segunda-feira, 28 de abril de 2014

Moralismo não é o evangelho



Por Albert Mohler Jr

…mas muitos pensam que é

Uma das afirmações mais espantosas do apóstolo Paulo é sua acusação aos gálatas por terem abandonado o evangelho: “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho”. Como foi afirmado tão enfaticamente, os gálatas haviam falhado no teste crucial de discernir o evangelho autêntico de suas imitações.

Suas palavras não poderiam ser mais claras: “Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema.” (Gálatas 1.8-9)

Esse alerta do apóstolo Paulo, expressado por meio de choque e pesar, é direcionado não apenas à igreja na Galácia, mas a toda congregação de qualquer era. Em nossos dias – e em nossas igrejas – precisamos desesperadamente ouvir e atentar a esse alerta. Em nossos dias, enfrentamos falsos evangelhos não menos subversivos e sedutores que aqueles encontrados e abraçados pelos gálatas.

Em nosso contexto, um dos falsos evangelhos mais sedutores é o moralismo. Esse falso evangelho pode tomar muitas formas e pode emergir de vários impulsos culturais e políticos. Ainda assim, a estrutura básica do moralismo se resume a isso – a crença de que o Evangelho pode ser resumido à melhorias de comportamento.

Infelizmente, esse falso evangelho é particularmente atrativo àqueles que acreditam serem evangélicos motivados por impulsos bíblicos. Crentes além da conta, e suas igrejas, sucumbem à logica do moralismo e reduzem o Evangelho à mensagem do desenvolvimento moral. Em outras palavras, nós comunicamos aos perdidos a mensagem de que o que Deus deseja para eles e requer deles é que eles vivam suas vidas corretamente, na linha.

Em certo sentido, nós nascemos para sermos moralistas. Criados à imagem de Deus, nos foi dada a capacidade moral da consciência. Desde nossos primeiros dias, nossa consciência já manifesta nosso conhecimento de culpa, de falhas e de maus comportamentos. Em outras palavras, nossa consciência acusa nossa pecaminosidade.

Adicione a isso o fato de que o processo de educação infantil tende a inculcar o moralismo desde cedo. Nós rapidamente aprendemos que nossos pais estão preocupados com nosso comportamento. Crianças bem comportadas são recompensadas com a aprovação dos pais, enquanto a malcriação traz seus castigos. Essa mensagem é reforçada por outras autoridades sobre os mais novos e permeia toda a cultura em geral.

Escrevendo sobre sua própria infância no interior rural da Georgia, o romancista Ferrol Sams descreveu a tradição enraizada de ser “bem educado”. Conforme ele explicou, a criança “bem educada” agrada seus pais e outros adultos ao aderirem a certas convenções morais e à etiqueta social. Um jovem “bem educado” se torna um adulto que obedece a lei, respeita seu próximo, se compromete, pelo menos verbalmente, às expectativas religiosas e se mantém longe do escândalo. O argumento é claro – isso é o que os pais esperam, a cultura afirma e muitas igrejas celebram. Mas nossas comunidades estão cheias de pessoas “bem educadas” que estão destinadas ao inferno.

A sedução do moralismo é a essência de seu poder. Somos facilmente levados a acreditar que realmente podemos conquistar toda a aprovação que precisamos por meio de nosso comportamento. É claro, para fazer parte dessa sedução, precisamos negociar um código moral que define o comportamento aceitável com inúmeras brechas. A maioria dos moralistas não diria que não tem pecado, mas sim que estão longe do escândalo. Isso é considerado suficiente.

Moralistas podem ser categorizados tanto como liberais quanto como conservadores. Em cada caso, um conjunto específico de obrigações morais constrói a expectativa moral. Generalizando, normalmente é verdade que os liberais focam em um conjunto de expectativas morais relacionadas à ética social, enquanto os conservadores tendem a focar na ética pessoal. A essência do moralismo é aparente em ambos – a crença de que podemos alcançar justiça por meio de bom comportamento.

A tentação teológica do moralismo é tal que muitos cristãos e igrejas tem dificuldade de resistir. O perigo é de que a igreja comunique tanto direta quanto indiretamente que o que Deus espera da humanidade caída é desenvolvimento moral. Ao fazê-lo, a igreja subverte o Evangelho e comunica um falso evangelho para o mundo caído.

A igreja de Cristo não tem outra opção além de pregar a Palavra de Deus, e a Bíblia revela fielmente a lei de Deus e um código moral abrangente. Os cristãos entendem que Deus revelou a si mesmo por meio da criação de tal forma que deu à humanidade o poder restritivo da lei. Mais ainda, ele nos comunicou por meio de sua palavra mandamentos específicos e instruções morais abrangentes. A igreja do Senhor Jesus Cristo que é fiel precisa batalhar pela retidão desses mandamentos e a graça que nos foi dada de conhecer o que é bom e o que é mau. Também temos a responsabilidade de testemunhar esse conhecido do bem e do mal aos nossos próximos. O poder restritivo da lei é essencial à comunidade e à civilização humana.

Assim como pais corretamente ensinam seus filhos a obedecerem instruções morais, a igreja tem a responsabilidade de ensinar aos seus os mandamentos morais de Deus e de testemunhar à sociedade ao redor o que Deus declarou ser justo e correto para suas criaturas humanas.

Mas esses impulsos, por mais corretos e necessários que sejam, não são o Evangelho. De fato, um dos evangelhos falsos mais insidiosos é o moralismo que promete o favor de Deus e a satisfação de sua justiça aos pecadores se eles simplesmente se comportarem bem e se comprometerem com a melhoria moral.

O impulso moralista na igreja reduz a Bíblia a um livro de regras para o comportamento humano e substitui o Evangelho de Jesus cristo por instrução moral. Púlpitos evangélicos além da conta são a fonte de mensagens moralistas, ao invés da pregação do Evangelho.

O corretivo para o moralismo vem diretamente do apóstolo Paulo quando ele insiste que “o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus”. A salvação vem para aqueles que são “justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado” (Gálatas 2.16).

Nós pecamos contra Cristo e distorcemos o Evangelho quando sugerimos aos pecadores que o que Deus demanda deles é o desenvolvimento moral de acordo com a Leu. O moralismo faz sentido para pecadores, pois é uma expansão daquilo que aprendemos desde nossos primeiros passos. Mas o moralismo não é o Evangelho, e ele não salva. O único evangelho que salva é o Evangelho de Cristo. Como Paulo lembrou os gálatas, “vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos.” (Gálatas 4.4-5)

Nós somos justificados somente pela fé, salvos somente pela graça e redimidos de nossos pecadossomente por Cristo. O moralismo produz pecadores que são mais bem comportados (em potencial). O Evangelho de Cristo transforma pecadores em filhos adotivos de Deus.

A igreja nunca deve desviar, acomodar, revisar ou esconder a lei de Deus. De fato, é a lei que nos mostra nosso pecado e deixa clara a nossa inadequação e nossa total falta de justiça. A Lei não pode dar vida mas, como Paulo insiste, “nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé.” (Gálatas 3.24).

O perigo mortal do moralismo tem sido uma tentação constante à igreja e um substituto muito conveniente para o Evangelho. Claramente, milhões de nossos próximos creem que o moralismo é a nossa mensagem. Nada menos que a pregação audaciosa do Evangelho será o suficiente para corrigir essa impressão e levar pecadores à salvação em Cristo.

O inferno será amplamente povoado por aqueles “bem educados”. Os cidadãos do céu serão aqueles que, pela pura graça e misericórdia de Deus, estarão lá apenas pela justiça imputada de Jesus Cristo.

O CRISTIANISMO NÃO É MORAL, MAS ONTOLÓGICO!

