glória de Deus como o propósito último e maior do universo (que inclui o desfrute de Deus pela criatura que a Ele responda em fé).

Algumas Sugestões

Precisamos abordar a questão do mal a partir de uma plataforma de fé, e não apenas de reação aos argumentos dos ateólogos. Mais precisa ser dito e escrito a partir das Escrituras.

Não basta apontar para os argumentos dos ateólogos como fruto apenas de uma reação emocional à existência do mal (embora esse fator me pareça preponderante).

Precisamos cuidar para não sermos insensíveis à dor genuína, enquanto tentamos não ser coniventes com a mera especulação diletante.

Precisamos lidar exegeticamente com as alegações do neo-teísmo e com a atitude laissez-faire que ele tende a produzir. 

O que fazer quando tudo vai mal?

Sad1 
Por Mauricio Zágari
Quando alguém se casa, é comum que diga que seus votos valem "...na alegria e na tristeza, na saúde e na pobreza...".  Em outras palavras, os votos devem valer nas horas boas, alegres, quando tudo vai bem; ou na barra pesada, na tristeza, no desemprego, na doença, quando está tudo ruim. Interessante é que em nossa aliança com Deus isso parece que não vale. Para muitos de nós, quando tudo vai bem é festa na igreja, louvores de mãos erguidas, glória e aleluia. Mas quando as circunstâncias da vida desandam, passamos a culpar Deus e nos afastamos dele. Ou murmuramos. Ou agimos como quem não tem fé no Senhor. Qual é, afinal, a postura que o cristão deve ter quando tudo vai mal?

A resposta é: fazer tudo ao contrário do que dá vontade.

Como assim? A proposta do Evangelho é contracultural. É nadar contra a correnteza. É seguir na contramão. Portanto, quando dá vontade de reclamar, a proposta da Cruz é "em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco" (1 Ts 5.18). Devemos sempre ler a Bíblia com um olho no microscópio, ou seja, atentando para os menores detalhes. No caso, importa reparar na palavra "tudo". Se é para em "tudo" darmos graças, ou seja, em "tudo" agradecermos, o que Paulo nos ensina é que devemos ser gratos a Deus também quando tudo vai mal.

Sad2Estranho, não é? Mas... se pararmos para pensar, o Evangelho é estranho. Deus se fazendo homem? Deus querendo sofrer por quem não merece? Deus perdoando a escória da humanidade? Quem entende? Só que, quando compreendemos que "todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" (Rm 8.28), entendemos que, mesmo quando tudo vai mal, esse mesmo tudo está cooperando para o nosso bem. E isso nos desperta gratidão a Deus.

As tribulações também proporcionam benefícios. "Também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança" (Rm 5.3,4). Isto é, quando tudo vai mal Deus está fazendo crescer em nós perseverança (fundamental para "perseverar até o fim e ser salvo" - Mt 24.13), experiência (úteis em muitas circunstâncias e para podermos ajudar o próximo) e esperança (essencial para nos manter de pé nas piores horas).

Mas quando tudo vai mal o que é preciso fazer? O segredo Paulo nos diz em sua epístola aos Romanos: "Regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, na oração, perseverantes" (Rm 12.12). Ter paciência. E "paciência" é a "capacidade de tolerar contrariedades, dissabores, infelicidades; é o sossego com que se espera uma coisa desejada". Tolerância. Sossego. Persistência. Paz. Assim, o cristão que tem fé demonstra tolerância com os problemas, permanece sossegado na adversidade, espera com paciência Deus decretar o fim do período de duras provas, sabendo que depois tudo irá bem.

Sad3Fazer tudo ao contrário do que dá vontade. Logo, na pobreza devemos doar. Na tristeza, glorificar. No choro, agradecer. No sofrimento, esperar. Na decepção com o próximo, amar. E, em tudo isso, ter uma certeza: "Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas" (2 Co 4.15-18).

Se Deus permite que tudo vá mal hoje é para que tudo vá bem na eternidade. Por quê? Não faço ideia. O que meu desemprego e as dificuldades financeiras vão gerar de benefícios? Não sei. O que as dores que inundam meu corpo farão de bem por mim? Ignoro. O que ser vilipendiado por quem me chamava de "amigo" traz de vantagens? Só o Senhor sabe. O que amargar desamor de quem você menos esperava somará na sua vida? Difícil entender.

