sexta-feira, 20 de setembro de 2013

ESTARIA O SALVO LIVRE PARA PECAR?


Por Cláudia Castor

Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas; mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas. I Coríntios 6:12
Todas as coisas são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas são lícitas, mas nem todas as coisas edificam.I Coríntios 10:23

Ao lermos o que o apóstolo Paulo deixa registrado em sua carta ao povo de Corinto, pode nos surgir o pensamento: Estaria o homem livre para então decidir cometer ou não pecado? Tudo ou todas as coisas inclui aqui o que Deus abomina? Certamente esta primeira leitura e interpretação do texto aqui registrado seria ingênua, para não dizer distorcida da Palavra de Deus. Ao meditarmos em um texto da Bíblia, não podemos nos basear apenas nele para sua interpretação. C. H. Spurgeon disse que: “ se alguém ao ler parte da Bíblia, fora de seu contexto, e disser “Eureka”, certamente deixou o diamante para contentar-se apenas com um caco de vidro.” A Palavra de Deus tirada de seu contexto perde seu valor espiritual e passa apenas a cacos, muitas vezes usados para defender e propagar heresias ou erros cometido e dar-lhes ares de espiritualidade.

Comecemos nossa reflexão pela palavra “lícita”. A palavra lícita significa permitida, possível, tendo como seu antônimo impossível, aquilo que não me é permitido. Façamos uma divisão aqui entre o homem carnal e o espiritual. Nossa sociedade é regrada através de leis que nos permitem ou não determinados atos, quando ferimos atos que em nossa sociedade são proibidos, desacatamos a lei e sofremos as conseqüências por ela determinada. No mundo em que vivemos, embora estejamos aqui e ainda assim não pertencermos a este mundo, estamos ligados as suas condutas e moralmente convidados a praticar e tomar nossas decisões a partir do que será bom para toda a sociedade como um todo. Se essas condutas designadas pela sociedade que vivemos ferem a Palavra de Deus, cabe-nos como cidadãos do céu, optar pela conduta espiritual, mesmo que sofrendo consequências desagradáveis por tal opção. Melhor é servir a Deus do que aos homens (At 5.29). Então o que Paulo estaria falando aqui. Primeiro, sua missão sempre foi falar ao homem espiritual e certamente esta mensagem foi destinada a pessoas convertidas ao Senhor Jesus e que já entendiam o que é se tornar servo do Deus altíssimo. Quando tomamos uma decisão ao lado do Senhor Jesus já não nos é mais permitido pecar. Simplesmente Deus, através de Jesus, nos faz novas criaturas e tal opção não cabe mais em nossas vidas. Pecar sempre nos afastará de Deus e não consiste numa escolha, mas em obediência a Deus e a sua Palavra. O pecado nunca foi lícito ao homem e sua desobediência nos trouxe a queda. Adão não obteve a permissão de comer da árvore do bem e do mal. Sua desobediência e omissão acarretaram a queda de toda a humanidade e a ação e iniciativa de Deus foi em tornar a ter comunhão com o homem caído. O pecado nunca foi e nunca será lícito aos que querem viver piedosamente o evangelho, serem servos do Senhor Jesus e suas testemunhas fiéis aqui neste mundo.

A que então Paulo estaria se referindo a dizer que era permitido, mas não se deveria fazer? Para entendermos é necessário entendermos o propósito para que fomos chamados: “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Mas não useis de liberdade para dar ocasião à carne, antes pelo amor servi-vos uns aos outros.” ( Gl 5.13) Liberdade não consiste em dizer sim a tudo e todos, mas em ter o bom senso e o discernimento espiritual de decidir entre o melhor para Deus, para seu Reino, o que implicará no melhor para mim e toda a sociedade em que vivo. Aqui entendemos que Deus nos fez seres racionais e que devemos usar da razão nas decisões que tomamos: “Por isso, não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor.”( Ef 5.17). Entender a vontade de Deus através da ação do Espírito Santo em nossas vidas é fundamental para tomar decisões corretas em nossas vidas. Ao usar a razão devemos estar com nossa mente da forma que o próprio apóstolo deixou registrado: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai” ( Fil 4.8). Pois só tendo a mente de Cristo poderemos crescer e amadurecer de forma correta: “antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo...” (Ef 4.15.) Como posso como nova criatura em Cristo Jesus e tendo sua mente achar que o pecado me é lícito? Esta não é uma escolha dada aos que decidem pela obediência a Deus e a sua Palavra e se deixam serem transformados por seu Espírito. Deus não nos chamou para contradizer tudo o que foi pregado no Evangelho da Cruz: “Porque Deus não nos chamou para a imundícia, mas para a santificação” ( I Ts 4.7). Um Deus Santo requer santidade, somos justificados em Cristo Jesus e santificados pelo nosso Deus que é Santo e não existe nEle sombra de variação. Nos é lícito ser livre para dizer não, a verdadeira liberdade consiste em escolhas e escolhas corretas, Deus desumanizaria o homem se tirasse dele o direito de dizer não ao pecado e optar por Deus e a obediência a sua Palavra. O valor intrínseco do ser humano consiste no respeito de Deus as nossas escolhas mesmo que firam sua santidade, não tendo com isto co-responsabilidade nestas escolhas, apenas não poderia contradizer a natureza humana de ser sua imagem e semelhança e de seu valor intrínseco de escolha que o humaniza e simplesmente trocar por um valor instrumental, onde Deus decidiria de antemão o dizer não em nosso lugar e o sacrifício de Cristo estaria aniquilado.

