sábado, 21 de setembro de 2013

A Soberania Absoluta de Deus



Nos céus, estabeleceu o SENHOR o Seu trono, e o Seu reino domina sobre tudo. - Salmos 103:19

Por Jason A. Van Bemmel

Você se lembra de quando descobriu que seu pai não era todo-poderoso? Quando era menino, eu realmente achava que meu pai podia fazer qualquer coisa. Meu pai é bastante habilidoso e grande (mais de 1,98 m), e para um garoto de 6 anos, ele se parecia com o Super Homem. No entanto, como todos vocês, eu tive que enfrentar a dura e lenta constatação de que meu pai não era, de fato, onipotente, até que, quando adolescente, passei a imaginar se o meu pai podia realmente fazer alguma coisa certa.

Algumas pessoas (mesmo aquelas que se intitulam "cristãs") acham que as nossas típicas experiências da infância com nossos pais terrenos é um modelo para aquilo que deve acontecer em relação a nossa visão de Deus ao longo do tempo, à medida que amadurecemos em nossa fé. As crises e os conflitos vêm, razão pela qual devemos ver que um mundo cheio de maldade é incompatível com um Deus todo-poderoso e completamente bom. Uma vez que todos nós acreditamos que Deus é bom, devemos então abandonar a idéia de que Deus é todo-poderoso em favor de um Deus que se parece muito mais como nossos pais limitados e falíveis.


A Bíblia não nos dá qualquer espaço para uma visão tão pálida de Deus. EmEscritura após Escritura, Deus brilha com esplendor como o grande e glorioso Rei do Universo. "Porque para Deus não haverá impossíveis", a Bíblia proclama corajosamente e repetidas vezes (ver Lucas 1:37 e Marcos 10:27). "Eis que a mão do SENHOR não está encolhida, para que não possa salvar”, Deus relembra o seu povo duvidoso em Isaías 59. "Ninguém há como o SENHOR, nosso Deus”, nos é dito repetidas vezes e nos é dito exatamente o que isso significa: Ninguém é como Deus em majestade, em santidade, na soberania e na fidelidade dos pactos (mantendo suas promessas absolutamente).


Dois encontros com Soberania

Uma forma de analisar a soberania absoluta de Deus é através dos olhos de duas pessoas que estiveram cara a cara com Ele de maneiras diferentes: Jó e Nabucodonosor. Jó era um homem de Deus justo, que viu a soberania de Deus em ação nos seus momentos de provações. Nabucodonosor foi um imperador orgulhoso que aprendeu a lição da soberania de Deus da maneira mais difícil, por ser destituído de seu poder e de sua sanidade por Deus.

Imagine ser tão fiel a Deus a ponto de Deus perceber e começar a se gabar de você. Deus estava tão orgulhoso da justiça de Jó que Ele se gabou de Jó com Satanás. Em resposta à aprovação de Deus sobre Jó, Satanás fez um trato com Deus e conseguiu permissão para testá-lo severamente. Contudo, não perca o ponto aqui: Satanás teve que obter autorização de Deus antes que pudesse tocar em Jó. Deus está no controle, inclusive das atividades de Satanás contra o Seu povo.

No ponto mais profundo de seu desespero, Jó desejou nunca ter nascido e questionou as razões de Deus por enviar tais provações à sua vida. Embora Jó nunca tenha pecado contra Deus em acusá-Lo de injustiça, ele quis saber dos motivos que Deus teria para prová-lo de forma tão severa (de uma forma que pareceu a Jó como uma severa punição). Jó não entendia porque seus filhos morreram, porque perdeu toda a sua riqueza ou porque seu corpo estava coberto de chagas. Ele não tinha respostas, e seus amigos foram de pouca ajuda, mas ele sabia que a mão de Deus devia estar por trás daquelas suas horas escuras. E ele estava certo.

Sobre as perguntas de Jó, Deus proferiu suas próprias perguntas. Em uma furiosa tempestade, a voz de Deus surge para desafiar Jó e para relembrá-lo de quem é quem no universo. “Onde estavas tu", Deus começou, "quando eu lançava os fundamentos da terra?" Em outras palavras: "Quem exatamente você pensa que é para questionar Deus?”.

