segunda-feira, 3 de março de 2014

CRENTES ZUMBIS DE 20 E POUCOS ANOS

CRENTES ZUMBIS DE 20 E POUCOS ANOS




Por Pedro Pamplona

Aquele velho clichê de aniversário sempre aparece: “o tempo passa rápido”. E o pior é que passa mesmo. Um dia desses eu estava fazendo 18. Minha péssima memória ainda se lembra bem de quando tirei a carteira de motorista, parece que foi ontem (mais um clichê). E parece mesmo. O tempo não para quando nós paramos. O tempo não desacelera quando nós desaceleramos. Não existe segunda chance para o tempo e nem mesmo a opção de restart do vídeo game. Não é possível voltar o vídeo como fazemos no Youtube, muito menos apagar posts como no Facebook. O tempo é agora e mais tarde o agora já se foi. Mas qual a razão desse papo sobre tempo? Antes que pensem que estou ficando deprimido pela “velhice” dos meus 20 e poucos anos, deixem-me explicar: na verdade estou entristecido pela apatia cristã dos crentes de 20 e poucos anos. A fase com mais potencial das nossas vidas está nos fazendo de zumbis dentro da Igreja. Mortos e frios em relação a nossa missão. Temos sobrado em várias coisas e deixado outras importantíssimas e vitais de lado. Espero que isso mude, a começar por mim.

Sobra admiração, falta devoção

Temos admirado Jesus. É até difícil afirmar que Jesus é o ídolo maior da nossa juventude cristã, mas vamos ter isso como verdade. Andamos com camisas como o seu nome. Está cheio de Jesus nas nossas páginas do Facebook. Nós falamos bem dEle. Cantamos e até repetimos seu nome como uma torcida de futebol faz. Jesus de verdade tem sido admirado, mas acaba por ai. Infelizmente nossa cultura tem transformado Jesus em mais um ídolo gospel. Talvez o maior, claro, mas não passa de um nome para ser admirado, gritado e cantado.

Falta devoção em meio a admiração. Jesus é Senhor sobre a criação e criaturas. Jesus governa todas as coisas do seu trono. Jesus não é um ídolo ou personalidade famosa. Jesus é Rei. Jesus não vendeu milhões de discos, deu sua vida em nosso favor. Jesus não ganhou nenhum Nobel, mas a vitória sobre a morte. Temos admirado, mas falta rendição ao senhorio de Cristo. Falta obediência, entrega e temor a Jesus. Ele não é essa caricatura de pop star paz e amor que fizeram dele. Jesus merece e requer nossa devoção, e não apenas a admiração de jovens empolgados de 20 e poucos anos.

“Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.” (Filipenses 2:9-11)

Sobra empolgação, falta adoração

Somos empolgados mesmo nessa idade. Empolgados com a faculdade, com o emprego, com o namoro, com o carro próprio e com o intercâmbio. Gostamos demais dessas conquistas e de ver o que Deus está fazendo em nosso favor. Ficamos empolgados com Deus também. É bom ir no culto, acampamentos, sair com o pessoal da igreja e contar o que Deus está fazendo. Pulamos, vibramos, marchamos pelas ruas, gritamos e cheiramos Bíblias. Saímos por ai dizendo que somo loucos por Jesus, que somos príncipes e princesas, que podemos tudo naquele que nos Fortalece e etc.

Mas falta adoração. Falta o momento de pausar na presença de Deus para adorar quem Ele é e não o que ele pode fazer pela sua vida de 20 e poucos anos. Falta a satisfação simplesmente no caráter de Deus e sua obra de redenção. Falta o primeiro amor do coração que se quebranta pelo simples fato de ainda estar batendo. Falta o olho que chora de alegria pela beleza das escrituras. Falta o momento calmo na presença de Deus só para adorar sem pedir nada em troca. Deus não é um cartão de crédito universitário. Ele nos colocou aqui não para o usarmos e trocarmos por vantagens, mas para ser adorado e glorificado. Deus não quer só a empolgação de jovens de 20 e poucos anos que estão dispostos a crescer na vida. Ele quer corações.

