segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A grandeza de pedir perdão

Perdao1 
Por Maurício Zágari
Há alguns dias uma pessoa me pediu perdão. Foi alguém que me causou mal meses atrás ao fazer afirmações a meu respeito que foram muito além de quem eu sou, de minhas atitudes e das verdadeiras intenções de meu coração. Confesso que eu jamais esperaria que, passado tanto tempo, chegasse aquele e-mail, com palavras tão cristãs: "Por ser essa vil pecadora, peço-lhe humildemente perdão por tudo o que lhe fiz, por ter deixado o mal exercer o domínio da minha vida, quando permiti que o pecado entrasse em meu coração (...) A vida não para pra gente consertar os erros, porque erros não se consertam, apenas os confessamos e esperamos que pela misericórdia sejamos perdoados". Admito que fiquei muito comovido.  Muito, muito, muito. Chorei uma manhã inteira. Pois, embora o perdão seja um dos alicerces do Evangelho, poucos são os que têm a grandeza de realmente superar seu orgulho e reconhecer os erros. Mesmo que no passado aquela pessoa tenha apresentado para pessoas importantes em minha vida uma imagem distorcida de mim e de meus atos, no presente seu gesto tornou-a admirável aos meus olhos. E tenho certeza que muito mais aos olhos de Deus.

Existe uma ideia de que admitir um erro e pedir perdão seria "se rebaixar". Mas é exatamente o contrário: é um gesto de bravura, humildade bem-aventurada e que prova crescimento espiritual de um servo de Deus. Quando li o email eu não perdoei tal pessoa - pois já a tinha perdoado meses antes em meu coração e em oração. Mas a fiz saber que estava perdoada e aproveitei para também lhe pedir perdão por todo mal que porventura lhe tivesse feito. Quer saber? Foi um dos sentimentos mais maravilhosos que tive em toda a minha vida. Pois, ao perdoar e pedir perdão, o Reino de Deus se fez presente, o Evangelho genuíno se manifestou e eu creio piamente que os anjos no Céu sorriram e festejaram.

Perdao2É certo e seguro, meu irmão, minha irmã, que há alguém a quem você deve pedir perdão. Eu mesmo creio que tenho no mínimo umas 50 pessoas de quem preciso lavar os pés. Dificilmente existe um ser humano que não tenha de humilhar-se por algum mal feito ao próximo, alguma injustiça cometida, algo que disse e provocou feridas. O que é bom, entenda, pois a humilhação aos olhos de Deus é totalmente diferente da humilhação aos olhos dos homens, não é um ato de inferiorizar-se, é um ato sublime. Você pode ter julgado alguém erradamente. Ou difamado essa pessoa. Pode ter tirado dela algo que não lhe pertence. Pode ter magoado seu coração. Pode ter mentido. Pode ter machucado fisicamente. Pode ter prejudicado financeiramente. Pode tê-la passado para trás no trabalho. Pode ter sido injusto em alguma situação. Pode ter feito fofoca sobre ela. Pode ter tomado seu cargo na igreja. Pode ter agido contra ela por inveja ou interesses materiais. Pode ter feito milhões e milhões de coisas que prejudicaram ou magoaram alguém.

A boa notícia é que pedir perdão está ao seu alcance.

Perdao3Em sua carta aos colossenses (3.13,14), Paulo descreve o caminho da grandeza: "Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós". O apóstolo não diz que conviver com pessoas pecadoras é fácil. Conviver comigo, que sou um tremendo pecador, é muito difícil, eu sei. Admiro quem me suporta. Mas quem o faz está cumprindo esse mandamento divino. Temos de suportar-nos e não segregarmos. Esse é o primeiro passo. Em seguida, vem o xeque-mate: temos de nos perdoar mutuamente. Não somente ficar esperando que nos peçam perdão: devemos tomar a iniciativa. Nesse sentido, essa pessoa que me pediu perdão foi muito mais grandiosa do que eu, pois deu o primeiro passo, ainda mais sem saber que já tinha sido perdoada e submetendo-se a possíveis reações hostis que eu poderia ter.

E isso é algo que precisamos ter em mente: nunca esperar o outro vir até nós, importa que façamos a nossa parte. Peça perdão sem esperar ser perdoado ou sem esperar uma boa reação. Faça o que tem de fazer. Faça o que é certo. Faça Jesus se orgulhar de você. Mas se alguém vier primeiro até você e pedir perdão de coração contrito... perdoe. Não importa a dimensão do mal cometido. Importa, isso sim, a dimensão da graça de Deus. Você não faz ideia do bem que perdoar promove em nosso coração. Pedir perdão, então, é algo libertador. Magnânimo. Engrandecedor. Não perca uma oportunidade sequer de fazê-lo, é um dos maiores prazeres e das maiores alegrias que um cristão pode sentir. É, literalmente, divino.

Tudo isso caminha na contramão da nossa cultura. A sociedade prega que devemos estar sempre por cima e manter nosso orgulho. Só que, para o Senhor, é o contrário: "Os insensatos zombam da ideia de reparar o pecado cometido, mas a boa vontade está entre os justos" (Provérbios 14.9). No Reino de Deus, o que te faz grande é se pôr por baixo. Preferir os outros em honra. Humilhar-se para ser exaltado. Tomar na cara sem revidar. Em tudo isso Deus agirá em favor de Seus filhos que procederem conforme o padrão do Reino e não o deste mundo.

