domingo, 1 de setembro de 2013

Combustão espontânea


O blog que mantém, e que é o principal veículo de divulgação de suas ideias, já chegou a ser tirado do ar a partir de denúncias de entidades de defesa dos direitos da comunidade gay, que o acusam de homofóbico. Severo diz que a pressão foi tanta que ele teve que deixar o Brasil no fim de março. Ele não revela o lugar onde está de jeito nenhum. “Seria perigoso para mim e para minha família”, justifica. Lá, afirma que tem frequentado uma igreja “muito humilde” e se mantido graças à ajuda que recebe de colaboradores e instituições que o apoiam.

Severo é daqueles crentes quixotescos, disposto a lutar contra moinhos que talvez só ele consiga enxergar. Nas suas palavras, até mesmo o governo brasileiro teria interesse em pedir sua deportação por conta das críticas que faz a Luiz Inácio Lula da Silva. “O presidente faz defesa intransigente do homossexualismo e do aborto. Quanto ainda falta para considerarmos Lula e seu governo como possessos? Ele está acabando com a moralidade e a honestidade da sociedade”, dispara. O tom histriônico dá ao perfil de Julio Severo um contorno incendiário que ele faz questão de alimentar, e não apenas quando fala da homossexualidade. Ele defende, por exemplo, o direito de os pais crentes educarem seus filhos em casa (prática proibida pela legislação brasileira) como forma de mantê-los a salvo de supostas influências perniciosas da escola. Além disso, diz que o casamento é a solução contra a promiscuidade sexual entre os jovens evangélicos. “Querem sexo? Então, que se casem”, prega Severo, para quem as famílias não deveriam estimular seus filhos a postergar o matrimônio em busca de qualificação educacional e profissional, e sim, fazer justamente o contrário. É provável que poucos crentes concordem com ele, mas Severo avisa: “Quando meu livro foi publicado, muitos o acharam exagerado. Quem leu, hoje me chama de profeta.” 
 
Cristianismo Hoje: Que tipo de ameaças o senhor recebeu por conta de sua militância contra a homossexualidade e que o obrigaram a deixar o país?

Julio Severo: Já recebi emails ameaçando processos, sem contar os inúmeros xingamentos. Várias comunidades no Orkut ligadas a mim ou feitas para honrar meu trabalho foram denunciadas e fechadas. Em contrapartida, as muitas comunidades que me denunciam como “criminoso” nunca foram fechadas. Essas comunidades encaminham o público radical a fazer denúncias diretamente nos órgãos do governo Lula.

Em julho de 2007, meu blog foi fechado pelo Google depois de uma longa campanha de denúncias de ativistas homossexuais. Graças à intervenção de advogados evangélicos e um procurador, o Google liberou meu blog, entendendo que meu direito de livre expressão estava sendo violado. [Não posso deixar de mencionar também o papel importante do filósofo Olavo de Carvalho, que na época escreveu um artigo em minha defesa no Jornal do Brasil.]

Em sua página pessoal de internet, o líder máximo do movimento homossexual brasileiro, Luiz Mott, publicou o nome completo, endereço e telefone de “Julio Severo”. Felizmente para mim e minha família, ele postou os dados de outra pessoa! Tempos atrás interceptei mensagem de Luiz Mott a outros líderes gays, onde havia o pedido para que se levantassem a meu respeito informações pessoais como nome completo, endereço, fotos, histórico, etc.

Além disso, sou alvo de outros tipos de ataques. Regularmente aparecem páginas de internet, com conteúdo de pornografia homossexual, contendo meu nome, como se eu estivesse ligado a tais obscenidades. O objetivo, sem dúvida, é levar o internauta que pesquisa meu nome a terminar numa dessas páginas pornográficas. Um conhecido site esquerdista chegou a publicar uma entrevista forjada, onde o falso “Julio Severo” se confessa um homossexual promíscuo.
Precisei sair do país depois que procuradores, numa atitude abusiva, intimaram um amigo meu a revelar minha localização. Mesmo depois que meu amigo declarou, com a ajuda de um advogado, que ele não tinha nenhuma responsabilidade pelo conteúdo do meu blog, o MPF continuou intimando-o. A alegação deles é que havia uma queixa de “homofobia” registrada contra mim em 2006.

Cristianismo Hoje: Onde o senhor está atualmente? Há quanto tempo o senhor está neste local? Por que a opção por este local?

Julio Severo: O lugar em que estou foi escolha de um evangélico que escutou um apelo em favor de mim. Esse apelo foi feito pelo filósofo brasileiro Olavo de Carvalho, através de seu programa de rádio na internet. Depois de ouvir o apelo, ele se mobilizou para ajudar.

Cristianismo Hoje: Quando o senhor pretende voltar ao Brasil? Sua volta depende de quê?

Julio Severo: O Brasil está descaradamente caminhando para uma ditadura cultural e legal pró-homossexualismo e pró outras perversões, inclusive o sacrifício de crianças com amparo estatal. Que chances tenho eu de prosseguir meu trabalho sem sofrer muitas outras ameaças?
Além disso, outras posições cristãs e éticas que eu e minha família temos são encaradas injustamente como “crimes” pela pseudo-democracia brasileira, trazendo grandes riscos de segurança para nós. Defendemos abertamente a educação escolar em casa, opção educacional que estava disponível para as famílias brasileiras até que os esquerdistas suprimiram, sem que ninguém percebesse, tal liberdade na Constituição de 1988. Em países genuinamente democráticos, nenhum pai ou mãe enfrenta perseguição por educar os filhos em casa.

No Brasil, o mesmo Estado incompetente que não consegue tirar crianças das ruas consegue invadir lares e ameaçar pais e mães inocentes com prisão pelo “crime” de educar em casa. Eu pessoalmente vi, em São Paulo e no Rio, crianças nas ruas pedindo esmola. Em São Paulo vi uma menina de 8 anos pedindo esmola às 23h30min! Contudo, se ela fosse uma menina educada em casa, bem alimentada e segura, as autoridades incompetentes conseguiriam invadir seu lar, tomar-lhe a guarda e, quem sabe, entregá-la em adoção a um “casal” homossexual.
Defendo também a liberdade de os pais optarem por não vacinar seus filhos, considerando o fato gravíssimo de que a maioria das vacinas infantis é feita a partir de linha de células fetais de bebês abortados.

Tive também acesso à informação confidencial de fonte de alto nível me avisando do Ministério da Saúde (MS) preparando medidas e retaliações contra mim porque o MS atribuiu diretamente aos meus textos o baixo índice de vacinação em sua recente campanha da rubéola. A própria imprensa brasileira confirmou o impacto dos meus artigos como importante fator na conscientização da população, onde um grande número acabou rejeitando a vacinação durante a campanha da rubéola.

No Brasil, posturas éticas em defesa da liberdade de escolha e dos direitos prioritários dos pais em importantes decisões de educação e saúde dos filhos estão custando um alto preço para muitos pais cristãos. Eu e minha família vivemos essa dura realidade na própria pele.
Enquanto a maioria absoluta dos brasileiros (pais, mães, cristãos, etc.) vai perdendo direitos necessários sem nem mesmo perceber, a minoria homossexual ganha do Estado o direito completamente desnecessário de promover e praticar o ato de enfiar ou receber o pênis no ânus. Atribuo a cegueira do povo brasileiro (inclusive católicos e evangélicos) às campanhas de doutrinação estatal com a cumplicidade da mídia comprada.

Uma sociedade justa e saudável tem escolas que, em vez de doutrinarem as crianças no homossexualismo, ensinam o valor do casamento, o valor do papel do pai e da mãe, o valor do sexo conjugal e desestimulam as crianças de todo comportamento nocivo, inclusive o homossexualismo. Uma sociedade que não tem essa justiça inevitavelmente acaba perseguindo as pessoas honestas e justas.

Cristianismo Hoje: O senhor diz que saiu com sua mulher e dois filhos. Qual tem sido sua atividade aí e de onde vem seu sustento?

Julio Severo: Minha atividade aqui é exatamente a mesma atividade que Deus me deu no Brasil: alertar, informar, conscientizar, através do meu blog. Não vou abandonar minhas responsabilidades para com o Brasil. Meu sustento atual está vindo da colaboração voluntária dos leitores e admiradores do meu blog.

Cristianismo Hoje: O senhor diz que promotores do Ministério Público têm pressionado pessoas conhecidas suas no Brasil para que informem seu paradeiro. Quem são estes promotores? O MP já abriu investigação contra o senhor?

Julio Severo: Tecnicamente, seria impossível o Brasil se tornar a nação mais obcecada do mundo na promoção do homossexualismo, mas isso aconteceu. Tecnicamente, não haveria o que o MPF fazer contra mim, pois não existe nenhuma lei anti-“homofobia” no Brasil. Mesmo não havendo tal lei, outros cristãos brasileiros já foram perseguidos por “homofobia”. Que país é esse, que age arbitrariamente com base exclusiva nos sentimentos pró-homossexualismo do presidente Lula? Que tipo de justiça eu posso sofrer por minhas posições públicas sobre o homossexualismo, sendo inclusive autor do livro “O Movimento Homossexual”, publicado há 11 anos pela Editora Betânia?

O que poderiam fazer, conforme orientações que recebi de advogados católicos e evangélicos, é tentar me cercar com outras acusações mais viáveis, e isso já está sendo feito. À queixa de “homofobia” foram adicionadas posteriormente queixas de jornalistas muçulmanos e adeptos de religiões afro-brasileiras. As novas acusações no MPF partiram de indivíduos insatisfeitos com os textos do meu blog sobre as práticas de bruxaria e da religião muçulmana.

Antes que fechassem o cerco, tomei a iniciativa de proteger minha família e meu trabalho, pois posso continuar alertando o Brasil a partir de qualquer localidade do mundo. Saí também para aliviar as pressões injustas do MPF sobre um amigo.

Cristianismo Hoje: Se o PL 122/2006 ainda não foi aprovado, com base em qual instrumento legal o senhor seria denunciado?