“O combustível da adoração é uma visão correta da grandeza de Deus. O fogo que faz o combustível queimar com calor extremo é o avivamento do Espírito Santo. A fornalha acesa e aquecida pela chama da verdade é nosso espírito renovado. E o consequente calor da nossa afeição é a adoração poderosa, que abre caminho por meio de confissões, anseios, aclamações, lágrimas, cânticos, exclamações, cabeças curvadas, mãos erguidas e vidas obedientes” (John Piper)

Sobra disposição, falta submissão

Estamos numa idade em que disposição não falta. E aqui serei otimista de novo. Não falta disposição para as coisas que nos interessam. Seja nos estudos, trabalho, esportes e também na igreja. Queremos desempenhar um bom papel. Queremos ser os melhores possíveis. As vezes perdemos até o foco porque queremos abraçar o mundo com as mãos. Somos bem ativos. Servimos na igreja, queremos sair para protestar, entregar alimentos aos pobres e fazer nossa diferença. Mas toda essa ação e disposição não tem levado em consideração algumas autoridades, não tem nos ensinado a escutar o “não”.

Falta submissão em crentes ativistas de 20 e poucos anos. Queremos fazer tanto que para isso vale até passar por cima da Bíblia, pastores e líderes. Falta submissão na hora de escutar o “agora não”, “assim não”, “por ai não” ou simplesmente “não”. Queremos ser justiceiros e heróis pelas próprias mãos. Não aceitamos que ninguém atrapalhe nossa missão. Mas esquecemos de que ela não é nossa, não a criamos e nem a sustentamos, apenas trabalhamos nela. E quem trabalha obedece a um superior. Falta submissão a lei de Deus e autoridades. Até mesmo civis, como é o caso de crentes que apoiam os black blocs. A missão deixada por Jesus é uma missão de submissão. Deus quer pessoas humildes debaixo da sua mão soberana para agir através da obediência. Deus não espera argumentos e ações anarquistas de jovens de 20 e poucos anos. Ele nos chamou a submissão.

“Deus só é corretamente servido quando sua lei for obedecida. Não se deixa a cada um a liberdade de codificar um sistema de religião ao sabor de sua própria inclinação, senão que o padrão de piedade deve ser tomado da Palavra de Deus” (João Calvino)

Sobra argumento, falta fé.

Nossa fase é a fase do argumento. Temos aprendido muito na faculdade. Admiramos nossos professores e as disciplinas de filosofia, ética, política, etc. Temos estudado também sobre Deus, Bíblia e assuntos afins. Apologética tem ganhado fama no nosso meio. Sobram argumentos. Sobram achismos. Sobram questionamentos a respeito da Bíblia. Sobram dúvidas a respeito da revelação de Deus. Sobram conversas idiotas sobre temas em que a Palavra não se pronuncia. Mas falta fé.

A racionalização deixou o sobrenatural de lado. Queremos tornar ciência aquilo que é milagre e mistério de Deus. Queremos explicar o inexplicável. Temos dificuldade de crer que Deus abriu o mar (é melhor pensar que a maré secou). De crer que Deus cura. De crer que Deus fala. De crer que Deus liberta das drogas. E o pior, duvidamos que Deus possa salvar sem nossa ação ou esforço de persuasão. Falta fé nos jovens de 20 e poucos anos. Deus não te tirou do colégio e te colocou como intelectual de faculdade, Ele te arrancou das trevas e te levou para Seu reino de glória e amor. Argumentos podem faltar, mas sem fé é impossível agradar a Deus.

“Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.” Hebreus 11:6

Eu poderia continuar dizendo várias outras coisas que sobram e faltam, mas essas 4 já nos dão uma ideia do cenário. Poderia ainda escrever que sobra namoro e falta casamento. Sobra auto ajuda e prosperidade e falta boa teologia. Sobra carreira, empreendedorismo e concursos e falta reino. Sobra discussão teológica pobre e falta oração. Sobra versículo solto na internet e falta estudo da Bíblia. No final de tudo, sobra muito osso seco, mente seca e coração seco. Pois as coisas desse mundo não tem vida. Por isso, andamos que nem zumbis pela Igreja. Sem devoção, adoração, submissão e fé num Deus real e sobrenatural. Esse é o tipo de vida em que a “letra mata”, mas aquele mesmo Espírito que soprou sobre o vale de ossos secos ainda vivifica. E através dEle ainda temos vida. Que esse Espírito sopre sobre nossa geração de 20 e poucos anos. Não para sermos melhores adultos, mas para sermos melhores cristãos e adoradores. Com fé, a letra que antes matava agora é vida. Não podemos perder esse tempo precioso da juventude, ele não volta mais. A boa nova é que não existe zumbi que não ganhe vida diante do Deus criador de tudo. Que Ele nos ajude!