Perdao4Quando tais falácias foram ditas a meu respeito tempos atrás, eu poderia ter revidado, retaliado, me defendido, posto a boca no trombone - ou seja, ter agido conforme a raiva e o ódio do mundo. Mas já tinham me ensinado àquela altura que o caminho da Cruz é o de não devolver mal com mal, fazer o bem a quem nos faz mal, orar e abençoar quem nos persegue. E, o mais difícil de tudo: não se defender. Mesmo que rangendo os dentes, suportar tudo calado. Não ficar tentando desmentir exageros ditos a seu respeito e que não condizem com a realidade. E por quê? Simplesmente porque foi o que Jesus fez. É a atitude bíblica, como Paulo deixa claro em Romanos 12. Tenho certeza de que a opção de suportar em silêncio, sem me defender ou dar o troco, pesou no mundo espiritual para o bem de todos e, enfim, para esse pedido de perdão. Que me permitiu levar a essa pessoa a paz de saber que já estava perdoada e também lhe pedir perdão por qualquer mal que lhe tenha feito. Em resumo: para fazer o Evangelho entrar em ação e ter consequência.

Deus criou mecanismos perfeitos de funcionamento das coisas: quando não revidamos Ele nos abençoa. Quando não devolvemos mal com mal Ele nos abençoa. Quando aguentamos o vitupério em silêncio sem nos defendermos Ele nos abençoa. Quando temos a grandeza de pedir perdão Ele nos abençoa. Quando concedemos perdão Ele nos abençoa. O modo de ser e agir do Reino é maravilhoso. É lindo. Nunca será defendido nos filmes de Hollywood ou nas novelas da televisão, somente nas páginas das Escrituras. As atitudes cristãs fazem as pessoas se aproximarem entre si. Fazem as pessoas se aproximarem de Deus. Dá a elas a aparência de Cristo. Se agirmos sempre como Jesus agiu estaremos pondo no rosto do manso Cordeiro um largo sorriso.

Perdao5Você fez mal a alguém, meu irmão, minha irmã, mesmo que tenha sido sem querer ou num momento impulsivo ou de raiva? Não perca tempo: peça perdão ainda hoje. Alguém te feriu muito? Não perca tempo: perdoe-o antes mesmo que ele lhe peça perdão. Disseram que você fez muito mais do que fez - ou mesmo o que não fez? Ou mesmo acreditaram no que foi dito sem ao menos lhe perguntar se tudo condiz com a realidade? Entregue nas mãos do Pai de amor, como o Filho de amor fez. E, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, não abra a boca. Entregue a situação para Deus e espere. É difícil? Pode ser, mas é cristão.

O Natal está chegando. Esse pedido de perdão chegou em boa hora, pois me lembrou enfaticamente do significado primordial dessa celebração cristã. A vinda do Verbo para reconciliar, perdoar, unir, restaurar. Domingo passado estive em um culto na Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro e, ao som do belíssimo "Gloria"  de Vivaldi, entoado por um grande coral e um lindo órgão, chorei novamente, emocionado, lembrando-me do real sentido do Natal. Ali agradeci a Deus por ter-se dado por nós e nos ensinado a ser como Ele é. Perdoador. Manso. Humilde. Amoroso. Contrito. Um embaixador da paz.

Gostaria de terminar com a letra desse hino de Vivaldi, que resume bem a gratidão que sinto neste momento e o que todos devemos dizer ao Senhor - palavras que o coral de anjos cantou ao anunciar o nascimento de Jesus aos pastores no campo próximo a Belém (Lucas 2.14):

Perdao6Gloria, gloria! Gloria, gloria in excelsis Deo! (Glória, glória! Glória, glória a Deus nas alturas!)

Peça perdão a quem precisa pedir. Hoje. Agora. Já. Não espere. Não perca tempo. Não condicione isso a qualquer coisa: nunca diga "só pedirei perdão se...". Não! Passe a mão num telefone, escreva um email, vá até a outra pessoa... e aja conforme o coração de Jesus. Não espere um segundo mais. Eu te asseguro que isso te fará admirável aos olhos dos homens. E, muito mais, de Deus.

Falta de perdão tem cheiro de diabo

 
Por Maurício Zárari
Não tenho nenhuma vaidade de querer ser criativo; desejo muito mais que o APENAS seja eficiente naquilo a que se presta: alcançar corações e levar pessoas a pensar de forma crítica e construtiva nas questões ligadas à fé - para, assim, se aproximar de Deus. Por isso, hoje decidi postar uma reflexão que, embora o texto seja escrito por mim, o conteúdo não é de minha autoria. Quero compartilhar a pregação que meu pastor fez domingo passado em nossa igreja. Foi uma mensagem profunda e bíblica, dura e reconfortante. Pode falar ao teu coração, como falou ao meu. Tenho o hábito de fazer anotações dos pontos principais dos sermões que ouço para posterior meditação, portanto o que você lerá a seguir é um resumo da mensagem trazida para a igreja por meu pastor. Praticamente todas as frases transcritas aqui são, ao pé da letra, o que ele pregou. O tema: perdão.

