domingo, 3 de novembro de 2013

O Culto que Não Cultua a Deus


Por Pr. José Santana Dória
Por vezes pensamos que não há nenhuma dificuldade ou problema com respeito à liturgia utilizada nos cultos dos nossos dias, pois achamos que tudo aquilo que se está oferecendo a Deus, Ele aceitará, desde que seja feito com sinceridade e zelo. Este falso entendimento mostra que somos uma geração ignorante quanto a forma bíblica de cultuar a Deus.

Não nos ocorre que Deus estabeleceu para o culto coisas que lhe agradam, e explicitou outras que não lhe agradam. Portanto, se quisermos que nosso culto seja aceitável precisamos submetê-lo a revelação divina. Se a Palavra de Deus aprovar, podemos ficar tranqüilos e perseverar em nossa atitude. No entanto, se ela desaprovar, humildemente devemos reconhecer diante de Deus o nosso erro e retornar ao princípio bíblico que Deus estabeleceu. Ele espera isso de todos nós.

Não podemos esquecer, que mesmo quando o verdadeiro Deus é adorado, podem existir problemas que tornam está adoração desagradável e mesmo inaceitável para Ele. Isto é o que podemos chamar de “cultuar de forma errada o Deus verdadeiro ou praticar o culto que não cultua a Deus”. Existem formas de culto que em vez de agradar a Deus o entristece: “as vossas solenidades, a minha alma aborrece; já me são pesadas; estou cansado de as sofrer” (Is.1:14).De acordo com Isaías 1:10-17, a maior queixa contra o povo é que este desobedecia continua e abertamente ao Senhor, mas continuava a lhe oferecer sacrifícios e ofertas, cultuando como se nada tivesse acontecido, como se fosse o povo mais santo da terra. Deus diz que aquilo era abominável (v.13), porque ele não podia “suportar a iniqüidade associada ao ajuntamento solene”.

O povo vinha até a presença de Deus, cultuava mas não mudava de vida. Apresentava-se diante de Deus coberto de pecados e sem arrependimento, pensando, talvez, que bastava cumprir os rituais e tudo estaria resolvido. Esse povo aparentemente participava com animação de todos os trabalhos religiosos, fossem festas, convocações, solenidades etc. E ainda era um povo muito dado à oração. Uma oração altamente emotiva, pois eles “estendiam as mãos” e “multiplicavam as orações” (v.15). Mas Deus disse que em hipótese alguma ouviria, pois eram mãos contaminadas e, certamente, orações vazias. Eram hipócritas.

O culto hipócrita que foi denunciado era causado pelo apego a mera formalidade, aos ritos, sem correspondência interior. Por fora tudo estava correto, mas interiormente essas ações litúrgicas não eram expressões de um coração agradecido. Era por essa razão que aquele culto se tornava uma coisa abominável ao Senhor. Assim o Senhor condenou o povo de Israel pela boca do profeta Isaías, dizendo: “este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu...” (Is.29:13). Ou seja, o que está nos lábios é correto, mas as motivações do coração são erradas. No fundo, todas essas expressões hipócritas não passam de atos mecânicos. São invenções humanas que não se importam com a vontade de Deus. O resultado final, é que o formalismo, associado à corrupção doutrinária, produzira um tremendo desvio do Senhor e um afastamento do verdadeiro culto que devemos a Deus. Infelizmente, esse é o tipo de culto que temos atualmente em grande parte das igrejas cristãs, um culto mecânico que desonra Deus, pois, não demonstra amá-Lo de todo coração, de toda alma, com todas as forças e com todo entendimento (Lc.10:27). Com propriedade, podemos dizer que esse é um culto que não cultua a Deus.

Jamais podemos nos esquecer que qualquer tipo de adoração não serve para Deus. Há maneiras corretas e outras erradas de se adorar a Deus. Convém aprender a maneira correta. Um culto oferecido a Deus de forma hipócrita, sem honrar a palavra, que perverte o uso dos elementos de culto, que é feito de forma mecânica, que não oferece o melhor ou que não vem acompanhado de uma vida santa, não pode agradar a Deus, NEM PODE SER CHAMADO DE UM CULTO QUE CULTUA A DEUS.

