sexta-feira, 11 de outubro de 2013

OS PERIGOS NO MAU USO DA DOUTRINA DA PREDESTINAÇÃO

Por Fabio Campos

Há uma vanglória por parte de alguns a despeito da “Doutrina da Predestinação” muito perigosa e nociva à mensagem das “Boas-Novas” em Cristo, O Salvador. Alguns pregadores focam na “eleição”, mas esquecem da “justificação”. A doutrina da predestinação é bíblica, e seu tema encontra-se com contundência em várias passagens das Escrituras sem precisar de muito esforço exegético para o entendimento (At 4.28; Rm 8.29,30; 9.11-13; Ef 1.4-6).

A questão é como pregar e expor estes textos. Precisamos ter discernimento! Não sabemos que são os “escolhidos” de Deus, e sem a justificação das boas novas, a reprovação fará o ouvinte olhar para si ao invés de olhar para o Salvador. Charles Spurgeon na sua refutação contra o hipercalvinismo disse:

 “Sou calvinista, gosto do que alguém chamou ‘calvinismo glorioso’, mas ‘hiperismo’ é quente demais para o meu paladar” [1].

A doutrina da predestinação é o baluarte do crente em meio a dificuldades e tentações, lembrando-o constantemente que sua salvação pertence a Cristo que o escolheu e não na da força de seu braço. Este é o contexto que ela deve ser apresentada. Não há como pregar o evangelho por meio da predestinação sem antes falar da graça de Deus disponível a todos os homens [sem entrar no mérito do chamado eficaz e o chamado externo]. Para alguns pregadores a proclamação do evangelho é unicamente o meio para juntar os eleitos de Deus. Uma pregação sem misericórdia e desprovida da graça de salvadora de Deus-Pai.

Precisamos ter outra abordagem para com os de fora. A ministração com a pressuposição de que nossa pregação deve alcançar os “pecadores eleitos” se tornará tendenciosa conspirando aos nossos conceitos e estado de “humor”.  Certa vez perguntaram para Spurgeon “como é possível oferecer aos pecadores uma salvação que Cristo não realizou a favor deles”? Iain Murray no seu livro “Spugeon versus hipercalvinismo”, conta que ele pôs de lado essa questão como sendo uma coisa que Deus não quis explicar. Para ele era suficiente saber que o próprio Cristo Se oferece a todos; que o evangelho é para “toda criatura”, que todos os que vierem a Ele serão salvos, e que todos o que rejeitarem estão sem escusa. Ele disse que uma proclamação universal da boa notícia, das boas novas, com uma garantia para toda criatura, está no cerne do seu entendimento das Escrituras. Em acréscimo à argumentação bíblica segundo a qual os convites do evangelho não devem limitar-se aos que possuem certas experiências, Surpegeon adicionou o argumento de que tal limitação está sujeita a confundir almas necessitadas e a pô-las em perigo com uma forma de legalismo.

Spurgeon disse que os homens mais penitentes são os que se consideram os mais impenitentes. Uma exposição da predestinação sem a justificação para os incrédulos é joga-los no inferno com a probabilidade de que Deus já tenha reservado uma morada no céu a eles. O príncipe dos pregadores prossegue neste argumento:

“Se começássemos a pregar aos pecadores que eles precisam ter certo senso de pecado e certa medida de convicção, esse ensino faria com que o pecador fugisse de Deus em Cristo para si mesmo. O homem começaria logo a indagar: ‘Teria eu coração partido, estaria abatido’? Essa é apenas outra forma da pessoa olhar para si mesma. O homem não deve examinar a si mesmo para encontrar motivos para a graça de Deus” [2]

