sábado, 6 de julho de 2013

A CHAMADA PARA O MINISTÉRIO



Por Pr. Silas Figueira

Creio que a vida do pastor começa com o seu chamado. Muitos pensam que é o seminário que faz o pastor, mas não é. O papel do seminário é a formação acadêmica do vocacionado. Erwin Lutzer define o chamado pastoral assim: “O chamado de Deus é uma convicção interior, dada pelo Espírito Santo e confirmada pela Palavra e pelo corpo de Cristo”.1 Agora é bom deixar claro que existe o pastor chamado e o chamado pastor. O primeiro é vocacionado por Deus, já o segundo se auto vocaciona.

A vocação para o pastorado é a mais sublime de todas as vocações. O Rev. Hernandes Dias Lopes citando John Jowett diz que vocação pastoral não acontece quando você busca fazer medicina, e não consegue passar no vestibular; corre para engenharia, e não logra êxito; bate à porta de outro curso universitário, e também fracassa; então, conclui que Deus está abrindo a porta do ministério. Ao contrário, vocação pastoral é quando todas as outras portas estão abertas, mas você só anseia entrar pela porta do ministério. O chamado de Deus é irrevogável e intransferível. Quando ele chama, chama eficazmente.2 Os vocacionados não são profissionais, frutos de uma decisão meramente humana nem são sacerdotes separados por uma herança familiar. São homens separados com um propósito divino.

CARACTERÍSTICAS DO CHAMADO

Certamente nem todos são chamados por Deus da mesma maneira. Deus chama pessoas diferentes, em circunstâncias diferentes, em idades diferentes, para ministérios diferentes. Ao olharmos para os homens de Deus, tanto no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento, encontramos pessoas com diversos chamados. O chamado de Deus é intransferível, irrevogável e é uma chamada eficaz. Com ele obtemos a firmeza de propósito para o ministério sem olhar para trás.

Como já falamos o chamado não ocorre da mesma maneira com todos os vocacionados. Para algumas pessoas a chamada pode ser repentina; para outras, pode ser gradativa. Uma pessoa pode não sentir nenhum chamado até ser incentivada por outras pessoas. Veja o exemplo de Eliseu:

“Partiu, pois, Elias dali e achou a Eliseu, filho de Safate, que andava lavrando com doze juntas de bois adiante dele; ele estava com a duodécima. Elias passou por ele e lançou o seu manto sobre ele. Então, deixou este os bois, correu após Elias e disse: Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe e, então, te seguirei. Elias respondeu-lhe: Vai e volta; pois já sabes o que fiz contigo. Voltou Eliseu de seguir a Elias, tomou a junta de bois, e os imolou, e, com os aparelhos dos bois, cozeu as carnes, e as deu ao povo, e comeram. Então, se dispôs, e seguiu a Elias, e o servia” (1Rs 19.19-21).

O exemplo da vida de Elizeu se repetiu na vida do jovem teólogo João Calvino. Diz a história que João Calvino passou a noite em Genebra depois que o inflamado pregador Ferrel lhe apontou o dedo e disse: “Se você não ficar aqui em Genebra e não ajudar o movimento da Reforma, Deus o amaldiçoará!”. É certo que foi algo incomum, mas será que alguém discorda de que Calvino fora chamado por Deus para ministrar em Genebra? Pergunta Lutzer.3

Outro exemplo que temos é o chamado de Jeremias, que foi chamado por Deus ainda criança.

“A mim me veio, pois, a palavra do SENHOR, dizendo: Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e, antes que saísses da madre, te consagrei, e te constituí profeta às nações. Então, lhe disse eu: ah! SENHOR Deus! Eis que não sei falar, porque não passo de uma criança” (Jr 1.4-6).

O apóstolo Paulo teve um chamado direto apesar de ser perseguidor da Igreja.

“Saulo, respirando ainda ameaças e morte contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote e lhe pediu cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de que, caso achasse alguns que eram do Caminho, assim homens como mulheres, os levasse presos para Jerusalém. Seguindo ele estrada fora, ao aproximar-se de Damasco, subitamente uma luz do céu brilhou ao seu redor, e, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Ele perguntou: Quem és tu, Senhor? E a resposta foi: Eu sou Jesus, a quem tu persegues; mas levanta-te e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer” (At 9.1-6).

“E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado” (At 13.2).      

“Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial, mas anunciei primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da Judéia, e aos gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento” (At 26.19,20).