“No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”. (João 4:23-24)

Soli Deo Gloria

POBRE HOMEM, VITORIOSO À VISTA DOS HOMENS, DERROTADO DIANTE DE DEUS!


Por Fabio Campos
Texto base: “Melhor é o homem paciente do que o guerreiro, mais vale controlar o seu espírito do que conquistar uma cidade”. (Pr. 16.32 NVI).
O que faz grandes homens naufragarem na fé? Quantos de nós vimos este tipo de situação? um guerreiro, o qual não só colocávamos a mão, mas o corpo inteiro no fogo em confiança na integridade e caráter daquele que se apresentava diante de nós. O que fez Davi cair com Bete-Seba? O que dizer de Salomão que até ídolos adorou? O que dizer de Sansão, um guerreiro de força incomparável, tornou-se um “cachorrinho” inofensivo acariciado por Dalila?
Nem tudo que vemos de fato é! A Escritura ilustra esta verdade dizendo que, “como joia de ouro em focinho de porco, assim é a mulher formosa” (Pr 11.22 RA). O homem que não controla o seu espírito nem sua paixão, nunca verá o “porco” [considerado impuro para os judeus], apenas a “formosura da mulher”. Quantos e quantos impérios foram destruídos por conta de um segundo de prazer! Seus olhos estavam na “formosura” e não na “impureza” do porco.
Quando vejo algum irmão (a) expondo seu dom naquilo que faz para o Senhor, de forma ostensiva, confesso que fico preocupado. Na qualidade de alguém virtuoso, ouve-se mais e fala-se menos (Tg 1.19). Pessoas que acabam de se converter e já querem ganhar o mundo. Pela impetuosidade não criam raízes; piores somos nós [velhos de casa] que fomentamos esta síndrome messiânica na vida destes. Muitos são os estragos, e como não têm raiz, também não frutifica. Crescem! Secam! E em pouco tempo, morrem! Paulo se preparou oito anos para iniciar seu ministério; Jesus, trinta! Hoje, jovens são ordenados a pastor sem nenhum preparo teológico e maturidade espiritual.
A Bíblia é clara, não podemos ser “precipitados a ordenar alguém a liderança” (1Tm 5.22), para que, ensoberbecendo-se, incorra na condenação do diabo (1 Tm 3.6). Antes de qualquer cargo eclesiástico, é preciso conhecer o Senhor (Jr 9.23.24). Muitos estão aí dizendo, “Senhor, Senhor”! Profetizando, expulsando demônios e fazendo muitos sinais e maravilhas. Contudo, Jesus “nunca os conheceu” (Mt 7.21-23). Não é que Ele já os conheceu um dia! Não! A Bíblia é clara: “Nunca vos conheci”.
O longânimo é sábio! Diferente do que é “estourado”. Este “exalta a loucura” (Pr 14.29). Melhor é o paciente do que o arrogante (Ec 7.8). A despeito de “longanimidade”, trata de alguém paciente, tardio em irar-se - sua sabedoria não o leva “precipitadamente” a ira. O resultado disto tudo é a paciência, que faz qualquer ser humano inteligente. Sensato se torna porque controla o seu gênio (Pr. 19.11).
O domínio próprio é a maior segurança de um homem: “Quem não sabe se controlar é tão sem defesa como uma cidade sem muralhas” (Pr 25.28 NTLH). Na nota de rodapé da Bíblia Shedd, “domínio próprio”, é “conservar o espírito dentro dos limites”. Por isso desconfio daqueles que são espalhafatosos ao expor sua fé e os seus “dons espirituais”. Não considero isso como ousadia, mas alguém que pode, assim como Pedro, falar a Cristo que nunca o negará, até que chegue a primeira luta e a pressão dos homens com suas ameaças.
É do agrado de Deus e a Ele de grande valia, “o homem de espírito manso e tranquilo” (1 Pe 3.4). As pessoas mais bonitas espiritualmente falando são as mais discretas. Elas têm discernimento! São sensatas, modestas -, sabem entrar e sair glorificando a Deus apenas com suas obras. Sua preocupação não é em “chamar a atenção para si”. Sua beleza não está no exterior onde o mundo percebe, mas sim no coração, o qual só Deus pode ver e revelar pelo Espírito aos de sua volta.
Não veja seu “ímpeto espalhafato” como virtude! Mas que antes sua palavra seja temperada com sal, agradável, para saber como responder a cada um (Cl 4.6). Não é você quem vai iniciar para depois afirmar; as pessoas é quem vão perguntar primeiro, pois enxergarão algo em você e encontrarão graça em suas palavras. Assim, então, tenha vitória diante de Deus, pelo domínio do seu espírito, antes de pensar nas vitorias diante dos homens, pela conquista de uma guerra. Ninguém vai impressionar a Deus com os seus dons e com os seus talentos. Encha-se do Espírito Santo! Só assim você poderá agradá-lo.
Portanto, antes de gloriar-se em ter ganhado 100 almas para Cristo – de ter profetizado aquilo que aconteceu – ou de ter expulsado demônios – e ter plantado muitas igrejas -, examine a si mesmo e veja se há os frutos do verso abaixo na sua espiritualidade. Se não houver, o que foi dito acima, mesmo tratando de virtudes, de nada valerá:
“Mas o Espírito de Deus produz o amor, a alegria, a paz, a paciência, a bondade, a fidelidade, a humildade e o domínio próprio. (...) ““... [somente] as pessoas que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a natureza delas, junto com todas as paixões e desejos dessa natureza”. – Gálatas 5. 22-24 NTLH
Soli Deo Gloria!

