quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Igreja Ladeira Abaixo


Por mais que busque justificativas para as bizarrices encontradas no meio das igrejas não encontro. Parece-me uma luta inglória. Estou ficando enjoado e enojado diante daquilo que tenho visto e ouvido. A grande marca das igrejas é a estreiteza de mente e uma busca implacável pela mediocridade. Tirando um percentual de comunidades que ainda preservam a Sã Doutrina, esbarramos em número assustador de comunidades e principalmente as neo-pentecostais praticando um anti-cristinianismo.

Gostaria de apontar algumas situações que tem me levado a obviar tais comunidades e líderes.

1 - Tenho visto com muita freqüência uma nociva insistência por parte de um grande percentual da liderança evangélica em desprezar o saber e principalmente o saber teológico. Insistem em desprezar a história e suas lições. Insistem em abandonar os marcos deixados e fazendo assim encontram-se sem parâmetros para seus comportamentos. Creio que a busca por uma teologia sadia é mais dolorosa do que a aceitação tácita de heresias grotescas. O grande problema é que quanto mais as lideranças distanciam da Sã Doutrina mais comprometidas ficam com os erros doutrinários e depois não possuem a hombridade de voltar atrás. Muitos líderes ouviram o galo cantar e não sabem onde. Ouviram algumas afirmações no passado e nunca procuraram saber se eram ou não verdadeiras. Em meu tempo de mocidade havia um livro que fez muito sucesso. Seu autor era Don Gosset e o livro era Há Poder Em Suas Palavras. Virou Best Seller. Aceitávamos como verdade as palavras do autor, pois, este era americano e se era bom para os americanos deveria ser bom para os Brasileiros. Conceitos distorcidos que durante anos vivi. Mas como Paulo disse em sua carta aos corintos chegou o tempo de deixar as coisas de menino e buscar as coisas de adulto. Aprendi na faculdade que é preciso dialogar com os autores e checarmos as bases de suas afirmações. Procurar encontrar o cerne ideológico dos mesmos e separar joio do trigo. Depois de muitos anos percebo que boa parte da liderança evangélica ainda aceita acriticamente os livros e nunca empreendem um diálogo com seus autores. Estão assentados em bases frágeis e se aferrenham a elas como bóias salva-vidas. Quase sempre não se abrem para outros pontos de vistas e insistem em argumentos ultrapassados e com data de validade vencida.

Realmente existe uma resistência à pureza do Evangelho simplesmente por falta de amor à verdade como Paulo disse. “Que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade”. II Tm. 3:7 - II Tes. 2:10.

2 – Tenho visto com freqüência uma atitude de lassidão em relação ao pecado. E isso acontece no meio da liderança evangélica e se espalha pelo corpo de Cristo. Destaco o fato de que pecados cometidos por líderes não são tidos como coisas hediondas, mas normais. Sempre apresentam o mesmo argumento idiotizante que não podemos julgar para não sermos julgados. Fico pensando, se julgar é incompatível com a fé cristã como denunciaremos os erros dentro de nossos arraiais? Se existe incompatibilidade entre julgamentos e o crer em Deus então logo não existe pecado nem erros, pois, os mesmos não podem ser julgados. Atribuem esse julgamento a Deus somente. Se assim fora, teremos que erradicar do Novo Testamento as denúncias de Paulo e Pedro que abertamente apontaram para o pecado e mostraram o que fazer. Eis alguns exemplos: I Cor. 5:1-5; II Tm. 2:14-18; II Pe. 2.

Pecados de lideranças devem ser tratados com a maior intensidade possível, pois, seus exemplos são seguidos por muitos. Cristo disse que “... e, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá”. Lc. 12:48.

Ficou normal um líder se divorciar e permanecer na mesma igreja como se nada tivesse acontecido. A igreja perdoa e tudo continua bem. Isso é uma aberração em nosso meio. Como permanecer na liderança aquele que não governou bem sua casa? Se houve adultério por parte da liderança, que exemplo foi dado para a igreja principalmente para os jovens. Muitos pensarão e agiram assim: “se o pastor pode também nós podemos”. E o que dizer sobre os pecados contra a Palavra? Afirmações grotescas que ultrapassam e contradizem a Palavra de Deus são tidas como verdadeiras. Quem faz tais afirmações por ter grande visibilidade torna-se oráculo celestial inquestionável e infalível.

Aqui está em foco a igreja, seus membros. Essa tendência de aceitação acrítica de tudo que é exarado dos púlpitos é algo doentio. Pessoas com grandes capacidades mentais em seus segmentos de atuações se anulam dentro das igrejas, pois, têm medo de pecar contra Deus. Vêm as maiores aberrações sendo derramadas sobre suas mentes e nada dizem. Tais pessoas andam no limite da idiotice. Não existe incompatibilidade entre fé e conhecimento. Nunca existiu. Qualquer afirmação que Deus revelou ou falou deve passar pelo crivo, crisol da Santa Palavra de Deus e se se constatar desvio deve ser desprezada por completo.