Sad4Fazemos festas surpresas para quem amamos, damos presentes fora de uma data especial para entes queridos, deixamos inesperados recados em batom no espelho do banheiro para nossos cônjuges. Eles não sabem que serão surpreendidos. Mas nós sabemos. Deus também gosta de nos fazer surpresas. E elas virão na eternidade. Hoje, tudo vai mal. Na vida eterna, a surpresa nos espera: "Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam" (1 Co 2.9).

Prepare-se para encarar momentos nada surpreendentes de angústia nesta vida. E prepare-se para ser surpreendido com maravilhas na eternidade.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

Amigo, é tudo ou nada!



Por Josemar Bessa
“Eu devo ter o Salvador de fato, pois Ele é o meu tudo. Tudo o que os outros têm do mundo, em si mesmos, eu tenho somente nEle – prazeres, riquezas, segurança, honra, vida, justiça, santidade, sabedoria, felicidade, alegria, prazer e felicidade...
Se uma criança anseia por seu pai, um viajante por fim da sua jornada, um operário terminar o seu trabalho, um prisioneiro a sua liberdade, um herdeiro a plena posse de sua herança, assim, em todos estes aspectos, não deixo de desejar somente Ele e ir logo para casa!” – Howell Harris ( 1714 – 1773 ).
Primeiro, - Cristo apareceu uma vez por todas para aniquilar o pecado pelo seu sacrifício – “Se assim fosse, Cristo precisaria sofrer muitas vezes, desde o começo do mundo. Mas agora ele apareceu uma vez por todas no fim dos tempos, para aniquilar o pecado mediante o sacrifício de si mesmo.” - Hebreus 9:26

Fui Salvo!

Cristo veio ao mundo para definitivamente aniquilar o pecado na vida daqueles que Ele chama por Sua graça. De maneira muito diferente dos sacrifícios que eram repetidamente oferecidos pelos sacerdotes levitas, ele ofereceu um sacrifício de uma vez por todas. O único altar do evangelho é o Calvário. Altar é o lugar onde é oferecido o sacrifício ( Eis a razão por ser absurdo chamar a plataforma na frente dos templos de altar – não existem altares na Nova Aliança senão o Calvário – A parte da frente do templo é simplesmente uma plataforma onde é pregado o evangelho – não é um lugar mais santo... um altar...).

Por isso o texto diz: “Mas agora ele apareceu uma vez por todas no fim dos tempos...”- Hebreus 9:26 – Sua obra perfeita aponta e prepara a expectativa de um fim. Sua vida, morte, ressurreição, ascensão e derramamento do Espírito, inaugurou os “últimos dias” – “mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo.” - Hebreus 1:2

A perspectiva e experiência espiritual do Antigo Testamente é descortinada para nós aqui – Lá os crentes viviam à luz das promessas de Deus e andaram pela fé, crescendo no conhecimento do significado interior dos inúmeros sacrifícios que eles presenciavam e ofereciam a Deus. Tudo aquilo para que suas mentes se fixassem no verdadeiro sacrifício que era tipificado dia após dia. Eles ainda não tinham a realidade: “Todos estes receberam bom testemunho por meio da fé; no entanto, nenhum deles recebeu o que havia sido prometido.” - Hebreus 11:39.

Todos os redimidos, no Antigo e Novo Testamento, são salvos em Cristo, num único sacrifício. Eles entenderam que a longa fila de sacerdotes e sacrifícios não poderia ser o caminho para o perdão final e aceitação deles diante de Deus: “No entanto, somente o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos, apenas uma vez por ano, e nunca sem apresentar o sangue do sacrifício, que ele oferecia por si mesmo e pelos pecados que o povo havia cometido por ignorância. Dessa forma, o Espírito Santo estava mostrando que ainda não havia sido manifestado o caminho para o Santo dos Santos enquanto ainda permanecia o primeiro tabernáculo. Isso é uma ilustração para os nossos dias, indicando que as ofertas e os sacrifícios oferecidos não podiam dar ao adorador uma consciência perfeitamente limpa.” - Hebreus 9:7-9

Ao ir a cruz Cristo libertou milhões e milhões de cativos, aniquilou o pecado, rasgou o título da dívida e deu aos verdadeiro adoradores uma consciência limpa.

