sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Parecido com o Melhor de Todos


Pr. Clodoaldo Machado
Um ensino claro na Bíblia é que os crentes em Cristo Jesus devem ser como Ele. Ser parecido com Jesus é uma frase que muitos crentes já ouviram, para não dizer que já disseram. Paulo escreveu aos Romanos: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8.29, ênfase acrescentada). Deus estabeleceu Jesus como o modelo que o agrada, aliás, em duas oportunidades Ele falou que Jesus é o Seu Filho amado em quem tem prazer (Mt 3.17; 17.5). Portanto não é segredo para o crente que Deus tem o propósito de torná-lo semelhante a Jesus.
Se devemos então ser como Jesus devemos compreender como foi a vida dEle, apesar de parecer um tanto óbvio dizer que todo crente deve compreender como foi a vida de Jesus. Parece também ser redundante, já que a maioria dos crentes afirma compreender muito bem como foram os anos de vida de nosso Senhor entre nós. Lembram-se do seu nascimento virginal, de sua tentação, dos milagres que operou, do seu sofrimento na cruz. De forma geral parece que a vida de Jesus está na memória de todo crente, até mesmo de alguns que não confiam nEle. Alguém, porém, disse com sabedoria que é preciso compreender não somente o que a Bíblia diz, mas também o que ela quer dizer quando diz o que diz. Isto é verdade sobre a forma como Jesus viveu, muitos sabem dos fatos acontecidos em sua vida, no entanto ficam aquém dos ensinos ali ministrados.
Olhemos para o relato bíblico sobre as horas que antecederam a crucificação. Mateus 26.36-45, conta-nos que após ter deixado o cenáculo, onde havia comido com os discípulos a última páscoa, Jesus foi ao Getsêmani. Seu propósito era orar. Era por volta da meia noite e nosso Senhor começava a sentir o sofrimento da crucificação e resolveu então falar com o Pai em oração. Neste período, o Filho amado de Deus revelou detalhes de seu relacionamento com o Pai. Nesta revelação podemos compreender uma parte de como foi sua vida neste mundo e dar um passo adiante na compreensão do que significa ser como Jesus.
Profundamente triste
Mateus conta-nos no versículo 37 que Jesus começou a entristecer-se e a angustiar-se. A consciência do que estava para acontecer fez com que Ele sofresse antecipadamente. João escreveu que Jesus sabia todas as coisas que estavam para vir sobre Ele (Jo 18.4). Nada do que estava para acontecer naquelas horas que se seguiriam era surpresa para o nosso Senhor. Ali naquele jardim Ele começou a sofrer e a angustiar-se. Era uma dor emocional profunda a ponto de levar o suor de Jesus a se tornar como gotas de sangue (Lc 22.44). Sob tensão emocional vasos capilares subcutâneos se rompem levando o sangue a se misturar com o suor e a sair pelas glândulas. Seu sofrimento era intenso. Sabendo que estava para receber a ira de Deus por causa de nossos pecados, Jesus sofreu e angustiou-se. No versículo 38 Jesus verbaliza a Pedro, João e Tiago o quanto estava sofrendo: “Então, lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte.” Nosso modelo neste mundo passou por profundo sofrimento.
O que isso significa para nós? Ser um crente em Jesus significa ter sofrimento neste mundo, significa ter momentos de angústia profunda. Se somos chamados a ser como Ele, e se Ele passou por isso, significa que também podemos passar. Deus pode ter em seus planos momentos de sofrimento e angústia para nós. Jesus, por exemplo, falou que mostraria a Paulo o quanto lhe importava sofrer pelo seu nome (At 9.16). O próprio Paulo, junto com Barnabé, ensinava os crentes que através de muitas tribulações é necessário entrar no reino dos céus (At 14.22). Pedro escreveu que fomos chamados para isto, ele afirmou que Cristo sofreu em nosso lugar, deixando-nos o exemplo para seguirmos seus passos (1Pe 2.21). É certamente claro que nosso sofrimento nunca se assemelhará ao de Jesus. Ele não tinha pecados e passava por um sofrimento injusto. Nosso sofrimento é de alguma forma justo, pois somos pecadores. Se Jesus sofreu e angustiou-se é possível que também passemos por isso neste mundo.
Submissão total
Mateus também registra um pedido que Jesus fez ao Pai. O versículo 39 relata que Jesus adiantou-se um pouco, e prostrado sobre o rosto orou: “Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres.” Temos mais um exemplo precioso daquele que é nosso modelo. Ele foi submisso ao Pai. Em uma atitude de total dependência e submissão Ele pediu ao Pai que, se possível, fosse afastado dele o cálice que estava para beber. O cálice não era a dor física que Ele estava para sentir, muitos passaram e ainda passam pela dor da crucificação. Isso não era o pior para Ele. O cálice também não era o temor dos homens que estavam para o prender. Ainda que fossem maus e estivessem prestes a demonstrar toda a ira que sentiam sobre Ele, Ele não os temia. Jesus havia dito aos seus discípulos que não temessem aqueles que matam o corpo e nada mais podem fazer (Lc 12.4). Nesta hora Ele não temeria aqueles que havia ensinado seus discípulos a não temer. O que Jesus temia naquele momento não era a dor física, também não era o que as pessoas poderiam fazer com Ele. Ele temia a ira de Deus pela qual teria que passar. O cálice era muito pesado e Ele pediu para não beber. Não pode haver coisa pior do que estar separado da comunhão com Pai, e era isso que estava para acontecer. Jesus receberia a ira de Deus na cruz e Ele pediu que isso não acontecesse caso fosse possível.
Nosso Senhor, entretanto agiu em perfeita submissão. Ele não fez exigências, não determinou a Deus o que deveria acontecer, Ele não repreendeu qualquer demônio naquela hora. Jesus simplesmente pediu ao Pai e afirmou: “Todavia não seja como eu quero, e, sim, como tu queres” (v.39). Que exemplo de submissão! Ele sabia que estava para acontecer algo terrível, algo que estava lhe causando profunda tristeza, no entanto Ele disse que não importava sua vontade, mas a do Pai. A maior dor que qualquer ser humano possa sentir não se aproxima à que Jesus sentia naquela noite no Getsêmani, e Ele aceitaria passar por ela se fosse a vontade do Pai.
Ser como Jesus é também ter que se submeter integralmente a Deus. É ter que confiar que Ele fará sempre o que for melhor para seus servos, incluindo momentos de sofrimento. Jesus naquela hora estava cumprindo aquilo que havia dito aos seus discípulos dias antes quando afirmou que não tinha vindo para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos (Mt 20.28). Paulo disse que Ele se esvaziou assumindo a forma de servo (Fl 2.7). A palavra usada para servo no grego significa literalmente escravo. Escravos não têm vontade própria. Escravos são em tudo obedientes aos seus senhores. Escravos vivem com um único propósito que é fazer a vontade de seu senhor. Escravos eram inclusive punidos até mesmo com a morte se ousassem desobedecer a seus senhores. Foi isso que Jesus se tornou um servo, em tudo obediente ao Pai.
Somos chamados a ser servos de Deus. Somos seus escravos, não temos vontade própria. Ele decide tudo sobre nossas vidas. Seguir o exemplo de Jesus significa submeter-se totalmente e a Deus, sabendo o que isto significa. A vontade de Deus para nossa vida pode incluir coisas que não gostamos. Talvez situações pelas quais não imaginemos ter que passar possam ser a vontade de Deus para nós. Pedro escreveu que Deus pode desejar que soframos (1Pe 3.17). Quando pensam que devem se submeter a Deus, muitos crentes não consideram que Jesus foi submisso ao Pai até a morte e morte de cruz. Ser como Jesus é estar disposto a passar pelo que Ele passou. O apóstolo Paulo entendeu isso perfeitamente. Quando escreveu aos filipenses ele disse que havia considerado todas as coisas como refugo e desta forma ter a comunhão dos sofrimentos de Cristo, conformando-se com Ele na sua morte (Fl.3.10). Ser como Jesus não inclui somente a glória nos céus, significa que o caminho até lá é estreito e difícil de andar por ele.
Resposta negativa
Mateus fala que Jesus orou três vezes e em todas ele repetiu as mesmas palavras (v. 44). Aqui temos algo maravilhoso a respeito de nosso Senhor. Ele recebeu uma resposta negativa. O Filho Amado de Deus, aquele em quem o Pai tinha prazer recebeu “não” como resposta. O Filho que ouviu o Pai certa vez dizer-lhe “pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão” (Sl 2.8), agora ouviu o Pai dizer-lhe “não” a um pedido que lhe havia feito. Jesus terminou a oração e voltou a encontrar seus discípulos e numa demonstração de conformidade com a resposta recebida disse: “Eis que é chegada a hora, e o Filho do Homem está sendo entregue nas mãos de pecadores” (v. 45). Deus havia dito a Ele que não atenderia seu pedido e Ele não se queixaria disso.
Ser como Jesus é também estar preparado para ouvir Deus dizer-nos “não”. Creio que muitos dos que são chamados de cristãos não conhecem a Deus de fato, pois o vêem como alguém que lhes fará tudo o que quiserem e na hora que pedirem. Portam-se como crianças mimadas que exigem resposta rápida e positiva. É lamentável, mas muitos dos que chamam a Deus de Senhor não entrarão no reino dos céus, pois não O conhecem verdadeiramente. Aquilo que chamam de Senhor não é o Deus da Bíblia. O Deus da Bíblia nos chama de seus servos e muitas vezes nos diz “não” aos pedidos que lhe fazemos. Ele sabe o que é melhor para nós e por isso não nos atende em tudo o que lhe pedimos. O apóstolo Paulo experimentou isso. Ele estava sofrendo numa situação a que ele chamou de espinho na carne. Era algo ruim, doloroso, difícil de passar. Paulo conta-nos que três vezes pediu ao Senhor que o livrasse daquele problema, mas a reposta para ele foi negativa. O Senhor disse a Ele que a graça lhe bastava (2Co 12.7-9). Paulo não se frustrou com Deus, não entrou em depressão, não chorou pelos cantos da igreja procurando chamar a atenção das pessoas para o seu problema, pelo contrário o apóstolo, que afirmou ser um imitador de Cristo, disse: “De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte” (2Co 12.9-10). Ser como Jesus é aceitar “não” como resposta.
Que diferença esta verdade de tantas falácias que são ditas em nossos dias sobre Deus. Deus é apontado como alguém que está a disposição para fazer tudo o que pecadores quiserem, basta ordenar que Ele faça, basta que determinem e Ele os atenderá. Se o melhor dos filhos, aquele que nunca desobedeceu, nunca pecou, foi tentado em todas as coisas e permaneceu irrepreensível, ouviu o Pai dizer-lhe “não”, por que nós pecadores não compreendemos quando Ele nos diz “não” também?
Não gostamos de ouvir “não”, parece ser uma palavra que dói nos ouvidos. É uma palavra que desde quando éramos crianças irrita-nos. Devemos lembrar, entretanto que a verdade desta palavra é muito importante no relacionamento com Deus. Mesmo quando não havia pecado na humanidade Deus a usou. Nossos pais Adão e Eva estavam na perfeição do jardim e Deus lhes disse: “da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.17). A base do relacionamento deles com Deus estava em compreender o significado daquele “não”. Quando entregou os dez mandamentos, em oito deles Deus usou a Palavra “não”. Será que isso não nos comunica nada? Nosso Deus diz-nos com freqüência a palavra que talvez menos gostamos de ouvir: “não”! Ser como Jesus é saber desta realidade e seguir a Deus como Ele é de fato e não como queremos que seja.
Jesus falou sério quando disse o que significava segui-lo. Andar após Ele não é como um passeio no bosque, não é como caminhar a beira-mar ouvindo o barulho das ondas e observando uma bela paisagem. Ele disse que o caminho é apertado e poucos se acertam com ele. Ele disse que segui-lo é ser contrariado todos os dias. Ser como Ele é saber que haverá sofrimento e angústia; ser como Ele é estar disposto a ser submisso a Deus em tudo; ser como Ele é ter a disposição de ouvir uma das mais dolorosas palavras, “não”.

