sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

A família sob ataque

Por Rev. Hernandes Dias Lopes
A família brasileira está encurralada por crises medonhas. Há uma orquestração perversa contra essa vetusta instituição divina, com o propósito de solapar seus alicerces e desconstruir seus valores. Abordaremos, aqui, quatro forças poderosas que se voltam contra a família nos dias presentâneo.

1. A mídia televisiva. A televisão é ainda o mais poderoso instrumento de comunicação de massa em nossa nação. É considerada o quarto poder. A televisão brasileira é conhecida em todo o mundo pela sua descompostura moral. As telenovelas brasileiras são as mais imorais do mundo. Talvez nunhum fenômeno exerça mais influência sobre a família brasileira do que as telenovelas da Rede Globo. O argumento usado para essa prática é que a televisão apenas retrata a realidade. Ledo engano. A televisão induz a opinião pública. Ela não informa, mas deforma. Não esclarece, mas deturpa. Agora, de forma desavergonhada a televisão brasileira abraçou a causa homossexual com o propósito de induzir a sociedade a aceitar como opção legítima a relação homoafetiva. Não se trata de um esclarecimento ao povo sobre o referido assunto, mas uma indução tendenciosa. Os programas que tratam da matéria são feitos com a intenção de escarnecer dos valores morais que sempre regeram a família e exaltar a prática homossexual, que a Escritura chama de um erro, uma torpeza, uma abominação, uma disposição mental reprovável, uma paixão infame, algo contrário à natureza (Rm 1.24-28).

2. A suprema corte. A suprema corte brasileira, o Supremo Tribunal Federal, por unanimidade, legitimou os direitos da relação homoafetiva. A nação brasileira já colocou o pé na estrada do relativismo moral, da absolutização do erro, do desbarrancamento da virtude, da conspiração irremediável contra a família. Os juízes de escol da nossa nação reconheceram como legal e moral a relação de um homem com um homem e de uma mulher com uma mulher. Precisaremos, portanto, redefinir o verbete casamento e criar um novo conceito para família. Estamos colocando os valores morais de ponta cabeça. Estamos desmoronando o que Deus edificou. Estamos nos insurgindo não apenas contra a família, mas contra o próprio Deus que instituiu o casamento e estabeleceu a família. Desta forma, julgamo-nos sábios, tornamo-nos loucos, pois ninguém pode desfazer o que Deus faz e ninguém pode insurgir-se contra Deus e prevalecer.

3. O ministério da educação. Com os recursos suados dos trabalhadores brasileiros que, com dignidade lutam para o progresso da nação, o ministério da educação está lançando um kit gay, para ser distribuído nas escolas públicas, cuja finalidade, mais uma vez, não é esclarecer crianças e adolescentes sobre a sexualidade, mas induzi-los à prática homossexual. Querem tirar das famílias o privilégio de orientar seus filhos. Querem domesticar a consciência das nossas crianças, induzindo-as a essa prática que avilta o ser humano, escarnece da família e afronta ao criador. É preciso tocar a trombeta aos ouvidos da sociedade, para repudiar essa iniciativa infeliz do ministério da educação, que em vez de sair em defesa da família, e promover a educação, lança sobre ela seus dardos mais mortíferos. Em virtude da pressão da bancada evangélica e não por dever de consciência, nestes últimos dias, a presidente mandou suspender o referido kit.

4. O congresso nacional. Está na pauta do congresso nacional um projeto de lei que visa criminalizar aqueles que se manifestarem contra a prática homossexual, contrariando, assim, a constituição federal, que nos faculta a liberdade de consciência e de expressão. Contrariando, outrossim, os preceitos da Palavra de Deus que, considera a relação homossexual como algo contrário à natureza e uma abominação para Deus (Lv 18.22; Rm 1.24-28; 1Co 6.9-11). Essa lei visa não apenas legitimar o ilegítimo, tornar moral o imoral, mas também, punir com os rigores da lei, aqueles que, por dever de consciência, não podem se curvar ao erro. Povo de Deus, não podemos nos calar diante dessas ameaças!

