quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Pastorado: Uma Vocação ou mais uma Profissão ?

Por Pr. Magdiel G Anselmo.
A questão é um tanto complicada de se abordar.
A falta de envolvimento pessoal e conhecimento dos que comentam sobre esta questão determinam, a meu ver, a realidade dos fatos. Uma realidade de muita confusão quando se discute o assunto proposto. Cada grupo ou denominação religiosa entende do seu jeito e criam o seu formato, tornando o entendimento correto e bíblico mais uma opinião ou argumentação como as demais.
O que significa ser um pastor, quais os critérios, características e a missão pastoral de acordo com que revela a Palavra de Deus são totalmente negligenciados e toma-se um conceito humano e empresarial para explicar o ofício e as funções de um pastor.
Isso causa muitos conflitos e perturbações à vida da Igreja e por fim incentivam oportunistas, interesseiros e preguiçosos a se candidatarem a futuros ministros.
Não deveria ser assim.
Mas por que isso acontece?
Porque pouco ou nada se ensina sobre o assunto. O pastor ou o educador cristão tem, muitas vezes, receio de ministrar e até falar sobre o que significa ser um pastor do ponto de vista bíblico, porque pensa que estará ministrando em interesse ou defesa própria. E assim, o povo fica sem entender a questão e aí se originam os erros e as distorções existentes.
Por causa também disso, o universo evangélico criou vários tipos de pastores.

Vejam alguns deles a seguir:

1. O pastor de “final de semana e feriados”.

Este entende o pastorado como um trabalho complementar e secundário. Somente o exerce quando não realiza outra atividade. Durante a semana possui um emprego e trata de se dedicar a ele e a seus afazeres pessoais. Quando chega o final de semana ou feriado se veste de pastor e vai à igreja pregar e rever seus irmãos. Durante o meio de semana não se pode contar com ele. Estou trabalhando, afirma. Quando perguntam como sustenta a família, ele diz orgulhosamente:
- Tenho o meu trabalho. Não toco em um centavo do dinheiro da igreja.
E isso vai sendo ensinado à congregação que “pastoreia”.

2. O pastor “nominal”.

Este entende o pastorado como uma forma de ostentação. Ama ostentar seu título de pastor nos círculos familiares, eclesiásticos e de relacionamentos. Não se preocupa com o rebanho do Senhor e muito menos com o que pensa o Senhor do rebanho. Está sempre buscando outros e mais títulos, porém sempre com a motivação errada. Ele quer ser destacado entre os demais. O nome de Jesus é só mais um detalhe. O nome dele é que importa ser notado e comentado.
Muitos destes “pastores” se tornam em outro tipo que chamo de “midiáticos”, ou seja, usam a mídia (televisão, rádio, TV a cabo, etc...) para propagar seus devaneios com roupagem de cristianismo com intenções de adquirir fama e prosperidade material às custas do povo desavisado.
E isso vai sendo ensinado à congregação que “pastoreia”.

3. O pastor “profissional”

Este entende o ministério pastoral como mais uma profissão e a Igreja de Cristo como mais uma empresa. Cumpre com suas obrigações trabalhistas, que foram pré-determinadas em sua contratação, e está tranquilamente consciente que pode ser dispensado por seus empregadores se não as cumpri-las. Busca agradar seus “chefes” fazendo aquilo que os agrada, porque se não o fizer pode ficar desempregado.
É um profissional do púlpito. É um político eclesiástico.
E isso vai sendo ensinado à congregação que “pastoreia”.

4. O pastor “falso”.

Este não foi chamado para ser pastor. Não possui vocação e por isso não consegue amar o rebanho como deveria. Pode até ser um bom crente, porém não tem ferramentas espirituais para pastorear e teima em prosseguir. Não deseja se aprofundar no conhecimento bíblico, não deseja se sacrificar em prol do reino de Deus. Não se preparou para o ofício pastoral porque não entende isso ser relevante.
Não possui coração de pastor.
Causa dores e sofrimentos em si e no rebanho. Produz maus costumes e heresias. É motivo de piadas e “chacotas” dos descrentes e até de membros de sua congregação.
E isso vai sendo ensinado à congregação que “pastoreia”.

