sábado, 14 de dezembro de 2013

Cura Bíblica ou Placebo Psicológico?




 Por Jorge Fernandes Isah

Lendo o livro do Dr. Jay Adams,
"Manual do Conselheiro Cristão"
1, percebi que ele bate repetidamente na mesma tecla: de que à parte da Escritura é impossível qualquer mudança ou cura espiritual.

O homem poderá se debater e se bater com diversas metodologias, desde as pretensamente mais científicas até as não-científicas; porém, sem que se creia nas orientações da Bíblia, a mudança mais radical, o novo nascimento, é inatingível; visto essa condição somente ser possível pelo poder do Espírito Santo o qual nos predispõe, transformando a antiga natureza em uma nova natureza, para que sejamos capazes de seguir o Seu norteamento.
Desta forma o não-crente somente terá uma esperança viva e verdadeira se, pela operação divina, converter-se à fé no Evangelho de Cristo. De outra forma, andará em círculos, amenizando aqui e acolá seus problemas, que "volta e meia" retornarão, sem que haja uma solução. São placebos sem nenhuma eficácia, o mesmo que tomar comprimidos de açúcar (que podem matar ao invés de curar, se a pessoa for diabética, p.ex).

Outra posição do Dr. Adams é a da necessidade de confrontação com o cliente (a utilização do termo se dá pelo fato do autor não ver o aconselhado como paciente). Enquanto ele não souber claramente qual é o seu problema, e esse problema não for tratado através do arrependimento e do perdão (sobretudo o arrependimento diante de Deus para receber o Seu perdão); confrotado pela sua natureza caída e a de seus semelhantes (a impiedade humana) diante da graça divina, esse homem será um homem sem esperança.

Ao contrário, se tiver a mente de Cristo, e for inundado por ela, aprenderá a viver uma vida relativamente desprovida de raízes neste mundo, e isso será uma imensa alegria, pois viverá como se peregrino e estrangeiro fosse. Como definiu o autor: "Toda mudança prometida por Deus é possível. Toda qualidade requerida por Deus, da parte de Seus filhos remidos, pode ser atingida. Deus supriu cada recurso para tanto necessário... sua pátria está nos céus (FP 3.20), e, por isso, há esperança de alegre mudança no aconselhado pela graça de Deus"2.

A mudança na crença do que é o homem a partir de conceitos "mascarados" pelo próprio homem, como a sua bondade inerente, a sua animalidade inerente, a sua irresponsabilidade inerente, a relatividade das relações e da moral, tornam em infrutíferas, perniciosas e catastróficas a metodologia humana para se tratar os desvios e os problemas espirituais (inorgânicos). A abordagem não-cristã é inútil e apenas escravizará o "doente" numa espécie de redoma que o próprio método o direcionará e aprisionará.

Por exemplo, existe a abordagem do conhecimento do especialista (freudianismo) em que o aconselhamento somente deve acontecer por métodos e técnicas apropriadas (segundo eles). Nela os problemas são resultados dos eventos externos ocorridos na vida do cliente, o que retira do cliente qualquer responsabilidade, pois os fatores que o levaram ao problema decorrem das ações de outras pessoas. Interessante que esse método tende a "inocentar" o cliente e a culpabilizar quem vive ao seu redor. E, assim, o indivíduo vive num círculo vicioso onde a culpa dos seus problemas se deve à socialização deficiente, onde o cliente sempre será a vítima, e as outras pessoas com quem conviveu em seu passado ou mesmo no presente, são os criminosos. E isso determinou-lhe uma consciência rígida (superego), a qual se encontra em conflito com os seus desejos normais (id), levando-o às dificuldades, à sua não adaptabilidade, gerando os vários e duradouros conflitos da vida.

Portanto, o perito terá de desfazer aquilo que os outros fizeram, reverter esse quadro pela psicanálise, retrocedendo ao passado do cliente, fazendo-o reviver pessoas e situações desagradáveis, a fim de torná-las, durante as sessões, agradáveis, reestruturando o sistema de valores do aconselhado. Esse método é longo e está envolto em um emaranhado de especialização que torna o psicanalista em uma espécie de "super-homem" com todos os poderes sobre o cliente. Ele cria uma dependência e um vínculo que impedem o paciente até mesmo de decidir sobre si mesmo, pois muitos são internados por ordens desses mesmos peritos, que controlarão a sua vontade e desejos tornando-os em corpos sem almas.

Da mesma forma, ainda que o padrão seja diferente, o behaviorismo de Skinner, se posiciona como a escola de modificação comportamental baseada no empirísmo. Para eles, o homem é apenas um animal, e, por isso, produto do seu meio ambiente. Novamente, temos uma causação externa ao cliente. Ele não é culpado por seu comportamento nocivo, o qual é somente consequência do seu convívio social.