No mercado da fé: até consórcio para quem quer viajar a Israel



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A busca pela proximidade com Deus está criando no Brasil um lucrativo mercado de viagens religiosas. São mais de 3,5 milhões de passeios por ano realizados fora do país, segundo estimativas do Ministério do Turismo. Um dos locais mais visados é Israel. Grupos religiosos chegam a formar agências de viagens e mesmo oferecer consórcios para os fiéis.
Só em 2012, 60 mil brasileiros foram para Jerusalém por questões religiosas, de acordo com o Ministério de Turismo de Israel.
Um dos casos curiosos é o do apóstolo Renê Terra Nova, do Ministério Internacional da Restauração, de Manaus. Ele lidera um dos maiores movimentos neopentecostais do país, tendo seguidores inclusive no Espírito Santo.
Além de pastor, é dono da agência Terra Nova Group, responsável em realizar as peregrinações para Israel. Em suas mensagens no YouTube, o apóstolo afirma que é necessário que todo o cristão vá pelo menos uma vez para Israel. O líder também estabelece a cada um dos pastores uma meta de no mínimo 10 pessoas que devem ser conquistadas para as caravanas.
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No site da agência, além da contratação do pacote de viagens, que custa em média US$ 5 mil (R$ 10 mil), o consumidor pode contratar consórcio, sem consulta ao SPC e à Serasa, com carta de crédito de R$ 7 mil a R$ 10 mil. O fiel interessado pode pagar o consórcio em 12 ou 48 prestações.
Apesar de mostrar as condições do consórcio, o site não disponibiliza contrato nem explica qual é o órgão responsável pelo produto de valores mobiliários. Para conseguir informações, a reportagem ligou para a agência em Manaus, e a atendente disse que lá funcionava a Embaixada de Israel.
Outro lado
A GAZETA também contatou o diretor de Caravanas da agência, Marcus Almeida. Segundo ele, o consórcio do Terra Nova Group foi adaptado e pertence ao Banco Rodobens. “Pegamos um consórcio de serviços e demos o nome de Consórcio de Israel”.
A operação, garantiu, é legal. E ao realizar caravanas, o grupo visa a incentivar a ida à Terra Santa. “Ir para Israel é inevitável. Nós incentivamos todos a irem para lá, mas não obrigamos a comprar conosco. As metas estabelecidas não são comerciais e sim espirituais”.
Almeida acrescenta que o contrato do consórcio é fechado junto à Rodobens e que a atendente errou ao falar Embaixada de Israel. Ele explica que o nome certo é Embaixada Cristã de Jerusalém. “Com o consórcio, apenas buscamos facilidades para as pessoas. Somos os maiores divulgadores de Israel no país. Já chegamos a levar 3,5 mil pessoas para lá em um ano. Neste ano, devemos levar mil pessoas”.
Segundo a Embaixada de Israel, não há autorização para que nenhuma entidade utilize o nome do órgão por questões religiosas nem comerciais.
A instituição também explica que brasileiros gastam em média US$ 3,5 mil (R$ 7 mil) para viajar ao país.
Em nota, a Rodobens declara que não possui nenhum tipo de relação com a instituição denominada Terra Nova Group, desconhecendo totalmente eventual oferecimento de consórcio por essas pessoas em seu nome. O banco diz também não autorizar o uso de seus produtos por meio de sua rede de prestadores de serviços e parceiros comerciais.