A capacidade de crer pertence unicamente aos eleitos por revelação do Espírito de Deus, e isto tem um tempo determinado; “há tempo para todo proposito debaixo do sol”. Por isso, o pregador que quer chamar seus ouvintes ao imediato arrependimento e fé, tendo isto por base para saber se o mesmo é um predestinado ou não, estará negando tanto a depravação humana como a Soberania de Deus. Um erro grave possa ser cometido neste contexto: “Predestinar um Judas Iscariotes e reprovar um ladrão arrependido nos últimos minutos de sua vida”.
A respeito da soberania de Deus e da responsabilidade humana, Spurgeon, introduziu seu assunto com estas palavras:

“O sistema da verdade não é uma linha reta, mas duas. Nenhum homem chegará a ter uma correta visão do evangelho enquanto não souber ver as duas linhas ao mesmo tempo... Ora, se eu declarasse que o homem é tão livre para agir que não há presidência nenhuma de Deus sobre suas ações, eu seria levado para muito perto do ateísmo; e se, por outro lado, eu declarasse que Deus governa de tal modo todas as coisas que o homem não é livre para ser responsável, eu seria levado direto para o antinomianismo ou para o fatalismo. Que Deus predestina e que o homem é responsável são duas coisas que poucos conseguem enxergar. Estas verdades são tidas como incongruentes e contraditórias; contudo não são. É defeito do nosso fraco julgamento... é minha tontice que me leva a imaginar que duas verdades podem, alguma vez, contradizer-se uma a outra”. [3]

A Soberania de Deus não contradiz o seu caráter. Os homens sem ao menos entender a “doutrina da predestinação” imaginam um Deus severo, zangado e feroz, muito facilmente levado à ira, mas não tão facilmente induzido ao amor. O puritano John Owen sempre aconselhava:

“Não enredemos o nosso espírito limitando a Sua graça... Somos aptos a pensar que estamos sempre dispostos a ter perdão, mas que Deus não Se dispõe a concedê-lo”. [4]

O reformador João Calvino, nas últimas edições das Institutas, mudou o seu tratamento da eleição para fazê-lo seguir-se ao ensino da justificação. Ele dizia que quando a eleição é consequentemente introduzida como preliminar em relação a fazer ouvir o evangelho, inevitavelmente será como se fosse designada para limitar ou obstruir a salvação dos homens e das mulheres.

Inain Murray no mesmo livro disse “a conclusão final só pode ser que quando o calvinismo deixa ser evangelístico, quando se torna mais preocupado com a teoria do que com a salvação dos homens e das mulheres, quando a aceitação de doutrinas parece tornar-se mais importante do que a aceitação de Cristo, ele passa a ser, então, um sistema falido e invariavelmente vai perdendo seu poder de atração” [5]

Precisamos chorar pelos perdidos ao invés de ostentar nossa eleição a eles. O sentimento de Cristo a vista de Jerusalém, o de Paulo para com os seus compatriotas e o de Moisés para com o seu povo, este choro e lamento, por aqueles que vão rejeitando a graça rumo ao inferno. A doutrina da predestinação é bíblica e uma segurança para o crente; mas quando contemplamos pessoas que amamos fora do aprisco do “Bom Pastor”, o desespero bate em nossa porta. Isso é um bom sinal! Do contrário seria preocupante.  

Que Deus nos dê graça para sermos mais prudentes ao expor essa doutrina tão preciosa dada a nós. Não sejamos inconsequentes ostentando “o saber” atribulando aqueles que ainda não foram iluminados no seu entendimento a respeito da sua salvação.

Fica a frase do reformador inglês John Bradford para o nosso aprendizado:

“Que o homem vá primeiro à escola secundária da fé e do arrependimento, antes de ir à universidade da eleição e da predestinação” [6].

Tudo que importa é crer em Cristo?


Por Josemar Bessa

Em um mundo como o nosso é comum as pessoas acreditarem que tudo o que importa é crer em Jesus, em Deus... mesmo que você mesmo tenha concebido o que eles são.

Na verdade hoje só temos dois tipos de pessoas, aqueles que imaginam o que Jesus era, dizia... e aqueles que realmente sabem alguma coisa sobre Jesus.