Para Skinner, falar ao menos em responsabilidade é uma insensatez. "A solução aventada por Skinner consiste em descobrir cientificamente as contingências relacionadas à conduta 'deficiente' (todos os julgamentos de valores fazem parte da mitologia), para então, com base nos informes obtidos, reagrupar as contingências ambientais, a fim de reprogramar as reações do paciente. Isso é feito mediante o uso de recompensas e controles que provoquem a aversão"3. Em outras palavras, seria o mesmo que domesticar o homem como se domestica um cão selvagem, treinando-o para fazer exatamente o que o "dono" quer. Porém, ao meu ver, os animais foram criados por Deus para servirem ao homem; e, especificamente neste caso, o que vemos é o homem no mesmo nível dos animais, servindo a um grupo elitista que se considera como um semi-deus. Desta forma, o método utilizado não é o da confrontação bíblica, mas o da manipulação, ao qual muitos aconselhadores cristãos se submeteram (p.ex., Dobson).

Para ele, o homem é tão destituído de valor quanto qualquer animal; e assim, podem fazer do homem qualquer tipo humano desejado, começando pela manipulação genética e então estabelecendo as contingências ambientais desejadas. O objetivo é o de criar rebanhos, como gado. Mas, mesmo entre peritos tão obstinados, não há unidade, e determinar o que quer que fosse seria impossível, visto não haver valores fixos, nem padrões, pois tudo é relativo, está a ser descoberto ou mesmo pode não ser o desejado.

Da mesma forma outras abordagens seguem o mesmo padrão de controlar, dominar e aprisionar os clientes aos seus métodos. Não há desejo real de libertá-los.

Sem o uso das Escrituras, sem a conversão, sem o arrependimento, sem que o Espírito Santo atue no homem, sem a santificação, sem a confrontação bíblica, sem que a criança seja ensinada nos caminhos do Senhor, todos esses métodos se tornam em uma louca prisão, onde o cliente não obtém cura, e necessita constantemente estar "conectado" ao especialista e sua metodologia, sem que muitas vezes se saiba exatamente o que ele tem, nem como "curá-lo".

Uma boa dica de série televisiva é Monk, cujo personagem sofre de transtorno compulsivo, o chamado "toc", e se mete em hilárias situações (ainda que a série faça da psicanalise uma "válvula de escape"; de onde o personagem não consegue escapar, e se mantém completamente dependente, preso ao método).
Há outras como Criminal Mind e Lie To Me (nitidamente adeptas do método de Skinner) que abordam o homem a partir do seu comportamento. Em última análise, eles sempre poderão solucionar os casos criminosos baseados na personalidade, no seu passado, e em suas relações. Acontece que sendo o próprio homem quem investigará esses elementos, assegurar que ele os compreenderá e solucionará é impossível. Como séries policiais, elas não se propõem a garantir a cura do cliente (nem estão preocupadas com esse aspecto), mas apenas descobri-lo, revelando-lhe a identidade através dos crimes. Mesmo que o objetivo seja minimamente alcançável, tenho dúvidas da sua eficácia.

Outra interessante série no campo psicológico voltada para os animais é o Encantador de Cães, ainda que esteja fundida a uma crença holística (espiritualista panteísta), mas que também analiza os comportamentos dos humanos, no caso, os donos, a partir do mesmo princípio em que os animais são examinados.

Voltando ao Dr. Adams, ele se posiciona frontalmente contra os métodos anticristãos, os quais, perpassados por técnicas esotéricas, obscuras, não revelam a verdade do paciente, nem o colocam em contato com a realidade, sua e do mundo em que vive. Pelo contrário, eles o transportam para um mundo paralelo, onde não há solução, apenas contemporização e uma cura intangível.

Com o alicerce sólido [a Escritura] o crente poderá erguer uma metodologia cristã coerente com o alicerce; enquanto o incrédulo sempre distorcerá esses aspectos com seus pecados e sua posição não-cristã de vida. Porém, o conselheiro cristão poderá trazer à luz a verdade obscurecidamente refletida pelo incrédulo a partir dos princípios e metodologia bíblicos. Ele jamais deverá buscar e incorporar a esses princípios e metodologia elementos alheios e antibíblicos. Técnicas que aparentemente são eficazes somente o distanciarão ainda mais da eficiência escriturística.

Infelizmente o eclético e o cristão "moderno" (diga-se pragmático e liberal) partem da premissa de que não existe base bíblica que sirva de alicerce, e, invariavelmente, pegarão tudo de que dispoem à mão para tentar construir algo que funcione, mas que ao final, será apenas um trabalho sem efeitos reais e verdadeiros.

Na ânsia de se obter resultados a qualquer custo, esquece-se de que há somente um caminho que o assegurará: a sabedoria e o conhecimento bíblico com o qual o homem é transformado à imagem de Cristo. Em sua rebeldia, o que o homem faz é afastar-se de Deus, e buscar em si mesmo o deus (in)capaz de curá-lo.

O crente não pode agir como alguém que ao final não tem nada, quando Deus lhe deu tudo, tanto o alicerce como os materiais a fim de construir um sistema bíblico.

O pressuposto principal é o da inspiração divina da Escritura, a qual tem o poder de:

1) Ensinar, estabelecendo normas de fé e de vida.

2) Repreender, mostrando de modo convincente aos crentes que errarem, como e de que forma estão vivendo no erro.

3) Corrigir, endireitar novamente a partir das Escrituras a fim de que o crente se firme outra vez.

4) Disciplinar na justiça, pois as Escrituras permanecem operando em nós, estruturando-nos na disciplina diária, conduzindo-nos à piedade.

Esses quatro usos das Escrituras delimitam quatro atividades básicas do aconselhamento bíblico:

1) Atividade aquilatadora, o crente, alicerçado na Bíblia, não encontra dificuldade alguma em fazer juízo sobre as questões. Por exemplo, a Bíblia diz que o homossexualismo é pecado. Para o crente, a questão está resolvida.

2)Atividade convencedora, na qual a Palavra revelará o padrão divino de santidade a fim de que haja arrependimento do aconselhado, e não uma busca infrutífera por um alívio. Condutas pecaminosas sempre trarão consequências danosas às vidas das pessoas; logo, o conselheiro, ao invés de minimizar ou contemporizar o pecado, deve mostrá-lo, levando o cliente à convicção de sua rebeldia. Somente a ação do Espírito Santo mediante a Palavra poderá ajudar o aconselhado a buscar o "reino de Deus e a Sua justiça", através da qual ele experimentará o verdadeiro alívio e a verdadeira felicidade.

3)Atividade Transformadora - As escrituras, eminentemente práticas, levarão o crente não somente a reconhecer o seu pecado, mas a como ser restaurado, recuperado do pecado. A Bíblia deve ser usada de modo prático, da forma como Deus tencionou que fosse empregada.

4)Atividade Extruturadora - O discipulado através da disciplina no ensino regular e ordenado da Palavra, pela Palavra, tornará o crente habilitado para toda a boa obra; porque não há nada que o homem de Deus não esteja adequadamente preparado pelas Escrituras.

Portanto, a metodologia a ser aplicada no aconselhamento não pode ser o ajuntamento e colagem de toda espécie de coisas à Bíblia, e sim, usarmos os recursos do conhecimento divino no aconselhamento, através do estudo árduo e contínuo das Escrituras.

É preciso conhecer os problemas humanos, e descobrir as respostas dadas por Deus. E o único método é através do estudo e ensino das Escrituras.

Para completar, o aconselhamento cristão é uma prerrogativa de qualquer crente, mas, sobretudo, ele tem de vir sob a autoridade investida por Cristo e a Igreja; portanto, segundo Adams, é função primordial dos pastores, os quais são preparados escrituristicamente para tal, e outorgados por Deus e a Igreja para cumprirem essa missão, como vocação especial.

Infelizmente, do último século para cá, o aconselhamento tem sido adotado secularmente por profissionais da área médica; e os médicos devem se ocupar exclusivamente com os problemas orgânicos, ou seja, com a saúde física do homem. Assim, "não há lugar, no esquema bíblico, para o psiquiatra como médico de especialidade separada. Essa casta, que a si mesmo se nomeou, veio à existência ante a expansão do guarda-chuva médico a fim de incluir as doenças inorgânicas (qualquer que seja o seu sentido)"4.

Ao investirem-se de prerrogativas as quais não lhe cabem, como as do psicólogo e psiquíatra, eles deixam de cumprir verdadeiramente a sua missão para tornarem-se em ministros seculares, metade médico (uma parte insignificante) e metade sacerdote secular (uma parte avantajada), corrompendo todo o objetivo do aconselhamento e, por conseguinte, da medicina. Até porque muitos vêem o aconselhamento como uma forma de não-aconselhamento, relativista, em que o aconselhado é estimulado a falar ao invés de ouvir, onde não se busca o resultado objetivo (no caso do crente, a santificar-se e amoldar a sua imagem à de Cristo

Placebo gospel


 

