quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Não, Cristo não é o sobrenome de Jesus: descubra o que esse título significa



Por R. C. Sproul
Por todo o Novo Testamento, nós encontramos muitos títulos para Jesus de Nazaré—"Filho de Deus", "Filho do Homem", "Senhor", entre outros. No entanto, o título que é mais frequentemente dado a Jesus no Novo Testamento é aquele que nos é familiar, mas que nós não entendemos bem. É o título de "Cristo".

Por que eu digo que nós não entendemos bem esse título? Eu digo isso porque "Cristo" é utilizado tantas vezes em conjunto com o nome "Jesus", que temos a tendência de pensar que esse é o seu sobrenome. No entanto, "Cristo" não é um sobrenome para Jesus. Ele teria sido conhecido como "Jesus Bar-José", que significa "Jesus, filho de José". Ao invés disso, "Cristo" é o título supremo de Jesus. Mas o que isso significa?

O significado de Cristo é tirado do Antigo Testamento. Deus prometeu aos antigos israelitas que o Messias viria para libertá-los do pecado. A ideia do Messias é transportada para o Novo Testamento com o título de Cristo. A palavra grega Christos, de onde nós obtemos a palavra Cristo, em português, é a tradução do termo hebraico Mashiach, que é a fonte para a palavra Messias, em português. Mashiach, por sua vez, está relacionada com o verbo hebraico masach, que significa "ungir". Portanto, quando o Novo Testamento fala de Jesus Cristo, ele está dizendo "Jesus, o Messias", que significa literalmente "Jesus, o Ungido".

Nos tempos do Antigo Testamento, as pessoas eram ungidas quando chamadas para servirem como profeta, sacerdote ou rei. Por exemplo, quando Saul foi o primeiro rei de Israel, o profeta Samuel ungiu sua cabeça com óleo, de forma cerimonial (1 Samuel 10:1). Este rito religioso foi realizado para mostrar que o rei de Israel tinha sido escolhido e capacitado por Deus para o reinado. Da mesma forma, os sacerdotes (Êxodo 28:41) e profetas (1 Reis 19:16) foram ungidos segundo o mandamento de Deus. Em certo sentido, qualquer um no Antigo Testamento que tenha sido separado e consagrado para servir era um messias, por ter recebido uma unção.

Mas o povo de Israel ansiava por aquele indivíduo prometido que era para ser, não apenas um messias, mas o Messias, Aquele que seria separado e consagrado por Deus de forma suprema para ser o Profeta, Sacerdote e Rei do povo. Assim sendo, no momento em que Jesus nasceu, existia uma grande expectativa entre os judeus que haviam esperado pelo Messias durante séculos.

Surpreendentemente, quando Jesus começou o seu ministério público, poucos o reconheceram por quem ele era, apesar das muitas evidências de que ele possuía uma unção de Deus que ultrapassou em muito aquela que repousara sobre qualquer outro homem. Sabemos que houve uma grande confusão a seu respeito, mesmo depois dele haver ministrado por algum tempo. Em um ponto, Jesus perguntou aos seus discípulos: "Quem diz o povo ser o Filho do Homem?" (Mateus 16:13 b). Ele estava analisando a sua cultura, verificando os rumores sobre si mesmo. Em resposta à pergunta de Jesus, os discípulos enumeraram vários pontos de vista que estavam sendo apresentados: "Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum dos profetas" (versículo 14). Jesus estava sendo identificado com todos os tipos de pessoas, mas nenhuma dessas especulações estava correta.

Em seguida, Jesus perguntou aos discípulos: "Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou?" (versículo 15b). Pedro respondeu com o que é conhecido como a grande confissão, uma declaração de sua crença sobre a identidade de Jesus: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (versículo 16). Com essas palavras, Pedro declarou que Jesus era o Christos, o Mashiach, o Ungido.