A rede da fé

Kit comunhão
No YouTube apresenta o kit comunhão, que vem com artigos para a “Santa Ceia” e óleo ungido. O pacote custa R$ 300 e promete ajudar pessoas com problemas espirituais, emocionais, de depressão, questões financeiras, entre outras questões.
Cartão de crédito
Várias igrejas oferecem cartões de crédito para os fiéis. Algumas afirmam disponibilizar um cartão missionário, com o dinheiro arrecadado seria possível levantar recursos para realizar missões, como é o caso da Assembleia de Deus.
Lojas virtuais
Igrejas ou empresas ligadas a denominações religiosas também realizam o comércio de produtos, como CDs, canecas, chaveiros e artigos religiosos. No ramo católico carismático, o Canal Canção Nova tem uma loja virtual na internet para vender produtos e arrecadar recursos para a construção do Santuário do Pai das Misericórdias.
Feiras
Tanto no ramo católico quanto cristão evangélico, são realizados eventos como feiras. No setor católico, há caso de roupas e batinas para padres que chegam a custar R$ 7 mil. No nicho evangélico neopentecostal, as feiras, além de Bíblias eletrônicas semelhantes a um MP4, são vendidas até pílulas de emagrecimento milagroso.
Sites de compras coletivas
O mercado da fé tem mexido até com o setor de compras coletivas. Um grupo criou o Clube das Ovelhas, que vende livros e diversos produtos gospel.
Shopping do Pastor
Para pastores que estão fundando suas igrejas, há páginas na internet que oferecem produtos como manto sagrado, chaves da bênção, galão de água consagrada ou outros objetos neopentecostais.
O outro lado: Igrejas se calam
A reportagem, durante a última semana, procurou pastores e líderes das igrejas. Silas Malafaia, segundo a assessoria de imprensa, estaria com a agenda cheia e não teria como dar entrevistas. Para a Mundial do Poder de Deus, foi enviado e-mail, feitas ligações para a igreja, para o setor administrativo e para a comunicação, e nenhuma resposta foi enviada. A Igreja Internacional também não respondeu aos e-mails e aos telefonemas. A Universal também foi procurada, mas não respondeu aos e-mails nem retornou às chamadas. O canal Canção Nova, também consultado pela reportagem, não respondeu aos questionamentos apresentados.
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Catedral e o juízo gospel – por Ricardo Alexandre



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“Uma manchete um tanto malandra e o rastro de destruição estava feito. Mais um capítulo do livro “Cheguei bem a tempo de ver o palco desabar”

