quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Será mesmo que Deus ama e deseja a salvação de todos?


Heitor Alves
Se fizermos esta pergunta para todos o evangélicos, a maioria esmagadora responderiam afirmativamente. São vários os motivos para se responder positivamente a pergunta. Existe um sentimento de que o homem é bom e que não merece ser castigado. O interessante é que querem que Deus sinta este mesmo sentimento quando o assunto é condenação. Deus não pode condenar o homem e nem quer fazer isso. O homem tem valor. Ele é bom, não é tão mau a ponto de merecer o inferno.
Este sentimento tem penetrado nas igrejas evangélicas, distorcendo a teologia bíblica. A teologia predominante nos púlpitos é uma teologia humanista, uma teologia agradável ao homem. Se ouve, domingo após domingo, assuntos relacionados ao existencialismo, onde colocam Deus como um super-herói preparado para enfrentar as dificuldades que o homem venha a sofrer. Se Deus procura "evitar" que o homem sofra nesta vida, muito mais Ele fará na alma do homem. Por isso, vemos aquela doutrina satânica de que Deus deseja e quer a salvação de todos os homens!
Esse é o resultado prático de um cristianismo que jogou no lixo as Sagradas Escrituras. Estão pisando na Palavra de Deus. Rasgando suas páginas e jogando-as nas fogueiras de uma "inquisição" construída para não abalar a credibilidade e não desvalorizar o homem. E de que modo é praticada esta moderna "inquisição"? Não é mais com fogueiras literais ou confisco de bens, ou até mesmo de perda da liberdade. Mas esta moderna forma de "inquisição" é praticada quando é negada a autoridade absoluta e suprema das Escrituras sobre a igreja, e se busca novas revelações extrabíblicas, tratando-as como suprema autoridade.
Por isso encontramos uma grande hostilidade quando vamos expor o que de fato as Escrituras afirmam sobre os assuntos abandonados pelos evangélicos atuais, dentre eles o assuntos sobre a expiação limitada.
Deixando de lado todas as emoções ou humanismo, vamos expor aquilo que a Bíblia fala a respeito do desejo de Deus com respeito a salvação do homem. Afinal de contas, Deus quer a salvação de toda a humanidade?
Todos os arminianos, sem exceção, ao começarem uma discussão a respeito do amor de Deus, lembram logo de João 3.16. “Deus amou o mundo”! Todos são alvos do amor de Deus! É injusto lembrarmos apenas do verso 16. Por que não citar até o verso 21?
16 Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
17 Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
18 Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.
19 O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más.
20 Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem argüidas as suas obras.
21 Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque feitas em Deus.
O texto não diz que Deus ama todos os homens. Jesus está dizendo que o amor de Deus não se estende apenas aos judeus de sua época, mas o seu amor alcança pessoas além dos limites da Judéia. O seu amor se estende também aos gentios. Interessante que os arminianos não conseguem enxergar que o alvo do amor de Deus são aqueles que crêem em Jesus Cristo, e somente eles. Veja que o verso 18 decreta a condenação daqueles que não crêem "porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus". Deus não pode amar aquele que se mantém rebelde contra Jesus. O amor de Deus não está nele, e sim a sua ira: "Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus" (Jo 3.36).
O curioso do ensinamento arminiano é que a teologia arminiana diz uma coisa e a bíblia diz outra. Por exemplo: se Deus ama a todos indiscriminadamente (como afirmam os arminianos) a lógica é Cristo orar e desejar a salvação de todos! Mas ele não deseja isso. Podemos notar isso na oração que ele faz em João 17. Cristo ora para que Deus conceda a vida eterna para um grupo seleto de pessoas: "Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu mos confiaste, e eles têm guardado a tua palavra. Agora, eles reconhecem que todas as coisas que me tens dado provêm de ti; porque eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste, e eles as receberam, e verdadeiramente conheceram que saí de ti, e creram que tu me enviaste" (Jo 17.6-8). Em seguida, Cristo fulmina os arminianos com as seguintes palavras: "É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus" (v.9). Por todo o capítulo 17, Cristo repete sempre as mesmas palavras "aqueles que tu me deste", "homens que me deste do mundo".
Eu não posso acreditar que há um desentendimento entre o Pai e o Filho. Não posso acreditar numa confusão na Trindade! Deus desejando salvar a todos, mas o Filho orando por alguns. O próprio Jesus afirmou que Ele veio fazer a vontade do Pai, esta é a sua comida (Jo 4.34). Deus não ama a todos e não quer a salvação de todos!
Para encerrar, tenho mais uma prova de que Deus não deseja a salvação de todos. A prova está em Mateus 11.20-24.
20 Passou, então, Jesus a increpar as cidades nas quais ele operara numerosos milagres, pelo fato de não se terem arrependido:
21 Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido com pano de saco e cinza.
22 E, contudo, vos digo: no Dia do Juízo, haverá menos rigor para Tiro e Sidom do que para vós outras.
23 Tu, Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura, até ao céu? Descerás até ao inferno; porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se fizeram, teria ela permanecido até ao dia de hoje.