Então Jesus disse algo interessante. Ele disse a Pedro que este era abençoado por ter aquela compreensão da identidade de Jesus. Por que ele disse isso? Jesus explicou: "porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus" (versículo 17). Pedro havia recebido uma revelação divina de que Jesus era o Messias, não era algo que ele havia discernido pela sua própria capacidade. Novamente, isso me deixa maravilhado, porque alguém poderia pensar que quase todo mundo que encontrou Jesus o tenha reconhecido imediatamente como o Messias. Afinal, não há falta de informação no Antigo Testamento sobre a vinda do Messias—onde ele nasceria, como ele se comportaria e que poder ele manifestaria— e todos podiam ver o que Jesus estava fazendo—ressuscitando pessoas dentre os mortos, curando todos os tipos de doenças e ensinando com grande autoridade. Mas, é claro, eles não o reconheceram. A unção de Jesus não era imediatamente aparente.

Muitas pessoas hoje em dia têm coisas positivas a dizer sobre Jesus como um modelo de virtude, um grande mestre e assim por diante, mas eles não chegam a dizer que ele é o Messias. Esta é a grande diferença entre cristãos e não cristãos. Só quem nasceu de novo pode confessar que Jesus é o Cristo. Você pode?

A mulher santifica o marido descrente – O que isso significa?


Por Josemar Bessa

Este é um problema que surgiu na igreja em Corinto, e certamente surgiu em toda a igreja primitiva. Algumas pessoas tentam usar esse texto com o propósito de validar um servo de Deus escolher alguém ímpio para se casar. Esse é o problema de ir a Bíblia tentando achar justificativas para escolhas que Deus deixou claro que não devem ser feitas, e não ir a Bíblia para buscar a verdade de Deus sobre todas as coisas, inclusive relacionamentos, casamentos...

Paulo está falando sobre a conversão de um homem ou mulher casados, quando o outro cônjuge permanece ímpio, e não sobre o servo de Deus deliberadamente escolhendo esta situação. Essa era uma situação comum na igreja primitiva e hoje também: “Se algum irmão tem mulher descrente, e ela consente em habitar com ele, não a deixe. E se alguma mulher tem marido descrente, e ele consente em habitar com ela, não o deixe.” - 1 Coríntios 7:12-13

Imagine, por exemplo, uma mulher que pela pregação da Palavra foi regenerada e creu no Evangelho. Ela se tornou viva, se arrependeu, exerceu fé. Ela é uma nova criatura em Cristo mas está casada com um marido não-cristão (ou  um marido com uma esposa não-cristã).

A questão que surgiu naqueles dias, e que é pertinente hoje é: e agora, devo me divorciar? A luz está ligada as trevas...? Serei corrompido por este relacionamento? A pureza de Cristo vai ser corrompida por isso? Paulo está falando de alguém que sendo regenerado tem agora uma vida para o Senhor... e não de um cristão nominal, mundano... em que o estilo de vida nada mais é do que o do mundo, escolhendo deliberadamente estar em jugo desigual... Mas de alguém que se converte já estando casado ou casada. Então ele diz: “E se alguma mulher tem marido descrente, e ele consente em habitar com ela, não o deixe.” – Ou seja, se por causa do sua vida em Cristo o cônjuge descrente quiser deixá-lo, a relação com Cristo tem toda a prioridade, mas se o descrente consente em viver junto, essa não é uma razão para deixar o relacionamento (casamento). Paulo não está falando de alguém que é cristão escolhendo deliberadamente um cônjuge não cristão.

A questão em Corinto (e ainda hoje ) era – Estou sendo corrompido, minha pureza em Cristo está sendo corrompida? Devo deixar meu casamento? E outro pensamento que surgiu junto com esse era: E meus filhos? Se eu sou cristã e meu marido não é cristão, os meus filhos vão ser poluídos, impuros pela presença de um não cristão (ímpio) na família? Preciso sair dessa situação para proteger meus filhos das más influências do cônjuge não regenerado? Todas essas questões eram comuns quando alguém em um mundo pagão era regenerado e o cônjuge não. Muitas vezes, o marido não convertido abandonava a esposa – mas a questão era se isso podia partir do convertido. A resposta como vimos era: “E se alguma mulher (ou marido) tem marido descrente, e ele consente em habitar com ela, não o deixe.”(v.13) – O verso 15 diz que se o cônjuge incrédulo desejar se divorciar por causa de Cristo, da conversão do outro cônjuge, este que foi abandonado não está mais preso aquela pessoa: “Mas, se o descrente se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou irmã, não esta sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz. Porque, de onde sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? ou, de onde sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?” 1 Coríntios 7:15-16 – Se ele quer ir, deixai-o ir. Ou seja, se for a escolha do cônjuge não regenerado, por causa do evangelho, se divorciar, deixe-o ir. Mas você ( que foi regenerado ) não faça isso. Por quê. O verso 14 diz: “Porque o marido descrente é santificado pela mulher; e a mulher descrente é santificada pelo marido; de outra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos.” - 1 Coríntios 7:14
 
