quinta-feira, 13 de março de 2014

Um coração como o de Cristo

Amor1

Por Maurício Zágari

Vivemos dias curiosos na história da Igreja. Atualmente é muito fácil você se dizer cristão sem que, necessariamente, tenha um coração como o de Cristo. Muita gente se chama cristã mas não tem um relacionamento pessoal e íntimo com Jesus de Nazaré. Existem algumas características que mostram com clareza quem foi verdadeiramente alcançado pela graça do Cordeiro e ingressou no reino de Deus. Precisamos examinar nosso coração constantemente, para ver se não estamos fugindo do padrão que o Senhor estabeleceu para aqueles a quem adota como filhos. E, de todas as características de um cristão autêntico, uma se destaca: ele prioriza o próximo.

Assim como “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16), quem é morada do Espírito Santo entrega-se pelos outros. Devemos ter em nós “o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2.5-8).

Que exemplo! Numa época em que muita gente nas igrejas crê e prega que o cristão é o “vitorioso”, o que faz e acontece… Jesus nos ensina que é preciso esvaziar-se de si mesmo, servir, nivelar-se aos pequenos, humilhar-se, dar a vida pelos demais. Isso é ser cristão. “O grande mandamento na Lei [é]: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22.36-40)

Época triste vivemos, em que muitos acreditam que serão dignos se tiverem cargos de destaque na igreja, títulos eclesiásticos garbosos, pompa e circunstância. É quando olhamos para Jesus e vemos que aquele Deus – nascido numa estrebaria de segunda categoria e posto no lugar onde bichos fedorentos se alimentavam, cercados por moscas e cheiro de estrume – abriu mão de tudo isso. Pelo contrário, lavou os pés dos pecadores. “Depois de lhes ter lavado os pés, tomou as vestes e, voltando à mesa, perguntou-lhes: Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque eu o sou. Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13.12-15).

Seu palácio foi uma carpintaria. Sua coroa não foi de ouro e diamantes, mas de espinhos. Seu trono não foi uma poltrona no centro da plataforma, mas uma cruz. Seu séquito não foi de bajuladores e serviçais, mas de escarnecedores que cuspiam nele e lhe batiam. Sua glória foi ficar nu ante todos, rasgado e furado enquanto o ofendiam. A lealdade que recebeu foi a traição e a debandada daqueles por quem se entregou. Distribuiu amor; recebeu bofetões, catarro, palavrões, abandono, traições, acusações falsas, desprezo, dor.

Mas chegou o terceiro dia. E, então, veio a perfeição. Aquele que serviu assentou-se à direita do Pai e foi servido pelos anjos. Aquele que foi ridicularizado tornou-se entronizado. Aquele que foi humilhado recebeu toda a glória. Jesus, após muito sofrer, não descansou, mas permanece conosco todos os dias, para levar sobre si os fardos de todos os que estão cansados e sobrecarregados.

Nós, porém, não queremos abrir mão de nada. Nosso coração inclina-se para o dinheiro, para acumular pilhas de bens materiais, para receber reconhecimento e fama. Queremos ter mais e mais seguidores nas redes sociais. Queremos prestígio. Não abrimos mão de nosso tempo pelo próximo. Não nos preocupamos com os demais de fato. Não choramos com os que choram, só desejamos nos alegrar com os que se alegram. Queremos que lavem os nossos pés – afinal, pagamos pelo serviço. Nosso coração está cheio de nós mesmos e vazio de amor ao próximo. E nos chamanos “cristãos”? Jesus disse: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13.34-35). Claro como água. Só é discípulo de Jesus quem ama o outro. E isso inclui o xexelento, o fedorento, o intragável, o revoltado, o desviado, o pecador, o leproso, o que não tem nada a lhe oferecer, o que vive precisando de você, o chato, o que tem mau hálito, o que te ofendeu e você não consegue perdoar. Aqueles que são tão ruinzinhos como você e como eu. Quer ser discípulo de Jesus, isto é, um cristão? Ame gente como você e eu: a ralé da humanidade, a escória.

Mas uma ralé por quem o Cordeiro de Deus entregou sua vida. Sim: a ralé vale o preço de sangue – e o sangue de Cristo.

Paulo escreveu: “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave” (Ef 1.1-2). Imitamos Deus? Andamos em amor? Nos entregamos como sacrifício? Negamos a nós mesmos e tomamos diariamente a nossa cruz? Se não o fazemos, “cristão” é um título que não nos pertence.

Amor! Só isso revela um coração cristão; um coração vivo e pulsante, que pulsa no ritmo do coração de Deus.

Precisamos nos examinar diariamente. Como anda o seu coração? Para que ele se inclina? O que você tem feito pelo próximo? Quem vem primeiro na sua vida? Quanto tem perdoado? Quanto tem chorado com os desesperados? Quanto tem se alegrado com a felicidade alheia que custou a sua?

Você quer ter um coração cristão, isto é, um coração como o de Cristo? Um coração no qual permanece o amor de Deus? Então ouça a voz do céu: “Se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é, em nós, aperfeiçoado” (1Jo 4.12).

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

DO QUÊ PODE SE GLORIAR UM SERVO INÚTIL?


Por Fabio Campos
Texto base: “Assim também vocês, quando tiverem feito tudo o que lhes for ordenado, devem dizer: ‘Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever”. – Lucas 17.10 NVI

Na última semana tive uma experiência que me fez refletir acerca do “serviço que prestamos a Deus”. Como de costume, fui a Rua Conde de Sarzedas no Centro de São Paulo; lugar este mais conhecido como “Rua dos Crentes”. Lá se encontra de tudo - coisas boas - coisas ruins-, entre elas, a conduta irreverente de alguns irmãos, a venda de produtos piratas, e literaturas de “aparente piedade, mas que pela mentira, leva muitos à destruição”.

Entrei em uma loja para me informar acerca de uma obra teológica. Como de costume, sempre há os “debates e discussões”, entre testemunhos e “admoestações”. Um irmão muito mais velho estava contando acerca de suas experiências com Deus. De fato, muitas delas louvável e que merece apreciação pelo o que Deus têm feito por intermédio do irmão. Entretanto, há momentos que precisamos se calar diante dos homens para não ultrapassarmos o bom senso e tropeçarmos pelo muito falar.

Contando ele do seu ministério itinerante e de como ele conduzira a vida daqueles que foram ganhos através do seu dom, o irmão [amado] começou a exaltar suas obras de justiça apontando para a “nossa omissão na condução de pessoas ao evangelho seguido da nutrição pedagógica no discipulado” [segundo o seu julgamento]. Eu quieto na minha, pedindo o discernimento a Deus para saber se de fato o Senhor estava falando algo. Logo veio o discernimento! No momento que ele olhou pra mim e perguntou quantas almas eu tinha ganhado para Cristo?, sem ao menos escutar minha resposta, disse ele que não tinha desculpas para dar [detalhe que não consegui responder].

Logo minha mente [pelo Espírito que nos faz lembrar todas as coisas] me levou para as Escrituras. A primeira menção foi à expressão de Paulo, “mesmo pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado” (1 Co 9.27). De falador, o irmão [amado] passou a escutar [com mansidão]. Não existiu evangelista mais eficiente em toda a cristandade do que o Apóstolo Paulo. Diferente de muitos de nós que anunciamos nossas obras e delas nos gloriamos para esconder nossas mazelas, Paulo disse “longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (Gl 6.14).

É preciso um pouco mais de cautela para expor nosso desempenho ministerial. Nosso ego demanda por apreciação e nossa natureza caída requer aplausos. Talvez toda boa-obra à vista dos homens possa ser “trapo de imundícia perante Deus”. A partir do momento que o dom ministerial entrou em campo para se exaltar diante do outro, ele deixou de ser ferramenta para edificação, e assim como “o prato que retine”, de nada valerá diante de Deus. “É necessário que Ele cresça e nós diminuamos”. Proclamar o Evangelho de Cristo por “inveja e por rivalidade”, de fato, pela Soberania de Deus, trará benefícios aos ouvintes (Fp. 1. 15-18), contudo, ao que fala, diante de Deus, torna-se tolo. São eles iguais aos Gálatas Insensatos que Paulo mencionou:“Porém eles querem que vocês circuncidem para que eles possam se gabar de terem colocado o sinal da circuncisão no corpo de vocês” (Gl 6.13 NTLH).

O grande reformador John Knox, no leito de morte, foi tentado a gloriar-se em sua própria coragem por Cristo, e nesta virtude excelente [a coragem], fez dela esterco para experimentar a “excelência do conhecimento de Jesus”. Precisamos constantemente meditar pelo auto-exame em nosso espinho na carne para lembramos que, além de tudo, somos apenas pó. Do quê, então, se gloriar? Da nossa pregação que levou milhares a Cristo? Ou do nosso evangelismo ousado que desafiou o Diabo em seu próprio território? Ou dos nossos estudos eloquentes e das nossas longas orações? Tudo isso é válido e faz parte da vida daqueles que foram “salvos pela fé para as boas-obras”. Contudo, depois de ter feito o que lhe fora ordenado, a ordem de Nosso Senhor, é “considerem servos inúteis, que cumpriu apenas com sua obrigação”.
Que Deus nos ajude a não cairmos no engodo de satanás pelo pensar que somos mais do que de fato somos! A dica Escriturística é esta:
“Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho”. – 1 Coríntios 9.16 AFC
Soli Deo Gloria!