 
Por Hélio

Numa simplificação assumidamente insuficiente, “placebo” é um “remédio” que, na verdade, não é remédio, mas uma espécie de simulação de medicamento que, quando administrada a um paciente, faz com que ele apresente certos resultados fisiológicos decorrentes da, digamos, “sensação” de que está sendo devidamente tratado da doença que o acomete. Um placebo seria, por exemplo, uma pílula de farinha que faria as vezes de um analgésico ou antidepressivo, o que geraria no paciente que sofre de dor ou depressão um certo alívio nos seus sintomas em virtude dele acreditar que aquela pílula inócua e inútil teria o condão de realmente atacar e curar a sua enfermidade. Em termos metodológicos, o placebo é frequentemente utilizado para se medir a eficácia de um novo medicamento em testes controlados, em que parte das pessoas que o testam são tratadas com placebo e outras com o medicamento que está sendo pesquisado. O controle em questão é feito mediante protocolos reconhecidos por outros pesquisadores e instituições científicas. Na outra ponta dessa metodologia estão as críticas que se fazem a terapias alternativas, sem comprovação científica, às quais se atribuem o efeito placebo quando ocorre alguma melhora da condição do paciente.

Dito isto, a analogia que proponho é em relação ao tipo de evangelho que, com o perdão da palavra, está sendo “servido” hoje ao povo brasileiro. Se bem que, muitas vezes, parece que o correto seria dizer que está sendo “testado”. No que tange ao “antigo” evangelho decorrente da mensagem da cruz de Cristo, parece que esta simples e pura boa nova, experimentada, acolhida e – principalmente - vivida por gerações ao longo dos milênios em todos os rincões do mundo, já não é mais suficiente para os brasileiros do século XXI. Estes preferem uma espécie de “placebo gospel” embalado numa mensagem açucarada que não ataca nem cura o âmago do ser humano, mas as suas necessidades imediatas e – muitas vezes – supérfluas de bens, autoafirmação e consumo, fornecendo-lhe doses cavalares de pílulas de autoengano que lhes permitam enfrentar a dureza da vida.

Não por acaso, segundo o dicionário Houaiss, a palavra “placebo” vem do latim placebo, que significa “eu agradarei”, 1ª pessoa singular do futuro do indicativo do verbo placére (“ser do agrado, agradar, aprazer”). Uma espécie de balinha doce para agradar paladares e estômagos menos exigentes, mas inservível para alimentar, e que, infelizmente, está sendo oferecida de muitos púlpitos espalhados pelas igrejas evangélicas no Brasil. Alívios momentâneos para o cansaço e o pecado mediante refrões e discursos pré-fabricados, mas que não transformam vidas nem salvam almas, já que a cruz de Cristo é esquecida ou sublimada. Não por acaso, Paulo já advertia quanto aqueles “que são inimigos da cruz de Cristo; cujo fim é a perdição; cujo deus é o ventre; e cuja glória assenta no que é vergonhoso; os quais só cuidam das coisas terrenas” (Fil 3:18-19).

Este placebo que emana dos púlpitos não só engana sua audiência como tece uma rede de conformismo e autoemulação coletiva entre pastores e líderes de outras tantas igrejas evangélicas, que abandonam o seu senso crítico em troca de “unções” e conchavos suspeitos. Enquanto na metodologia científica, tanto o placebo como o remédio verdadeiro são averiguados e checados pela comunidade de pesquisadores, na “metodologia” religiosa, os placebos são aceitos como verdades insofismáveis, as quais não é lícito a ninguém o simples questionar. Tudo é engolido a seco sem qualquer critério, e líderes se juntam a outros líderes com base apenas no título que ostentam e na denominação que representam, como se o simples fato de se autoafirmarem “evangélicos” fosse suficiente para autorizá-los a se confraternizarem em convescotes e banquetes da vaidade, em que o Espírito Santo é barrado na porta.

Isto me lembra da homeopatia, que é frequentemente atacada pela comunidade científica como um exemplo de placebo. Sem entrar nesta questão específica, numa definição também reconhecidamente rasa, a grande característica da homeopatia é a diluição sucessiva de uma determinada substância até se atingir determinada potência do seu princípio ativo. Parece que é este o fenômeno que tem atacado a mensagem do evangelho no Brasil. A cruz de Cristo vai sendo sucessivamente diluída em tantos rituais e discursos inúteis que, ao contrário do que reza a teoria homeopática, termina perdendo todo o seu potencial de transformação do ser humano.

Atitude um pouco diferente têm os católicos devotos de Frei Galvão. As suas “pílulas” são uma espécie de placebo ao qual se atribuem milagres. Pelo menos, ao distribuí-las, as freiras do mosteiro da Luz não escondem de ninguém de que se trata apenas de palavras microscópicas enroladas num papel minúsculo.