O PASTOR E A SUA FAMÍLIA


Por Pr. Silas Figueira

Quando Dietrich Bonhoeffer estava encerrado na prisão nazista escreveu um sermão para o casamento de uma sobrinha sua. Disse ele: “O casamento é maior que o amor que vocês têm um pelo outro. Ele tem em si grande dignidade e força por ser a ordenança santa através da qual Deus planejou a perpetuação da raça humana, até os fins dos tempos. No amor que os une, vocês veem apenas a si mesmos no mundo, mas ao se casarem tornam-se um elo na cadeia das gerações que Deus faz aparecer e partir para a Sua glória, chamando-as para o seu Reino... Seu amor é propriedade particular, mas o casamento não pertence apenas a vocês; é um símbolo social, uma função de responsabilidade”.

Com o advento do cristianismo, o casamento alcançou santidade e significação tais como nunca se ouviu falar nos tempos antigos. A dignidade da mulher, de há muito esquecido, foi como que redescoberta, e seu valor reconhecido. Nem mesmo a lei romana ou a mosaica concediam à mulher direito em pé de igualdade com os do homem, em importância e santidade. No cristianismo, a esposa, tanto quanto o marido, têm direitos à total fidelidade do companheiro. A esposa deixa de ser meramente a ajudadora do marido na vida presente, para ser coerdeira com ele da vida eterna (1Pe 3.7).

A mais elevada concepção de casamento, nos tempos antigos, era a de um relacionamento moral. O casamento cristão é algo ainda mais sublime – um mistério (Ef 5.32). Esse mistério é o relacionamento entre Cristo e a Igreja, que é o reflexo do casamento. Por isso que as vidas pública e privada do pastor devem estar em harmonia.

James K. Bridges citando Spurgeon disse que em seu livro Lições a Meus Alunos, Charles Spurgeon exorta os ministros a se empenharem a fim de que o caráter pessoal se harmonize, sob todos os aspectos, com o ministério que Deus lhe confiou. Ele conta a história de uma pessoa que pregava tão bem e vivia tão mal, que quando ele estava no púlpito, todos diziam que ele nunca deveria sair dali; e quando não estava no púlpito, todos diziam que ele nunca deveria tornar a subir nele. Depois, Spurgeon desafia-nos com essa analogia: “Que nunca sejamos sacerdotes de Deus no altar e filhos de Belial fora das portas do tabernáculo”.1  A vida cristã do pastor começa dentro de casa, junto a sua família e não dentro da igreja, atrás do púlpito. Temos visto muitos pastores que são como Naamã, herói para a comunidade e leproso dentro de casa. Alguém ovacionado na nação, mas rejeitado dentro do próprio lar. Muitos são sacerdotes dentro da igreja e filhos de Belial para a família. Não são poucos os casos de pastores em crise familiar e não são poucos que já partiram para o divórcio.

Porque isso tem ocorrido com a família pastoral? Creio que isso ocorre porque muitos pastores tem rejeitado o conselho de Paulo a Timóteo: “Fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja. É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento; e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?)(1Tm 3.1-5). Grifo nosso.

Certa revista publicou interessante matéria sobre o piloto automático: "Um dos grandes prodígios da ciência moderna é o piloto automático. Enormes bombardeiros e aviões de transporte cortam o espaço a centenas de quilômetros por hora, com a terra coberta pelas nuvens, ou pela escuridão; seguem, porém, o seu curso com os movimentos automaticamente controlados por giroscópios".

A agulha giratória é usada quando o piloto determina o rumo a ser seguido pelo aparelho; mesmo que o seu destino fique além-mar, ele sabe que será atingido. É possível que nós, pais, pastores, ainda não tenhamos marcado quaisquer alvos. No entanto, chegou a hora de fazê-lo; estamos, afinal de contas, conduzindo algo muito mais precioso do que os aviões de carga; estamos conduzindo toda a nossa família.