24 Digo-vos, porém, que menos rigor haverá, no Dia do Juízo, para com a terra de Sodoma do que para contigo.
Cristo passa a condenar as cidades que tiveram a oportunidade de presenciar a pregação do evangelho (que naquela época era acompanhada da operação de milagres que testificavam da pregação). Corazim, Betsaida e Cafarnaum foram as cidades onde Cristo pregou o evangelho e mesmo assim estas cidades não se converteram. A partir daí, Cristo nos revela algo que nos incomoda: ele começa a “passar na cara” destas cidades que se ele tivesse pregado (e operado milagres) nas cidades de Tiro, Sidom e Sodoma, elas teriam se arrependido “com pano de saco e cinza” e permanecido “até ao dia de hoje”.
Se Cristo sabia que essas cidades iriam se arrepender com sua pregação, então, porque ele não foi até elas? Porque Cristo abriu mão dessas cidades, sabendo que os seus habitantes seriam convertidos e ingressados no reino dos céus? Deus não ama a todos? Então porque Deus deixou de fora dos céus os homens, as mulheres, os idosos, as crianças, os jovens e os adolescentes de Tiro, Sidom e Sodoma? Não foi o próprio Jesus quem afirmou: “Eu vos afirmo que, de igual modo, há júbilo diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Lucas 15:10)? Porque Deus evitaria causar uma grande festa no céu por ocasião de três cidades arrependidas? Deus não ama a todos?
Isso me faz lembrar um outro texto: Isaías 6.9-13:
9 Então, disse ele: Vai e dize a este povo: Ouvi, ouvi e não entendais; vede, vede, mas não percebais.
10 Torna insensível o coração deste povo, endurece-lhe os ouvidos e fecha-lhe os olhos, para que não venha ele a ver com os olhos, a ouvir com os ouvidos e a entender com o coração, e se converta, e seja salvo.
11 Então, disse eu: até quando, Senhor? Ele respondeu: Até que sejam desoladas as cidades e fiquem sem habitantes, as casas fiquem sem moradores, e a terra seja de todo assolada,
12 e o SENHOR afaste dela os homens, e no meio da terra seja grande o desamparo.
13 Mas, se ainda ficar a décima parte dela, tornará a ser destruída. Como terebinto e como carvalho, dos quais, depois de derribados, ainda fica o toco, assim a santa semente é o seu toco.
Deus envia Isaías para pregar a um povo que não se arrependerá. Não se arrependerá porque Deus tornará insensível o coração desse povo. Não se arrependerá porque Deus endurecerá os ouvidos. Não se arrependerá porque fechará os olhos, para que não venha ele a ver com os olhos, a ouvir com os ouvidos e a entender com o coração, e se converta, e seja salvo”.
Somente os eleitos de Deus são os alvos do amor salvífico de Deus. Somente os seus eleitos experimentarão a graça de serem participantes do seu reino.
Não cabe a nós imaginarmos quem é o alvo do amor de Deus e quem não é. Não temos esse poder. Não podemos deixar de pregar o evangelho a alguém achando que esse alguém não faça parte dos eleitos. Resta-nos pregar o evangelho ao máximo de pessoas possíveis, sem fazer distinção. Precisamos olhar para as pessoas como um “eleito” em potencial. Todos os homens são passíveis de receberem a Cristo de bom grado e de coração. Por isso precisamos pregar o evangelho a toda criatura. A pregação do evangelho a todos não garante salvação. Precisamos ser o agricultor que joga as sementes em vários tipos de solos; mas isso não garante que todos os solos receberão as sementes e se transformarão em belas plantas e árvores. Deus mesmo fará com que as sementes da Sua palavra caia em corações que Ele mesmo preparou para recebê-las.
Devemos cumprir com nossa obrigação de pregar o evangelho a todos. Inclusive aos nossos parentes. Não sabemos o que Deus planejou para a vida de cada um deles. Não sei o destino eterno da minha esposa, do meu filho, do meu marido, do meu irmão, do meu pai, da minha mãe... Não cabe a mim fazer conjecturas. Cabe a mim pregar o evangelho e orar a Deus e entregar a alma do meu parente nas mãos de Deus.
O próprio Espírito de Deus acalmará nossa ansiedade, acalmará nosso espírito, se estivermos com dúvidas a respeito daquele parente que faleceu. Por mais que seja triste e dolorosa a partida de um ente querido que morreu sem Cristo, Deus mesmo nos dará o consolo necessário e suficiente para nossa dor. A nossa postura diante de Deus deve ser uma postura de honra, louvor, adoração, de submissão, de entrega total de nossas vidas a Ele, reconhecendo que Ele pode fazer o que bem entender com suas criaturas.
Soli Deo Gloria!