3 – Tenho visto com freqüência uma insistência em desprezar a Palavra em troca de revelações estapafúrdias. No meio neo-pentecostal isso é contumaz. Aceitam tudo como sendo de Deus e mesmo que ofenda a Palavra vale mais a pseudo-revelação. Isso da enjôo em qualquer um. Vi uns vídeos postados no youtube onde o pregador advinha a rua, o número da casa e trabalho das pessoas. O pregador dizia o tempo todo assim: “to entendendo Jesus, to entendendo Jesus...”. O que mais me entristeceu foi que pessoas que conheço pessoalmente aceitaram acriticamente tais coisas e achavam que eram revelações de Deus. Esse tipo de revelação já virou coisa comum no meio evangélico. A postura desses pregadores dá a entender que possuem uma comunhão especial com Cristo e que recebem revelações diretas e se intitulam profetas de Deus. Não pregam a Palavra, mas promovem espetáculos para as massas. Como diziam os romanos: “panis et circenses”. As pessoas rodopiam, caem, são arrebatadas, pulam como cangurus, choram e depois percebem que nada mudou. Paulo nos adverte contra tais homens: “Se alguém ensina alguma outra doutrina, e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade, É soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas, Contendas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho; aparta-te dos tais. Mas é grande ganho a piedade com contentamento”. I Tm. 6:3-6.

Creio firmemente que as igrejas neo-pentecostais e suas lideranças inaptas estão jogando o evangelho ladeira abaixo. Creio que os estragos feitos são irreparáveis. Creio que o desprezo pelo ministério tem trazido mais vergonha do que glória para o nome de Cristo. Creio que o momento da igreja tenha passado no Brasil. Creio que os maiores culpados são aqueles que se calam covardemente diante de tais atrocidades. Creio que cada pastor consagrado sem o devido preparo, guardando as devidas proporções, será uma porta aberta para heresias e comportamentos exóticos e anti-bíblicos.

Por haver uma insistência em desprezar a Palavra o que sobra é a exaltação das emoções. Vale mais o sentir. Vale mais o arrepio. Vale mais o sensorial. Estou cansado de ver idolatria na igreja. Sim, idolatria mesmo. Quantos cultos têm como maior atrativo a entrada de um modelo da arca da aliança com seus querubins etc. Os líderes se vestem com longas batas e o povo e incentivado a tocar neste embuste em forma de arca da aliança. Em uma galeria em Belo Horizonte existe boxe somente para vender coisas ligadas à idolatria como: candelabro de sete pontas, modelos variados da arca da aliança, óleos especiais para unções variadas etc. Fiquei sabendo que em uma cidade do interior mineiro abriram uma loja gospel que vende kits para campanhas nas igrejas. Tudo já vem pronto é só pegar e distribuir. Se os kits não estiverem no balcão abrem um catálogo e você escolhe o que melhor lhe convier.

Precisamos encontrar o equilíbrio entre razão e emoção. Nossos cultos podem e precisam ser vivenciados com emoção, mas nunca emoção desprovida de razão. Paulo aponta para que nossos cultos sejam racionais e íntegros, mas isso virou carência.

4 – Tenho visto com freqüência uma insistência pelo imediatismo e pragmatismo. Como vivemos em uma sociedade Fast Food, as soluções para vida também devem ter essa característica. As igrejas estão oferecendo soluções milagrosas a qualquer custo. Estão oferecendo soluções que nunca chegarão. Afirmações mentirosas e incabíveis são feitas para atrair os incautos. As pessoas querem o imediato o curto prazo. Daí termos profecias esdrúxulas e mundanas. Quem não se interessa ou quer ter vitória financeira rapidamente? Quem não ofertaria dinheiro para alcançar cura, salvação e libertação financeira. Em um país que tem um governo assistencialista e uma população que quer levar vantagem em tudo, tais promessas ou profecias são juntar o útil ao agradável.

Por pensar somente no curto prazo estamos degradando o meio ambiente, multiplicando os assaltos, matando desavergonhadamente no útero materno. Vi um vídeo onde Edir Macedo defende o aborto como programa de planejamento familiar. Trata o aborto como solução para criminalidade e pobreza. Tais posturas somente apontam para o curto prazo. Quem deveria defender a vida a processa, condena e executa sua sentença de morte em menos de sete minutos de vídeo.

Pastores oferecem soluções mágicas para verem suas igrejas cheias e seus caixas abarrotados de dinheiro, pois, assim ganharão prestígio socialmente. Oferecem ocuidade para o vazio do homem. Fazem das pessoas massa de manobra para alcançarem seus objetivos mundanos. Esquecem-se que prestarão contas das almas a Cristo o Senhor. Perderam o temor do Senhor e tratam a Sua Obra como empresas e não como igreja.

O certo é que esta visão de curto prazo não leva lugar algum. Somente aumenta o vazio do homem e fortifica a desesperança já reinante.

Soli Deo Gloria

7 problemas da Falsa Religião


Falso ensinamento ilude até os amigos do cristianismo a fazerem, sem perceber, o trabalho de seus inimigos....