Segundo, - Cristo aparece agora na presença de Deus em nosso favor– “Pois Cristo não entrou em santuário feito por homens, uma simples representação do verdadeiro; ele entrou no próprio céu, para agora se apresentar diante de Deus em nosso favor” - Hebreus 9:24

Sendo Salvo! – O que Cristo está fazendo agora? Está intercedendo por seu povo. A ideia de que nós fomos perdoados na cruz e agora é conosco – nós que manteremos a nossa salvação... é completamente antibíblica. Cristo não é apenas o Autor de nossa fé, ele a mantém até o fim – essa é a base da perseverança dos santos. Ele começou algo que Ele terminará. Quem foi justificado em seu sangue, será salvo da corrupção do mundo por Seu poder infinito e sua intercessão, onde Ele está diante do Pai em nosso favor: “Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo” – Filipenses 1.6 – Sua intercessão por aqueles que o Pai lhe deu, é invencível.

Em Hebreus 9.24 o autor de Hebreus está pensando no que aconteceu após a morte de nosso Sumo Sacerdote. Na escuridão do Gólgota Ele foi “castigado e ferido por Deus” (Is 53.4). Quando o Sumo sacerdote entrava no Santo dos santos representando o povo de Deus, suas roupas tinham sinos nas orlas para que o som deles mostrasse aos adoradores que ele estava vivo (Ex 28.33-35). Nos três dias em que Cristo esteve morto, podemos dizer que não se ouvia os sinos... Mas então Cristo se levantou  no poder de uma vida indestrutível e ascendeu à mão direita de Deus.  Sua presença ali é a evidência de que toda a dívida de todos os eleitos foi riscada e que jamais sacrifício pelos pecados precisará ser repetido. Ele pessoalmente encarna a propiciação perfeita feita pelos nossos pecados: “E olhei, e eis que estava no meio do trono e dos quatro animais viventes e entre os anciãos um Cordeiro, como havendo sido morto, e tinha sete chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados a toda a terra.” - Apocalipse 5:6 – Eis a aparência daquele que faz toda a intercessão de que precisamos: “Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós.” - Romanos 8:34. 

Aí está toda a base da santificação presente e da perseverança de todos os santos – Somos por Ele salvos no presente da corrupção do mundo e mantidos na Fé – “Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.” - 2 Coríntios 4:4 – Mas nos filhos de Deus, por Cristo, o maligno não toca (1 Jo 5.19,20). Sua intercessão vencedora que começou na terra: “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal.” – João 17.15 – Ele intercede não pelo mundo, mas pelos eleitos: “Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus.” -João 17:9 - e  continua à direita do Pai.

Sua intercessão vencedora traz no presente infalivelmente santificação e perseverança – “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. Não são do mundo, como eu do mundo não sou. Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade.” - João 17:15-17 – Pela obra e intercessão de Cristo, todos os eleitos serão, estão sendo, completamente salvos da corrupção do mundo e guardados para a redenção ( Santificação e perseverança) – Nele, por Ele e para Ele.

Terceiro -  Cristo aparecerá para salvar aqueles que estão esperando ansiosamente por Ele: “...assim também Cristo foi oferecido em sacrifício uma única vez, para tirar os pecados de muitos; e aparecerá segunda vez, não para tirar o pecado, mas para trazer salvação aos que o aguardam.” - Hebreus 9:28

Serei salvo! - Enquanto Jesus estiver a Direita de Deus nos céus, a nossa salvação será vitoriosa e permanecerá – e como Ele está ali eternamente, nada pode destruir o que Ele fez em e por nós: “Portanto ele é capaz de salvar definitivamente aqueles que, por meio dele, aproximam-se de Deus, pois vive sempre para interceder por eles.” - Hebreus 7:25 – Portanto, infalivelmente algo está no nosso futuro. Cristo aparecerá em glória para salvar os que ansiosamente esperam por Ele: “...e aparecerá segunda vez, não para tirar o pecado, mas para trazer salvação aos que o aguardam.” - Hebreus 9:28 

Todos esses que O aguardam vivem no poder da santidade que sua intercessão lhes garante: “Todo aquele que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, assim como ele é puro.” - 1 João 3:3. Estamos certamente saboreando o “Já” da salvação, mas completamente conscientes de que há um futuro, há um “ainda não” – o qual esperamos ansiosamente.