Apesar de haver me convertido ao cristianismo de tradição protestante antes mesmo de começar a escrever profissionalmente, sempre fui desconfiado de qualquer coisa parecida com o que é conhecido como segmento “gospel”. Nunca cogitei me alinhar com tal target nem como profissional muito menos como consumidor e, se você me permite generalizar, sempre achei que a música evangélica era, no fundo, uma saída fácil para que artistas sem chance no mundo pop pudessem dar seus autógrafos, ter seus produtos licenciados e viver seu sonho de star. O chamado “rock gospel” do início dos anos 1990 não diminuiu minha antipatia, muito pelo contrário. Música para mim sempre foi assunto sagrado demais para ser profanada por pseudos.
Mas aconteceu que em 1999 a gravadora WEA anunciou a contratação do grupo carioca Catedral, embalado naqueles típicos projetos de marketing vergonhosos vindos de grandes gravadoras: a multinacional queria oferecer a banda como uma espécie de substituta da Legião Urbana, especialmente do lado mais espiritualizado e “conselheiro” da banda de Brasília – dali alguns anos, de fato contrataria o tecladista da Legião, Carlos Trilha, para produzi-los e reforçar a conexão. Do lado do quarteto evangélico, o desejo declarado era romper com o mercado dito gospel e avançar para o mercado dito secular, passo que se anunciava já havia alguns anos, em músicas cuja temática religiosa eram mascaradas em letras de amor.
O Catedral havia surgido em 1988 fazendo um som que em nada lembrava a Legião nem suas matrizes estéticas. Mas encontrou seu nicho de mercado no mesmo balaio que deu certa (má) fama ao grupo Cogumelo Plutão, por exemplo, o de pretensos estepes do grupo de Brasília. Em tempos em que o “serviço de implantação de novos produtos no mercado” andava de vento em popa entre as gravadoras e as rádios, a música “Eu quero sol nesse jardim” já tocava em FMs jovens. Nem a Legião Urbana soaria tão caricaturalmente Legião Urbana quanto naquela balada de violãozinho com vocal empostado e letra sobre jardins, luz da manhã e azul do céu. Marcelo Bonfá chamou o grupo de “cópia paraguaia”; Dado Villa-lobos de “Denorex” (o xampu do slogan “parece, mas não é”).
Recebi o disco na redação da Usina do Som e encomendei ao talentoso repórter Ricardo Pieralini que visitasse o Catedral e descobrisse aonde eles queriam chegar com tudo aquilo. Lembro de tê-lo advertido de que dinheiro era a menor das tentações, uma vez que o mercado gospel já era muito mais promissor do que o mercado secular, realidade que só se acentuou nos anos seguintes. E o repórter foi em sua missão.
Pieralini voltou dizendo que, sem compartilhar da minha desconfiança, não havia encontrado nada além do que encontrava em todo artista que entrevistava: quatro pessoas querendo atingir um número sempre maior de pessoas. Na verdade, penso hoje eu, o Catedral tentava fazer na época, com o talento de que dispunham, o que um número razoável de bandas cristãs brasileiras tenta fazer atualmente: dar um passo fora do seguro target gospel, dialogar com a sociedade, e influenciá-la como fizeram Bob Dylan ou o U2. Mas o Catedral não sabia se explicar e ninguém parecia muito interessado em entendê-los. Tínhamos, pelo menos um título chamativo – ou apelativo, se você preferir, para buscar audiência na home do site, àquela altura o maior sobre música da América Latina, com mais de um milhão de usuários cadastrados: “A igreja é uma merda”.
No terceiro ou quarto parágrafo do texto, a um clique de distância, a frase era explicada. A banda dizia, ou queria dizer, que, artisticamente, manter-se restrito ao circuito formado por frequentadores de igreja, é um beco sem saída, é restritivo, uma porcaria, um cocô, uma merda. Foi um título maldoso, não posso negar, minha máxima culpa. Não mais maldoso do que as maldades que eu já reservei ao Cidade Negra, é verdade, mas ainda assim pilantra, um tipo de manchete que só se explica no meio do texto, uma técnica que eu me recusei a repetir desde então, por mais ingênuo e despreparado que seja o artista que deixa escapar uma frase como essa.
A diferença entre o Cidade Negra e o Catedral é que a maldade em direção a estes me levaram a conhecer as profundezas do farisaísmo gospel. A “notícia” de que o Catedral haveria “renegado”, “apostatado” e “zombado do corpo de Cristo” grassou com uma velocidade absurda, sem tempo para contextualizar a frase infeliz. Aquele foi o conteúdo mais acessado do site até então. Lembro de, no sábado, dia seguinte à publicação, descendo em direção ao litoral, ter cruzado com nada menos do que três rádios evangélicas repercutindo a notícia, nunca consultando a banda, sempre em tom de impiedade e condenação. A gravadora MK Publicitá, responsável pelo lançamento dos seis álbuns anteriores do grupo, aproveitou para fazer marketing e anunciou imediatamente o recolhimento dos álbuns, por causa da “quebra de compromisso” do grupo com a igreja. Vários pastores e músicos vieram a público praticar o velho esporte de arvorarem-se santos diante do que supunham ser o desvio dos outros.
A repercussão foi tanta, e as pressões da gravadora tamanhas contra um site que, de fato, dependia da simpatia das companhias, que decidimos tirar a reportagem do ar na segunda-feira, deixando um rastro impressionante de destruição.
Combinei com Pedro Só, meu diretor, que eu em pessoa conduziria uma grande reportagem sobre o mercado gospel – desde aquela época sinônimo de audiência e controvérsia, tudo pelo que babávamos diariamente. Seria a primeira vez em sete anos de carreira que eu escreveria algo relacionado a religião.
Meus primeiros entrevistados foram justamente os músicos do Catedral (o fair-play em me receber cordialmente, em meio à tormenta em que se meteram, é gesto de nobreza de espírito que me impressiona até hoje). A partir dali mergulhei no enxofre: travei uma hora de conversa surreal com a bispa Sônia Hernandes em que ela começava tentando me convencer de suas boas intenções em registrar a palavra “gospel” em seu nome e terminava chorando nervosamente; me impressionei com o pensamento vivo de Yvelise de Oliveira, dona da MK Publicitá, segundo o qual os desejos mais elevados de todo artista gospel não eram maiores do que dar autógrafo e tirar fotos ao lado dos fãs; e fui verdadeiramente iluminado por uma professora de música numa faculdade de teologia batista, quando ela me chamou a atenção para o macaqueamento dos modelos americanos entre os góspeis brasileiros.
Guardo essas entrevistas em cassete até hoje. Teria rendido uma reportagem histórica, mas a bolha da internet estourou e os jornalistas com os salários mais altos foram os primeiros a serem cortados de suas redações. O Catedral lançou outros discos pela WEA, frequentou o Disk MTV e o Rock Gol, tornou-se ainda mais parecido com a Legião Urbana, processou a MK Publicitá, ganhou, e entrou na década de 2010 com um trânsito razoável entre os dois mercados. (O gospel brasileiro é o único gênero musical em que os próprios artistas pensam em termos de “mercado” como se fosse um contingente artístico). Os músicos brasileiros de matriz cristã consideram o evento “Usina do Som” como um marco para que outros nomes se acovardassem em dar o passo fora de seu segmento. A Usina do Som, gastando em banda pelo sucesso de público e sem ideia de como reverter isso em receita, foi diminuindo de tamanho até fechar em 2005, justamente o ano do advento da web 2.0. E eu aproveitei o tempo livre para finalmente terminar meu primeiro livro, Dias de luta: O rock e o Brasil dos anos 80.
Ricardo Alexandre

BOAS INTENÇÕES QUE LEVAM A MORTE


Por Pr. Silas Figueira

2Sm 6. 1-23

A Bíblia nos relata que o Rei Davi depois que se estabeleceu como rei de Israel, quis trazer a Arca do Senhor que estava na casa de Abinadabe para Jerusalém. Só que nesse percurso ouve um incidente que marcou a sua vida, é que Uzá, um dos que estavam guiando o carro que trazia a Arca do Senhor quando viu que o boi havia tropeçado e a Arca estava para cair, ele colocou a mão nela para evitar que isso ocorresse. O texto bíblico relata que Uzá, por ter feito isso, o Senhor o matou. A narrativa bíblica é muito clara em relação a isso, veja: “Quando chegaram à eira de Nacom, estendeu Uzá a mão à arca de Deus e a segurou, porque os bois tropeçaram. Então, a ira do SENHOR se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali por esta irreverência; e morreu ali junto à arca de Deus” (2Sm 6.6,7). Porque Deus fez isso com um homem tão bem intencionado? Havia naquele ambiente temor e tremor diante de Deus. As pessoas ali, a começar pelo próprio rei, estavam alegres e cultuando a Deus levando a Arca para Jerusalém, e de repente Deus se levanta com ira santa e mata aquele homem. Porque isso ocorreu? Porque a ira de Deus se acendeu contra Uzá? Durante muito tempo eu me questionei a respeito desse texto até o dia em que eu parei de questionar e procurei em oração estuda-lo e descobri porque isso tudo ocorreu. Vamos analisar esse texto e observar as lições que esse episódio tem para nos ensinar e que se adapta muito bem para os dias de hoje, mas para isso temos que retornar cerca de oitenta anos, no tempo do sacerdote Eli.

O contexto histórico. Na época do sacerdote Eli os seus dois filhos Hofni e Finéias, que eram também sacerdotes, estavam em pecado. Apesar de eles serem responsáveis em levar o povo a cultuar a Deus e interceder por ele, estes dois sacerdotes estavam agindo na contra mão das suas funções. Além de menosprezarem o sacrifício a Deus oferecido pelo povo, eles também se deitavam com as mulheres que serviam à porta da tenda da congregação (1Sm 2.12-17, 22-26). O Senhor então falou para o sacerdote Eli que sua família não continuaria mais no sacerdócio e o sinal que Eli receberia como prova de que isso provinha do Senhor era que os seus dois filhos morreriam no mesmo dia, pois Eli honrava mais aos seus filhos que a Deus (1Sm 2.27-34). Entenda uma coisa, os filhos do sacerdote Eli eram sacerdotes, mas eram homens que segundo a Bíblia, eram filhos de Belial, ou seja, eles eram homens sem valia ou rebeldes. Homens que não se importavam com o Senhor (1Sm 2.16). 