Mas o fato é que só há um Jesus real. Você não o concebe, suas ideias não o formam... O único Jesus que vale a pena ouvir, meditar... é o Jesus que encontramos nos evangelhos. E nos evangelhos há uma riqueza de material histórico sobre Jesus. Não há nenhuma desculpar para pessoas que se dizem cristãs conceberem e forjarem em suas mentes quem Jesus é ou devia ser. Só há valor em falar sobre Jesus, se esse for o Jesus dos evangelhos. Se não for assim, não importa o quão comovente, não importa o quão encorajador, não importa o quão amável, o quão suave, o quão popular seja; o “Jesus” forjado na mente humana não passa de um terrível ídolo. A ordem para isso é: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos!” – 1 João 5.21. 

Ou seja, não importando quão “bom” possa parecer, jamais aceite um Jesus diferente do Jesus do Novo Testamento: “Quisera eu me suportásseis um pouco na minha loucura! Suportai-me, porém, ainda. Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo. Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo. Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, com razão o sofrereis.” - 2 Coríntios 11:1-4

Não há diferença entre o Deus do Velho Testamento e o Deus do Novo Testamento, só existe um único Deus Eterno. Cristo afirmou a origem divina, a veracidade inerrante e a autoridade do Velho Testamento (Mt 4.1-10). Em nenhum lugar Jesus sugere que partes do Velho Testamento eram falsas, sem inspiração, impreciso ou não histórico. Que o Deus o Velho Testamento era duro, um Deus irado, intolerante... e que o do Novo Testamento era outro Deus. Ele mesmo, Cristo, é Deus por toda eternidade, e o Pai, o Espírito... ou seja, a Trindade eterna.

Portanto, a primeira vez que Jesus diz “Deus”, significa o mesmo Deus revelado em TODO o Antigo Testamento. O Deus de Abraão, Isaque e Jacó, o Deus da Criação, o Deus do Dilúvio, o Deus que destruiu Sodoma e Gomorra, o Deus do Êxodo e da Conquista da terra de Canaã, o Deus do cativeiro e do retorno... O Deus dos sacrifícios sangrentos no Tabernáculo. O Deus de Moisés, o Deus que revelou a Lei, o Deus de Davi, Salomão, Isaías... Malaquias. Isso e esse é Deus! A ideia de propor, aceitar ou defender um outro deus... mas de acordo com o pensamento da sociedade e cultura atual..., teria horrorizado completamente o Jesus real.

O Jesus que encontramos no Novo Testamento é a Palavra viva de Deus (João 1.1. 14), veio a terra para expor Deus (João 1.18). O Jesus real alegou um intimidade ímpar com o Deus Pai (Ma 11.27; João 5.17, 19-20; 7.29; 8.55).

A preocupação de Jesus nunca foi sobre como os pecadores concebem Deus, mas sobre como Deus concebe a si próprio – quer isso seja ofensivo ou não ao homem – e que é esse auto-conceito que Ele veio para declarar: “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou.” - João 1:18

É por isso que Jesus nunca chamou alguém para abraçar suas próprias noções de Deus. Em vez disso Ele chama, ordena de fato, o homem a se arrepender de suas noções de Deus, e abraçar o conhecimento revelado do próprio Deus (Mateus 4.17; João 21-26).

Esta verdade tem muitas implicações, mas olhemos apenas duas.

A primeira é – devemos enfrentar a questão crucial se estamos adorando um deus de fantasia criado por nossos próprios corações, em nossos próprios termos, ou estamos adorando o Deus vivo e verdadeiro que se revelou em Seus próprios termos.

A segunda é para todos os que ensinam e pregam. Você está sendo tão cristalino e dogmático com Jesus foi neste mundo? E para responder isso, não basta alguém dizer no que crê sobre Deus, se é correto e dogmático, mas se você está proclamando para todos essa revelação como absoluta e inquestionável.

Se fingimos que tudo que Deus, Jesus deixou claro não é claro para com isso não nos comprometermos ao proclamar, estamos representando a nós mesmos e não a Cristo.