No final das contas, a resposta de Jó a Deus foi simples, profunda e a única verdade que todos nós precisamos saber, em última análise: "Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado. Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza.” (Jó 42: 2, 5-6). Jó tinha aprendido que Deus era Deus, e isso foi o bastante para ele.

Ao contrário de Jó, Nabucodonosor não era um servo de Deus, justo e humilde. Na verdade, ele era um governante arrogante que construiu um ídolo de 27 metros para si mesmo e ordenou que todos se curvassem e o adorassem. No entanto, este pecador perverso precisava, tanto quanto o justo servo de Deus, saber a verdade sobre quem realmente estava no trono e era digno de adoração. Então Deus deu ao Rei Nebby (Nabucodonosor) um sonho.

No sonho, tal como interpretado por Daniel, Nabucodonosor soube que ele estaria, em breve, despojado de toda a sua dignidade e sanidade, e iria viver como um animal selvagem no deserto. Por quê? Nabucodonosor, havia se tornado orgulhoso e achava que sozinho era responsável pelo grande reino que havia construído. Ao olhar para fora sobre a gloriosa Babilônia, ele proclamou: "Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com o meu grandioso poder e para a glória da minha majestade? (Dn 4:30).

Depois que Deus humilhou Nabucodonosor, seu coração foi mudado e ele reconheceu que somente Deus é soberano sobre as questões das nações. Nabucodonosor proclamou:

“Pois seu domínio é sempiterno, e cujo reino é de geração em geração. Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” - Daniel 4:34-35


Através da vida e exemplo de Jó, aprendemos que Deus é soberano sobre o nosso sofrimento. Todo sofrimento vem da mão de Deus e serve aos seus propósitos últimos, embora o sofrimento possa vir através de uma variedade de causas secundárias (doença, desastres naturais, opressão demoníaca, pecado, etc.). Através da vida e exemplo de Nabucodonosor, aprendemos que Deus também é soberano sobre as nações e os governantes do mundo. Ele levanta reis e presidentes e os usa para a Sua vontade, muitas vezes para abençoar uma nação e, muitas vezes para trazer juízo e destruição. Mais uma vez Deus usa as causas secundárias (eleições, revoluções, etc.), mas a mão por trás de tudo isso é a Sua, e a Sua somente.