Julio Severo: Na base da pura truculência estatal. A VINACC (Visão Nacional para a Consciência Cristã) teve seu direito de livre expressão totalmente violado numa campanha de defesa da família, pois sob pressão de ativistas gays e do governo federal uma juíza acolheu contra a VINACC queixa de “homofobia”. Isso ocorreu em 2007, um ano depois da primeira queixa contra mim. Ainda em 2007, o Pr. Ademir Kreutzfeld, da Igreja Luterana de Santa Catarina, foi intimado porque o maior ativista homossexual do seu estado entrou com queixa por “homofobia”, posteriormente desistindo da ação, por causa das pressões contrárias que eu e meus amigos conseguimos levantar. Infelizmente, porém, a VINACC foi obrigada a remover seus outdoors pró-família. Tudo o que os outdoors diziam era: “Homossexualismo: E Deus os criou homem e mulher e viu que isso era bom”. Essa simples declaração foi considerada “criminosa” e “homofóbica”. Só um governo ditatorial proibiria tal campanha pacífica. Tal é o governo Lula.

Cristianismo Hoje: Em que etapa está o processo que foi movido contra o senhor pela ABGLT?

Julio Severo: Não sei. A ABGLT (agora ABLGT) entrou com queixa contra mim por “homofobia” em novembro de 2007, pedindo o fechamento do meu blog e ações criminais contra minha pessoa. Poderíamos desconsiderar essa ameaça como sem efeito, pelo tempo que já passou. Foi o que fiz também em 2006, quando recebi um email da Associação da Parada do Orgulho Gay de São Paulo, dizendo que estavam entrando com queixa contra mim no MPF. Não dei atenção, pois recebo muitas ameaças. Para mim, era apenas mais uma ameaça. Contudo, no final de 2008, um amigo meu entra em contato comigo dizendo que estava sendo intimado pelo MPF a revelar minha localização. Com a ajuda de um advogado, ele se defendeu, porém o MPF não aceitou a defesa e continuou pressionando. Para um queixa de “homofobia” de 2006 que eu achava que não ia dar em nada, acabou dando nisso. E ainda há outras queixas: Em maio de 2008, Luiz Mott, em confissão pública, declara também que entrou com queixas contra mim no MPF e outros órgãos.

Cristianismo Hoje: Quem está no Brasil defendendo seus interesses e seus direitos?

Julio Severo: Um escritório de advocacia, de direção evangélica, assumiu voluntariamente a defesa de meu direito de livre expressão.

Cristianismo Hoje: O senhor tem recebido apoio de alguma pessoa, igreja ou instituição?
Julio Severo: Antes de sair do Brasil, recebi muitas manifestações de carinho e apoio, desde irmãos em Cristo simples como eu até pastores, advogados, promotores e outros líderes.

Cristianismo Hoje: Por que o senhor começou sua militância nesta área do homossexualismo e suas relações com a fé cristã e desde quando está envolvido nisto?

Julio Severo: No começo de 1995 senti claramente Deus me dirigindo a escrever um livro sobre a ameaça do movimento homossexual. Durante algumas semanas, hesitei, pois o tema homossexual era um tabu enorme. Não havia paradas gays, nem a obsessão homossexual que vemos hoje em tudo: escolas, mídia, etc. Depois de algum tempo, venci meus temores e aceitei o chamado do Espírito, começando a pesquisar sobre o movimento homossexual. Quando, em meados de 1995, ocorreu no Brasil a primeira conferência internacional da ILGA no hemisfério sul, entendi a intenção divina de me chamar para o combate, pois depois da conferência os grupos gays brasileiros ganharam um impulso extraordinário para avançar. Deus antecipou essa agressão espiritual do inferno com uma ação da agenda do Reino de Deus. Foi assim que nasceu meu livro “O Movimento Homossexual”, publicado pela Editora Betânia em 1998.

Cristianismo Hoje: O senhor já teve algum envolvimento pessoal com homossexualismo? Caso positivo, como se deu a sua mudança de comportamento, já que hoje o senhor mantém há longo tempo uma relação heterossexual estável que já lhe deu dois filhos?

Julio Severo: Nunca fui homossexual.

Cristianismo Hoje: O senhor se denomina um ativista pró-família. Em quê consiste seu trabalho?

Julio Severo: Essa designação me foi dada por líderes evangélicos e católicos nos EUA, exatamente pela repercussão de meus artigos em inglês em defesa da família. Meu trabalho consiste principalmente em alertar e defender os valores da família. As famílias precisam compreender fatos fundamentais: 1. Filhos são bênçãos inigualáveis. 2. Decisões de saúde e educação dos filhos pertencem prioritariamente aos pais. Portanto, as famílias precisam lutar contra o Estado voraz que, em desafio ao planejamento divino, desvaloriza os filhos, o lar, o papel das mulheres, o casamento e usurpa os papéis dos pais, removendo deles o direito prioritário de decidir questões de saúde e educação dos filhos. Hoje o Estado amigo-da-onça é a maior ameaça à integridade da família.

Cristianismo Hoje: Muitos de seus detratores o chamam de radical. O senhor se considera um fundamentalista?

Julio Severo: Sou apenas um servo de Deus, radicalmente apaixonado por Jesus. Muitas igrejas do Brasil, tanto evangélicas quanto católicas (não o Vaticano, que é conservador), estão radicalmente comprometidas com a esquerda e é natural que queiram tachar de radical quem ouse pensar diferente da ideologia predominante na sociedade e nas igrejas. Quanto às designações, no final vai valer somente o que Deus disser. Por isso, minha meta é agradar a Deus.

Cristianismo Hoje: A sexualidade, além de tabu entre muitos evangélicos, é uma das questões que mais suscitam polêmica neste segmento. Em sua opinião, por que isso acontece, levando-se em conta a concepção cristã de que o sexo é uma dádiva de Deus a seus filhos?

Julio Severo: Se perdermos de vista o propósito de Deus para o sexo, perdemos o rumo de tudo na área sexual. Deus conferiu aos seres humanos a capacidade reprodutiva, onde podemos dar continuidade à maior obra que Deus criou no começo de tudo: o homem e a mulher. Na sexualidade, participamos com Deus no Seu projeto de criação. É como no evangelismo. É um prazer ver uma alma sendo resgatada pelo sacrifício de Jesus. Mas a alma do evangelismo não é o prazer. O mesmo se aplica à sexualidade. O prazer tem seu papel, porém o propósito prioritário do sexo é o estabelecimento da família: pai, mãe e filhos. Sem tal perspectiva, o sentido do sexo se evapora.

Cristianismo Hoje: O aborto é um tema do interesse evangélico? Faz parte da agenda da liderança evangélica? Por que não, ou por que sim? De que forma? Como foi a repercussão de sua polêmica com o bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal, sobre esse assunto?

Julio Severo: Acho o aborto um problema muitíssimo importante, pois envolve o sacrifício dos inocentes. Sabemos que Satanás exige tais sacrifícios a fim de operar mais na sociedade. Por isso, para ele é de fundamental importância legalizar tais sacrifícios. A legalização do aborto faz parte de um projeto das trevas para expandir a atividade demoníaca na sociedade, com suas conseqüentes devastações.

Infelizmente, as igrejas evangélicas de forma geral estão em cima do muro. Somente o Vaticano (não a CNBB) tem uma voz cristã clara, objetiva e forte nessa importante questão.
Fazia parte da agenda dos israelitas, sob o comando de Deus, exterminar os sacrifícios de crianças da Terra Prometida, e havia conseqüências graves quando eles não conseguiam cumprir tal missão. O motivo por que não faz parte da agenda da vasta maioria das igrejas evangélicas brasileiras exterminar toda medida política, legal e cultural que favorece o aborto é porque os evangélicos perderam a visão e o respeito pelo valor dos filhos. Filhos são bênçãos especiais e essenciais no projeto de Deus para o casamento e sexualidade.

Uma cultura que desvaloriza crianças (e temos de reconhecer que a atual cultura é fundamentalmente contraceptiva) fatalmente valoriza o aborto. Todas as sociedades contraceptivas legalizam o aborto. Ao invés de confrontar a cultura anti-bebê e anti-criança, tudo o que as igrejas têm conseguido fazer é se adaptar. É uma apostasia que começou na área sexual, atingiu o casamento e família, e agora atinge em cheio os púlpitos, tornando as igrejas cristãs e suas mensagens quase que socialmente insignificantes.

A luta contra o aborto envolve necessariamente o resgate do valor original da sexualidade e filhos. Quando os casais e as igrejas tornam as crianças irrelevantes para o sexo e família, eles próprios se tornam irrelevantes.

Quanto à IURD, suspeito que se estivessem presentes nos tempos de Josué e Davi eles apoiariam os cananeus e seus sacrifícios de crianças, pois só quem gosta de tais sacrifícios é que apóia o aborto. Ao apoiar o aborto, a IURD se descaracterizou completamente como entidade cristã.

Cristianismo Hoje: Embora desagrade os crentes, a regulamentação da união civil entre homossexuais parece estar vindo para ficar – por todo o país, diversos tribunais têm não apenas reconhecido os direitos civis decorrentes dessa união, como também concedido aos parceiros gays até mesmo o direito à adoção de filhos na condição de “dois pais” ou “duas mães”. No entanto, as Igrejas Católica e Evangélica permanecem frontalmente contrárias a tal prática, atuando no sentido de que não seja regulamentada. Em um Estado democrático de Direito, qual legitimidade tem o segmento religioso de interferir na vida em sociedade?

Julio Severo: Em um legítimo Estado democrático de direito, a família natural e seus interesses são respeitados e protegidos acima de todo e qualquer interesse de outros grupos. O que o falso Estado democrático de direito quer impor é a descaracterização da família e sua importância, colocando como prioridade um comportamento sexual anti-natural que nenhuma função tem para a preservação da espécie humana ou para a estabilidade da família humana. Do ponto de vista natural, a homossexualidade é uma das maiores aberrações e ameaças à família natural.
A sociedade é dividida em diferentes segmentos ideológicos. Há o segmento que tem ideologias religiosas e o segmento que tem a ideologia homossexual. Se a maioria religiosa não tem, conforme a opinião do “Estado democrático de direito”, o direito de impor sobre a sociedade seus valores, que direito tem então a minoria homossexual?

Do ponto de vista da democracia tradicional, é ditatorial submeter a vontade da maioria à vontade de uma minoria. Só uma democracia deturpada permitiria tal medida.
Esse embate, onde uma minoria é manipulada por um Estado de linha socialista para anular e silenciar a maioria, é o exemplo mais representativo e gritante da fomentação da luta de classes, estratégia marxista para a implantação de ditaduras.

O mundo foi criado por Deus, não pelo Estado. Nem as famílias, nem as igrejas, nem a sociedade e muito menos o Estado democrático de direito podem viver sem Deus e seus valores. Isso é impossível e destrutivo.

