quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Pastor desviado deve sair do armário?



Por Zé Luís

A tradução da palavra “meditar” em espanhol é “ruminar”, ato bovino de regurgitar o alimento já engolido, tornando a masca-lo, intencionando extrair dele mais do que na primeira mastigação. Em termos de reflexão pessoal, isso é um exercício muito útil.
 
Recebi recentemente, através de um comentário anônimo, a seguinte pergunta:
 
“Pastor desviado deve sair do armário?”
Você- assim como eu - deve estar se questionando sobre qual o real significado da pergunta. Como não consigo imaginar quais dos meus oito leitores poderia te-la feito (e anonimamente, coisa que não fazem) – e que na verdade nem é o verdadeiro interesse da questão – tentei não ter tanta pressa para opinar sobre tão delicado questionamento entre nós, cristãos confusos. Além do mais, a questão pode ter diversas respostas implicadas.
 
“Sair do armário” é o termo usado quando um homossexual resolve assumir suas preferências sexuais diante de seu meio social, incluído gente que provavelmente se entristecerá com a noticia. Ainda hoje, por mais que a militância gay trabalhe para que essa opção seja irrestritamente aceita, ainda não se consegue conter a frustração de muitos familiares que sabem o quanto tal decisão fará sofrer aquele que a assumiu, assim como este, parece não faze-la por opção.
Este “pastor”, citado na pergunta, estaria desviado por ser gay? Não creio que seja isso. No mundo cristão evangélico, um homem pode ser aceito como tal, desde que não pratique o ato. Isso o isentaria de dizerem que ele é, embora haverão sempre comentários maldosos sobre os possíveis trejeitos efeminados do sujeito. É um mundo hipócrita, muitas vezes.
 
Desisti de me ater ao “sair do armário”e me foquei então em “desviado” e “pastor”.

No que consiste ser um desviado? Em uma igreja mais tradicional, se for uma mulher usando calças, ou por cortar pontas de cabelo, certamente estarei incluso no grupo.
Dependendo do ambiente religioso cristão em que fui “doutrinado”, posso estar fora da risca limitadora que me mantém salvo se por acaso não respeitar o sábado, se comer carne suína, se não der o dízimo, se não for em todos os cultos, se falar em línguas, se não falar em línguas, se não me ater ao livro de regras denominacionais locais ou mesmo questionar as preferências políticas impostas, com alegações estapafúrdias relacionadas a crenças bíblicas...
Dentro destes poucos parâmetros apresentados (em um universo muito mais vastos de indagações possíveis, já que a criatividade e a imbecilidade humana é infinita), creio que não sobrarão muitos pastores, presbíteros, ministros, levitas, anciãos, anjos, querubins, serafins, que não estejam de alguma forma desviados. Mesmo porque, em um denominação sou salvo e benção, e atravessando a rua, em outra, sou o diabo em pessoa.
Conheço gente que acredita que a sua igreja – comprovadamente equivocada em suas doutrinas – errou em condená-lo a “não-salvação”, mas por mais que se tente incorporá-lo em uma que detém a sã doutrina, este prefere a antiga, mesmo doentia, sabendo que jamais alcançará tamanha exigência de santidade. Ele escolhe continuar no tradicional erro.
Como, sendo pastor (ou no caso das igrejas que aceitam, outro desvio a ser apontado) ou pastora, gente que galgou tantos degraus, abandonar toda essa doutrina assimilada – não com pouco afinco - para transmitir, e revelar-se contrário a ela? Se fosse apenas uma simples ovelha de banco, mas um pastor(a)?
Como não pensar em Abraão e seu filho, para tentar acalmar a alma, quando esta prestes a cumprir a Ordem, em nome da Verdade, abrir mão de seu Isaque, seu bem maior e mais querido.
 
“Aguarde aqui e voltaremos...” disse Abraão quando subiu ao monte com o filho para o sacrifício. Ele sabia que voltaria com seu maior afeto, apesar de caminhar para a morte certa dele, por ordem de quem lhe dara tudo. Abraão não se apegou às conquistas, sabia que não havia situações irreversíveis Naquele que o chamou no início de sua jornada.

