quarta-feira, 17 de julho de 2013

ESTÁ DIFÍCIL!


 
Por Isaltino Gomes Coelho Filho

Esta crônica é mais choradeira que outra coisa. Mas sejam pacientes. Exerçam a misericórdia comigo. Li esta notícia que reproduzo ipsis literis, do jornal “O Globo”: “A música piorou nas últimas décadas. O que parece relativo quando dito por um crítico ganhou tons científicos com um estudo realizado pelo Conselho Nacional de Pesquisa da Espanha. Pesquisadores, através de programas de computador, analisaram 464.411 músicas populares do Ocidente lançadas entre 1955 e 2010, incluindo pop, rock, hip-hop, folk e funk. Com os resultados obtidos, avaliaram tendências com o passar dos anos. As diferentes transições entre combinações de notas diminuíram de número nas últimas décadas. A variedade de timbres na música pop também caiu significantemente desde os anos 1960. Sobre este fato, a conclusão dos pesquisadores é que os compositores tendem a se manter fiéis às mesmas qualidades de som obtidas anteriormente. O volume, porém, tem aumentado desde 1955, em uma ‘espécie de corrida pela música mais alta’”.
Em outras palavras: o volume de decibéis tem substituído a qualidade. O sentido da música não está mais na letra nem na harmonia dos sons, mas na agitação. Isto me parece estar em consonância com a cultura atual em outros níveis. Nós não nos comunicamos mais cognitivamente, mas gestualmente ou corporalmente. A qualquer hora em que alguém ligar a televisão verá um grupo se sacolejando. A cognição cedeu lugar aos sentidos. A razão tem sido posta de lado em detrimento da sensação. O que importa não é o que se expressa verbalmente, mas o que se sente.
Sempre ávidos por novidades mundanas, alguns segmentos da igreja embarcaram nesta tendência. A música evangélica também tem sido empobrecida (e como!) e sua comunicação maior não está no que sua letra diz, mas no quanto faz as pessoas se sacudirem. Desta maneira, os sentidos prevalecem sobre a cognição. E quanto erro teológico se canta! Avalia-se o culto por quanto as pessoas se mexeram, e não por quanto aprenderam sobre Deus e como isto impactou sua vida. Pensei muito nisto nestes dias. Preguei duas noites no Congresso Inspirativo da COBAP (Convenção Batista Amapaense) e nas duas noites ouvi cantar o Quarteto Dom de Livre, de Campinas, que havia cantado três vezes em minha ex-igreja, a Cambuí. No domingo pela manhã, o Dom Livre cantou na Central de Macapá. Fiz o que nunca fizera em 41 anos de ministério pastoral: abdiquei de pregar para eles cantarem. A pregação foram seus cânticos. Tanto na COBAP como na Central, o auditório ficou extasiado. O Quarteto cantou hinos compreensíveis e, o que está se tornando difícil de encontrar, hinos cristológicos. Cristo foi cantado, e não as sensações do adorador. O foco do culto foi Jesus e não o adorador.
À noite tivemos conosco a irmã Cristina Capareli, que foi membro da igreja. Seu esposo, militar, foi transferido, há sete anos. O casal aproveitou o feriado prolongado para vir a Macapá para a filha ver a cidade onde nasceu. Foi outro grande momento: Cristina não grita, não tremelica a voz, não se pavoneia. Apenas canta. Não é artista, é serva. Que impacto espiritual ouvi-la em “Cidade Santa”.
Não se trata de rabugice de velho nem lamúrias de pastor cheirando a naftalina. Apenas uma constatação: o evangelho está se tornando cada vez mais matéria de sentimento, e o culto cada vez mais expressão de movimentos. O homem é o foco do culto. Deus foi glorificado se as pessoas se sentiram bem ou se se expressaram. Por isso que hoje, quando recebo convite de uma igreja para pregar, minha primeira pergunta é como é a liturgia da igreja. Muitas igrejas querem um pastor mais conhecido, para dar notoriedade ao culto e convidam um ou dois cantores famosos. O que prego não faz diferença. O que importa é que eu vá, pois sou um pouco conhecido, e isso dá peso ao evento. E segue o culto: um cantor apresenta uns quatro hinos sem nexo um com o outro e sem conexão com o que prego. Após a mensagem, mais músicas, porque o investimento no cantor precisa ser recompensado. O culto vira uma colcha de retalhos com partes que não se tangenciam. O que o pregador expôs da Palavra de Deus é logo esquecido, porque o cantor “levanta a galera”. A sensação triunfa sobre a reflexão.
Converti-me numa igreja em que Cristo era pregado com convicção, todos os domingos. O pastor se chamava João Falcão Sobrinho, e a igreja era Acari, no Rio de Janeiro. Aprendi a refletir sobre a Palavra de Deus e a procurar internalizá-la. Minha família não era crente e eu era um menino de catorze anos. Morava com meu pai e um primo nos fundos de um bar, na Penha. Para um adolescente, era “barra”, como se diz. O culto me alimentava por uma semana. E era aguardado sempre com expectativa porque no próximo eu iria aprender sobre Deus. Hoje, quando não prego e vou me congregar com irmãos de outra igreja, sempre me aflijo: aonde vou? Gosto de ouvir falar de Jesus, gosto de ver a Bíblia ensinada, e não tenho paciência com barulho. Fiquei um ano e oito sem pastorear (por opção). Viajei muito. Em um ano e meio fiz sessenta viagens. Mas quando estava em casa e precisava me congregar (não consigo ficar sem ir à igreja prédio) me afligia. O que encontraria? Seria alimentado ou seria chamado por um animador de auditório a me sacudir?