O chamado “Estado democrático de direito” não está acima de Deus e seus valores. Qualquer que seja o Estado, ele é ministro de Deus, conforme Romanos 13. Em outras palavras, o Estado tem o chamado e a obrigação de servir a Deus. Quanto a nós, não temos nenhuma obrigação de endeusar ou idolatrar o Estado, muito menos um Estado que descaradamente distribui cartilhas pornográficas e camisinhas para crianças de 10 anos nas escolas.

Temos também de notar que o Estado não tem chamado de criar direitos. Sua função básica é proteger os direitos naturais já existentes. Contudo, o Estado socialista estabelece direitos artificiais, criados à revelia da natureza e das leis divinas, que acabam ameaçando os direitos naturais. É o nazismo em roupagem “democrática”. Por falar em nazismo — que era a siga do Partido dos Trabalhadores Nacional Socialista —, Hitler e a cúpula nazista eram homossexuais. Mera coincidência?

Cristianismo Hoje: Falta conscientização política e social aos pastores brasileiros? Por que isso acontece?

Julio Severo: Muitos pastores desconhecem os embates culturais e preferem não se envolver na política, por causa da corrupção presente até mesmo entre políticos evangélicos. A esquerda evangélica hoje detém quase que exclusivamente o monopólio da “conscientização política e social”. Daí, quando se fala em ação política ou social evangélica, a primeira imagem que vem à mente do público evangélico é a imagem de igrejas e grupos evangélicos atuando como se fossem meros braços assistencialistas do Estado socialista. Essa visão deformada é praticamente a única que os evangélicos do Brasil têm de “ação social”. Falta uma visão genuína de Reino de Deus para a atuação dos evangélicos na política brasileira.

Cristianismo Hoje: O combate ao sexo pré-conjugal é uma de suas bandeiras. Como convencer o jovem, inclusive o cristão, a manter a castidade num mundo que enfatiza o prazer e o descompromisso das relações?

Julio Severo: O tipo de castidade que as igrejas evangélicas hoje defendem é impossível, pois requerem dos jovens abstinência sexual, mas não propõem casamento quando os impulsos sexuais exigem satisfação a todo custo. O adolescente evangélico vai à escola, onde recebe doutrinação estatal para fazer sexo de todas as formas possíveis, vendo seus amigos namorando e fazendo sexo: o que ele acaba fazendo? Para piorar, as igrejas e as famílias dizem ao adolescente e ao jovem: reprima suas tentações e não pense em casamento até acabar os estudos. O resultado é que acontece hoje entre os jovens evangélicos exatamente o que está acontecendo entre os jovens não cristãos: sexo promíscuo.

Num tempo de suas vidas em que a prioridade de seus sentimentos está voltada ao sexo, as pressões principais sobre os jovens — vinda dos pais, dos amigos e das igrejas — colocam o casamento em último plano. Falta muita valorização do casamento e família para os jovens.
A Bíblia nos instrui: é melhor casar do que abrasar-se. O jovem vive muitas vezes abrasado. Como se isso não fosse suficiente, ele nasceu justamente numa era marcada pelo abrasamento, lascívia e prostituição. Por isso, quando o jovem não consegue mais se controlar, é fundamental não pressioná-lo a sacrificar possibilidades de casamento por causa de metas educacionais. De que adianta, do ponto de vista do Reino de Deus, um evangélico com diploma universitário com um rastro de prostituição? Tal rastro representa grandes perdas espirituais. Esse evangélico depois terá problemas pelo resto da vida, inclusive conjugais, pois sacrificou todos os seus valores em prol da deusa educação.

Portanto, se o jovem sente que é hora de casar, em vez de pressioná-lo ao contrário, as famílias evangélicas envolvidas deveriam apoiar e ajudar o moço e a moça a começarem sua vida juntos. Eles precisam se casar.

O que pude constatar em várias igrejas é que a maioria dos jovens que namoram já está fazendo sexo. Filhos de pastores estão engravidando moças fora do casamento. Filhas de pastores estão tendo bebês sem casar e às vezes até matando seus bebês escondido através do aborto. Tudo é sacrificado: bebês, casamento, moral, espiritualidade, comunhão com Deus. Tudo — menos as idolatradas metas educacionais.

Anos atrás um pastor evangélico me confessou que todos os jovens integrantes da equipe de louvor de sua igreja estavam fazendo sexo. O caminho certo é encaminhar rapidamente esses jovens ao casamento. Quando não são encaminhados, eles podem acabar trocando de “namoradas”, transformando assim seus relacionamentos em prostituição. Antes que se transforme em prostituição, é melhor transformar em casamento. Por isso, quando as famílias evangélicas sentem que o rapaz e a moça já estão num namoro, é recomendável ajudar num casamento sem demora.

Aliás, o conceito de namoro é uma invenção moderna sem nenhum apoio na Bíblia. Na área sexual e em outras áreas importantes, o que deve haver é compromisso. Não quer casar? Não namore. Quer sexo? Case. A Bíblia não diz: é melhor namorar do que abrasar-se. Recomendo a leitura do importantíssimo livro “Eu disse adeus ao namoro”, de Joshua Harris. A cultura do namoro leva menos ao casamento do que ao sexo promíscuo. Vale a pena optar pelo compromisso de casamento, em vez do namoro.

Só os rapazes e moças que não estão namorando ou não tendo nenhum tipo de relacionamento abrasante é que podem prosseguir com suas metas educacionais. Os outros, para o seu próprio bem-estar físico, moral, espiritual, psicológico e conjugal, precisam se casar o mais cedo possível.

Cristianismo Hoje: O senhor apresenta em alguns de seus posts uma forte tendência carismático-pentecostal – contudo, é um militante político-social, ao contrário da larga maioria dos crentes deste segmento, que costumam ser bem mais alienados, preferindo temas ligados à espiritualidade. Como fazer uma saudável conexão entre os dois extremos?

Julio Severo: Admiro grandemente Martinho Lutero e João Calvino em suas idéias políticas. Por exemplo, o conceito de porte de arma para a defesa pessoal e a pena de morte para assassinos eram idéias defendidas por esses dois grandes fundadores da Reforma. Eles eram politicamente mais bíblicos do que 99% dos evangélicos políticos que conheço hoje.

Tenho um relacionamento muito bom com reformados. Em 2006 o famoso teólogo reformado Harold O. J. Brown me convidou para preparar a edição de agosto do Religion & Society Report, um excelente período acadêmico conservador. O título do meu artigo de 12 páginas foi “Behind the homosexual tsunami in Brazil”, onde descrevo a esquerdização do Brasil, trazendo como conseqüência deterioração política, legal, cultural e estatal.

É claro que acima de tudo procuro me manter em sintonia com Jesus, que é o Rei do Reino de Deus. Esse Reino é essencialmente “político”, mas não no sentido desgastado que conhecemos. É um sistema de governo com leis e valores perfeitos.

Todos os cristãos são chamados a orar pedindo para que esse “Reino venha”, isto é, para que “esse Governo” venha. É a vontade de Deus que o Governo dEle avance no mundo que Ele criou. Quando oramos a famosa oração do “Pai nosso”, conscientemente ou não estamos pedindo para que o sistema político e legal de Deus seja estabelecido neste mundo. Portanto, não tenho como não me emocionar e me envolver no projeto político de Deus. Sou cidadão do Reino de Deus, chamado com todos os outros cidadãos do Reino a avançar o Governo de Deus no mundo, através de orações, testemunhos, ações, etc.

Cristianismo Hoje: Fale sobre sua trajetória religiosa. Quando o senhor tornou-se evangélico? Sua formação profissional e acadêmica? A qual igreja está ligado atualmente? No seu auto-exílio, como o senhor tem praticado a sua fé?

Julio Severo: Fui a uma igreja evangélica pela primeira vez com minha mãe, que atuava na umbanda. Ela encontrou Jesus numa igreja batista renovada. Meu encontro pessoal só ocorreu anos mais tarde, em 1981, quando senti Jesus me enchendo com seu Espírito Santo, depois de um período de busca angustiada e sede espiritual. A partir daquele dia, mudei. Comecei a ler a Bíblia com gosto, a orar, a buscar mais a Deus. Lembro-me de que, mesmo freqüentando os cultos e Escola Dominical pontualmente, eu gostava de colecionar gibis de terror e assistir a filmes de terror. Depois de experimentar a plenitude do Espírito Santo em mim, com 16 anos de idade, olhei para os gibis de terror e pensei: Que graça tem isso? Perdi todo gosto por programas de terror. Joguei tudo fora. Meus gostos mudaram. Reconheço que essa mudança veio de fora de mim. A presença do Espírito veio com paz e novas coisas para mim. Joguei o vinho velho fora e fiquei com o novo.

Além de “O Movimento Homossexual”, sou autor do livro Orações Proféticas, publicado pela Editora Propósito Eterno em 2007. Sou também responsável pelo Blog Julio Severo — www.juliosevero.com —, em língua portuguesa; pelo Blog Last Days Watchman — www.lastdayswatchman.blogspot.com — , em língua inglesa e pelo Blog Escola em Casa — www.escolaemcasa.blogspot.com — , voltado para questões educacionais e defendendo o direito prioritário dos pais em decisões de educação e saúde de seus filhos.

No meu exílio estou freqüentando uma humilde igreja evangélica, com um pastor e membros muito humildes.

Estou aproveitando meu exílio, como Martinho Lutero no Castelo de Wartburgo, para escrever o que Deus tem posto no meu coração.

Cristianismo Hoje: Em seu blog, o senhor fez uma relação de líderes evangélicos que apoiaram ou apoiam o governo Lula como forma de denunciar os conchavos interesseiros de lideres que manipulam o povo. Quem são estes líderes? Quais as suas intenções? E qual foi a sua intenção ao fazer essa denúncia?

Julio Severo: A lista é tão grande que não dá para citar aqui. Desde líderes tradicionais como Guilherminho Cunha e Nilson Fanini até líderes menos tradicionais como a turma do Edir Macedo e outros. Todos querendo usar Lula para seus próprios fins, para favorecer suas concessões de rádio, TV e outros interesses. A grande tragédia é que assim como eles usaram Lula, Lula também os usou.

É triste constatar que famosos pastores e outros líderes com forte presença política conhecem os graves problemas do Brasil, mas não assumem uma postura profética de ação e denúncia porque querem aproveitar suas ligações e alianças políticas para avançar suas ambições pessoais, ministeriais ou denominacionais.