Heresias em nome do amor



Por Mauricio Zagari
Deus é amor. Isso é um fato básico e inquestionável da fé cristã. Não é preciso ser um grande teólogo para apreender essa verdade; de fato, nem mesmo é preciso ser cristão para ter conhecimento disso. Mas existe algo sobre essa afirmação que merece uma reflexão: o que isso significa? Quais as implicações do fato de Deus ser amor? De que modo isso afeta a teologia em que acreditamos – e, por conseguinte, nossa vida prática? Pode parecer algo tão óbvio que nem mereça discussão, mas fato é que a má interpretação do conceito da essência amorosa de Deus é justamente a gênese de muitos e grandes problemas e até de heresias que têm surgido no seio da Igreja nesse início de século XXI.
Vamos pensar um pouco sobre isso então. A essência de Deus é o amor. Agora: nós, humanos, só conseguiremos compreender plenamente o que isso significa se formos capazes de encaixar esse conceito divino essencial no que cada um de nós percebe como sendo amor. Uma analogia, para ficar mais claro: imagine que numa ilha distante só existam pássaros brancos. Automaticamente, todos seus habitantes associam o conceito de “pássaro” à cor branca. Um dia você atraca nessa ilha, encontra um nativo e tenta explicar para ele o que é, digamos, um urubu. Se disser a ele apenas que “o urubu é um pássaro”, automaticamente ele vai visualizar o urubu como uma ave branca. Afinal, é o único conceito de “pássaro” que ele conhece. Do mesmo modo, se na concepção de uma pessoa o conceito de “amor” é X, se você lhe disser que “Deus é amor”, automaticamente esse indivíduo compreende como “Deus é X”. Mesmo que a essência de Deus seja, por exemplo, Y. É uma mera questão de formar um signo por significados e significantes adequados e compreendidos por todos.
Diante disso, a pergunta que devemos nos fazer é: o que a civilização brasileira do século XXI entende como sendo “amor”? Pois é ao detectarmos qual é o sentido que esse conceito tem no inconsciente coletivo do brasileiro de nossos dias que conseguiremos visualizar como essa mesma civilização compreende o fato de Deus ser amor. E é exatamente aqui que começa o problema, uma vez que o conceito primário de “amor” para você e para mim é totalmente alheio à Bíblia. Trata-se do amor dos contos de fadas.
Geração após geração, século após século, década após década, nós ensinamos para nossas crianças que “amor” é aquilo que ocorre entre um príncipe e uma princesa nas fábulas e histórias de ninar. Ou seja, um grande e utópico sentimento destituído de implicações práticas, exigências ou contrapartidas. As inocentes histórias que crescemos ouvindo de nossos pais, professores, desenhos animados e outras fontes de formação de conceitos condicionam pavlovianamente gerações inteiras a abraçar uma ideia de amor que, antes de qualquer coisa, é um sentimento meloso, paternalista e ultraprotetor.
Repare: a princesa vê o príncipe e, apenas por olhar para aquela figura divina passa a amá-lo eternamente (e vice-versa). Não o conhece. Mal ou nunca conversou com ele. Às vezes a donzela está até mesmo dormindo e só toma conhecimento do “amado” após o beijo que arranca suspiros de todos. Isso na vida real seria tão esdrúxulo que se a sua filha decidisse se casar com um homem que mal conhecesse, no mínimo você teria uma séria conversa com ela. Mas nos contos de fadas… ah, o amor é lindo! E toda um geração cresce acreditando que amor é aquilo. Assim, somos condicionados desde os primeiros anos de nossas vidas a associar amor a uma sensação da qual nasce um relacionamento que não exige nada, que não tem contrapartidas – pois, afinal, o príncipe ama a princesa in-con-di-cio-nal-men-te, sem precisar renunciar a nada, sem uma gota se sacrifício. E mais: é o amor do príncipe que faz com que ele pegue a princesa nos braços e a carregue sem permitir que ela sue ou se canse. Que põe a capa sobre a poça de lama para que ela não suje o sapatinho de cristal. Que faz de tudo para que ela não tenha um incômodo sequer. É um amor de gente bastante mimada, convenhamos.
E, claro, esse amor dos contos da carochinha é complacente. A princesa nunca exige nada do príncipe. O príncipe não fica chateado com nada que a princesa faça. Eles apenas cantam e dançam, cavalgando sorridentes corcéis de crinas bem escovadas por prados verdejantes, cercados de cervos saltitantes e meigos coelhinhos de olhos grandes. É um amor de pura doação, poético, que não senta para cobrar atitudes. Que não demanda nenhuma renúncia. Basta entrar no castelo e a única exigência que se faz é que se seja feliz para sempre.