5. O pastor “enviado de satanás”.

Este entende o que significa o ministério pastoral e por isso, diabolicamente, procura perverte-lo e corrompe-lo diante dos olhos apavorados do povo. Desta forma, tenta produzir falta de credibilidade sobre o ofício e a pessoa dos demais pastores. A desconfiança e incredulidade ao pastorado são suas intenções.
São enviados de satanás para iludir e enganar o povo de Deus e assim deturpar o real sentido e significado da Igreja, das doutrinas bíblicas e do episcopado.
E isso vai sendo ensinado à congregação que “pastoreia”.

6. O pastor “preguiçoso”

Este pensa que ser pastor é ficar à toa. Não aceita trabalhar secularmente, mas também não deseja trabalhar ministerialmente. Não estuda. Não se prepara. Sequer prepara um sermão. O púlpito é muito mais freqüentado por outros irmãos do que por ele. De vez em quando prega e justifica que está dando oportunidades a futuros pregadores. Não freqüenta a EBD, nunca ministrou em uma sala, porque preparar aula dá muito trabalho. Teologia pra ele é “coisa de fariseu”. Delega o que é pra ser delegado e o que não é. Gosta de muito barulho e de chavões. Tudo pra ele é de improviso e diz que é o Espírito Santo. Não gosta e nem sabe planejar nada. Pensar, discernir, refletir pra ele é muito desgastante. Não respeita horários. É um exemplo de falta de sabedoria. O pastorado pra ele é uma fuga da realidade dura da vida. É o preguiçoso por excelência.

Existem outros maus exemplos de "pastores", mas penso que esses já são o bastante.
Diante dessa realidade, não podemos culpar a maioria do povo por não entender o ministério pastoral e considerá-la de forma totalmente equivocada e não bíblica e também de muitos generalizarem e rotularem todos os pastores de “oportunistas, picaretas e desocupados”.
Fundamentando-me biblicamente, como então devemos entender e ensinar a questão à luz das Escrituras Sagradas?

O pastor à Luz da Palavra de Deus.

1. É um crente chamado, vocacionado e capacitado por Deus para exercer tal missão. (todos aqueles que exerceram posições de liderança ou pastoreio no relato bíblico foram chamados pessoalmente por Deus)

2. Sua chamada e vocação são marcadas por um desejo interno, profundo e ardente em cuidar, para Deus e sob Sua direção, de um grupo de crentes por um longo período em locais que ele não escolhe. (nota-se isso claramente nos textos escritos por Paulo, Pedro, João e outros escritores neo-testamentários)

3. Sua chamada e vocação são confirmadas pelas pessoas que pastoreia ou que de alguma forma estiveram sob seus cuidados pastorais. (A "aceitação" da Igreja com relação às cartas neo-testamentárias e a confirmação de que se tratava de escritos inspirados por Deus (canonicidade) corroboram isso)

4. Sua capacitação se dá através de dons espirituais dados por Deus para bem exercer o ofício e ministério pastoral como, por exemplo: dom de pastor, de profeta, de mestre e outros que formam um “pacote” capacitando este crente para pastorear. (os dons alistados em Efésios 4:11 são uma prova de que se trata de dons ministeriais ou para liderança na Igreja. O contexto do capítulo confirma isso.)

5. O amor a Deus e ao rebanho de Deus são marcas visíveis neste crente. Sem isso seria impossível pastorear. Isso o move ao perdão, paciência e perseverança incomuns à maioria dos cristãos. (O amor dos apóstolos e a o amor dos genuínos pastores pelo rebanho e pela Palavra de Deus no transcorrer da história da Igreja são contundentes para corroborar este ponto)

6. Entende que seu pastorado não é uma profissão, mas sim uma missão determinada a Ele por Deus. Ele não é um empresário, muito menos um empregado da Igreja. É um ministro da Palavra de Deus. Seu trabalho é fundamentalmente espiritual. (A Bíblia em sua integralidade confirma isso)