Deus não se agrada de tudo o que fazemos supostamente em seu nome, por isso devemos ser obedientes a Ele e descobrir o que realmente lhe agrada. Precisamos evitar procedimentos e costumes que inventamos, por melhores, mais atrativos e práticos que pareçam. Mas a questão final é: onde podemos descobrir a forma de culto que realmente agrada a Deus? A resposta é que esta forma de culto que cultua a Deus, esta na Sua Palavra. A Bíblia é nossa regra de fé e prática, somente nela podemos encontrar o ensino confiável para entendermos o que agrada a Deus. Se a desprezarmos e confiarmos em nossas técnicas modernas, certamente não estaremos honrando aquele que a inspirou e nos entregou para que fosse o meio pelo qual teríamos conhecimento dele.

A Confissão de Fé de Westminster no Capítulo 21, parágrafo 1, diz: “...a maneira aceitável de se cultuar o Deus verdadeiro é aquela instituída por Ele mesmo, e que está bem delimitada por Sua própria vontade revelada, para que Deus não seja adorado de acordo com as imaginações e invenções humanas, nem com as sugestões de Satanás, nem por meio de qualquer representação visível ou qualquer outro modo não prescrito nas Sagradas Escrituras”.

Portanto, podemos concluir afirmando, sem medo de errar, que todas as práticas absurdas encontradas nos cultos dos nossos dias, tais como: palmas para Jesus, apelos, danças, gargalhadas santas, cair no espírito, cuspe santo, cânticos em línguas, urros, amarrar, desamarrar, representações teatrais, curas, libertações, interromper o culto para cumprimentar os irmãos ou visitantes, luzes coloridas etc. se originaram de pessoas que não se deixaram guiar pela Bíblia, mas antes foram atrás de seus próprios raciocínios e de sua própria vontade (praticam o culto da vontade, onde a adoração é uma questão de gosto e conveniência). Se quisermos agradar a Deus nunca podemos negligenciar a Bíblia. A Palavra de Deus é a verdade (Jo.17:17) e obedecê-la é o melhor culto que poderíamos oferecer ao Senhor.

O polvo, a aranha e a estrela do mar

A estrela do mar é um animal extraordinário. Por sua característica única de reprodução no reino animal, ela representa algo profético para nós. Trata-se de um sistema neurológico espetacular que nos ajuda a entender princípios de governo e expansão do Reino de Deus.
Observemos uma outra criatura semelhante à estrela do mar: o polvo. O polvo possui tentáculos, mas ao contrário da estrela do mar, todo seu sistema neurológico está centralizado na cabeça de tal maneira que, se cortarmos um de seus tentáculos, outro tentáculo crescerá em seu lugar, mas a parte cortada morrerá. A aranha possui as mesmas características.
Já a estrela do mar, é diferente. Corte um ou dois de seus bracos, e igualmente outros crescerão em seu lugar. Mas a diferença é que as partes cortadas, cada uma delas, se tornam uma nova estrela do mar!
Ao invés de possuir um sistema neurológico “hierárquico” – como o polvo ou a aranha, em que os membros estão subordinados a uma cabeça e dependem dela para funcionar, a estrela do mar possui um sistema descentralizado, ou seja, não possui uma cabeça. Trata-se de uma rede neurológica em que cada membro possui a capacidade de se multiplicar e se tornar uma nova estrela do mar.
A diferença entre adição e multiplicação é a diferença entre crescimento linear e explosão. Mas no Reino de Deus, a multiplicação não é uma ciência exata, é uma questão de DNA. Na criação, Deus embutiu em cada semente o potencial de multiplicação para que aquela pequena semente se torne igual ao todo do qual se desprendeu (Gen 10:1-11). O homem pode somar, ajuntar, acrescentar, mas somente Deus pode prover as características necessárias a um organismo vivo para que a multiplicação aconteça.