Por Fabio Campos
Texto base: “A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. – João 3.3 ARA

Alguém já disse que “a diferença entre Deus e o homem não é moral, mas ontológica, pois pecado não é o que faço, mas o que eu sou”. Quando estudamos a história da igreja percebemos o quanto, aos poucos, a eclésia foi dando mais ênfase na “tradição elaborada por homens”, através de um rigor ascético, do que propriamente no ensino dos Profetas e Apóstolo, os quais trataram a conversão com base no “novo nascimento” e do “novo coração”.

Impor compulsoriamente as regras morais foi um artifício muito usado no decorrer dos séculos. Longas listas do que “pode” ou “não pode”; purificação através de ritos; purgação de pecados através da negação dos prazeres legítimos; tudo era utilizado para avaliar quem de fato era salvo ou não. A teologia cristã foi rarefeita por diversas vezes por conta disso. Alguns ensinos tinham por objetivo coagir as pessoas a não pecarem. Esta era a forma utilizada pela liderança eclesiástica para refrear os impulsos pecaminosos. Com isso muitos foram se distanciando do ensino escriturístico do “novo nascimento”, enveredando-se para os “preceitos e doutrinas de homens”. Como bem disse o Apóstolo: “Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor nenhum contra a sensualidade” (Cl 2.23 ARA). Infelizmente muitas denominações têm afastado as pessoas por conta dos “usos e costumes” a qual erradamente se referem por “doutrina”.

Quando analisamos o Ensino bíblico [a verdadeira e única Doutrina] a respeito do pecado e da salvação pela graça em Jesus Cristo, não é difícil de entender que Deus se compraz “em um coração contrito e quebrantando” ao invés de “sacrifícios feitos pelas mãos dos homens” (Sl 51.16-17). Muito mais importante do que sacrificar é obedecer, pois não é o exterior quem contamina o homem. É do coração que procede todo tipo de pecado. Somente um novo coração pode obedecer, pois a carne não está sujeita a lei de Deus, nem mesmo pode estar (Rm 8.7). O cristianismo não se trata de um sistema moral, mas de um novo nascimento. Não é aquilo que é ou deixa de ser lícito; mas do que convém. Não é algo tangível a ensinar: “não toque nisso”; “não proves aquilo”; “não toques aquiloutro”. Transcende isto tudo! O Reino é Paz e Alegria no Espírito Santo.

Mesmo correndo grandes riscos prefiro não usar da persuasão humana na pregação para coagir pessoas no que devem ou não fazer. Apenas exponho a Palavra e deixo a tarefa de convencer para o Espírito Santo. A pregação não é a exposição moral do que pode ou não pode. A pregação é luz nas trevas, simples e exclusivamente para conduzir o homem a examinar-se a si mesmo, e descobrir pelo crivo da Verdade, as intenções reais do seu coração enganoso e perverso. Não vai adiantar abrigar “vinho novo” em “odres velhos”. Ambos se perderão. O vinho novo precisa ser posto em odres novos. O Cristianismo é a mudança daquilo em que você se alegra. Posso me alegrar no meu moralismo e estar na condição de hipócrita - honrando a Deus apenas com os lábios - mas com um coração longe dEle. 

Nossa ministração será mais eficaz no dia que ousarmos abrir mão de ensinos morais tentando guiar as pessoas através de cabrestos. A verdadeira conversão passa pelo teste da liberdade. Tenho a oportunidade de fazer algo, mas conheci algo muito melhor e que traz mais satisfação ao meu coração: a saber, “a comunhão com Deus”. A confissão de todo Cristão genuíno: “Para onde iremos nós se só Tu tens palavras de vida eterna”. O contrário também é verdade com o sujeito que ainda nasceu de novo. Ele se reprime e não peca a princípio por temor aos homens e para cumprir o check-list de “santarrão”. Certamente, hora menos horas, a carne vai ceder!, e a demanda reprimida de pecados que havia naquele coração tornará seu estado muito pior do que o primeiro.

Ser bom moralmente para o cristão não é algo que exige esforço. É como os ramos de uma árvore; produz os frutos sem perceber. Todavia, é a raiz que sustenta os ramos. A figueira não pode produzir azeitonas e a videira produzir figos. Um “cristão” mau-caráter não é um cristão. Somos salvos pela graça, mediante a fé. A fé se evidencia pelas obras. Logo pelos frutos seremos conhecidos.

Não escaparemos do que disse Jesus: “se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus”. Os “usos e costumes” e a santidade que teve o crivo elaborado pela tradição humana é válida para o julgamento dos homens, mas diante de Deus, é “trapo de imundícia”. Pois o Senhor não vê como o homem vê. O homem analisa o exterior; o Senhor prova o coração. O reino de Deus não abriga gente de boa conduta, mas apenas aqueles que nasceram da água e do Espírito através de Jesus Cristo. Como bem disse John Wesley:

“Uma pessoa pode ir à igreja duas vezes por dia, participar da ceia do Senhor, orar em particular o máximo que puder, assistir a todos os cultos e ouvir muitos sermões, ler todos os livros que existem sobre Cristo. Mas ainda assim tem que nascer de novo”.

Soli Deo Gloria!

quinta-feira, 24 de abril de 2014

7 marcas de um falso mestre


Por Tim Challies 
Nada enriquece mais o inferno do que falsos mestres.  Ninguém tem maior alegria em atrair as pessoas para longe da verdade, levando-as ao erro. Falsos mestres tem estado presentes em todas as eras da história humana; eles tem sempre sido uma praga e sempre estiveram no ramo da falsificação da verdade. Enquanto suas circunstâncias podem mudar, seus métodos permanecem constantes. Aqui estão sete marcas dos falsos mestres.
#1 Falsos mestres são bajuladores dos homens. O que eles ensinam é para agradar mais aos ouvidos do que beneficiar o coração. Eles fazem cócegas nos ouvidos de seus seguidores com lisonjas e, enquanto isso, tratam coisas santas com esperteza e negligência ao invés de reverência e temor. Isso contrasta bruscamente com um verdadeiro mestre da Palavra que sabe que é responsável perante Deus e que, por isso, anseia mais agradar a Deus do que aos homens. Como Paulo diria, “pelo contrário, visto que fomos aprovados por Deus, a ponto de nos confiar ele o evangelho, assim falamos, não para que agrademos a homens, e sim a Deus, que prova o nosso coração” (1 Tessalonicenses 2.4).
#2 Falsos mestres guardam suas críticas mais severas aos servos mais fiéis de Deus. Falsos mestres criticam aqueles que ensinam a verdade e guardam suas críticas mais acentuadas para aqueles que se apóiam com firmeza no que é verdadeiro. Nós vemos isso em muitos lugares na Bíblia, como quando Corá e seus amigos se levantaram contra Moisés e Arão (Números 16.3) e quando o ministério de Paulo estava ameaçado e minado pelos críticos que diziam que, enquanto suas palavras eram fortes, ele mesmo era fraco e sem importância (2 Coríntios 10.10). Vemos isso mais notavelmente nos ataques viciosos das autoridades religiosas contra Jesus. Falsos mestres continuam a repreender e menosprezar servos fiéis de Deus hoje. Entretanto, como Agostinho declarou, “Aquele que prontamente calunia meu bom nome, prontamente aumenta a meu galardão”
#3 Falsos mestres ensinam sua própria sabedoria e visão. Isso certamente era verdade nos dias de Jeremias quando Deus disse “Os profetas profetizam mentiras em meu nome, nunca os enviei, nem lhes dei ordem, nem lhes falei; visão falsa, adivinhação, vaidade e o engano do seu íntimo são o que eles vos profetizam” (Jeremias 14.14). E, hoje também, falsos mestres ensinam a loucura dos meros homens ao invés de ensinarem a mais profunda e rica sabedoria de Deus. Paulo sabia: “pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos” (2 Timóteo 4.3).
#4 Falsos mestres deixam passar o que é de suma importância e, ao contrário, se focam nos pequenos detalhes. Jesus diagnosticou essa tendência nos falsos mestres de seu tempo, advertindo-os, “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!” (Mateus 23.23). Falsos mestres colocam uma grande ênfase na sua aderência aos pequenos comandos mesmo quando ignoram os grandes. Paulo advertiu Timóteo daquele que “é enfatuado, nada entende, mas tem mania por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas,  altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro” (1 Timóteo 6.4-5).
#5 Falsos mestres obscurecem sua falsa doutrina por trás de um discurso eloquente e do que parece ser uma lógica impressionante. Assim como uma prostituta se pinta e se perfuma para parecer mais atraente e sedutora, o falso mestre esconde sua blasfêmia e doutrina perigosa atrás de argumentos poderosos e de um uso eloquente da linguagem. Ele oferece aos seus ouvintes o equivalente espiritual a uma pílula venenosa revestida de ouro; embora possa parecer bonita e valiosa, permanece sendo mortal.
#6 Falsos mestres estão mais preocupados em ganhar os outros para a sua opinião do que em ajudá-los e melhorá-los. Esse é outro diagnóstico de Jesus quando ele refletiu sobre as normas religiosas dos seus dias. “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós!” (Mateus 23.15). Falsos mestres não estão em última instância no ramo de melhorar vidas e salvar almas, mas no ramo de convencer mentes e ganhar seguidores.
#7 Falsos mestres exploram seus seguidores. Pedro avisa acerca desse perigo, dizendo: “Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade; também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias; para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme” (1 Pedro 2.1-3). O falso mestre explora aqueles que o seguem porque eles são gananciosos e desejam as riquezas desse mundo. Sendo essa uma verdade, eles sempre ensinarão princípios que satisfazem a carne. Falsos mestres estão preocupados com os bens deles, não com o seu bem; querem servir a si mesmos mais do que aos perdidos; estão satisfeitos em Satanás ter a sua alma contanto que eles possam ter as suas coisas.