Este texto deixado pelo apóstolo Paulo não exorta acerca do pecado, Deus não admite o pecado, abomina e odeia o pecado, mas ama o pecador e nos dão direito de optar pela obediência e atitude da confissão e do arrependimento como caminho de volta aos seus braços e não uma escolha se quero ou não fazer. Paulo aqui se endereçava ao povo de Corinto. Esta igreja que estava situada nesta cidade apresentava ainda vários problemas devido a sociedade em que estava inserida e foi por Paulo incansavelmente admoestada, conduzida a uma nova vida e testemunho cristão. Nesta passagem, devemos voltar ao tempo e entender que muitos costumes da sociedade daquele lugar não representavam pecado diante de Deus, mas não contribuíam para identificá-los como novas criaturas em Cristo. Paulo aqui, na verdade, faz um apelo à igreja de Corinto que tudo aquilo que possa associá-los a uma vida distante de Deus e impedir que outros vejam a glória de Deus em suas vidas seja retirado do meio deles, para que novas vidas possam ser ganhas pelo seu testemunho e pela diferença que deveriam fazer naquele local. As pessoas deveriam olhar e dizer: verdadeiramente este é um novo povo, lavado e remido pelo sangue do Cordeiro, fazem diferença não só no mundo espiritual, mas entre os que têm vivido apartados de Deus. Como nos deixa o grande legado de John Stott: ““Testemunho não é sinônimo de autobiografia. Quando estamos realmente testemunhando, não falamos de nós mesmos, mas de Cristo.” Fica aqui a reflexão. Como temos tomados nossas decisões para que os que estão a nossa volta possam ver Cristo e tudo que Ele faz na vida daqueles que o servem? Muitas vezes optamos pela omissão, pelo calar, saiba que a falta de decisão já é a sua escolha e como diz um dito popular: quem cala consente. Fomos chamados como arautos do Rei, aquele que vai à frente gritando, anunciando a chegada do Rei, assim deve ser nossa vida em tudo e com todos, gritar, proclamar a chegada do Rei dos reis e a sua salvação, seja em nossas palavras, atitudes, gestos, escolhas e decisões, Cristo deverá estar sempre em primeiro lugar, sendo anunciado a todos os povos e nações. Deus nos abençoe e nos dê discernimento de agir e decidir segundo o Espírito Santo de Deus. A Deus toda honra, toda glória pelo século dos séculos, amém.

Salvo de quê?

Por R.C. Sproul
Certa vez, fui confrontando por um jovem na Filadélfia que me perguntou: “Você está salvo?” Minha resposta para ele foi: “Salvo de quê?”. Ele foi pego de surpresa com a minha pergunta. Obviamente, ele não tinha pensado muito sobre o significado da questão que estava perguntando. Certamente eu não estava salvo de ser interrompido na rua e abordado com a pergunta “Você está salvo?”.

A questão de ser salvo é a questão suprema da Bíblia. O assunto das Sagradas Escrituras é o tema da salvação. Jesus, em sua concepção no ventre de Maria, é anunciado como o Salvador. Salvador e salvação caminham juntos. O papel do Salvador é salvar.

Perguntamos novamente: Salvo de quê? O significado bíblico de salvação é amplo e variado. Na forma mais simples, o verbo salvar significa “resgatar de uma situação perigosa ou ameaçadora”. Quando Israel escapa da derrota nas mãos de seus inimigos no campo de batalha, ele se diz salvo. Quando as pessoas se recuperam de uma doença com risco de vida, elas experimentam salvação. Quando a colheita é resgatada de praga ou seca, o resultado é a salvação.