Paulo não está falando de salvação. Nem todos os cônjuges incrédulos se converterão, isso não é algo que se possa contar como certo. Ele diz: “Porque, de onde sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? ou, de onde sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?” – Ao falar então que “o marido descrente é santificado pela mulher; e a mulher descrente é santificada pelo marido” – o que Paulo está ensinando?



Paulo está simplesmente dizendo que é o inverso que acontece – se de fato o cônjuge convertido foi de fato regenerado e vive uma nova vida – deve entender que maior é aquele que agora habita, dirige e santifica ele do que aquele que está no mundo. O poder e a graça de Deus manifesta na vida do cônjuge convertido é tão grande, que ao invés de dele ser influenciado pelo mal na vida do não regenerado, o não regenerado será influenciado pela graça, que opera os frutos do Espírito, e o poder de Deus na vida do convertido. Esse é o ponto de Paulo, ao invés do marido descrente ter uma influência mundana ou não santificadora sobre a esposa, o oposto é verdadeiro, a luz resplandecerá sobre as trevas, e o outro sofrerá a influência da vida transformada do que foi regenerado e é uma nova criatura.

Agora, de que tipo de santificação estamos falando? A palavra está falando simplesmente que há um certo grau de pureza, um certo grau de separação do mal... Ou seja, o cônjuge cristão em um casamento, reduz a força total da impureza e do mal na vida do lar. Num casamento entre dois incrédulos, você tem um mal absoluto operando. Você tem o mundo, a carne, o diabo... e você não tem nada para mitigar este mal. Este mal não tem nada para diluí-lo, enfraquecê-lo. Mas quando um desses cônjuges de fato se converte, de fato é regenerado, esse mal que era absoluto é atenuado.

Então estamos falando aqui de “santificação conjugal”, santificação familiar e não de santificação espiritual produzida pela salvação de um homem. O ponto aqui é que você, que foi regenerado, vai exercer um efeito positivo na medida em que sua presença naquele ambiente íntimo, na casa, no casamento... é sustentado pela graça e o poder de Deus para uma nova vida, e a benção de Deus que flui através dessa nova vida, irá atenuar o mal, que num casamento entre incrédulos seria pleno. Ou seja, haverá um efeito santificante num sentido temporal, num sentido terreno sobre o seu cônjuge descrente. E esse efeito atingirá os filhos: “...de outra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos.” - 1 Coríntios 7:14



A palavra é usada aqui nestes mesmos termos. O que significa? Se o convertido está preocupado com seus filhos, seriam “imundos” crescendo num lar assim... O que Paulo está ensinando é – Se ambos os pais são não-cristãos, há um nível de mal absoluto que domina o lar, porque Deus não está lá em seu poder e graça. Mas sendo um dos cônjuges é de fato regenerado, os filhos  já não estão sob o impacto total da impureza de uma vida não regenerada, mas em certo grau, este mal é mitigado, restringido, há um certo grau de separação do mal pela presença de uma mãe ( ou pai ) cristão (Regenerado).

Ou seja, sua relação com Deus e a benção que flui de sua vida separada para Deus, terá um efeito positivo sobre o marido e os filhos, um efeito de restrição, em parte, do mal de uma vida não regenerada.  Então Paulo diz, não se separe por causa disso. Se isso partir do cônjuge não cristão por causa de Cristo, você não estará mais em servidão, mas não parta de você por esses motivos alegados. Fique lá, e a obra de Deus através da sua vida terá um impacto atenuante sobre o mal em seus filhos e seu lar. Mitigando o mal que seria pleno pela influência de sua vida limpa e santa que flui da regeneração e santificação de sua vida.

Não há garantias de salvação - “Porque, de onde sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? ou, de onde sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?” – Mas a presença de uma pessoa regenerada e vivendo para Deus, mitigará o mal, influenciando e não sendo influenciada.