Por Jonathan Edwards

A questão mais crucial para a raça humana e para todo o indivíduo é: quais as características que distinguem as pessoas que gozam o favor de Deus - aquelas que estão de caminho para o céu? Ou, de outra forma: qual a natureza da religião verdadeira? Que tipo de religião pessoal é aprovado por Deus?

É difícil dar uma resposta objetiva para esse tipo de questão controversa; mais difícil ainda escrever objetivamente a respeito. O mais difícil é ler objetivamente sobre o assunto! Não é fácil sustentar o que é bom em avivamentos religiosos, examinando e rejeitando ao mesmo tempo o que é ruim neles. Contudo, seguramente temos que fazer as duas coisas se quisermos que o reino de Cristo prospere.

Admito que há algo muito misterioso no assunto; existe tanta coisa boa misturada com tanta coisa má na Igreja! É tão misterioso quanto a mescla de bem e mal no cristão como indivíduo; mas nenhum desses mistérios é novo. Não é novidade o florescimento de religião falsa em tempo de avivamento, ou o aparecimento de hipócritas entre os verdadeiros fiéis. Isso ocorreu no grande avivamento no tempo de Josias, como vemos em Jr 3:10 e 4:3-4. O mesmo se deu nos dias de João Batista. João despertou toda a Israel por suas pregações, mas a maioria apostatou pouco depois. João 5:35 - "por um tempo, estão dispostos a se alegrar em sua luz". O mesmo ocorreu quando o próprio Cristo pregou; muitos O admiraram por um tempo, mas poucos foram fiéis até o fim. De novo, a mesma coisa ocorreu quando os apóstolos pregaram, como sabemos pelas heresias e divisões que perturbaram as igrejas durante o tempo dos apóstolos.

Essa mistura da religião falsa com a verdadeira tem sido a maior arma de satanás contra a causa de Cristo. É por isso que devemos aprender a distinguir entre a religião verdadeira e a falsa - entre emoções e experiências que realmente advêm da salvação e as imitações que são exteriormente atraentes e plausíveis, porém falsas.

Deixar de distinguir entre religião verdadeira e falsa, tem conseqüências terríveis. Por exemplo:

(1) Muitos oferecem adoração falsa a Deus, pensando ser aceitável a Ele, mas que Ele rejeita.

(2) Satanás engana a muitos sobre o estado de suas almas; desse modo arruína-os eternamente. Em alguns casos, satanás leva as pessoas a pensar que são extraordinariamente santas, quando na realidade são o pior tipo de hipócritas.

(3) Satanás estraga a fé dos verdadeiros crentes; mistura deformações e corrupções à religião, causando os verdadeiros crentes a se tornarem frios em suas emoções espirituais. Ele confunde também a outros com grandes dificuldades e tentações.

(4) Os inimigos explícitos do cristianismo se animam quando vêem a Igreja tão corrompida e desviada.

(5) Os homens pecam na ilusão de estarem servindo a Deus; portanto, pecam sem restrições.

(6) Falso ensinamento ilude até os amigos do cristianismo a fazerem, sem perceber, o trabalho de seus inimigos. Destroem o cristianismo com muito mais eficiência que os inimigos declarados podem fazer, na ilusão de o estarem fazendo progredir.

(7) Satanás divide o povo de Cristo e coloca-os uns contra os outros; os cristãos disputam acaloradamente, como que com zelo espiritual. O cristianismo degenera em disputas vazias; as partes em disputa correm para lados opostos, até que o caminho correto, ao meio, fica totalmente negligenciado.

Quando os cristãos vêem as terríveis conseqüências da falsa religião passar por religião verdadeira, suas mentes ficam perturbadas. Não sabem para onde se voltar nem o que pensar. Muitos duvidam da existência de qualquer realidade no cristianismo. Heresia, incredulidade e ateísmo começam a se propagar.

Por essas razões, é vital que façamos todo o possível para compreender a natureza da verdadeira religião. Até que o façamos, não podemos esperar que os avivamentos tenham longa duração, nem podemos esperar muito proveito de nossas discussões e debates religiosos, uma vez que sequer sabemos sobre o que estamos discutindo.

RELIGIÃO OU MAGIA?


Muita gente entre nós confunde religião e magia. Isto se deve a três fatores: a Bíblia vista como livro de receitas mágicas, o pastor visto como pajé, e o culto entendido como manipulação de forças espirituais. Os dois últimos são a base de cultos animistas e pagãos. Juntou-se-lhes a compreensão errada da Bíblia (primeiro item) e eis uma prática animista com tintura bíblica. Não se estuda a Bíblia para reger a vida por ela, mas para extrair práticas que legitimem a magia bíblica.

Há muitas diferenças entre magia e religião. Pelo espaço e natureza desta pastoral, cito três: (1) A magia busca manipular forças espirituais para benefício; a religião procura a vontade de Deus e o ajustar-se a ela; (2) A magia busca facilidade para viver; a religião busca maturidade para saber viver; (3) A magia busca resolver problemas pessoais, sem noção do outro; a religião se preocupa também com o próximo e o mundo. Na magia, a questão é: eu diante da força espiritual ou cósmica para resolver meu problema. Na religião, a questão é como ser usado por Deus como agente de transformação.