Nesse período, houve uma guerra entre Israel e os Filisteus. Na primeira batalha os filisteus venceram (1Sm 4.2), então os israelitas tiveram a brilhante ideia de levar para o campo de batalha a Arca do Senhor, pois para eles, aquela batalha havia sido perdida porque o Senhor não estava com eles através da Arca. Observe o texto: “Mandou, pois, o povo trazer de Siló a arca do SENHOR dos Exércitos, entronizado entre os querubins; os dois filhos de Eli, Hofni e Finéias, estavam ali com a arca da Aliança de Deus” (1Sm 4.4). Para o povo a Arca da Aliança representava somente um patuá, um amuleto, pois eles não entendiam que a manifestação da glória do Senhor no meio do seu povo vinha de uma vida consagrada e o Senhor não tem compromisso com quem não tem compromisso com Ele. No entanto, o povo era o reflexo do que era o ofício sacerdotal naquela época. Sacerdotes de si mesmos e não do Deus Altíssimo. Sacerdotes segundo a vontade do povo e não segundo os princípios estabelecidos por Deus em sua Palavra. Não eram diferentes dos líderes que temos visto nos dias de hoje. Como disse Judas, irmão de Jesus em sua epístola a respeito dos líderes que estavam se levantando em sua época: “Ai deles! Porque prosseguiram pelo caminho de Caim, e, movidos de ganância, se precipitaram no erro de Balaão, e pereceram na revolta de Corá. Estes homens são como rochas submersas, em vossas festas de fraternidade, banqueteando-se juntos sem qualquer recato, pastores que a si mesmos se apascentam; nuvens sem água impelidas pelos ventos; árvores em plena estação dos frutos, destes desprovidas, duplamente mortas, desarraigadas; ondas bravias do mar, que espumam as suas próprias sujidades; estrelas errantes, para as quais tem sido guardada a negridão das trevas, para sempre” (Jd 11-13). E este mesmo espírito está até hoje em nosso meio, agindo na vida e no ministério de muitos líderes por aí. 

Como Deus não compactua com o pecado e para cumprir a Sua Palavra já antes anunciada ao sacerdote Eli, os israelitas perderam a batalha, os seus dois filhos morreram e a Arca do Senhor foi levada pelos filisteus. Quando a notícia chegou a Siló, o sacerdote Eli que estava assentado numa cadeira ao pé do caminho, pois temia pela Arca do Senhor, quando soube que a Arca havia sido tomada pelos filisteus, caiu para trás, quebrou o pescoço e morreu, pois era um homem pesado e idoso, ele tinha noventa e oito anos. Ele havia julgado Israel por cerca de quarenta anos. A nora do sacerdote Eli, esposa de Finéias, quando soube que a Arca havia sido tomada, que seu sogro havia acabado de falecer e que seu marido havia morrido também; ela, que estava para dar a luz teve seu filho naquele momento, mas não se alegrou com o nascimento do filho e ainda pôs o nome dele de Icabô, que quer dizer: “Foi-se a glória de Israel” (1Sm 4.12-22). Tudo isso devido a consequência do pecado de um pai que não ousou com autoridade repreender seus filhos, por deixa-los exercendo o sacerdócio e ainda permitir levar a Arca da Aliança para o campo de batalha mesmo depois de ter ouvido o que o Senhor lhe havia dito.

A Arca ficou na terra dos filisteus por cerca de sete meses (1Sm 6.1). Nesse período eles foram atacados por várias enfermidades e pragas de ratos que estavam destruindo a terra (1Sm 6.5). Diz a Bíblia que lhes nasceram tumores e muitos morreram devido a isso.  A Arca do Senhor foi então enviada para cinco cidades diferentes e onde a Arca chegava isso ocorria. Então resolveram devolver a Arca aos israelitas com uma oferta de cinco ratos e cinco tumores ambos de ouro dentro de um cofre, representando os males que os estavam assolando. Colocaram em um carro novo guiado por duas vacas com crias. Diz-nos as Escrituras que elas foram em direção à terra dos israelitas andando e berrando, mas sem se desviarem nem para a direita nem para a esquerda (1Sm 6.12). Por fim chegou ao território dos israelitas e a Arca ficou na casa de Abinadabe e consagraram seu filho Eleazar para guardar a Arca do Senhor (1Sm 7.1).

Nos dias do rei Davi. Passaram-se cerca de oitenta anos, Davi já estava estabelecido como rei em Israel, então ele propôs em seu coração trazer a Arca do Senhor que estava na casa de Abinadabe em Quiriate-Jearim (1Cr 13.5), para Jerusalém. Nesse percurso houve então esse incidente e nos diz a Bíblia que Davi muito se desgostou por isso ter ocorrido. Mas a questão é, porque isso ocorreu já que o rei estava tão bem intencionado? Vamos mostrar os erros que Davi cometeu passo a passo e os erros que as outras pessoas cometeram também.

Primeiro erro: Davi foi consultar ao povo e não a Deus (1Cr 13.1-4). 

“Consultou Davi os capitães de mil, e os de cem, e todos os príncipes; e disse a toda a congregação de Israel: Se bem vos parece, e se vem isso do SENHOR, nosso Deus, enviemos depressa mensageiros a todos os nossos outros irmãos em todas as terras de Israel, e aos sacerdotes, e aos levitas com eles nas cidades e nos seus arredores, para que se reúnam conosco; tornemos a trazer para nós a arca do nosso Deus; porque nos dias de Saul não nos valemos dela. Então, toda a congregação concordou em que assim se fizesse; porque isso pareceu justo aos olhos de todo o povo.”

Davi agiu como alguns tipos de líderes que querem estar bem com o povo, fazer a vontade deles e ao mesmo tempo ver se a sua vontade está de acordo com o gosto dos liderados. E ainda usam o nome de Deus para satisfazerem o seu egocentrismo. Observe o final do texto: porque isso pareceu justo aos olhos de todo o povo”, ou seja, as pessoas é que estavam ditando o que queriam. O que mais temos visto hoje em dia são igrejas ao gosto do freguês, e esse tipo de “igreja” é formada por pessoas que não tem compromisso com Deus, mas com o seu prazer e suas vontades. Os líderes por sua vez são os balconistas que estão para servi-los e agrada-los.  

Segundo erro: Davi trouxe a Arca do Senhor imitando os filisteus (2Sm 6.3).

“Puseram a arca de Deus num carro novo e a levaram da casa de Abinadabe, que estava no outeiro; e Uzá e Aiô, filhos de Abinadabe, guiavam o carro novo.”