Já que o ministério pastoral começa dentro de casa, o pastor deve ter o cuidado redobrado em relação ao seu lar. Para isso, o pastor deve observar três coisas básicas:

1º PLANEJE O SEU CASAMENTO

Em nenhum outro lugar encontramos o padrão divino para o casal expresso de maneira mais clara e simples que no primeiro comentário bíblico a respeito do relacionamento entre o homem e a mulher. “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” (Gn 2.28). “Unir-se ao cônjuge” é uma expressão que abrange todos os aspectos do relacionamento entre marido e mulher. Por isso, é de vital importância que aquele que se sente chamado para o ministério cristão – pastor, evangelista, missionário – seja extremamente cuidadoso em escolher o cônjuge. No namoro, o provável candidato ao ministério deve ter cuidado em namorar somente cristãs não só nascidas de novo, mas cheias do Espírito Santo e que esta esteja disposta a servir no ministério com o seu marido aonde o Senhor mandar.

O jugo desigual não é só de crente com o descrente, mas pode ser também entre crentes, principalmente em relação ao ministério. Se o pastor tem um chamado específico para um determinado lugar e a esposa não quer o acompanhar já começa a crise no lar. Por isso que um lar deve ser constituído com muita oração e discernimento espiritual, pois aquilo que poderia ser uma bênção pode tornar-se uma maldição.

2º TENHA EM MENTE QUE O CASAMENTO DEVE SER INDISSOLÚVEL

O casamento deve ser para toda a vida. E esta é uma união permanente. No projeto de Deus o casamento é indissolúvel. Ninguém tem autoridade para separar o que Deus uniu. Por isso que antes de falar sobre divórcio, Jesus falou sobre o casamento (Mt 19.3-6). Podemos comparar o casamento a uma viagem a dois, onde muitas coisas podem ocorrer nesse trajeto até que a morte os separe. Por isso que o marido e a mulher devem estar juntos na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na prosperidade e na adversidade. Só a morte pode separá-los (Rm 7.2; 1Co 7.39).

Creio que se o casal observar esses dois princípios básicos a palavra divórcio não existirá no vocabulário do cônjuge. O casamento foi a única instituição estabelecida por Deus antes da queda. Ele deve ser considerado digno de honra por todos os povos, em todos os lugares, em todo o tempo (Hb 13.4). O casamento é uma instituição divina para os cristãos e para os não cristãos, e Deus é testemunha dessa aliança, quer eles entendam ou não. Por isso, Deus odeia o divórcio tanto daqueles que o conhecem quanto daqueles que não o adoram como Senhor (Ml 2.16).2 Embora a sociedade pós-moderna esteja fazendo apologia ao divórcio, os princípios de Deus não mudaram, nem jamais mudarão.

3º O CASAMENTO NÃO PODE SER POR CONVENIÊNCIA

O casamento não é mera conveniência para vencer a solidão, nem um expediente para perpetuação da raça. Primeiro, e acima de tudo, o casamento é o espelho do relacionamento divino-humano. Todo casamento foi feito para representar a Deus: Seu relacionamento consigo mesmo – Pai, Filho e Espírito Santo – como também o Seu relacionamento com o Seu povo (Ef 5.32). O pastor precisa ter em mente que o casamento exatamente isso, pois ele precisa vivenciar essa comunhão com o seu cônjuge como também ensinar aos futuros casais.

Quem embarca em um casamento por conveniência está fadado a viver uma vida infeliz e ser uma infelicidade na vida da esposa e dos filhos. Busque em Deus uma esposa, pois esta o Senhor tem para o pastor, veja o que Salomão tem a nos dizer a respeito disso em Pv 18.22: “O que acha uma esposa acha o bem e alcançou a benevolência do SENHOR”. Deus, mais do que ninguém, está interessado em ver o lar do pastor abençoado.

Prioridades na família

 
Por Rev. Hernandes Dias Lopes

A família é um projeto de Deus. Foi a primeira instituição divina. E foi criada para a glória de Deus e nossa felicidade. Para que a família colime esse elevado propósito, necessário se faz que observemos algumas prioridades.
Em primeiro lugar, Deus precisa vir antes das pessoas. Devemos amar a Deus com toda a nossa alma e de toda a nossa força. Devemos buscar em primeiro lugar o seu reino e a sua justiça. Para ser um discípulo de Jesus é preciso estar disposto a deixar pai e mãe e amá-lo mais do que qualquer outra pessoa, por mais achegada que seja a nós. Deus ocupa o primeiro lugar em nossa vida, ou então, ainda não sabemos o que é segui-lo. O que é importante destacar é que, quanto mais amamos a Deus, mais amamos nossa família e mais fortes ficam nossos relacionamentos interpessoais. A nossa relação com Deus cimenta os demais relacionamentos, colocando-os dentro de uma correta perspectiva.
Em segundo lugar, o cônjuge precisa vir antes dos filhos. Pecam contra o cônjuge e contra os filhos, aqueles que colocam os filhos em primeiro plano e o cônjuge em segundo plano. O maior presente que podemos dar aos nossos filhos é amar, com desvelo, o nosso cônjuge. A maior necessidade dos filhos é ver o exemplo dos pais. Não há família saudável onde os relacionamentos estão fora dos trilhos. Investimos nos filhos, quando investimos em nosso casamento. Cuidamos dos filhos, quando priorizamos nosso cônjuge.
Em terceiro lugar, os filhos precisam vir antes dos amigos. Precisamos ter discernimento para buscarmos as primeiras coisas primeiro. Nossos amigos são importantes, mas nossos filhos são mais importantes. Aqueles que não cuidam da sua própria família estão em total descompasso com o projeto de Deus. Não podemos sacrificar nosso relacionamento com os filhos para dar mais atenção aos nossos amigos. Nenhum sucesso vale a pena quando o preço a pagar é o sacrifício dos nossos filhos. Os pais precisam entender que seus filhos são prioridade. Precisam investir neles o melhor do seu tempo e o melhor de seus recursos. Precisam criá-los na admoestação e na disciplina do Senhor. Não podem procá-los à ira para quem não fiquem desanimados.
Em quarto lugar, as pessoas devem vir antes das coisas. Vivemos numa sociedade materialista e consumista. As prioridades estão invertidas. As pessoas esquecem-se de Deus, amam as coisas e usam as pessoas. Devemos, ao contrário, adorar a Deus, amar a pessoas e usar as coisas. Quando colocamos coisas no lugar de pessoas tornamo-nos insensíveis e apartamo-nos do projeto de Deus. Há pessoas que, infelizmente, têm mais cuidado com o carro do que com os membros da família. São mais zelosos com seus objetos pessoais do que com os relacionamentos dentro de casa. Amam mais os bens materiais do que os membros da família.
Em quinto lugar, o reino de Deus precisa vir antes dos nossos projetos. Temos visto muitos crentes dando para a Deus a sobra dos seus bens, de seus talentos e do seu tempo. São pessoas que só se preocupam com as coisas terrenas. Correm atrás de seus próprios interesses enquanto a obra de Deus fica relegada a segundo plano. Essas mesmas pessoas, nas palavras do profeta Ageu, semeiam muito e colhem pouco; vestem-se, mas não se aquecem; comem, mas não se satisfazem; e o salário que recebem, colocam-no num saco furado. O pouco que trazem, Deus o assopra, porque não aceita sobras, uma vez que requer primícias. Precisamos buscar em primeiro lugar o reino de Deus. Precisamos investir as primícias da nossa renda na promoção do reino de Deus. Precisamos investir em causas de consequências eternas. Nossa felicidade pessoal e familiar alcançarão sua plena realização, quando essas prioridades estiverem alinhadas em nossa vida

Felicidade é bíblico?