O texto base é Mateus 8, a partir do versículo 23. É a parábola de Jesus em que Ele compara o reino dos céus com um rei que resolveu ajustar contas com os seus servos. Chega um que lhe deve dez mil talentos, mas não tem como pagar. Seu senhor manda, então, que ele, toda sua família e seus bens sejam vendidos como pagamento da dívida. Desesperado, o servo prostra-se e pede paciência, perdão e misericórdia. Diz a Bíblia: "O senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida".

Só que o mesmo servo logo depois encontra um conhecido que lhe devia uma quantia, o agride e exige que lhe pague. O conservo devedor humilha-se e implora, pedindo paciência e perdão. Em vez disso, o homem que havia sido perdoado pelo rei o lança na prisão. Ao tomar conhecimento do ocorrido, o monarca manda chamar o homem, lhe recorda do perdão que tinha recebido e o entrega aos carrascos, para que o torturem até que pague toda a dívida. E Jesus conclui: "Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão". Segue a síntese da pregação:
 
"Essa passagem deixa claro que perdoar é o único caminho para se ter saúde espiritual. Quem não perdoa vive uma vida espiritual pobre e moribunda. Quem não perdoa está morto diante de Deus em seu coração. É como um sino que ressoa (1 Co 13.1): algo que faz barulho, tem aparência e volume... mas não tem vida própria. Pior: quem não perdoa não será reconhecido por Jesus no último dia, pois não está pondo em prática um dos fundamentos da fé cristã: a certeza de que o bem que quero que me façam devo fazer ao outro. Se você gosta de ser perdoado, perdoe, para que haja saúde e sua vida espiritual não se perca.

Para perdoarmos biblicamente, é importante sabermos o que significa exatamente perdoar. Romanos 12.17 nos dá a resposta:

"Não retribuam a ninguém mal por mal. Procurem fazer o que é correto aos olhos de todos. Façam todo o possível para viver em paz com todos. Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: 'Minha é a vingança; eu retribuirei', diz o Senhor.  Pelo contrário: 'Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber. Fazendo isso, você amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele'. Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem".

Não devolver mal com mal. Vencer o mal com o bem. Eis a resposta. Pois vingar-se significa vencer alguém mas deixar Satanás vencer você.

O grande engano dos cristãos é achar que perdão é algo emocional. Não é. Não tem a ver com "sentir" algo, mas com "fazer" algo. O perdão está relacionado a atos e atitudes. É ação. É agir como se o pecado nunca tivesse existido. As emoções, de acordo com a Bíblia e o Evangelho, estão sujeitas à razão. Assim, perdoar é um ato de sã consciência, é saber o que Deus quer. Se eu não perdoo, simplesmente isso mostra que não sou alimentado pela graça de Deus.
 
Então, o perdão ocorre em duas etapas: Primeiro se perdoa racionalmente (sabendo que aquilo é necessário, que é a vontade de Deus). É uma decisão mental, racional. O segundo passo são as ações. É não se alegrar com o mal que quem lhe ofendeu sofre. É orar pedindo que Deus ajude a pessoa que lhe ofendeu e que está em dificuldades. Mais ainda: é procurar quem lhe ofendeu e se oferecer para ajudá-lo no que ele precisa, com obras da graça e da bondade de Deus. E, por fim, é não causar danos ou perdas a quem lhe ofendeu.

É ao fazermos - ou não - tudo isso que demostramos quem de fato somos. Se pensamos em nós e em cumprir o que nossa justiça manda mais do que pensamos em Deus e na justiça dele, simplesmente estamos pecando. Pois nada é imperdoável quando contamos com a ajuda de Deus, nenhuma ofensa que nos fizeram é imperdoável. Tudo pode ser zerado.
 
A pessoa que não perdoa em forma de atitudes tem cheiro de diabo. Satanás nunca estende a mão a ninguém e quem se recusa a estender a mão está agindo como o diabo e, logo, é servo dele. Temos sempre que lembrar: não perdoar só satisfaz e alegra... o diabo.

Se dizemos que perdoamos nossos ofensores mas não retomamos a vida como tudo seguia antes da ofensa... na verdade não perdoamos. Pois isso mostra que ainda guardamos rancores, ressentimentos, medos, mágoas ou sentimento do gênero. É perdoar de boca mas não por obras. E a fé sem obras é morta. Fé sem perdão expresso em atitudes em prol de quem nos ofendeu não é fé cristã.

Não adianta eu saber orar se eu não souber perdoar. Minha oração não será respondida (Mt 6.14,15). Pois, se estou em litígio com Deus ao não perdoar meu próximo, o que posso esperar do Senhor? Nada.

A natureza desse assunto é grave. Pois Deus é perdoador. E, se eu não perdoo, não estou identificado com Deus. Não ando com Deus se não perdoo como Ele perdoa. E o perdão de Deus é absoluto, é uma quitação total da dívida e não parcial. O perdão verdadeiro nunca põe seus próprios interesses acima dos daquele que precisa de perdão (1 Co 13).