Não havia medo nem insegurança. Por isso ele era ímpar para Deus.
 
Nós nos apegamos a essa coisa requintada que a palavra “ministério” nos dá, embora o Espírito, suavemente aponte, que ainda não estamos no trilho que Ele projetou.
Um pastor que vai “sair do armário” deve saber o que um gay enfrenta: o mundo – ou mundinho? - ruirá sobre sua cabeça, e muita solidão será sua principal companheira. Aquele meio social que – supostamente – o amava, o tratará no máximo, com o carinho que damos aos amados com doenças infecto-contagiosas.
Um gay sabe disso, um desviado sabe disso, que decide pela Verdade saberá disso.

O QUE É SER PASTOR?

Por Pr. Silas Figueira
Ser pastor em primeiro lugar é ser humano. Alguém que vive os mesmos dilemas que qualquer membro da comunidade cristã vivencia. É viver a vida com graça, e manifesta a graça do Senhor, mesmo quando as circunstâncias são adversas.
Ser pastor é ter a consciência de que foi escolhido por Deus, para fazer parte do grupo que exerce o mais excelente ministério (1Tm 3.1). É fazer parte do grupo que desiste dos seus sonhos profissionais e de sua carreira para sonhar os sonhos que o Senhor tem traçado para sua própria vida.
Ser pastor é doar-se aos demais. É ser uma pessoa aberta e sempre acessível aos seus irmãos e também ao seu próximo. Isto implica muitas vezes ter que abdicar de horas de sono. É necessário em muitos casos, vencer o seu cansaço para poder ajudar alguém ou até mesmo ter uma palavra amiga para uma pessoa aflita ou alguém que está em sofrimento.

Ser pastor é ser mensageiro de Deus. Anunciador das boas novas. É ser uma voz que clama com ousadia. Muitas vezes, a mensagem será dura, outras promoverá conforto e consolo. Muitos compreenderão os seus pecados e render-se-ão aos pés do Salvador. Ser pastor é ser voz e nada, além disto.
Ser pastor é ser guia. O pastor segue o caminho antes dos demais. Orienta os seus irmãos e mostra-lhes qual o caminho que deve ser seguido. Isto significa que, enquanto todos estão em segurança, muitas vezes o pastor está a percorrer o pântano tenebroso para poder conduzir o rebanho ao qual serve em segurança (Sl 23.4). Ele não abandona os seus, está presente na hora da angústia a guiá-los em segurança.
Ser pastor é chorar em silêncio. É sofrer sozinho. É ser alguém que tira forças de onde muitas vezes parece que já não existe nenhuma para poder fortalecer os que em sofrimento lhe procuram. É ser consolado pelo consolo e conforto que vê que promoveu na vida dos seus irmãos. É alegrar-se na vitória daqueles que ele tanto ama.
Ser pastor é fundamental e acima de tudo, é ser um cristão salvo pela graça do Senhor Jesus. É alguém que compreendeu que sua vida não faz sentido sem a comunhão e intimidade com o Senhor e o seu povo.1
Podemos dizer com isso que o pastor não é um voluntário, mas uma pessoa chamada por Deus. Sua motivação não está em vantagens humanas, mas em cumprir o propósito divino. O ministério não é um palco de sucesso, mas uma arena da morte. O ministério não é um camarim onde colocamos máscaras e assumimos um papel diferente daquele que, na realidade, somos, mas é um campo de trabalho cuja essência é a integridade. Abraçar o ideal do ministério é abrir mão de outros ideais.2 O ministério é árduo, espinhoso, difícil. Só mesmo os chamados resistem. Dois vocábulos são usados por Paulo em 1 Coríntios 4.1, Uperetes (ministro) e oikonomos (despenseiro, mordomo) significando remador e administrador respectivamente. Todos os dois no sentido de serviço laborioso, organizado e sistemático.
“Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus” (1Co 4.1).