7. Não possui interesses pessoais acima dos espirituais e ministeriais. Não tem dificuldade em renunciar aos seus prazeres e satisfações pessoais em prol do rebanho do Senhor. (As cartas pastorais ensinam largamente esse princípio bíblico da abnegação voluntária)

8. Não busca ostentação e elogios. Não busca enriquecimento material. Busca vidas salvas e libertas para glória de Deus. (As cartas pastorais ensinam largamente esse conceito bíblico)

9. Dedica e administra todo o seu tempo, bens, dons e talentos nas prioridades corretas, ou seja, o espiritual sempre está a frente do material. Mas, não significa que descuide do cuidado pessoal ou de sua família. É um lutador que vive para Deus na dependência Dele dentro dos parâmetros já delineados pelas Escrituras, ou seja, entende que é mordomo e prestará contas a Deus de tudo que lhe foi confiado. (O Senhor Jesus ensinou isso na parábola dos talentos.)

10. Dedica-se a oração, pregação, ao estudo e ao ensino bíblico com responsabilidade e temor. (As orientações paulinas a Timóteo enfatizam também essa questão.)

11. É humilde e reconhece suas limitações. Sabe que mesmo sendo pastor, continua sendo servo. (A Bíblia em sua integralidade ensina isso)

12. É pastor de tempo integral. Está ciente que sua vocação e ofício exigem isso. (Observa-se esse princípio claramente nos ministérios de Pedro, Paulo e demais discípulos. (...)Quem prega a Palavra, que viva da Palavra...)

12. É incansável no cuidado da sã doutrina. Cuida para que os demais irmãos sejam ministrados em todo desígnio de Deus revelado em Sua Palavra. (As cartas pastorais enfocam isso)

13. É sustentado por Deus, através da instrumentalidade da Igreja. Vive nesta dependência alegremente. Se for necessário e temporariamente irá “confeccionar tendas”, mas sabe que isto não é o ideal bíblico para seu ministério. Irá trabalhar para que sua congregação assim entenda o ministério pastoral. (O ministério de Paulo é um bom exemplo disso. Foi obrigado a fazer tendas pela negligência da Igreja com o sustento do apóstolo. É um exemplo do que não é pra ser feito por uma igreja, e não o contrário. O próprio Paulo explica isso em suas cartas)

14. É consciente que somente os que também são vocacionados, como ele o é ao ministério pastoral, conseguem entende-lo completamente. (A Bíblia mostra pelas cartas pastorais que somente um pastor consegue entender outro pastor em todos os aspectos que constituem o ministério pastoral)

15. É consciente que mesmo possuindo dons espirituais não conseguirá pastorear sem a ajuda e direção de Deus. Sabe que quem realiza é Deus.

16. Sabe discernir e alertar o rebanho quando este está em perigo e quando falsos mestres se introduzem nele. (sabe que o Espírito Santo o usa como o atalaia de Deus para a Igreja do Novo Testamento. O princípio ensinado em Ezequiel 33 é aplicável hoje.)

17. Tem consciência que muitas vezes se sentirá solitário e cansado. Mas tem a firme convicção que Deus está com ele e Nele tem suas forças revigoradas pra prosseguir. (Não pode negligenciar o dom que há nele dado por Deus. Continua firme fazendo a obra de um evangelista)

17. Ensina estes itens aos irmãos que pastoreia. (Não tem receio ou medo de “tocar” nesse assunto.)

18. Sabe que desse ensino resultará no bom preparo de outros pastores segundo o coração de Deus.

19. Sabe que nem todos o entenderão.

20. Sabe que Deus o entenderá e apoiará.

Amigos pastores, por amor a Cristo, ensinemos isso ao povo de Deus.
Ainda existem muitos pastores fiéis a Deus e dignos de serem chamados de “homens de Deus”.
Mudemos a concepção que os farsantes produziram em muitos e propaguemos a verdade e dignidade do santo ministério. Rechacemos os lobos em peles de cordeiros. Honremos Aquele que nos chamou.
A Igreja agradece.

Forte abraço,
Em Cristo,

Pastores sem Bíblia, Ovelhas comendo Pipoca


Por Leonardo J. N. Félix

“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”.
2 Timóteo 2:15.

