segunda-feira, 14 de julho de 2014

Rejeitando os desejos da carne mas abraçando os desejos da mente.



Por Josemar Bessa

O apóstolo Paulo faz uma distinção entre os desejos da carne e dos pensamentos: “Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também.” - Efésios 2:3

Ambos se opõe totalmente a Deus, ambos são fruto de nossa natureza caída (Carnais). Mas são diferentes e de maneira sutil podem penetrar fortemente onde o outro não se manifesta tão evidentemente.

Os desejos da carne parecem ser as mais grosseiros, as paixões mais sensuais, conectadas, por assim dizer, com a parte que gostaríamos de colocar como a mais inferior de nossa natureza. Os desejos da mente são aqueles que estão conectados com o que vemos muitas vezes até como qualidade superiores.

Alguns estão completamente mergulhados em toda sorte de frutos sensuais de luxúria, na satisfação deles avidamente... Enquanto outros, que podem desprezar tudo isso, ou pelo menos não são tentados ou pratiquem tão avidamente estes, realizam com igual ardor os sussurros de um caráter e disposição mais refinados.

Ambição de subir na vida, sede de poder sobre seus semelhantes, um desejo por fama, uma filosofia que parece moral mais que está em oposição a Verdade de Deus, descontentamento com a atual situação da vida, invejando outros em posições superiores a eles, riqueza, talento, realizações, posições mundanas, tentativa de felicidade fora de uma vida que em tudo glorifica a Cristo, ambição de sair da obscuridade, fazer um nome para si mesmo... “desejos da mente”.

Observe como Paulo coloca tudo isso no mesmo nível, os desejos da carne e da mente, e põe sobre eles o mesmo selo, ambos com a marca negra da desobediência e sua consequência nefasta, a ira de Deus.

Quando olhamos os desejos da carne se manifestando de maneira grosseira, tendemos a vê-lo como algo claro contra tudo o que Deus é, mas o que pensamos do comerciante incansável(ou em qualquer outra atividade), enérgico nos negócios, tendo como alvo da vida tão somente crescer... que põe em prática tudo que é necessário para isso, que racionaliza suas motivações, ou seus desvios na busca do crescimento?... Ele é igualmente culpado aos nossos olhos como aqueles que expressam os grosseiros frutos da carne?

O que pensamos do artista dedicado dia e noite no cultivo de suas habilidades como pintor, músico, escultor, escritor... ou em todas as outras atividades da vida... enterrados em seus livros... no ramo particular que escolheu seguir, cuja vida e energia é totalmente gasta em satisfazer todos esses desejos de sua mente?

Tanto quanto a sociedade, bem-estar público, o conforto próprio e de suas famílias, e o progresso do mundo estão em causa aqui... quando chegamos a pesar a questão diante de Deus, com a eternidade em vista, e as julgamos com a Palavra da Verdade, vemos imediatamente que não há diferença real entre eles,que o homem satisfazendo os desejos mais gritantes da carne e o erudito, o artista, o homem de negócios, o homem literário... em uma palavra, o homem do mundo, qualquer que seja o seu “mundo”... abraçado aos desejos da mente... ambos são da terra, são inimigos de Deus... Deus não está no centro do propósito de suas vidas, e se você pudesse olhar para o fundo de seus corações, muitas vezes ficaria evidente que o homem de “bem” voltado para os desejos da mente, com seu refinamento, educação... manifestam ser inimigos de Deus em suas mentes mais profundamente do que o libertino.

O pecado em ambos é a mesma coisa, e consiste no fato de que em tudo que eles procuram satisfazer é uma mente carnal que é inimizade contra Deus e Sua Palavra, que não são sujeitos a ela, e como disse o Apóstolo, nem mesmo o podem ser.

Deus (como se revelou em sua Palavra) não está em suas mentes, em seus pensamentos... apesar de viverem, respirarem, se moverem e existirem nEle, vivem inteiramente para si mesmos, e portanto, são rebeldes na definição mais profunda que Deus dá em Sua Palavra, alienados da vida de Deus, vivendo como se Deus não existisse ou como se existisse, existisse para eles e não eles para Deus.

“Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também.” - Efésios 2:3

VOCÊ VAI À IGREJA, MAS DEUS RECEBE O SEU CULTO?