O evangelho não é magia. Alguns cultos não refletem sobre Deus, mas sobre como usá-lo. Ou são formatados para as pessoas se sentirem bem. Muitos cânticos seguem esta linha: criar uma sensação de bem estar, de relaxamento espiritual, em vez de proclamar as grandes verdades da Bíblia. A música evangélica não apenas expressa sentimentos, mas também proclama a grandeza de Deus, seu amor, sua salvação. Mas eis visão de magia: o culto é para nos sentirmos bem, não para estarmos diante do Totalmente Outro, do Transcendente, do Santo, e nos submetermos a dele.

A experiência de Isaías foi fantástica. Entre a fumaça viu Alguém no trono. Ficou aterrado (Is 6.5). Arrebatado em espírito, João teve uma visão do Cristo glorificado. Resultado: “Quando o vi, caí aos seus pés como morto” (Ap 1.17). O verdadeiro culto produz temor, reverência, consagração e serviço. Como Isaías: “E eu respondi: Eis-me aqui. Envia-me!” (Is 6.8). Há muita adoração e louvor hoje! Multiplicam-se cultos e reuniões evangélicas! Mas há escassez de santidade e de serviço. As pessoas vão aos cultos, sentem-se bem, fazem uma catarse, mas não são transformadas! Os líderes evangélicos não têm reputação de santos no Brasil, mas de espertalhões.

Magia ou religião? Liberação emocional ou adoração? O Deus verdadeiro, manifestado em Jesus, ou a estética do culto? Foi o Ruah (Espírito) de Deus quem falou ou a psiquê (a interioridade) que se manifestou? Magia aliena e produz uma vida vazia e artificial. A verdadeira religião, o evangelho de Jesus, produz segurança, equilíbrio, maturidade, realização. É dizer “achamos o Messias” (Jo 1.41).

Você busca magia ou religião?

Perdão e expiação


Por Ricardo Mamedes
Não há como negar que em algum momento das nossas vidas nós tenhamos refletido sobre o significado e a necessidade da expiação, da morte vicária de Cristo, o seu sacrifício substitutivo. Por quê? Qual a necessidade real desse evento tão estranho?

Eu mesmo já ouvi ou li considerações a respeito de que Deus, sendo Todo-Poderoso, poderia simplesmente perdoar a todos os pecadores, sem a necessidade de lançar mão de tal "malabarismo", de tamanha atrocidade para justificar pecadores renitentes, que jamais mereceriam tamanho sacrifício. Bastaria a Ele dizer: "estais perdoados das vossas ofensas contra mim, dos seus pecados, das tantas transgressões".

E então os incrédulos, ateus e liberais de todos os vieses buscam na Onipotência do Criador a desnecessidade da expiação. E eis que se criam as "demitologizações" do Evangelho: a morte de Cristo passa a ser um mito, quase uma "parábola", algo que "de maneira alguma ocorreu". E relativizando o Evangelho, tornando o sacrifício de Cristo um mito, relativiza-se toda a Verdade Escriturística, e acabam matando Deus e construindo apenas um deus qualquer.

Rudolph Bultmann, do alto da sua "sapiência", ao duvidar da expiação, assim assevera:

"Como pode a culpa de um homem ser expiada pela morte de outro homem impecável - se é que se pode falar de um homem impecável , afinal? Que primitivas noções de culpa e retidão isso deixa explícitas? E que primitiva ideia de Deus? O raciocínio acerca dos sacrifícios em geral , naturalmente, pode lançar alguma luz sobre a teoria da expiação; mas, mesmo nesse caso, quão primitiva é a mitologia em que um Ser Divino pôde encarnar-se e fazer expiação pelos pecados humanos através do seu próprio sangue! ... Outrossim, se Cristo que teve tal morte foi o pré-existente Filho de Deus, que significação poderia ter tido a morte para Ele? Obviamente, pouquíssimo, se sabia que iria ressuscitar dentre os mortos no espaço de três dias!"

Portanto, esses luminares do pensamento teológico liberal colocam em dúvida a expiação, negando o Evangelho. Em que deus eles acreditam - se é que acreditam em qualquer deus - posto que a única palavra que conhecemos como sendo do Deus único é a Bíblia? No momento, pois, em que a Bíblia é relativizada, colocada em dúvida na sua literalidade, o Deus ali expresso, manifesto e revelado, já não é mais Deus. Em quê se fiarão os crentes se a Palavra da revelação, até então reconhecida como inerrante, passa a não mais ser absoluta? Sobraria tão somente o desespero existencial de Sartre ou o assassínio de Deus, propalado por Nietzsche...

Interessantíssima é a ilação feita por B. B Warfield sobre a necessidade da expiação, senão vejamos:

"É característica distintiva do cristianismo... não que pregue um Deus de amor, mas que pregue um Deus de consciência. Um Deus benévolo, sim: os homens tem moldado um Deus benévolo para si mesmos. Um Deus inteiramente honesto, porém, talvez nunca. Isso foi deixado ao encargo da revelação que o próprio Deus nos daria de si mesmo. E essa é a característica realmente distinta do Deus da revelação: Ele é um Deus inteiramente honesto, um Deus inteiramente consciente - um Deus que trata honestamente Consigo mesmo e conosco. E um Deus inteiramente consciencioso, podemos estar certos, não é um Deus que possa tratar com os pecadores como se eles não fossem pecadores. Nesse fato jaz a mais profunda base para a necessidade da expiação."