Esse conceito de amor de contos de fadas está tão introjetado no inconsciente coletivo que basta examinar as comédias românticas de Hollywood ou os grandes romances do cinema (que não passam de contos de fadas para crianças crescidas) e ver que o conceito se repete. Mais ainda: o modelo de sucesso das telenovelas da Globo justamente faz tanto sucesso porque segue a ideia introjetada no mais profundo de nossa mente desde nossa infância do amor-sentimento-nada-exigente: desde que haja aquele “sentir” arrebatador vale trocar o marido pelo amante, transar antes do casamento ou o que for e todos aplaudem. Sem exigir nada em troca, sem renunciar, sem se sacrificar pelo outro: basta suspirar, dar um grande beijo na boca e… ai ai…
Dor torna-se, então, por essa perspectiva, um conceito alienígena ao amor dos contos de fadas. Sofrimento quem impõe é a bruxa má, o príncipe jamais permitiria que sua princesa furasse um dedinho numa agulha de roca. Tristeza? INCONCEBÍVEL! Repare: o amor do conto de fadas é aquele em que (e isto é um ponto fundamental!) o ser amado vive feliz para sempre.
Pois é esse conceito de “amor” que ensinam a todos nós desde a nossa primeira infância, pela leitura de continhos de fadas, depois pelos desenhos animados, por fim pelos filminhos sentimentaloides. Somos condicionados, adestrados, ensinados, acostumados a que isso sim é amor.
O amor de contos de fadas aplicado a Deus
E de que modo esse conceito de amor de contos de fadas se aplica a Deus? Simples: quando então falamos que “Deus é amor”, automaticamente associamos o amor divino a esse tipo de amor fictício. Logo, enxergamos o amor de Deus como algo sentimental. Meloso. Poético. Que jamais poderia exigir do ser amado renúncias. Que torna inconcebível a ideia de sacrifício. Que exclui veementemente o amador permitir o sofrimento do amado. O Deus que é amor se torna, assim, um ser que não pode de jeito nenhum exigir algo de quem Ele ama, porque, na nossa cabeça, isso o tornaria alguém destituído de amor. Na nossa concepção de amor, formatada por anos de condicionamento à base de contos de fadas, telenovelas e filminhos água com açúcar, um Deus de amor jamais poderia exigir contrapartidas, jamais poderia estabelecer bases, sua aliança com o ser amado seria complacente, de autoanulação, uma eterna devoção dEle a nós. Uma eterna lua-de-mel.
E mais: por essa perspectiva, o amor de Deus tornaria inconcebível que o ser amado por Ele sofresse, sentisse dor, passasse maus bocados. O ser amado por Deus, na nossa mente pré-programada por contos de fadas, tem obrigatoriamente que fazer com que sejamos…felizes para sempre. O príncipe celestial jamais permitiria que a sua princesa-noiva-do-Cordeiro sofresse, pois senão ele não seria o príncipe, seria a bruxa. Então, a ideia de alguém que ama e permite o sofrimento do amado é um contrassenso, não conseguimos admitir, não aceitamos. E começamos a encaixar a nossa revolta em conceitos bíblicos: um Deus que ama mas permite o sofrimento não tem… graça.
É aí que começam a surgir os problemas – um nome elegante para heresias. Para o indivíduo condicionado ao conceito do amor de conto de fadas, um Deus que ama não permitiria que milhares morressem num tsunami, pois aí ele não seria o príncipe, seria a bruxa. Um Deus que ama não permitiria que centenas morressem num deslizamento de terra na região serrana do Rio, pois aí ele não seria o príncipe, seria a bruxa. Um Deus que ama não permitiria que milhões fossem para o inferno, pois aí ele não seria o príncipe, seria a bruxa. Um Deus que ama não imporia um código de ética, pois aí ele não seria o príncipe, seria a bruxa – e uma bruxa legalista. Um Deus que ama não exigiria o cumprimento aos seus mandamentos dolorosos, pois aí ele não seria o príncipe da graça, seria a bruxa do legalismo. Um Deus que ama não teria verdades absolutas, pois aí ele não seria o príncipe, seria uma bruxa que transforma conceitos como “dogma” e “doutrina” em palavrões abomináveis. E esse conceito humano, infantil e fictício de amor começa a tomar ares de teologias.
E nós adoramos isso! Adoramos que Deus não mande muitos para o inferno, senão o amor não venceria no final e não viveríamos felizes para sempre. Adoramos que Deus não esteja no controle das tragédias, senão o amor não venceria no final e não viveríamos felizes para sempre. Adoramos que Deus não exija de nós que nos sacrifiquemos para cumprir seus mandamentos, senão o amor não venceria no final e não viveríamos felizes para sempre. Adoramos que Deus nos proponha uma graça frouxa e destituída de renúncias daquilo que nos é conveniente e agradável por obediência e submissão a Ele, senão o amor não venceria no final e não viveríamos felizes para sempre. Confeccionamos teologias que fazem do Deus da Bíblia um deus de contos de fadas. Ou seja: um Deus que viva o amor como Cinderela, Branca de Neve ou Rapunzel viveram. Mas não é isso que a Bíblia diz.