Por Fabio Campos

Texto base: “O Senhor diz: "Esse povo se aproxima de mim com a boca e me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. A adoração que me prestam só é feita de regras ensinadas por homens”. – Isaías 29.13 (NVI)

O conceito de “culto” nos dias atuais tornou-se genérico e se distância em muito do seu real significado. Quando as pessoas dizem que vão ao culto, muitos fazem disto o momento do seu “sacrifício” para deixar Deus um pouco mais feliz, podendo assim, depois do dever de casa feito, angariar o “direito” de demandar as bênçãos divinas com a consciência mais tranquila.

Veja a motivação da grande maioria das pessoas nos dias de hoje - vão ao culto só para fazerem campanhas; votos de prosperidades; buscar o milagre que “hoje vai chegar”. Cerimônias e rituais são introduzidos na liturgia para atrair “fiéis”. Um “culto tal” para atrair fiéis? Pois é, os papéis se inverteram! Até onde sabemos e disto as Escrituras testificam é que, culto, é o ato de “homenagear a divindade através da adoração”. Logo, então, tudo o que vemos nestas igrejas que fazem do culto um meio para atrair pessoas a conquistarem os seus objetivos, certamente, não trata de culto, mas de um meio “supersticioso” para conseguir um fim físico ou espiritual por benefício.

Informo que Deus não se agrada deste culto e considera isso uma abominação ao Seu Santo Nome. A advertência dada por Deus através do profeta Isaias, concernente a isso, englobava – “um povo de aparente piedade, devoto, mas com o coração longe de Deus - interessado apenas no seu bem estar. Enganados pelo o seu coração - fechados para a voz da consciência - prestavam o culto através de regras ensinadas por homens” (Is 29.13).

O culto segundo a Bíblia é racional e não emocional. Não digo que não existe espaço para a alteração das emoções. Quem consegue permanecer com o seu coração de pedra na presença do Nosso Amado Senhor Jesus. O que dizer dos discípulos no caminho de Emaús ao escutar as Palavras do Senhor. Enquanto ouviam, seus corações queimavam. Engano, mas muito engano há em inibir as emoções no culto. Todavia, prestar culto a Deus é saber através do raciocínio a quem se está adorando e a forma reverente que Ele exige (Rm 12.1). A conotação dada por Paulo na carta aos Romanos [12.1], acerca disso, traz o sentido da“apresentação de um sacrifício”; “colocar de lado” para qualquer [outro] propósito. Ou seja, o culto é o homem quem dá a Deus e nunca o contrário -, Deus cultuar o homem. Ele é gracioso e faz muito mais do que pedimos ou pensamos, entretanto, cultuar a Deus é isso.

Lembro-me ainda quando católico; diziam-me que a cada missa que eu participava, mais um degrau eu subia rumo ao céu. Na minha mente ir à igreja era fazer um favor a Deus. Na mente de muitos evangélicos não é diferente. Você nunca pensou de onde vem tanta intrepidez destes para profetizar, determinar e decretar as bênçãos? “Já que estou fazendo tudo certinho, logo tenho o direito para conquistar tudo isso”, pensam eles.

Este tipo de culto é condenado por Deus. E assim Ele diz: “Quando lhes pediu que viessem à minha presença, quem lhes pediu que pusessem os pés em meus átrios” (Is 1.12?). Ninguém compra a bênção de Deus com sacrifico nenhum. Ele não tem prazer na compra da Bíblia “Ceruliana” de 900 reais. Ainda que haja um aparente quebrantamento com as mãos levantadas, Deus esconderá seus olhos destes (Is 1.15).

Muitos desigrejados estão difamando o ato de se reunir “como igreja”. Podem enganar a leigos e a uma multidão de homens, mas a Deus não se engana, pois ele mesmo disse para não deixarmos de congregar (Hb 10.25); e se reunindo, que fosse “com ordem e decência” (1 Co 14.40). Não podemos entrar de qualquer jeito na presença de Deus.

O Senhor sempre zelou por sua comunhão com o homem que Ele o criou. Desde o princípio Deus se reunia com o homem (Gn 3.8). Com a desobediência de Adão [e agora todos estão em Adão até a conversão a Jesus Cristo], Deus expulsou o homem de sua presença (Gn 3.24), passando então, depois de expulso, a ser um “errante pela terra” (Gn 4.14). Todavia, o Senhor sendo rico em misericórdia traçou um plano elaborado desde antes da fundação do mundo, cumprindo-o através de vários servos por Ele levantados. Moisés foi um destes. Ele legislou os preceitos Divinos e a importância do culto - como Deus o recebe através de regras e formas.

Quer ver o zelo de Deus para com o culto? Leia o livro de levíticos! A ordem deste culto perdurou por milhares de anos até chegar a “Plenitude dos Tempos” - quando Deus veio em carne na Pessoa do Filho Jesus cumprir todos estes preceitos - reconciliando os homens consigo mesmo - não imputando suas transgressões (2 Co 5.19). Como bem disse o grande teólogo Karl Barth: "O Deus Eterno deve ser conhecido em Jesus Cristo e não em outro lugar".

Hoje o nosso culto deve ser simplesmente a maneira de agradecermos por tudo o que Ele fez e por tudo o que Deus é. É o momento que nos desligamos dos acontecimentos lá de fora e nos concentramos, em gratidão, para darmos o nosso melhor, conhecendo assim a boa, perfeita e agradável vontade de Deus. Este ato [o de cultuar] é tão sério que Paulo faz uma severa advertência à igreja de Coríntios, concernente ao véu que era usado pelas mulheres na época [em sinal de respeito aos seus maridos], pois os anjos estavam assistindo o culto (1 Co 11.10). Rapaz, os anjos assistem o culto que prestamos a Deus. Senhor...! Misericórdia! Ainda bem que em Cristo minhas sandálias são retiradas ao entrar na sua presença. Sigo pelo Novo e Vivo caminho.

Portanto, amados, o culto é mais do cantar, ofertar e ouvir a Palavra. Tudo isso pode se tornar simples dogmas, litanias e liturgias decoradas, ensaiadas, sem amor e sem convicção, como diz a nota de rodapé da “Bíblia de estudo Shedd” [comentário de Is. 29.13]. Todas estas atividades [cantar, ofertar e ouvir a Palavra] faz parte, mas somente os que adoram o Pai em espírito e em verdade terão o seu culto recebido pelo Senhor como oferta de cheiro suave. Em compensação outros, o seu culto, para Deus, é simplesmente um “fogo estranho”.

Não vá à igreja simplesmente para assistir a um culto. Vá a igreja cultuar a Deus e participar da comunhão dos santos através salmos, orações e hinos espirituais que sejam dignos ao Nosso Senhor Jesus, segundo como ensina as Escrituras Sagradas.

Considere este artigo e arrazoe isto em seu coração,

Soli Deo Gloria

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Com que personagem da Bíblia você se identifica?


Judas

Por Maurício Zágari

Sempre que lemos a Bíblia, nos identificamos mais com certos personagens e assumimos uma postura de oposição a outros. Isso é natural e todos fazemos isso. Como conhecemos bem as histórias das Escrituras, já sabemos a forma como os relatos acabam e, por isso, criamos empatia com os heróis – em geral, nos colocamos no lugar dos grandes homens e mulheres de Deus. O que não notamos é que, se estivéssemos no lugar dos vilões, muitas vezes provavelmente agiríamos exatamente como eles. Se você consegue perceber esse fato, muita coisa muda na sua forma de ser, você cresce em humildade e, assim, se aproxima de Deus. Deixe-me dar alguns exemplos, para deixar mais claro o que estou dizendo.

Na parábola do bom samaritano (Lc 10) todos olhamos torto e falamos mal daqueles malvados sem coração que passaram pela estrada e não prestaram socorro ao pobre homem que estava largado à beira do caminho. Todos cremos que agiríamos exatamente como o samaritano, que parou, cuidou do ferido, doou seu tempo e seu dinheiro a ele. Jamais nos identificamos com o sacerdote e o levita que foram cuidar de sua vida e de seus próprios interesses e não deram atenção ao homem que jazia ali, necessitado de uma mão estendida. Bem, agora pensemos na vida real. Tente calcular quantas vezes você viu alguém literalmente caído na rua, dormindo sob uma marquise ou desabado de embriaguez e parou para ajudá-lo. Foram muitas? Agora faça as contas de quantas vezes viu gente nessas situações e simplesmente continuou em seu caminho, sem fazer absolutamente nada pelos tais. Ouso dizer que você deu as costas ao seu semelhante muitas, mas muitas vezes mais do que parou para prestar auxílio. Estou errado? Se estou, você é uma pessoa bem melhor do que eu, que deixei pessoas caídas à beira do caminho infinitamente mais vezes do que parei para ajudar. Isso sem falar naquelas que, metaforicamente, estão feridas e desesperadas por amparo e socorro e que fingimos não ver e largamos para lá. A realidade é que não somos muito diferentes daquele sacerdote e do levita.

Outro exemplo: no caso da mulher adúltera (Jo 8), sempre olhamos para os escribas e fariseus com olhar condenatório. Como podem aqueles legalistas desalmados não perdoar a pobre mulher? Mas… sejamos sinceros. Ponha-se naquele lugar, naquele contexto. Se você estivesse no meio da multidão, será que não teria uma pedra em sua mão? Será que não olharia para aquela pecadora e pensaria que ela merecia mesmo aquela punição? Qual de nós, se estivesse naquela situação, pensaria em dizer “nem eu te condeno, vá e não peques mais”? Ouso dizer que a grande maioria cumpriria a lei e quebraria alguns dos ossos dela com prazer. Afinal, é o que fazemos hoje também. Sejamos francos: não somos muito adeptos do perdão, em nossa vida diária cremos que condenações sumárias e apedrejamento dos “pecadores” é o que agrada a Deus. Em geral, quando sabemos que um irmão pecou, exigimos juízo acima de tudo e não nos lembramos muito da graça, da restauração. Na internet, então, o que mais se vê hoje em dia são cristãos que vivem jogando pedras para todos os lados, acusando, atacando, ofendendo, alfinetando, lançando indiretas, apedrejando. Basta olhar redes sociais, blogs, sites e streams de vídeo de cristãos para perceber que há multidões de irmãos em Cristo que passam os dias tacando pedregulhos virtuais – numa postura de pretensa superioridade espiritual, exatamente como aqueles escribas e fariseus. A realidade é que não somos muito diferentes daqueles homens.

Vamos além. Pense no rico e em Lázaro (Lc 16). Todos condenamos aquele rico desumano e louvamos o mendigo. Mas, na vida cotidiana, quem de nós deixa de lado nem que seja por um tempo o conforto e os bens para dar aos pobres e necessitados algo que vá além das migalhas que caem de nossa mesa? Seria muito atrevimento meu dizer que não somos tão mais generosos assim do que aquele homem rico?

Davi e Golias, então, nos oferecem uma reflexão peculiar. Nenhum de nós jamais se considera o filisteu da história. Vivemos dizendo coisas como “temos de derrotar os gigantes”, ou “Quem é, pois, esse incircunciso filisteu, para afrontar os exércitos do Deus vivo?” e em 100% das vezes nos pomos no lugar de Davi. Jamais no de Golias. Mas pense um pouco. Quantas vezes você foi o mais forte em uma situação e humilhou o mais fraco? Quantas vezes usou de sarcasmo na sua fala contra quem discorda de você? Quantas vezes abusou do poder de que dispõe para rebaixar os menores? Em nossa superioridade, muitos cristãos oprimem os mais fracos. A realidade é que não somos muito diferentes de Golias.

Marta sempre é criticada por sua postura no relato de Lucas 10. Mas já perdi a conta de quantas vezes preferi enveredar pelo ativismo em vez de priorizar a intimidade com Jesus. Na teoria, sempre nos vemos como Maria, mas, na prática, agimos em incontáveis situações como Marta. Optamos por trabalhar para Deus em detrimento de comungar com ele. A realidade é que não somos muito diferentes de Marta.

E poderíamos prosseguir indefinidamente. Sempre admiramos Abigail e criticamos Nabal, sem reparar a quantidade de vezes em que nos negamos a ajudar quem nos pede auxílio. Sempre cremos que nunca agiríamos como Pedro e Judas, mas traímos diariamente Jesus com nossas atitudes pecaminosas e escolhas equivocadas. Sempre condenamos Pilatos, mas lavamos as mãos numerosas vezes diante de situações em que poderíamos interferir mas permanecemos apáticos em benefício próprio. Sempre achamos que somos exatamente como Estevão mas na primeiro risco que corremos saímos correndo covardemente e deixamos os outros para lá, como fizeram os discípulos no Getsêmani.

A realidade é que agimos diariamente como os vilões da história.

Não há crescimento na fé ou vida com Cristo sem o reconhecimento deste fato: nós erramos. Somos transgressores, mentirosos, egoístas, sovinas, egocêntricos, medrosos, ativistas, maus. Nossa natureza nos afasta do ideal cristão. Agimos exatamente como Paulo – não como o grande apóstolo Paulo, mas o grande pecador Paulo -, que revela sua natureza falha numa das confissões mais lindas da Bíblia (que não me canso de reproduzir nas reflexões que compartilho no APENAS, tamanho é o exemplo de humildade e transparência que Paulo dá por meio destas palavras):

“Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim. Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado” (Rm 7.14-25).

Nosso valor vem de Cristo. É ele quem nos justifica, santifica, edifica. É somente por ele que somos mais que vencedores. Longe de Jesus somos perdedores da pior espécie. Sem ele nada podemos fazer. Peço a Deus que essa percepção nos conduza sempre aos pés do Senhor, em humildade e reconhecimento de que somos pó. Só o Cordeiro nos livra do merecido inferno. O céu é um presente gracioso de Pai para filho. Somos os vilões da história da humanidade, mas Cristo tem o poder de nos regenerar, amenizando nossa culpa e absolvendo-nos de nossa vilania.

Meu irmão, minha irmã, seja sempre amoroso e gracioso com seu próximo. Lembre-se de que você não é tão melhor assim do que ele. Pense que muitas e muitas vezes as suas atitudes são iguaizinhas às dos vilões da Bíblia. Se você reconhecer esse fato, Deus vai exaltá-lo, ampará-lo e lhe dar graça. E, no último dia, você ouvirá do Pai: “Muito bem, servo bom e fiel…” (Mt 25.21).

Oração não é “magia branca”





Por Geoffrey Willour 

“E quando orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem os pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos. Não sejam iguais a eles, porque o seu Pai sabe do que vocês precisam, antes mesmo de o pedirem.” (Jesus Cristo no Evangelho de Mateus 6.7-8, ARA)

“A Oração é um santo oferecimento dos nossos desejos a Deus, por coisas conformes com a sua vontade, em nome de Cristo, com a confissão dos nossos pecados, e um agradecido reconhecimento das suas misericórdias.”(Resposta da pergunta #98 do Breve Catecismo de Westminster)

A oração é o grande privilégio do crente. Quando nós crentes vamos ao encontro do nosso Pai celestial em oração, através da fé em Seu Filho Jesus Cristo, nosso único mediador, literalmente entramos pelo Espírito Santo no que pode ser descrito como outra dimensão. Na oração nós nos achegamos ao trono da graça, entramos no santuário interno, o celestial Santo dos Santos, a própria sala do trono da presença de Deus onde o Criador do universo é servido por anjos, apóstolos, santos e mártires, e toda a companhia celeste (Hebreus 4.14-16; 12.14-24,28-29; Apocalipse 4-5; 7.9-12). Quando Jesus morreu na cruz pelos nossos pecados, tendo de uma vez completado a obra de expiação e entregado Seu espírito ao Pai, o véu no Templo separando o Santo lugar do Santo dos Santos foi rasgado em dois de cima a baixo, indicando que o Pai efetuou a redenção pelo Seu Filho e que agora o caminho para o Santo dos Santos foi aberto (todo o tempo) para todos o que creem (e não somente uma vez ao ano para o sumo-sacerdote (somente), como era antes na antiga aliança – veja Mateus 27.50-51). Na oração nós realmente nos achegamos a Deus em uma santa e íntima união pactual.

Assim, a ordenança da oração é poderosa. De fato, a tradição reformada e presbiteriana historicamente tem visto a oração como sendo em certo sentido um meio de graça (não no sentido de que Deus objetivamente oferece e sela Sua graça em nós, como Ele faz com a Palavra e os sacramentos, mas no sentido de que a oração é um meio pelo qual nós, pela fé, recebemos subjetivamente a graça de Deus em Cristo, que é oferecida objetivamente a nós pela Palavra e sacramentos). Portanto, a oração é uma coisa poderosa. Entretanto, hoje a prática da oração é vista com muitos equívocos, e existem muitas ideias falsas por aí sobre a oração. Um equívoco comum é uma visão do poder da oração que basicamente torna a oração numa forma de magia branca.

Como são alguns exemplos dessa visão da oração como uma forma de magia branca? Bem, querido leitor, deixe-me procurar responder essa questão te perguntando algumas coisas para colocar o problema em evidência. Você acha que suas orações são mais efetivas se elas são longas e prolixas? Você acha que seria mais abençoado por Deus e seria uma pessoa mais espiritual se você gastasse períodos prolongados na prática da oração? Você acredita que quanto mais pessoas estão orando por você, é mais provável que Deus ouça suas orações e te garanta as bênçãos e pedidos que você procura? Você acha que Deus estará mais propenso a te escutar se você conseguir uma pessoa em particular que você considera especialmente santa (por exemplo, seu pastor, ou um cristão maduro que você admira) a orar por você? Você acha que usando uma fórmula particular de oração (como a popular “oração de Jabez” ou a antiga “oração de Jesus”) vai conseguir a atenção de Deus melhor que usar suas próprias palavras na oração? Se você respondeu “sim” a quaisquer dessas perguntas, então você pode ter sido influenciado pelas noções populares, mas não-bíblicas, de oração, noções pagãs que basicamente tornam a oração em uma forma de magia branca.

As maiores expressões de oração como “magia branca” podem ser encontradas em certos círculos carismáticos e pentecostais, especialmente entre os chamados pregadores da prosperidade. Por exemplo, eu ouvi um pregador da prosperidade (do tipo “declare e reinvidique”) se gabando de como ele basicamente manda em Deus. A ideia em alguns dos círculos supostamente “cristãos” é que se você tem bastante fé pode basicamente “declarar e reinvidicar” suas bênçãos de Deus – incluindo as bênçãos de cura, saúde, riqueza, e prosperidade. Entretanto, isto passa o mais longe possível da doutrina bíblica sobre a oração. (Tente dizer a Jó, ou o Apóstolo Paulo, ou Estevão o Mártir – todos homens de oração profunda e sincera – que eles somente não tiveram fé o suficiente para “declarar e reinvidicar” suas bênçãos, ou que suas dificuldades e sofrimentos são evidência de uma fé fraca). Além de ser completamente blasfemo, é também completamente pagão. É o exemplo mais extremo de oração como magia branca. Isto transforma Deus em um capataz e sujeita o Criador à vontade da criatura. Não é um meio de fazer Deus de capacho ou dar ordens a Deus. Antes, é um caminho pelo qual nós expressamos nossa total dependência do Soberano do universo, e humildemente pedimos a Ele por coisas que são necessárias para nós e agradáveis à Sua vontade. É um meio pelo qual nós dizemos a Deus, “Seja feita a tua vontade” (e não, “Senhor, faça a minha vontade).

Quando os discípulos do nosso Senhor pediram que Ele os ensinasse como orar, Ele os ensinou um modelo de oração que veio a ser conhecido como a “Oração do Senhor”¹ (Lucas 11.1-4; Mateus 6.9-13). (Seria mais preciso a chamá-la de “a oração dos discípulos”, porque ela pretendia servir como modelo de oração para os seguidores de Jesus Cristo.) Enquanto muitas coisas podem ser ditas sobre esse modelo de oração, eu faria somente algumas observações. Primeiramente, esta oração é muito curta e direta ao ponto. Pode ser orada em menos de 30 segundos. Segundo, ela é muito íntima (Deus é chamado pelo crente de “Pai Nosso”) e simples, evitando o excesso de floreio e vã repetição caracterizados pela oração do tipo “magia branca” que acontece hoje. Terceiro, ela é completamente teocêntrica e focada no Reino. Somente uma das petições (“O pão nosso de cada dia nos dai hoje”) se foca em nós e nossas necessidades terrenas, e mesmo assim somente pede pelo que precisamos (pão nosso de cada dia), e não o que nós poderíamos querer (saúde, riqueza, facilidade, conforto, prosperidade, etc.). Finalmente, ela é uma oração que manifesta uma atitude de total submissão à vontade de Deus, o oposto de tentar forçar Deus a servir nossos desejos ou interesses ou pautas. A oração “magia branca” procura usar Deus para propósitos egocêntricos. A oração verdadeira procura se submeter à vontade de Deus em humildade e gratidão. Quando somos tentados a nos inclinar ao modo de pensar da “oração magia branca”, faríamos bem em refletir sobre a Oração do Senhor.

A oração é um grande privilégio. A oração é poderosa. A oração é vital para a vida spiritual e a saúde tanto do crente individual como da igreja corporativa. Entretanto, oração não é magia branca, e Deus não é nosso Mordomo Cósmico. À medida que procuramos ser pessoas devotadas à Palavra e à oração, deixemo-nos lutar por uma teologia bíblica sobre oração, para a glória de Deus e para o nosso bem espiritual.

(Ao longo desse texto, eu realmente apreciei alguns dos comentários do Rev. Jonathan Fisk, pastor luterano do Sínodo de Missouri, faz do tema da oração perto do final desse recente vídeo do “Worldview Everlasting”. Foi dos comentários do Pastor Fisk que eu tirei a ideia de classificar as falsas noções de oração como “magia branca”.)

A igreja perfeita!



Por Josemar Bessa

Muitas pessoas num mundo que prega abertamente o individualismo, e cada homem como medida do que é bom e correto para si mesmo, tentam encontrar desculpas que racionalizem o problema nascido no Éden, o homem sendo “deus” de si mesmo.
Uma das desculpas é sempre tirar a responsabilidade pessoal pelo meu fracasso e colocá-lo em grupos maiores que não tem uma cara específica. Gostamos e abraçamos como desculpa os pecados institucionais, tão condenados diariamente, e pouco falamos dos pecados pessoais, que em última análise, são o nosso verdadeiro problema.

Muitos falam da imperfeição da igreja apenas como uma desculpa para sua vida vivida em torno de si mesmo.

Por exemplo, a unidade da igreja – A unidade da igreja (olhe para a igreja local) não significa a ausência de conflitos. Quando Cristo orou pela unidade, ele também orou pela santificação de sua igreja ( João 17.17). A necessidade de santificação pressupõe a presença do pecado, e presença do pecado resulta muitas vezes, como não podia deixar de ser, em desunião.

Cristo sabia disso, ele não ora de forma ingênua, ele orou por igreja verdadeiras num mundo real e caído, orou por igrejas imaturas, por igrejas perseguidas que lutariam com o medo..., igrejas que teriam problema com o orgulho, igrejas com membros pecadores... Ou seja, igrejas como as que o apóstolo Paulo fundou e dirigiu, e Pedro, e João... e tiveram que escrever cartas, admoestar, repreender... Igrejas como as que Jesus repreende através de João em Apocalipse 1-3. Mas a oração de Jesus ainda é que esses pecadores justificados, regenerados... estejam juntos, se mantenham juntos... Por quê? O plano de muitos hoje seria cada um ficar em sua casa até que todos fossem perfeitos para se juntarem. Mas Jesus os quer juntos e ora para que sejam santificados pela Palavra... pecadores que muitas vezes tem conflitos, juntos? Por que? Porque Jesus usa os pecados irritantes dos outros para expor nossos próprios pecados, criando oportunidades de tolerar, desenvolver a paciência, orar por transformação, aprender a perdoar... cumprindo assim uma instrução fundamental: “amar uns aos outros” ( Jo 13.34-35). Como Ele nos amou, como Ele amou os discípulos... se havia algo longe de qualquer perfeição era o grupo de discípulos que andou com Jesus naqueles três anos: Pedro, Tiago e João, Tomé... Quanto orgulho e disputa por primeiro lugar houve entre eles, quanto medo, quanta incredulidade... Tudo isso levou a desunião muitas vezes, mas a contenda que naturalmente leva a desunião traz consigo a possibilidade de refinar a igreja quando o pecado é confrontado, confessado... e o evangelho da graça é aplicado (Mt 18.21-35).

O crescimento na unidade da igreja não depende de faixa etária, música... Você cria tribos, “igrejas tribais” – Em torno da juventude, estilos musicais, vestes... Não é Cristo o ponto focal dessa união – ela é humana e carnal. Sempre é a isso que nossas estratégias levam.

A unidade da igreja depende da Palavra de Deus. Logo antes de Cristo orar pela unidade da igreja nos versos 20,21 de João 17, ele ora para que Deus santifique o seu povo. A sua oração deixa claro que a unidade tem uma base, a santificação. E ele afirma que a santificação flui da Verdade: “Santifica-os na verdade, a tua Palavra é a verdade!”
Apenas quando nos humilhamos de fato sob a Palavra, não sobre partes, mas toda a Palavra, toda a Verdade. Quando abandonamos a ideia de determinar o que é relevante ou não nela, o que sempre é forjado na arrogância de um coração que não ama a Verdade, sempre que nos reunimos em torno de sua mensagem integral, mudanças espirituais verdadeira produzem unidade espiritual verdadeira.
Unidade construída em qualquer outra base, quer seja a personalidade do líder, o estilo, o ministério específico que se molda ao gosto natural de um grupo... está destinado ao fracasso aos olhos de Deus. Só quando a Palavra é central, os membros podem de fato ser reconciliados uns com os outros, aprender a perdoar uns aos outros, amar uns aos outros... a unidade da igreja depende de empenho de todos juntos crescerem na prática na compreensão da Palavra de Deus: “Santifica-os na Verdade!”

Muitos esperam o que nunca foi prometido por Cristo. Muitos esperam o que nunca foi experimentado por nenhuma das igrejas fundadas por Paulo, Pedro, João... A unidade da igreja não será plenamente realizada neste mundo. Portanto, muitos usam esse tema, como outros, apenas para disfarçarem sua recusa em viver o evangelho e crescer como povo e rebanho de Deus juntos. O que leva a compromisso, obediência, sujeição... e tantas outras coisas que apesar de ser o claro ensino bíblico, a mente desta geração detesta. Nesta geração um dos deuses mais cultuados é o individualismo. E muitos usam de várias desculpas para cristianizarem esse deus em suas vidas.

Muitos esperam hoje o que não está prometido até a volta de Cristo, o que o torna a pessoa inútil agora, no único tempo que ela tem neste mundo no trabalho de Deus na edificação da Sua igreja. Como Paulo poderia se manter útil e motivado em escrever cartas para as igrejas locais, pessoalmente lutar pela verdade de Deus nelas, pelo crescimento espiritual das pessoas... se pensasse assim?

A esperança do futuro não pode distorcer a percepção do presente. Todos nós devíamos saber, pelo claro ensino bíblico e pela nossa luta pessoal, que vivemos em um momento em que o Espírito e a carne coexistem numa guerra. Que o mundo é um inimigo poderoso, que Satanás engana e trabalha também em nosso meio. Devemos então, de modo realista, como Jesus, orar pela paz e união da igreja, buscar “se possível estar em paz com todos” – ou seja, no que depender de nós. Sermos filhos de Deus, ou seja, pacificadores no meio da igreja (Mt 5.9)... mas não ficarmos surpresos quando a desunião mostrar sua feia face. Devemos em momentos assim avaliar a nossa própria contribuição tanto na quebra da união, como na responsabilidade pela paz. Este é um assunto, como muitos outros, que nós temos o já, e temos também o “ainda não”.

Devemos avaliar a nossa própria contribuição para a luta, é preciso remover o registro do nosso próprio olho, e devemos esperar de novo no evangelho de Jesus Cristo. Sua paz é já, mas ainda não!

Exercer o perdão, a paciência, a longanimidade, a benignidade, a mansidão, o amor... é estar vivendo exatamente isso. Num perfeito ambiente de paz, esses frutos não estariam sendo desenvolvidos. Um dia esse tempo chegará.

Se tua aspiração fixa agora está no que ainda está no futuro, e com isso a tua desculpa está na imperfeição da igreja, sua motivação não pode ser a mesma dos apóstolos... nem mesmo a de igreja ao orar por sua igreja (João 17), mas não passa disso, desculpa e racionalização. No entanto, paz perfeita está prometida, e está prometida por um Deus soberano que não pode falhar e não falhará. Hoje já estamos em paz com Ele (Rm 5.1). Agora oramos pela união, temos nos tornado pacificadores, estamos sendo santificados pela Palavra... estamos engajados na batalha, e não procurando desculpas para fugir dela.