Obreiros na lavoura

O crescimento é algo natural em qualquer organismo vivo. De acordo com Lucas 13: 18-21, a Igreja é aquela minúscula semente de mostarda que se torna uma enorme árvore, e a pequena medida de fermento com poder para levedar toda a massa (o mundo). Seu poder de crescimento é exponencial.
Como obreiros, nosso principal papel não é empregar “métodos de crescimento” ou técnicas humanas para “fazer a Igreja crescer”, mas somente permitir que a Ekklesia cause seu próprio crescimento (Efesios 4:16). Quando as juntas e medulas do Corpo estão propriamente conectadas, o resultado não pode ser outro a não ser a renovação e espontaneidade que, conseguintemente, causam este desenvolvimento natural e a seu próprio tempo.
A Igreja é retratada na Bíblia de muitas formas. Uma delas é a de uma lavoura (1Co 3.6-9). Presbíteros na Ekklesia são como agricultores nesta lavoura. E visto que o agricultor não possui absolutamente nenhum controle sobre a semente e não pode fazê-la brotar, o melhor que ele tem a fazer é criar um ambiente favorável ao seu desenvolvimento, adicionando nutrientes à terra, removendo as ervas daninhas que surgirão e deixando que a semente brote de forma natural, para tornar-se igual à planta de onde se originou, na expectativa de que ela gerará seus próprios frutos.
Cada membro do Corpo de Cristo é a boa semente do Reino com um potencial de multiplicação sobrenaturalmente embutido em seu DNA espiritual. O perfil do presbítero que Deus busca no século XXI é o do obreiro-lavrador, que proporciona um ambiente natural de crescimento exponencial, preparando a terra com nutrientes (comunhão e intercessão), removendo as ervas daninhas da lavoura (ensino e aconselhamento), permitindo que este discípulo cresça naturalmente, comissionando-o e enviando-o no devido kairós divino, para que ela siga seu próprio processo de multiplicação no Reino.
A parábola do semeador nos ensina que nem todas as sementes darão seu fruto, e não há nada que possamos fazer com relação a isso. Em contrapartida, aquelas que dão seu fruto, frutificam de forma exponencial – a 20, 30, 60 e 100 por um – multiplicando-se de tal forma a suprir até mesmo por aquelas sementes que não brotaram. Nosso papel, como obreiros do Reino, é simplesmente não estorvar este processo de crescimento natural com nossas tradições, inseguranças pessoais ou excesso de zelo.

Conclusão

Na visão tradicional de Igreja, o processo de multiplicação é frequentemente confundido com divisão. Por isso, normalmente insistimos em adotar sistemas eclesiásticos de governo centralizados em um único pastor, encapsulando a Igreja em uma unidade institucional que favorece o inchaço de feudos religiosos, mas é contra-produtiva à expansão do Reino na cidade. Tais sistemas são, na melhor das hipóteses, polvos e aranhas que proporcionam um crescimento linear à Igreja local, mas inibem seu potencial de crescimento exponencial, como o da estrela do mar.
Como obreiros, somente encarnaremos esta revelação quando renunciarmos ao posto de “Cabeça da Igreja” e devolvermos a Ekklesia ao seu verdadeiro Dono, aceitando a verdade bíblica de que pastores não são “cabeças “ou “sacerdotes” do rebanho. São somente cooperadores na lavoura, irmãos mais velhos e mais experientes que trabalham no intuito de equipar os mais novos para que ELES desenvolvam seu chamado sacerdotal e, consequentemente, façam a obra do ministério (Ef 4:11-12).
Crescimento linear ou exponencial? Polvo ou estrela do mar? Controle ou expansão? Que possamos escolher sabiamente para cumprir com a Grande Comissão nos dias que precedem a volta do Senhor.
Fonte: Pão & Vinho

Há algum conflito entre a fé e as obras?


Por Rev. Hernandes Dias Lopes
Muitos estudiosos da Bíblia encontram um irreconciliável conflito entre Paulo e Tiago acerca do que ensinaram sobre a fé e as obras. Paulo ensina que a salvação é recebida pela fé e não pelas obras (Ef 2.8,9). Tiago, por sua vez, ensina que sem obras a fé é morta (Tg 2.17). A grande pergunta é: Existe alguma contradição entre Paulo e Tiago? Estão esses dois escritores bíblicos em conflito? A fé exclui as obras ou as obras dispensam a fé? Precisamos entender que não há contradição nas Escrituras. Paulo e Tiago não estão batendo cabeça. Eles estão falando a mesma verdade, sob perspectivas diferentes. Paulo fala da causa da salvação e diz que somos salvos pela fé independente das obras. Tiago fala da consequência da salvação e diz que as obras é que provam a fé.

Tanto a fé como as obras são fundamentais quando se trata da salvação. A fé é a raiz e as obras são o fruto. A fé produz o fruto das obras e as obras procedem da seiva que vem da raiz. A fé é a causa e as obras o resultado. Não somos salvos por causa das obras, mas para as boas obras. Não praticamos boas obras para sermos salvos, mas porque já fomos salvos pela fé. As obras não nos levam para o céu, mas aqueles que vão para o céu, porque foram salvos pela fé, serão acompanhados por suas obras.

Tanto a fé como as obras procedem de Deus. A fé é dom de Deus. Não geramos a fé, recebemo-la. As obras que praticamos são inspiradas pelo próprio Deus, pois é ele quem opera em nós tanto o querer quanto o realizar. De tal forma que não há espaço para soberba por parte de quem crê nem por parte de quem realiza boas obras, pois tanto a fé como as obras vieram de Deus e devem ser direcionadas para Deus. Nossa fé deve estar em Deus e nossas obras devem ser feitas para a glória de Deus.

Deus mesmo planejou nossa salvação e ele mesmo a executa. Ele mesmo é quem abre nosso coração para crermos e ele mesmo nos dá poder para realizarmos as boas obras que atestam a autenticidade da fé. A fé prova nossa salvação diante de Deus e nossas obras diante dos homens. Deus vê a fé, os homens as obras. Fé e obras não se excluem, completam-se. A raiz sem frutos está morta; o fruto sem a raiz inexiste.

Aqueles que defendem a salvação pela fé sem a evidência das obras laboram em erro. De igual forma, aqueles que julgam alcançar a salvação pelas obras sem a fé. É preciso afirmar com meridiana clareza que a salvação é só pela fé e não pela fé mais o concurso das obras. Porém, a fé salvadora nunca vem só. A fé salvadora produz obras. Não provamos nossa salvação pela fé sem as obras, mas pela fé mediante as obras. As obras não são a causa da salvação, mas sua evidência.

Concluímos, afirmando que não há qualquer conflito entre Paulo e Tiago. Não há qualquer contradição entre fé e obras. Não podemos confundir causa e efeito. Toda causa tem um efeito e todo efeito é produzido por uma causa. As obras não substituem a fé nem a fé pode vir desacompanhada das obras. Fé e obras caminham de mãos dadas. Não estão em lados opostos, mas são parceiras. Ambas têm o mesmo objetivo, glorificar a Deus pela salvação. Somos salvos pela fé e somos salvos para as obras. Recebemos fé e fomos preparados de antemão para as obras. Não há merecimento na fé nem nas obras. Ambas vem de Deus. Ambas devem glorificar a Deus. Ambas estão conectadas com nossa salvação. A fé nos leva a Cristo e as obras nos levam ao próximo. A fé nos coloca de joelhos diante de Deus em adoração e as obras nos coloca de pé diante dos homens em serviço. Somos salvos pela fé para adorarmos a Deus e somos salvos para as obras para servirmos ao próximo.

Sou um tremendo santarrão



 
Por Maurício Zágari
Santarrão. Antes de Jesus me converter eu nunca tinha ouvido falar dessa palavra. É um jargão da Igreja protestante usado para designar pessoas que basicamente ostentam uma aparência de santidade externa sendo pecadoras e que vivem pondo o dedo na cara dos outros por seus pecados. Em linguagem bíblica, seria gente com trave no olho mas que está sempre apontando o argueiro no olho dos outros. Pois bem, eu gostaria de confessar publicamente que sou um santarrão. Cheguei a essa conclusão depois de me analisar à luz da Bíblia. Mas vamos por partes. Tomando por exemplo a definição acima de "santarrão", mostro aqui três constatações que me levaram a descobrir que sou um:

1. "Pessoas que basicamente ostentam uma aparência de santidade externa sendo pecadoras" - Começando pelo final da frase, confesso: eu sou um grande pecador. Sou pó, sou humano e carrego o pecado original. Nasci de novo em Cristo quando Ele me estendeu sua graça, mas isso não evita que todos os dias eu cometa uns 3 mil pecados. E isso antes de levantar da cama pela manhã. 1 João 1.8ss me denuncia: "Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós". E, sendo eu um miserável pecador, confesso que apesar disso procuro sempre mostrar aparência de santidade. O que, aliás, é o que todo cristão faz, não? Ou você encontra seus irmãos em Cristo e eles saem gritando pelos corredores os pecados que cometeram? Usam camisas e bandanas onde se lê "Hoje eu menti" ou "Sou um tremendo glutão"? Os adesivos que põem em seus carros dizem "Invejoso e fofoqueiro a bordo"? Não. Porque nenhum cristão faz isso. Todos nós procuramos nos apresentar com aparência de santidade, mesmo nos conhecendo e sabendo do mal que em nós grita e viceja.  Todos.

2. "Que vivem pondo o dedo na cara dos outros por seus pecados" - Pensei bem e vi que também faço isso. Denuncio pastores hereges que arrastam multidões para o erro, alerto sobre os teólogos que ensinam doutrinas de demônios, chamo meus irmãos em Cristo para a responsabilidade com aquilo que creem. Curiosamente, mais uma vez ao fazer isso estou sendo bíblico: em 2 Timóteo 4.2 Paulo diz: "Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina". Ele também fala em  1 Timóteo 5.1: "Não repreendas ao homem idoso; antes, exorta-o como a pai; aos moços, como a irmãos". Novamente repete a ordem em Tito 2.6: "Quanto aos moços, de igual modo, exorta-os para que, em todas as coisas, sejam criteriosos".  No mesmo Tito 2.15 prossegue: "Dize estas coisas; exorta e repreende também com toda a autoridade. Ninguém te despreze". E ainda poderíamos concluir com mais palavras de Paulo em Romanos 12.8a: "o que exorta faça-o com dedicação". Então vejo bastante base bíblica para exortar, admoestar. Ou, como disse, "pôr o dedo na cara".
 
Aí você poderia dizer: "Ah, Zágari, mas quem falou tudo isso foi o grande apóstolo Paulo, ele era um santo, tinha moral para isso. Que moral você tem?". Eu rio ao ouvir isso, pois é curioso que as pessoas não percebem quão pecador Paulo era. Dou só três exemplos bíblicos. Em 2 Coríntios 12, o apóstolo conta que Deus o arrebatou ao Paraíso, onde "ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir". Só que Deus sabia que Paulo era humano e que estava passível de sentir soberba por aquilo, pecador que era. Então o que o Todo-Poderoso faz? "E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte". Para ajudar Paulo a combater o autoengrandecimento, o Senhor põe o tal espinho na carne dele. Para auxiliá-lo a não pecar pela soberba.

Segundo exemplo da pecaminosidade de Paulo: em Gálatas 2.11  ele confessa: "Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti-lhe face a face, porque se tornara repreensível". Em outras palavras, Paulo teve um belo de um bate-boca com Pedro. Parece que o apóstolo tinha lá seus momentos de pega-pra-capar com os irmãos. E se essas duas provas não bastam e parecem especulativas, vamos ao terceiro exemplo: Atos 15 revela que o cabeça-quente Paulo mais uma vez entrou em uma briga com um irmão: "Alguns dias depois, disse Paulo a Barnabé: Voltemos, agora, para visitar os irmãos por todas as cidades nas quais anunciamos a palavra do Senhor, para ver como passam. E Barnabé queria levar também a João, chamado Marcos. Mas Paulo não achava justo levarem aquele que se afastara desde a Panfília, não os acompanhando no trabalho. Houve entre eles tal desavença, que vieram a separar-se". Note que a expressão "tal desavença" mostra que não foi uma simples discordância, mas uma divergência tão feia que fez a dupla de irmãos missionários rachar. Sim, Paulo estava sujeito a soberba, a brigas e desavenças com irmãos na fé: tudo pecado.
 
3. "Gente com trave no olho mas que está sempre apontando o argueiro no olho dos outros" - Já disse: sou um tremendo pecador. Se eu cruzasse comigo na rua provavelmente atravessaria para a calçada do outro lado. Sei o mal que há em mim. No meu olho há uma trave maior do que a do Maracanã. E sim, como eu disse, estou sempre apontando o erro dos outros, dizendo qual é o cantor gospel cuja letra é mundana, falando que o sacerdote x ou y ensina teologias demoníacas e anticristãs - como a da Prosperidade, a Relacional, a da Confissão Positiva, a Liberal e outros pensamentos  que por fora se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia. Eu faço isso, basta ler meus posts aqui no blog APENAS. No meu livro "A Verdadeira Vitória do Cristão", então, sai de baixo, denuncio o triunfalismo mentiroso dos pregadores hereges e manipuladores da primeira à última página - com provas bíblicas e históricas. Como amo Cristo e a Igreja, vivo apontando o argueiro nos olhos dos enganadores do povo de Deus, dos que usam dinheiro sagrado em benefício próprio, das celebridades gospel arrogantes, dos pastores vaidosos, dos lobos em pelo de cordeiro. Confesso: sim, eu faço isso.

Portanto, cumpro todos os requisitos para ser chamado de santarrão: peco, busco ter aparência de santidade, denuncio o pecado alheio. Taí, inegável, sou mesmo um santarrão. Porém...
 
...essa constatação nos leva a uma ponderação: como sou um santarrão devo me calar? Fechar o APENAS? Deixar de escrever livros? Deixar de proclamar o Evangelho? Isso faz de mim alguém  indigno de anunciar as verdades do Reino e a salvação por Cristo? Eis o ponto. Independentemente de eu ser um santarrão, Deus continua sendo Deus, Jesus continua sendo o caminho, o pecado continua sendo pecado. Um aspecto interessantíssimo que 1 Pedro 1.12 nos revela é que os anjos pediram a Deus o privilégio de anunciar o Evangelho. Faria sentido: seres sem pecado pregarem contra o pecado. Mas, veja você, quem é que o Altíssimo comissiona para proclamar as boas-novas de salvação, a santidade, o mau cheiro do pecado? Marcos 16 e Mateus 28 deixam claro que essa grande comissão foi delegada aos homens pecadores. Extraordinário. Pecadores necessitados de arrependimento denunciando o pecado de pecadores e os chamando ao arrependimento. Isso é hipocrisia? Se for, meu irmão, minha irmã, eu e você que anunciamos - sendo pecadores - que o pecador necessita se arrepender dos pecados e se voltar para Cristo somos gigantescos hipócritas.

E, sabendo que todo homem peca, todo cristão busca a aparência de santidade e que todo salvo para proclamar o plano de salvação teria de pôr o dedo na cara do pecador, sendo ele próprio pecador, e dizer "arrependa-se dos seus pecados", é justamente a todo homem manchado pelo pecado que Deus ordena que proclame a salvação por meio do Cordeiro sem mácula. Não é fascinante?

Em 2 mil anos de História da Igreja houve milhões e milhões de cristãos que proclamaram o Evangelho. Que chamaram pecadores ao arrependimento em Cristo. E absolutamente todos eles eram tremendos pecadores. Paulo: pecador, soberbo, brigão, mas é esse o homem que escreve sobre o amor em 1 Coríntios 13. Pedro: impulsivo, cortou a orelha de Malco, negou Cristo três vezes, e é esse que escreve na Bíblia: "segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo". Tremendos santarrões.

Mas vamos além: Agostinho, o grande teólogo dos primeiros mil anos de Igreja, era um conhecido rabo de saia.  Lutero, o grande Reformador, vivia bêbado. Calvino, o teólogo da Reforma, ajudou a condenar um homem à pena de morte. Consta que John Wesley viajava tanto para pregar porque vivia às turras com a esposa e viajar era um alívio. Charles Spurgeon (conhecido como "o príncipe dos pregadores") era um fumante convicto e pufava montes de charutos por dia, a ponto de ter defendido esse hábito de púlpito e dito que "fumava para a glória de Deus". Dietrich Bonhoeffer, mártir da Igreja no século 20, arquitetou planos para assassinar Hitler. Mauricio Zágari, escritor de alguns livros cristãos, tem tantos pecados que não caberiam num post. E você, será que se enxerga no meio de tão grande nuvem de testemunhas... pecadoras? Todos chamados por Deus para de alguma forma proclamar o Evangelho, a Cruz, a santidade, o arrependimento de pecados, Jesus Cristo. Todos poços de pecados. Logo, todos santarrões.

Sim, eu peco. Sim, procuro manter a aparência de santidade mesmo pecando. Sim, eu denuncio os erros dos outros tendo eu muitos erros. Sim, eu sou um santarrão. Mas Deus é Deus, independente de mim, e eu amo a mensagem da Cruz. E até morrer eu a vou proclamar.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.