O grande "pecado" pregado hoje é a falta de estima por si mesmo!

Por Josemar Bessa

A essência do pecado é “Brincar de Deus” – viver não para Deus, mas para si mesmo, vendo Deus como parte do todo no qual estamos no centro e para qual mesmo Deus se inclina. O mundo está mergulhado em auto-absorção.

Que imagem é essa senão a do diabo, já que seu pecado, orgulho auto-exaltado, foi o pecado dele muita antes de existirmos? Qual é o espírito do culto de nosso geração? Em torno do que ele está? O grande pecado pregado hoje, espelhando nosso mundo, não é a falha de em tudo honrar a Deus e lhe ser grato em todas as circunstâncias da vida, mas a falta de estima por si mesmo.

A geração que “cultua” a Deus em nossos dias ( cultua a si mesma) achando que a ideia de auto-humilhação (Lc 9.23, 1Pe 5.6) é um mal supremo, prefere então não se ofender com a atitude oposta, o que podemos chamar de Deus-humilhação, ou seja, o rebaixamento de Deus em favor do ego e estima humana. É de novo e de novo cair da tentação do Éden de “ser como Deus”(Gn 3.5). Um culto que repudia a auto-humilhação e nossa indignidade, expressa a mente descrita por Paulo em Romanos 8.7: “o pendor da carne é inimizade contra Deus” – é o retrato da mente do homem não regenerado. Esse pendor manifesta o profundo descontentamento do coração humano com o governo de Deus, ressentimento contra suas reivindicações e hostilidade para com a Sua Palavra. De tal forma isso se tornou comum que é só a Palavra ser proclamada que logo vozes se levantam: “mas isso é muito duro...” – Por causa disso o grito de libertação de nossos dias – ecoando o mundo, não é mais, “miserável homem que sou... quem me livrará...” – mas: “Que homem digno eu sou, quem me ajudará a ver melhor a minha dignidade?”

E onde entram as águas de Kheled-zâram nisso tudo? Na obra de Tolkien, O Senhor dos Anéis, já perto do fim da primeira parte – A Sociedade do Anel – depois que a companhia atravessa as perigosas minas de Moria, com muito custo chegam do outro lado, tendo “perdido” Gandalf na atravessia, o grupo está arrasado. Há um grande lamento, Gandalf é o líder... como ficarão sem ele? Há grande sofrimento e incredulidade, ele era o mais poderoso entre eles.

No meio desse grande lamento por Gandalf e ainda temendo por suas vidas, Gimli ( o representante dos anões na sociedade ), insiste para que Frodo ( o portador do Anel ) e o inseparável amigo, Sam, se juntem a ele enquanto olha as águas de Kheled-zâram.

A principal maravilha do Lago-espelho é que ele reflete apenas as montanhas e as estrelas: “Das sombras dos próprios corpos inclinados não se via nada” – Ele tira, em seu reflexo, a pessoa do centro, ela não se vê, ela pode ver tudo sem ter ela no centro, sem ter ela como perspectiva central da cena. Ela então pode ver coisas que jamais poderia ver com ela no centro. Coisas fundamentais que parecem periféricas quando vistas ao redor apenas. Coisas maiores que nossas alegrias, triunfos ou tragédias aqui. Coisas que sobreviverão quando nenhum de nós estiver mais neste planeta. ( Ver coisas que durarão para sempre, como diz Paulo).

Não é essa nossa grande necessidade? As “águas de Kheled-zâram”, o lago espelho que nos tira totalmente da perspectiva central nas alegrias, triunfos e tragédias, e nos faz enxergar coisas eternas?

Sem a libertação da grande característica do pecado que os Reformadores chamaram de homo incurvatus in si, estamos presos em nossos egos, em auto-absorção, e todo culto, e todo nosso cristianismo não passa de farsa, pois ainda estamos brincando de deus.

Hoje, o primeiro grande mandamento de nossa geração, o primeiro mandamento que tem moldado nosso cultos é “amarás a ti mesmo” – explicamos todos os problemas com base na baixa auto-estima. Não gostamos de nada na Palavra de Deus que julguemos que provocará isso. Décadas de sermões, livros... inculcando isso na mente de uma geração fez um estrago enorme. Temos de fato o culto do Eu. O culto para o mundo, o culto relevante, o culto para o jovem, o culto para os casamentos, o culto... O foco é o homem e não Deus, e sequer nos envergonhamos mais de tão grande distorção. Não há oposição quase nenhuma a tão grande afronta a Deus. Não cultuamos Deus, cultuamos nossa auto-estima.

A atitude corrente é a de autodeificação, dela só poderia brotar atos de autodeterminação contra Deus, Sua Palavra... tendo que o que é eterno e imutável, se “moldar” ao que é mortal, finito e mutável. Já não conseguimos olhar mais nada sem ver nossa face no centro da perspectiva. Era exatamente isso que as águas de “Kheled-zâram”, o lago espelho, fazia, tirava o homem da perspectiva.