Na verdade, é facilmente compreensível esse sacrifício substitutivo, quando Deus-Pai oferece Deus-Filho como expiação necessária ao pecado de muitos. Basta imaginar Deus em toda a Sua glória; Perfeito, Justíssimo, Imaculado. Como esse Ser Supremo poderia aceitar pecadores contumazes, miseráveis e podres conspurcando a Sua Eternidade, a Sua "casa" celestial? É algo completamente impossível, se sabemos que as trevas não coabitam com a Luz. A perfeição de Deus jamais poderia ser maculada pelo pecado humano.

Não havia outra solução, eis que a única saída estava no próprio Deus e consistia em Ele dar-se, na pessoa de Seu Filho Unigênito, em Sacrifício agradável a Si mesmo. Incrível isso não? Somente a sua Deidade seria suficiente para limpar os pecados do mundo, tornando isso possível àqueles que recebessem ao Filho, por intermédio da Sua infalível Graça (Efésios 2:89), de tal maneira que ao homem não remanescesse mérito algum. O processo é todo de Deus (Filipenses 2:13) e não concede ao homem qualquer mérito.

Portanto, a falácia de que mesmo o homem pode perdoar o seu semelhante - e isso de fato ocorre - tanto mais poderia fazê-lo Deus, não procede pelos motivos acima alinhavados.

O Apóstolo Paulo assevera com absoluta clareza e convincentemente o motivo da expiação:

"Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixados impunes os pecados anteriormente cometidos , tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus" (Romanos 3:23-26).

Como se vê, Deus é tanto justo como justificador. Pertence a Ele todo o mérito da salvação, assim como a necessidade de entregar o Filho como expiação pelos pecados de tantos quantos tenham fé em Cristo, tornando-os aceitáveis a serem recebidos como filhos por adoção. Nós fomos reconciliados com Ele por intermédio dEle mesmo (Romanos 5:10), quando éramos ainda ímpios e pecadores (Romanos 5:8), e essa é a prova do grande amor de Deus por nós (os seus filhos).

Merecimento não tínhamos, mas fomos salvos pelo grande amor de Deus e pela riqueza de Suas misericórdias, conforme mais uma vez aduz o Apóstolo tardio em Sua Carta aos Efésios:

"Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo - pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus" (Efésios 2:4-7).

Louvado, pois, seja o Santo nome do Senhor Deus que nos salvou imerecidamente, dando o seu filho como sacrifício agradável, para, em si, e por si mesmo, receber-nos como filhos eternamente. Glórias sejam dadas ao Altíssimo!

A hora de desistir

Desista1

Por Maurício Zágari

É muito comum ouvirmos em nosso meio evangélico que o cristão em tudo deve perseverar, que precisa buscar seus sonhos e nunca, sob nenhuma circunstância, desistir. Não creio nisso. Simplesmente porque a Bíblia não diz isso. A perseverança deve ser na santidade e na obediência, sempre. “Seja fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida” (Ap 2.10). Mas, em se tratando de sonhos humanos, isso não se aplica. Lendo as Escrituras, vejo que o cristão deve ter ciência de que, em certas situações, chega um momento em que precisa desistir, abrir mão do que ele quer. Podemos ver muitos exemplos, como o de Jesus, que desistiu de pedir ao Pai que afastasse dele o cálice do sofrimento (Mt 26.36-46). Ou Paulo, que desistiu de orar a Deus pedindo que tirasse o espinho de sua carne (2Co 12.7-10). Sim, há ocasiões em que o Senhor espera que nos conformemos e entreguemos os pontos. Certas esperanças não devem ser alimentadas, em especial porque nosso coração é enganoso e não sabemos muitas vezes qual é a vontade divina. Assim, se o que almejamos difere do que Deus almeja, tenha a certeza: o melhor é desistir. Perca a tua esperança, pois ela está depositada em algo que não condiz com o querer do Senhor.

A pergunta imediata que se segue é: como posso saber se meu sonho está de acordo com que Deus quer? Há dois critérios principais: o que a Bíblia diz e a paz no coração.

A vontade de Deus está revelada nas Escrituras. Então conheça a Bíblia. Estude-a. Veja os princípios que ela defende. Nem sempre há uma resposta objetiva para a sua situação, mas há princípios bíblicos que podem responder teu questionamento e nortear teus sonhos e tuas metas. A resposta nem sempre vem num versículo claro, mas num conceito transmitido ao longo de toda a Escritura. Por exemplo: não existe nenhuma passagem bíblica que fale que não devemos fumar crack, mas há um princípio claro acerca dos cuidados que devemos ter com nosso corpo e com nossa mente. Ou, então, você tem aquela dúvida que assola milhões de solteiros: devo namorar aquela pessoa que não é cristã, na esperança de que ela vai se converter? É para persistir nesse relacionamento ou não? Aí você vai à Bíblia e vê que ela é clara sobre o fato de que esse é um namoro em jugo desigual (2Co 6.14-16), mas a Escritura não te dá a certeza de que o (a) jovem será salvo (a). Na dúvida, vá no certo, desista do erro (até porque Deus não precisa que você namore ninguém para que aquela alma seja alcançada, se o Espírito de Deus quiser salvá-la usará até uma mula).