O Deus Ausente


Por Augustus Nicodemus Lopes


Texto: Salmo 88
Esse salmo termina com as palavras “trevas”. É o único salmo de lamento que não termina com um final feliz. Os outros salmos de lamento costumam começar tristes, mas sempre há uma virada no final. O tom sempre muda do desespero para alegria e esperança. Neste salmo, por outro lado, existe uma dor constante no salmista. É como se Deus estivesse ausente ou mouco ao seu clamor. Uma das razões por qual este salmo foi incluído no Canon é para sabermos que, o que aconteceu com este homem de Deus vai acontecer conosco também. Há muitos irmãos e irmãs em cristo que sofrem na vida, e muito. Filhos com problemas, doenças graves e incuráveis, dificuldades financeiras. Como Emã lidou com o sofrimento? Olhar para isso vai nos ajudar quando o sofrimento chegar.
Emã era um homem sábio e que causava respeito nos demais, mas isso não impediu que ele passasse por sofrimentos deste a mocidade. Isso era algo que o acompanhava quase toda a sua vida. Era algo que fazia com que ele sentisse que o fim dele estava próximo. Ele esperava morrer a qualquer momento. Ele fala do abandono dos amigos, da exclusão social. Ele diz que a única companhia que ele tinha era as trevas.
Ele diz que está sofrendo como quem tem dor nos ossos. Ele fala de seu sofrimento como algo que lhe dá a perspectiva de morrer em breve.
Emã pede que Deus o ouça (v. 1-2)
O sofrimento teve em Emã o efeito contrário do que tem em muitas pessoas. Ao invés de fazê-lo parar de orar, leva ele a orar mais. Ele quer que a oração dele chegue à presença de Deus. Parece que o sofrimento maior dele estava na ausência da presença de Deus. Os puritanos falavam disto como “a noite escura da alma”. O silencio de Deus durante o sofrimento torna o sofrimento pior ainda.
Emã descreve seu sofrimento a Deus (v. 3-5)
A palavra “farto”, usada por Emã, traz a ideia de farto de comida, como alguém que comeu tanto que não consegue mais nem olhar para a comida para não explodir, tem a ideia de que ele não aguenta mais sofrer. Ele chegou ao seu limite. Ele se sente como um soldado ferido que era lançado junto dos mortos na batalha, pois iria perecer em pouco tempo.
Emã diz que foi Deus quem fez isso com ele (v. 6-9)
No meio do sofrimento, ele se volta para Deus e diz: “eu sei que foi o Senhor que fez isso”. Para um judeu crente, o Deus de Israel era o Deus que tinha governo sobre todas as coisas. Um judeu não teria problema nenhum em dizer que seu sofrimento vem da parte do próprio Deus. Essa é uma passagem importante em nosso país, pois rouba de nós o conforto de saber que é Deus quem nos dá o sofrimento. Que conforto há em achar que é o diabo quem nos causa os males? O sofrimento nos é causado por aquele que é o bom Pai sobre nossas vidas. Saber que Deus está por traz de tudo o que nos toca, ao invés de nos abater, nos dá conforto. Se é ele quem nos faz entrar, é ele quem nos faz sair.
Emã argumenta com Deus (v. 10-12)
Ele começa a questionar os motivos de Deus fazer tudo aquilo com ele. Ele diz que, se morrer, como ele louvaria a Deus nesta terra? Como ele seria pregador da bondade aqui na terra? Se ele morresse, Deus perderia uma testemunha dele nesta terra. Você teria um argumento deste tipo com Deus? Se você dissesse: “Deus, se eu morrer, o Senhor vai perder tal coisa”, Deus responderia: “nem faz diferença”?
Recapitulação de tudo (v. 13-18)
Ele fala novamente da oração. Quanto mais ele sofre, mais ele ora. Ele fala novamente da consciência da ausência de Deus. É Deus ocultar o rosto que mais dói em Emã. Novamente, ele faz uma descrição do seu sofrimento. Ele nem sabia direito o que fazer, pois ele sentia que Deus o havia abandonado. Emã fala que a Ira de Deus o circunda como alguém que está morrendo afogado, que possui água por todos os lados: ele possuía a ira de Deus acima, abaixo, de um lado e do outro – e sem possuir um único ombro para chorar.
Aplicações
Este não foi um momento na vida de Emã, mas parece que isto reflete toda a vida dele. Muitos crentes de verdade, irmãos em Cristo, que não conseguem encontrar um momento de alívio, porque a dor está presente na vida deles todos os momentos.
O fato de que você é crente não quer dizer que você vai ser sempre feliz, alegre e tranquilo neste mundo;
Deus não tem o compromisso de fazer com que seus momentos de paz e tranquilidade durem a vida inteira e todos os momentos de sua vida;
Não existe melhor professor de oração do que o sofrimento;
Deus nem sempre responde as oração imediatamente, nem sempre ele alivia a dor e o sofrimento e nem sempre que ele vem nos responder, ele faz da maneira como queremos;
Existe uma grande semelhança entre o sofrimento de Emã com o sofrimento do Messias na Cruz. Lá, Jesus gritou algo parecido com o que o salmista gritou: “Deus meu, porque me desamparaste?”. Não fique amargurado com Deus por causa do sofrimento. Nós somos discípulos do crucificado. Precisamos aprender a sofrer.