sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Maldição hereditária: eu acredito

Maledicência1
Por Maurício Zágari

Sim, eu creio em maldição hereditária. Não, não estou falando do tipo de maldição hereditária que você está pensando. O conceito amplamente difundido a define, em resumo, como a transmissão de um pecado (e suas consequências) de pai para o filho, depois para o neto, depois para o bisneto e assim por diante, o que abriria as portas para o Diabo agir em sucessivas gerações de uma mesma família. Absolutamente não é sobre isso que desejo falar. Quero tratar aqui de um conceito que eu mesmo inventei, a partir menos da teologia e mais da etimologia, ou seja, do significado das palavras. Assim, creio em um conceito de “maldição hereditária” que elaborei e que vejo como extremamente pernicioso. Permita-me explicar.

“Maldição”, pelo dicionário, pode significar “praga”, que é o sentido mais popular do termo. Só que a palavra tem a mesma raiz de “maldizer” (“maldito” seria, então, alguém sobre quem foi dito algo que não é bom, mas mal, logo, é “mal-dito”). Ou seja, “amaldiçoar” pode ter o sentido tanto de “rogar uma praga” quanto de “falar mal”, “promover maledicência”. E maledicência é a fofoca, a conversa escarnecedora, o tititi maldoso, a crítica destrutiva, o desdém pelas conquistas alheias, a conversação invejosa, as palavras que desqualificam o que é diferente só por ser diferente do que eu sou ou acredito, o desmerecimento de algo que é importante para o outro. Abrange desde o “vou te contar o que fulano fez mas é só pra você orar” até o sarcasmo e a ironia ao se referir ao próximo ou a algo relacionado ao próximo. Falar mal é… falar mal.

Já “hereditária” se refere a algo “que se recebe ou se transmite por herança” ou “que vem dos pais, dos antepassados”. Aqui me permito extrapolar esse sentido “familiar” para algo que se adquire não só de pai para filho, mas que faz parte do DNA cultural de um determinado grupo, ou seja, uma família, uma sociedade, uma turma de amigos ou mesmo uma igreja. Por esse conceito, por exemplo, o hábito de membros de determinada denominação se saudarem uns aos outros com “graça e paz”, “a paz do Senhor” ou “paz e bem” faz parte da hereditariedade desse grupo específico, do seu código genético cultural. É aquela coisa que um começa a fazer, o outro imita e logo todos adotam como algo natural e espontâneo.

Assim, juntando essas duas acepções do termo, o significado que inventei para “maldição hereditária” não tem nada a ver com um pecado ou uma praga passada sobrenaturalmente entre sucessivas gerações de uma família, mas sim à cultura de um grupo humano específico de praticar habitualmente a maledicência. Em outras palavras, o hábito disseminado em um determinado núcleo de pessoas de falar mal de outras. Portanto, sim, nesse sentido eu creio em “maldição hereditária”, pois vejo com muita frequência grupos em que falar mal de terceiros é tão natural como beber água. E estou me referindo a grupos de cristãos.

Sejamos sinceros: falar mal do próximo é algo que absolutamente todo mundo faz, em escalas diferentes e de formas distintas. É natural a seres humanos dizer coisas sobre outros seres humanos que configurem um certo grau de maledicência. Todos nós fazemos isso e negar seria hipocrisia. Mas estou me referindo a um patamar mais grave do problema. O que vejo é que existem certos grupos em que a maledicência, o maldizer, é visto de certo modo como uma virtude, algo natural, desejável e até engraçado. Em que há um certo orgulho por falar mal. É um jeito de ser que cria laços de intimidade entre os integrantes. Eles esperam que os outros membros daquele núcleo falem mal e os que não o fizerem acabam deslocados dos demais. Nesses grupos, o principal alvo de sua língua ferina em geral são os diferentes. Aqueles que, de algum modo, não compartilham daquilo que para os maledicentes culturais é habitual, valioso ou natural – sejam gostos, preferências, estilos de vida, ideias, valores e similares. Tristemente, isso acontece muito no nosso meio cristão.