No entanto, vemos algo comum em todos eles, foi o Senhor quem os comissionou. Com isso podemos aprender algumas lições:

O Senhor é quem dá pastores à Sua Igreja. Ao olharmos para a vida dos comissionados pelo Senhor através da lente das Escrituras Sagradas, nós encontramos pessoas que questionaram o seu chamado, pois não se viam capazes para realizar tão grande obra. Eram pessoas que, humanamente falando, não tinham condições de exercer o chamado divino. Mas com isso aprendemos que quem comissiona também capacita. Vejamos alguns exemplos bíblicos. Moisés era pesado de língua - gago (Êx 4.10); Jeremias não passava de uma criança (Jr 1.6); Paulo se considerava o menor dos apóstolos e o maior dos pecadores, no entanto o Senhor o colocou no lugar de maior honra na história da Igreja. Pedro se via como um homem pecador (Lc 5.8-10). Aprendemos com esses exemplos que nenhum pastor pode fazer a obra do Senhor de forma eficaz com altivez e orgulho. A soberba precede a ruína. A vaidade é a antessala do fracasso. Toda glória que não é dada a Deus é glória vazia. Não estamos no ministério porque somos alguém, estamos para anunciar o único que é digno de receber toda honra, glória e louvor.4  Estamos no ministério mediante a graça de Deus e não por capacidade humana.

Deus dá Pastores à Sua Igreja. Em Efésios 4.11, nós encontramos a relação de cinco ministérios específicos, apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. A maioria dos teólogos entende que pastores e mestres constituem um só ofício com dupla função. O pastor ensina e exorta. A sua função é alimentar, cuidar, proteger, vigiar e consolar as ovelhas (At 20.28-30).  Embora todo pastor deva ser mestre, nem todo mestre é pastor.  Atualmente nós temos visto uma distorção em relação ao que realmente seja ser pastor e pastorear.

Para muitos o pastorado é simplesmente um status. Um título que foi alcançado através do estudo em um seminário. Por isso que encontramos muitos pastores incrédulos; e por não ter fé, o pastor incrédulo tem que direcionar seu ministério e seu culto para áreas onde sua incredulidade passe mais despercebida. Daí, a liturgia formalista, o ritual litúrgico elaborado, as recitações, as fórmulas, os paramentos, as cores, os símbolos, tudo voltado para ocupar os sentidos de maneira que a fé não faça falta. Não estou afirmando que toda igreja com liturgia formalista seja necessariamente liderada por um pastor sem fé; apenas que é mais fácil disfarçar a incredulidade em custos assim.5

Mas se existe o infiel, existem também os fiéis. Os que levam Deus a sério e o seu chamado para o ministério. São homens que deixaram seus projetos para realizar o projeto de Deus. Que abraçaram a causa do Mestre sabendo que o que estavam fazendo era para glória, honra e louvor do Senhor dos senhores apenas. Homens que podem falar como o apóstolo Paulo: “Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus” (At 20.24).

E quando todos esquecem?



Por Alexandre Nobre

Uma das experiências mais difíceis na vida cristã é quando passamos por alguma dificuldade e, de uma hora para outra, parece que não há ninguém quem nos possa ajudar. É difícil sim ... e dói ... como dói! Mas esse tipo de experiência, invariavelmente, todos os cristãos passam; aliás me atrevo a dizer que esse “deserto” em meio à dificuldade é algo que todos os seres humanos experimentam, sejam cristãos ou não.

Mas, falando do deserto na vida cristã, posso dizer, eu já passei por ele, você provavelmente também, mas por mais que essa experiência seja um tanto comum, a maneira de lidar com essa situação é muito particular, ou seja, cada um de nós reagirá de forma pontual diante dos desertos da vida espiritual.

Claro que esse post não tem a intenção de ser o manual da vida cristã no deserto; definitivamente não! Porém, algumas experiências vividas e o desabafo de uma irmã em Cristo me impeliram a escrever de forma objetiva como podemos enfrentar esse sofrimento; claro que tudo isso seria nada, se o que você vai ler a partir de agora não estivesse pautada nas Escrituras Sagradas.

Como descrevi, foi o desabafo de uma irmã que me fez relembrar meus desertos, de como eles me fizeram chorar e de como me ensinaram. Nessa conversa, a irmã me disse a seguinte frase: “(...) me senti assim sem rumo olhando para um lado pro outro e não via ninguém nada pra onde eu pudesse correr”. A conversa se estendeu por vários minutos, quase uma hora, e biblicamente tentei apresentar forças à minha irmã; forças essas que, obviamente não vêm de mim, mas da Palavra de Deus e do Espírito Santo.