Papo vazio!

         

Por Josemar Bessa

Amor ou Lei? Essa dicotomia é feita o tempo todo em nossa geração. Colocar o amor contra a lei como se fossem coisas mutuamente excludentes é um erro extremamente comum. Nós vivemos numa época de frases feitas, repetidas exaustivamente nas conversas pessoais, redes sociais... então você ouve: “Você quer ter uma religião de amor ou uma religião da lei?
Todo essa conversa, apesar de ser tão comum, é completamente anti-bíblica. O amor, por exemplo, é uma ordem da lei: “Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças.” - Deuteronômio 6:5 – “Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.” - Levítico 19:18 – “Mestre, qual é o grande mandamento na lei? E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” - Mateus 22:36-40
Quando falamos sobre o dever de amar (como a Bíblia define o amor e não a cultura), estamos expressando a lei. Então, como é óbvio, se você incute em sua mente que a lei não importa, o amor deve ser jogado fora, pois ele (sua verdadeira expressão) é o resumo da lei.
Jesus, ao contrário do que é feito tão comumente em seu nome, jamais diz algo parecido com – “você quer ter uma religião de amor ou uma religião da lei?” – Para Cristo não existe de forma nenhuma nenhum amor por ele além de mantê-la: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.” João 14:21 – “Se me amais, guardai os meus mandamentos.” - João 14:15
Tudo isso é ligado, por Cristo, inexoravelmente a comunhão verdadeira que o homem tem com Ele e com o Pai – observar os seus mandamentos – quando O obedecemos, guardamos seus mandamentos, evidenciamos que o amamos. Quando o amamos fica evidente o amor do Pai por nós, e todos a quem o Pai ama, Cristo ama e se revela a eles: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.” - João 14:21 - É impossível definir “permanecer no amor de Jesus” – como algo separado ou além de guardar os mandamentos claros que dele fluem – “Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor.” - João 15:10 – Não há possibilidades, segundo Cristo, de alegria verdadeira, plenitude de alegria fora da busca por santidade: “Tenho-vos dito isto, para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo.” - João 15:11
A lei é uma expressão do que Ele é, uma expressão do seu caráter – é o plano de Deus para o seu povo santificado desfrutar de comunhão com Ele.
Os Salmos estão cheios de declarações de amor e deleite profundo aos mandamentos de Deus – são expressões naturais do coração regenerado – “Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite.” – “Mais desejáveis são do que o ouro, sim, do que muito ouro fino; e mais doces do que o mel e o licor dos favos.” - Salmos 19:10
Jamais tememos amar, meditar e repousar sobre a lei, jamais como um meio demerecer a justificação ou ser justificado, mas como expressão inexorável deter sido justificado pela graça que há em Cristo e ter recebido por graça uma nova natureza. Por isso o apóstolo da Graça diz: “...vamos continuar no pecado para que a graça abunde" Romanos 6:1 – “Deus me livre!” – Diz Paulo: “De maneira nenhuma! Nós, os que morremos para o pecado, como podemos continuar vivendo nele?” Romanos 6:2 - Poderia ser mais claro?

A GRAÇA DE DEUS



A graça comumente é conhecida como o favor imerecido de Deus ao homem pecador.

A teologia divide a graça em comum e especial. A graça comum é aquela que é comunicada a todos os homens, dando-lhes bênçãos sem medida. É por meio dela que Deus controla o mundo para que este não sucumba. A graça especial é soteriológica, pois é por ela que o homem é salvo. É a comunicação da salvação de Deus ao pecador.

A reforma protestante do século XVI afirmou que é tudo pela graça. O termo “sola gratia” define isso, pois, tudo que o homem possui, e, em especial, a salvação, é pela graça somente.

A graça de Deus é muito difundida, mas pouco compreendida. Neste sentido, precisamos compreender o que é a graça de Deus para que a difundamos com discernimento e verdade.

I – A GRAÇA É UM ATRIBUTO DO SER DE DEUS.

E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá”. I Pe 5. 10

Deus tem em seu ser toda graça. É pleno de graça e favor. A graça é um atributo do ser de Deus. Isto quer dizer que Deus é gracioso em essência e ação. Ele a revela como qualidade de sua essência.

A graça é eterna como Deus é eterno. Paulo escrevendo ao jovem Timóteo diz que: “Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos;”. Tm 1. 9. A graça já existia Nele, na eternidade, antes de ser exercida aos homens. Ou seja, Deus é graça em si mesmo, mesmo se não a tivesse comunicado na criação de todas as coisas. A graça não depende de sua comunicação para ser graça, ela é simplesmente graça porque faz parte dos atributos perfeitos de Deus.

Por outro lado, Deus é gracioso ao comunicar sua graça aos homens. Paulo escrevendo aos efésios diz:“Para mostrar nos século vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela benignidade para conosco em Cristo Jesus”. Ef 2.7. Apesar de Deus ser satisfeito em si mesmo pela essência graciosa que há Nele, Paulo mostra que Deus é gracioso na demonstração e comunicação de sua graça aos homens em Jesus Cristo. Aqui fica evidente que Deus comunicou o seu atributo aos homens.

Este atributo nos dá uma visão verdadeira de quem é Deus e, nos mostra, que não faz nada que não seja fruto de Sua infinita graça. Mesmo o exercício de sua justiça e ira são cheios de graça

II – A GRAÇA MANIFESTADA EM JESUS CRISTO.

“E o verbo se fez carne, e habitou entre vós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”. Jo 1.14

O Verbo eterno de Deus se encarnou e revelou plena e perfeitamente a graça de Deus. Um dos propósitos do Evangelho de João era combater a heresia conhecida gnosticismo, que afirmava que a matéria era má, e Deus, neste aspecto, não poderia tocar a matéria, não poderia de maneira alguma ter criado o mundo, e muito menos se tornado prisioneiro em um corpo. Para os gnósticos, quem criou o mundo foi uma das emanações de Deus, e não o próprio Deus. Neste sentido, João escreve que o divino Filho de Deus, que também era Deus, encarnou-se e habitou entre os homens, e quem O viu, contemplou a Sua glória como a do unigênito do Pai cheio de graça e de verdade.

Daí ser Jesus a encarnação, manifestação e personificação plena da graça divina.