Por Maurício Zágari

Felicidade é um conceito bíblico? Depende. Como assim, “depende”? Numa época em que a heresia neopentecostal transformou o lema mentiroso do “pare de sofrer” num dogma com base na Teologia da Prosperidade, a reação dos defensores da sã doutrina é jogar o pêndulo com toda força para o outro lado. Mas devemos ir com calma. O mesmo Deus que diz “quem quiser vir após mim tome a sua cruz e siga-me” também diz “qual é o filho que pedindo ao pai pão ele lhe dará pedra ou pedindo peixe lhe dará uma serpente?”. Então o que as Escrituras nos mostram é que o Evangelho é um caminho pedregoso, sem garantia de felicidade: você pode ser um bom cristão e ainda assim ser infeliz até o fim de seus dias. Mas, por outro lado, o coração amoroso do Pai pode criar muitos momentos de felicidade durante essa caminhada pedregosa e aliviar por sua graça as dores dos pés que fazem a jornada.
O anseio de todo ser humano é ser feliz. Isso é instintivo. Queremos viver longe de dores, frustrações, desilusões, desamores, problemas. A meta de cada um de nós é acordar de manhã sorrindo, se espreguiçar e passar o dia com um sorriso no rosto. Ah, a vida é bela!, anelamos dizer a cada por-do-sol lindo no horizonte, com um livro de Fernando Pessoa nas mãos, uma música gostosa no fone e a cabeça da pessoa amada no colo, com um cafuné que tem sabor de repouso, descanso e felicidade. Fale a verdade: você não gostaria de viver isso? Mas aí chega Jesus e estraga tudo.
Isso mesmo. Sabe aqueles filmes em que, de repente, tem um som de vitrola arranhando e o personagem cai do sonho e se vê numa situação de dureza? Pois no Evangelho é exatamente assim. Você está lá, no Arpoador, curtindo o entardecer, sentindo a brisa do mar, quando, sem aviso, o som que vem é o da agulha arranhando o long play. É quando Jesus te sacode pelos ombros e diz: “Tome a sua cruz e siga-me”. Pra quem só quer uma vida de alegria perene isso é o fim da picada.
Não, meu irmão, minha irmã, viver não é um parque de diversões. Viver segundo os preceitos bíblicos, então, é para os fortes. E, paradoxalmente, só se torna forte quem se põe fraco aos pés do Mestre. Pois a alternativa a tomar a cruz e seguir a Cristo é o inferno. Mas a boa noticia é que o Senhor nos diz, em paráfrase: “Tome a sua cruz e siga-me… mas não desanime nem fique ansioso, pois você pode lançar os seus fardos sobre mim: eu tenho cuidado de você”. Sim, o Evangelho é para os fortes, e a nossa força tem nome: impotência. E é aí que entra a possibilidade da felicidade.
Como assim?
Mas o que impotência tem a ver com felicidade? Isso, na verdade, aprendi com minha filha. Tenho uma filhinha com 11 meses de idade. Ela é impotente. Ainda não consegue andar sozinha, nem se alimentar. Não se veste sem ajuda e se sente dor depende que o papai pare tudo para lhe dar um pouco de analgésico. Para ela, eu e a mãe somos Deus. Quando ela leva um tombo, a tomo no colo, com ela aos berros, faço carinho, sussurro palavrinhas de amor, esfrego o dodói e ela… sorri.
E um sorriso, quando não é fingido, é o maior sintoma de felicidade. Se você quer medir seu nível de felicidade, basta ver com que frequência você sorri quando ninguém está olhando.
Quando bate a fome ela começa a gemer e apontar para a comida. Não raro chora. Aí chega papai ou mamãe, aqueles seres divinos que porão o papá na sua boquinha e farão a sensação de fome sumir. E, quando a primeira colherada chega a sua boca ela… sorri. Sede? Papai dá suquinho na mamadeira e o choro vira… sorrisos. Sono? Uma boa embalada e a ranzinzice vira olhinhos fechados e uma noite de sonhos tranquilos (e acredita que ela dorme… sorrindo?) Carência? Uma engatinhada até meus pés, uma escalada nas minhas pernas e um pedido de colo com aquela carinha de Gato de Botas do Shrek e bracinhos estendidos derrete o coração do paizão, que pega aqueles oito quilos de amor no colo e… sorrisos.
Mas isso tudo só acontece por uma razão: porque ela entrega suas infelicidades aos cuidados de quem pode transformar sua impotência em…. sorrisos de felicidade.
O Evangelho não nos promete felicidade. A mensagem da graça é dura. Exige renúncia das nossas vontades. Quem não deixar pai e mãe por amor a Cristo não é digno dele. Ou seja: quem não abrir mão do que mais ama não é digno do Salvador. “Venda tudo, dê aos pobres e vambora pra Cruz”, foi a resposta de Jesus para o “mancebo de qualidade”. Dureza. Renúncia. Dificuldade. Choro. Impotência.
Sinto-me constantemente impotente na estrada pedregosa. Mas aí eu engatinho até os pés do Pai, escalo suas pernas, estendo os bracinhos e faço cara de Gato de Botas do Shrek. Aí, se por sua graça papai me pegar no colo, eu sei que vou sorrir de felicidade.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.