Essa irmã resolveu não me contar o real motivo desse sofrimento. Mas enquanto ela desabafava, minha mente montava a cena, quadro a quadro, cada palavra que ela me falava me fazia imaginar seu sofrimento. E, após ouvi-la atentamente, resolvi expor minha opinião e de alguma forma ajuda-la a enfrentar essa situação.

Claro que minhas palavras não salvaram minha amiga do seu sofrimento, mas sabemos que toda a palavra de Deus é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, redargüir, e instruir em justiça (II Tm 3:16) e o Senhor foi glorificado em Sua Palavra.

Essa situação me fez pensar muito sobre o deserto da vida cristã. Por que acontece? Por que Deus permite? Por que parece que Deus nos esqueceu? Como em tudo e em todas as coisas, a Palavra de Deus tem as respostas, vejamos:

No deserto, conhecemos a nós mesmos

É justamente nos piores momentos da vida que revelamos nossa verdadeira natureza. Quando somos perseguidos, destratados, deixados de lado, esquecidos; nesses momentos o que era prioridade fica em segundo plano; aquilo que não vivíamos sem, nessas horas são esquecidas em algum canto da casa; dessa forma, invertemos padrões e mudamos conceitos. É muito comum nos surpreendermos conosco quando passamos por grandes dificuldades. A raiva escondida vem à tona; o orgulho velado se eleva e se apresenta; o medo oculto se revela; e não adianta mais máscaras: somos nós sim; patentes e nus diante de Deus e de nós mesmos. E é justamente aí que precisamos fazer uma auto avaliação. Quem somos? O que nos levou a agir dessa forma? Esse momento também é importante para analisarmos nossa fé em Deus, afinal se estamos desesperados, pode ser que não estejamos tão inabaláveis assim. É preciso pensar a respeito.

No deserto, nosso caráter é provado e aperfeiçoado

Uma famosa frase do filosofo grego Epicuro (341-270) diz que “Os grandes navegadores devem sua reputação aos temporais e tempestades”. Espiritualmente, é no deserto que podemos ser aperfeiçoados em Deus, pois toda nossa independência é colocada à prova e, muitas vezes por estarmos cansados de lutar contra as provações, nos rendemos sem reservas aos cuidados de Deus. É aí que começa a prática do salmo de número 40, onde não temos mais opções, a não ser esperarmos com paciência no Senhor, confiando em Seu cuidado e correção.

No deserto, Deus nos trata de forma especial

É impossível não se emocionar quando lembramos dos cuidados do Senhor sobre nossas vidas quando passamos pelo “vale”. Nos momentos em que parece que estamos distantes de Deus, na verdade, por Ele estamos sendo provados e aperfeiçoados. O profeta Oséias, em seu livro, traz uma interessante palavra de qual é nossa situação quando estamos no deserto. No capítulo 13, verso 5, ele diz: “Eu te conheci no deserto, na terra muito seca”. O contexto da mensagem diz respeito a como Deus tratou com seu povo, tirando-o do Egito, atravessou o deserto e como Israel se entregou à idolatria. Deus conhecia o futuro de Israel, porém em Sua longanimidade Ele se voltou ao Seu povo, e dele teve misericórdia. O período do deserto de Israel foi de aprendizado, pois suas ações ficaram registradas na memória do povo, de geração à geração, provando a misericórdia do Senhor. Deus tratou Seu povo de forma especial e única; assim, quando, em comparação, passamos pelos nossos desertos na vida espiritual, Ele nos trata de forma especial também.

Então ...

Não nos esqueçamos que, mesmo em meio ao silêncio de Deus; à Sua provação e repreensão, Ele sempre olha pelos Seus filhos. Veja o que diz Isaias no capítulo 49, verso 15: “Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti.”Aleluia!! Que maravilhosa promessa!! Se você está passando pelo deserto espiritual, ou ainda venha a passar, em tudo ofereça a Deus sua adoração. Que suas lágrimas, seus gemidos e até sua tristeza sejam para a glória Dele, pois essa leve e momentânea tribulação produzirá em você um peso de glória mui excelente (II Co 4:17).

Se quando passares pelas provas do deserto espiritual, e, assim como minha amiga, procurar ajuda nas pessoas e não encontrar, não desanime. Uma conhecida música evangélica diz assim: “Se tanta gente tentou te ajudar mas não deu, não julgues, porque é de Deus; tem coisas que só Jesus faz”. É bem verdade ... Deus pode permitir que passemos pelos desertos e que todos à nossa volta nos abandonem para que provemos da fidelidade do Senhor, assim como Seu povo Israel no deserto; assim teremos mais confiança e comunhão com nosso Deus, e assim como Jó, poderemos dizer: “Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos.”

Que o Deus de paz nos ajude