Jesus é a plenitude da graça divina. João. 1.16 “E todos nós recebemos da sua plenitude, e graça por graça”. A palavra usada para plenitude é “pleroma”, que quer dizer, neste contexto, a soma de tudo o que se encontra em Deus. Em Cristo estava manifestada e encarnada toda a graça divina. João, também, diz que recebemos desta plenitude graça por graça, graça sobre graça, graça em lugar de graça. A graça manifestada por Cristo é dinâmica, quem a recebe sempre estará mergulhado em graça, saindo de uma graça para outra graça.

2 Co 8.9 “Conhecereis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rica, se fez pobre por amor de vós, para que pela sua pobreza vos tornásseis ricos”. 

Jesus é manifestação da graça divina. “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens”. Tito 2.11. A graça divina se manifestou, apareceu de modo súbito e surpreendente em Jesus Cristo. A graça se manifestou, e é uma pessoa, e seu nome é Jesus. Esta Graça manifestada trouxe salvação a todos os homens. Aqui há uma epifania da graça de Deus.

III – A GRAÇA APLICADA PELO ESPÍRITO SANTO.

A Graça é aplicada ao homem pelo Espírito Santo. Um dos principais pontos da teologia reformada ou calvinista é a graça irresistível. É a afirmação de que Deus por meio do Espírito Santo age no coração do pecador, tornando-o inclinado a não mais resistir à graça de Deus.

A graça é irresistível para aqueles que o Espírito Santo regenerou. A graça é irresistível para aqueles que foram vivificados por Deus. A graça é irresistível porque é operada pelo Espírito Santo, regenerando o rebelde, e fazendo-o não mais resistente ao amor gracioso de Deus.

Por outro lado, a graça é totalmente resistível. Os pecadores que não foram iluminados pelo Espírito Santo, a resistem em todo o tempo. Os pecadores que ainda não foram vivificados estão impermeáveis às ações da graça de Deus. Os pecadores que não foram transplantados por Deus, que não trocaram o coração de pedra pelo de carne, ainda estão endurecidos à graça de Deus.

A melhor forma de entender a graça aplicada pelo Espírito Santo é discernindo a sua eficácia. A graça é irresistível porque é eficaz. Ela cumpre o propósito soberano de Deus na salvação do pecador. Ela é implantada eficazmente no coração do que outrora era resistente à vida de Deus.

Para melhor entendermos a ação e aplicação irresistível da graça de Deus é necessário apreciar alguns textos das Escrituras.

Em Atos 7.51 lemos: “Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim vós sois como vossos pais”. Este texto corrobora com a graça irresistível, dizendo que o homem em todo o tempo resiste à graça Deus. Quem resiste à graça, são homens que ainda estão com os corações incircuncisos, endurecidos pelo pecado, homens que ainda não receberam a “circuncisão da graça”, que não receberam um novo coração de carne, que pode receber os mandamentos da vida. Homens que ainda não foram regenerados pelo Espírito Santo.

Em 2 Coríntios 4.4-6 lemos: “Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus. Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo”. Este texto, também, afirma a graça irresistível, porque mostra que os olhos dos incrédulos foram cegados pelo diabo, e estão impedidos de receber a luz do Evangelho de Cristo. Isto acontece até que Deus, em sua soberania diga: “Haja luz”, e os que estavam em trevas são iluminados e são resplandecidos em seus corações pela luz da graça, que os traz ao conhecimento da glória de Deus.

Em João 1.12-13 lemos: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”. Todos aqueles que o receberam e creram em seu nome, não nasceram de sua vontade, mas foram regenerados pelo Espírito.

Em João 6.44 lemos: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia”. Não há possibilidade de alguém que está resistindo à graça de Deus ir até Jesus, se o Pai, pela vocação interna do Espírito santo, não o trouxer. Este trabalho de trazer o pecador a Deus é feito pela graça irresistível. O termo “trouxer”, no texto grego, é “trazer à força”, para uma melhor compreensão do significado da passagem, é preciso ter em mente alguns pescadores puxando com força a rede cheia de peixes para dentro do barco. Mesmo que os peixes continuem resistindo, não havia a mínima possibilidade de saírem da rede. São trazidos à força. Isto quer dizer que a “força” da graça irresistível de Deus vence a nossa irrestibilidade.

A Graça tem o seu nascedouro em Deus, a sua revelação em Jesus Cristo e a sua aplicação pelo Espírito Santo. Assim, com esta compreensão, devemos difundi-la ao mundo