Gente como o Dom Livre e como Cristina Capareli estão rareando (eles são jovens, diga-se). A música de qualidade está escasseando. O culto com início, meio e fim, com uma mensagem progressiva, em que todas as partes caminham na mesma direção também está sumindo. A pobreza cultural do mundo se reflete na pobreza bíblica e teológica da igreja.

É, envelhecer é fogo. Mas ter senso analítico também. A gente nem sempre aceita se banalizar. E nossos cultos estão se tornando tão banais! Quando não puder mais pastorear, para onde irei?

Por que Jesus não veio antes (ou depois)?



Se Jesus é o único caminho para o Céu, porque Ele foi crucificado bem depois do início da História? Se é o único caminho, porque Ele não foi enviado à Terra após o primeiro pecado para ser crucificado pelos pecados do mundo? Porque Jesus foi enviado num tempo determinado, e não mais cedo ou mais tarde? Romanos 5.6 diz:

“Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios”.

Mas como a Bíblia não diz porque este foi o melhor tempo, então, só podemos especular.

Não foi cedo demais

Porque Deus simplesmente não desce e se mostra para todo mundo? Se Deus viesse em toda a Sua glória, nós seríamos destruídos! Porém, Deus é Todo Poderoso, e Ele poderia vir ocultando bastante Sua glória, o suficiente para que Sua presença direta não nos destrua. Se Ele descesse de uma maneira que nos obrigasse a crer, então como poderíamos ter fé, ou decidir livremente sem que se estivesse sob coação? Mas se Deus viesse ocultando parte da Sua glória, e desse evidências de quem Ele era, mas não de uma maneira que fosse tão óbvia para todo mundo que as pessoas teriam necessariamente que crer, querendo elas ou não, quantas vezes Deus teria que fazer isto? E se Ele fez isto apenas uma vez, há 2 mil anos?

Maior parte da população veio depois de Cristo

Segundo estimativas, cerca de 100 bilhões de pessoas já viveram na Terra. Destas, talvez uns 80% nasceram depois da vinda de Cristo.

Justiça para os que vieram antes

Deus olha para as pessoas de acordo com a verdade que elas detém; o pecado não era contabilizado quando não havia lei (Rom. 4.15; 5.13). Então as pessoas que viveram antes de Cristo, como Abraão, Moisés, Davi poderiam ser salvos através de Cristo, mesmo que Ele não tivesse vindo ainda.

Tempo de relativa paz

A época em que Cristo veio foi um período de relativa paz comparada com os tempos anteriores, das conquistas do Império Romano, e depois, com as guerras romanas contra o império Parta (ou Arsácida) e as invasões bárbaras ao Império Romano.

Melhor época para expansão

Os romanos construíram extensas estradas. Se Jesus tivesse vindo antes deste tempo, seria muito mais difícil a divulgação do evangelho para terras distantes. Se Cristo viesse hoje, ele teria disponível um grande número de ferramentas para alcançar pessoas em todo o mundo, como a TV e a Internet. Entretanto, este pensamento pode ser enganoso. Muito do que temos hoje no tocante ao desenvolvimento social, humano e tecnológico advém justamente do fato de Jesus ter existido. Se o Filho de Deus nunca tivesse encarnado, a nossa civilização teria tomado, certamente, outros rumos, e é bem possível que tivéssemos um mundo pior do que temos hoje.

Preservação dos materiais

Se Ele tivesse vindo bem mais cedo, nós poderíamos ter muitos poucos manuscritos mostrando a confiabilidade do Novo Testamento.Se tivesse vindo séculos mais tarde poderíamos ter mais, mas mesmo assim temos cerca de 10000 manuscritos e fragmentos do Novo Testamento. O mais antigo, por sinal, é o papiro John Rylands, datado de 110-138 d.C.

Mais uma vez, se Cristo tivesse vindo nos tempos modernos, nossas mídias digitais permitiriam não só a propagação, mas a conservação de uma maneira muito mais eficiente de tudo o que Jesus fez. É claro, tudo isto é especulação; e não há motivo para pensar que as pessoas creriam com mais facilidade nos seus ensinamentos hoje do que há dois mil anos. Não é a qualidade nem a quantidade de argumentos e provas que converte um homem, mas a misericórdia de Deus que regenera o coração do pecador para que ele, voluntariamente, creia nas verdades divinas para a sua salvação