E para que perdoamos?  Primeiro, para ter paz com os outros. Segundo, para ter paz com Deus (Mt 6.15).
 
A renovação da mente de Romanos 12.2 passa por demonstrar perdão. Pois só tem a mente de Cristo quem perdoa, esquece das ofensas e retoma a vida a partir do ponto onde ocorreu a ofensa. Quem não o faz não perdoou, não teve a mente renovada e não age conforme a natureza de Cristo. É um cristão que não age como Cristo. Que Deus nos ensine a perdoar e a praticar o perdão. Em cada situação e a cada dia. Que Deus cure quem não perdoa. Pois a falta de perdão é uma grave doença espiritual. Quem nasceu de novo tem obrigação de perdoar.

Que Deus nos perdoe da nossa demora em fazer o que Ele quer. Que Deus nos perdoe por não perdoar. Podemos encontrar mil desculpas para não perdoar, mas não perdoar aos olhos de Deus... não tem desculpa".

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

Até o diabo tem versículos bíblicos preferidos! E nossa geração?


Por Josemar Bessa

Qual é o verso preferido da Bíblia de nossa geração? Qual o texto preferido do mundo e de muitos cristãos de nossos dias? Ele fala sobre a santidade de Deus? Sobre o pecado? Sobre o verdadeiro arrependimento? Sobre a ira de Deus? Sobre a condenação no inferno?...

O mundo e muitos cristãos podem conhecer muito pouco ou praticamente nada da Bíblia, mas tão certo como o sol nasceu hoje, eles podem citar sem dificuldades Mateus 7.1“Não julgueis para que não sejais julgados” – E ironicamente, como não podia deixar de ser, o versículo que nossa cultura e grande parte dos cristãos, por estarem completamente aliados a ela mais gostam, eles menos entendem.

Esta é a passagem bíblica mais abusada e mal compreendida... é óbvio que por uma conveniência que despreza Deus. Nada é tão mal aplicado como essa passagem. O mundo, a cultura, cristãos... a usam para denunciar todo e qualquer um que se aventure a criticar ou expor os pecados, falhas ou aberrações do coração caído que se deleite em tudo que Deus despreza. Jamais se atreva a falar mal do homossexualismo, adultério, fofoca, mundanismo, alteração do imposto de renda, aborto, a condenação de qualquer um que não está em Cristo nos termos bíblicos... e assim por diante... sem estar certo de você vai estar sobre a ira da multidão do mundo e da “igreja” que se convenceram de que Jesus, a quem eles desprezam e rejeitam – ( pelo menos o Jesus real que diz: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama...” – João 14.21 )  - disse que não devemos julgar uns aos outros.

Isto acontece por que? Por que  este é o texto que está na boca de todos? Acontece pelo fato de que as pessoas ODEIAM absolutos, especialmente absolutos morais. Dizer que existe diferença absoluta entre o bem e o mal, a verdade e o erro... é o caminho para ser chamado de Medieval, mente fechada, fundamentalista... e hoje nada mais é temido, mesmo por pessoas que dizem serem pregadores da verdade absoluta de Deus. Ser dogmático é o maior temor dos que querem ser vistos como “relevantes” por uma sociedade que abandonou Deus e que foi abandonada por Ele:

“Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém.” - Romanos 1:22-25

O diagnóstico que flui dos problemas tratados por Paulo em Corinto, por exemplo, é exatamente o oposto do diagnóstico que é feito hoje. “Estais ensoberbecidos, e nem ao menos vos entristecestes por não ter sido dentre vós tirado quem cometeu tal ação.” - 1 Coríntios 5:2

Hoje, quando a disciplina não acontece o diagnóstico muitas vezes é que somos muito humildes para julgar e disciplinar uma pessoa: Quem somos nós para apontar o dedo? Quem somos nós para julgar? Quem somos nós para atirar a primeira pedra? E assim uma suposta humildade é construída na base da tolerância a imoralidade impenitente.

Por outro lado, hoje, se uma igreja seguir na aplicação da disciplina é muitas vezes diagnosticada como agindo direto com orgulho farisaico. Indignação com o pecado é muitas vezes retratada como um disfarce para a insegurança e um véu sobre suas tentações sexuais dos fariseus. Um tipo de atitude "mais santo do que tu" é dito ser a base da indignação e  a arrogância é dita ser a base da disciplina e exclusão.

Mas quando você lê este versículo 2, o diagnóstico de Paulo sobre o problema em Corinto era exatamente o oposto. Não, a arrogância foi a base da tolerância e a humildade de coração partido deveria ter sido a base da excomunhão.