Como eles conseguirão denunciar profeticamente a promoção do aborto e do homossexualismo na sociedade brasileira sabendo que o principal responsável por tal promoção é o “ungido” que eles escolheram para a presidência do Brasil? A maioria dos líderes evangélicos do Brasil tem grande responsabilidade por tudo o que está acontecendo na sociedade brasileira e um dia darão contas a Deus por terem trocado a fidelidade a Deus por ambições e dinheiro.

O apoio deles a Lula foi público, de modo que minha exposição do nome deles no meu blog nada mais faz do que tornar público o que já é público. É para que ninguém se esqueça e possa orar por eles e perceber que em questões políticas, os conselhos deles são inconfiáveis.
Apesar de tudo, amo em Cristo cada um desses líderes e já tive oportunidade de conversar pessoalmente com alguns deles, incentivando-os a se arrepender de sua ligação com Lula. Há sempre espaço para a graça de Deus quando os corações se quebrantam e mudam o curso de suas ações.

Cristianismo Hoje: O senhor costuma associar o avanço da militância homossexual à ideologia esquerdista e denuncia uma suposta simpatia do governo Lula à causa da homossexualidade. Na sua opinião, a aprovação do PL 122/2006 é uma bandeira do atual governo? Qual seria a intenção do governo em favorecer o segmento?

Julio Severo: Quem diz que apóia a agenda gay é o próprio presidente Lula, que declarou recentemente: “Alguns setores atrasados e ao mesmo tempo hipócritas — já propus a criação do Dia de Combate à Hipocrisia — têm criticado nosso governo por apoiar iniciativas que criminalizam PALAVRAS e atos ofensivos à homossexualidade. Isso não tem importância. Continuarei — com o apoio de todo o Governo — a manter essa atitude.” No início de seu governo, em 2003, a equipe diplomática de Lula apresentou na ONU resolução pioneira classificando o homossexualismo como direito humano inalienável. Semelhante resolução do governo Lula foi apresentada na Organização dos Estados Americanos. No Brasil, há o programa federal “Brasil Sem Homofobia”, para impor a doutrinação homossexual à população, pois conforme divulgou instituição de pesquisa ligada ao PT, 99% da população do Brasil não aceita o homossexualismo. E quem é que pode esquecer que Lula declarou que a oposição ao homossexualismo é uma “doença perversa”, convertendo assim a vasta maioria dos brasileiros em “doentes”? Quando um povo não vê a doença moral do seu próprio presidente, o doente é que acabará acusando os sãos de serem doentes!

Além disso, seu governo patentemente esquerdista é ávido promotor do aborto, tanto no Brasil quanto na ONU. Temos um governo satanicamente pagão, que imita perfeitamente o culto idolátrico de Baal, cujos sacerdotes eram homossexuais e cujas oferendas a Baal incluíam o sacrifício de bebês. Lula em nada difere deles. Ele é o rei Acabe do Brasil. O que faz Lula apoiar tanto o homossexualismo? O mesmo que fazia o rei Acabe do antigo Israel apoiar o homossexualismo inerente ao culto de Baal. Quanto ainda falta para classificarmos Lula e seu governo como possessos?

Dou todo o meu apoio à criação do Dia de Combate à Hipocrisia. Lula merece. O Brasil precisa urgentemente de um dia nacional para combater a hipocrisia do presidente e sua ideologia.
Se um governo estrangeiro estivesse fazendo contra o Brasil apenas 10% dos crimes que o governo Lula vem cometendo — como obrigar crianças inocentes a receber doutrinação imoral e pró-homossexualismo nas escolas, com distribuição de cartilhas pornográficas e camisinhas para crianças de 10 anos! —, seria caso de declarar guerra. Se um estranho da rua fizesse isso, seria caso de polícia. Por que Lula e seu governo imoral deveriam escapar impunes? Por que eles mereceriam ser poupados? O fato de que até agora ele não foi submetido a um justo impeachment mostra que os políticos e outros líderes do Brasil não são sérios.
Décadas atrás, quando o Brasil era muito mais católico e conservador do que hoje, Lula seria muito merecidamente enxotado aos pontapés da presidência do Brasil. Hoje, é ele quem está enxotando aos pontapés a moralidade e a honestidade do governo e da sociedade.

Cristianismo Hoje: Em alguns de seus artigos em seu blog, o senhor menciona uma suposta imposição da mídia, no sentido de que a homossexualidade seja aceita e entendida como comportamento normal. Pode citar alguns episódios em que isso tenha acontecido?

Julio Severo: A doutrinação homossexual da mídia e notória e descarada, onde homossexuais são falsamente retratados como anjos inocentes e os não homossexuais como desequilibrados e desajustados. Nas novelas, os “casais” homossexuais são os grandes exemplos de paz e harmonia, enquanto que o casamento normal é apresentado como palco de conflitos, ódio, inveja, traição, etc. Quem não se lembra da novela Duas Caras, escrita pelo homossexual Aguinaldo Silva, militante de esquerda? Sua novela literalmente pinta os evangélicos como loucos e violentos e os homossexuais promíscuos como símbolos de gentileza, educação e “santidade” politicamente correta.
Cristianismo Hoje: Há algum tempo, o senhor teve um forte embate com um líder evangélico famoso por ter mencionado que seu filho seria homossexual. Esse conflito foi amplamente divulgado na internet, levando aquele pastor inclusive a querer tirar a história a limpo fisicamente. Por que o senhor tomou aquela atitude e como está sua relação com aquele líder neste momento?

Julio Severo: Aquele líder, por sua própria confissão, não se considera mais evangélico. Hoje ele se vê como o grande denunciador dos “problemas” dos líderes evangélicos. Mas onde não há problemas? O que ele quer é desviar a atenção do público dos seus graves problemas pessoais, se justificando em cima dos escândalos dos outros. Não achei justo que alguém que se considera julgador e avaliador dos problemas evangélicos não tivesse tempo de cuidar do próprio filho, que estava “casado” com um pastor gay. Aliás, o filho dele chegou a estudar para ser pastor de uma igreja gay. O que a Bíblia diz? Aquele que quer tirar o cisco do olho dos outros primeiro deve tirar o pedaço de pau do próprio olho. Esse líder, envolto no pecado de ter destruído seu próprio casamento, agora quer se justificar em cima de todo e qualquer erro de toda a liderança evangélica. Presumo que ele deve estar muito contente, pois se a liderança evangélica hoje está obscenamente ligada ao governo Lula, foi porque ele mesmo ajudou. Ele próprio já confessou que trabalhou durante anos para aproximar Lula dos evangélicos e os evangélicos de Lula. Assim, além de ser culpado de adultério em sua vida familiar passada, ele também é culpado de levar a maioria dos líderes evangélicos do Brasil a um relacionamento de adultério político com Lula e a esquerda.

Nunca pensei em lidar com os problemas morais desse homem, porém a exposição do caso foi inevitável. Tudo começou quando alguém me mandou um email contendo declarações dele sobre homossexualidade. Em resposta, mencionei muito brevemente algum problema sério dele. O destinatário enviou minha resposta à sua própria lista, onde alguém remeteu ao ex-evangélico, que explodiu, escrevendo-me uma resposta grosseira e desafiando-me a postá-la no meu blog. Fiz isso.

Cristianismo Hoje: O PL 122/2006 tem sido combatido de maneira intensa por muitos setores evangélicos, que identificam no seu conteúdo uma ameaça à liberdade religiosa no país. Contudo, o Artigo 5º da Constituição Federal assegura ampla liberdade de crença e direitos individuais de opinião, inclusive na forma de cláusulas pétreas. Não tem havido muitos exageros nesta questão?

Julio Severo: A perseguição aos cristãos alcançou a Alemanha e a Rússia no passado porque os cristãos não souberam reconhecer que, por trás das mentiras e fachada, o nazismo e o comunismo são ideologias destrutivas. É sempre assim: o sistema de perseguição entra na sociedade em roupagem elegante, como eram elegantes o nazismo e o comunismo. Depois da lua de mel, vem o poço do abismo. O PLC 122 é um projeto que nem elegante é e que mal consegue disfarçar suas más intenções. É um projeto ridículo para satisfazer a má intenção de políticos ridículos. Não perceber suas ameaças é normal para mentes desatentas, assim como foi normal mentes desatentas na Alemanha não perceberem os perigos do nazismo.

Quando meu livro “O Movimento Homossexual” foi publicado em 1998, muitos o acharam exagerado e disseram que suas previsões nunca ocorreriam. Infelizmente, acabaram ocorrendo. E quem leu, hoje me chama de profeta. O exagerado de ontem é o profeta de hoje. O “exagerado” de hoje será o que amanhã?

A ameaça do PLC 122 não é vista somente por evangélicos. Muitos sabem que levantei um alerta nacional em fevereiro de 2007 contra esse projeto de lei. Depois, veio a enorme repercussão, tornando o PLC 122 famoso entre os evangélicos. O que poucos sabem é que os católicos estão igualmente preocupados. Em fevereiro de 2007, um líder católico me telefonou pedindo minha ajuda para alertar o Brasil contra esse projeto. Tudo o que ele queria era uma mensagem minha, assinada por mim, que seria amplamente divulgada por uma grande equipe católica. Através dessa aliança entre um evangélico e católicos, o alerta tocou o Brasil inteiro.

Cristianismo Hoje: Além, evidentemente, dos militantes gays e das entidades de defesa dos homossexuais, a quais outros setores interessaria a aprovação daquele projeto?

Julio Severo: Ao governo. Essencialmente, leis anti-“homofobia” e outras leis de favorecimentos a minorias fomentam a luta de classes, enfraquecendo os grupos sociais e fortalecendo o poderio estatal. O Estado moderno de orientação socialista estabelece e apóia mecanismos políticos, sociais e culturais para fragmentar todas as formas de poder (família, igreja, etc.) a fim de instituir como resultado final apenas uma forma de poder central: o Estado. Esse Estado, com sua ânsia e voracidade de poder, é de longe a maior ameaça à sociedade.
Vivemos o trágico cumprimento das “profecias” orwellianas, onde o termo “direitos” vem sendo modificado e adulterado para significar outras coisas. “Direitos” agora quer dizer concessões estatais que escondem imposições e a escravidão do Estado sobre as pessoas.

Todas as palavras agradáveis que conhecemos (democracia, liberdade, direitos individuais, liberdade de expressão, etc.) estão sendo desfiguradas de seu sentido original para se adequarem a propósitos estatais de controle e manipulação das massas. Na aparência, o Estado está apenas sendo muito “bonzinho” e “justo” ao oferecer — gratuitamente e de bandeja — mais direitos para a população. Mas esses novos direitos são nada menos do que iscas para capturar o coração dos cidadãos. Depois da captura, o Estado sai fortalecido à custa da verdadeira liberdade civil e da integridade das famílias.

Nesse sentido, a consagração política e legal do “casamento” homossexual e da ideologia de gênero, com o conseqüente extermínio do padrão sexual normal homem/mulher e da família natural, atende perfeitamente aos interesses dos grupos feministas, abortistas, humanistas, socialistas, homossexualistas, ateístas, etc. Não é à toa que o Estado brasileiro sustente, com muitos impostos, uma infinidade de ONGs que nenhuma utilidade social têm, a não ser ecoar os próprios interesses e aspirações do Estado socialista.

Cristianismo Hoje: Quais são seus próximos planos na esfera pessoal e profissional?

Julio Severo: Continuar orando e atuando para que o nome de Jesus Cristo seja glorificado e para que o Reino de Deus avance no Brasil e no mundo.

O Perigo da falta de posicionamento no Cristianismo


Por: J.C.Ryle

Os tempos exigem visões precisas e claras da doutrina cristã. Não posso negar a minha convicção de que a igreja nominal é tão prejudicada pela frouxidão e falta de clareza internamente, como pelos céticos e incrédulos externamente. Milhares de cristãos hoje parecem totalmente incapazes de distinguir coisas diferentes. Assim como os daltônicos com relação às cores, eles não conseguem diferençar o que é verdadeiro ou falso, o que convém ou não. Se o pregador for esperto, eloqüente e fervoroso, acham-no perfeito, por mais estranhos e heterodoxos que sejam os seus sermões. São aparentemente desprovidos de bom-senso espiritual e não conseguem identificar o erro. A única coisa categórica sobre eles é que desprezam a precisão [doutrinária] e acham que todas as visões extremas, radicais e taxativas são grandemente censuráveis e muito erradas!

Essas pessoas vivem no meio de uma neblina ou nevoeiro. Não veem as coisas com clareza nem sabem no que creem. Não têm nenhuma convicção sobre as grandes questões do evangelho e parecem estar satisfeitas com serem membros honorários de toda e qualquer linha de pensamento. Ainda que a vida delas estivesse em jogo, não poderiam lhe dizer o que consideram como verdade sobre justificação, regeneração, santificação, Ceia do Senhor, batismo, fé ou conversão, inspiração, ou o estado futuro. São consumidas pelo medo doentio da controvérsia e pelo desprezo ignorante ao espírito partidário; nada obstante não conseguem definir de fato o que querem dizer com tais expressões. E assim, vivendo sem clareza e por demais obscurecidos, deixam-se descer à sepultura sem consolo na própria fé e, temo eu, muitas vezes sem esperança.
Não é difícil achar a explicação para essa condição espiritual que não tem ossos, nervos, conteúdo. Para começar, com relação à fé, o coração do homem está naturalmente nas trevas — sem o mínimo senso intuitivo da verdade — e carece verdadeiramente de instrução e iluminação. Além disso, o coração natural da maioria dos homens odeia a diligência religiosa e despreza sinceramente a inquirição paciente e esforçada. Acima de tudo, o coração natural gosta geralmente de ser louvado pelos outros, esquiva-se da controvérsia e adora ser considerado caridoso e liberal. O resultado geral é que uma espécie de amplo “agnosticismo” religioso se ajusta a grande número de pessoas, especialmente às mais jovens. Elas contentam-se em descartar como lixo toda questão controversa e quando acusadas de indecisão, respondem: “Não tenho a pretensão de entender de controvérsias. Recuso-me a examinar questões polêmicas. Acho que, no fim das contas, é tudo a mesma coisa”. Quem não sabe que pessoas assim infestam e enxameiam todos os lugares?
Assim, rogo a todos que se protejam desse estado mental indeciso relativo à fé. Ele é a peste que se propaga nas trevas e a destruição que assola ao meio-dia; é uma disposição espiritual preguiçosa e indolente que, obviamente, livra o homem do trabalho de pensar e de investigar, para o qual, entretanto, não há fundamento na Bíblia. Por amor à sua alma, ouse decidir-se sobre o que crê e atreva-se a tomar posições bem-definidas e claras sobre a verdade e o erro. Nunca, nunca mesmo, tenha medo de defender opiniões doutrinárias nítidas nem deixe que o medo a homens ou o terror mórbido de ser considerado um espírito partidário, bitolado ou afeito à controvérsia lhe torne acomodado e satisfeito com um cristianismo desprovido de sangue, de ossos, de cor, de calor, não dogmático.
Tome nota do que eu digo. Se quiser fazer o bem nos dias de hoje, ponha realmente a indecisão de lado e assuma uma fé doutrinariamente clara e incisiva. Se você acreditar pouco, aqueles a quem você procura fazer o bem não acreditarão nada. As vitórias do cristianismo foram sempre alcançadas pela teologia doutrinariamente clara; por se falar abertamente aos homens da morte vicária e do sacrifício de Cristo, constrangendo-os a crerem no Salvador crucificado; por se pregar a ruída do pecado, a redenção por Cristo, a regeneração pelo Espírito; por se levantar a serpente de bronze; por se advertir para que olhem e vivam — para que creiam, se arrependam e sejam convertidos. Esse, exatamente esse, é o único ensinamento que Deus tem honrado com o sucesso ao longo dos séculos e ainda hoje está honrando, tanto em casa como no estrangeiro.
É a doutrina — a doutrina, a doutrina clara e vibrante que, semelhante às trombetas em Jericó, derruba a oposição do diabo e do pecado. Não importa o que alguns gostem de dizer nestes dias, apeguemo-nos a visões doutrinais claras e faremos bem a nós mesmos, aos outros e à causa de Cristo no mundo.

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VISITAS DE IP'S DO MÊS DE DEZEMBRO DE 2012 ATÉ HOJE.


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Cristo não é Senhor dos que correm, mas dos quais se compadece



Por Jorge Fernandes Isah


Há um trecho na Escritura que sempre me comoveu desde que o li, a primeira vez, logo após a minha conversão. As palavras de Jesus soavam duras demais para os meus ouvidos sensíveis e pouco acostumados com a verdade; e não considerava o caráter justo de Deus, muito menos a sua obra como eficaz, na qual ele veria o fruto do seu trabalho e se satisfaria; o que vale dizer que Cristo considerou a sua obra concluída, acabada e não por terminar, como querem alguns, ainda que inconscientemente [Is 53.11].

A maioria utiliza-no em seu caráter santificador, com perguntas do tipo: Você conhece Jesus?... Você obedece a Deus?... O seu entendimento sobre Cristo é apenas cognitivo?... Quando vai conhecê-lo em seu coração? Ou afirmações parecidas com: Você tem de viver o Evangelho... Não basta crer, pois até os demônios crêem... O seu relacionamento tem de ser pessoal com Deus. E por aí afora...[1]

Não estou dizendo que as perguntas e as afirmativas estão erradas, mas elas falham em compreender algo fundamental e que tem sido relegado a um ponto senão obscuro, ininteligível, para nós; e toda vez que o trecho é comentado ou usado, emprega-mo-lo como se destinado exclusivamente para fariseus, hereges e ímpios; porém há algo muito mais fantástico em sua sentença, algo que me emociona sobremaneira, hoje mais que ontem: o esforço pessoal é irrelevante para Deus, pois importa-lhe tão somente os eleitos, aqueles que escolheu por sua vontade. E ponto final.

Estou a defender o antinomismo? De forma alguma! Acontece que a lei não é objeto de salvação, mas o salvo tem prazer em cumpri-la[2]. Enquanto, para o ímpio, resta obedecer-lha, em seu caráter temporal, para não ser punido, sem que haja qualquer prazer em sujeitar-se. E nem mesmo a lei é o que separa eleitos de réprobos, salvos de condenados, mas a eleição eficaz de Deus, a qual determinou a condição de cada um dos seres humanos; como está escrito: E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo... Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” [Mt 25.33, 34, 41]. Os santos não foram incluídos no Reino por um sistema de recompensa, como uma “bonificação” aos obedientes, um prêmio aos que se mantêm fiéis a Deus; mas o Reino foi criado para os eleitos, os santos, antes da fundação do mundo, como o lugar onde todos os escolhidos reinarão “com toda a sorte de bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” [Ef 1.3]. Por isso, ele nos elegeu antes da Criação, para sermos “santos e irrepreensíveis diante dele em amor” [Ef 1.4]; e “nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado” [Ef 1.5-6].

A ação divina não é passiva, do tipo, Deus viu que o homem se salvaria, se santificaria, se esforçaria em entrar no Reino, aceitaria-no e, então, somente então, Deus o predestinaria e o elegeria. Mas que eleição é essa onde o eleito é quem se auto-predestina? Onde o escolhido se auto-escolhe e impõe a sua escolha por seus próprios méritos para aquele que o predestinou? O que vem primeiro, a predestinação ou o esforço do eleito em satisfazê-la, e por isso, ser predestinado? Seria o mesmo que dizer que alguém se afogou antes de entrar na água. A predestinação, por mais que se queira distorcer o seu sentido, tem somente uma definição, de acordo com o Priberam:

predestinar - (latim praedestino, -are)
v. tr.
1. Eleger desde a eternidade (ex.: afirmou que Deus predestina os justos).
2. Destinar para grandes coisas ou para determinado fim. = eleger
3. Destinar com antecedência


Ora, predestinar é claramente a atitude de destinar antecipadamente, de previamente decidir, e não o ato de antever o que irá acontecer e então determinar que aconteça. E, então, fica a pergunta: quem garantiu que o evento aconteceria? Deus? O homem? O acaso? Forças impessoais? Ou a cooperação mútua dessas forças? O que não entendo é: se Deus viu o que iria acontecer, como algo certo, visto tê-lo previsto, por que o determinaria já que o fato é, em si mesmo, exequível em sua realização, e não dependeu da sua vontade ou decisão para ser observado? Pelo contrário, o fato previsto seria soberanamente livre, impedindo que Deus agisse para mudá-lo, ainda que não fosse do seu agrado. Isso não levaria à conclusão de que esse "Deus" antes de ser pessoal é um "Deus" impessoal? E a presdestinação, assim como a eleição, não passaria de uma piada sem graça, um xiste, que tornaria esse "Deus" num mero espectador, a endossar obrigatoriamente até mesmo o que lhe contrariaria? Em outras palavras, a sua soberania seria uma lenda, e tudo, desde a Criação, teria de ter outra explicação; tudo, na verdade, não poderia vir da vontade desse "Deus", mas de outra força, pois o que ele faz é consentir que cada evento ocorra como visto, e a sua vontade seja adequada a cada evento de tal forma que eles permaneçam imutáveis. A vontade dele se subordinaria à inexorável realização do ato antevisto. Por todos os lados, o que temos aqui não é o Deus bíblico, mas um "Deus" impotente, escravo da visão; um "Deus" transitivo quando a revelação nos apresenta o Deus intransitivo, completo e perfeito em si mesmo. Contudo, estou saindo do foco desta postagem, ainda que este seja um elemento pertinente a ela...