O conceito bíblico do amor
A Bíblia Sagrada nos revela muitos aspectos da pessoa de Deus que os contos de fadas jamais associam aos seus personagens apaixonados. O mesmo Jesus que é a suprema prova do amor dvino (Jo 3.16; Fp 2.7-9) é o Deus encarnado que afirma: “Mas eu lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento. Também, qualquer que disser a seu irmão: ‘Racá’ será levado ao tribunal. E qualquer que disser: ‘Louco!’, corre o risco de ir para o fogo do inferno” (Mt 5.22). Ou ainda, que devemos ter medo “daquele que pode destruir tanto a alma como o corpo no inferno” (Mt 10.28), ou seja, Deus. Não dá para imaginar isso sendo falado sobre o príncipe da Branca de Neve, não é? Logo, por associação, na cabeça da civilização adestrada pela ficção pueril não dá para imaginar isso sendo falado sobre o Deus da Bíblia.
Assim, as pessoas, confusas com esse suposto paradoxo, começam a buscar explicações. De repente, o Deus que permitiu que Jó passasse por mais de 40 capítulos de sofrimento, dor, decepção, lágrimas e angústia é apenas fruto de uma fábula. Jó agora deixou de existir. virou uma metáfora. Aquele fato nunca aconteceu. Pois o Deus que ama como nos contos de fadas jamais deixaria que seu querido passasse por aquele sofrimento. Agora o Deus da Bíblia não controla mais forças da natureza e outras calamidades, pois um Deus que ama como nos contos de fadas e nos filmes de Julia Roberts e Sandra Bullock jamais estaria de acordo com genocídios, tsunamis, terremotos, Hitlers, Pol Pots e similares. Não, isso não condiz com o caráter de um Deus que quer que sejamos felizes para sempre.
Então, dizemos que o Deus que controla as forças da natureza é uma referência às deidades greco-romanas-pagãs que as controlavam. Esquecemos que Jesus acalmou o vento e a fúria dos mares com uma ordem, esquecemos que o Senhor conteve as águas do Mar Vermelho e do rio Jordão, consideramos inconcebível que esse Deus tenha provocado o dilúvio de Noé, que dizimou milhares. Ah, claro – dizem os teólogos adeptos do deus de contos de fadas – essas histórias são metáforas, são fábulas. Embarcamos no liberalismo teológico, numa teologia de relacionamento ou de universalismo que põem para fora do ser de Deus a pontapés os seus propósitos insondáveis, os seus planos elevados, a sua realidade infinitamente superior. Forjamos um deus que não compactuaria com dores e sofrimentos, quando Isaías 53 nos afirma que Jesus foi “ferido”, “moído”, “oprimido” e “afligido” – e isso desde antes da fundação do mundo.
Dizem esses teólogos poéticos que Deus jamais determinará o sofrimento das pobres vítimas da tragédia no Japão. Mas a Bíblia diz sobre o próprio Filho Unigênito do Deus que é amor que “ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar” (Is 53.10). Sobra a leitura de 1 Coríntios 13 mas falta a leitura de Romanos 9, por exemplo, onde o Deus que é amor afirma: “Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão” (Rm 9.15). E aos que não concebem um Deus que não aja segundo as vontades humanas ou a teologia dos contos da carochinha, o apóstolo Paulo dá o ultimato cinco versículos à frente: “Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus?” (Rm 9.20). E logo depois: “E se Deus, querendo mostrar a sua ira e tornar conhecido o seu poder, suportou com grande paciência os vasos de sua ira, preparados para a destruição?”. Olha só: o Deus que é amor se ira! Uma ira, aliás, explicitada em numerosas passagens, como Nm 22.22; Dt 4.25; Dt 6.15; Dt 7.4; Jo 3.36; Rm 1.18; Rm 2.5; Rm 3.5; Rm 5.9; Rm 9.22; Ef 5.6; Cl 3.6; Hb 3.17; Hb 4.3; Ap 14.10; Ap 14.19; Ap 15.1; Ap 15.7, entre outras.
Sim, o amor de Deus convive com sua ira. E o não-cumprimento de sua vontade exige o cumprimento da justiça divina. Pois a Bíblia escancara de Gênesis a Apocalipse o fato incontestável de que Deus tem um código de certo/errado. Ou seja: por definição, tem um padrão moral. Um padrão ético. E exige de nós que o cumpramos, mesmo que precisemos renunciar a nossas vontades, ao que nos é conveniente, ao que fazemos em nome de uma graça barata. “Quem tem os meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama”, diz Jesus em Jo 14.21. O mesmo Jesus de amor que em Jo 14.15 vaticina: “Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos”. Sim, o amor de Deus está condicionado à obediência a seus mandamentos (ou: normas, dogmas, decretos ou o nome impopular que se queira dar a aquilo que o Senhor determina que façamos em cumprimento a Sua vontade). E como Jesus é o Deus da graça, fica claro que sua graça e seu amor trafegam em conjunto com a obediência a seus mandamentos. O que, na cabeça de muitos, faria dele um Deus legalista, veja você.