Ele disse: "Vocês se tornaram arrogantes." As pessoas na igreja estavam se vangloriando desta imoralidade. Agora, como pode ser isso? Que tipo de teologia daria origem a jactância na imoralidade? Temos visto isso nas cartas de Paulo em outros lugares. Ele diz: "E por que não dizemos (como somos blasfemados, e como alguns dizem que dizemos): Façamos males, para que venham bens? A condenação desses é justa” - Romanos 3:8" – “Que diremos pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde?” - Romanos 6:1

Então, é uma teologia que não entende o poder da graça e a transforma em licença para a vida mundana. É uma teologia que não entende a liberdade e usa-o como "uma oportunidade para a carne" ( Gal. 5:13 ), e diz (como diziam em Corinto) "todas as coisas me são lícitas" ( 1 Co 6:12. , 10:23 ). E assim eles estavam se gabando de sua liberdade e tolerância que anula a graça. Orgulho disfarçado de humildade aqui foi a base da tolerância pecaminosa e não o julgamento farisaico.

Neste mesmo lugar ficamos tendo nos tornado espelho da nossa cultura.  Ser chamado de mente fechada é a maior dor imaginável para aqueles que querem se abraçados pela cultura! Em suma, para a vastíssima maioria em nossos dias o único inimigo é o homem que não está aberto para tudo.

Que Jesus de forma nenhuma nos proíbe de expressar claramente a opinião, declaração bíblica sobre o certo e errado, o bem e o mal, a verdade e a falsidade... pode ser demonstrado observando dois fatores simples – o contexto imediato do texto ( Mateus 7.1) e todo o ensinamento do Novo Testamento sobre julgar.

Praticamente todo o Sermão do Monte, antes e depois do texto mencionado, baseia-se no pressuposto básico de que devemos usar nosso poderes críticos instruídos pela Verdade de Deus para fazer julgamentos morais, éticos, lógicos... Jesus disse para os cristãos serem completamente diferentes do mundo que os cerca, para buscar a justiça que excede a dos fariseus, fazer tudo com motivações completamente diferente do mundo ao redor, ou seja, completamente centrados na glória de Deus e não no homem, evitar ser como os hipócritas quando damos, oramos, jejuamos...

E logo depois da exortação de Mateus 7.1, Jesus diz para não dar o que é santo aos cães ou pérolas aos porcos, nos guardar dos falsos profetas...  É óbvio que seria impossível obedecer a esses mandamentos sem usar o julgamento crítico que flui das definições bíblicas sobre a vida. Só podemos, é claro, obedecer a esses mandamentos e determinar nosso comportamento em relação aos “cães”, “porcos”, “falsos profetas”, “mundo”... se usarmos um julgamento crítico conduzido pela verdade sobre todas essas coisas.

Quando esquecemos tudo isso começamos a citar versos bíblicos como o diabo citou diante de Cristo na tentação no deserto. Por isso a Bíblia está cheia de mandamentos para fazermos julgamentos:

“Todo aquele que prevarica, e não persevera na doutrina de Cristo, não tem a Deus. Quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai como ao Filho. Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras.” – 2 João 9-11

“Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano.” - Mateus 18:15-17

“E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles. Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre; e com suaves palavras e lisonjas enganam os corações dos simples.” - Romanos 16:17-18

“Eu, na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já determinei, como se estivesse presente, que o que tal ato praticou...” - 1 Coríntios 5:3

“Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema.” - Gálatas 1:8

“Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão” - Filipenses 3:2

“Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o, Sabendo que esse tal está pervertido, e peca, estando já em si mesmo condenado.” - Tito 3:10-11

“Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo.” - 1 João 4:1

“Tenho escrito à igreja; mas Diótrefes, que procura ter entre eles o primado, não nos recebe. Por isso, se eu for, trarei à memória as obras que ele faz, proferindo contra nós palavras maliciosas; e, não contente com isto, não recebe os irmãos, e impede os que querem recebê-los, e os lança fora da igreja.” - 3 João 1:9-10

Agora, devíamos olhar especialmente para João 7.24 – onde o próprio Jesus diz: “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça.” - João 7:24

O que é, então, que Jesus quis dizer em Mateus 7:1-6 ?

Parece que Jesus está proibindo o tipo de crítica julgamento que é hipócrita, que nos torna apenas farejadores de falhas, destrutivos, amargos... Ele está proibindo o tipo de julgamento que fazemos aos outros não por preocupação com sua saúde e bem-estar espiritual, mas unicamente para desfilar nossa suposta justiça diante dos homens.

Não devemos julgar os outros como um meio de auto-justificação. Algo comum – ao apontar o erro de pastores ou da igreja, por exemplo, tento justificar minha falta de compromisso com o corpo de Cristo. Tento usar o erro dos outros para justificar minha falta de submissão... denuncio apenas pecados externos e visíveis como roubo,  assassinato, injustiça social... para minimizar os internos como amargura, ciúme, luxúria... Essa forma de julgamento nada mais é do que auto-justificação.

Em Mateus 7.6 Jesus aponta para o perigo oposto: “Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem.” – Ele aqui aponta para o perigo de sermos homens indulgentes e sem discernimento num mundo que despreza completamente Deus. Pensando em amar os nossos inimigos, andar a milha extra e não fazer julgamentos injustamente... corremos o grande  perigo de nos tornarmos insossos, não mais sal e luz, não fazer mais distinções essenciais entre o certo e o errado, a verdade e a falsidade, a luz e as trevas, o viver santo e a impiedade, o ser igreja ou ser o mundo debaixo da ira de Deus.