Cresce juntamente com as igrejas as exigências feitas aos Pastores. Hoje, um Pastor não pode ser mais um homem dedicado ao Estudo da Palavra apenas, ele precisa ser um administrador, psicólogo, engenheiro, etc. O ministério pastoral se tornou atualmente um amalgama de funções. Por esse motivo, acredito, a palavra de Deus tem sido pregada de modo tão superficial. Gostaria de repetir aqui um relato de uma das minhas ovelhas acerca de uma pregação que ouviu. Segundo ele, certo líder ao pregar sobre a ressurreição do filho da viúva de Naim (Lucas, 7:11-17), proclamou aos brados que Jesus era um músico por excelência. Sem entender muito bem de onde aquele irmão havia tirado aquela informação ficou confuso. Daí então, ele observou mais detalhadamente a mensagem e percebeu que o pregador estava se referindo ao “esquife”, que segundo o Aurélio é um “caixão”, com sendo um instrumento de sopro. Naquele momento ele não se conteve diante de tamanha aberração hermenêutica.

O que mais me chama a atenção nesse triste episódio é que “n” fatores estão a pressionar os líderes a pregarem cada vez mais de modo negligente. Gostaria de apontar alguns: primeiramente, vejo fatores internos aos líderes. São Pastores formados sem a real convicção do seu chamado. É inconcebível um pastor que não goste de ler e estudar. Todavia, encontramos colegas que não se deleitam em seus estudos Bíblicos. Quando sobem ao púlpito estão mais informados acerca do noticiário da tarde do que do texto do sermão. Isso é o mesmo que não hora do jantar oferecer pipoca. A Bíblia é o alimento da igreja. Daí vermos muitos crentes famintos de ouvirem a voz de Deus. Encontramos dentro das igrejas pessoas que não sabem discernir entre a voz de Deus e a voz do seu coração. São carnais, pois nunca ouviram falar do que significar estar cheio do Espírito Santo. A não ser, nos casos onde as línguas são tidas como sinônimo dessa graça, todavia, depois desse movimento pouco de Cristo se ver na vida dessas esqueléticas ovelhas. Muitas igrejas têm padecido pela negligência dos seus pastores à Palavra de Deus. Segundo uma pesquisa feita pelo atual editor e jornalista da Abba Press & Sociedade Bíblica Ibero-Americana Oswaldo Paião, 50% dos pastores nunca leu a Bíblia completa (http://noticias.gospelmais.com.br/ler-a-biblia-toda.html). Uma vergonha para aqueles que têm como instrumento do seu ministério a Bíblia.

Outro fator que tem pressionado o ministério pastoral são as expectativas que a maioria das igrejas nutre do seu Pastor. Muitos irmãos ainda nutrem um pensamento católico de que o Pastor é o intermediário entre Deus e ele. Se pedirmos a alguém para orar a favor da vida deles, logo acham que a oração não é tão poderosa para se concretizar. Quantas são as vezes que somos chamados a interceder por alguém por que aquela pessoa acha que só a oração do líder é que chega diante de Deus. As conseqüências disso são as chamadas constantes que nos fazem perder a prioridade na palavra. Nossas igrejas precisam estar conscientes do que significa o sacerdócio universal dos crentes, ou seja, todos nós que somos igreja somos sacerdotes diante de Deus. A oração do irmão não é mais poderosa, ou chega mais rápido a Deus do que a de qualquer outro irmão, inclusive a do Pastor (cf. 1 Pedro, 2:9). Creio que se assim ensinarmos às nossas ovelhas teremos um pouco mais de tempo para os nossos estudos.

O ministério do Pastor, especialmente na sua função como pregador da Palavra, precisa ser priorizada em nossas igrejas. Enquanto eles não prepararem o alimento sólido para suas ovelhas, teremos igrejas alegres pelo tocar das trombetas nas liturgias, pelas rosas, pelos mantos, e pelo sal ou por todo tipo de bugiganga, menos pela palavra de Deus. Deus nos faça refletir acerca do nosso ministério.

SOLA SCRIPTURA!