terça-feira, 20 de agosto de 2013

O QUE HÁ DE ERRADO COM O SISTEMA DE APELO NA PREGAÇÃO?

 
Por Roberto Aguiar
A simples aceitação de um ensinamento verdadeiro sobre a pessoa de Cristo, sem o coração ter sido ganho por Ele, e a vida ter sido devotada a Ele, é apenas mais outra etapa deste caminho “que ao homem parece direito”, mas cujo fim “são caminhos da morte” (A.W. Pink).

Ao contrário do que a maioria de nós crentes imagina, o apelo feito no final do culto para que o perdido entregue sua vida à Cristo, é uma prática relativamente nova, portanto completamente desconhecida dos apóstolos. Durante seus primeiros 1.800 anos, o cristianismo se desenvolveu sem a famosa ajuda do apelo, “Quem quiser aceitar Jesus, levante sua mão”. Há propósito, alguém já encontrou o termo, “Aceite a Cristo” no novo testamento?
 “Foram os Metodistas e os Evangelistas reavivalistas do século XVIII que deram luz a esta novidade no cristianismo que se chama de “apelo”. Esta prática de convidar pessoas que desejam orações a colocar-se de pé e vir à frente para recebê-las surgiu de um evangelista Metodista chamado Lorenzo Dow. Posteriormente o reverendo James Taylor foi um dos primeiros a chamar pessoas para virem à frente em sua igreja em 1785 no Tennessee. O primeiro uso do altar de que se tem registro com relação a um convite público aconteceu em 1799 em um acampamento metodista em Rio Vermelho, Kentucky, E.U.A.  [117]
Mais tarde, em 1807 na Inglaterra, os metodistas criaram o “banco de penitentes”. [118] Agora, os pecadores ansiosos tinham um local para confessar seus pecados ao serem convidados para vir à frente. Este método chegou aos Estados Unidos dentro de poucos anos. O evangelista Charles Finney (1792-1872) acatou este “banco de penitentes”. Finney começou a usar este método a partir de sua famosa cruzada de 1830 em Rochester, Nova Iorque. [119] O “banco de penitentes” localizava-se defronte ao lugar onde os pregadores se postavam no púlpito. 120[120] Ali tanto pecadores como santos carentes eram convidados a ir à frente para receber as orações do ministro. [121] Finney elevou o “apelo ao altar” ao nível de uma obra de arte. Seu método consistia em pedir àqueles que queriam ser salvos para que se levantassem e fossem à frente. Finney tornou esse método tão popular que “após 1835, chegou a ser um elemento indispensável no moderno evangelismo”. [122]
Charles Finney (1792-1872)
Com o tempo, esse “banco de penitentes” dos acampamentos feito em fazendas e beira de estradas foi substituído pelo “altar” no salão da igreja. O “caminho de serragem” usado nos acampamentos deu lugar ao corredor da igreja. Assim, pois, surgiu o famoso “apelo ao altar”. [124] Talvez o elemento mais dominante proporcionado por Finney ao moderno cristianismo foi o pragmatismo. Por pragmatismo quero dizer a crença de que se algo funciona ou dá resultados, então deve ser apoiado ou aceito. Finney acreditava que o NT não ensinava nenhuma forma determinada de adoração. [125] Ele ensinava que o único propósito da pregação é ganhar almas. Qualquer mecanismo que ajudasse atingir esta meta poderia ser aceito. [126] Sob Finney, o evangelismo do século XVIII se converteu em uma ciência e foi integrado à corrente principal das igrejas. [127] O cristianismo moderno nunca se recuperou desta ideologia antiespiritual. É o pragmatismo, não a Bíblia ou a espiritualidade, que governa as atividades da maioria das igrejas modernas. (Posteriormente as igrejas atentas aos seus “índices de audiência” foram além de Finney). O pragmatismo é daninho porque ensina que “os fins justificam os meios”. Se o fim é considerado “santo”, qualquer “meio” é válido. Por estas razões Charles Finney é aclamado como “o reformador litúrgico mais influente na história da igreja americana”, [e em conseqüência, da igreja moderna]. [128] Do ponto de vista do genuíno protestantismo, é necessário que a doutrina esteja rigorosamente de acordo com as escrituras para poder ser aceita. Mas pela prática da igreja, tudo é válido desde que resulte em novas conversões! Em todos os aspectos, o Evangelismo reavivalista converteu a igreja em um ponto de pregação, restringindo a experiência da ekklesia a uma missão evangelística. [129] Isto normatizou os métodos reavivalísticos de Finney e criou personalidades do púlpito como a atração dominante. A igreja passou a ser uma questão de preferência individual em vez de ser uma questão coletiva. [130]
Em outras palavras, a meta dos reavivalistas era levar pecadores individualmente a uma decisão individual, por meio de uma fé individualista. Como resultado, a meta da Igreja Primitiva — a edificação mútua e o funcionamento de cada membro manifestando Jesus Cristo coletivamente diante dos principados e potestades — perdeu-se completamente. [131] Ironicamente, João Wesley, [a quem muito admiro], um dos primeiros reavivalistas, compreendeu os perigos do movimento reavivalista. Ele escreveu que “o cristianismo é essencialmente uma religião social [...] transformá-lo em uma religião solitária é certamente sua destruição”. [132] O último tempero que o Reavivalismo agregou à liturgia protestante foi fazer o “apelo ao altar” após um hino. Esta é a liturgia que domina o protestantismo até hoje”.
Frank A. Viola
O texto acima introduz um pouco de luz sobre o tema, nos fornecendo mais condições de entender alguns fatores pelo qual as coisas se encontram como estão. A problemática do apelo, é que numa área de extrema complexidade, a salvação do indivíduo, ele apela para um recurso extra bíblico. O apelo também não leva em consideração a necessidade de arrependimento do pecador, como condição para a sua salvação, como as escrituras determinam, “Disse Jesus: Se não se arrependerem, todos de igual modo perecerão”. Lucas 13:3. Mas alguém pode observar, “mas o que pode haver de errado em algo que é extra bíblico, se esse recurso ajuda as almas a se encontrarem com o salvador?” Realmente ajudaria se não atrapalhasse. O apelo acelera um processo que jamais poderia ser apressado. No evangelho, Jesus ensina justamente o oposto:
“Grandes multidões estavam seguindo Jesus. Então Ele fez um discurso assim: “Todo aquele que quer ser meu seguidor deve amar-Me bem mais do que ao seu pai, mãe, esposa, filhos, irmãos ou irmãs – sim, mais do que a própria vida; caso contrário, não pode ser meu discípulo.
E ninguém pode ser meu discípulo se não carregar sua própria cruz e seguir-Me. Mas é preciso pensar muito antes de resolver. Pois quem começaria a construção de um edifício sem primeiro fazer os cálculos e depois verificar se tem dinheiro suficiente para pagar as contas! Para que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, então todo mundo se riria dele! Estão vendo aquele sujeito ali diriam em tom de gozação: ‘Começou aquela construção e ficou sem dinheiro antes de terminar!’
E qual é o rei que algum dia pensou em ir à guerra sem primeiro sentar-se com os seus conselheiros e discutir se seu exército de 10.000 tem força suficiente para derrotar os 20.000 homens que vêm marchando contra ele’! Se acharem que não, enquanto as tropas inimigas ainda vêm longe, ele mandará uma comissão para combinar as condições de paz. “Assim ninguém pode ser meu discípulo se primeiro não resolver abrir mão de todas as outras coisas, por mim”.
Lucas 14: 25 a 33
Observe que apesar da missão do messias ser fundamentalmente o resgate da humanidade, em momento algum ele minimiza ou rebaixa o padrão pelo qual os homens devem recebê-lo.  Querer resolver tudo em um só evento, em algo de tamanha magnitude, é um erro crasso, é o calcanhar de Aquiles  da pregação do evangelho.  A verdadeira conversão é algo muito mais superior e complexo do que a nossa vã teologia supõe, podemos notar isso pelos termos que Jesus apresenta para aceitar alguém ao seu lado. Na verdade nós é que precisamos ser aceitos por Jesus, e não o contrário como se diz irresponsavelmente. Essa conversa de que a salvação é gratuita é verdade, mas com certas considerações, e jamais sem elas.  Oferecer a salvação como a um brinde que pode ser recebido incondicionalmente, é propaganda enganosa,  uma mentira maldosa para com os pobres ouvintes.
É impossível alguém se arrepender [segundo os padrões de Cristo] sem ter uma profunda decepção consigo mesmo
Com esse tipo de apresentação que nos acostumamos a fazer do evangelho, não me admiro que a maior parte dos conversos abandone o caminho após uma leve ciência dos fatos, e outra parcela gigantesca das chamadas ovelhas, estejam na igreja simplesmente interpretando o personagem do cristão, após descobrirem que foram impulsionadas a optarem precipitadamente por um salvador, do qual não conheciam absolutamente nada. E o que as mantém na congregação então? É simples, disseram a elas que a salvação eterna lhes foi oferecida em troca de um consentimento verbal e público de que Jesus era o filho de Deus, o salvador. E que após essa “promoção celestial”, o que se esperava deles seria penas uma leve freqüência nos cultos, algum dinheiro, seguido do abandono de meia dúzia de maus costumes. Como dizem alguns sóbrios homens de Deus, “Nunca ninguém ofereceu tanto, por tão pouco”.
A natureza da salvação de Cristo é deploravelmente deturpada pelo evangelista de hoje. Eles anunciam um Salvador do inferno ao invés de um Salvador do pecado. E é por isso que muitos são fatalmente enganados, pois há multidões que desejam escapar do Lago de fogo que não têm nenhum desejo de ficarem livres de sua carnalidade e mundanismo”(A.W. Pink).
Outra questão que facilitou a introdução cega do apelo foi a má interpretação da palavra Crer. No mundo secular, a palavra crer tem um significado diferente do que há na bíblia. A igreja de um modo geral, influenciada pelos reavivalistas, pegou textos sobre o tema e os interpretou segundo o contesto humano:
Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”(João 3:16).
 “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado" ( Marcos 16:16).
Quem crê nele não é condenado” (João 3:18).
Num país cristão, se você perguntar as pessoas se elas acreditam em Jesus, a maioria dirá que sim, claro! Elas entendem que estamos perguntado se elas acreditam na existência da pessoa e da obra de Jesus Cristo. Mas o problema é que o texto não está questionando isso. O que o texto está indagando é se a pessoa acredita no que Jesus fala, e não se acredita em sua existência pessoal. E isso faz alguma diferença? Claro, faz toda a diferença, porque se tratam de coisas absolutamente diferentes! Acreditar na existência de Cristo e de sua obra, não exige nada de mim. Mas acreditar em suas palavras significa o fim da minha vida como a conheço, significa a morte do meu ego, a extinção de minha independência, a renuncia das coisas que amo, mas que me fazem mal, e o montante de tudo isso é alto demais para que seja calculado em alguns minutos. É por isso que uma decisão dessas não pode levar apenas alguns momentos.  O apelo é a causa do exorbitante número de decisões por Cristo abortadas.
Quem vende propostas de baixo risco são comerciantes de mercadorias falsificadas. É exatamente isso que as igrejas modernas estão oferecendo
Em minha igreja jamais faço um apelo. E algumas pessoas me perguntam, “Mas como você sabe que alguém entregou sua vida à Cristo?” Eu respondo: É simples! Quando a vida da pessoa começa a mudar para de acordo com as escrituras, a conexão entre ela e Deus foi efetuada com sucesso.  “Disse Jesus: Pelos frutos os conhecereis…” Então assim está tudo resolvido? De forma alguma! Após uma possível decisão por Jesus, trato de informá-las que uma escolha por Cristo, foi apenas o início do jogo e não o final dele. Foi apenas o primeiro, de diversos passos que deverão se suceder até o fim de suas vidas. Embora isso afete o numero de candidatos a seguidores de Cristo, nem Jesus, nem os apóstolos jamais tiveram compromisso com as estatísticas, mas sim com a verdade. Eles procuravam construir nas pessoas uma fé firme, inabalável, que resistisse a tudo e a todos. Esse tipo de fé não se consegue com decisões instantâneas, de momento, nem com o rebaixamento dos padrões bíblicos, nem com a omissão das condições impostas por Deus.
A menos que um homem seja posto no nível de sua miséria e culpa, toda nossa pregação é vã. Somente um coração contrito pode receber um [o verdadeiro] Cristo crucificado”(Robert Murray McCheyne).
Existe um prejuízo em seguir ao Cristo escriturístico, existe algo à perder. Se formos sinceros, admitiremos que o messias claramente dificultava a adesão de novos candidatos a discípulo como ficou evidente no episódio do jovem rico. Jesus agia assim porque diferentemente de nós, acima de tudo prezava pela verdade, e a verdade nos obriga a sermos extremamente francos e transparentes, ingredientes indispensáveis para se construir relacionamentos profundos e duradouros.
A igreja evangélica moderna, pelo menos em países pobres e em desenvolvimento, continua se expandindo sob terreno arenoso e irregular, usando técnicas de engenharia extra-bíblicas. Eles visam apenas a multiplicação do empreendimento, sem atentar para a sua solides. Fundamentos duvidosos põem em risco toda a estrutura, mas isso parece não intimidar os alto-afirmados lideres da igreja moderna.
 Aos servos sinceros que ainda se preocupam com a voz do mestre, aconselho a abandonarem a fobia por novos convertidos à “sangue-frio”, e a investirem o suor em serem verdadeiros discípulos. Só assim estarão aptos para fazerem discípulos de verdade. Não confundam, a ordem do mestre não foi conseguir o maior numero de “decisões”, mas de discípulos.
 “Não procuramos enganar as pessoas para que creiam, não estamos interessados em fazer trapaça com ninguém. Nunca procuramos fazer com que alguém creia que a Bíblia ensina o que ela não ensina. Nós nos abstemos de todos esses métodos vergonhosos” (II Coríntios 4:2).

"Conheço a tua tribulação, a tua pobreza (mas tu és rico)"




Por Pr. Silas Figueira

“Conheço a tua tribulação, a tua pobreza (mas tu és rico) e a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus e não são, sendo, antes, sinagoga de Satanás”. (Ap 2.9)
“Conheço a tua tribulação...”
No grego é usado o termo “Thlipsis”, que tem o sentido de pressão, opressão, literalmente, significa esmagar um objeto, comprimindo-o. Descreve a vítima sendo esmagada, e seu sangue extraído. Descreve pessoas sendo esmagadas até a morte por uma enorme pedra. Também descreve a dor de uma mulher ao dar à luz [1]. Thlipsis é derivado de “thlibo”, que tem o sentido de pressionar, pressionar junto. Aqui nesse texto a ideia é de perseguição devido ao ódio dos judeus e gentios contra a igreja.

Quando o Senhor disse: “Conheço a tua tribulação”, Ele está dizendo: “Sei exatamente o que está se passando. Já passei por isso. Sei como se sente. Sei como é ser falsamente acusado, molestado e cuspido. Sei o que é ser açoitado, escarnecido e morrer de maneira injusta. Sei o que está sofrendo, e valorizo grandemente a sua lealdade”.

Em Esmirna, os crentes eram dolorosamente esmagados sob as rígidas leis romanas. Muitos eram arrancados de suas casas, capturados nas feiras livres e levados cativos. César jogava toda a força de seu poderoso império sobre esta pequena igreja. E muitos desses santos já haviam selado seus testemunhos com o próprio sangue [2].     

“... a tua pobreza (mas tu és rico)...”

Aqueles crentes eram pobres, mas não porque não trabalhassem – sendo essa a causa mais comum da pobreza – mas devido às perseguições que sofriam. Suas propriedades foram confiscadas ou destruídas, e eles sofriam encarceramento. Foram reduzidos a nada, pela ira do imperador. A simples sobrevivência física tornou-se um problema, pela falta de alimento.

Em seu comentário sobre o Apocalipse, R.N. Champlin conta a história de certo homem chamado Nicodemos, cuja família possuía uma décima parte da indústria de estanho em Roma. Mas, tento a família abraçado o cristianismo, depois da ressurreição de Cristo, foi reduzida a uma pobreza extrema, e as filhas da família podiam ser vistas a revirar os monturos, atrás de detritos, para isso matar a fome. Por conseguinte, aprende-se, por exemplos como esses, que a piedade não é garantia da riqueza física [3].

Precisamos estar permanentemente advertidos de que o ter pode comprometer o ser. Quando Salomão passou a remunerar os profetas que trabalhavam em seu palácio, esses se calaram diante das injustiças e se esqueceram do povo. A Igreja primitiva não tinha posses nem mesmo templos para celebrar os cultos, porém foi capaz de abalar as estruturas do Império Romano com sua mensagem e testemunho de vidas [4].

Havia duas palavras para pobreza no grego: ptochéia e penia. A primeira é pobreza total, extrema. Era representada pela imagem de um mendigo agachado. Penia é o homem que carece do supérfluo, enquanto que ptochéia é o que não tem nem sequer o essencial. João usou a palavra ptochéia para descrever a pobreza dos esmirneanos. A pobreza dos crentes era um efeito colateral da tribulação. Ela vinha de algumas razões:

1) Os crentes eram procedentes das classes mais pobres e muitos deles eram escravos. Os primeiros cristãos sabiam o que era pobreza absoluta.

2) Os crentes eram saqueados e seus bens eram tomados pelos perseguidores. O autor de Hebreus nos dá uma ideia do que estava acontecendo naquela época aos cristãos de Roma e era um reflexo do que estava acontecendo em outras igrejas também, no caso aqui, em Esmirna:

“Lembrai-vos, porém, dos dias anteriores, em que, depois de iluminados, sustentastes grande luta e sofrimentos; ora expostos como em espetáculo, tanto de opróbrio quanto de tribulações, ora tornando-vos co-participantes com aqueles que desse modo foram tratados. Porque não somente vos compadecestes dos encarcerados, como também aceitastes com alegria o espólio dos vossos bens, tendo ciência de possuirdes vós mesmos patrimônio superior e durável”. (Hb 10.32-34).

3) Os crentes haviam renunciado aos métodos suspeitos e, por sua fidelidade a   Cristo, perderam os lucros fáceis que foram para as mãos de outros menos escrupulosos; ou judeus e pagãos podem ter-se negado a fazer negócios com eles [5].

“... mas tu és rico...”

A igreja de Esmirna era rica não em bens materiais, mas em riqueza espiritual. Isso pode ser comparado ao caso da igreja de Laodicéia, que era “rica” quanto às riquezas materiais, porém, inteiramente paupérrima quanto às riquezas espirituais.

O Senhor diz para os crentes de Esmirna que eles não deviam sentir piedade de si mesmos. Podiam parecer pobres, mas, na realidade, eram ricos, a saber, de bens espirituais, ricos da graça e de seus frutos [6].

Enquanto o mundo avalia os homens pelo ter, Jesus os avalia pelo ser. Importa ser rico para Deus. Importa ajuntar tesouros no céu. A igreja de Esmirna era pobre, mas era fiel. Era pobre, mas rica diante de Deus. Era pobre, mas possuía tudo e enriquecia a muitos [7].

Nós podemos ser ricos para com Deus, ricos na fé, ricos em boas obras. Podemos desfrutar das insondáveis riquezas de Cristo. À vista de Deus há tantos pobres homens ricos como ricos homens pobres. É melhor ser como a igreja de Esmirna, pobre materialmente e rica espiritualmente, do que como a igreja de Laodicéia, rica materialmente, mas pobre diante de Cristo.

Ensinar a igreja a ter um estilo de vida simples é ensinar à igreja o caminho da dependência de Deus, e não de coisas e de materiais. É também ensiná-la a ter os olhos e atitudes mais sensíveis para com os necessitados. A tirar os olhos de si mesma e passar a ver os outros. Só assim uma comunidade será rica. A riqueza e a prosperidade material não são sinônimos de riqueza espiritual. É possível uma igreja ser rica material e espiritualmente. Mas mesmo que uma comunidade seja materialmente abastada, precisará revelar os valores de Deus nessa área da vida. Nosso desafio é mostrar ao mundo que a piedade é grande fonte de lucro. Mostrar que somos uma comunidade rica em piedade e satisfeita com o que Deus nos tem proporcionado [8].

“... e a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus e não são...”

Em Esmirna, havia uma grande comunidade judaica que hostilizava fanaticamente o cristianismo. Esta comunidade judaica estava ajudando os romanos na perseguição contra a igreja de Esmirna espalhando falsos rumores sobre os cristãos. Os inimigos de Cristo estavam caluniando o Seu povo, “blasfemando” contra eles, por essa razão, esses judeus haviam perdido o direito de serem chamados de Israel de Deus. Eles eram judeus de raça, mas não eram filhos de Abraão na fé. O apóstolo Paulo escrevendo aos romanos diz: “Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente...” (Rm 2.28a), e, “...porque nem todos os de Israel são, de fato, israelitas; nem por serem descendentes de Abraão são todos seus filhos; mas: em Isaque será chamada a sua descendência. Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa”. (Rm 9.6-8). O apóstolo Paulo diz enfaticamente que somente os nascidos de novo, e isso independe de raça, são os verdadeiros israelitas; observe: “porém judeu é aquele que o é interiormente...” (Rm 2.29a). Em Gálatas 3.7 o apóstolo Paulo diz: “Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão”, e em Gálatas 6.16 ele chama a Igreja Cristã de “Israel de Deus”. Podemos resumir tudo isso dizendo que, os verdadeiros judeus são aqueles que confiam em Cristo, os quais, por isso mesmo conquistaram legítimo direito de se chamarem judeus e de possuírem os seus privilégios espirituais. Como diz no Evangelho de João falando a respeito de Jesus: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1.12-13).