O Desejo do Diabo



Pr Manoel de Jesus
“O rei de Sodoma disse a Abraão: Dê-me as pessoas e pode ficar com os bens” (Gênesis 14.21).
No site do Dr. Jorge Pinheiro dos Santos, li uma frase de Guimarães Rosa, que o Dr. Jorge escolheu para colocar no site. Ei-la: “Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa existir para haver”. É notável como encontramos verdadeiras pérolas nas palavras dos homens, que se dirá quando lemos a Palavra de Deus.

O texto que citamos acima é pouco conhecido. Ao longo de minha vida cristã, nesses sessenta e cinco anos, jamais ouvi um sermão, ou li algum  artigo sobre o mesmo. Nos grandes comentários, como Lange, Mattew Henry, e outros, há mensagens sobre ele, mas, já doei para um Seminário essas preciosas coleções. Se lermos o capitulo 19 de Gênesis, saberemos qual era o caráter do rei de Sodoma, e porque ele queria ficar com as pessoas.

Neste mundo há muitas pessoas que negam a existência do Diabo, mas não podem negar sua influência, suas obras, e seu domínio sobre a humanidade. Seu poder é tanto, que Cristo o chamou de príncipe deste mundo. Por que príncipe e não rei? Porque acima dele está o Rei Jesus. Todo aquele que desejar servir ao demônio ele o aceita como servo. E pelas ações dos homens, ao longo da história, e, principalmente nos dias de hoje, vemos como ele é servido pelos homens. O Diabo é como o rei de Sodoma. Ele não quer coisas, ele quer pessoas. Tendo as pessoas em suas mãos, ele as transforma em seres horrendos. Horrendos em todos os sentidos. Ações, caráter, fisionomia (como me admiro quando vejo o que a droga faz nas pessoas nas vezes que colaboro com a comunidade batista Cristolândia, na Cracolândia!). Por mais que conviva com eles, não me acostumo. Dormem ao relento, na sujeira, no meio de fezes, perambulam sem destino, sem objetivo, sem ideal, sem propósito, diria, sem tudo. É preciso o Diabo existir para ele haver? Que frase feliz de Guimarães Rosa!

A resposta de Abraão ao pedido do rei de Sodoma é profundamente sábia. Ele afirma que nada deseja, para que o rei de Sodoma venha, no futuro, a dizer que o enriqueceu. A primeira coisa que o Diabo oferece àqueles que lhe servem, é um prêmio, mas, como ele é o pai da mentira, logo depois os que lhe servem descobrem que o prêmio se chama morte. É esse o quadro que nos rodeia. O prêmio do pecado é sempre a morte.

O desejo do Diabo é ter os homens em suas mãos para dominá-los, e dominá-los até o fim de suas vidas. O Diabo, servido pelos homens, levou Jesus a morte, e essa mesma morte, por estar nos planos do Pai e do Filho, foi o fim do domínio de Satanás. A morte de Cristo, resgatou-nos do poder do pecado, pois Cristo morrendo em nosso lugar, pagou o nosso pecado. Quem já pagou, não pode ser cobrado novamente. Satanás, o acusador, não tem de que nos acusar, pois através da morte de Cristo, fomos justificados perante Deus e sua Lei. Mesmo que o homem não creia em Deus, a sua obra realizada pela morte de Cristo, aí está. Ao longo da história temos provas de que ela aí está. Mesmo que muitos não creiam, milhões de vidas resgatadas do poder do Diabo, dão provas de que ele existe. Deus não deixa de existir porque os homens não creem. Ele não precisa da fé dos homens para existir. Suas obras aí estão. Elas são suas testemunhas. E, no futuro, serão elas que condenarão os que preferiram servir ao Diabo, mentor da morte, ao invés de crerem em Deus, o provedor da vida.

"Conheço a tua tribulação, a tua pobreza (mas tu és rico)"



Por Pr. Silas Figueira

“Conheço a tua tribulação, a tua pobreza (mas tu és rico) e a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus e não são, sendo, antes, sinagoga de Satanás”. (Ap 2.9)

“Conheço a tua tribulação...”
No grego é usado o termo “Thlipsis”, que tem o sentido de pressão, opressão, literalmente, significa esmagar um objeto, comprimindo-o. Descreve a vítima sendo esmagada, e seu sangue extraído. Descreve pessoas sendo esmagadas até a morte por uma enorme pedra. Também descreve a dor de uma mulher ao dar à luz [1]. Thlipsis é derivado de “thlibo”, que tem o sentido de pressionar, pressionar junto. Aqui nesse texto a ideia é de perseguição devido ao ódio dos judeus e gentios contra a igreja.

Quando o Senhor disse: “Conheço a tua tribulação”, Ele está dizendo: “Sei exatamente o que está se passando. Já passei por isso. Sei como se sente. Sei como é ser falsamente acusado, molestado e cuspido. Sei o que é ser açoitado, escarnecido e morrer de maneira injusta. Sei o que está sofrendo, e valorizo grandemente a sua lealdade”.