Ainda não estamos em casa com Cristo, somos peregrinos, queremos ir para casa. Você está ansioso? “desejo partir e estar com Cristo, o que é muito melhor” -  Filipenses 1:23

Pecado: Desgraça ou crime? Pecador: Vítima ou criminoso?

Por Josemar Bessa

O homem sempre viu o pecado de forma completamente diferente de Deus. A uma síndrome de vitimização nascida desde o Éden que sempre prosperou na mente humana, e que infelizmente em nossos dias, faz parte da base de grande parte do que chamamos “evangelho” hoje.

O homem sempre tratou o pecado como uma desgraça, não como um crime, como uma doença, e não como culpo, como um caso para um médico cuidando de um inocente doente e não um caso para um juiz. Quando suas bases se tornam estas, o que chamamos evangelho se torna o que essencialmente forma todas as religiões e teologias humanas.

Não reconhecendo o aspecto essencial, que é judicial da questão, não reconhece que a verdadeira resposta depende completamente em se reconhecer a completa culpa e indignidade, não havendo nenhuma reivindicação a ser feita pelo homem, sendo, sabendo e sentindo sua completa culpa diante de um Deus santo e justo que em nada está obrigado a não ser exercer sua justiça, sendo Sua misericórdia, como a própria definição da Palavra exige, prerrogativa inteiramente de quem a exerce... só justiça pode ser reivindicada. Ao fugir disso, em nada o “evangelho” se difere de todas as religiões humanas – que não vê o homem na necessidade de sinceramente reconhecer a culpa ou criminalidade como malfeitor, e não vítima ou merecedor de algo.

O pecado é um grande mal, traz infinita culpa... E as tentativas do homem de removê-la apenas a aumenta. Os esforços dos homens em se aproximar de Deus baseado em sua vitimização, ou algo bom que ainda resida neles apenas agrava a culpa ao banalizá-la.

Só Deus pode lidar com o pecado, com o crime, como uma desonra a si mesmo e como empecilho da aproximação do homem a Ele. E jamais, sendo santo, Ele lida com a culpa do homem de forma arbitrária ou sumária por mero exercício da vontade ou poder, mas ao levá-lo para julgamento em Seu próprio tribunal justo, na cruz ou no inferno.

A ira de Deus será totalmente merecida, justa e certa. Mas quão grande é a dificuldade de um “evangelho” centrado no homem sequer mencioná-la. O apóstolo Paulo minuciosamente mostra isso na primeira parte da carta aos Romanos: “A ira de Deus se revela do céu contra toda a impiedade e injustiça dos homens...” ( Romanos 1.18).

É completamente merecida. A verdade de Deus é conhecida: “Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis;” - Romanos 1:19-20. Mas essa verdade é completamente suprimida – isso desperta a ira divina, porque não é uma desgraça... é um crime. E seu fruto é a impiedade e injustiça. Muitos estão dispostos, mesmo nos púlpitos, pregar um outro “evangelho”, sem ira... mas a advertência é: “Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.” - Efésios 5:6. “Pelas quais coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência” - Colossenses 3:6

Paulo fala não só claramente, mas duramente em Romanos 2.5: “Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus;” – Culpados, não vítimas! Somos responsáveis, estamos acumulando ira com cada ato de indiferença para com Deus – vivendo como definiu Agostinho – incurvatus in si – sendo deus de nós mesmos. Dando preferência para qualquer coisa acima de Deus. Esse não é um planeta de vítimas, mas de rebeldes. Cada batida de nossos corações, cada vez que o pecado é acariciado minuto a minuto neste mundo, cada vez que Deus, o doador de todas as coisas, é tratado como maçante... culpa, culpa, culpa: “...entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus;”

Em Romanos 3.5-6, Paulo reintera: “Mas, se a nossa injustiça ressalta de maneira ainda mais clara a justiça de Deus, que diremos? Que Deus é injusto por aplicar a sua ira? ( Estou usando um argumento humano. ) Claro que não! Se fosse assim, como Deus iria julgar o mundo?”