O segundo critério é a paz no coração. Paulo escreveu: “Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração” (Cl 3.15). Portanto, se você vive uma situação de constante atribulação, é hora de pegar o primeiro retorno e dar no pé. Isso acontece muito, por exemplo, em relacionamentos afetivos. Sabe esses namoros que mais parecem dramalhões mexicanos, com arroubos de sofrimento, fins e recomeços, rompimentos dramáticos e voltas novelescas? Onde está a paz? Se não há paz, não insista, desista. Ou quando tem de fechar um negócio mas fica em agonia sobre se assina o contrato ou não? Ou, ainda, na decisão entre seguir a carreira que vai realizar você ou a que vai te dar dinheiro? Não insista no que agonia, desista.

Quando comecei a pensar no assunto para escrever este post, calhou que assisti ao belíssimo filme “A vida secreta das palavras”. Durante o longa-metragem, um personagem menciona um livreto curto e exuberante, “Cartas de amor de uma freira portuguesa”, de Mariana Alcoforado, e imediatamente me lembrei que essa obra trata exatamente disso: a necessidade de abandonar sonhos que dominam nosso ser com fúria. Resolvi reler essa pequena coletânea de cartas enviadas por uma freira ao homem que ama, que jamais voltou a encontrar pessoalmente e com quem nunca pôde se casar. A história é real e, naturalmente, a experiência de Mariana tem aspectos nada louváveis em termos cristãos (como você perceberá na leitura), mas a mensagem sobre a importância da desistência em certas situações está lá com uma força sem igual na literatura. Resolvi compartilhar o curto PDF desse livreto. Você pode fazer o download gratuito clicando neste link: < Cartas-de-Amor-de-uma-Freira-Portuguesa >. Minha recomendação é que reflita sobre a trajetória de Mariana, da total esperança à desistência. Em sua última carta, fica claro que desistir da esperança seria a única decisão que daria a ela forças para seguir vivendo. Não sei dizer se a distância do amado lhe trouxe a paz que ela desejava ao coração, mas pelo menos trouxe um tipo de paz meio genérico, catatônico e artificial – porém, suficiente para lhe dar forças para seguir.

Temos de saber a hora de render nossa vontade. Se Deus diz “não”… é não. Se insistirmos no “sim”, só o que conseguiremos é uma vida de sofrimento e dor à espera de algo que jamais chegará.

Recomendo que leia o livreto. É uma leitura que não dura mais que 15 ou 20 minutos. Depois sinta em si o sofrimento e a frustração de Mariana. Em seguida, veja se o melhor não foi ela dar adeus a seu sonho, que alimentou tão desesperadamente por tanto tempo. Por fim, pense se na tua vida há algum sonho que esteja sendo alimentado à toa, porque vai contra o desejo do coração de Deus. Se você tiver a convicção que perseverar nesse objetivo é a vontade do Senhor, vá em frente. Mas… e se não for? Nessa hora, entregue-se em sacrifício vivo ao Senhor e diga:“Seja feita a tua vontade” (Mt 6.10). E, se a vontade dele for que você abra mão de certos objetivos e sonhos, perceba que abandoná-los não significa falta de fé, de fidelidade ou de perseverança: é o cumprimento da boa, perfeita e agradável vontade de Deus e, certamente, é o que te trará felicidade.

Persista. Mas, se não for da vontade do Senhor, desista. E, aí sim, você estará cumprindo a vontade do Senhor. Sabendo que, muitas vezes, a desistência do que você tanto queria pode se tornar a maior bênção da sua vida.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

Deus não resgata ninguém para descartar

Ovelha1

Por Maurício Zágari
O Senhor não resgata ninguém para descartar depois. Se ele resgata é para tornar aquele indivíduo alguém útil e produtivo, um servo ativo na obra de Deus e plenamente capacitado e aprovado para atuar em prol do reino dos céus. É um absurdo achar que Jesus busca a ovelha perdida para fazer dela um peso morto, inútil. Esse é um pensamento antibíblico e, vamos concordar, impiedoso e maldoso. Mas hoje importa começar esta reflexão com palavras que não são minhas, mas de Jesus: “O Filho do homem veio para salvar o que se havia perdido. ‘O que acham vocês? Se alguém possui cem ovelhas, e uma delas se perde, não deixará as noventa e nove nos montes, indo procurar a que se perdeu? E se conseguir encontrá-la, garanto-lhes que ele ficará mais contente com aquela ovelha do que com as noventa e nove que não se perderam’.” (Mt 18.11-13). No relato de Lucas, o Senhor emenda essa parábola com a da moeda perdida:“Qual é a mulher que, possuindo dez dracmas e, perdendo uma delas, não acende uma candeia, varre a casa e procura atentamente, até encontrá-la? E quando a encontra, reúne suas amigas e vizinhas e diz: ‘Alegrem-se comigo, pois encontrei minha moeda perdida’. Eu lhes digo que, da mesma forma, há alegria na presença dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Lc 15.8-10). E, em seguida, Jesus fecha com chave de ouro, contando a famosa história do filho pródigo.