Em Esmirna, os crentes eram dolorosamente esmagados sob as rígidas leis romanas. Muitos eram arrancados de suas casas, capturados nas feiras livres e levados cativos. César jogava toda a força de seu poderoso império sobre esta pequena igreja. E muitos desses santos já haviam selado seus testemunhos com o próprio sangue [2].     

“... a tua pobreza (mas tu és rico)...”

Aqueles crentes eram pobres, mas não porque não trabalhassem – sendo essa a causa mais comum da pobreza – mas devido às perseguições que sofriam. Suas propriedades foram confiscadas ou destruídas, e eles sofriam encarceramento. Foram reduzidos a nada, pela ira do imperador. A simples sobrevivência física tornou-se um problema, pela falta de alimento.

Em seu comentário sobre o Apocalipse, R.N. Champlin conta a história de certo homem chamado Nicodemos, cuja família possuía uma décima parte da indústria de estanho em Roma. Mas, tento a família abraçado o cristianismo, depois da ressurreição de Cristo, foi reduzida a uma pobreza extrema, e as filhas da família podiam ser vistas a revirar os monturos, atrás de detritos, para isso matar a fome. Por conseguinte, aprende-se, por exemplos como esses, que a piedade não é garantia da riqueza física [3].

Precisamos estar permanentemente advertidos de que o ter pode comprometer o ser. Quando Salomão passou a remunerar os profetas que trabalhavam em seu palácio, esses se calaram diante das injustiças e se esqueceram do povo. A Igreja primitiva não tinha posses nem mesmo templos para celebrar os cultos, porém foi capaz de abalar as estruturas do Império Romano com sua mensagem e testemunho de vidas [4].

Havia duas palavras para pobreza no grego: ptochéia e penia. A primeira é pobreza total, extrema. Era representada pela imagem de um mendigo agachado. Penia é o homem que carece do supérfluo, enquanto que ptochéia é o que não tem nem sequer o essencial. João usou a palavra ptochéia para descrever a pobreza dos esmirneanos. A pobreza dos crentes era um efeito colateral da tribulação. Ela vinha de algumas razões:

1) Os crentes eram procedentes das classes mais pobres e muitos deles eram escravos. Os primeiros cristãos sabiam o que era pobreza absoluta.

2) Os crentes eram saqueados e seus bens eram tomados pelos perseguidores. O autor de Hebreus nos dá uma ideia do que estava acontecendo naquela época aos cristãos de Roma e era um reflexo do que estava acontecendo em outras igrejas também, no caso aqui, em Esmirna:

“Lembrai-vos, porém, dos dias anteriores, em que, depois de iluminados, sustentastes grande luta e sofrimentos; ora expostos como em espetáculo, tanto de opróbrio quanto de tribulações, ora tornando-vos co-participantes com aqueles que desse modo foram tratados. Porque não somente vos compadecestes dos encarcerados, como também aceitastes com alegria o espólio dos vossos bens, tendo ciência de possuirdes vós mesmos patrimônio superior e durável”. (Hb 10.32-34).

3) Os crentes haviam renunciado aos métodos suspeitos e, por sua fidelidade a   Cristo, perderam os lucros fáceis que foram para as mãos de outros menos escrupulosos; ou judeus e pagãos podem ter-se negado a fazer negócios com eles [5].

“... mas tu és rico...”

A igreja de Esmirna era rica não em bens materiais, mas em riqueza espiritual. Isso pode ser comparado ao caso da igreja de Laodicéia, que era “rica” quanto às riquezas materiais, porém, inteiramente paupérrima quanto às riquezas espirituais.

O Senhor diz para os crentes de Esmirna que eles não deviam sentir piedade de si mesmos. Podiam parecer pobres, mas, na realidade, eram ricos, a saber, de bens espirituais, ricos da graça e de seus frutos [6].

Enquanto o mundo avalia os homens pelo ter, Jesus os avalia pelo ser. Importa ser rico para Deus. Importa ajuntar tesouros no céu. A igreja de Esmirna era pobre, mas era fiel. Era pobre, mas rica diante de Deus. Era pobre, mas possuía tudo e enriquecia a muitos [7].

Nós podemos ser ricos para com Deus, ricos na fé, ricos em boas obras. Podemos desfrutar das insondáveis riquezas de Cristo. À vista de Deus há tantos pobres homens ricos como ricos homens pobres. É melhor ser como a igreja de Esmirna, pobre materialmente e rica espiritualmente, do que como a igreja de Laodicéia, rica materialmente, mas pobre diante de Cristo.

Ensinar a igreja a ter um estilo de vida simples é ensinar à igreja o caminho da dependência de Deus, e não de coisas e de materiais. É também ensiná-la a ter os olhos e atitudes mais sensíveis para com os necessitados. A tirar os olhos de si mesma e passar a ver os outros. Só assim uma comunidade será rica. A riqueza e a prosperidade material não são sinônimos de riqueza espiritual. É possível uma igreja ser rica material e espiritualmente. Mas mesmo que uma comunidade seja materialmente abastada, precisará revelar os valores de Deus nessa área da vida. Nosso desafio é mostrar ao mundo que a piedade é grande fonte de lucro. Mostrar que somos uma comunidade rica em piedade e satisfeita com o que Deus nos tem proporcionado [8].