Usamos a palavra salvação de uma maneira similar. Diz-se que um boxeador foi  ”salvo pelo gongo” se o round termina antes do árbitro iniciar a contagem. Salvação significa ser resgatado de alguma calamidade. No entanto, a Bíblia usa o termo salvação em um sentido específico para se referir à nossa redenção definitiva do pecado e à reconciliação com Deus. Neste sentido, a salvação é da calamidade final – o juízo de Deus. A salvação final é realizada por Cristo, “que nos livra da ira vindoura” (1Ts 1.10).

A Bíblia anuncia claramente que haverá um dia de julgamento, em que todos os seres humanos serão responsabilizados diante do tribunal de Deus. Para muitos, esse “dia do Senhor” será um dia de trevas, sem luz. Esse será o dia em que Deus vai derramar sua ira contra os ímpios e impenitentes. Será o holocausto final, a hora mais escura, a pior calamidade da história humana.  Ser liberto da ira de Deus, que muito certamente virá sobre o mundo, é a salvação definitiva. Esta é a operação de resgate que Cristo executa para o seu povo, como seu salvador.

A Bíblia usa o termo salvação não só em muitos sentidos, mas em muitos tempos. O verbo salvar aparece em praticamente todos os possíveis tempos da língua grega. Há o sentido de que fomos salvos (desde a fundação do mundo); estávamos sendo salvos (pela obra de Deus na história); somos salvos (por estar em um estado justificado); estamos sendo salvos (por estarmos sendo santificados ou tornado santos) e seremos salvos (por experimentar a consumação da nossa redenção no céu). A Bíblia fala da salvação em termos de passado, presente e futuro.

Às vezes, nós igualamos a nossa salvação presente com a nossa justificação. Em outros momentos, vemos a justificação como um passo específico na ordem total ou plano de salvação.

Por fim, é importante notar outro aspecto central do conceito bíblico de salvação. A salvação é do Senhor. Salvação não é uma iniciativa humana. Os seres humanos não podem se salvar. A salvação é uma obra divina, que é realizada e aplicada por Deus.  Somos salvos pelo Senhor e do Senhor. É o ele quem nos salva da sua própria ira.

"Conheço as tuas obras... que tens pouca força, entretanto, guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome" - Carta à Filadélfia


Por Pr. Silas Figueira

“Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve: Estas coisas diz o santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, que abre, e ninguém fechará, e que fecha, e ninguém abrirá”. Ap 3.7
“Ao anjo da igreja...”

Entre as sete cartas às igrejas no Apocalipse, encontramos duas que não contêm nenhuma crítica: A carta à igreja em Esmirna, uma congregação pobre que enfrentava perseguição, e a carta à igreja em Filadélfia, uma congregação fraca e limitada, mas que dependia de Deus. Os homens tendem a medir força e qualidade em termos de tamanho, poder e riqueza. Jesus vê as igrejas de forma diferente. Independente de sucesso em termos mundanos, Jesus olha para o caráter e o coração de cada discípulo e de cada igreja. Ele anda no meio dos candeeiros e sabe muito bem quem pertence a ele.

Evidentemente, tinha havido uma recente perseguição em Filadélfia, mas os cristãos (apesar da forte pressão) mantiveram sua fé. Como em Pérgamo, onde Antipas foi cruelmente martirizado, também em Filadélfia os cristãos tinham corajosamente permanecido firmes. Eles estavam pacientemente suportando tribulação e humilhação por amor a Cristo [1].

“... Filadélfia...”

 Esta era a mais jovem das sete igrejas da Ásia. Esta cidade foi fundada por colonos que vieram de Pérgamo sob o reinado d e Átalo II nos anos de 159 a 138 a. C. Átalo amava tanto ao seu irmão Eumenes que o apelidou de Philadelphos, que quer dizer aquele que ama a seu irmão, ou amor fraternal. Daí o nome da cidade. A cidade de Filadélfia gozava de uma localização estratégica de acesso entre os países antigos de Frígia, Lídia e Mísia. A região produzia uvas, e o povo especialmente honrava a Dionísio, o deus grego do vinho. A cidade servia como base para a divulgação do helenismo às regiões de Lídia e Frígia. Localizava-se num vale no caminho entre Pérgamo e Laodicéia. A cidade fora castigada por vários terremotos e as pessoas viviam assustadas pela instabilidade. Existiam muitos terremotos e grandes tremores de terá na cidade de Filadélfia. Muitos viviam em tendas fora da cidade. Paredes rachadas e desabamentos eram coisas comuns na cidade. Era uma região perigosamente vulcânica. O terremoto do ano 17 d.C., que destruiu Sardes, também atingiu Filadélfia e reconstruída pelo imperador Tibério. Mas para a igreja assustada com os abalos sísmicos da cidade, Jesus diz: “Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá...” (3.12) [2].

Em alguns momentos de sua história, a cidade recebeu nomes mostrando uma relação especial ao governo romano. Por volta do ano 90 d.C., com ajuda imperial, a cidade de Filadélfia tinha sido completamente reconstruída. Em gratidão, passaram o nome da cidade para Neocesaréia – a nova cidade de César. Durante o reinado de Vespasiano, foi também chamada de Flávia (nome da mulher dele, e a forma feminina de um dos nomes dele). Jesus então, aproveitando essa situação cultural diz para a igreja que os vencedores teriam um novo nome (3.12). Não o nome de César, mas o nome de Deus. Atualmente, a cidade de Alasehir fica no mesmo lugar, construída sobre as ruínas de Filadélfia [3].

“... Estas coisas diz o santo...”

Jesus revela-se como aquele que é santo. Como cabeça da Igreja, é santo em seu caráter, palavras, ações e propósitos. Ele é completamente santo [4]. Aqui no Apocalipse  santo é um título de Deus (4.8; 6.10), mas Jesus é também chamado assim diversas vezes (Mc 1.24; Lc 4.34; Jo 6.69; 1Jo 2.20), mostrando que Ele tinha uma vida sem pecado e totalmente dedicada a Deus.  

“... o verdadeiro...”

A palavra verdadeiro ou genuíno tem dois significados diferentes. No contexto grego a palavra significa o que é real, que corresponde à realidade. Mas no contexto hebraico ela significa o que é fiel e confiável. No Antigo Testamento Deus é o que mantém para sempre a sua fidelidade (Sl 146.6), isto é, podemos confiar que ele sempre cumprirá as suas promessas. Quando o Antigo Testamento fala do Deus verdadeiro isto acontece sempre no sentido de que ele é fiel (Êx 34.6) à sua promessa do pacto. No contexto de Filadélfia o verdadeiro lembra o pacto que Deus fez com Israel nos tempos do Antigo Testamento e que ele agora cumpriu fielmente na Igreja, em Jesus Cristo [5].

Hernandes Dias Lopes falando de Jesus dentro desse contexto diz que Ele não é uma cópia de Deus, é o Deus verdadeiro. Havia centenas de divindades naqueles dias, mas somente Jesus podia reivindicar o título de verdadeiro Deus [6].

 “... aquele que tem a chave de Davi, que abre, e ninguém fechará, e que fecha, e ninguém abrirá”.

A chave de Davi podemos entender somente olhando para o Antigo Testamento. Em Isaías 22.22 diz: “Porei sobre o seu ombro a chave da casa de Davi; ele abrirá, e ninguém fechará, fechará, e ninguém abrirá”. Eliaquim recebeu a chave como novo administrador das coisas do rei e, já que assim ele era representante do rei, ele estava autorizado a exercer autoridade plena em nome do rei. A Chave de Davi é a chave da casa de Davi – o Reino messiânico [7]. A chave do Reino de Deus pertencia a Israel, mas agora na verdade pertence a Jesus, o Messias davídico (Ap 5.5). Por isso que somente Cristo pode abrir a porta do Reino messiânico aos homens, Israel perdeu esse privilégio.

Vemos aqui como Jesus tirou essa autoridade dos judeus e deu a Igreja. O Senhor condena o legalismo dos judeus: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque fechais o reino dos céus diante dos homens; pois vós não entrais, nem deixais entrar os que estão entrando!” Mt 23.13) e transfere a autoridade de porteiro à Igreja: “Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus.” Mt 16.19). Dessa forma Pedro e os outros cristãos têm de dar as boas vindas não somente aos judeus, mas aos samaritanos e aos gentios como membros permanentes do Reino (At 2, 8, 10). Assim, todo conceito expresso nas palavras: chave, porta, templo e coluna torna-se cristão, e é a base para a transferência acima mencionada. Os judeus precisarão aprender que “eu te amei” [8]

“Conheço as tuas obras – eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar – que tens pouca força, entretanto, guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome”. (Ap 3.8)

“Conheço as tuas obras...”

Essa é uma declaração comum em todas as cartas, no entanto aqui não há maiores detalhes destas boas obras. A igreja de Filadélfia era tão rica em boas obras que ela agradava ao Senhor. Mesmo tendo pouco poder, pouca influência e sendo pequena, ela só mereceu elogios e nenhuma crítica [9].

“... eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta...”

 A igreja era pequena em tamanho e em força, mas grande em poder e fidelidade. Deus na verdade escolhe as coisas fracas para envergonhar as fortes. Sardes tinha nome e fama, mas não vida. Filadélfia não tinha fama, mas tinha vida e poder. A igreja tinha pouca força, mas Jesus colocou diante dela uma porta aberta, que ninguém pode fechar. A igreja é fraca, mas seu Deus é Onipotente. A nossa força não vem de fora nem de dentro, mas do alto [10].

Porta aberta, no conceito do Novo testamento, quer dizer uma oportunidade para o ministério e pregação do evangelho. Alguns exemplos são muito claros (At 14.26,27; Cl 4.3,4). A primeira porta é a porta da salvação. Jesus disse em João 10.9 que Ele é a porta da salvação, da liberdade e da provisão. A segunda porta é a porta da evangelização. As angústias da cidade são como que o grito de socorro de homens carentes do evangelho. Jesus fala de uma porta de oportunidade para se pregar o evangelho [11]. Por causa da sua localização geográfica, pois ela situava-se junto às fronteiras de Mísia, Lídia e Frígia, a igreja de Filadélfia estava tendo a oportunidade de propagar as boas novas da graça do Reino de Deus de forma ampla. Assim como ela expandiu a cultura grega, agora ela estava tendo a oportunidade de expandir o evangelho de Cristo.
             
“... a qual ninguém pode fechar...”

A porta foi divinamente aberta, e só o Senhor poderá fechá-la. Aqui ele fala especificamente da natureza das oportunidades dadas aos discípulos em Filadélfia, mas garante que as portas ficariam abertas. Hoje, quando Deus abre portas de oportunidade para nós, devemos aproveitá-las (Tiago 4:17) [12]. Os judeus de Filadélfia eram agressivos em sua hostilidade em relação à igreja, e diziam que somente eles – Israel – tinham acesso à porta do Reino de Deus. Cristo assegura à igreja que os judeus não terão sucesso em seu propósito de fechar a porta do Reino de Deus para a igreja [13].

“... que tens pouca força...”

“Sei que tens pouca força” é a melhor tradução segundo George Ladd [14]. Não é o tamanho nem a força da igreja que determinam seu ministério, mas sua fé e obediência aos mandamentos do Senhor. Ou, ainda, não é o tamanho nem a força da igreja que determina seu ministério, mas o seu ministério é determinado pela fé e obediência para com o Senhor. Se Jesus abriu as portas, então Ele veria a disponibilidade da comunidade em andar e passar por ela. Talvez a congregação fosse pequena, ou talvez fosse composta predominantemente das classes mais baixas da sociedade romana, o que fazia que ela tivesse pouca influência sobre a cidade [15].

Jorge Henrique Barro faz uma comparação entre a igreja de Filadélfia e as igrejas no Brasil em relação ao tamanho das congregações. Ele diz que nem é preciso fazer muitas pesquisas para chegar a conclusão que a maioria das igrejas brasileiras não passa de duzentos membros. Mas não podemos nos esquecer, diz ele, de que são igrejas com menos de duzentos membros que estão desenvolvendo a maioria dos ministérios no Brasil atual. O poder de uma igreja não está no tamanho nem na força-influência que ela possui, pois seu poder está proporcionalmente ligado à sua fidelidade à Palavra e à sua fidelidade ao nome de Cristo [16].

“... entretanto, guardaste a minha palavra...”

Os crentes da igreja de Filadélfia achavam-se fielmente submissos à Palavra de Deus. Pregavam-na, ensinavam-na, obedeciam-na, viviam-na e a compartilhavam. Não se afastaram da Palavra. Qualquer coisa que fizessem, era dirigida pela Palavra de Deus.

“... e não negaste o meu nome”.

Esta igreja não se envergonhava do Evangelho. Muitos em Filadélfia, especialmente os judeus incrédulos, forçavam os crentes a negligenciar os ensinamentos de Cristo e a negar a fé [17]. Obediência e compromisso são os destaques da igreja de Filadélfia. Obediência à Palavra de Jesus e compromisso que assume as consequências de honrar o seu nome. Duas características que valem ouro; duas características que todo pastor sério anseia e busca em sua comunidade. Trata-se da centralidade da palavra e da centralidade de Cristo na comunidade (Jo 14.15) [18].