Sim, pois há aqueles que apostam na teologia do complacente Deus Papai Noel, um velhinho bonachão que nos vê desobedecer seus valores (explícitos nos mandamentos da graça) e passa a mão na nossa cabeça, quando o Deus da Bíblia, que é amor, afirma: “Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem acha a sua vida a perderá, e quem perde a sua vida por minha causa a encontrará” (Mt 10.38, 39). Ou seja, é um Deus que exige renúncia por amor a Ele. Renúncia de nós, de nossos desejos, de nossas vontades, de nossos prazeres, daquilo que nos é mais conveniente, daquilo que exige esforço de nós. Mas graça não é sinônimo de moleza. “O Reino dos céus é tomado à força” (Mt 11.12). Quer desfrutar do amor e da graça de Deus? Então ouça o que a encarnação do amor diz: “”Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8.34).
Conclusão
Vivemos dias em que um conceito equivocado sobre o que significa “amor” está fazendo muitos cristãos acreditarem que o Deus que é amor não é mais soberano sobre tudo o que acontece, ou não condena mais os filhos da perdição ao fogo eterno, ou não exige obediência à custa de renúncia pessoal. Pintamos um Deus que, em nome de um amor que não é o amor bíblico, nos isenta de sofrimentos ou nos dispensa do cumprimento de seus mandamentos.
O Amor bíblico está longe de ser o amor dos contos de fadas. O Amor bíblico permite que José passe décadas sofrendo como escravo e presidiário por um bem maior. O Amor bíblico permite que o príncipe do Egito passe 40 anos no deserto de Midiã e depois mais 40 no deserto do Sinai para cumprir seus planos soberanos. O Amor bíblico entrega Seu Filho unigênito para sofrer injustamente por multidões que não mereciam. Isso é o Amor bíblico: um Amor que custa caro. Que é dado pela graça, mas que custa no mínimo o preço da obediência e do respeito à vontade soberana de Criador dos Céus e da Terra. É um Amor que não isenta aqueles que são mais amados de serem “torturados (…) enfrentaram zombaria e açoites; outros ainda foram acorrentados e colocados na prisão, apedrejados, serrados ao meio, postos à prova mortos ao fio da espada. Andaram errantes, vestidos de pele de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos e maltratados” (Hb 11.35-37).
O Amor bíblico é sacrificial. É um Amor que permite catástrofes e sofrimentos porque a mente de Deus é muito mais elevada que a nossa e chega a ser arrogante tentar compreender o porquê de o Senhor optar por permitir tragédias que, dentro do grande esquema das coisas, poderão cumprir um propósito maior que não entendemos (afinal “agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido”). O Amor bíblico cumpre a Justiça divina e condena muitos sim à perdição eterna, pois é a profundidade do vale que determina a altura da montanha da eternidade ao lado de Cristo. O Amor bíblico exige do barro a coerência de obedecer de modo submisso ao oleiro, sem julgar que a renúncia de vantagens pessoais configure ausência de graça ou legalismo.
O Amor de Deus, o Amor bíblico, entrega Cristo para a cruz. Entrega o Cordeiro inocente para a humilhação, a tortura, a dor e a morte, pois sabe que a leve e momentânea tribulação redundará num eterno peso de glória. E não somos melhores que o Cordeiro. Não estamos isentos de humilhação, tortura, dor e morte. E, se nós, japoneses, moradores da região serrana ou qualquer outro passa por isso, temos a certeza de que Deus está no controle e que todas as coisas contribuem para o bem dos que o amam e andam segundo o seu propósito.
Afinal, reconhecer que Deus é amor quando tudo vai bem é fácil. Difícil é confessar esse amor no meio do sofrimento, da perda, da lástima, do apedrejamento, da perda de entes queridos, de um casamento dissolvido, do desemprego, da fome, da miséria. Bem-aventurados os que creram nesse amor sem ter visto sua expresão poetica. Bem-aventurados os que não se guiam por vista, mas por fé. E, afinal… não é isso que é fé? Crer com perseverança no amor de Deus quando tudo ao nosso redor tentar nos fazer acreditar que Deus não nos ama?