“... e a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus e não são...”

Em Esmirna, havia uma grande comunidade judaica que hostilizava fanaticamente o cristianismo. Esta comunidade judaica estava ajudando os romanos na perseguição contra a igreja de Esmirna espalhando falsos rumores sobre os cristãos. Os inimigos de Cristo estavam caluniando o Seu povo, “blasfemando” contra eles, por essa razão, esses judeus haviam perdido o direito de serem chamados de Israel de Deus. Eles eram judeus de raça, mas não eram filhos de Abraão na fé. O apóstolo Paulo escrevendo aos romanos diz: “Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente...” (Rm 2.28a), e, “...porque nem todos os de Israel são, de fato, israelitas; nem por serem descendentes de Abraão são todos seus filhos; mas: em Isaque será chamada a sua descendência. Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa”. (Rm 9.6-8). O apóstolo Paulo diz enfaticamente que somente os nascidos de novo, e isso independe de raça, são os verdadeiros israelitas; observe: “porém judeu é aquele que o é interiormente...” (Rm 2.29a). Em Gálatas 3.7 o apóstolo Paulo diz: “Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão”, e em Gálatas 6.16 ele chama a Igreja Cristã de “Israel de Deus”. Podemos resumir tudo isso dizendo que, os verdadeiros judeus são aqueles que confiam em Cristo, os quais, por isso mesmo conquistaram legítimo direito de se chamarem judeus e de possuírem os seus privilégios espirituais. Como diz no Evangelho de João falando a respeito de Jesus: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1.12-13).

A maledicência exerce uma estranha fascinação sobre todos nós. Como diz o livro de Provérbios: “As palavras do maldizente são comida fina, que desce para o mais interior do ventre” (Pv 26.22). E os descrentes de Esmirna nutriam-se exatamente dessas suculentas iguarias. Mas os cristãos foram profundamente feridos por causa desse abuso. Era doloroso ser mal interpretado e difamado. Entretanto, não é de duvidar que eles seguiam os passos de seu humilde Mestre, de quem está escrito: “Quando insultado, não revidava; quando sofria, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga com justiça” (1Pe 2.23) [9].

“... sendo, antes, sinagoga de Satanás”.

Os judeus são claramente opositores da Igreja. Expressando-se desta forma João faz uma distinção importante entre judaísmo interior e exterior. Estes “judeus” sem dúvida são judeus por raça e por religião, que se reúnem na sinagoga para adorar ao Senhor. Mas na verdade interiormente eles não são judeus, porque rejeitaram Jesus, o Messias, e confirmavam esta rejeição perseguindo a igreja [10]. 

Os crentes de Esmirna estavam sendo acusados de coisas graves. O diabo é o acusador. Ele é o pai da mentira. Aqueles que usam a arma das acusações levianas são “Sinagoga de Satanás”. Os judeus foram os principais inimigos da igreja no primeiro século. Perseguiram a Paulo em Antioquia da Psídia (At 13.50), em Icônio (At 14.2-5). Em Listra Paulo foi apedrejado (At 14.19), em Corinto Paulo tomou a decisão de deixar os judeus e ir para os gentios (At 18.6). Quando retornou para Jerusalém, os judeus o prenderam no templo e quase o mataram. O livro de Atos termina com Paulo em Roma sendo perseguido pelos judeus. Eles se consideravam o genuíno povo de Deus, os filhos da promessa, a comunidade da aliança, mas rejeitaram o Messias e perseguiram a Igreja de Deus. A religião deles foi satanizada. Tornou-se a religião do ódio, da perseguição, da rejeição da verdade. Quem difama a Cristo ou O degrada naqueles que O confessam promove a obra de Satanás e guerreiam as guerras de Satanás.

Os crentes de Esmirna passaram a sofrer várias acusações levianas:

1)      Canibalismo - por celebrarem a ceia com o pão e o vinho, símbolo do corpo e do sangue de Cristo.
2)      Imoralidade – por celebrarem a festa do Ágape antes da ceia, por causa do ósculo santo e da ênfase que eles davam ao amor fraternal. Consequentemente eram acusados de incesto e orgias sexuais.
3)      Divididores de famílias – uma vez que as pessoas que se convertiam a Cristo deixavam suas crenças vãs para servirem a Cristo.
4)      Ateísmo – por não se dobrarem diante de imagem dos vários deuses.
5)     Deslealdade ao governo – eles eram chamados de desleais e revolucionários, por se negarem a dizer que César era o Senhor.


Os judeus incrédulos tomaram o partido de Satanás, no conflito entre a igreja e o pagão império romano. Alegremente ajudaram às autoridades romanas a esmagarem a igreja. Aquele que ajudasse Roma, com razão era considerado debaixo da influência satânica. Esses judeus passaram a cultuar a César para não perderem os seus bens. Agora passaram a caçoar e falar mal dos cristãos que tinham perdido tudo por permanecerem fiéis a Jesus. Por isso que o Senhor afirma que esses não são judeus realmente, mas sim Sinagoga de Satanás. São agentes do diabo. Podemos chamá-los de sádicos da fé e da religião [11].