É importante frisar que não estou me referindo a uma crítica saudável, construtiva ou, até mesmo, a conversas apologéticas válidas sobre aspectos errados ou heréticos de certos setores da igreja. Essa é a boa crítica e não configura falar mal, mas sim apontar erros com boa intenção, por amor à sã doutrina. Eu me refiro a falar mal mesmo, no sentido mais pejorativo do termo. Aquele maldizer que tem um certo veneno, uma “pimentinha”, que é uma boa dose de pura maldade. Você sabe do que estou falando.

Diga-me se estou errado: sente em volta de uma mesa com certos grupos pentecostais e você verá que não demorará muito para que comecem a falar mal dos irmãos de igrejas tradicionais, chamando-os de “frios” e coisas similares. Desdenhando e, de certo modo, inferiorizando. O mesmo sentimento você encontrará em grupos de tradicionais que maldirão e depreciarão muitos aspectos do meio pentecostal. Outro exemplo é a eterna querela reformados (calvinistas) versus arminianos, em que a maledicência ocorre com uma frequência impressionante em certos círculos. Voam farpas dos dois lados, com comportamentos que vão das piadinhas a comentários agressivos e ofensivos. Uma tristeza.

Uma das áreas em que esse meu conceito de “maldição hereditária” cresce cada dia mais é na musical. A coisa mais comum é você ouvir pessoas que preferem um certo gênero ou estilo no louvor falar tudo o que você possa imaginar de ruim de quem não aprecia o mesmo. Esse sentimento de “tribo”, de “os nossos certos e os deles errados” vem impregnado muitas vezes de sarcasmo, desprezo, piadinhas e desmerecimento, seja por músicas, seja por músicos, seja por quem gosta do que o maledicente não gosta. Uns acusam outros de superficialidade; outros acusam uns de estagnação e anacronismo. Sempre com palavras nada amorosas. Uma tristeza.

Que dizer então de teorias teológicas? Perco a conta do número de vezes em que ouvi maledicências de certos grupos de cristãos acerca daqueles que não acreditam no que eles acreditam no que se refere aos mais variados aspectos da teologia cristã. E volto a dizer: não estou me referindo a divergências respeitosas e saudáveis, mas a conversas ferinas, depreciativas, cheias de desdém. Os pontos de controvérsia são muitos, e vão de línguas estranhas a teorias escatológicas; de crenças à discordância sobre a forma de batismo em águas; de opiniões sobre como escolher o cônjuge a visões sobre como deve ser a liturgia do culto. Uma tristeza.

E há a maledicência motivada por questões insignificantes. Já ouvi tititis porque o marido passou o braço pelos ombros da esposa durante o culto, ou veneno destilado sobre a roupa do irmão beltrano, sobre o cabelo de sicrana… o céu é o limite quando se trata de temas para maledicentes. Porque todo amante da maledicência tem algo em comum: não importa muito o tema, desde que possa falar mal. Uma tristeza.

Enfim, tenho visto grupos e mais grupos que têm em sua natureza o pecado da maledicência visto como algo normal e aceitável – até mesmo um elemento de união entre seus membros. Só que não é. Falar mal é, biblicamente, um horror. Veja:

“Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria; por estas coisas é que vem a ira de Deus [sobre os filhos da desobediência]. Ora, nessas mesmas coisas andastes vós também, noutro tempo, quando vivíeis nelas. Agora, porém, despojai-vos, igualmente, de tudo isto: ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena do vosso falar” (Cl 3.8). Viu ali a maledicência? Pois o falar mal é diretamente associado à natureza terrena e a práticas terríveis, como a ira e a avareza.

Salmos 62.3-4 vai além e indica que o maldizer é uma atitude clara de hipocrisia e falta de amor ao próximo – ou seja, é um pecado contra o Grande Mandamento: “Até quando acometereis vós a um homem, todos vós, para o derribardes, como se fosse uma parede pendida ou um muro prestes a cair? Só pensam em derribá-lo da sua dignidade; na mentira se comprazem; de boca bendizem, porém no interior maldizem”.

Mas tem mais. Em 1Timóteo 5.14, falar mal dos outros é diretamente denunciado como uma prática satânica: “Quero, portanto, que as viúvas mais novas se casem, criem filhos, sejam boas donas de casa e não dêem ao adversário ocasião favorável de maledicência”.

Diante disso tudo, fica claro que o falar mal do próximo, em todas as suas acepções (com piadas, sarcasmo, ironia, maldade, falsa intenção de exortação ou o que for) é abominação para Deus.

Agora, por favor, preste atenção a algo: o objetivo deste texto não é estimular você a olhar para o lado e ficar apontando e acusando tal e tal pessoa ou grupo que seja praticante dessa “maldição hereditária”. Isso não teria nenhuma utilidade para o evangelho ou para a sua vida espiritual. Caso você detecte que há grupos de maledicentes por perto, o mandamento do Senhor quanto a eles é claro e objetivo: “Digo-vos, porém, a vós outros que me ouvis: amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam” (Lc 6.26-28). Não há margem para interpretação. O mandamento cristão é: se falarem mal de você, fale bem deles.

O que desejo com este post é levar você a refletir e responder à seguinte pergunta: “Será que eu faço parte de algum grupo que pratica habitualmente e/ou prazerosamente a maledicência?” Se você percebe que a pecaminosa prática da maledicência faz parte de um determinado grupo a que você pertença (seja família, turma de amigos, colegas ou mesmo os membros da sua igreja), o que deve fazer? Há dois caminhos a seguir.

Primeiro: converse com os que tais coisas praticam e os alerte sobre quão maligno é o que fazem. Traga à lembrança deles que é preferível calar do que maldizer: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem” (Ef 4.29).

Segundo: se ainda assim os tais não ouvirem sua exortação e continuarem adeptos dessa cultura de “maldição hereditária”, afaste-se do grupo. Mateus 18 diz: “Se teu irmão pecar [contra ti], vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano”. Pois é melhor se afastar dos que amam falar mal dos outros do que permanecer contaminando-se com essa prática horrível. Em Mateus 5.29, Jesus recomenda: “Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno”. Arranque-se do grupo dos maledicentes antes que você sofra as consequências.

Que consequências? Vamos ouvir Tiago: “Se alguém se considera religioso, mas não refreia a sua língua, engana-se a si mesmo. Sua religião não tem valor algum!” (Tg 1.26). Em outras palavras, o irmão de Jesus está dizendo que a religião dos que não conseguem ficar calados se não têm algo edificante a dizer… não vale nada. Logo depois, ele dá o ultimato: “Com a língua bendizemos o Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. Da mesma boca procedem bênção e maldição. Meus irmãos, não pode ser assim!” (Tg 3.9-10). No grego original, a palavra traduzida aqui por “bênção” éeulogia, que significa “fala elegante”, ou “discurso justo”. Já “maldição” foi traduzida de katara, que quer dizer “execração”, ou seja, “ódio profundo” ou “aversão exacerbada” (segundo o dicionário Houaiss). Dá para conciliar uma fala elegante com outra que carregue em si ódio e aversão? Biblicamente, não.

Chama minha atenção a frase final de Tiago: “Meus irmãos, não pode ser assim!”. Repare, primeiro, que ele está se dirigindo a cristãos, o que prova que esse mal ocorre em nosso meio. E, segundo, ele afirma que não se pode amaldiçoar. Falar mal. Maldizer. Isso está errado. Precisamos mudar, se o fazemos. Precisamos exortar em amor os que o fazem. E, se continuarem se orgulhando e praticando a maledicência, devemos nos afastar da roda dos escarnecedores que existem em nosso meio.

Pare por um momento de pensar nos maledicentes que você conhece. Faça, isso sim, uma análise de si mesmo e de seu procedimento. Se você perceber que tem seguido o caminho da maledicência e decidir parar com isso, a teu respeito dirá a Palavra de Deus: “Se alguém não tropeça no falar, tal homem é perfeito” (Tg 3.2). E, se você decidir não se assentar mais na roda dos escarnecedores, a teu respeito diz a Palavra de Deus: “É como árvore plantada à beira de águas correntes: Dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham. Tudo o que ele faz prospera” (Sl 1.3). Reflita e responda: como você prefere ser conhecido nos céus: como alguém perfeito, que dá fruto e cujas folhas não murcham… ou como alguém que pratica o mesmo que o Diabo?

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

Os atributos morais de Deus e o comportamento do cristão




“Portanto santificai-vos, e sede santos, pois eu sou o Senhor vosso Deus” Lv 20:7

“Porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo”1Pe 1:16

Encontramos o padrão da vida cristã em Deus, e esse padrão é demonstrado através da Escritura Sagrada. Não adianta tentarmos inventar filosofias ou desculpas para nossas atitudes erradas. O padrão estabelecido por Deus é a Sua Palavra. Não adianta dizermos que somos falhos, isso nós já sabemos. Deus não pede, Ele manda que busquemos a santificação. Para o cristão, isso não é uma opção.

Ao procurarmos observar Deus através daquilo que Ele mesmo revela, encontramos os atributos morais. Essa moralidade é demonstrada de forma clara, e ela que devemos buscar em nossas vidas.

O cristianismo não é uma religião sem regras. Se assim fosse seria sinônimo de anarquia. Apesar de estarmos na Graça, Deus estabelece regras em sua palavra para que vivamos de forma digna e agradável a Ele. A afirmação de que temos liberdade em Cristo, não estamos debaixo da lei etc. tem sido apresentada como desculpa para se viver uma vida alienada de princípios bíblicos, descomprometida com a verdade escriturística e arraigada na anarquia. Ora, a anarquia é a estrutura social em que não se exerce qualquer forma de coação sobre o indivíduo. Esse tipo de atitude culminará na negação do princípio da autoridade, e consequentemente irá produzir a desmoralização, desrespeito e avacalhação do ambiente em que se vive. Tudo isso terá como resultado final a desordem, confusão e baralhada. Isto é, tudo será permitido em defesa da suposta liberdade em Cristo. Será permitido beber demasiadamente e cantar em um coral, ou prostituir-se descaradamente e subir nos púlpitos para se realizar apresentações, mentir, fofocar, provocar intrigas… tudo em nome da liberdade em Cristo. Muitos até afirmam que não podemos repreender alguém que está no erro, pois este será guiado pelo Espírito Santo, ou seja, impudentemente lançar-se-á nas costas do Espírito Santo a nossa própria responsabilidade.

Age-se com Deus, como se Ele não estivesse observando a nossa vida e não fosse nos pedir contas de nossas ações.

“Porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo”, foi o que disse Pedro. Essa santidade implica no afastamento e reprovação verbal e prática do pecado.

“Este testemunho é verdadeiro. Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sãos na fé” (Tt 1:13), foi o que disse Paulo ao afirmar que a repreensão é bíblica e deve ser realizada se alguém deseja a saúde verdadeiramente espiritual. Em 1 Coríntios capítulo 5 encontramos Paulo repreendendo a igreja porque esta sabia de um jovem que estava cometendo pecado e ninguém lhe havia repreendido, mas estavam convivendo harmonicamente com tal situação. Ao estudarmos a moralidade de Deus, entendemos que Ele deseja que tenhamos a mesma atitude. Vejamos alguns pontos que julgamos importantes acerca de Deus. E entenda que ao usar a expressão ‘Deus’, refiro-me ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo:

Totalmente separado de tudo que é mal e que causa corrupção (Lv 11:44)
Totalmente perfeito, puro e íntegro (1Jo 1:5; Sl 99:9)
Odeia o pecado (Hc 1:13)
Sente prazer no que é santo e direito (Pv 15:9)
Não ouve aquele que insiste em continuar no pecado (Is 59:1-2)
Concede libertação a quem que se arrepende (1Pe 2:24)
Ao nos aproximarmos de Deus, algumas conseqüências surgirão, pois a santidade de Deus mostrará:
A realidade devastadora de nosso pecado (Jó 42:5-6)
A efetividade do arrependimento com a expiação através do sangue, antes do perdão (Hb 9:22)
A Graça remidora e o amor de Deus (Rm 5:6-8)
A necessidade de reverência e temor diante de Deus (Hb 12:28-29)
A veracidade da retidão de Deus (Sl 89:14)
A existência de regras e exigências por parte de Deus (Sl 145:17)
A execução das penalidades impostas pelas Suas leis (Sf 3:5)

A indignação contra o pecado e o amor a inteireza de caráter (Sl 11:4-7)
A punição para os perversos e injustos (Dn 9:12,14)
A concessão de perdão para o arrependido (1Jo 1:9)
A fidelidade ao cumprir a Sua Palavra e as Suas promessas (Ne 9:7-8)
A libertação e a defesa oferecidas ao Seu povo (Sl 103:6)
A recompensa para aqueles que foram justificados por Cristo (Hb 6:10)
A justificação daqueles que exerceram fé em Cristo (Rm 3:24-26)
A obliteração das penalidades que nós merecemos (Sl 103:8)
A doação de bênçãos para aqueles que não merecem (Ef 2:8-10)

Ao vermos a atitude de Deus para conosco só podemos chegar a uma conclusão: Quem se aproxima verdadeiramente de Deus sentirá um desejo irresistível de consertar a sua vida para se parecer mais com o Senhor.

A aproximação de Deus levará o indivíduo a entender a seriedade do pecado; a compreender a necessidade de se tratar o pecador e não agasalhar o seu pecado; a aceitar a existência de regras estabelecidas por Deus em Sua Palavra; a buscar a reverência, temor e respeito para com Deus e Sua obra; a demonstrar graça e misericórdia, sem se deixar confundir com harmonização com o pecado; a cumprir com fidelidade a vontade Divina; a doar-se em benefício dos outros, e em prol do Reino de Deus.

Quem se aproxima de Deus irá entender o quanto somos falhos e o quanto precisamos buscar a santidade. A santidade que nos faz parecer mais com Cristo, no meio de uma sociedade entregue ao pecado. A santidade que nos faz desejar estar com Cristo. A santidade que nos faz buscar o Reino de Deus e não este mundo. A santidade que nos faz parecer cada vez menos com o estereótipo estabelecido por um mundo cego espiritualmente.

Estar separado do pecado não é o mesmo que ser legalista, no sentido pejorativo da palavra, mas é ser um santo posicional, que busca uma santificação progressiva. É buscar ser santo em todos os aspectos. E se para a sociedade pós-moderna isso significa ser legalista, que sejamos antes legalistas do que mundanos, descomprometidos com Deus e alienados da instrução bíblica. Que sejamos, antes de qualquer coisa, servos que dão prazer ao Senhor, do que senhores que maltratam e alienam seus servos, agindo como se estivessem em pé de igualdade com o Senhor dos senhores.

Que sejamos servos de fato e de verdade, e não apenas de aparência. Que definitivamente possamos servir a Deus com aquilo que Ele nos deu, remindo o tempo, instruindo sinceramente o povo, conduzindo-os ao arrependimento e andando com ele, o povo, rumo ao objetivo proposto pelo Senhor. Que paremos de “matar” o tempo dentro de nossas casas com coisas supérfluas e luxos desnecessários e cumpramos a carreira que nos foi proposta.

Que possamos conduzir o povo até Cristo, e depois disso instruí-los em como proceder, e não conduzir o povo até nossos pensamentos particulares, alicerçados em nossas experiências pessoais, gerando um batalhão de alienados e idólatras de líderes mundanos e egocêntricos.

Que busquemos a Deus para parecermos mais com Ele.

HÁ SALVAÇÃO FORA DA IGREJA?

Por Fábio Campos
Não existe doutrina principal para o homem conhecer do que a da salvação. Por vezes penso que o “senso do sagrado” foi perdido por alguns. Tratamos o assunto de uma forma rasa, superficial, sem nenhuma tristeza para com os que se perderam do ponto de vista teológico. Quando o assunto é a alma do homem, precisamos abordar o tema com muito temor; não há como se regozijar na condenação de alguém; pois Deus não tem prazer na morte do ímpio (Ez 18.32). O contrário também é um fato que requer cuidado. Colocar todo mundo no céu [pela doutrina universalista] é roubar a casa do seu dono e dar moradia a qualquer um sem autorização do proprietário. Por isso precisamos de um equilíbrio trazendo o contexto à luz das Escrituras. 

A salvação no decorrer dos séculos foi apropriada por alguns grupos exclusivistas como sendo seu patrimônio. Muitas seitas disseram no decorrer da história que a salvação depende da conversão do indivíduo ao seu grupo, e que fora da sua religião, não há salvação. O proselitismo é forte dentro destes grupos (fica a dica para se diagnosticar uma seita; o exclusivismo religioso). O Senhor deu uma promessa para Abraão; “por meio de ti todas as nações serão benditas”. Isso foi cumprido na pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo (Jo 1.1-14). Nele não há grego nem judeu (Gl 3.28). Até os dias de hoje os judeus tomaram a eleição para si dizendo serem eles o único grupo que possui a salvação. Para minha surpresa já escutei que “não existe salvação fora do calvinismo”. Que absurdo! John Wesley está no inferno? A igreja católica romana em sua confissão diz que “fora da igreja não há salvação”.

O pai da reforma protestante, Martinho Lutero, certa vez, disse que “pode haver salvação fora da igreja, mas não fora de Cristo”. Muitos irmãos ficam de cabelo em pé com esta citação, por isso é necessário entender o contexto e o porquê Lutero disse tal coisa. Cipriano (200-258), um dos pais da igreja, certa vez disse: “Quem não tem a igreja como mãe, não pode ter Deus como Pai, e fora da igreja não existe salvação”. Na teologia de Cipriano quanto à salvação, vemos o início de um sistema penitencial plenamente formado. Eis então que surgem os manuais de penitencias para todo o tipo de pecado dentro das igrejas ocidentais (católicas romanas). Grandes teólogos argumentam que a teologia de Cipriano para unificar a igreja foi extrema demais e que o resultado foi um afastamento do cristianismo apostólico; ou seja, a igreja se institucionalizou segundo os padrões do império Romano. A partir daí, o vigário (substituto) de Cristo já não é mais o Espírito Santo, mas o bispo. Antes era “onde o Espírito estiver ali também estará sua igreja”. O Ensino passou a ser “onde estiver o bispo, ali também estará à igreja verdadeira”.


Neste contexto os pré-reformadores lutaram com as Escrituras nas mãos contra este distanciamento do ensino dos apóstolos. Em 1517 Lutero crava suas 95 teses na porta da catedral de Witterberg. Ao invés de usar “Só a igreja”, ele diz “Somente Cristo”. Dentro disso Lutero afirma que a salvação pertence a Deus e está com Cristo, autor e consumador de nossa fé (Hb 12.1-3), e não com a igreja. Agora todos que pela fé receberam a salvação em Jesus Cristo, em um só espírito, foram batizados em um só corpo e lhe foram dados de beber de um só Espírito (1 Co 12.13). Lutero diferenciou a igreja institucional do corpo místico de Cristo. Ou seja, “o Senhor conhece aquele que lhe pertence” (2 Tm 2.19), e no tempo devido, seus anjos, ajuntarão seus escolhidos, desde os quatro ventos, da extremidade da terra até a extremidade do céu (Mc 13.27). O homem é templo do Espírito Santo e o Reino de Deus está entre eles. Qualquer lugar físico, leitura bíblica, e a exposição dos ensinos dos profetas e apóstolos e o partir do pão com singeleza de coração são frutos da verdadeira Igreja, pois onde dois estiverem reunidos no Seu Nome, Ali Jesus se fará presente.


A Bíblia é clara em dizer que “em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4.12). Todos estão condenados devido a sua desobediência (Rm 11.32), e que não há um justo sequer (Rm 3.10). Mas Deus enviou Seu Filho a semelhança de homem para condenar o pecado na carne, e todo o que nEle crer, não perecerá, mas já tem a vida eterna (Rm 8.1). O homem pode escapar do julgamento da Eclésia, mas não do trono de Deus (Ap 20.11-15). O julgamento terá um único crivo para a justificação ou para condenação, a saber, Jesus Cristo (At 17.31). Quem crer, não será condenado; quem não crer, este terá a condenação eterna.

Quando restringimos a salvação a um grupo institucional estamos dizendo que Deus habita em templos feitos por mãos humanas e depende deles para ser servido.

“O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há é o Senhor do céu e da terra, e não habita em santuários feitos por mãos humanas. Ele não é servido por mãos de homens, como se necessitasse de algo, porque ele mesmo dá a todos a vida, o fôlego e as demais coisas”. (At 17.24-25 NVI)

Se for a religião que tem o poder de salvar ou certa denominação, qual então seria a [Igreja] perfeita para poder conferir salvação ao homem? Visto que o corruptível, carne nem sangue, poderão herdar o Reino dos Céus. A igreja no seu organismo institucional é imperfeita e por isso não poderá salvar ninguém. Ela ensina o caminho, mas não é o caminho. Todos os pré-requisitos em como se achegar a Deus foram preenchidos unicamente na Pessoa do Filho de Deus e Deus o Filho, Jesus Cristo (Jo 14.6; 1 Tm 2.5). Nem todo membro de igreja que diz pertencer a Cristo, declarando ser Ele o Senhor da sua vida – os que pregam, expulsam demônios e realizam sinais e maravilhas no seu Nome - de fato, pertencem a Ele (Mt 7.21-23). Para muitos irmãos exclusivistas, caso a igreja de Corinto estivesse entre nós, com os seus erros doutrinários e com sua baixa moralidade, seria uma igreja de pessoas perdidas. O que dizer dos gálatas? E a igreja de Pérgamo, Tiatira e Laodiceia do apocalipse, todas com sérios problemas (Ap 2 - 3)? Imagino-os dizendo: “A única igreja verdadeira é a de Filadélfia, pois nela não se achou erro, e fora dela não há salvação”.

A salvação pertence a Deus. Jesus sendo o doador dela [salvação] por ser o salvador dá a quem quiser sem precisar dar satisfação a nenhum de nós, ou alguém se atreve a ser o seu conselheiro? É muito interessante o ensino deste Salvador. Ele dificultou a entrada dos ricos no Reino dos céus dizendo: "Como é difícil aos ricos entrar no Reino de Deus” (Mc 10.23)! Dificultando mais ainda, Ele usa uma figura de hipérbole dizendo ser “mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus" (Mc 10.25). Aos nossos olhos muitos queimarão no fogo do inferno. A reação dos discípulos é mesma que a nossa: Os discípulos ficaram perplexos, e perguntavam uns aos outros: "Neste caso, quem pode ser salvo” (Mc 10.26)? Neste momento entra a graça incompreensível de Deus: Jesus olhou para eles e respondeu: "Para o homem é impossível, mas para Deus não; todas as coisas são possíveis para Deus" (Mc 10.27 NVI). Jesus está dizendo não o que o homem considera possível, mas sobre o que parece impossível (27). Para um homem é impossível que o camelo passe pelo fundo de uma agulha, para Deus nada é impossível, pois não existe coisa difícil que possa superar sua sabedoria e misericórdia, a qual triunfa sobre o juízo.

Para os judeus os samaritanos eram filhos do diabo e predestinados a condenação eterna. Entra em cena novamente o Salvador, Aquele que venceu a morte e o inferno. Um mestre da Lei O interroga [Jesus] sobre a vida eterna. Jesus diz para ele que cumpra os dois principais mandamentos: “Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento’ e ‘Ame o seu próximo como a si mesmo” (Lc 10.27). O interprete da lei, teólogo e conhecedor profundo do Tanak, não satisfeito e querendo se justificar, disse, “quem é o meu próximo”. Era melhor ele ter ficado quieto.

O Salvador ilustra a atitude de um salvo genuíno ao mestre da lei. Um homem tinha sido espancado e assaltado estando praticamente morto. Passou por ele um sacerdote e um levita, homens constantes no templo. Ambos não o socorreram. O terceiro era um SAMARITANO. Pois é, o “endemoninhado” do samaritano foi o perfil que Jesus ilustrou a atitude de um salvo. Este diferente do sacerdote e levita, aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e disse-lhe: ‘Cuide dele. Quando voltar lhe pagarei todas as despesas que você tiver’ (Lc 10.34-35). Jesus disse para aquele mestre da lei, “vá e faça o mesmo que fez o samaritano”, pois aquele que de fato é salvo ama a Deus acima de todas as coisas e demonstra este amor amando o próximo como a si mesmo. O samaritano não era muito ortodoxo na teologia, mas na prática demonstrou ter fé que foi comprovada pelas obras. 

Teremos surpresas no céu! O salvador disse: “Mas eu vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e assentar-se-ão à mesa com Abraão, e Isaque, e Jacó, no reino dos céus (Mt 8.11); enquanto muitos que se dizem ser do Reino “serão lançados nas trevas exteriores” (Mt 8.12). O que dizer do ladrão na cruz que horas antes estava perdido blasfemando contra o Senhor Jesus. Mas em um momento de lucidez, convencido pelo Espírito, aos 45 minutos do segundo tempo, escuta do Senhor que é autor da Salvação: “Hoje mesmo estará comigo no Paraíso”. Meu Deus, que Deus é esse? Este é o Senhor Jesus! O ladrão na cruz foi justificado não pelas obras de justiça que tivesse feito, mas segundo a misericórdia de Deus (Tt 3.5). Ele nunca pertenceu a uma igreja [ou sinagoga]. Em uma questão de segundos foi inserido na Igreja Verdadeira - aquela que reina pela eternidade, pois um dia para Deus é como se fosse mil anos, e mil anos como se fosse um dia.

Não sou a favor do movimento dos desigrejados, pelo contrário. A Bíblia ordena que congreguemos (Hb 10.25) e que pelo dom dispensado pelo Espírito Santo possamos em unidade aperfeiçoar o corpo de Cristo (Ef 4.11). É na congregação que nos ajudamos. Se mantivermos comunhão uns com os outros, o sangue de Jesus nos purifica de todo pecado. Congregar é um mandamento bíblico! O salvo faz alguma coisa; ele vive como salvo, digno da sua vocação. Porém, quando concordo com Lutero quando diz que “pode haver salvação fora da igreja”, digo que a pessoa que invocar o nome do Senhor, ainda que em um leito de morte, sem ao menos ter pisado em uma igreja, será salvo (Rm 10.13). O Dr. Martyn Lloyd-Jones na exposição que fez de Rm 8.16 que diz: “O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus”, afirma que “o testemunho do Espírito ao nosso próprio espírito é mais do que o resultado de um processo racional, pelo qual o crente chega à certeza da salvação. Segundo ele, trata-se de uma certeza dada de forma imediata (sem o uso de meios) pelo Espírito, diretamente à nossa consciência”. O Senhor poder trazer a memória do perdido lembranças e ensinos ministrados no decorrer dos anos que poderão ser gemidos pelo Espírito invocando a vontade de Deus que ninguém pereça, mas tenha vida mediante o arrependimento dos pecados.

Porém, aqueles que discordam de Lutero precisam explicar em quem mais pode haver salvação se não for em Cristo. O Senhor não se restringe há um espaço de tempo. A mensagem do Evangelho é muito generosa (Jo 3.16) para ser doada por homens que dizem serem eles proprietários dessa salvação. Não estou fomentado que os homens se arrependam no leito de morte. Até mesmo porque estarão perdendo os benefícios ganhos pela comunhão com Deus através de Jesus Cristo: paz, mansidão, bondade, domínio próprio e outras coisas mais. Um salvo em Cristo não consegue ficar fora da comunhão dos santos. Minha questão não é com aqueles que se dizem salvos e não querem congregar. A questão que abordo é quando o indivíduo, no leito de morte, assim como o ladrão na cruz, se arrepende e invoca a Cristo. Não consigo compreender como um salvo fica fora da comunhão dos santos. Algo está errado.

Gostei muito de uma frase dita pelo Pastor Ariovaldo Ramos: “A pregação é um departamento dos homens; a salvação é um departamento de Deus”. O papel da igreja é pregar em tempo e fora de tempo, sabendo que quem dá o crescimento é Deus. Nós não temos provas empíricas do que o Espírito Santo tem feito no coração dos homens. Só Ele pode penetrar por Sua Palavra e discernir os pensamentos e as intenções do coração. Nossa obrigação é plantar e regar, porém o crescimento vem de Deus e poderá ser finalizado no último suspiro.

A salvação é pela graça, por meio da fé, não vem do homem, mas é um presente gratuito de Deus, para que ninguém se glorie diante dEle (Ef 2.8-9). O mundo será julgado pelo o que Cristo fez. E isso não depende das obras, mas daquele que chama (Rm 9. 11-12). Ele terá compaixão de quem quiser (Rm 9.15). Será inútil e tolo a criatura questionar o criador dizendo: “Nós trabalhamos o dia todo para ganhar o mesmo daqueles que trabalharam apenas uma hora”. Segue a resposta do dono da salvação: “Não me é lícito fazer o que quiser do que é meu? Ou é mau o teu olho porque eu sou bom (Mt 20.15)? A salvação pertence a Deus e Ele dará a quem quiser, do modo que achar melhor, e na hora que Ele, pela sua soberana vontade, estabeleceu. Portanto, isso não depende do desejo ou do esforço humano, mas da misericórdia de Deus (Rm 9.16).

Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e inescrutáveis os seus caminhos! "Quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? "Quem primeiro lhe deu, para que ele o recompense?" Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre! Amém.

- Romanos 11.32-36 (NVI)