Fonte: Josemar Bessa

A Mulher Siro-Fenícia – existe lugar para cachorro?

 
Por Emilio Garofalo Neto
O encontro de Jesus com a mulher Siro-Fenícia é um dos pontos mais complicados e intrigantes dentre todos os encontros registrados de Jesus. Leia o texto, Mateus 15.21-28 (Marcos 7.24-30).

O que está acontecendo aqui? Por que Jesus está interagindo com essa estrangeira? Ele não veio para os da casa de Israel? Por que ele a chama de cadela? E por que ela nem se ofende?

É preciso entender algumas coisas sobre o contexto do que vem se passando nesse ponto do evangelho e também algumas considerações sobre etnia para vermos bem o que esse texto ensina.  Após andar por toda a Galileia  Jesus estava para começar um período mais intenso de instrução aos Doze; isso envolveu ele se dirigir mais frequentemente a regiões gentílicas. Nesse evento Jesus vai para noroeste da Galileia  para a região de Tiro, onde fica hoje o Líbano. Note que este era terreno gentio: território de antigos inimigos e (às vezes) aliados de Israel; foram os de Tiro que introduziram a adoração a Baal para Israel. Foram eles que se aliaram a Davi e Salomão em certas ocasiões.  Isso é importante em nossa história, não é que uma mulher gentia aparece em território judeu – Jesus e seus discípulos é que estão indo, intencionalmente ao território dela.

Precisamos entender um pouco melhor biblicamente essa questão da diferença étnica, da identidade cultural.  O ideal de pureza racial é uma tolice, mas todos nós entramos um pouco nele. Todos temos uma origem comum em Adão e Eva, e depois, em  Noé,  a partir de três grandes ramos (Sem, Cam e Jafé). Deles vem toda a diversidade do mundo. Não percebemos, mas instintivamente achamos que na história bíblica os personagens ou são brancos caucasianos ou o que chamaríamos de árabes hoje em dia; Livros de histórias bíblicas infantis perpetuam estas ideias errôneas. Mas a realidade é muito mais complexa. Os Hebreus são apenas um de diversos grupos semitas;  e mesmo dentro desse grupo não há uma linhagem de pureza étnica. Vamos lembrar a origem destes: Abraão vem da Terra de Ur. Isaque voltou para conseguir uma esposa dentro os Arameus, assim o fez também Jacó (Israel). Mas os filhos de Jacó se casam com mulheres Cananeias e José se casa com uma Egípcia. Desta mistura vêm as tribos de Israel! Hoje talvez pensemos em judeus como um povo bem branquelo ( fãs de Big Bang Theory sabem disso…), porque mais tarde houve bastante mistura como povos europeus. Mas Jesus e seus discípulos não eram assim. No AT, temos exemplos de povos diversos como os oriundos da África negra, Egípcios, Fenícios, Assírios… Sabe quem eram os mais parecidos fisicamente com os caucasianos de hoje? Os Filisteus e os Hititas.

Com isso tudo em mente voltemos ao encontro de Jesus com essa gentia. Vale lembrar que você, distinto leitor(a), provavelmente tem mais  em comum com ela do que com Jesus e os discípulos – nós somos gentios.  Nascida gentia, com background pagão. Não uma filha de Abraão geneticamente… Ela sabe que não poderia vir até Jesus, mas ela foi assim mesmo; Tim Keller diz “Existem covardes, existem pessoas normais, existem corajosos e existem pais” – ela vai encarar o que for necessário pelo bem estar de sua filhinha.

Algo estranho se passa então, como é que aqueles que deveriam estar aprendendo de Jesus se ressentem da presença dessa gentia? Por quê? Por que é que eles não abraçam essa mulher e a acolhem ao pacto? Ela está voluntariamente vindo até Cristo e eles querem rejeitá-la. Se a diversidade étnico-cultural é algo criado por Deus, porque ressentimos tanto? Em nossa pecaminosidade nós não gostamos da diversidade criacional, preferimos a unidade e a segurança dos semelhantes.

Mas e Jesus? Ele a trata melhor que os fariseus ou os discípulos fariam. Como assim trata bem? Ele a chama de cadela! Vamos olhar com mais cuidado para estas palavras duras. Não é surpresa pra ninguém que há varias sugestões de interpretação dessa passagem. Creio que o que está acontecendo aqui é um teste elaborado por Jesus para examinar o coração dela e o coração dos discípulos.
Vejamos:

 

1 – O teste para a mulher


Havia desde o início uma prioridade pactual a Israel; mas o pacto com Abraão já deixava claro que a salvação estaria disponível a todas as nações da terra – prioridade nunca foi exclusividade. Tivemos exemplos como Rute e Raabe – que foram parar na genealogia do Senhor Jesus. A ideia era que primeiro se alimentam as crianças da casa e não os cães – os judeus sendo primeiro e depois os gentios. Mas lembre-se da historia do próprio Senhor Jesus e seu acolhimento frequente entre gentios quando mesmo os judeus não queriam nada com ele. Herodes tentou matá-lo quando ainda neném, ele foi se refugiar em terreno gentio com seus pais. Os fariseus e escribas queriam acabar com ele. As cidades o rejeitavam; mas os magos gentios do oriente vêm e o adoram. Israel era lugar perigoso; terrenos gentios eram seguros.  

Curiosamente gentios em muitos casos eram mais abertos que os judeus. Ele elogia a fé de gentios como o centurião enquanto critica a falta de fé dos judeus. Parece que as crianças estão recusando a comida… devem achar que não precisam mais de pão. Jesus usa a percepção das separações étnicas para avaliar sua fé; talvez ele estivesse querendo ver se ela não estava no fundo apenas buscando um operador de milagres, ou se entendia que ele era algo mais.

A mulher não se ofende com as duras palavras de Cristo; ela sabe que não tem direitos diante de Deus. Se o que Deus tem pra ela são migalhas, ela as aceitará de bom grado. Quão diferente da atitude arrogante de tantos que se julgam merecedores! Ela demonstra uma medida de fé: note que ela chega ajoelhando, ela o chama de Senhor, ela sabe acerca de seu poder. Com o pouco de conhecimento acerca de Cristo que tem ela já é movida a ação. Note ainda que ela pega muito mais rápido a linguagem figurada do que os discípulos! Jesus não precisa ficar explicando as metáforas como tinha que fazer com os doze… Ele no fundo diz: você não é digna de se sentar à mesa. Mas ele deixa a porta aberta ao dizer primeiro se alimentam as crianças… quem sabe não sobra algo para você. É vital notarmos que ela aceita sua condição – ela reconhece que não é digna de ser ajudada por Cristo. Ela com fé diz: eu não mereço pão, não sou parte do povo escolhido, se pela tua bondade o que tem para mim são migalhas, quero as migalhas com alegria! Ela não declara ou exige pão, como se merecesse. Ela não é orgulhosa a ponto de não aceitar o que Cristo diz acerca dela! Mas nós somos muitas vezes. Nós odiamos a ideia de que somos depravados e impuros; afinal passamos a vida ouvindo comerciais de TV dizendo que merecemos tanto… aceitar o que a Bíblia fala a nosso respeito é difícil! À luz disso tudo, Jesus elogia sua fé; coisa que não vemos ele fazendo acerca dos discípulos! Logo antes tinham sido  repreendidos pela sua falta de entendimento. Ela passa no teste com louvor. E ela recebe mais que migalhas, não é verdade?

 

2 – Teste para os discípulos


Lembre-se que por vezes Jesus, o grande professor; lançava perguntas complicadas ou dizia coisas estranhas para fazer o povo pensar e agir. Lembre-se que às vezes ele falava um provérbio comum de sua época e logo virava ele de cabeça para baixo, mostrando que a sabedoria popular era muitas vezes tolice popular. Creio que isso está acontecendo aqui também.

Em Mateus fica registrado que os discípulos pediram que Cristo se livrasse dela; eles não eram tão diferente dos fariseus em sua falta de compaixão. Mas o que eles tinham de ter feito era ter pedido a Cristo por ela! Talvez ao Jesus falar aquilo ele estivesse esperando pela ação dos discípulos. A essa altura, eles já deveriam ter aprendido misericórdia com Cristo – Pedro mesmo já clamara ao Senhor por ajuda como ela estava fazendo ali. Essa é a primeira falha.

Mas a outra falha dos discípulos é mais interessante. Note bem. Eles ouviram Jesus dizer algo como “não há pão suficiente…os cães só comem se sobrar… é um mundo de recursos limitados…não há pão para todos…alguém tem de ficar sem pão.” Agora, note na sua Bíblia o que acontece no capítulo anterior e o que acontece no capitulo seguinte. Percebeu? Essa história esta entre as duas ocasiões da multiplicação do pão!! Na economia do reino a surpreendente mensagem é que há pão para todos! Os discípulos ainda estão operando numa visão humana mui limitada do alcance da graça e do poder de Cristo. Eles deveriam ter tido:  “mas Senhor, tu és capaz de fazer pão se multiplicar – não há limites! Não é necessário que apenas as crianças comam!” Israel era culpado de usar a verdade de sua prioridade como desculpa para não ir aos gentios, para não fazer o que Cristo estava fazendo! Indo na terra de gentios e trazendo boas novas a estes!

O evangelho do reino é para todas as nações; as boas novas envolvem o fato de que Cristo morreu numa cruz para que cães de toda raça, língua e nação pudessem ser adotados na família e se sentarem à mesa, tornando-se criacinhas. Dá pra ver porque é que chamam de boas novas?

A TEOLOGIA DO CACHORRO E DO GATO

Por Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho

Ganhei um bom livro: A teologia do cachorro e do gato. O título é estranho? Mas seu conteúdo é sério. Os autores, Sjogren e Robinson, começam com uma anedota sobre cachorros e gatos. O cachorro diz: “Você me acaricia, me alimenta, me abriga, me ama. Você deve ser Deus”. O gato diz: “Você me acaricia, você me alimenta, me abriga, me ama, eu devo ser deus”. A seguir, os dois mostram as diferenças entre cristãos tipo cachorro e tipo gato.


O cachorro segue por amor, é dedicado, põe a vida no reino. O gato quer coisas boas, mas sem compromisso. Quer promessas, o cuidado de Deus, da igreja, do pastor. Não se preocupa em ser útil, instrumento nas mãos de Deus. Ele é seu mundo.

Os autores ainda dizem que “Os cães têm donos, os gatos têm funcionários”. Sei disso. Tive vários gatos: Jairzinho, Schleiemacher, Kierkegaard, Platão, Sócrates, Mahavira. Éramos seus servidores.

O livro focaliza os dois tipos se portam no tocante ao senhorio de Deus. O cachorro tem Deus como Senhor em qualquer circunstância. O gato tem Deus como Senhor enquanto receber bênçãos. Quando as coisas apertam, os crentes gatos somem da igreja! E, havendo mais vantagem do outro lado, o crente gato vai para lá. Se o mundo apresentar uma proposta de mais felicidade (os gatos só buscam bênçãos e felicidade) o evangelho será deixado e a igreja abandonada. O crente gato se rege pela lei de Gérson: levar vantagem.

Jesus falou a ouvintes tipo gatos: “A verdade é que vocês estão me procurando, não porque viram os sinais miraculosos, mas porque comeram os pães e ficaram satisfeitos” (Jo 6.26). A multidão não ligava para ele. Queria barriga cheia. Há gente assim, que não ama a Jesus. Só quer coisas boas.

Platão disse que “Odiamos a injustiça não por amor à justiça, mas com medo de que a injustiça caia sobre nós”. Ou seja: muitos dos nossos sentimentos e ações não são motivados por amor à verdade, mas por interesse. Uma vida cristã sadia não se pauta por interesse. O fundamento é o amor. Deus não deve ser buscado pelo que nos pode dar (ele já nos deu, e muito!), mas por aquilo que ele é. Jesus deve ser seguido não como se fosse a fada madrinha, com uma varinha mágica para resolver nossos problemas. Mas porque é Jesus Cristo, o incomparável, com uma proposta de vida que ninguém iguala, e na qual nos realizamos por ser a vontade de Deus para nós.

Gato é charmoso. Chamar alguém de “gato” é um elogio. E de cachorro, uma ofensa. Mas em matéria de teologia, como dizem Sjogren e Robinson, a melhor é a do cachorro. É sadia. A do gato é desfocada e mesquinha. Neste sentido, seja um cachorro. Crentes gatos são infantis.