Sem esse “milagre” de Kheled-zâram, o homem não pode sequer esbarrar nas doutrinas fundamentais sobre ele, pois, por não estarem indo na direção do culto a auto-estima, serão descartadas como absurdas, não porque a Bíblia não as ensina, mas porque ofende a sensibilidade do ego adorado. Por exemplo, todo homem além do trabalho regenerador de Deus é totalmente depravado, ou seja, ele não é capaz de nenhum ato ou pensamento sagrado, santo, aceitável... diante de Deus. Paulo diz que “tudo que não é por fé é pecado” (Romanos 14.23) – Portanto, tudo que um homem irregenerado faz é pecado, mesmo que ele dê todos os seus bens para alimentar o pobre ou o seu corpo para ser queimado (1 Coríntios 13.3) – O motivo verdadeiro para qualquer ato só pode ser definido devidamente com referência a honra de Deus, sua santidade, sujeição a Ele, sua honra... qualquer coisa feita sem essa referência e que não confia tão somente em sua misericórdia e em nada de bom no homem, não são boas, portanto: "Não há ninguém que faça o bem nem um sequer" -Romanos 3:12. É óbvio que isso é uma pedra de tropeço intransponível para o coração irregenerado.

Vida cristã é uma vida que consiste em seguir a Jesus, e segui-lo está no estremo oposto ao culto da auto-estima: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me!” – Hoje vivemos numa geração que quer seguir a Cristo com muito do mundo e de si mesmo e muito pouco de Cristo em suas vidas, porque culto a auto-estima e cruz são antagônicos.

Ele diz que primeiro negue-se e só depois siga-me.

Primeiro – Renuncie a si mesmo.
Segundo – Tome a sua cruz.
Terceiro – Siga-me.

Essa é a ordem das coisas. Mas o Ego está no caminho juntamente com o mundo e suas milhares de atrações. O culto a auto-estima e o “para mim o viver é Cristo... e não mais vivo eu mais Cristo vive em mim”, são incompatíveis. O que Paulo está dizendo é que “para mim o viver é obedecer a Cristo, é servir a Cristo, é honrar a Cristo...” – é isso que significa. Tomar a cruz significa obediência, consagração, rendição... uma vida colocada à disposição de Deus para Sua glória – significa morrer para o Ego. “Segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte” – Filipenses 1.20 – Fomos mandados para o mundo para viver com a cruz estampada em nós, não há outra forma para que de fato a vida de Cristo seja mostrada em nós:“Trazendo sempre em nosso corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus também seja revelada em nosso corpo” – 2 Coríntios 4.10.

Tudo isso é fábula sem as “águas de Kheled-zâram”, ou seja, sermos levados a uma visão da vida em que não estamos mais no centro, podendo ver então tudo que é eterno, tudo que em nossos triunfos e tragédias aqui, glorifiquem a Deus: “Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas.” 2 Coríntios 4:18 – Ele não põe ele mesmo no centro da perspectiva, mas o plano eterno de Deus – ao não estar centrado em si, tudo que era eterno tomava um lugar que não podia ser visto antes. Era o que as águas de Kheled-zâram faziam.

Nós não desanimamos porque os nossos olhos estão fixos no que é invisível e eterno.

Podíamos ver tantos exemplos na vida de Paulo, mas encerremos com um apenas. Paulo podia ver as correntes que o prendiam aos soldados romanos dia e noite. Mas seus olhos não estavam sobre elas e eles. Cada corrente foi forjada por Cristo e seria usada para Cristo. Se o ego estivesse no centro da perspectiva, isso seria impensável, mas Paulo pensava: “como posso usar essa cela de prisão e essas correntes para a glória de Cristo? Como honrar aqui, nesta situação o Senhor do Céu!”

Ele nunca fez das coisas deste mundo o alvo do seu olhar, ele podia ver longe, ele não se via no centro da perspectiva. Se ele fosse adepto do culto da auto-estima de nossa geração, teria ficado oprimido ali, paralisado por sua própria mortalidade, obcecado pelos triunfos aparentes dos inimigos, ou desestabilizado pelo pequeno apoio das igrejas. Mas ao não se ver no centro da perspectiva, ele pode fixar os olhos sobre o que era invisível.

Como dissemos antes, a principal maravilha do Lago-espelho, Kheled-zâram - era que refletia tudo, a obra das mãos de Deus, sem mostrar a face de quem estava olhando: “Das sombras dos próprios corpos inclinados não se via nada!” – Naquele momento de tragédia e dor, onde parecia que tudo iria perecer, não havia lugar melhor para Frodo e Sam olhar, e foi isso que Gimli os incentivou fazer.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Diálogo com um unicista, por e-mail


Por Ciro Sanches Zibordi

PRIMEIRO E-MAIL

— Pastor Ciro, vi em seu blog sobre o batismo em nome de Jesus. Fique sabendo que a Trindade é uma doutrina em que não se encontra na Bíblia, foi criada por homens, por 318 bispos católicos; quando fala em nome, está falando no singular um nome, e não nomes; quando você clama pelo Pai, Ele tem que ter um nome, não é mesmo? Então, esse nome obviamente será Jesus. Leia com cuidado a Palavra de Deus, pois o Diabo quer arrebatar a verdade da sua mente para que não veja a verdade! — disse o unicista.

— É mesmo? Fique sabendo que você está equivocado. A Trindade é uma doutrina bíblica irrefutável. É a unicidade que é herética. Explique-me João 14.16, para início de conversa. Nessa passagem, o próprio Senhor Jesus deixa claro que Ele, o Pai e o Espírito Santo são três Pessoas distintas — respondi.

SEGUNDO E-MAIL

— Joao 10.30: “Eu e o Pai somos UM”. Aqui explica a humanidade perfeita de Cristo. Deus se fez carne e habitou entre nós; Jesus como Homem podia orar; Ele foi submisso ao Pai, pois, quando Ele vier nas nuvens, você verá só um trono, e não três. Olha bem e veja o quanto você está enganado, e que Deus tenha misericórdia da sua vida, pois você se faz semelhante às pessoas do mundo, crendo em uma doutrina sem base que levará muitos à condenação. Jesus é Espírito; Ele estava em carne não podia habitar nos corações das pessoas ainda, pois o Espírito não tem carne e nem ossos.

— Não mude de assunto, meu irmão. Explique-me João 14.16, uma passagem que não deixa dúvidas quanto à tripessoalidade da Deidade — respondi.
TERCEIRO E-MAIL

— A alegação que fazem os defensores desta teoria — pastores e leigos — é de que a palavra “outro” é tradução do termo grego allos, que significa outro de mesma natureza. Segundo eles, como foi Jesus que pronunciou a frase “Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro (allos) Consolador”, e allos significa outro de mesma espécie, Jesus está se referindo a outro ser da mesma espécie que Ele. Sendo Jesus Deus, o Espírito da verdade deve ser um outro Deus diferente de Jesus, um outro Deus? Responda!

— Sim, o termo que aparece é allos, e não heteros, pois o Pai é o Consolador, Jesus é o Consolador e o Espírito é outro Consolador. Três Pessoas da mesma natureza e essência que formam um só Deus! Tripessoalidade na Divindade, e não triteísmo (três Deuses). Agora, me explique João 14.16. Não fuja da pergunta. Jesus estava olhando para um espelho e dizendo: “Eu rogarei ao Pai [que sou eu mesmo], para que Ele [que sou eu mesmo] vos envie outro Consolador [que sou eu mesmo]”? Estude a Palavra, meu irmão, sob a iluminação do Espírito, pois o Senhor Jesus nunca mentiu. Abandone os ensinos desses que dizem ter a “voz da verdade”.
QUARTO E-MAIL

— Última vez que eu vou lhe dizer: que Deus tenha misericórdia de você e o abençoe!

— Acorde! Ainda há tempo de aprender a Palavra de Deus e deixar o herético e blasfemo movimento unicista. E lembre--se: um único versículo, João 14.16, é o bastante para refutar a herética doutrina da unicidade.
QUINTO E-MAIL

— A palavra “Trindade” existe em sua Bíblia? Verifique de Gênesis a Apocalipse. Não existem três tronos, e sim um só. Em Mateus 28.19, o Senhor Jesus falou em parábolas, dando uma ordenança para batizar... Em Lucas 24.45-49, Ele disse que em seu nome se pregasse o arrependimento para remissão dos pecados. Pedro, em Atos 2.38, com autoridade responde: “arrependei-vos, e cada um de vos seja batizado em nome de Jesus Cristo”. Sabe por que Pedro e a igreja primitiva realizaram o batismo em nome de Jesus? Que Jesus Cristo lhe revele o batismo da unicidade! Ah, não se esqueça de procurar a palavra “Trindade” em sua Bíblia — provocou-me o unicista.

— Eu também lhe faço outra pergunta: As palavras “unicismo”, “unicista” ou “unicidade” aparecem na sua Bíblia? Verifique entre Gênesis a Apocalipse. Mas, antes de falarmos sobre o batismo, de modo mais amplo, insisto: explique-me o texto de João 14.16. Ah, e não se esqueça de procurar o termo “unicidade” em sua Bíblia — respondi-lhe, também com uma pequena provocação.

ÚLTIMO E-MAIL

— Em relação a João 14.16, Jesus em João 8.56-59 declara aos judeus que é Deus. Em João 10.30 e 17.11 diz que Ele e o Pai são um. Em João 14.6-10 Ele disse: “Ninguém vem ao Pai senão por mim” e “estou há tanto tempo convosco”. Em Atos 20.28 está escrito: “Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constitui bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com o seu próprio sangue”. Em Judas vv.1-4 está escrito que Deus é o único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo. Em 1 João 5.20 vemos que Jesus é o verdadeiro Deus. A unicidade está clara nos textos citados. Em João 1.1 quem era o Verbo?

— Caro irmão, eu sei que a estratégia dos unicistas (esta palavra não está na Bíblia!), adeptos da unicidade (este vocábulo também não aparece nas Escrituras!) e partidários do unicismo (este termo também não consta da Bíblia!), é citar várias referências bíblicas fora de contexto… Bem, a fim de não dificultar a nossa conversa, seria interessante o irmão explicar-me somente o texto de João 14.16. O que significa a Pessoa divina do Deus Filho pedir a Ele mesmo que envie ao mundo Ele mesmo, sendo que Ele mesmo já estava no mundo? E, se Ele já estava no mundo, e Ele é uma única Pessoa (como o irmão explicou), por que faria um pedido para si mesmo? Em contrapartida, eu me comprometo a responder às questões anteriores, principalmente as ligadas ao batismo. Já lhe adianto, entretanto, que “em nome”, em Mateus 28.19, tem função distributiva, denotando que engloba os três nomes das Pessoas da Trindade. Aguardo sua resposta, a fim de prosseguirmos a nossa amigável conversa — concluí.

Aguardando a resposta quanto João 14.16 por parte de qualquer adepto da unicidade... Mas, quanto ao argumento recorrente dos unicistas de que no Céu não haverá três tronos, o certo é que Jesus está assentado à direita do Pai (Cl 3.1,2) e ficou em pé quando Estêvão foi apedrejado (At 7.55). Será que Deus Filho está sentado no chão? Os unicistas precisam estudar o Evangelho Segundo João e Apocalipse, para descobrirem que o Deus Filho está assentado no trono, à destra do Deus Pai.

Finalmente, os unicistas alegam que Jesus nunca é chamado de Deus Filho, textualmente. Ora, chamar o Senhor Jesus de Deus Filho decorre de coerência. Afinal, o título Deus Pai seria desnecessário se não houvesse o Deus Filho. A título de exemplo, muitos se referem aos ex-presidentes Bush, dos Estados Unidos, como pai e filho, a fim de distingui-los. Ademais, o próprio Deus Pai chama o Senhor Jesus de Deus (Hb 1.8).

O grande "pecado" pregado hoje é a falta de estima por si mesmo!

Por Josemar Bessa

A essência do pecado é “Brincar de Deus” – viver não para Deus, mas para si mesmo, vendo Deus como parte do todo no qual estamos no centro e para qual mesmo Deus se inclina. O mundo está mergulhado em auto-absorção.

Que imagem é essa senão a do diabo, já que seu pecado, orgulho auto-exaltado, foi o pecado dele muita antes de existirmos? Qual é o espírito do culto de nosso geração? Em torno do que ele está? O grande pecado pregado hoje, espelhando nosso mundo, não é a falha de em tudo honrar a Deus e lhe ser grato em todas as circunstâncias da vida, mas a falta de estima por si mesmo.

A geração que “cultua” a Deus em nossos dias ( cultua a si mesma) achando que a ideia de auto-humilhação (Lc 9.23, 1Pe 5.6) é um mal supremo, prefere então não se ofender com a atitude oposta, o que podemos chamar de Deus-humilhação, ou seja, o rebaixamento de Deus em favor do ego e estima humana. É de novo e de novo cair da tentação do Éden de “ser como Deus”(Gn 3.5). Um culto que repudia a auto-humilhação e nossa indignidade, expressa a mente descrita por Paulo em Romanos 8.7: “o pendor da carne é inimizade contra Deus” – é o retrato da mente do homem não regenerado. Esse pendor manifesta o profundo descontentamento do coração humano com o governo de Deus, ressentimento contra suas reivindicações e hostilidade para com a Sua Palavra. De tal forma isso se tornou comum que é só a Palavra ser proclamada que logo vozes se levantam: “mas isso é muito duro...” – Por causa disso o grito de libertação de nossos dias – ecoando o mundo, não é mais, “miserável homem que sou... quem me livrará...” – mas: “Que homem digno eu sou, quem me ajudará a ver melhor a minha dignidade?”

E onde entram as águas de Kheled-zâram nisso tudo? Na obra de Tolkien, O Senhor dos Anéis, já perto do fim da primeira parte – A Sociedade do Anel – depois que a companhia atravessa as perigosas minas de Moria, com muito custo chegam do outro lado, tendo “perdido” Gandalf na atravessia, o grupo está arrasado. Há um grande lamento, Gandalf é o líder... como ficarão sem ele? Há grande sofrimento e incredulidade, ele era o mais poderoso entre eles.

No meio desse grande lamento por Gandalf e ainda temendo por suas vidas, Gimli ( o representante dos anões na sociedade ), insiste para que Frodo ( o portador do Anel ) e o inseparável amigo, Sam, se juntem a ele enquanto olha as águas de Kheled-zâram.

A principal maravilha do Lago-espelho é que ele reflete apenas as montanhas e as estrelas: “Das sombras dos próprios corpos inclinados não se via nada” – Ele tira, em seu reflexo, a pessoa do centro, ela não se vê, ela pode ver tudo sem ter ela no centro, sem ter ela como perspectiva central da cena. Ela então pode ver coisas que jamais poderia ver com ela no centro. Coisas fundamentais que parecem periféricas quando vistas ao redor apenas. Coisas maiores que nossas alegrias, triunfos ou tragédias aqui. Coisas que sobreviverão quando nenhum de nós estiver mais neste planeta. ( Ver coisas que durarão para sempre, como diz Paulo).

Não é essa nossa grande necessidade? As “águas de Kheled-zâram”, o lago espelho que nos tira totalmente da perspectiva central nas alegrias, triunfos e tragédias, e nos faz enxergar coisas eternas?

Sem a libertação da grande característica do pecado que os Reformadores chamaram de homo incurvatus in si, estamos presos em nossos egos, em auto-absorção, e todo culto, e todo nosso cristianismo não passa de farsa, pois ainda estamos brincando de deus.

Hoje, o primeiro grande mandamento de nossa geração, o primeiro mandamento que tem moldado nosso cultos é “amarás a ti mesmo” – explicamos todos os problemas com base na baixa auto-estima. Não gostamos de nada na Palavra de Deus que julguemos que provocará isso. Décadas de sermões, livros... inculcando isso na mente de uma geração fez um estrago enorme. Temos de fato o culto do Eu. O culto para o mundo, o culto relevante, o culto para o jovem, o culto para os casamentos, o culto... O foco é o homem e não Deus, e sequer nos envergonhamos mais de tão grande distorção. Não há oposição quase nenhuma a tão grande afronta a Deus. Não cultuamos Deus, cultuamos nossa auto-estima.

A atitude corrente é a de autodeificação, dela só poderia brotar atos de autodeterminação contra Deus, Sua Palavra... tendo que o que é eterno e imutável, se “moldar” ao que é mortal, finito e mutável. Já não conseguimos olhar mais nada sem ver nossa face no centro da perspectiva. Era exatamente isso que as águas de “Kheled-zâram”, o lago espelho, fazia, tirava o homem da perspectiva.

Sem esse “milagre” de Kheled-zâram, o homem não pode sequer esbarrar nas doutrinas fundamentais sobre ele, pois, por não estarem indo na direção do culto a auto-estima, serão descartadas como absurdas, não porque a Bíblia não as ensina, mas porque ofende a sensibilidade do ego adorado. Por exemplo, todo homem além do trabalho regenerador de Deus é totalmente depravado, ou seja, ele não é capaz de nenhum ato ou pensamento sagrado, santo, aceitável... diante de Deus. Paulo diz que “tudo que não é por fé é pecado” (Romanos 14.23) – Portanto, tudo que um homem irregenerado faz é pecado, mesmo que ele dê todos os seus bens para alimentar o pobre ou o seu corpo para ser queimado (1 Coríntios 13.3) – O motivo verdadeiro para qualquer ato só pode ser definido devidamente com referência a honra de Deus, sua santidade, sujeição a Ele, sua honra... qualquer coisa feita sem essa referência e que não confia tão somente em sua misericórdia e em nada de bom no homem, não são boas, portanto: "Não há ninguém que faça o bem nem um sequer" -Romanos 3:12. É óbvio que isso é uma pedra de tropeço intransponível para o coração irregenerado.

Vida cristã é uma vida que consiste em seguir a Jesus, e segui-lo está no estremo oposto ao culto da auto-estima: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me!” – Hoje vivemos numa geração que quer seguir a Cristo com muito do mundo e de si mesmo e muito pouco de Cristo em suas vidas, porque culto a auto-estima e cruz são antagônicos.

Ele diz que primeiro negue-se e só depois siga-me.

Primeiro – Renuncie a si mesmo.
Segundo – Tome a sua cruz.
Terceiro – Siga-me.

Essa é a ordem das coisas. Mas o Ego está no caminho juntamente com o mundo e suas milhares de atrações. O culto a auto-estima e o “para mim o viver é Cristo... e não mais vivo eu mais Cristo vive em mim”, são incompatíveis. O que Paulo está dizendo é que “para mim o viver é obedecer a Cristo, é servir a Cristo, é honrar a Cristo...” – é isso que significa. Tomar a cruz significa obediência, consagração, rendição... uma vida colocada à disposição de Deus para Sua glória – significa morrer para o Ego. “Segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte” – Filipenses 1.20 – Fomos mandados para o mundo para viver com a cruz estampada em nós, não há outra forma para que de fato a vida de Cristo seja mostrada em nós:“Trazendo sempre em nosso corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus também seja revelada em nosso corpo” – 2 Coríntios 4.10.

Tudo isso é fábula sem as “águas de Kheled-zâram”, ou seja, sermos levados a uma visão da vida em que não estamos mais no centro, podendo ver então tudo que é eterno, tudo que em nossos triunfos e tragédias aqui, glorifiquem a Deus: “Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas.” 2 Coríntios 4:18 – Ele não põe ele mesmo no centro da perspectiva, mas o plano eterno de Deus – ao não estar centrado em si, tudo que era eterno tomava um lugar que não podia ser visto antes. Era o que as águas de Kheled-zâram faziam.

Nós não desanimamos porque os nossos olhos estão fixos no que é invisível e eterno.

Podíamos ver tantos exemplos na vida de Paulo, mas encerremos com um apenas. Paulo podia ver as correntes que o prendiam aos soldados romanos dia e noite. Mas seus olhos não estavam sobre elas e eles. Cada corrente foi forjada por Cristo e seria usada para Cristo. Se o ego estivesse no centro da perspectiva, isso seria impensável, mas Paulo pensava: “como posso usar essa cela de prisão e essas correntes para a glória de Cristo? Como honrar aqui, nesta situação o Senhor do Céu!”

Ele nunca fez das coisas deste mundo o alvo do seu olhar, ele podia ver longe, ele não se via no centro da perspectiva. Se ele fosse adepto do culto da auto-estima de nossa geração, teria ficado oprimido ali, paralisado por sua própria mortalidade, obcecado pelos triunfos aparentes dos inimigos, ou desestabilizado pelo pequeno apoio das igrejas. Mas ao não se ver no centro da perspectiva, ele pode fixar os olhos sobre o que era invisível.

Como dissemos antes, a principal maravilha do Lago-espelho, Kheled-zâram - era que refletia tudo, a obra das mãos de Deus, sem mostrar a face de quem estava olhando: “Das sombras dos próprios corpos inclinados não se via nada!” – Naquele momento de tragédia e dor, onde parecia que tudo iria perecer, não havia lugar melhor para Frodo e Sam olhar, e foi isso que Gimli os incentivou fazer.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Evangélicos e católicos devem se unir?


Por Ciro Sanches Zibordi
 
Há exatos dois anos, o Vaticano divulgou um documento pelo qual afirmou que a Igreja Católica Romana é a única a reunir todos os requisitos da comunidade fundada originalmente por Jesus e seus apóstolos. O texto, que retoma um polêmico documento do ano 2000 — denominado Dominus Iesus, cujo autor é Joseph Ratzinger, atual papa —, é obra da Congregação para a Doutrina da Fé, a antiga casa de Ratzinger, no Vaticano. Trata-se do órgão responsável pela pureza teológica do catolicismo.
Bento XVI sempre se posicionou contra o relativismo. Mas a divulgação desse documento revelou uma estratégia para transformar o romanismo num referencial religioso e moral único, além de guardião da herança cristã. O papa defende a ideia de que não se pode igualar todas as religiões cristãs, colocando-as num mesmo “saco”. Além disso, reafirma, modéstia à parte, que o catolicismo é o único meio pelo qual se pode alcançar a salvação espiritual com a ajuda da fé em Jesus Cristo!

Segundo o padre Augustine di Noia, subsecretário da Congregação para a Doutrina da Fé, o tal documento não visa a alterar o compromisso com o diálogo ecumênico, mas a afirmar a identidade católica.

Mas pergunto: É mesmo o romanismo o único a reunir todos os requisitos da comunidade fundada por Cristo e seus apóstolos? Ora, quem conhece um pouquinho da História sabe que o cristianismo não teve início com a igreja católica romana. Antes, um pseudocristianismo surgiu em 312, quando o imperador Constantino, após derrotar Magêncio, fez uma aliança entre Estado e Igreja. Desde então, começou a emergir essa igreja cheia de desvios em relação à Palavra de Deus. Haja vista a mariolatria, a “infalibilidade” papal, a veneração de “santos”, etc.

O papa pretende manter a pureza teológica do catolicismo, que se arvora como o guardião da herança cristã... Meu Deus! Que pureza teológica é essa? Ah, sim, a “pureza” da teologia romanista, pois, como se sabe, a igreja da maioria vem, através dos séculos, “dando de ombros” para a teologia biblicocêntrica, não preservando a verdadeiramente pura e sã doutrina (cf. Tt 2.1; 2 Tm 3.16,17; Is 8.20; 1 Co 4.6).

Sabemos que o catolicismo romano não é o único meio pelo qual se pode alcançar a salvação (com a ajuda da fé em Jesus Cristo). Segundo o tal documento, Jesus seria um mero coadjuvante na obra salvífica, haja vista a mediação ser realizada de fato pelo romanismo! Isso é o que podemos chamar de “santa” prepotência! Por que o papa e seus cardeais não se curvam ante a verdade irrefutável de 1 Timóteo 2.5? Jesus é o único Mediador entre Deus e os homens! Não é necessária a comediação do romanismo, que na verdade é uma “comédia em ação”, com todo o respeito...

Apesar do “coerente” e “imparcial” documento em apreço, a igreja da maioria pretende manter inalterado o seu ideal ecumênico... Ora, é óbvio que o romanismo continuará se aproximando das outras religiões, principalmente das consideradas “seitas evangélicas”, a fim de conquistar pela “simpatia” o maior número de fiéis. Aliás, certos cantores evangélicos têm cedido canções para padres pop star e dito que há católicos mais convertidos do que os evangélicos... Eu até concordo que haja evangélicos desviados, nominais, não-salvos ou que perderam a salvação por serem profanos... Mas, biblicamente, é impossível que um seguidor do romanismo (adorador de Maria) seja mais convertido que um verdadeiro cristão, salvo e compromissado com a Palavra de Deus!

Sinceramente, a julgar pela situação de muitas igrejas ditas evangélicas, me pergunto: O que seria pior, pertencer à igreja da maioria e adorar Maria, ou pertencer a certas igrejas “evangélicas” que estimulam os crentes a se autovalorizarem ao extremo, seguindo a um evangelho antropocêntrico, triunfalista, experiencialista ou predestinalista, que crê cegamente no bordão “Uma vez salvo, salvo para sempre”?

Sei que “duro é esse discurso”, mas não podemos chegar a outra conclusão à luz do que diz a Palavra de Deus em 1 Coríntios 15.1,2: “Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado, o qual também recebestes e no qual também permaneceis; pelo qual também sois salvos, se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado, se não é que crestes em vão”.

Glória seja dada a Jesus Cristo, o único Mediador entre Deus e os homens!

terça-feira, 15 de abril de 2014

O Esforço do Legalismo e o Amor

Quem ama se alegra na alegria da pessoa amada.

Por John Piper
Em 2Coríntios 1.23-2.4, Paulo escreve sobre uma visita que não fez e uma carta penosa que teve de enviar. Ele explica os sentimentos mais profundos do seu coração com tudo isso: Eu, porém, por minha vida, tomo a Deus por testemunha de que, para vos poupar, não tornei ainda a Corinto; não que tenhamos domínio sobre a vossa fé, mas porque somos cooperadores de vossa alegria; porquanto, pela fé, já estais firmados. Isto deliberei por mim mesmo: não voltarei a encontrar-me convosco em tristeza. Porque, se eu vos entristeço, quem me alegrará, senão aquele que está entristecido por mim mesmo? E isto escrevi para que, quando for, não tenha tristeza da parte daqueles que deveriam alegrar-me, confiando em todos vós de que a minha alegria é também a vossa. Porque, no meio de muitos sofrimentos e angústias de coração, vos escrevi, com muitas lágrimas, não para que ficásseis entristecidos, mas para que conhecêsseis o amor que vos consagro em grande medida.

Observe como o fato de Paulo buscar a alegria deles e a sua própria tem relação com o amor. No v. 2 ele dá a razão por que não fez outra visita dolorosa a Corinto: "Porque, se eu vos entristeço, quem me alegrará, senão aquele que está entristecido por mim mesmo?" Em outras palavras, a motivação de Paulo aqui é preservar a sua própria alegria. Ele está dizendo: "Se eu destruir a alegria de vocês, a minha também se destruirá. Por quê? Porque a alegria deles é exatamente o que lhe dá alegria!

Em 2Coríntios 1.24 fica claro que a alegria que está em vista é a alegria da fé. É a alegria de conhecer e descansar na graça de Deus — a mesma alegria que levou os macedônios a serem generosos (2Co 8.1-3). Quando essa alegria existe em abundância em seus convertidos, Paulo sente grande alegria pessoalmente. E ele lhes diz sem constrangimento que a razão por que não quer roubar-lhes a alegria é que isso o privaria da alegria dele. É assim que fala um cristão que busca o prazer.

No v. 3 Paulo diz a razão por que lhes enviou uma carta penosa: "Isto escrevi para que, quando for, não tenha tristeza da parte daqueles que deveriam alegrar-me, confiando em todos vós de que a minha alegria é também a vossa". Aqui sua motivação é a mesma, exceto num ponto. Ele diz que não queria ser entristecido. Ele quer alegria, não sofrimento. Ele é um cristão que busca o prazer! Mas aqui ele vai um passo além do v. 2. Ele diz que a razão por que quer alegria e não sofrimento é que tem confiança de que a alegria dele também é a deles: "Confiando em todos vós de que a minha alegria é também a vossa".

Portanto, o v. 3 é o inverso do v. 2. No v. 2 ele afirma que a alegria deles é também a sua; isto é, quando eles estão alegres ele se sente feliz com a alegria deles. E no v. 3 ele afirma que a sua alegria é a alegria deles; isto é, quando ele está feliz eles se sentem felizes com a alegria dele. Depois, o v. 4 torna a relação com o amor explícita. Ele diz que a razão por que lhes escreveu foi "para que conhecêsseis o amor que vos consagro em grande medida". Então, o que é amor? O amor existe em abundância entre nós quando a sua alegria é minha e a minha alegria é sua. Não estou amando apenas porque busco sua alegria, mas porque a busco como minha.

Digamos que eu fale a um dos meus filhos: "Seja bonzinho com seu irmão, ajude-o a arrumar o quarto, tente fazê-lo sentir-se contente, não infeliz". Como seria se ele ajudasse a limpar o quarto, mas resmungasse o tempo todo e transpirasse descontentamento? Haveria virtude em seu esforço? Não muito. O que está errado é que a felicidade do seu irmão não é a sua. Ao ajudar seu irmão, ele não está buscando sua própria alegria na felicidade do seu irmão. Ele não está agindo como um cristão que vive para o prazer. Seu esforço não é o esforço do amor. É o esforço do legalismo — ele age por mera obrigação, para não ser castigado.

SALVO!, MAS CARNAL!

Por Fabio Campos
Texto base: “... porque ainda sois carnais...” – I Co 3.3a

Uma breve nota precisa ser dita antes de discorrer o assunto proposta no título: “Salvo!, mas carnal”! Não estou tratando de incrédulos, mas de irmãos e irmãs salvos em Jesus Cristo e que sem dúvida alguma herdarão o reino dos céus. Por isso que os refiro como “salvos!, contudo, carnais.

Posto isto, entendo que a maturidade cristã é construída paulatinamente. Ser maduro é ser “experimentado” nas coisas de Deus. Muitos do que são “maduros” na fé também precisa examinar-se para identificar seus pontos fracos e poder trata-los pela graça de Cristo para chegar a “estatura do varão perfeito” (Ef 4.13). Temos nossas áreas de imaturidade! Todavia, é importante salientar que tempo de igreja e de conversão não pode ser o crivo para analisar tal estágio. Muitos crentes com mais de quarenta anos de vida cristã ainda são imaturos na fé. Conhecem as Escrituras, mas não conseguem pratica-las no convívio social e na igreja local. São como crianças que decoram versículos, mas não compreende o significado para poder aplica-lo na sua vida cristã.

Dentro das comunidades cristãs, grande parte dos irmãos, é imatura. É aquilo que Paulo diz: “carnais, meninos em Cristo” (1 Co 3.1). Vejamos então a luz das Escrituras à postura de um “crente carnal”.

1. Invejoso: Paulo diz que os meninos na fé são invejosos (1 Co 3.3). Até choram com os que choram, mas não consegue se alegrar com os que se alegram. Quanta disputa por cargo tem dividido nossas igrejas. A impressão que tenho é que trata de pessoas frustradas na vida secular - que pelo dom dispensado por Deus, enxergam uma oportunidade no evangelho de ser apreciado pelas pessoas.

2. Contenciosos: Esse tipo de irmão gosta de jogar uns contra os outros. É sectário! Faz seu próprio partido e pelo litígio dividem a igreja entre “direita” e “esquerda”. Arrazoe no seu coração e peça discernimento a Deus quando você estiver próximo deles. A Bíblia nos ensina para não “aplicarmos o nosso coração a todas as palavras que se diz, porque logo mais presenciará tal pessoa falando mal de você” (Ec 7.21).

O capítulo 3 [13-18] da Carta de Tiago trata justamente deste tipo de comportamento. O qual ele denomina como “animal e demoníaca”. É importante frisar que Tiago alerta aqueles que diziam ser sábios e inteligentes (v.13). Isto nos mostra que o nosso conhecimento teológico e bíblico não nos faz maduros e cristãos espirituais. Ajuda! Mas o comportamento, diante disso, através de um espírito manso e tranquilo -, é o que mais vale perante de Deus (1 Pe 3.4). Muitos têm uma aparente maturidade – uma excelente teologia – são persuasivos e habilidosos nas articulações dos argumentos – mas diante de Deus, são carnais.

Tiago convoca um debate com estes irmãos para provar quem é o mais sábio. Porém, sua refutação não é teológica nem apologética, mas comportamental: “Quem é sábio e tem entendimento entre vocês? Que o demonstre por seu bom procedimento, mediante obras praticadas com a humildade que provém da sabedoria” (Tg 3.13 NVI).

Partindo deste pressuposto Tiago começa expor sua refutação diante daqueles que se entendia por “sábio” e “inteligente”. Ele começa a denunciar os “frutos da árvore”, pois assim disse o Senhor: “pelos frutos os conhecereis”. Estes “sábios” e “entendidos” abrigavam no seu coração “inveja e amargurada”. Tinham sede por “discussões tolas”. Este é o ponto mais forte do debate - quando Tiago diz: este tipo de sabedoria é “terrena”, “animal” e “demoníaca” (Tg 3.15).

O grande teólogo norte-americano, Benjamin Breckinridge Warfield, disse: “Antes de ser erudito o ministro [posso acrescentar aqui os irmãos] deve ser devotado a Deus, [e o] mas grave erro é colocar estas coisas em contradição” ¹. Paulo exortar aqueles que estão mais maduros na fé a não “agradar a si mesmos”, antes, suportar as “debilidades dos fracos” (Rm 15.1). Repare que não se trata de uma algo fácil. O próprio apóstolo pede uma força tarefa: “não agradar a si próprio”. Este tipo de atitude só pode ser praticado por alguém que realmente possui um coração devotado a Deus.

O maior erudito que o cristianismo já teve – Paulo de Tarso -, diz que “o conhecimento traz orgulho, mas o amor edifica. Quem pensa conhecer alguma coisa, ainda não conhece como deveria. Mas quem ama a Deus, este é conhecido por Deus” (1 Co 8. 1-3 NVI). Paulo diz neste trecho que “o saber nos faz conhecidos aos homens” e o “amor nos faz conhecidos de Deus”. Fica em nosso “colo” a decisão de quem queremos ser conhecidos.

Tiago continua a expor sua refutação confrontando à “sabedoria” daqueles que diziam ser sábios. Desafiando estes irmãos, Tiago diz: “se você é sábio, então mostre isso em mansidão mediante um proceder digno através das suas obras” (v. 13). “Segundo a Bíblia de estudo Palavras Chaves”, a “mansidão” que Tiago diz, trata do “resultado da decisão de um homem forte de controlar as suas reações, em submissão a Deus” (p. 2368). Você tem argumento – conhece do assunto – mas assim como o homem forte que sabe controlar suas reações, controla seus impulsos pecaminosos falando o que é certo da forma certa, mesmo que contrariado - tudo por amor a Deus.

“A Bíblia de estudo Palavras Chaves” diz que a “sabedoria” que Tiago usa em seu argumento “representa a sabedoria divina, [que é] a capacidade de regular o relacionamento da pessoa com Deus” (p. 2398). Trata do temor ao Senhor que é o princípio de toda sabedoria. É o ato de você olhar para o “débil” na fé com temor e tremor por ser ele alguém salvo e remido pelo Senhor Jesus Cristo (Rm 14.1). Esta sabedoria não compara a si mesmo com os homens da sua volta, mas olha para a luz e entende que a“Palavra de Deus esclarece e dá entendimento ao simples” (Sl 130.130). Como disse o apologista C. S. Lewis: “Quem está no processo de se aperfeiçoar, cada vez mais compreende com maior clareza o mal que existe em si”. Ele [o maduro na fé] percebe que nada é, quando entende que somente em Cristo há “todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (Cl 2.3).

Dentro da ortodoxia cristã o termo “verdade” é muito defendido. De fato tem que ser! Só que Tiago diz que se procedermos com a “sabedoria terrena”, estaremos “mentindo contra a verdade” (v. 14). Pode ter certeza, quando há “confusão e toda espécie de coisas ruins”, tal atitude provém do “Maligno” (v 15-16). Paulo diz também que o “ciúme” e a “contenda” são sentimentos de homens que ainda não cresceram na fé e que seu comportamento é o mesmo das pessoas do mundo (1 Co 3.3).

Irmãos, como apreciador da teologia ortodoxa reformada - por ter alguns artigos escritos com teor apologético - confesso que muitas das vezes sou tentando, após ter feito algo com excelência, a me gloriar do que fiz comparando-me com os irmãos de menos “instrução”. Preciso lutar contra minha natureza pecaminosa! Que Deus tenha misericórdia da minha vida! Joshua Harris eEric Stanford diz que “se você estiver segurando alguma coisa que, ao cair, possa explodir e machucar outras pessoas, você a manejará com todo cuidado” ². Para mim é muito mais fácil defender a fé – articular os argumentos – fazer teologia e apologética – do quê dominar o meu espírito (Pr 16.32) e guardar o meu coração (Pr 4.23). A verdadeira sabedoria não destrói pessoas, mas edifica. É justamente isso que Tiago e Paulo através do Espírito Santo nos ensinam. Uma sabedoria que brota do “novo nascimento”, da água e do Espírito, e não somente da mente. Como disse Jonathan Edwards: “precisamos ter luz na mente e fogo no coração”. Creio ser este o maior desafio: “produzir” os frutos e receber os dons em humildade usando-os somente para a Glória de Deus.

Precisamos crescer em “graça” junto do conhecimento. Se formos “ortodoxos na teologia”, mas os atributos [abaixo] listados por Tiago não tiver em nós, seremos os mais hipócritas - ostentado uma sabedoria mundana “travestida de piedade”. Seremos os piores hereges e por Deus seremos refutados:

“Mas a sabedoria que vem do alto é antes de tudo pura; depois, pacífica, amável, compreensiva, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sincera. O fruto da justiça semeia-se em paz para os pacificadores”. – Tg 3. 17-18 NVI

Em temor, pense nisso!

Soli Deo Gloria!