Nossa missão como soldados é destruir ideias falsas


Por John MacArthur

Esta não é, de modo algum, a primeira vez que a guerra pela verdade se introduziu na igreja. Isso tem acontecido em todas as principais épocas da história da igreja. Batalhas pela verdade têm rugido na comunidade cristã desde os tempos dos apóstolos, quando a igreja estava apenas começando. Na realidade, o relato das Escrituras indica que os falsos mestres na igreja logo se tornaram um problema significativo e amplamente difundido aonde quer que o evangelho chegasse. Quase todas as principais epístolas do Novo Testamento abordam esse problema, de uma maneira ou de outra. O apóstolo Paulo estava sempre envolvido numa batalha contra as mentiras dos "falsos apóstolos, obreiros fraudulentos", que se transformavam em apóstolos de Cristo (2 Coríntios 11.13). Paulo disse que isso era de se esperar. Afinal de contas, essa é uma das estratégias prediletas do Maligno: "E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformam em ministros de justiça" (w. 14-15).

Seria uma ingenuidade deliberada negar que isso pode acontecer em nossos tempos. De fato, isso está acontecendo em grande escala. O tempo presente não é favorável a que os cristãos flertem com o espírito da época. Não podemos ser apáticos quanto à verdade que Deus nos confiou. Nosso dever é guarda-la, proclamá-la e transmiti-la à geração seguinte (1 Timóteo 6.20-21). Nós, que amamos a Cristo e cremos na verdade incorporada nos ensinos dEle, precisamos ter plena consciência da re-alidade da batalha que ruge em nosso redor. Devemos cumprir nosso papel na guerra pela verdade, que já dura muitas eras. Temos a obrigação sagrada de participar da batalha e lutar pela fé.

Em sentido restrito, a ideia motriz por detrás do movimento da Igreja Emergente está correta: o clima atual do pós-modernismo representa realmente uma vitrine maravilhosa de oportunidades para a igreja de Jesus Cristo. A arrogância que dominava a era moderna está em suas agonias de morte. O mundo, na sua maior parte, foi apanhado em desilusão e confusão. As pessoas se sentem inseguras a respeito de quase tudo e não sabem que rumo tomar em busca da verdade.

Entretanto, a pior estratégia para ministrar o evangelho num clima assim é os cristãos imitarem a incerteza ou ecoarem o cinismo da perspectiva pós-moderna — e arrastarem a Bíblia e o evangelho para dentro dessa perspectiva. Em vez disso, precisamos afirmar, de modo contrário ao espírito desta época, que Deus falou com a maior clareza e autoridade, de modo definitivo, através de seu Filho (Hebreus 1.1-2). E temos, nas Escrituras, o registro infalível dessa mensagem (2 Pedro 1.19-21).

O pós-modernismo é simplesmente a expressão mais atual da incredulidade mundana. Seu valor essencial — uma ambivalência dúbia para com a verdade — não passa de ceticismo destilado em sua essência pura. No pós-modernismo, não existe nada virtuoso nem genuinamente humilde. Ele é uma rebelião arrogante contra a revelação divina.

De fato, a hesitação do pós-modernismo no tocante à verdade é a antítese exata da confiança ousada que, segundo as Escrituras, é o direito de família de todo crente (Efésios 3.12). Essa segurança é operada pelo próprio Espírito de Deus naqueles que crêem (1 Tes-salonicenses 1.5). Precisamos valorizar essa segurança e não temer confrontar o mundo com ela.

A mensagem do evangelho, em todos os fatos que a constituem, é uma proclamação clara, específica, confiante e autorizada de que Jesus é Senhor e de que Ele dá vida eterna e abundante a todos os que crêem. Nós, que conhecemos verdadeiramente a Cristo e recebemos aquela dádiva da vida eterna, também recebemos da parte dEle uma comissão clara e específica de transmitir com ousadia a mensagem do evangelho, como embaixadores dEle. Se não demonstrarmos igualmente clareza e nitidez em nossa proclamação da mensagem, não seremos bons embaixadores.

Mas não somos meros embaixadores. Somos, ao mesmo tempo, soldados comissionados a guerrear em favor da defesa e disseminação da verdade, face aos ataques constantes contra a verdade. Somos embaixadores com uma mensagem de boas-novas para as pessoas que andam em trevas e vivem na região da sombra da morte (Isaías 9.2). E somos soldados — com ordens para destruir fortalezas ideológicas e derrubar as mentiras e enganos engendrados pelas forças do mal (2 Coríntios 10.3-5; 2 Timóteo 2.2-4).

Observe atentamente: nossa tarefa como embaixadores é levar as boas-novas às pessoas. Nossa missão como soldados é destruir idéias falsas. Devemos manter esses objetivos no seu devido lugar; não temos o direito de declarar guerra contra as próprias pessoas, nem de entrar em relacionamentos diplomáticos com idéias anti-cristãs. Nossa guerra não é contra a carne e o sangue (Efésios 6.12); nosso dever como embaixadores não nos permite transigir com qualquer tipo de filosofia humana, engano religioso ou outro tipo de mentira nem a nos alinhar com alguma delas (Colossenses 2.8).

Se parece difícil manter essas duas tarefas em equilíbrio e na perspectiva adequada, isso acontece porque elas são realmente difíceis.

Judas certamente entendeu isso. O Espírito Santo o inspirou a escrever a sua breve epístola a pessoas que estavam lutando com essas mesmas questões. Contudo, ele as exortou a batalharem diligentemente pela fé, contra toda falsidade, ao mesmo tempo que faziam tudo que lhes era possível para livrarem almas da destruição: arrebatando-as "do fogo... detestando até a roupa contaminada pela carne" (Judas 23).

Somos, portanto, embaixadores e soldados; procuramos alcançar os pecadores com a verdade, ao mesmo tempo que envidamos todos os esforços para destruir as mentiras e outras formas de mal que os mantêm na escravidão mortífera. Esse é um resumo perfeito do dever de todo cristão na guerra pela verdade.

Martinho Lutero, aquele nobre soldado do evangelho, lançou este desafio diante dos cristãos de todas as gerações que o sucederam, ao dizer:

Se, com a voz mais elevada e a exposição mais nítida, eu professar toda porção da verdade de Deus, mas não confessar exatamente o pormenor que o mundo e o Diabo estão atacando naquele momento, não estou confessando a Cristo, ainda que esteja professando-0 com ousadia. Onde a batalha ruge, ali é provada a lealdade do soldado. E ficar firme em todos os demais pontos do campo de batalha é mera fuga e vergonha, se o soldado falhar naquele pormenor.