O que poderia ser mais claro? Como um “evangelho” tão diferente pode ser pregado hoje? Porque é lógico que num mundo onde todos se veem como vítimas e o pecado como desgraça e não crime, o verdadeiro evangelho não seria visto como “relevante” para ele – e como a aceitação e parceria com o mundo é o grande objetivo em nossos dias – jogamos a verdade ofensiva no lixo. Paulo, inspirado pele Espírito, diz que esse Deus justo vai julgar o mundo com uma fúria terrível!

O problema é que o homem  acha que seus pecados não merecem esse tipo de ira – mas achar isso só mostra o quão culpado o homem é.

Um único pecado colocou o mundo inteiro sob o julgamento de Deus e trouxe a morte a todas as pessoas: “...mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá". - Gênesis 2:17“Se pela transgressão de um só a morte reinou por meio dele, muito mais aqueles que recebem de Deus a imensa provisão da graça e a dádiva da justiça reinarão em vida por meio de um único homem, Jesus Cristo.” - Romanos 5:17

Um único pecado trouxe tudo isso, e você tem cometido dezena de milhares de pecados contra este Deus. E cada pecado não é algo isolado, em cada pecado toda a lei de Deus é quebrada: “Pois quem obedece a toda a Lei, mas tropeça em apenas um ponto, torna-se culpado de quebrá-la inteiramente.” - Tiago 2:10. Ou seja, cada pecado é na verdade milhares de pecados. Você não só pecou milhares de vezes, mas cada um deles tinha a quebra de toda a lei de Deus.

Considere que uma única ofensa seria eternamente séria quando desonra um Deus infinitamente digno, uma desonra infinita. Portanto, uma punição infinita é merecida.

Só Deus pode resolver tão grande crime sendo perfeitamente justo, na cruz ou no inferno... qualquer solução vista que não essa, aumenta a culpa do desprezo a Deus em quem a propõe, e engana mortalmente quem a ouve: “Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.” - Efésios 5:6. “Pelas quais coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência” - Colossenses 3:6

Pecado ou Doença?


Por John MacArthur

Talvez a justificativa mais comum para escaparmos do sentimento de culpa seja a de classificar cada falha humana como uma espécie de doença. Alcoólatras e viciados em drogas recebem tratamentos clínicos por causa de sua "dependência química". Crianças que geralmente afrontam as autoridades podem livrar-se da reprovação sendo rotuladas de "hiperativas", ou por sofrerem de um desvio de atenção. Os glutões nunca são considerados culpados, pois sofrem de "desequilíbrio alimentar". Até mesmo um homem que abandona a vida em família e gasta seu dinheiro com prostitutas deveria ser olhado com compaixão, pois é um "viciado em sexo".

Um agente do FBI foi demitido após desviar dois mil dólares e gastá-los no cassino numa única tarde. Algum tempo depois, ele processou o FBI sob a alegação de que seu vício deveria ser entendido como uma incapacidade. Sendo assim, a demissão foi uma discriminação, um ato ilegal. Ganhou a causa! Além disso, seu seguro saúde teve que pagar sua terapia pelo fato de ser um viciado. É como se sofresse de uma apendicite ou unha encravada.

Atualmente, qualquer tipo de delito que o ser humano comete pode provavelmente ser explicado como uma enfermidade. O que antigamente denominávamos pecado é mais facilmente diagnosticado como um conjunto de incapacidades. Todo tipo de imoralidade e de conduta maldosa são agora identificados como sintomas desta ou daquela doença psicológica. O comportamento do criminoso, todo tipo de paixão imprópria e qualquer vício imaginável são passíveis de desculpas se receberem o rótulo de desequilíbrio emocional. Até mesmo os problemas mais corriqueiros como a depressão, a fraqueza emocional e a ansiedade também são universalmente definidos — quase que no mesmo nível—como desequilíbrios emocionais que neces¬sitam de cuidados médicos, e não classificados como doenças espirituais. A Associação Americana de Psiquiatras publicou um livro para ajudar os terapeutas no diagnóstico dessas novas doenças. The Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders [O manual de diagnóstico e estatística de distúrbios mentais] ( 3a edição, revista) — ou DSM-III-R, como popularmente entitulado — lista os seguintes "distúrbios":

• Distúrbio de Conduta — "um padrão de conduta persistente no qual os direitos básicos dos outros e as normas ou regras da sociedade concernentes às faixas etárias são violados".
• Distúrbio Oposicional Desafiante — "um padrão de comportamento negativista, hostil e desafiante".
• Distúrbio Hislriônico de Personalidade — "um padrão difuso de emocionalidade excessiva e busca de atenção".
• Distúrbio Anti-Social de Personalidade — "um padrão de comportamento irresponsável e anti-social, que começa na infância ou no início da adolescência e continua na idade adulta".

E há muitos outros distúrbios semelhantes. Muitos pais, influenciados por tais diagnósticos, recusam-se a punir seus filhos pelo mau comportamento. Em vez disso procuram terapia para DOD, ou DHP, ou para qualquer novo diagnóstico que se encaixe no comportamento rebelde da criança.

Segundo um escritor, a abordagem em termos de doença do comportamento humano nos oprimiu tanto, como sociedade, que nos deixou malucos. Queremos fazer leis que inocentem jogadores compulsivos quando estes desviam dinheiro, e que forcem as companhias de seguros a pagarem pelo tratamento deles. Queremos tratar pessoas que não conseguem encontrar o amor, e que em lugar disso (se mulheres) vão atrás de homens superficiais e apáticos, ou (se homens) vivem infindáveis casos sexuais, sem encontrarem a verdadeira felicidade. E queremos chamar todas essas coisas — e muitas, muitas outras — de vícios.

O que esta nova indústria do vício deseja alcançar? Mais e mais vícios estão sendo descobertos, e novos viciados identificados, até que todos nós estejamos aprisionados em nossos pequenos mundos com outros viciados como nós, catalogados pelos interesses especiais da nossa neurose. Que mundo repugnante e desesperançoso de se imaginar! Enquanto isso, todos os vícios que definirmos aumentarão. '

Pior do que isso é que o rápido aumento do número de pessoas que sofrem desses tais novos "desequilíbrios" aumenta de modo mais rápido ainda. A indústria da terapia claramente não está solucionando o problema que as Escrituras chamam de pecado. Em vez disso, simplesmente conven¬cem as multidões de que estão desesperadamente desequilibradas, e portanto, não têm nenhuma responsabilidade pelo seu mau comportamento. Isso lhes dá permissão para entenderem que são pacientes e não malfeitores. Isso também as encoraja a se submeterem a um tratamento intenso — e caro — que dura anos a fio, ou melhor, a vida toda. Parece que esses novos desequilíbrios são enfermidades que ninguém espera superar completamente.

O pecado tratado como doença provocou um crescimento enorme da multibilionária indústria do aconselhamento e o recurso da terapia de longo prazo, ou até mesmo permanente, promete um brilhante futuro econômico aos profissionais da área. Um psicólogo analisou essa tendência e sugeriu que existe uma estratégia definida na maneira de o terapeuta comercializar seus serviços:

1. Continuar a psicologização da vida;
2. Das dificuldades fazer problemas e espalhar o alarme;
3. Tornar aceitável o fato de ter problemas e ser incapaz de resolvê-los sozinhos;
4. Oferecer salvação [psicológica, não espiritual].

Ele observa que muitos terapeutas propositadamente estendem o tratamento por anos, até mesmo depois que o problema que provocou a procura do profissional tiver sido resolvido ou esquecido. "Eles demoram tanto na terapia que o paciente torna-se muito dependente do terapeuta; e um período especial de tempo — às vezes seis meses ou mais — se torna necessário para que o paciente fique pronto para deixar terapia, Recuperação," a senha dos programas que seguem o padrão dos Alcoólicos Anônimos, é claramente definida como um programa para a vida toda. Crescemos acostumados com a imagem de uma pessoa que já é sóbria há quarenta anos, mas que, ao se levantar numa reunião do AA, diz: "Meu nome é Bill e sou um alcoólico". Agora, todos os viciados estão usando a mesma abordagem — incluindo viciados em sexo, em jogo, em fumo, pessoas que cedem facilmente à raiva, em espancamento de mulheres, em violentar crianças, em dívidas, em auto-abuso, em inveja, em comida ou em qualquer coisa que seja. Pessoas que sofrem de tais males são ensinadas a falarem de si mesmas como em "recuperação", nunca como "recuperadas". Aqueles que ousam pensar sobre si mesmos como já estando livres de seus desequilíbrios ouvem que estão negando seu problema.