A maledicência exerce uma estranha fascinação sobre todos nós. Como diz o livro de Provérbios: “As palavras do maldizente são comida fina, que desce para o mais interior do ventre” (Pv 26.22). E os descrentes de Esmirna nutriam-se exatamente dessas suculentas iguarias. Mas os cristãos foram profundamente feridos por causa desse abuso. Era doloroso ser mal interpretado e difamado. Entretanto, não é de duvidar que eles seguiam os passos de seu humilde Mestre, de quem está escrito: “Quando insultado, não revidava; quando sofria, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga com justiça” (1Pe 2.23) [9].

“... sendo, antes, sinagoga de Satanás”.

Os judeus são claramente opositores da Igreja. Expressando-se desta forma João faz uma distinção importante entre judaísmo interior e exterior. Estes “judeus” sem dúvida são judeus por raça e por religião, que se reúnem na sinagoga para adorar ao Senhor. Mas na verdade interiormente eles não são judeus, porque rejeitaram Jesus, o Messias, e confirmavam esta rejeição perseguindo a igreja [10]. 

Os crentes de Esmirna estavam sendo acusados de coisas graves. O diabo é o acusador. Ele é o pai da mentira. Aqueles que usam a arma das acusações levianas são “Sinagoga de Satanás”. Os judeus foram os principais inimigos da igreja no primeiro século. Perseguiram a Paulo em Antioquia da Psídia (At 13.50), em Icônio (At 14.2-5). Em Listra Paulo foi apedrejado (At 14.19), em Corinto Paulo tomou a decisão de deixar os judeus e ir para os gentios (At 18.6). Quando retornou para Jerusalém, os judeus o prenderam no templo e quase o mataram. O livro de Atos termina com Paulo em Roma sendo perseguido pelos judeus. Eles se consideravam o genuíno povo de Deus, os filhos da promessa, a comunidade da aliança, mas rejeitaram o Messias e perseguiram a Igreja de Deus. A religião deles foi satanizada. Tornou-se a religião do ódio, da perseguição, da rejeição da verdade. Quem difama a Cristo ou O degrada naqueles que O confessam promove a obra de Satanás e guerreiam as guerras de Satanás.

Os crentes de Esmirna passaram a sofrer várias acusações levianas:

1)      Canibalismo - por celebrarem a ceia com o pão e o vinho, símbolo do corpo e do sangue de Cristo.
2)      Imoralidade – por celebrarem a festa do Ágape antes da ceia, por causa do ósculo santo e da ênfase que eles davam ao amor fraternal. Consequentemente eram acusados de incesto e orgias sexuais.
3)      Divididores de famílias – uma vez que as pessoas que se convertiam a Cristo deixavam suas crenças vãs para servirem a Cristo.
4)      Ateísmo – por não se dobrarem diante de imagem dos vários deuses.
5)     Deslealdade ao governo – eles eram chamados de desleais e revolucionários, por se negarem a dizer que César era o Senhor.


Os judeus incrédulos tomaram o partido de Satanás, no conflito entre a igreja e o pagão império romano. Alegremente ajudaram às autoridades romanas a esmagarem a igreja. Aquele que ajudasse Roma, com razão era considerado debaixo da influência satânica. Esses judeus passaram a cultuar a César para não perderem os seus bens. Agora passaram a caçoar e falar mal dos cristãos que tinham perdido tudo por permanecerem fiéis a Jesus. Por isso que o Senhor afirma que esses não são judeus realmente, mas sim Sinagoga de Satanás. São agentes do diabo. Podemos chamá-los de sádicos da fé e da religião [11].