Isso deu certo com os filisteus, mas não foi isso que a Lei determinava. A Arca deveria ser levada nos ombros pelos levitas e não em carro novo:

“Também lhe farás moldura ao redor, da largura de quatro dedos, e lhe farás uma bordadura de ouro ao redor da moldura. Também lhe farás quatro argolas de ouro; e porás as argolas nos quatro cantos, que estão nos seus quatro pés. Perto da moldura estarão as argolas, como lugares para os varais, para se levar a mesa” (Êx 25.25-27). 

“Os filhos dos levitas trouxeram a arca de Deus aos ombros pelas varas que nela estavam, como Moisés tinha ordenado, segundo a palavra do SENHOR” (1Cr 15.15).

Outro detalhe importante, não era qualquer levita que podia levar a arca, deveria ser os filhos de Coate (Nm 4). Somente os coatitas que podiam lidar com as coisas santíssimas. Hoje em dia tem gente que pensa fazer tudo de qualquer maneira passando a frente dos verdadeiros responsáveis na igreja. Todo mundo pensa que pode ser pastor e vai por aí a fora. Outra coisa a Arca deveria ser coberta e quem pusesse a mão nela morreria (Nm 4.15). Uzá sofreu as consequências do que já estava escrito na Lei do Senhor. Tem gente que lê a Bíblia e pensa que o que está nela não é bem assim, que as coisas hoje estão diferentes, e vai por aí. Cuidado, com Deus não se brinca! Os filisteus simbolizam o mundo e Davi estava imitando o mundo. Mas isso tem ocorrido em muitas igrejas hoje. Tem muitas igrejas se mundanizando, ao invés de observarem a Palavra de Deus observam as últimas novidades e como podem aplica-las em suas igrejas, são como os atenienses na época de Paulo, que só queriam saber as últimas novidades (At 17.21). Recentemente eu vi uma igreja que tinha um ringue de luta livre dentro dela, outra tinha lutas de capoeira. Se a igreja pretende competir com o mundo em divertimento certamente irá perder, primeiro porque a igreja não tem esse papel e segundo, a igreja foi levantada para adorar a Deus e não agradar as pessoas. Devemos ir a igreja para ouvir a voz de Deus e não uma palavra que nos agrade. Devemos ir a igreja cultuar a Deus e não nos divertir. Para isso existem os cinemas, teatros e shows dos mais diversos por aí. Quer se divertir vá para o mundo, quer adorar a Deus vá a um culto. Eu não adoro a Deus imitando o mundo, mas negando a mim mesmo e tomando a minha cruz. Foi isso que Jesus nos ensinou (Lc 9.23).

Terceiro erro: Uzá e Aiô não quiseram contrariar o rei Davi. Esses dois homens eram netos de Abinadabe, filhos de Eleazar, eles sabiam muito bem como Arca deveria ser transportada e a maneira como o rei estava fazendo estava totalmente errada. O rei deveria ser corrigido, mas nenhum deles deve coragem de desafiar as suas ordens. Eles foram coniventes com o erro. Uma coisa é administrar uma nação outra é culto a Deus. Eles foram completamente diferentes dos sacerdotes da época do rei Uzias. Diz-nos a história bíblica que o rei Uzias resolveu oferecer incenso no templo e foi barrado pelos sacerdotes (2Cr 26.16-20). O texto nos fala assim:

“Mas, havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração para a sua própria ruína, e cometeu transgressões contra o SENHOR, seu Deus, porque entrou no templo do SENHOR para queimar incenso no altar do incenso. Porém o sacerdote Azarias entrou após ele, com oitenta sacerdotes do SENHOR, homens da maior firmeza; e resistiram ao rei Uzias e lhe disseram: A ti, Uzias, não compete queimar incenso perante o SENHOR, mas aos sacerdotes, filhos de Arão, que são consagrados para este mister; sai do santuário, porque transgrediste; nem será isso para honra tua da parte do SENHOR Deus. Então, Uzias se indignou; tinha o incensário na mão para queimar incenso; indignando-se ele, pois, contra os sacerdotes, a lepra lhe saiu na testa perante os sacerdotes, na Casa do SENHOR, junto ao altar do incenso. Então, o sumo sacerdote Azarias e todos os sacerdotes voltaram-se para ele, e eis que estava leproso na testa, e apressadamente o lançaram fora; até ele mesmo se deu pressa em sair, visto que o SENHOR o ferira.” 

Aquele não era o papel do rei, ele poderia ser rei, mas dentro da Casa do Senhor quem tinha autoridade eram os sacerdotes. Eles desafiaram o rei e não permitiram tal atitude. Já Uzá e Aiô não tiveram a mesma coragem e permitiram que o rei Davi fizesse o que bem lhe agradara. O resultado com Davi foi morte de Uzá, já no caso de Uzias a lepra recaiu sobre ele. Devemos seguir a Palavra para agradar a Deus e não aos homens. Ainda que tais homens estejam revestidos de autoridade o que não nos obriga a satisfazê-los e nem seguir as suas leis. Estamos vivendo uma época em que muitas pessoas querem nos dizer como devemos adorar a Deus. Como devemos ver o pecado, não como pecado, mas como algo natural e que não ofende a Deus; afinal de contas Deus é amor. Estão tentando nos dizer como devemos educar nossos filhos. Dizem-nos que o homossexualismo não é pecado contra Deus (teologia inclusiva). Tentam até controlar o que fazemos com o nosso dinheiro ensinando que o dízimo é coisa do AT com suas mais esdruxulas teologias. Pessoas sem nenhuma autoridade espiritual tentando nos convencer a relativar a Palavra de Deus. Pessoas assim agem da mesma forma que Satanás agiu com os nossos primeiros pais (Gn 3). Mas nós não seguimos homens, o que nos direciona é a Palavra de Deus, pois se não for assim geraremos morte e não vida.

Outro problema aqui detectado é o que podemos chamar de culto à celebridade. Uzá e Aiô deixaram de cultuar a Deus para cultuar o rei Davi. Fizeram uma celebração não ao Rei dos reis, mas a um rei terreno e falho. Hoje o que mais se vê por aí é show e não culto a Deus. As pessoas vão ao culto para ver o cantor famoso, a banda de sucesso, o pregador das multidões, mas Deus que é bom mesmo não é cultuado. 

Quarto erro: indiferença para com as coisas de Deus. Aiô e Uzá eram netos de Abinadabe e filhos de Eleazar. Os dois sacerdotes cresceram com a Arca em sua casa e aquilo se tornou algo familiar para eles. O fato de toda a sua vida ter conhecido a Arca aliando à geral indiferença poderia ter gerado neles sentimento de excessiva familiaridade com a mesma. Eles não tinham zelo pelo sagrado, aquilo se tornou corriqueiro para eles. Daí eles fizeram como o rei queria, pois para eles aquilo não importava muito. Isso me chama a atenção para a nova geração que está crescendo em nossas igrejas, principalmente filhos de pastores que correm o mesmo risco de verem a igreja como um ganha pão do pai ou ver o pai pastor como uma celebridade e que ele, como filho do pastor, podendo fazer qualquer coisa na igreja e fora dela, pois ele é filho do “dono da igreja”. E é exatamente isso que temos visto por aí. Filhos de pastores que não tiveram ainda uma experiência de conversão e estão seguindo inclusive a “carreira” do pai. A culpa de tudo isso, geralmente, são dos pais. Veja a história do sacerdote Eli que é um bom exemplo disso e até mesmo das dos filhos de Samuel posteriormente:

“Tendo Samuel envelhecido, constituiu seus filhos por juízes sobre Israel. O primogênito chamava-se Joel, e o segundo, Abias; e foram juízes em Berseba. Porém seus filhos não andaram pelos caminhos dele; antes, se inclinaram à avareza, e aceitaram subornos, e perverteram o direito” (1Sm 8.1-3).

Muitas vezes o pastor tem tempo para as famílias da igreja, mas não dá a devida atenção aos seus próprios filhos. Filhos de pastor não são pastorzinhos e muito menos devem ser tratados de forma diferente dos filhos dos membros da igreja. Isso é muito sério.

E o que gerou tudo isso? Morte. Quem anda na contra mão da Palavra de Deus tendo a responsabilidade de ensiná-la e não a faz gera morte em sua vida e na vida dos outros. Deu não foi mau com Uzá, Deus foi bom com o povo, pois se Ele não fizesse isso o erro continuaria e Ele não compactua com o erro. Saiba de uma coisa, a Bíblia nos ensina como devemos cultuar ao nosso Deus, mas tem muita gente querendo fazer do seu jeito. O Senhor Jesus disse que devemos adorar a Deus em espírito e em verdade (Jo 4.23,24) e não com o espírito de mentira. Cuidado por onde você anda!

Devido a esse ocorrido, Davi deixou a Arca na casa de Obede-Edom por cerca de três meses. E nos diz o texto sagrado que a casa deste foi abençoada por causa da arca que estava em sua casa. Observe que em momento algum as Escrituras dizem que a casa de Abnadabe foi abençoada, mas nos diz que a casa de Obede-Edom e tudo que ele tinha foi abençoado (2Sm 6.11,12). Sabe por que disso? Postura diante do sagrado. Reverência diante das coisas de Deus. Isso faz toda diferença em nossas vidas também.

Davi então resolve trazer a Arca para Jerusalém, só que desta vez de forma correta. Os levitas a estavam trazendo em seus ombros:

“Os filhos dos levitas trouxeram a arca de Deus aos ombros pelas varas que nela estavam, como Moisés tinha ordenado, segundo a palavra do SENHOR” (1Cr 15.15).

Quais foram as consequências dessa atitude correta em relação a Arca do Senhor?

Primeiramente Davi se alegrou (2Sm 6.15). Desta vez não houve morte, mas abundância de alegria na presença de Deus. Como disse Deus a Caim: “Se procederes bem, não é certo que serás aceito?” (Gn 4.7a). Deus age de acordo com os seus preceitos pré-estabelecidos em Sua Palavra, ou seja, Deus é lógico. E bem sabemos que o salário do pecado é a morte (Rm 6.23). A Palavra de Deus é a nossa regra de fé e prática, mas tem muitas pessoas que são meros expectadores e não praticantes. O próprio Senhor Jesus falou para os saduceus que eles erravam por desconhecerem as Escrituras e o poder de Deus (Mt 22.29). Esse desconhecimento leva ao erro e o erro a morte. Mas quando conhecemos e praticamos temos abundante alegria em nossas vidas.

Segunda coisa, Davi abençoou o povo (2Sm 6.18). Por Davi estar abençoado ele tinha condições de abençoar as pessoas também. E isso ocorre conosco também. O senhor nos chamou para sermos canal de bênção na vida das outras pessoas. Quando Deus chamou Abraão para deixar sua terra, seus parentes e amigos e seguir para um lugar que ele ainda não sabia ao certo onde seria, para ali criar uma nova nação e estabelecer um povo para Deus, deu-lhe uma recomendação nestes termos: "Sê tu uma bênção". Tal imperativo definiu um perfil diferente na vida de Abraão. Ser bênção, e não simplesmente viver à procura dela, faz uma grande diferença. Muitos hoje perguntam por que a Igreja Evangélica no Brasil, que tanto cresceu nas últimas décadas, não tem promovido as mudanças que imaginávamos iria promover quando tivesse as oportunidades que tem hoje. Arriscaria uma resposta simples: tornamo-nos consumidores religiosos com todos os direitos que um consumidor tem.

Ao invés de ser bênção, queremos receber bênçãos; usamos a igreja, a família e a sociedade para alimentar nossas ambições mais mesquinhas. Não somos mais agentes de transformação; viramos espectadores ingratos e exigentes. Ao invés de promover a prosperidade social, transformamo-nos em parasitas sociais, querendo cada vez mais e melhor para nós e não para os outros. A conversão é a transformação do ser passivo num ser ativo; do paciente num agente; do parasita social num ser solidário; do consumidor religioso num canal de bênção e cura para os outros. A solução para as mazelas sociais que vivemos em nosso país não será conquistada por uma Igreja que exige o melhor para si; que reivindica o direito de ser cabeça e não cauda; que busca a sua prosperidade em detrimento da miséria dos outros. 

A vida de muitos homens e mulheres de Deus ao longo da História foi ricamente abençoada porque viveram dominados pelo sentimento de dívida. Isso fez deles pessoas gratas, generosas, entregues, corajosas. Não esperavam que os outros viessem consolá-los; eles consolavam. Não viviam exigindo ou reivindicando direitos, mas carregavam um enorme senso de dívida; não viviam aguardando que alguém fosse procurá-los - eles é que procuravam. Eram bênção na vida dos outros e, consequentemente, eram abençoados.

Ser bênção para a vida dos outros é criar os meios para que a graça de Deus os envolva trazendo salvação, reconciliação, cura e libertação. É criar os meios para que o cansado encontre alívio, para que o doente ache consolo, para que o perdido seja achado. E usar os dons e talentos que Deus nos deu para criar novas esperanças e para alimentar a fé dos outros [1].

Terceira coisa: Davi foi abençoar a sua casa (2Sm 6.20a). A manifestação da glória de Deus precisa estar em nossa casa. Parafraseando uma palavra de Jesus que disse: “Que adianta o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua casa”. Há vários exemplos bíblicos de pais que enfrentaram problemas familiares sérios, isso não é para nos mostrar que ninguém está isento de problemas, mas acima de tudo, para nós vigiarmos e evitarmos seguir os mesmos exemplos negativos que eles cometeram. A Bíblia é um espelho e ela reflete a minha condição espiritual como também o da minha família, mas ela reflete para concertarmos o problema e não só para identifica-los. Há na Bíblia promessas de bênçãos sem medida para o nosso lar, leia o Salmo 128 e você verá isso. Mas para que eu possa ser canal de bênção para minha família é necessário eu ser uma pessoa abençoada, e de que forma eu sou abençoado, andando em conformidade com Deus e com a Sua Palavra. Não fazendo do Evangelho uma religião, nem uma filosofia de vida como muitos fazem, mas tendo o Senhor Jesus como SENHOR em minha vida. Entregando-lhe a direção da minha vida e deixando-o direcionar os meus passos assim como fez Rute a moabita: “Faça-me o SENHOR o que bem lhe aprouver” (Rt 1.17).

AS ADVERSIDADES EXISTEM

Agora entenda uma coisa, não é por andarmos de forma correta na presença de Deus que iremos agradar todo mundo. Quando Davi foi para sua casa para abençoá-la ele encontrou resistência e até mesmo rejeição pelo que havia feito. Mical, sua esposa, filha de Saul, não se agradou nem um pouco com a atitude de Davi:

“Voltando Davi para abençoar a sua casa, Mical, filha de Saul, saiu a encontrar-se com ele e lhe disse: Que bela figura fez o rei de Israel, descobrindo-se, hoje, aos olhos das servas de seus servos, como, sem pejo, se descobre um vadio qualquer!” (2Sm 6.20).

Mas Davi lhe respondeu sem pestanejar:

“Disse, porém, Davi a Mical: Perante o SENHOR, que me escolheu a mim antes do que a teu pai e a toda a sua casa, mandando-me que fosse chefe sobre o povo do SENHOR, sobre Israel, perante o SENHOR me tenho alegrado. Ainda mais desprezível me farei e me humilharei aos meus olhos; quanto às servas, de quem falaste, delas serei honrado” (2Sm 6.21,22). 

Que tenhamos essa mesma postura diante dos nossos opositores. Jesus já nos havia alertado que os nossos inimigos seriam os de nossa própria casa:

“Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa” (Mt 10.34-36).

A vida cristã é feita de escolhas, se escolhermos andar com Cristo seremos muitas vezes perseguidos, mas teremos a Sua companhia conosco todos os dias. Como disse Pedro em sua carta:

“Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando. Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus. Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome” (1Pe 4.12-16).

Que o Senhor nos ajude a sermos fiéis a Sua Palavra mesmo que venhamos sofrer perseguição. Que não venhamos ser encontrados desqualificados, mas aprovados pelo Senhor de nossas almas. Que o Senhor nos ajude a sermos suas fiéis testemunhas todos os dias.

Que Deus nos abençoe!

As marcas de uma Igreja verdadeira.

Por João Calvino

Daqui nos desponta, e nitidamente nos emerge aos olhos, a face da Igreja. Pois onde quer que vemos a Palavra de Deus ser sinceramente pregada e ouvida, onde vemos os sacramentos serem administrados segundo a instituição de Cristo, aí de modo algum há de contestar-se que está presente uma igreja de Deus, visto que sua promessa não pode enganar: ”Onde estiver dois ou três congregados em meu nome, aí estou no meio deles” [Mt 18.20]. Mas, para que apanhemos claramente a suma desta matéria, é preciso que avancemos com estes passos: a Igreja Universal é a multidão congregada de todas as nações, a qual, espalhada e dispersa pelos lugares mais remotos, entretanto consente na única verdade da doutrina divinal e é congregada pelo vínculo da mesma religião; sob esta Igreja Universal estão assim compreendidas as igrejas individuais, as quais, em razão da necessidade humana, estão dispostas por cidades e vilas, de sorte que, de direito, cada uma obtenha o nome e a autoridade da Igreja; os indivíduos que, pela profissão de piedade, são desse modo contados entre as igrejas, embora de fato sejam estranhos à Igreja, contudo a ela, de certo modo, pertencem, até que, pelo consenso público, tenham sido eliminados.

Todavia, um pouco diverso é o procedimento no julgar os indivíduos em particular e as igrejas. Ora, é possível que aconteça que, em virtude do consenso comum da Igreja, mercê do qual são introduzidos e tolerados no corpo de Cristo, no entanto devamos tratar como irmãos e tê-los na condição de fiéis quem absolutamente não pensaremos serem dignos do consórcio dos pios. A tais não aprovamos com nosso sufrágio como membros da Igreja, mas lhes deixamos o lugar que têm no povo de Deus, até que seu direito legítimo lhes seja tirado. Mas da própria multidão se sentirá de outra maneira: se ela tem o ministério da Palavra e se honra com a administração dos sacramentos, indubitavelmente longe de merecer ser tida e considerada como igreja, porque essas coisas certamente não são sem fruto. Assim também preservarmos à Igreja Universal sua unidade, a qual espíritos diabólicos têm sempre diligenciado por destruir; tampouco defraudamos as assembleias legítimas de sua autoridade, as quais foram distribuídas conforme a oportunidade dos lugares.

Igreja genuína é toda aquela que proclama a Palavra fielmente e ministra os sacramentos Dignamente. Abandoná-la constitui falta mui grave.

Já estabelecemos a pregação da Palavra e a observância dos sacramentos como sinais para distinguir-se a Igreja, porque estas não podem existir em parte alguma sem que frutifiquem e prosperem pela bênção de Deus. Não estou dizendo que onde quer que a Palavra é pregada aí apareça fruto de imediato; mas, em nenhum lugar é ela recebida e tem seu assento firmado que não ponha à mostra sua eficácia. Seja como for, onde se ouve reverentemente a pregação do evangelho, nem os sacramentos são negligenciados, aí, por todo esse tempo, a face da Igreja aparece não enganosa, nem ambiguamente, da qual a ninguém se permite impunemente a autoridade menosprezar, ou as advertências rejeitar, ou os conselhos resistir, ou das censuras zombar; muito menos a abandonar e cindir sua unidade. Pois o Senhor tem em tão elevada conta a comunhão de sua Igreja, que considera covarde e desertor da religião todo aquele que contumaz se aliena de qualquer comunidade cristã que, ao menos, cultive o verdadeiro ministério da Palavra e dos Sacramentos. Ele estima a tal ponto sua autoridade que, quando é violada, considera como que diminuída sua própria autoridade. Ora, nem é de pouca importância que a Igreja seja chamada “a coluna e fundamento da verdade” e “a casa de Deus” [1Tm 3.15], palavras estas por meio das quais Paulo dá a saber que, para que não pereça a verdade de Deus no mundo, a Igreja é sua fiel depositária; porquanto, por seu ministério e obra, Deus quis fosse conservada pura a pregação de sua Palavra; e, enquanto nos nutre com alimentos espirituais e procura fomentar tudo quanto nos enriqueça a salvação, ele se nos exibe como um pai de família.

Igualmente, não é louvor vulgar dizer que a Igreja é eleita e separada por Cristo para ser sua esposa, que “fosse sem ruga e sem mácula” [Ef 5.27], “seu corpo e sua plenitude” [Ef 1.23]. Do quê se segue que o abandono da Igreja é negação de Deus e de Cristo, razão por que mais se deve guardar de tão celerado dissídio, porque, enquanto nos esforçamos, quanto está em nós, por fomentar a ruína da verdade de Deus, somos dignos de que ele dardeje seus raios com todo o ímpeto de sua ira, a fim de fazer-nos em pedaços. Não se pode imaginar mais atroz qualquer crime do que o de violar com sacrílega perfídia o matrimônio que o Unigênito Filho de Deus se dignou contrair conosco.