Voltando à vaca-fria, do ponto de vista humano, seria possível se equilibrar em uma corda-bamba, sem pára-quedas, dez mil pés de altitude, com ar rarefeito, rajadas fortes de vento, chuvas, gelo, e a gravidade puxando-o incontinênti para baixo?[3]. Como manter-se assim, por si só? Quais forças o sustentariam, impedindo-o de despencar em queda-livre? De ser tragado no espaço? Essa é a condição do homem diante do pecado e da condenação; fatalmente será sugado por eles, destruído, se Deus não agir ativamente, em todo o processo, sustentando-o na corda-bamba. Na verdade, ele nos tirou dela, e nos colocou são e salvos no chão, em terra firme, enquanto quem tomou o nosso lugar foi Cristo. E os ímpios? Os que não se esborracharam ainda no chão? Estão precipitados no ar, a espera de juntarem-se aos corpos estatelados no abismo.

Mas, esse não é o trecho em questão, que me comoveu nos últimos anos. Então, qual é?

“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” [Mt 7.21]

Bem, a exigência de obediência está evidente, não é? Claro! Somente entrarão nos céus aqueles que fazem a vontade do Pai, certo? Sim. Então, onde está o problema apontado por você? De haver uma leve distorção nesse ensino? Respondendo a mim mesmo, pergunto: quem faz a vontade do Pai? Alguém, entre nós, é capaz disso? Há de se entender que a vontade divina não é uma parte, nem fração ou divisão. Não são peças de um quebra-cabeças que se vai montando; ela é pronta e acabada, não restando o que pôr ou retirar. O Senhor referiu-se a ela como “a vontade”, única, inseparável, não-repartida. Assim, quem se habilita ao Reino dos céus?

Seguindo o esquema soteriológico vigente no presente século, Cristo morreu por todos, e cabe a cada um dentre todos, alcançá-lo por seus próprios meios, como um feito, uma obra pessoal. Segundo esse mesmo sistema, o homem pode conseguir salvar-se mas pode perder-se novamente ao falhar em cumprir a vontade do Pai. Mas não bastaria uma falha para tudo ir por água abaixo? Ou seja, mesmo que Cristo tenha morrido por todos, é possível que ninguém seja salvo, pois o princípio da obediência é a vontade divina como um todo, completa, não uma partícula, não uma seção; visto a salvação vir pela fé em Cristo, mas a fé não ser suficiente, pois se tem de, ainda que seja no ato inicial, alcançá-la pelo esforço individual de aceitar aquilo que está sendo proposto.

O arrependimento não justifica o erro, nem pode anulá-lo. O arrependimento é o agradecimento por, ainda que errando, Deus nos haver perdoado; é o reconhecimento daquilo que fez ao anular a dívida que tínhamos, pelo sacrifício de Cristo na cruz. O arrependimento não pode nos livrar da condenação, por isso, Judas permaneceu condenado em seus pecados, mesmo reconhecendo seus erros. Uma dívida não pode ser paga a menos que seja quitada. Como não nos foi possível remi-la, Jesus tomou o nosso lugar e, "havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz" [Cl 2.14]; perdoando-nos todas as ofensas. Elas foram pagas de uma só vez, pela obediência completa do Filho de Deus, não sendo possível imputar a quem foi perdoado nova condenação. No tribunal de Cristo não há recursos nem apelações, dívida paga, dívida quitada, não há débitos, nem a possibilidade de serem reavidos, cobrados e pagos outra vez. Por isso, Paulo diz que é impossível ao salvo recair e ser novamente renovado para o arrependimento; se tal coisa acontecesse, "de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério" [Hb 6.6].

Voltando ao exemplo do homem em queda-livre, sem pára-quedas, o que pode ele fazer além de esperar por um milagre? Nada. É o caso do homem em relação à sua salvação. Não lhe resta nada a fazer, pois o que foi feito por Cristo é plenamente eficaz, de tal forma que nenhum acréscimo é-lhe permitido, sendo perfeito, e ao perfeito não se adiciona coisa alguma. Porque ele, e somente ele, foi capaz de satisfazer toda a vontade do Pai; de obedecê-la integralmente, sem falhas nem tropeços, equilibrando-se na corda-bamba de ponta a ponta, dominando-se a si mesmo sem inclinar-se para um lado ou outro do abismo. Por isso, tem a autoridade para responder aos réprobos: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade” [Mt 7.22-23].

Há alguns aspectos a serem abordados aqui:
1) Ímpios podem ser usados por Deus para fazerem a sua obra, segundo a sua vontade, já que também são servos, como tudo o que foi criado está-lhe sujeito e a servi-lo. Portanto, haverá nessa lista de “desconhecidos do Senhor”, pastores, missionários, teólogos, e mesmo pessoas que, aos olhos humanos e carnais, eram irrepreensíveis, assim como Paulo era entre os judeus [Fp 3.6].
2) Eles podem fazer muitas coisas, como: profetizar, expulsar demônios e outras maravilhas, mas isso não lhes assegurará a participação no Reino; evidência de que, como disse no início deste texto, Deus não se importa com o nosso esforço pessoal, o qual nada vale se não for como conseqüência dele nos conhecer, predestinar, chamar, justificar e glorificar; verbos que guardam em si ações diretas, ativas de Deus na vida daqueles que destinou a “serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” [Rm 8.29].
3) A despeito de tudo o que fizeram, em nome de Cristo, ele lhes dirá abertamente: “Nunca vos conheci”. Essa afirmação guarda um tesouro, não para os desconhecidos, mas para os conhecidos. Dirão alguns que isso é a prova da presciência, da antevisão divina, assim como um vidente vê o futuro, apenas e tão somente, sem poder intervir nele. A palavra “conheci” procede do grego ginosko[4] indicando “ter a ver com”, “conhecer pessoalmente”. Cristo quis dizer que “não tinha nada a ver com aqueles homens”, “que nunca teve nada a ver com eles”, “que os desconhecia”, por isso deviam apartar-se dele. Fica a pergunta: se Cristo morreu por eles, como era possível que não os conhecesse e tivesse um conhecimento pessoal? Em contrapartida, aqueles que “conhece”, têm tudo a ver consigo, são-lhe íntimos, têm uma relação estreita, ao ponto do Pai vê-los por intermédio do Filho, que satisfaz a sua vontade. E a satisfez plenamente na cruz, ao morrer por aqueles que o Pai lhe deu, os quais jamais se perderão e sairão das suas mãos. Cristo morreu por suas ovelhas apenas, não por todas, e ele mesmo se encarregou de agregar as que ainda não estavam em seu aprisco... e elas ouvirão a sua voz, “e haverá um rebanho e um Pastor” [Jo 10.16]. Por isso, Cristo ainda diz: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós... Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” [Jo 15.16, 17.9].

A relação aqui é de posse; somos de Cristo, assim como somos do Pai, o mundo não é de Cristo, no sentido específico da salvação, do ato expiatório do Senhor ser objetivado aos eleitos, e não à humanidade genericamente. Somos de Cristo, pois, por nós, morreu, resgatando-nos com o seu próprio sangue [At 20.28]. A segurança do eleito está nele, o qual nos conhece, e destinou-nos infalivelmente a que o conhecêssemos. Em outras palavras, Cristo nos conhece, e não há a menor chance daqueles que conhece não o conhecê-lo. Por isso, além de revelar a qualidade moral da obediência [no que todos os cristãos concordam], a qual é o padrão para fazer parte do Reino, incontestavelmente o trecho da Escritura reivindica a salvação e a reprovaçao como escolhas diretas de Deus sobre os homens, adquirindo o sentido exato de que a verdade comunicada é esta: “assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que se compadece... Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer” [Rm 9.16, 18].

O que o Paulo quer dizer com isso? Você curou? Ótimo, mas não confie na cura que fez... Profetizou? Não confie em sua profecia... Expulsou demônios? Isso não lhe garante nada... Fez milagres? Cuidado!.. Fez maravilhas? E daí?... Se Deus falou por intermédio de uma jumenta, e usou ímpios como Ciro, Balaão e Judas para realizarem feitos muito maiores do que esses; por que não pode usá-lo? E, mesmo assim, nem o animal ou aqueles homens foram salvos, antes foram condenados, “para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama” [Rm 9.11]. Logo, o que impede Deus de usá-lo na pregação, no evangelismo, no sustento ministerial, e ainda assim condená-lo?

Para concluir, mais duas colocações:

Primeira, como já disse, não estou defendendo nenhum conceito antinomiano, nem de que as exortações da Bíblia para que busquemos a Deus, obedeça-mo-lo, e sejamos santos como ele é santo, são inúteis e incapazes de serem cumpridas. Nada disso! A obediência não é um salvo-conduto para se ingressar no Reino, pelo contrário, se não houver o chamado divino, e Deus não o capacitar a realizar esses e outros feitos para a sua glória, nem mesmo a maior de todas as maravilhas o impedirá de ir para o inferno. Servir a Deus e ser-lhe obediente são consequências e não causas da salvação. O eleito, após a regeneração, deverá buscar, se esforçar, e lutar para, dia após dia, ser transformado à imagem de Cristo, não como algo intrínseco à sua natureza, mas como dádiva do Senhor pela qual somos, nos movemos e existimos. Em outras palavras, se o eleito busca, se esforça e luta para ser como o seu Senhor, é porque Deus opera nele até mesmo nos pensamentos e desejos menos evidenciáveis, de tal forma que se cumpra a promessa de Deus tê-lo elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade... para alcançar a glória de nosso Senhor Jesus Cristo [2Ts 2.13-14].

Segunda, o entendimento da soberania de Deus não é algo que pode ser mudado conforme a nossa conveniência. Algo que sempre me trouxe paz é saber que, mesmo numa eventual não-eleição [como uma hipótese], e sendo condenado ao fogo do inferno, eu daria glória a Deus, bendiria-o, e declararia a todos a sua santidade, perfeição, justiça, mesmo em meio as labaredas eternas, pois a sua vontade irretocável cumprir-se-ia soberanamente.

Com isso, não estou a duvidar da minha salvação e eleição, mas reconhecer que o Senhor permanece o que é e sempre foi, que a sua natureza não pode ser abalada em nenhum aspecto, ainda que o inferno fosse o meu destino. Não está errado reconhecer a justiça e perfeição divinas por nos salvar; mas o fato de não ser salvo, e estar destinado à condenação, não o tornaria injusto, mau ou tirano. Por ser essa a sua vontade e, portanto, santa e perfeita.
Fazendo uma analogia, utilizando-me de um trecho do livro de Jó, Deus permanece Deus a despeito da minha condição e situação, pois "nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor" [Jó 2.21].

A perseverança dos santos e a prática contradizente de desdizer o que já foi dito.


Por Mizael Reis
Não são poucos os que desacreditam da maravilhosa doutrina da perseverança dos santos. Talvez, por uma espécie de síndrome da ética do devedor, da qual concluem que devemos tanto a Deus que a salvação não nos poderia ter alcançado tão “graciosamente”, muitos concluem que se repousa mais fortemente sobre nossos ombros a árdua tarefa de mantermo-nos salvos a fim de sermos finalmente salvos, e é por essa razão que não somos plenamente salvos e devemos manter o que pode ser perdido. Não sei como dizer isso de outra forma, mas, a meu ver, os que objetam a verdade de tal doutrina, resistindo as sobejas passagens pelas quais inequivocamente Deus salva efetiva e eternamente os seus, responsabilizam-no, mesmo que sem querer, por dizer inconsistências, sustentando inverdades, que são encontradas em sua palavra, quando por meio dela mesma promete claramente algo que na visão de alguns não significa realmente o que ele quis dizer em determinada passagem – a nosso ver - ou ao que se interpreta pelo que é claramente dito. Digo isso porque nas passagens das quais se extrai a doutrina da perseverança dos santos, Deus diz fazer determinada obra em prol da salvação para os quais ele quis redimir. Daí alguns reinterpretam tais declarações divinas, dando-lhes novos significados as suas promessas, tornando-o confuso, quase incompreensível.
No desejo de ser puramente bíblico, analisemos alguns textos dos quais se conclui a salvação inalienável dos eleitos, e de contínuo constataremos que pessoas estão torcendo o que Deus claramente disse sobre os salvos a fim de invalidar uma doutrina com a qual não comungam.
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, Para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus para vós, que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo,” (1 Pe 1.3-5)
Por meio da pena petrina Deus nos diz que a salvação da qual fazemos parte fora nos dada como uma herança incorruptível. Ora, todas às vezes que tal palavra ocorre nas Escrituras ela tem o sentido de exprimir seu real significado, ou seja, que algo uma vez dito como incorruptível jamais poderá se corromper. Assim se sucederá na ressurreição dos salvos. Nós ressurgiremos e seremos transformados para vida. Deus há de eliminar a corruptibilidade de nossa efêmera vida mortal, revestindo-a de uma celestial e perene incorruptibilidade com a qual permaneceremos eternamente salvos e eternamente livres de uma possível corrupção. Da mesma forma, creio eu, quando em Pedro Deus qualifica nossa herança como incorruptível, pretende nos dizer que uma vez dada à nós tal salvação, a mesma não poderá ser perdida, nem usurpada de nós pelo que no mundo seja corruptível. Igualmente, Pedro nos diz que nossa salvação é incontaminável, ou seja, que não se pode contaminar. Ora, se caso nossa salvação nos pudesse ser tirada ou por nós perdida, onde estaria o sentido desta palavra quando relacionada a nossa salvação? Se for possível ao cristão genuinamente regenerado vir a perder-se totalmente ao ponto de que aquilo que um dia foi chamado de puro venha torna-se impuro, onde haverá congruência na ocorrência da palavra incontaminável ligada a natureza daquele que é passível de contaminar-se? Ainda, Pedro diz que nossa salvação não pode murchar. O inverno do pecado não pode murchar a flor de nossa eterna salvação! A luz de nossa salvação não perderá jamais seu fulgor frente às investidas do maligno. A viveza de nossa redenção não pode enrugar-se, isso porque estamos guardados em Deus para salvação. Assim, se nossa salvação puder ser corrompida pela nódoa do pecado a ponto de perder-se fatalmente; contaminar-se a ponto de perder a incontaminalidade prometida, se puder murchar ao ponto de perder sua beleza dantes inalienável, e se tal salvação puder ser roubada e perdida, mesma a tal sendo guardada por Deus na inviolabilidade celestial, então não vejo como compreender as palavras do texto sagrado, senão condicioná-las, segundo essa pueril compreensão, a condição de o cristão ser isso tudo se ele quiser ser isso tudo, imputando sobre o texto uma condicional que claramente não existe, esvaziando o sentido das palavras empregadas no texto, sob nenhuma justificativa plausível no texto, senão para tão somente discordar da perseverança dos santos.
“Com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo; Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória”. (Ef 1.13,14)
Somos salvos e por Deus selados com o Espírito Santo. O selo desde os tempos remotos era usado a fim de garantir a inviolabilidade do objeto selado, mantendo-o em sua genuinidade. Era uma proteção com a qual cartas e objetos seriam garantidos contra a falsidade investida contra o seu remetente. Assim, quando Paulo faz uso dessa palavra confortando-nos ao dizer que nosso selo é o Espírito Santo, procura garantir-nos que ao peregrinarmos nesse mundo rumo ao nosso destino, somos inviolavelmente posse daquele que nos selou. Somos de Jesus Cristo, o qual nos garante a chegada ao nosso destino, preservando-nos por meio do seu selo, O Espírito Santo. Se é possível que nós possamos nos perder, mesmo sendo selados com o Espírito Santo, não vejo qual o sentido de se valer de tal palavra, visto que nossa salvação a despeito do selo, não nos garanta que somos posse daqueles que nos marcou como sua herdade, passível de perda. Ainda o texto diz que o Espírito Santo que nos foi dado como um selo inalienável é o “penhor da nossa herança”. O que é um penhor? Um penhor é um objeto que garante o cumprimento da quitação de uma dívida. É o contrato do qual se espera do devedor o seu fiel cumprimento com o seu credor. O Espírito Santo fora nos dado como penhor na promessa de que Jesus cumprirá aquilo que pelo
“Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela sua vida”. (Rm 5.8-10)
Os pecadores justificados foram salvos da ira destinada aos impiedosos. Deus nos amou e o seu amor o levou para o calvário por nós. O texto acima diz que, se alguém foi alvo da piedade do Eterno, sendo salvo pela obra redentora da cruz, o tal está liberto da ira de Deus a ser derramada sobre os ímpios, e isto é garantido pelo fato do texto certificar-nos de que, se alguém foi salvo agora muito mais o será a eternidade. Ou seja, se já fomos reconciliados na morte de Jesus Cristo, certamente que seremos mantidos a salvo na sua vida, e visto que ele vive para sempre, nós também para sempre viveremos. “Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles.” (Hb 7.25) Em razão de sua vida, nós viveremos. E assim como ele jamais morrerá, nós seremos por sua eterna vida preservados e conservados para sempre. É por isso que a Escritura diz que fomos “chamados, santificados em Deus Pai, e conservados por Jesus Cristo” (Jd 1.1)
“Para o que fui constituído pregador, e apóstolo, e doutor dos gentios. Por cuja causa padeço também isto, mas não me envergonho; porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia”. (2 Tm 1.12)
O que Paulo afirma aqui? É triste que passagens tão claras como essa estejam sendo submetidas a diluição daqueles cujas mentes não desejam se comprometer como uma salvação tal que não se pode perder. Paulo está certo de que? A despeito das adversidades que constantemente lhe sobrevinham, apóstolo não titubeava, pelo que, a fim de mostrar-nos como tais adversidades se constituíram numa fraca inimiga tentando impedi-lo de caminhar, ele evoca sua fé naquele que é poderoso para guardá-lo, e transpondo as adversidades resultantes de seu apostolado e pregação entre os gentios, rumo aquele grande dia, ou seja, o de sua salvação.
"As evita os falatórios profanos, porque produzirão maior impiedade. E a palavra desses roerá como gangrena; entre os quais são Himeneu e Fileto; Os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de alguns. Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade. Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra". (1 Tm 16-21)
Ora, se Deus conhece os que são seus e o apóstolo por meio dessa declaração distanciou as ações de Himineu e Fileto das ações de um crente fiel que possa de fato Deus conhecer, qual era o tipo de fé que os dois naufragaram? Seria a fé que possui àqueles a quem Deus conhece? Se for, qual então seria a lição de Paulo por meio do contraste feito entre os que naufragaram e os que não naufragarão mediante essa declaração, "Deus conhece os que são seus"?
A lição a se aprender das palavras de Paulo é que os que são conhecidos por Deus e os que proferem - fidedignamente - o nome de Cristo se apartarão da iniquidade, e não submergirão em perene queda como naufragaram, por exemplo, Himineu e Fileto. É o que nos diz o texto de João:
"E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro". (1 Jo 3.3)
"Purifica-se" tem como objetivo neste texto explicar uma ação resultante do que é nascido de Deus. A palavra não é imperativa e sim conclusiva.
Deus conhece os que são seus.
"A qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória". (1 Co 1.12)
Quem conhece a Deus nunca crucificará ao senhor do Glória. Jamais se afastará definitivamente a ponto de perder-se fatal e irreversivelmente. Assim, os que são conhecidos por Deus não incorrerão nesse pecado, o de crucificar ao Senhor da Glória, por meio de uma incrédula e contumaz rejeição. O texto diz que aquele que conhece ao Senhor nunca seria capaz de crucificá-lo, e isso é facilmente interpretado pelo emprego da palavra “nunca” a qual quer dizer nada além de “jamais fazer isso”, jamais incorrer no erro dos príncipes deste mundo os quais nunca conheceram aquele ao qual estão crucificaram.
"Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos." (Rm 8.29)Não há possibilidade de Deus esquecer-se daqueles que ele predestinou, visto que seu conhecimento foi soberanamente planejado a manifestar-se por meio de um plano que tem como objetivo final a glorificação. De quem? Daqueles cujos quais ele conheceu para serem conforme a imagem de Jesus Cristo:
E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou.” (Rm 8.30)
Não há possibilidade de que um crente predestinado, chamado e justificado possa, em um momento de sua vida perde-se totalmente e não galgar o último passo desse elo inseparável e inevitavelmente concretizado na vida dos que são de Deus.
"Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura diz de Elias, como fala a Deus contra Israel, dizendo:” (Rm 11.2) - Deus não pode rejeitar àqueles que ele conheceu. Não que o faz por meio de coação frente à exigência daqueles pelos quais ele salvou e sim porque Ele quis que fosse assim. Se ele conheceu, é certo de que ele não lhes rejeitará, ele conheceu os 7000 que estavam na caverna, bem como conhece um remanescente provido segundo a eleição da graça e da mesma forma que livrou os profetas escondidos, igualmente livrará os seus da danação preparada para os que não se arrependerem.
"Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo." (Jo 17.24)
Como pode haver possibilidade de se perderem aqueles que estarão sempre com Jesus onde Ele estiver, O Jesus encarnado amado antes da fundação do mundo? Sob nenhuma hipótese uma vida salva por Deus perder-se-á, isso porque os que são conhecidos por Deus, o serão por toda a eternidade. Estarão para sempre no reduto de Deus tal como sempre Deus se fez neste eternamente presente.
"Pai justo, o mundo não te conheceu; mas eu te conheci, e estes conheceram que tu me enviaste a mim. E eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja." (Jo 17.25,26)
Como haveria possibilidade de tamanha união ser dissolvida?
"Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um" (Jo 17.21,22)
Aqui o Evangelista não poderia ter sido mais incisivo. Como tamanha aliança poderá ser quebrada? Ao Senhor Jesus ser-lhe-í-a possível desatar-lhe sua aliança com o Pai? Evidente que não. Eles são Um junto com o Espírito Santo. Pois então, assim como a união do Pai com o Filho é indissolúvel, tal o é e sempre será a união dos que pelo Pai foram dados a Jesus para conhecê-lo. É isso que diz o texto acima, eles serão um com Jesus, assim como Jesus é um com o Pai. Afirmar que há possibilidade de separação entre Jesus e os crentes verdadeiros, consistirá em afirmar que há possibilidade de separação naqueles cuja união foi citada no contexto com exemplo da união dos crentes com Cristo, a saber, Jesus e o Pai. O texto diz “assim sejam – unidos – como tu é Eu o somos – Jesus e o Pai.
“As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que, mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai. Eu e o Pai somos um.” (Jo 10.27-30)
Aqueles que são conhecidos por Jesus ouvem a sua voz, o seguem e jamais se perderão porque a indissolubilidade que acompanha a Trindade revelar-se-á também sobre aqueles que o Pai der a Jesus Cristo, e é por essa razão que Jesus conclui sua promessa mostrando-nos a união que há entre o Deus Trino, quando disse: “Eu e o Pai somos um”. Elas não hão de perecer disse Jesus. Contudo, a despeito dessa afirmação inquestionável há aqueles que por meio de uma interjeição – porém – abrem uma concessão que não existe no texto, por meio de uma conjunção adversativa que sequer existe no texto, do tipo “porém”, “entretanto”. Ou seja, dizem ser verdade o texto sobre os que fazem por onde para validá-lo em suas vidas. Os cristãos não perecerão se não perecerem. Eles não serão arrebatados, caso não permitam que o sejam. Contudo, essas exceções, relativizam o próprio poder do Pai, que no texto é razão de os crentes não se perderem. Eles estão guardados pelo poder do Pai que a todos é maior. A sua mão é forte para mantê-los. Abrir uma exceção sobre o destino imputado sobre os que foram salvos, significa a abrir exceção sobre a forte mão de Deus. Há algo que possa enfraquecê-la a ponto de que seus filhos lhe sejam tirados de seu regaço? Se há algo, a justificativa de Jesus, explicando por qual motivo não nos perderemos tornar-se-á fraca, pois é sujeita a circunstancias que a fraquejam.
Mas há alguns que não o conhecem, e os tais são os que nunca conheceram a Jesus e não alguns que o conhecendo foram desconhecidos por Jesus ali na frente.
“Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação.” (1 Co 1.21)
O mundo aqui conota os ímpios e os crentes consistem naqueles que serão salvos. Na mesma conclusividade segue o texto abaixo:
“Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai, que fôssemos chamados filhos de Deus. Por isso o mundo não nos conhece; porque não o conhece a ele.” (1 Jo 3.1)
Quem não conhece a Jesus não guarda sua palavra:
“E vós não o conheceis, mas eu conheço-o. E, se disser que o não conheço, serei mentiroso como vós; mas conheço-o e guardo a sua palavra.” (Jo 8.55)
A evidência a ser revelada naqueles aos quais o Pai conhece é que guardarão sua palavra e a evidência a ser revelada naqueles ditos quais Deus não conhece não guardarão a sua palavra. E por isso que João, ao lado da declaração do mestre nos alerta:
“Aquele que diz: Eu conheço-o, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade.” (1 Jo 2.4)
Conhecer a Jesus implica em ser antes conhecido por ele.
“Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?” (Gl 4.9) – Paulo exclama: Como vocês poderiam voltar aos rudimentos deste mundo se foram conhecidos por Deus na eternidade? (Ele exclama tal incoerência a não ser experimentada pelos que foram genuinamente conhecidos por Deus).
E todo aquele que é conhecido por Deus guarda os seus mandamentos e nele está a verdade. Assim, por meio desses versículos acima, afirmo: Existem os que por Deus são conhecidos, e esses são os que foram predestinados, desde a eternidade, a se apropriarem da salvação. Contudo, existem os que embora membrados em suas reuniões assemelhando-se como ovelhas de Cristo sorrateira e sutilmente no arraial dos santos, não passam de ímpios e de não-convertidos, e os tais, nunca foram conhecidos por Deus, muito embora se parecessem com um cristão. É o que pode ser entendido pelas palavras de Jesus abaixo:
“Porfiai por entrar pela porta estreita; porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não poderão. Quando o pai de família se levantar e cerrar a porta, e começardes, de fora, a bater à porta, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos; e, respondendo ele, vos disser: Não sei de onde vós sois; Então começareis a dizer: Temos comido e bebido na tua presença, e tu tens ensinado nas nossas ruas. E ele vos responderá: Digo-vos que não sei de onde vós sois; apartai-vos de mim, vós todos os que praticais a iniqüidade. Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, e Isaque, e Jacó, e todos os profetas no reino de Deus, e vós lançados fora.” (Lc 13.24-28)
Há pessoas tentando entrar pela porta estreita sem submeter-se à ela. Estão entre nós, mas não são de nós. Porém, permanecerão entre nós, até que o Pai – Deus – por fim, feche a porta permanentemente, e dirá os falsos cristãos a verdade sobre suas vidas: “De onde sois vós? Não sei de onde sois vós”, em outras palavras, “não conheço você”, e ainda, eles sempre praticaram a iniquidade, muito embora se mostrassem por vezes, “interessados” para entrar na porta, na qual nunca lhes foi permitido entrar. Estes reprovados alegarão, vejam, alegarão que “comeram na presença do senhor – quem sabe uma alusão a ceia, comungada de forma indigna e infiel - e participaram do ensino bíblico na igreja. Eles participaram do símbolo da fé e da comunhão da fé sem serem genuinamente da fé, senão que eram membros locais da igreja, sem que fossem membros espirituais da Igreja de Cristo.
Ainda, sobre essa passagem, Mateus é mais incisivo e faz uso da palavra a qual nos é de grande interesse e valia na discussão em pauta:
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas. E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade”. (Mt 7.22,23)
Nem todo que diz “Senhor”, conforme nos diz o evangelista, são de Deus. Nem todos que estão entre nós se dizendo salvos são de fato salvos, a fim de que por meio da fé fraca e débil destes, que nestes, em algum momento se manifestará, se faça comparações banais visando comprometer uma visão de uma fé genuinamente dada e jamais retirada, alegando que por meio do abandono desses a fé que supostamente possuíam se possa concluir que um genuíno cristão pode perder a fé genuína. Esses que se dizem ser nada são, senão homens cujas vidas não foram transformadas, muito embora se passem como cristãos ao serem frequentes aos cultos e as funções da Igreja. E ainda simularão piedade quando frente ao Reto juiz alegarão vida santa. Eles dirão que profetizaram, expulsaram demônios, isso depois de Cristo ter dito aos seus que é por meio de contínua oração e jejum que os demônios serão expelidos, visando convergência, e alegarão terem feito maravilhas pelo nome de Jesus. Todas essas “defesas” se desmoronarão frente aquele cuja onisciência é infinita e serão reputadas como obras falaciosas e mentirosas, quando por meio de uma única declaração, Jesus levantar o tapete de seus corações e mostrar-lhes as suas sujeiras: “Nunca vos conheci”. É impossível que esses os quais Jesus disse nunca tê-los conhecido sejam alguns dos quais ele disse ter conhecido antes da fundação do mundo, isso porque nunca “ter conhecido”, não é a mesma coisa que dizer “ter conhecido um tempo e deixar de conhecer em outro”, e sim, que nunca foram de Deus, nunca foram salvos, nunca foram conhecidos desde a eternidade, isso porque os que são conhecidos por Deus, como tenho dito acima, praticam obras genuínas, mas, destes, porém, nada ficará de pé frente ao senhor Jesus, eles não possuem obras. Jesus não se comportaria com tamanha mentira – reverentemente falando – dizendo nunca ter conhecido alguém que ele já conheceu, quando estes antes de estarem ali prontos a serem condenados foram-lhes servos fiéis em uma vida pregressa, mas que agora não são mais.
Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.” (Mt 7.23)
“Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” (Rm 8.29)
Como os grupos dos dois textos acima podem corresponder às mesmas pessoas, visto que suas obras são e sempre serão diferentes e também sendo que um grupo Jesus NUNCA o conheceu e o outro foi conhecido desde a eternidade? Deus não pode mentir.
Há outros inúmeros textos – se continuasse escrevendo o texto ficaria grande demais - que poderiam ser evocados e submetidos a uma análise por meio da qual concluiríamos o que já fora detectado, ou seja, que toda tentativa de refutar a doutrina da perseverança dos santos é quase sempre fundamentada sob um processo de desdizer o texto interpretando-o por meio de exceções que inexistem no texto. Sempre há um “se” alegam os contradizentes sobre aquilo que Deus diz efetivamente fazer. Que Deus possa nos livrar desse comportamento o qual não pode ser chamado de outra coisa, senão de adulteração da verdade.
Graça e Paz