A palavra “ministro” na língua portuguesa representa o primeiro escalão do governo. No entanto, se olharmos a palavra “ministro” no campo religioso, estaremos falando de alguém que exerce a função de líder religioso na igreja local. Todavia, a palavra usada pelo apóstolo Paulo para definir o ministro nos dá uma ideia totalmente contrária. A palavra grega usada é Uperetes, que significa um remador de galés. Essa palavra era utilizada para a classe mais simples de escravos. A palavra Uperetes só aparece aqui em todo o Novo Testamento. Nos grandes navios romanos existiam as galés, que eram porões onde trabalhavam os escravos sentenciados à morte e eles prestavam um último serviço antes de morrer. Eles tinham seus pés amarrados com grassas correntes e trabalhavam à exaustão sob o flagelo dos chicotes até à morte. Paulo está dizendo para não colocarmos os holofotes sobre um homem, porque importa que os homens nos considerem uperete e não como capitães do navio. O ministro da igreja é um escravo já sentenciado à morte, que deve obedecer as ordens do Capitão do navio, o Senhor Jesus.3
Paulo utiliza agora uma nova figura. Ele diz que o pastor é um despenseiro ou mordomo. A palavra grega utilizada por Paulo é oikonomos, de onde vem a palavra mordomo. O ministro é um despenseiro, aquele que toma conta da casa do seu senhor. Em relação ao dono da casa, o mordomo era um escravo, mas em relação aos outros serviçais, ele era o superintendente. O mordomo era a pessoa que cuidava da despensa, da dieta, da alimentação de toda a família. Ele era um escravo de confiança da casa. O que isso nos sugere?
a) Não é competência do mordomo prover o alimento para a família; essa era uma responsabilidade do dono da casa. O ministro do evangelho não tem de prover o alimento, porque esse já foi provido. Esse alimento é a Palavra de Deus. Reter a Palavra ao povo é um pecado.
b) Não era função do mordomo buscar outra provisão ou qualquer alimento que não fosse pelo senhor. A Palavra de Deus deve ser ensinada de formas variadas. Paulo diz para ensinarmos todo conselho de Deus (At 20.27). Nos dias atuais nenhum homem ou mulher recebe mensagens novas de Deus. Tudo o que Deus tem para nós já está nas Escrituras. A pregação de hoje não é revelável, mas expositiva.
c) A função do mordomo era servir as mesas com integridade. O ministro não é um filósofo que cria a sua própria filosofia. Não é assim o despenseiro. Ele não cria uma doutrina, uma teologia ou uma ideia a fim de aplicá-la e ensiná-la. Cabe a ele transmitir o que recebeu. E Paulo sempre usa essa expressão: “[Eu] vos entreguei o que também recebi” (1Co 11.23; 15.3).4
Os ministros deverão ter chamada específica e caracterizar-se por fidelidade, piedade, responsabilidade, integridade e ter familiaridade com a palavra de Deus. Hoje em dia, é muito fácil encontrarmos obreiros administradores, construtores e sistemáticos dentro de padrões humanos. Porém a obra carece de obreiros que distribuam o alimento, que é a Palavra, diretamente de Deus aos corações, e isto será feito a partir da utilização de dons que destacam o lado espiritual da obra de Deus, em contraste com as obras meramente humanas como construções, aquisições e conceitos baseados na lógica e ciência puramente humana.
O verdadeiro obreiro também será aquele que sabe conviver com responsabilidade de seu chamado e as críticas que advirão desta chamada. Somos vitrine, expostos a juízos: de Deus, da Igreja, de nós mesmos e da sociedade como um todo.

Façamos das palavras de Paulo a Timóteo nosso lema: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15).

O obreiro como ministro de Cristo, deverá acima de tudo ter a habilidade de abrir portas, caminhos (construir pontes), unir distâncias, pessoas e vidas. Em suma, não haverão portas fechadas aos servos de Deus, no que depender do seu testemunho.