Creio que o conceito por trás desses ensinamentos está claro: se uma ovelha, alguém que se perdeu, um filho do Pai tropeça no meio do caminho, chafurda no pecado e é resgatado por Cristo, o nosso papel é exultar, festejar, juntar-nos a Deus e aos anjos na enorme alegria que representa o retorno dessa vida. Não consigo ver em nenhuma dessas passagens que nossa postura deva ser a de discriminar o arrependido que retornou – como fez o irmão mais velho do filho pródigo, alguém que, certamente, não compreendia o que significa amor nem graça.

Tendo dito isso, falemos sobre Jimmy Swaggart. Para as gerações mais novas, explico: ele é um evangelista que nos anos 1970 e 1980 lotava estádios por todo o mundo, tinha um ministério profícuo e famoso. Até que cometeu adultério. Pecou. Errou. O que fez foi feio. Horrível. Abominável. Nisso todos concordamos e não há espaço para discussão sobre a gravidade desse pecado (é possível até que seja tão grave como ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo e inveja, visto que sobre todos esses diz Gálatas 5.21 que “Aqueles que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus”). Mas vamos adiante: consta que Swaggart se arrependeu, confessou e deixou sua transgressão. Diante disso, não sou o Espírito Santo para julgar o homem, simplesmente porque a Bíblia não me autoriza a isso. Se ele se arrependeu de fato, confessou e deixou, que autoridade tenho eu para condená-lo? Jesus o justificou e eu o condeno? Ai de mim se o fizer, como o Senhor mostra com apavorante clareza na parábola do credor incompassivo (Mt 18.21-35). Mas ninguém vinha dando muita atenção a isso por aqui pois, afinal, Swaggart deixou de estar presente na vida da Igreja brasileira há muitos e muitos anos.

Bem, até agora. A Sociedade Bíblica do Brasil lançou há algum tempo a “Bíblia de Estudo do Expositor – Jimmy Swaggart”, com comentários exclusivos escritos pelo próprio. Dei uma boa espiada no material e, acredite, é bastante bom. Uma ferramenta útil para o estudo das Escrituras, uma obra digna de ser lida por todo cristão interessado em compreender melhor a Palavra de Deus. Claro, não é perfeito. Mas – com exceção da Bíblia e de Jesus – existe algum livro ou ser humano na face da terra que seja?

Fiquei muito feliz quando tive contato com essa Bíblia de Estudo; aliás, duplamente feliz. Primeiro por ver um material do gênero à disposição da Igreja. E, segundo, por ver que não só o filho pródigo, Swaggart, tornou à casa do Pai, recebeu um anel no seu dedo, foi vestido de roupas novas e gerou alegria entre os anjos do céu, mas também porque ele ganhou a oportunidade de voltar a ser um membro produtivo do Corpo de Cristo – em prol da edificação do Corpo de Cristo. Bravo, palmas para Jesus, que cumpriu o milagre da justificação em mais uma alma que estava fora do aprisco, e palmas para o Espírito Santo, que convenceu a ovelha pedida do pecado, da justiça e do juízo. O Bom Pastor deixou as 99 ovelhas e foi atrás de Jimmy Swaggart. Consta que seu arrependimento foi sincero e Deus me livre de dizer que não foi, pois não compete a mim julgá-lo neste momento de sua vida. Os frutos até o momento não o condenam, pelo que me consta. E, vamos combinar: sendo eu este terrível pecador que sou, que moral tenho para lançar a primeira pedra?

No entanto, quando minha alegria ao ver essa dupla bênção aflorou, eis que baldes de água gelada foram lançados na minha cabeça. Pois foi só as pessoas tomarem conhecimento de que essa Bíblia de Estudo seria publicada e não demorou para alguns cristãos impiedosos se manifestarem, desmerecendo a obra, pelo fato de ser comentada pelo homem que um dia adulterou. Parece que preferiam que ele jamais voltasse a produzir nada para o reino. Perdoem-me, mas não consigo acreditar que seja isso o que o Senhor deseja: pelo meu entendimento bíblico, o perdão do pecado confessado e abandonado zera tudo: “O SENHOR é compassivo e misericordioso, mui paciente e cheio de amor. Não acusa sem cessar nem fica ressentido para sempre; não nos trata conforme os nossos pecados nem nos retribui conforme as nossas iniquidades. Pois como os céus se elevam acima da terra, assim é grande o seu amor para com os que o temem; e como o Oriente está longe do Ocidente, assim ele afasta para longe de nós as nossas transgressões” (Sl 103.8-12). Isso, claro, é como Deus vê e faz. Mas para cristãos impiedosos não é assim: o cumprimento da sua justiça humana exige que se enterre aquele que Jesus desenterrou e que ele se torne inútil para a obra do Senhor. A justiça da cruz some nessa hora. Vale é a justiça do degredo ou, no mínimo, a do desmerecimento eterno.

É a filosofia do “não o resgate, mate. Mas, já que vai resgatar, pelo menos o esconda em algum porão. E, se não der, desmereça tudo o que ele vier a fazer…”.

Eu não deveria mais me espantar com isso. Afinal, já vi a impiedade se manifestar no seio da Igreja muitas e muitas vezes e de muitas e muitas maneiras. Não em poucas ocasiões testemunhei o apedrejamento de cristãos arrependidos de seus pecados por grupos que consideram seus próprios pecados menos graves do que os dos outros. Pior: vi gente que prossegue sem arrepender-se de suas iniquidades não confessadas acusar e desmerecer coisas feitas por iníquos que se arrependeram, confessaram e deixaram o pecado. O que não é novidade nenhuma, Jesus mesmo falou sobre isso (atente para o negrito):

“Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado” (Lc 18.9-14).

De tanto isso acontecer, eu não deveria mais me surpreender ao ver tantos cristãos justificados de seus pecados serem escorraçados por cristãos que não compreendem o alcance do perdão e da graça de Deus. Aliás, permita-me confessar o meu pecado: eu mesmo não entendia tempos atrás, encharcado de impiedade que eu era, até o dia em que as asas da graça divina se estenderam sobre minha vida e experimentei na pele e na alma o que é ser alvo da compaixão do Senhor. Então, de certo modo, entendo os impiedosos, pois já estive cego como eles estão. O que não quer dizer que eu não fique muito, mas muito triste com atitudes como essas.

É duro ver ovelhas que Jesus trouxe de volta ao aprisco se esforçando para fazer algo em prol da edificação da Igreja e observar o fruto do seu esforço ser desmerecido, desdenhado e boicotado por irmãos em Cristo. Gente que voa na jugular, sabotadores da redenção da cruz. Será que o pai do filho pródigo o recebeu de volta em casa para ele ficar sentado o dia inteiro, sem fazer nada? O fato de o filho pródigo ter saído dos trilhos por uma fase faz dele imprestável pelo resto da vida? O que Jesus diria sobre isso? Quando Pedro traiu Cristo (três vezes, lembremos) e Jesus o perdoou, o que o Mestre disse ao apóstolo? “Tudo bem, mas nem ouse fazer a obra de Deus, esconda-se num canto e nunca mais faça nada”. É isso? Ou ele manda o pecador arrependido apascentar as suas ovelhas? Pare. Preste atenção: Jesus manda o pecador que o traiu três vezes fazer nada menos do que pastorear as suas ovelhas, cuidar delas, guiá-las. Que lição para todos nós!

Sinto arder na minha pele a tristeza por ver homens impiedosos depreciarem todo o esforço de Swaggart em elaborar essa Bíblia de Estudo, em vez de se alegrarem por ele estar ativo na edificação do Corpo de Cristo. Que tipo de gente faz isso? Que tipo de gente faz caretas e comentários maldosos e maquiavélicos porque alguém que estava perdido foi encontrado e voltou a ser útil? Deveriam estar se alegrando junto com os anjos no céu, por Deus!

E note algo: em momento algum estou falando de concordar ou discordar da teologia que ele prega, de suas crenças soteriológicas ou do que for. Minha reflexão passa longe disso. Estou falando de pecado, arrependimento e perdão de um cristão, algo que perpassa absolutamente toda e qualquer divergência teológica ou doutrinária.

Uma verdade: infelizmente, fala-se muito mais sobre graça do que se exerce graça. É lindo teologizar sobre graça. Mas… pôr em prática? É para poucos. Pois muitos preferem se juntar não ao pai do filho pródigo, mas aos apedrejadores da mulher adúltera.

Peço a Deus que sejamos mais piedosos. Perdoadores. Graciosos. Amorosos. Menos ferinos na língua que fustiga os outros e mais amáveis ao aplicar o bálsamo sobre as feridas dos que se embrenharam pelo espinheiro do pecado mas foram resgatados pela maravilhosa graça.

Volto a dizer: não sou o Espírito Santo para dizer o que se passa no coração de Jimmy Swaggart. Se ele abandonou a prática do pecado eu não posso garantir. Mas quero crer que sim. E, até que me provem o contrário, o sangue de Cristo repousa sobre a vida daquele homem, tornando-o inculpável. E herdeiro do céu.

A ovelha foge do aprisco. O Senhor parte em seu resgate. Ele a traz de volta. Os anjos no céu fazem festa. O banquete é servido. O Pai se alegra. E depois? Depois muitos de nós pegamos aquela ovelha e a espancamos com socos, murros, pontapés e cusparadas. Que linda lição de cristianismo.

Obrigado, Senhor, pela graça. Obrigado, Senhor, pelo perdão. Obrigado, Senhor, pela restauração. E tem misericórdia de mim, pois não sou melhor do que ninguém. Ó Deus, sê propício a mim, pecador…

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício