terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A Igreja que desapareceu


O que há nas igrejas que possa atrair pessoas? Pense.

Você iria a uma Igreja, assumiria compromisso irrestrito com os programas que ela propõe, se necessitasse um “milagre financeiro? Esse apelo atrai muita gente, mas de certo os mais sensatos seguirão o conselho dado pelo bom senso e pela Bíblia para cada um trabalhar (Mt 5.45; Ef 4.28; 2Ts 3.10).

Muitas pessoas que precisam de aconselhamento talvez prefiram recorrer a um profissional que estudou para isso; um psicólogo é uma boa alternativa – ainda que não seja a melhor e nem a única.

Que outro motivo levaria alguém a uma Igreja?

Pessoas desanimadas, cansadas da vida, poderiam procurar uma Igreja. Mas também poderiam ir ao teatro, a um espetáculo do tipo stand up comedy. Também poderiam assistir a uma palestra motivacional. Há muitas alternativas às quais se possa recorrer que, convenhamos, são melhores do que muitas igrejas por aí.

Pessoas da última e da nova geração encontrarão dificuldade em procurar uma igreja, porque as Igrejas não têm dado motivo que apele para tanto. As “respostas” que parte das Igrejas tem dado são para perguntas que não têm sido feitas. Em grande parte, os programas semanais e dominicais das Igrejas são rígidos demais em torno do conforto e bem estar daqueles que sustentam a estrutura – falta vida e sinceridade. Não há espaço para variações, porque há um time ganhando com a manutenção desse modelo – e em time que ganha ninguém mexe.

Mas procure fazer um exercício de alteridade, olhar a Igreja a partir do olhar do outro, de quem está fora da Igreja. Esqueça por um minuto o que você sabe sobre salvação, sobre vida eterna, sobre inferno, sobre bênçãos, e tente sentir-se atraído a uma Igreja pelo que ela oferece, comparando-a com as ofertas existentes no mercado.

O que você consegue enxergar?

Seja honesto, e procure ser atraído a uma igreja como ela se mostra a partir do olhar do outro.

Houve um tempo quando as Igrejas influenciavam a sociedade, davam opções de vida condigna, mudavam leis, serviam de referencial moral, apontavam caminhos alternativos razoáveis para toda a vida, tinham um modo de pensar coerente e eram uma opção a ser considerada. Embora com poucos membros em relação a população evangélica atual, as Igrejas formavam uma sociedade diferente, vigorosa, alegre e que dava certo.

E hoje, quais as ofertas ela faz que justifiquem a adesão a qualquer delas?

Há Igrejas que são clubinhos de egoístas, que só pedem coisas ao deus Mamón o tempo todo; não conseguem enxergar o mundo além do próprio umbigo e do dinheiro que ocupa suas fantasias e nada sabem sobre generosidade, compaixão e comunhão com pessoas diferentes. Há Igrejas com música de mau gosto e com pregadores sem qualquer capacidade para fazer uso do microfone; homens e mulheres que mal sabem se expressar e assaltam a língua portuguesa – e o ensino bíblico também. Não estou ridicularizando pessoas simples; tenho em mente os aproveitadores da fé, que não conseguiram um bom emprego no mercado de trabalho e migraram para as igrejas a fim de ganhar o dinheiro de gente vulnerável a uma boa lábia.

Há muitas Igrejas que se fecharam em si mesmas numa cúpula de pretensa santidade, e vivem apontando o erro dos outros pensando que só eles irão para o céu. Que a salvação não depende do comportamento reto é uma verdade que eles não conheceram ainda porque nada entenderam das próprias palavras de Jesus.

Que atrativo, então, há para pessoas de fora da Igreja? O que é que estamos fazendo de razoável que chame a atenção de homens, mulheres, jovens e adolescentes para Jesus Cristo hoje?

As Igrejas não dão nada a ninguém; só queremos para si e para acumular. Como escrevi aqui, só em 2011 a Igreja teve lucro (!) de R$ 460 milhões em rendimentos com ações e aplicações financeiras!

A Igreja não é mais uma referência moral inconteste. Há políticos, empresários, artistas e profissionais que adotam o mesmo condicionamento da cultura produzida nas ruas, ou seja, o padrão “mensalão” de que tanto se fala. Em muitos casos não temos sequer um discurso atraente, pois nos voltamos somente para dentro, para a manutenção do que temos e do que conseguimos, e não para o campo, para o mundo. Falamos linguagem de gueto, por códigos e não por parábolas que usam as experiências cotidianas das pessoas.

Concordo que precisamos treinar missionários, mas urgentemente é preciso fazer cristãos para viverem suas atividades cotidianas como missionários. Precisamos pensar em atender ao outro, ao de fora, resgatar o significado da palavra Igreja, que no grego ecclesia, “para fora”, mas que só entendemos como “para dentro e para nós”.

As nossas liturgias são boas, mas são boas para nós. Os nossos programas são bons, mas são bons para nós. Os nossos templos são bons, mas são bons para nós. Não gosto nem de pensar em pastores e líderes que ordenam a retirada de pessoas mal vestidas de seus templos. Isso daria um texto ais longo ainda!

Se eu consegui ser claro, você entendeu que não quero acabar com tudo, “cuspir no prato que tenho comido”. Se eu consegui ser claro, você entendeu que precisamos nos arrepender, rever as prioridades e voltar à cena, reaparecer, ou melhor, mostrar Cristo em nós, a esperança da glória.

… a quem Deus, entre os gentios, quis dar a conhecer as riquezas da glória deste mistério, a saber, Cristo em vós, a esperança da glória. (Colossenses 1.27)

Materialismo: um salto de fé



Sempre entendi que um darwinista baseia todas as suas convicções e conceitos não na ciência, muito menos na comprovação científica ou empirismo, mas na falsa premissa da não existência de Deus.

O que os move não é o conhecimento científico, nem as descobertas que “poderiam” apontar para a não existência de Deus, mas o contrário, eles direcionam e acomodam a ciência para dentro do seu escopo filosófico, o qual se evidencia metodologicamente corrompido pela forma como se manipulam, burlam, gerenciam as informações a fim de se ratificar o pressuposto filosófico da não existência de Deus.

A ciência torna-se apenas o veículo para a corroboração da crença na descrença; o meio pelo qual eles dão vazão aos seus pressupostos através da falsa ideia de que estão à procura da razão e da verdade; quando a ciência transforma-se no meio de propagação doutrinária, a despeito do seu apelo pseudo-racional querer excluir a fé, quando, na verdade, ela está arraigada na fé. É o discurso panfletário idealizando-se anti-panfletário, como se fosse possível condenar o proselitismo religioso usando-se do proselitismo para difundir o materialismo, uma nova religião tão ou mais radical como nenhuma outra já foi.

No fundo, o cético faz da ciência e de si mesmo os seus “deuses”; esses são os elementos forjadores da cosmovisão materialista, e ao rejeitarem o Criador simplesmente o substituem por Suas criaturas [sim, a ciência não é criação humana, mas parte da criação divina, assim como o homem]. É o que Paulo alerta: “Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos… Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém” [Rm 1.22, 25]. Na verdade, esse trecho da Escritura explica muito bem o que acontece atualmente: o homem se entregando à pregação, ao discurso, em favor do autonomismo, e assim excluí-se o teocentrismo para, em seu lugar, erguer altares antropocêntricos.

Em suas argumentações e sofismas, os crédulos ateus utilizam-se do fato da ciência não ser neutra para contaminá-la com sua filosofia naturalista, e assim dizer que agem em neutralidade. Parecendo racionais são levianos, e forçam até a exaustão o rótulo de inconsistentes, místicos e preconceituosos aos outros crédulos [em especial, os cristãos] quando suas concepções estão viciadas exatamente pela inconsistência, pelo misticismo, preconceitos e uma metodologia completamente corrompida. Verdadeiramente os naturalistas não estão a serviço da ciência, mas servem-se dela para atingir seus objetivos; usam-na como “ambiente” para disseminar e estabelecer seus dogmas. Em sua maioria são tão fundamentalistas como os fundamentalistas que atacam e execram, pois não estão dispostos ao diálogo, mas à doutrinação mais agressiva que se possa estabelecer e exercitar, e ela começa pelo pressuposto de desqualificar e rejeitar qualquer premissa que não seja igual a “Deus não existe” [não que haja algum benefício em dialogar com eles, pois se encontram de tal maneira presos em seu círculo vicioso que a menor hipótese de liberdade intelectual parecem-lhes pior do que o ferrolho a prender-lhes pés e mãos].

Afinal, quem é mais crédulo? O crente ou o ateu?

É interessante que o “novo ateísmo”[1] proclama a liberdade do homem de todas as formas de opressão religiosa, e o faça direcionando-o explicitamente ao materialismo filosófico, como única e última opção. Ou seja, prega-se uma “libertação”, mas essa libertação somente existirá se o liberto tornar-se ateu. Não é interessante? Quer dizer que para se ser livre o homem somente o será se a liberdade o levar ao âmago do sistema ateísta? E até onde será possível ir em defesa dessa liberdade? Como reagirão diante daqueles que se recusarem a aceitá-la? Os neo-ateístas não estarão revivendo tudo aquilo que dizem combater, mas que é bem possível repetir em nome da sua fé? Ao final, o que teremos serão homens enjaulados, sem sequer uma réstia de luz.

Esse método se assemelha, ou melhor, é idêntico ao discurso marxista. Ao livrar o homem do capitalismo, fatalmente a única opção passa a ser o comunismo. O homem é livre para escolher o comunismo, e tão somente ele; e, chegando lá, estará invariavelmente aprisionado ao sistema, sem nenhuma chance de volta ou outra opção de escolha. A menos que se auto-imploda por ineficiência ou fragilidade, por sua própria inexiquilidade. Em nada é diferente da liberdade que bois e porcos têm no “corredor da morte” em direção ao matadouro. Não há escolha nem salvação. Essa é a liberdade do ateísmo e do marxismo… Mais uma mentira vergonhosa, em que o homem está preso pela suposta liberdade de querer se manter preso.

Por exemplo, Richard Dawkins[2] propõe a mesma libertação comunista: a de aprisionar o homem no ateísmo, no materialismo. E somente estando-se ali ele será, no seu conceito esdrúxulo, livre. Mas livre de quê? De algum tipo de fé? De algum tipo de sistema autoritário e despótico? De algum tipo de jogo onde as cartas estejam marcadas? E depois nos chamam de burros, de cegos. Ou querem enganar a quem além de si mesmos? Como esses homens podem conviver com tanta incoerência e ilogicidade? Somente a desonestidade intelectual como resposta. Ou seria uma fé equivocada? Ao ponto em que o “neo-ateísmo” esforça-se em excluir a história da própria História?

O modelo que desejam para a sociedade é, basicamente, o modelo marxista implementado na extinta URSS por Lenin e Stalin, na China por Mao, em Cuba por Fidel, no Camboja por Pol Pot, e em tantos outros lugares; é o mesmo projetado pelo ateísmo moderno: para aniquilar a ideia de Deus é preciso exterminar o homem, ao não permitir que ele pense, racionalize, mas tenha seus pensamentos reduzidos a um padrão de indiferença, onde todos estarão confinados a um modelo unificado de comportamento e expressão: a submissão cega. Milhões de pessoas sentiram na pele a ideologia marxista, o controle do Estado sobre a sociedade e o indivíduo; a impossibilidade de se “escapar” com vida desse sistema a não ser rendendo-se incondicionalmente; ser controlado completamente pelas forças de “libertação”, ou seja, fazer do homem uma simples máquina a serviço da vontade burocrática. Isso é fruto de um irracionalismo voluntário, da falta de discernimento analítico, o aniquilamento do senso crítico, da razão, tornando homens em manadas de idiotas.

O Estado não serve, precisa ser servido em sua voracidade perversa; o Estado não admite Deus, mas quer se fazer um; o Estado não pretende ter cidadãos, mas escravos; não aceita nada menos do que o seu ideal maníaco de onipotência e onipresença. Da mesma forma, o gene egoísta é a nova desculpa para que o Estado controle, domine e subjugue o homem. E a desculpa é sempre a mesma escandalosa mentira: assim é melhor!… Mas para quem?

A loucura doentia do neo-ateísmo, que simplesmente revive conceitos experimentados e fracassados à exaustão, como se fossem novidade, é ser essencialmente aquilo que diz combater. Será que os novos ateus pretendem reescrever a História, ou ficarão apenas na idade média, em especial no período negro da inquisição? Se o falso cristianismo existe e é injusto, há contudo o verdadeiro cristianismo, o qual é justo. Mas o que dizer do marxismo? Que nada mais é do que o materialismo levado às últimas consequências? O naturalismo em sua expressão mais virulenta e odiosa? Em qual lugar houve justiça? Ele apenas promoveu e ainda promove a injustiça em sua sanha destrutiva, em sua descrença em Deus e nos valores cristãos. Ateísmo e marxismo são irmãos siameses a serviço do mesmo senhor: o diabo!

E como tal, não prescinde a fé, mas vive por ela… equivocadamente, diga-se de passagem, posta num ídolo de barro.

Como Pedro pôde dizer isso?



Por Josemar Bessa

No Senhor dos Anéis de R. R. Tolkein, um dos personagens, Smeagol ou Gollun, tem uma maneira própria de chamar o anel – “Meu Precioso!”. Depois de uma jornada enorme ele morre junto com a destruição do anel na Montanha da Perdição.

O que é precioso para você de tal maneira que as pessoas possam ver sua paixão dessa maneira?

Precioso, preciosidade... Pedro usa essas palavras muitas vezes, ele gosta dessas palavras. Em suas breves cartas ele a usa sete vezes: 1 Pe 1.7, 19; 2.4,6,7; 2Pe 1.1,4.

O primeiro uso que ele faz é completamente surpreendente. Mal acreditamos que alguém pudesse fazer usa dessa palavra nessa situação, para um teste, para uma prova, para o sofrimento. Mas Pedro faz, logo ele, que em um famoso momento de teste no passado tinha falhado completamente.

Ele fala sobre essa preciosidade com olhos brilhando: “Em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações, Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo” 1 Pedro 1:6-7. Há duas palavras que ele usa em conjunto, ambas significando “julgamento” – traduzida aqui por “tentações” e “prova”. No verso 6 – peirazo. O ataque de coisas más, como o diabo é chamado de peirazon. Ele tenta para o mal. Mas a próxima palavra é dokimion – que é teste, prova, com o objetivo de se aprofundar o que é bom, a edificação do caráter: “...a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo”

É evidente a verdade espiritual profunda que o apóstolo se refere. Por exemplo, em nossos relacionamentos. A dor e a tristeza que atinge a vida faz com que ele seja duplamente preciosa. Por exemplo, na história de Jacó, em Gênesis, quando ele estava próximo a Belém, Raquel, sua esposa amada, lutou para dar a luz a seu segundo filho, e ali ela morreu. Jacó chamou o menino de Benjamim – “filho da minha tristeza” – Nós podemos ver como Jacó tenta de todas as formas proteger Benjamim não querendo enviá-lo ao Egito na companhia de seus irmãos. Mas tendo ido, os irmãos fazem um apelo dramático a José, sem saber que ele era irmão deles ( e o único irmão de Benjamim por pai e mãe). Por que o apelo dramático em nome do seu velho pai, Jacó? Benjamim era precioso pois nasceu em meio as agonias de Raquel, que morreu ao dar a luz a ele. Isso é verdade nos relacionamentos humanos – o custo e a tristeza fazem daquilo algo mais caro e precioso para nós. Assim era Benjamim para Jacó.

Isso também é verdade em nossas relações espirituais. Jó era um homem que amava e vivia para a glória de Deus, mas ele perdeu tudo. Em Jó 29.11-25 ele fala sobre essa vida: “Ouvindo-me algum ouvido, me tinha por bem-aventurado; vendo-me algum olho, dava testemunho de mim; Porque eu livrava o miserável, que clamava, como também o órfão que não tinha quem o socorresse. A bênção do que ia perecendo vinha sobre mim, e eu fazia que rejubilasse o coração da viúva. Vestia-me da justiça, e ela me servia de vestimenta; como manto e diadema era a minha justiça. Eu me fazia de olhos para o cego, e de pés para o coxo...”

Deus tinha dito que não havia ninguém como Jó na terra. Mas depois da dor de perder sua família, casa, bem, saúde, filhos... ele se sentou num monte de cinzas e chorou sua miséria por todas as aflições que vieram sobre ele. Agora você pode ouvir Jó no último capítulo: “Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos. Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza”. Jó 42:5-6

É outro homem, não é? O sofrimento foi precioso em sua vida pois o pôs de joelhos como ele nunca tinha estado antes. Isso também é verdade em nossos relacionamentos celestiais.

Há razões mais profundas para a preciosidade do céu, mas por hora olhemos apenas esta – Uma das coisas que fazem o céu precioso para nós: “E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas”Apocalipse 21:4

Qual seria o peso disso se nós não tivéssemos várias vezes estado ao lado de uma sepultura aberta? Que impacto haveria sobre nós ouvir: “...e não haverá mais morte”? Os anjos não podem entender como nós podemos entender isso. O que significaria para você se nunca tivesse sofrido as palavras: “não haverá nem pranto, nem clamor, nem dor...”

Pedro diz que isso é precioso. As provas de nossas vidas, as tristezas que nos afligem a fazem curvar nossos joelhos. Deus tem uma recompensa para nós que é mais maravilhoso que todo ouro que é purificado no forno tantas vezes.

Depois ele fala sobre algo muito mais precioso, o sangue de Cristo: "Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver... Mas com o precioso sangue de Cristo...” 1 Pedro 1:18-19

Mas isso já é assunto para um segundo artigo.

A ditadura do sexo

Sexo1

Por Maurício Zágari

Quantos tipos de pecados existem? Serão dezenas, centenas, milhares, milhões? Confesso que não sei ao certo, mas uma certeza tenho: são muitos. Muitos mesmo. Isso é curioso, porque, embora existam tantas e tantas e tantas formas de desobedecer a vontade de Deus, parece que concentramos nossa atenção em um pequeno punhado delas. Veja se estou errado: o que escandaliza a esmagadora maioria de nós são atitudes como embriaguez, fumo, consumo de drogas, envolvimento em programações consideradas pecaminosas (boate, bailes, carnaval, shows etc.) e aquilo que pomos no pináculo dos pecados: práticas sexuais ilícitas. Tudo o que é pecado é pecado, logo, não podemos ignorar o quanto qualquer uma dessas atitudes pecaminosas é tóxica para nossa alma nem diminuir a gravidade de qualquer uma delas. Mas o que me chama a atenção é como desenvolvemos o hábito de pôr no paredão apenas um pequeno grupo de transgressões – em especial, os pecados sexuais, considerados por muitos como piores do que a blasfêmia contra o Espírito Santo – quando existem dezenas, centenas, milhares ou milhões. Será que a eleição do sexo ilícito no imaginário popular como a pior de todas as transgressões tem alguma implicação? Tem sim, e são implicações sérias.

Acabei de ler um livro em que, em síntese, o autor expõe sua visão do que faz um sacerdote ser bem-sucedido, ou seja, o que seria sucesso no ministério. É uma obra bem interessante e que tem o seu valor, mas algo chamou minha atenção. Percorri com interesse suas páginas, até que cheguei ao capítulo que fala sobre santidade. Quando vi o tema, imaginei que ele discorreria sobre diferentes questões, como bom uso do dinheiro da igreja, relacionamento saudável com a família, cuidados com a vaidade excessiva, sexualidade sadia, humildade no uso do poder, justiça ao lidar com as ovelhas, a importância de ser manso no trato com os diferentes, a necessidade de não se corromper para obter facilidades, amar o próximo como a si mesmo, e uma série de outros tópicos que, a meu ver, são indissociáveis do tema santidade do ministro. Só que, para minha surpresa, o autor começa o capítulo falando sobre sexo, prossegue falando sobre sexo e o termina falando sobre… sexo. Cheguei ao final desse trecho pensando: “Tá certo, concordo, mas… só sexo?!”.

É absolutamente inquestionável que uma sexualidade santa é fundamental para a vida pessoal e ministerial de um indivíduo, devemos estar em constante vigilância para não cometer transgressões sexuais e, caso pequemos, sempre buscar o arrependimento sincero e a mudança de atitude. Mas, do jeito que o autor desse livro e muitos irmãos e irmãs tratam a questão, a sensação que tenho é que ser santo é apenas ser sexualmente santo. A pergunta é: e o resto? E as outras dezenas ou centenas, os outros milhares ou milhões de pecados, que fim levaram?

A conclusão a que chego é que nós criamos um ranking de pecados. E, no alto do pódio, triunfando como os piores pecados de todos, estão os de cunho sexual. Uma distinção que, é importante lembrar, a Bíblia não faz.

A revista Ultimato publicou na sua mais recente edição (número 346, pg. 42) um artigo não assinado em que aponta a negligência de grande parcela dos cristãos no que tange aos pecados ligados à injustiça social. Diz o texto: “A maior parte dos pregadores tem chamado a minha atenção para os pecados do sexo – o amor livre, a prostituição, o adultério, a pornografia, o homossexualismo – indicando a conduta certa nesta área. Agradeço a Deus por isso, mas lamento muito o silêncio, a falta de clareza e de ênfase na outra pregação, não menos importante que a anterior (…) Por falta de profetas nesta área, demorei muito tempo a compreender que é pecado tanto trair o cônjuge como deixar o irmão de estômago vazio”. Creio que o autor teve 101% de clareza em sua afirmação, pois conseguiu enxergar o quanto a “ditadura do sexo” está desviando as nossas preocupações de muitos outros tipos de pecados.

Não quero ser mal compreendido, então preciso enfatizar algo: pecado sexuais são graves. Nunca vou dizer o contrário nem vou passar a mão na cabeça deles. São horríveis e ponto. Toda prática sexual ilícita é destrutiva e só gera problemas, dor, morte e devastação. Sofro com um gosto amargo na boca só de pensar nos erros que cometi nessa área (e se você está praticando algo do gênero recomendo, por amor a sua vida e a sua alma, que pare imediatamente, já – de preferência, ontem). Mas o grande mal de se resumir os pecados graves a sexo é que todos os outros pecados graves começam a ser praticados sem que se dê o devido peso a eles.

E vou te contar um segredo: todo pecado é grave. Não existe “pecado não grave” ou “pecado menos grave”. Poderíamos nos perder em discussões eternas sobre “pecadinho e pecadão”, “pecados para a morte” ou mesmo o conceito católico romano de “pecado mortal e pecado venial”. Conheço a teologia de tudo isso e a grande conclusão, em última análise, é uma só: pecado é pecado. Desobediência é desobediência. Morte espiritual é morte espiritual. Não existe morte que mate mais do que outra morte. Quem morre de queda de avião morre tanto quanto quem morre de pneumonia. Quem morre numa explosão nuclear morre tanto quanto quem morre de dengue. Tirando a imperdoável blasfêmia contra o Espírito Santo (que é atribuir atos divinos ao Diabo), os demais pecados estão todos no mesmo saco: representam morte espiritual e carecem de arrependimento, confissão e abandono.

Se um ministro do evangelho comete um pecado sexual, ele imediatamente é afastado de seu cargo. E isso é correto, pois essa alma preciosa e valiosa está doente e necessita ser tratada, cuidada, pastoreada, sarada e, só então, reconduzida às suas atividades ministeriais. Mas não deveria ser assim também com um ministro que peca pela inveja? Pela ganância? Pela arrogância? Pela soberba? Pela corrupção? Falta de amor? Vaidade? Maledicência? Dissensões? Partidarismos? Egoísmo? Egocentrismo? Hipocrisia? Abuso de poder? Favorecimentos ilícitos? Violência verbal? Injustiça? Traições? Quebra da ética pastoral? Mau uso do dinheiro da igreja? Etc., etc., etc? Confesso que não consigo me lembrar de quase nenhum caso de um ministro que tenha sido afastado do cargo por qualquer um desses pecados. Graves, diga-se. Hediondos. Um pastor soberbo, agressivo, corrupto ou vaidoso é uma anomalia espiritual. Precisa de tratamento tanto quanto um viciado em pornografia na internet.

E não estou nem de longe falando apenas de ministros do evangelho. O mesmo se aplica a cada um de nós. Em um culto recente em minha igreja, um de meus pastores iniciou a celebração convidando a congregação a confessar seus pecados a Deus. Claro que me lembrei de meus pecado sexuais. Mas também me lembrei de muitos e muitos e muitos outros tipos de pecados, a ponto de a oração terminar e eu ter de interromper meu ato de contrição sem ter tido tempo de conversar com o Senhor sobre todos. Poucas vezes nos derramamos em lágrimas por termos sido, por exemplo, invejosos, iracundos, gananciosos, espertalhões, abusados ou por termos usado o “jeitinho brasileiro” (que é pecado, diga-se de passagem). Praticamos essas transgressões contra Deus sem nenhum drama de consciência, enquanto legiões de irmãos se deprimem por estarem, por exemplo, escravizados ao vício em pornografia. Por ser uma situação tão inexistente, chega a soar engraçado imaginar um líder ir a público dizer:

- Meus irmãos, preciso me licenciar do ministério pois não honro meu pai e minha mãe e tenho de me tratar espiritualmente.

Ou um membro de igreja que procure auxílio em gabinete pastoral afirmando:

- Pastor, preciso de libertação porque sou muito invejoso.

Você já viu alguém ser disciplinado na igreja por ter praticado a glutonaria? Eu nunca. Na verdade, em todos os meus anos de convertido nunca ouvi uma única pregação, escutei uma música gospel ou li um livro cristão sequer que fosse sobre esse pecado. Parece engraçado eu estar dizendo isso? Não quando lemos na Bíblia que “não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam” (Gl 5.21). Meu irmã, minha irmã, isso é extremamente sério! Essa passagem, por exemplo, me mostra que a glutonaria é tão grave e tem consequências tão severas como a fornicação, por exemplo, e outros pecados sexuais. E aqui reside o perigo, o xis da questão: se eu te perguntar quantas vezes você adulterou na vida, pode ser que me responda, indignado e ofendido: “Nunca!”; mas, sinceramente, quantas vezes você foi glutão? Umas 50? 100? 200? 300? E será que ao menos se arrependeu e pediu perdão a Deus por isso? Ainda: será que ter pecado pela glutonaria sem arrependimento faz de você menos culpado diante do Senhor do que se tivesse fornicado mas se arrependesse e pedisse perdão com toda sinceridade?

A mesma passagem que mostra a gravidade da obra da carne glutonaria a inclui no mesmo grupo que “prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas” (Gl 19-21). Atravessamos a vida com nossa santidade sexual intocada mas cultivamos inimizades, sentimos ciúmes, promovemos discórdias, estimulamos facções, sentimos inveja e por aí vai – sem que nos arrependamos ou peçamos perdão ao Senhor. Será mesmo que estamos tão melhores assim na fita?

Todo pecado é grave. Mas existe um tipo de pecado que, sim, é mais grave do que os outros: o pecado não confessado. Enquanto ficarmos pondo corretamente o dedo na cara dos pecados sexuais mas passando incorretamente a mão na cabeça dos demais tipos de pecados, estaremos deixando de pregar contra eles, continuaremos a praticá-los sem arrependimento, não os confessaremos a Deus e, com tudo isso, seremos engolidos por atos hediondos para o Senhor mas a que não damos tanta atenção porque, para nós, não são tão hediondos assim.

Eis o grande mal da ditadura do sexo: deixamos de confessar nossos outros pecados, igualmente perniciosos.

Pode ser que você tenha se casado virgem, nunca tenha se masturbado, viva uma vida livre de adultérios e jamais tenha espiado pornografia na internet, entre outras atitudes sexuais biblicamente ilícitas. Se esse é o seu caso, ótimo – mas cuidado: sua sexualidade pode não te afastar de Deus, porém, de repente, sua língua, seus olhos, seu coração, seu ego ou suas atitudes o estão mantendo a anos-luz de distância do Senhor.

Quais são os pecados que você comete habitualmente mas aos quais não dá muita importância? Lembre-se de Provérbios 28.13: “O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia”. Examine-se, pois, o homem a si mesmo… e alcance a misericórdia do Pai.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício