sexta-feira, 21 de março de 2014

Jesus, amigo de pecadores: como?



Por Kevin DeYoung 
Qualquer um que conheça alguma coisa sobre os evangelhos – e mesmo aqueles que não conhecem – sabe que Jesus era amigo de pecadores. Ele muitas vezes atraia a ira dos escribas e fariseus por comer com pecadores (Lucas 15.2). Jesus claramente reconheceu que um dos insultos atirados contra ele era que ele era “um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores!” (Lucas 7.34). Nós cristãos adoramos essa história porque ela significa que Jesus é amigo de pecadores como nós. Também nos sentimos desafiados pelo exemplo de Jesus a nos certificarmos que não rejeitamos ninguém de alguma forma que Jesus jamais faria.

Por mais preciosa que essa verdade seja – que Jesus é amigo de pecadores – como qualquer outra verdade preciosa da Bíblia, ela deve ser protegida de erros doutrinários e éticos. É muito fácil, e incrivelmente comum, que cristãos (ou não cristãos) peguem a verdade geral de que Jesus era amigo de pecadores e a torcem até não ser mais reconhecida. Assim, “Jesus comia com pecadores” se torna “Jesus adorava uma boa festa”, que se torna “Jesus estava mais interessado em demonstrar amor do que tomar partido”, que se torna “Jesus sempre estava do lado dos não religiosos”, que se torna “Jesus pouco se importava com as violações da Torá”.

Aqui temos um exemplo de como uma verdade pode ser usada como uma meia verdade a serviço de uma mentira. Certa vez, quando era mais novo no ministério, fiz um comentário corriqueiro sobre como Jesus “andava com os bêbados”. Fui sabia e gentilmente corrigido por um cristão mais velho que já tinha enfrentado problemas de vício em álcool. Ele me desafiou a encontrar qualquer passagem da Escritura em que Jesus estivesse apenas “andando” com pessoas em estado de embriaguez. Na tentativa de acentuar a graça de Cristo, pisei além (ao redor, por cima e para longe) do texto bíblico e falei como se Jesus não gostasse de outra coisa além de jogar tempo fora com o Zach Galifianakis em Se beber não case.

Se queremos celebrar o fato de que o Senhor Jesus é um grande amigo de pecadores – e deveríamos – precisamos prestar cuidadosa atenção às formas em que Jesus de fato foi amigo de pecadores. Fora a história da mulher pega em adultério (por motivos de crítica textual), eu contei cinco passagens principais nos evangelhos onde Jesus foi repreendido por estar perto demais dos pecadores.

Mateus 9.9-13; Marcos 2.13-17; Lucas 5.27-32 - Essa é a história do chamado de Mateus, o coletor de impostos, para ser seu discípulo. Aqui vemos Jesus tomando lugar à mesa com muitos coletores de impostos e pecadores “porque estes eram em grande número e também o seguiam” (Marcos 2.15). Quando os escribas e os fariseus murmuram a respeito de suas companhias, Jesus diz a eles que não veio “chamar justos, e sim pecadores, ao arrependimento” (Lucas 5.32).

Mateus 11.16-19; Lucas 7.31-35 – Aqui Jesus repreende os “homens da presente geração” porque rejeitaram João Batista, por ele ser muito rígido, e rejeitaram o Filho do Homem por ser muito relaxado. É desse incidente que temos a frase “amigo de pecadores”. Vale notar que esse foi um insulto direcionado a Jesus por seus inimigos. Isso não significa que Jesus não o era e que não deveríamos cantar sobre isso, mas essa passagem sugere que Jesus não se encaixava de todas as maneiras nessa descrição. Se Jesus não era “um glutão e bebedor de vinho”, como seus oponentes diziam, talvez ele também não fosse “amigo de publicanos e pecadores” da mesma maneira que eles imaginavam.

Lucas 7.36-50 – Logo após vem outra história parecida em Lucas. Uma mulher pecadora unge Jesus com um perfume precioso, enxuga os pés de Jesus com suas lágrimas e com seu próprio cabelo. Quando Jesus é corrigido por deixar essa “pecadora” tocá-lo, ele lembra a Simão que aqueles a quem muito é perdoado amam muito. No fim, Jesus perdoa a mulher de seus pecados e anuncia “A tua fé te salvou; vai-te em paz” (Lucas 7.50).

Lucas 15.1-2 – O contexto das parábolas da ovelha perdida, da moeda perdida e do filho perdido em Lucas 15 está nos primeiros versos do capítulo. Conforme os publicanos e pecadores “aproximavam-se de Jesus”, os fariseus e escribas murmuravam que Jesus estava os recebendo e comendo com eles. As três parábolas que se seguem demonstram como Deus busca os perdidos (15.3, 8, 20) e o quão feliz Deus fica quando pecadores se arrependem (15.7, 10, 21-24).

Lucas 19.1-10 – Novamente, os líderes judeus murmuram porque Jesus “ele se hospedara com homem pecador” (Lucas 19.7). Por mais que Zaqueu tenha se arrependido e mudado (19.8), os judeus simplesmente não conseguem aceitar que o Filho do Homem tenha vindo para buscar e salvar os perdidos (19.10) e que esse publicano famoso tenha sido salvo (19.9).

Assim, que lições podemos tirar desses episódios? De que forma Jesus era amigo de pecadores? Ele tinha uma estratégia para alcançar coletores de impostos? Ele “andava” indiscriminadamente com beberrões e prostitutas? Ele era um messias do relaxado do tipo “deixa a vida me levar”? O que vemos do conjunto dessas passagens é que os pecadores eram atraídos por Jesus, que Jesus gastava tempo com esses pecadores que estavam abertos a seus ensinamentos, que Jesus perdoava pecadores arrependidos e que Jesus abraçava pecadores que criam nele.

Jesus era amigo de pecadores não porque fazia vista grossa ou ignorava o pecado ou gostava de uma festinha com aqueles que se envolviam com imoralidade. Jesus era amigo de pecadores no sentido de que veio para salvar pecadores e ficava muito feliz em receber aqueles que estavam abertos ao evangelho, que se arrependiam de seus pecados ou que estavam no caminho para colocar sua fé nele.

Fonte: Reforma 21

Existem espíritos de adultério, prostituição, embriaguez e vícios?


Por Leonardo Dâmaso
Uma crença que foi amplamente difundida pelo movimento de batalha espiritual americano a partir da década de 60, e que se tornou muito popular no meio evangélico pentecostal e neopentecostal são os famosos "espíritos do adultério, de prostituição, da embriaguez e dos vícios". É muito comum vermos pastores e cristãos pentecostais e neopentecostais com o hábito de orar no seu dia a dia caso se deparem com alguma situação que seja necessário a “repreensão ou a amarração” destes “espíritos malignos”. Vemos também nos “cultos de libertação”, “orações de guerra” em forma de “chavões ou jargões”, do tipo: espírito do adultério, de prostituição, da embriaguez e dos vícios - saia desta vida para nunca mais voltar! 

Quem nunca presenciou, viu e ouviu alguém fazer uma “oração” desse tipo? Acredito que todos nós! Todavia, se estudarmos as Escrituras, especialmente o Novo Testamento diligentemente e meticulosamente, iremos perceber que não existe um texto sequer que aponte que adultério, prostituição, embriaguez e vícios de todo o tipo sejam espíritos malignos. Em contrapartida, os mesmos são classificados por Paulo em Gálatas 5.19-21 como “obras da carne”, isto é, pecados oriundos da nossa própria natureza pecaminosa, e não espíritos malignos (para inveja, que também é um pecado, e não um espírito maligno, veja 1Pe 2.1).

Augustus Nicodemus Lopes corrobora que os demônios denominados pela batalha espiritual como sendo demônios da lascívia, do ódio, da vingança, da embriaguez, da inveja e assim por diante, não aparecem no Novo Testamento. Essas coisas são, na verdade, as obras da carne mencionadas por Paulo em Gálatas 5.19-21. A solução para esses pecados não é expulsar demônios que supostamente os produzem, mas arrependimento, confissão e santificação.

Senão vejamos o que Tiago diz acerca deste assunto.

"Cada um, porém, é tentado pela própria cobiça [e não por demônios primariamente, porém estes podem influenciar na tentação em segundo plano] sendo por esta arrastado e seduzido. Então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz o pecado; e o pecado, após ter-se consumado, gera a morte" - Tiago 1.14-15 (NVI)

Paulo, por sua vez, escreve:

"Não sabem que, quando vocês se oferecem a alguém para lhe obedecer como escravos, tornam-se escravos daquele a quem obedecem: escravos do pecado que leva à morte, ou da obediência que leva à justiça?" Romanos 6.16 (NVI)

Vejamos ainda outro exemplo descrito por Paulo que irá elucidar melhor a nossa compreensão.

"Por toda parte se ouve que há imoralidade entre vocês, imoralidade que não ocorre nem entre os pagãos, a ponto de alguém de vocês possuir a mulher de seu pai. E vocês estão orgulhosos! Não deviam, porém, estar cheios de tristeza e expulsar da comunhão aquele que fez isso? Apesar de eu não estar presente fisicamente, estou com vocês em espírito. E já condenei aquele que fez isso, como se estivesse presente. Quando vocês estiverem reunidos em nome de nosso Senhor Jesus, estando eu com vocês em espírito, estando presente também o poder de nosso Senhor Jesus Cristo, entreguem esse homem a Satanás, para que o corpo seja destruído, e seu espírito seja salvo no dia do Senhor" 1 Coríntios 5.1-5 (NVI)

Vemos que, não somente nas cartas de Paulo, mas em todo o Novo Testamento, os escritores bíblicos enfatizam muito mais a questão de pecados da carne ao invés de espíritos malignos ou possessão, haja vista que existem casos de possessão e de espíritos malignos atuando na vida de uma pessoa. Conforme é dito no texto, um jovem que fazia parte da igreja de Corinto estava mantendo relações sexuais com a mulher de seu pai, isto é, a sua madrasta, diz Paulo.

Apesar deste pecado, o apóstolo não disse que este jovem estava possuído ou influenciado pelo espírito da imoralidade, e, tampouco, ordenou que fizessem uma oração de libertação com imposição de mãos neste jovem, mas que o entregassem a Satanás; ou seja, que ele fosse expulso da comunhão da igreja para ser disciplinado por Deus através de Satanás, se arrependesse do seu pecado e retornasse a fé. A imoralidade ou a fornicação, contudo, é um pecado grave contra o nosso corpo, que é o templo do Espírito Santo (veja 1 Cor 6.18-20).

Entretanto, apesar do adultério, prostituição ou fornicação, embriaguez, vícios e inveja serem pecados da carne, contudo, a pessoa que prática estes pecados pode vir dar ocasião aos espíritos malignos para atuarem em sua vida, uma vez que eles [os espíritos malignos] podem, depois que a pessoa cedeu a sua vontade pecaminosa a estes pecados, influenciá-la e escravizá-la nestes e em outros pecados.

"Quando vocês ficarem irados, não pequem'. Apaziguem a sua ira antes que o sol se ponha, e não deem lugar ao diabo" Efésios 4.26-27 (NVI)

Concluímos, então, que, as supostas “orações de libertação” que muitos pastores e cristãos fazem expulsando os espíritos do adultério, prostituição, embriaguez e dos vícios, e o também famoso espírito da depressão [que é um transtorno ou uma doença mental, e não um espírito maligno] é antibíblico e, portanto, uma prática que deve ser diametralmente rejeitada.

Pecados favoritos!

Por Josemar Bessa

James Hamilton (1814-1867) – olhando para casas cobertas de neve no inverno, nos mostra algo essencial para a vida espiritual. Ele diz: “Em uma manhã de inverno, eu tenho notado uma fileira de casas de campo com uma grande camada de neve em seus telhados... mas com o passar do dia, grandes fragmentos de neve começam a cair a partir do beiral mais e mais a medida que a manhã avança. Até que, como uma avalanche, todo o monte de neve do telhado deslizou sobre as calçadas... e antes do pôr do sol, eu podia ver cada telhado tão limpo e seco como se fosse véspera do verão.

Mas eu pude observar, que aqui e ali, havia casas com seu manto de neve ainda sobre seus telhados com um colar de gelo duro em torno dele que o impedia de cair.

O que fez a diferença? A diferença era o que se encontrava dentro!

Algumas dessas casas estavam vazias, ou o solitário morador delas se encolheu quieto por não haver lenha para sua lareira, enquanto o lar povoado, com fogo na lareira, agitação, atividade... criou tal calor interior, que o inverno externo e sombrio não pode sustentar o gelo, perdeu seu controle e a massa de gelo não pode continuar presa a casa. O gelo caiu e foi pisado nas calçadas.

É possível, por um processo externo, empurrar grande parte do volume de neve do telhado gelado com esforço, parte por parte. Mas ele vai se formar de novo. Ele precisa de um calor interior para criar um degelo total.”

Assim, por processos diversos, um homem pode se livrar da conduta ( todo o peso ) dos pecados visíveis, mas ele precisa de um calor interno e escondido, um calor vital dentro, para produzir uma tal separação entre a alma e as suas iniquidade que o afligem. Esse calor é o amor de Deus derramado em abundância – o brilho (como as lareiras acesas e a atividade naquelas casas) gentil que o Consolador difunde na alma da qual Ele faz Sua casa. Sua habitação derrete a alma e os seus pecados favoritos em pedaços, que despencam como a neve naqueles telhados, e faz com que a indolência, outo-indulgência, racionalizações... caiam dissolvidos pelo calor interno gerado por Ele, caiam de um coração se dissolvendo em amor na contemplação da beleza da Sua santidade... esse é o fogo que tudo derrete... que pecados favoritos poderiam permanecer?

A santidade não é algo opcional. Acreditar na verdade bíblica da Soberania de Deus, na Graça soberana... aponta para o imperativo da santificação. O mundanismo em quem fala sobre a graça é sempre fruto da separação impossível da graça e da verdade, como se fossem coisas antagônicas. A manifestação da glória de Deus em sua perfeição em Cristo e em toda a Palavra mantém sempre estas duas coisas juntas: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.” João 1:14

A nossa santidade foi planejada por Deus na eternidade: “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens, Ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente” - Tito 2:11-12 – É assim que a graça se manifesta. A graça de Deus se manifestou e isso sempre produz santidade. A “graça de Deus se manifestou” aponta, é uma referência a Cristo. Ele já veio e esse plano eterno mostra que a nossa santidade é fruto de planejamento eterno.

A linguagem junto com a eleição sempre é esta – aponta para a santidade, “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade” - Colossenses 3:12 – e qualquer ensino das Doutrinas da Graça que não apontem para isso, mas como uma liberdade para ser e viver como o homem natural, caracterizado pela sociedade que nos cerca, é uma grosseira falsificação da Verdade, o que não tem sido incomum nestes dias.

A santidade está enraizada no conselho eterno de Deus: “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho” - Romanos 8:29 – O propósito divino é mostrados na nossa conformidade a Cristo. Isto nada mais é que Santidade. A semelhança com Cristo é a santidade, e é de suma importância isso ficar claro para nós. Podemos ter inúmeras habilidade, conhecimento teológico, capacidade intelectual, habilidades na comunicação, mas se não há semelhança com Ele, não há santidade.

Como podemos saber que fomos eleitos, pergunta John Owen – A resposta sempre vem – Deus destinou que você seja santo? Ainda temos um combate com o pecado mesmo sendo homens regenerados, e sem a Graça nós falharíamos completamente neste combate, mas o plano eterno de Deus é o impulso e poder necessário e suficiente para o crescimento em santidade.

A imagem de Deus foi quebrada no homem quando este pecou – a obra eterna de Deus visa exatamente nos livrar de tudo que não é Cristo em nós, santificação! O propósito de Deus é que sejamos à imagem de Seu Filho, e a isto fomos eleitos e predestinados. Em Romanos, Paulo continua dizendo que NADA vai frustrar esse plano – Satanás?... Quem pode ficar no caminho de Deus? Quem pode destruir Seu propósito? Em seu poder Onipotente e Soberano Deus em seu plano restaura o universo para que ele reflita Cristo. Ele “desconstrói” os eleitos e reconstrói nosso caráter, vida... para sermos semelhantes a Cristo. Deus está determinado que você (se de fato é igreja de Cristo) vai ser transformado na mesma imagem de Cristo. Santidade nos eleitos de Deus não é uma ameaça, mas um motivo de alegria, adoração, humildade... porque a santidade foi comprada pela obra perfeita de Cristo para todos aqueles que Deus chamou eficazmente.

Precisamos ver que o papel de Cristo na santificação se estende para muito além da compra somente, a santidade foi adquirida por Cristo – não como um trabalho adicional, Justificação e Santificação estão ligadas entre si e inseparáveis. Minha santificação é tão comprada como qualquer outro aspecto da salvação. Podemos ficar tão focados no sangue de Cristo que perdoa, que perdemos de vista que ele também compra a nossa santificação e santidade. Não há nenhuma benção no Evangelho que vem de algo além de Cristo e este crucificado. Nós não recebemos nada ( e nem poderíamos ) que Ele não tenha comprado por sua obediência e expiação: “E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão. Porque, na verdade, ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão. Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo.” - Hebreus 2:14-17

A morte de Cristo é uma realidade multifacetada, e isto é assim porque o pecado não é uma massa única e independente em nossos corações, mas o pecado é tecido multidimensionalmente em nossas vidas. A salvação no Sangue derramado na Cruz é uma perfeita expiação que corresponde a esse pecado. Estamos indo para sermos um dia totalmente santificados – o que significa que não haverá nenhum vestígio de pecado em nós – e esse processo poderoso e infalível em todos os que Deus elegeu, começa imediatamente no momento que o homem é regenerado: “que se entregou a si mesmo por nossos pecados a fim de nos resgatar desta presente era perversa, segundo a vontade de nosso Deus e Pai” Gálatas 1:4

Muitas vezes o entendimento das pessoas sobre a cruz é completamente superficial – temos que enxergar as múltiplas dimensões do pecado e entendermos claramente as múltiplas dimensões da obra feita na cruz: “Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença.” - Efésios 1:4

“Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade” - Colossenses 3:12

Voltando a James Hamilton (1814-1867,

Há um habitante na casa?
Ele está agindo?
A lareira está acesa?
Há calor interno?
Como o gelo poderia permanecer no telhado?

Todo pecado entra em colapso!

Fé para Operar Milagres

Por Arthur W. Pink   

Durante o último século, dois erros cardeais foram cometidos a respeito de muita coisa contida nos Evangelhos – erros que têm prevalecido muito entre cristãos professos e que têm produzido grande destruição. Cada um desses erros dizem respeito àquela interpretação e aplicação do conteúdo dos quatro Evangelistas quanto ao que pertence e o que não pertence ao povo do Senhor hoje. O primeiro desses erros foi dispensacional. Foi erroneamente adotada a opinião de que, como o ministério de nosso Senhor limitou-se à Palestina, enquanto o Templo ainda estava de pé em Jerusalém, este foi, portanto, de caráter exclusivamente “judaico”, e os santos de nossa era devem voltar-se apenas para as Epístolas do Apóstolo dos gentios em busca de suas ordens de marcha. Tal erro é refutado pelos versos iniciais de Hebreus (onde o ministério de Cristo é contrastado com o dos Profetas), e pelo fato de que a grande divisão de tempo entre a.C. e d.C. é datada a partir do nascimento de Cristo, e não da Sua morte ou mesmo da Sua ascensão.

O segundo erro é prático. Aqui o pêndulo balançou para o extremo oposto. No primeiro caso, uma tentativa insidiosa e persistente foi feita para privar os santos de uma parte valiosa da sua legítima herança, tirando deles preceitos necessários e promessas preciosas sob o pretexto de que eram propriedade exclusiva dos judeus. Mas, no último caso, que agora deve ocupar mais completamente a nossa atenção, promessas que foram feitas a uma classe particular foram distribuídas universalmente, promessas que pertenciam apenas aos apóstolos e aos cristãos primitivos têm sido erroneamente aplicadas a todos os crentes em geral. O resultado foi que falsas expectativas foram geradas, vãs esperanças despertadas, selvagem fanatismo encorajado – e aqueles que entraram em contato com esta perversão da Verdade têm visto que efeitos trágicos se seguiram – milhares fazendo completo naufrágio da fé.

Sem dúvida parecerá a alguns de nossos amigos que estamos pisando agora em solo delicado, pois assegurar-lhes de que alguma das promessa feitas por Cristo aos Seus discípulos, promessas que vários de nossos leitores podem ter aprendido que são bases legítimas para apoiarem a sua fé, não pertencem – em seu sentido primário – de modo algum a eles, deve se mostrar inquietante e desapontador. Portanto, prosseguiremos cuidadosa e lentamente, e pediremos que ponderem com especial diligência o que se segue. “E estes sinais seguirão aos que crerem: Em Meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão” (Mc 16:17, 18). Ora, estas são as palavras do Senhor Jesus, mas será podemos nos apropriar delas hoje e esperar um cumprimento literal das mesmas? Há aqueles que respondem com um enfático Sim, embora duvidemos muito de que muitos leitores regulares destas páginas façam isso.

Ora, os versos que acabamos de citar dizem respeito aos milagres que acompanharam a pregação do Evangelho nos primeiros dias desta dispensação cristã, e é preciso notar devidamente que esses milagres resultaram do exercício da fé. Isto acreditamos que será tão evidente para os nossos leitores que não ocasionará nenhuma dificuldade. Mas existem outras passagens nos Evangelhos que tratam do mesmo assunto – promessas similares dos lábios do Salvador que podem não parecer tão simples – e é a elas que nos voltamos agora. “E, tudo o que pedirdes em oração, crendo, o recebereis” (Mt 21:22). Esta mesma promessa, ligeiramente diferente, encontra-se novamente em: “Por isso vos digo que todas as coisas que pedirdes, orando, crede receber, e tê-las-eis” (Mc 11:24). Quantas vezes esta promessa tem sido apropriada por cristãos e sinceramente pleiteada diante de Deus, apenas para não receber nenhuma resposta. Os tais têm atribuído esta falta de resposta ao fracasso da sua fé (ou são informados de que esta é a causa), ao invés de perceberem que estavam apoiando a sua fé em um fundamento ilegítimo.

“E, tudo o que pedirdes em oração, crendo, o recebereis” (Mt 21:22). Nossa primeira preocupação deve ser averiguar a quem essas palavras foram primeiramente dirigidas, e a circunstância que as ocasionou – considerações que geralmente são de primeira importância como auxílios a uma verdadeira aplicação de um verso, pois, se o contexto é ignorado, equívocos certamente se seguirão. Os versos imediatamente precedentes registram a maldição de nosso Senhor sobre a figueira e o efeito que isto causou sobre aqueles que O assistiam. O verso 20 diz: “E os discípulos, vendo isto, maravilharam-se, dizendo: Como secou imediatamente a figueira?”. Marcos nos diz: “E Pedro (o porta-voz dos apóstolos), lembrando-se, disse-Lhe: Mestre, eis que a figueira, que Tu amaldiçoaste, se secou” (11:21). Foi então que Cristo respondeu: “Em verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis o que foi feito à figueira, mas até se a este monte disserdes: Ergue-te, e precipita-te no mar, assim será feito; e, tudo o que pedirdes em oração, crendo, o recebereis” (Mt 21:21, 22).

Deve ser lembrado que, em uma data anterior, Cristo havia designado 12 de Seus discípulos para pregarem o Evangelho e realizarem milagres em confirmação à sua comissão. “E, chamando os Seus doze discípulos, deu-lhes poder sobre os espíritos imundos, para os expulsarem, e para curarem toda a enfermidade” (Mt 10:1) – esses poderes miraculosos eram primariamente aquilo a que Paulo se referia quando falou que “os sinais do Seu apostolado foram manifestados entre vós” (2 Co 12:12). Lucas nos informa que, “depois disto designou o Senhor ainda outros setenta, e mandou-os adiante da Sua face, de dois em dois, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir” (10:1), mandando que “curassem os enfermos” (v. 9). Os mesmos devidamente voltaram e declararam: “Pelo Teu nome, até os demônios se nos sujeitam” (v. 17). Assim, fica bastante claro que a promessa de Mt 21:22 foi feita àqueles que estavam na posse de poderes miraculosos, e era designada para o seu encorajamento pessoal.

Antes de avançarmos, assinale-se que o que estamos apresentando neste artigo não é novidade de nossa própria invenção, mas antes uma linha de interpretação (ah, desconhecida de muitos nesta época superficial) exposta por muitos eminentes servos de Deus do passado. Por exemplo, em suas notas sobre Mt 21:21, 22, Thomas Scott escreveu: “Quando Jesus observou a surpresa dos discípulos, Ele novamente lhes mostrou a energia da fé, com uma referência especial ao poder de operar milagres em Seu nome. Sempre que uma ocasião apropriada para realizar um milagre em apoio à sua doutrina se oferecesse, e fossem confiando no Seu poder e não duvidando da Sua cooperação, eles não apenas seriam capacitados a realizar obras tão maravilhosas como a de secar a figueira infrutífera, mas até o Monte das Oliveiras, pelo qual estavam então passando, poderia, à sua palavra, ser removido e lançado no mar! Ou seja, nada que empreendessem seria impossível para eles”. Do mesmo modo, Matthew Henry também disse sobre Mc 11:22, 23, “Isto deve ser aplicado primeiro àquela fé de milagres com que os apóstolos e os primeiros pregadores do Evangelho foram dotados, os quais fizeram maravilhas em coisas naturais”.

Indaguemos, a seguir, quanto à extensão desta promessa: “Tudo o que pedirdes em oração, crendo, o recebereis”. Embora esta linguagem seja indefinida e não limitada, não estamos autorizados a tirar a conclusão de que deva ser tomada sem qualquer limitação. A partir do contexto imediato, fica bastante claro que esta promessa dizia respeito exclusivamente à operação de milagres. O objetivo de Cristo era assegurar os Seus apóstolos de que, se eles orassem com fé por qualquer dom ou poder sobrenatural em particular, esse dom ou poder seria concedido a eles. Mas não temos base para crer que, se aqueles apóstolos orassem por algo diferente, não importa quão firme a sua expectativa, eles receberiam o mesmo. Eles não tinham justificativa para estender os termos da promessa além do que era autorizado pelo propósito óbvio de seu Mestre naquela ocasião especial.

Embora os Doze tenham sido dotados de poderes sobrenaturais, se tivessem orado pela concessão sobre si mesmos de qualquer benção temporal ou espiritual, não haveria absolutamente nada nesta promessa particular que garantisse uma resposta a qualquer desses pedidos. Assim como nós, os apóstolos e os cristãos primitivos estavam sujeitos à pobreza, doença, e todas as provações e aflições comuns desta vida presente. Não temos motivo para duvidar de que eles – pois eram homens sujeitos às mesmas fraquezas que nós – orassem pela sua remoção ou mitigação, contudo, sabemos, a partir de outras Escrituras, que suas orações a respeito destas coisas nem sempre eram atendidas. Isto mostra de uma só vez que a promessa de Mt 21:22 não era universal, pois, neste caso, eles poderiam ter buscado quaisquer favores temporais com a mesma fé e certeza de serem ouvidos que quando orassem para que milagres fossem operados pelas suas mãos.

Mas consideremos agora a condição que nosso Senhor estabeleceu: “Tudo o que pedirdes em oração, crendo, o recebereis”. A mesma estipulação encontra-se novamente na passagem paralela: “Todas as coisas que pedirdes, orando, crede receber, e tê-las-eis” (Mc 11:24). Esta promessa feita por Cristo com respeito à operação de milagres estava assim condicionada ao exercício de um certo tipo de fé. Se aqueles aos quais ela foi feita realmente expressassem a fé exigida, então a sua fé asseguraria absolutamente o cumprimento da promessa. Por outro lado, se falhassem em expressar a fé especificada, então a sua petição não seria concedida. Assim como a maioria das promessas da Escritura, esta também era condicional.

Mateus 17 fornece-nos uma ilustração dos apóstolos sendo incapazes de realizar um milagre desejado por causa do seu fracasso em satisfazer à condição vinculada à promessa que estamos aqui considerando. Ali lemos acerca de um certo homem vindo até Cristo em favor de seu filho extremamente aflito, implorando ao Salvador para que tivesse misericórdia dele, e dizendo: “Trouxe-o aos Teus discípulos; e não puderam curá-lo” (v. 16). Após o Senhor ter curado o jovem possesso pelo demônio, Seus discípulos perguntaram por que foram incapazes de realizar este milagre. Sua resposta é instrutiva, pois confirma definitivamente o que dissemos antes: “E Jesus lhes disse: Por causa de vossa incredulidade; porque em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e há de passar; e nada vos será impossível” (v. 20). A seguir, devemos indagar em que esta fé para operar milagres diferia de qualquer outro tipo de fé. A resposta: ela se apoiava em um fundamento completamente diferente. Em primeiro lugar, ela só poderia ser exercida por aqueles que haviam sido especialmente dotados de poder sobrenatural para operar milagres, o que pertencia apenas aos servos de Cristo no começo desta era cristã. E, em segundo lugar, tal fé deveria se apoiar implicitamente nas promessas específicas que Cristo havia feito aos tais, a saber, que, contando eles com a Sua assistência para capacitá-los para isto, Ele infalivelmente confirmaria a Sua palavra a respeito do mesmo. A mesma coisa pode ser vista, conforme assinalado em um parágrafo anterior, nas promessas registradas em Mc 16:17, 18. Estas eram bem distintas daquela fé que assegura a vida eterna, apoiando-se em um tipo completamente diferente de promessa. Em prova do que foi dito por último, reportamos a At 3. Ali lemos acerca do mendigo que era coxo desde o seu nascimento pedindo esmolas dos apóstolos enquanto estavam entrando no Templo. A ele Pedro disse: “Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho isso te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda” (v. 6, e cf. “em Meu nome” em Mc 16:17). Mais tarde, explicando aos espectadores maravilhados o que havia acontecido, Pedro, após acusá-los de terem entregado o Senhor Jesus a Pilatos, declarou que Deus glorificou a Seu Filho, acrescentando, “e pela fé no Seu nome fez o Seu nome fortalecer a este” (At 3:16). Pedro, então, havia definitivamente tido fé nas promessas que haviam sido feitas aos apóstolos em Mt 21:21, 22 e Mc 16:17, 18, etc.

A fé salvífica consiste na apropriação do Evangelho pelo coração; é apegar-se ao Próprio Cristo tal como é oferecido nele aos pobres pecadores; é confiar na misericórdia de Deus no Redentor. Mas a fé para realizar milagres só poderia ser eficazmente exercida por aqueles a quem promessas especiais para a operação de tais coisas tivessem sido feitas. Cristo havia dotado os apóstolos com poderes sobrenaturais e havia dado a certeza de que Ele os assistiria na realização de sinais maravilhosos para a glória do Seu nome e a extensão do Seu reino. E essa promessa dEle devia ser o fundamento da sua fé. Assim, a fé deles tinha um fundamento tão definido e seguro para se apoiar como a nossa hoje em conexão com a vida eterna. Apesar disso, a primeira era imensamente inferior a esta última. Judas tinha uma, mas não a outra. Por isso Paulo declara que era possível naqueles dias ter fé para “remover montanhas” e, contudo, ser destituído de um santo amor (1 Co 13:2).

Depois de tudo o que foi assinalado acima, deveria ser óbvio que os cristãos hoje estão totalmente desautorizados a aplicar tal promessa a si mesmos em qualquer caso a que se sintam inclinados, e que os ministros do Evangelho estão seriamente iludindo os seus ouvintes quando lhes dizem: “Tudo o que pedirdes em oração, crendo, o recebereis”. Estamos plenamente cientes de que alguns pregadores piedosos, mas mal orientados, aplicaram tão erroneamente este texto que alguns crentes devotos tomaram esta promessa para si mesmos. Contudo, isto não é prova de que qualquer deles estivesse certo em fazer isto. Temos pessoalmente assistido a mais de um “culto de cura pela fé”, onde tal promessa era “reivindicada” pelo que estava encarregado, e testemunhamos o patético desapontamento do doente indo embora mancando em suas muletas no final. Quantas pessoas de pensamento moderado foram levadas a declarada infidelidade por tal fiasco apenas aquele Dia revelará. Talvez alguns de nossos leitores esteja começando a compreender melhor o nosso sentido quando dizemos, de vez em quando: Muitos que não entendem o sentido de um verso são frequentemente enganados pelo seu som.

“E tudo o que pedirdes em oração, crendo, o recebereis” (Mt 21:22). Já temos visto que esta promessa foi feita àqueles que haviam sido dotados de poderes sobrenaturais, e que foi dada com o propósito de encorajá-los a exercerem fé em que Cristo continuaria a assisti-los em sua operação de milagres, para a glória do Seu nome e o bem da Sua causa. Também temos demonstrado que os próprios apóstolos não tinham absolutamente nenhuma autorização para aplicar esta promessa particular a bençãos ordinárias, quer de natureza temporal ou espiritual. Deveria, portanto, ficar bem evidente que os cristãos hoje não têm nenhum direito de se apropriarem desta promessa para si mesmos e esperarem um cumprimento literal da mesma. Para deixar isto ainda mais claro, que as seguintes considerações sejam cuidadosamente ponderadas. Nem mesmo os cristãos primitivos foram todos dotados com dons sobrenaturais. Prova disto encontra-se naquela declaração do Apóstolo: “Porventura são todos apóstolos? são todos profetas? são todos doutores? são todos operadores de milagres? Têm todos os dom de curar? falam todos diversas línguas? interpretam todos?” (1 Co 12:29-30). Isto é ainda mais surpreendente pelo fato de que esses dons extraordinários abundavam mais copiosamente em Corinto do que em qualquer outra das igrejas apostólicas; contudo, estas questões, com sua forte ênfase, claramente denotam que não havia uma igualdade de dons. O propósito óbvio de Paulo aqui era suprimir, por um lado, todo o descontentamento e inveja, e, por outro, todo o orgulho e arrogância, pois ele os havia lembrado expressamente de que o Espírito reparte Seus dons “particularmente a cada um como quer” (v. 11).

A manifesta limitação da promessa que estamos aqui considerando proíbe que os cristãos hoje lhe deem uma aplicação geral e universal: “E tudo o que pedirdes em oração, crendo, o recebereis”. Há muito poucas passagens na Escritura onde a expressão “todas as coisas” deve ser entendida sem restrição, e certamente esta não é uma dessas poucas. O “e” precedente claramente se conecta ao que é dito no verso 21, e, portanto, deve significar todas as coisas que ali estão em vista, a saber, a operação de milagres. Conforme temos anteriormente assinalado, esta promessa não dava nem aos próprios apóstolos carta branca, de modo que, se orassem por qualquer coisa (desde que o fizessem com fé inabalável), seria certo que infalivelmente receberiam a mesma. Quanto menos, então, os cristãos ordinários hoje podem dar tal escopo a esta promessa!

A própria Escritura registra mais de um caso de almas piedosas sinceramente suplicando a Deus por certas coisas, e o Espírito Santo não comunicou nenhuma sugestão de que foi porque oraram incredulamente que seus pedidos não foram concedidos. Moisés (Dt 3:23-26) é um caso em questão. Do mesmo modo também Davi jejuou e orou em favor de seu filho doente para que se recuperasse, contudo ele morreu (2 Sm 12:16-19). Do mesmo modo também, nesta era do Novo Testamento, vemos que o amado Apóstolo suplicou ao Senhor três vezes para que o seu espinho na carne fosse removido (2 Co 12:7-9), contudo não foi; embora ele recebesse segurança do Senhor – “A Minha graça te basta” – para suportar a aflição. Não há dúvida de que Paulo estava familiarizado com esta promessa de Mt 21:22! Certamente, então, os cristãos agora não têm nenhum direito de exercer fé nela quando estiverem orando por alguma coisa. Se os cristãos de hoje decidirem se apropriar de Mt 21:22 para si, então eles devem fazer isto sobre o princípio de que, crendo que uma coisa é verdadeira, ela se tornará verdadeira. A linguagem usada por Cristo naquela ocasião é clara demais para ser confundida: “E tudo o que pedirdes em oração, crendo, o recebereis” – no mesmo sentido é: “Todas as coisas que pedirdes, orando, crede receber, e tê-las-eis” (Mc 11:24). Mas este princípio de que crer que uma coisa é verdadeira necessariamente a torna verdadeira é manifestamente insustentável e errôneo. Se eu orasse pela salvação de alguém que Deus não havia escolhido eternamente em Cristo, nenhuma crença de minha parte efetuaria a sua salvação; e insistir que Deus deveria salvá-la seria presunção, e não fé. Se eu estivesse seriamente doente e cresse que Deus me curaria, nenhuma crença dessa natureza realizaria a minha cura; e, se essa não fosse a vontade do Senhor para mim, então tal “crença” seria fanatismo, e não fé.

Como os cristãos de nosso tempo não têm direito de se apropriarem desta promessa especial para si, eles não têm nenhuma autorização para pedirem qualquer favor, seja temporal ou espiritual, privado ou público, absoluta e insubmissamente. A verdadeira oração não é um esforço de trazer a vontade divina em sujeição à nossa, mas de procurar submeter as nossas vontades às de Deus. O que o Senhor predestinou não pode ser mudado por qualquer apelo nosso, pois nEle não há “mudança, nem sombra de variação” (Tg 1:17). Os decretos eternos de Deus foram moldados por bondade perfeita e sabedoria inerrante, e, portanto, Ele não tem necessidade de abandonar a execução de qualquer parte deles: “Mas, se Ele resolveu alguma coisa, quem então O desviará? O que a Sua alma quiser, isso fará” (Jó 23:13). É uma idéia extremamente grotesca e desonrosa para Deus supor que a oração foi designada com o propósito de a criatura exercer os seus poderes persuasivos de modo a induzir o Todo-poderoso a dar alguma coisa que Ele não queira conceder.

“Esta é a confiança que temos nEle, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a Sua vontade, Ele nos ouve” (1 Jo 5:14). Ah, é nisto que precisamos nos apegar e de acordo com isto precisamos agir nesta era barulhenta e presunçosa. Chegamos ao Trono da Graça não como ditadores, mas como suplicantes. Aproximamo-nos daquEle que está assentado nele não como iguais, mas como mendigos. Vamos ali não para exigir os nossos direitos, mas para suplicar favores. Não ficamos de pé em nossa dignidade, mas dobramos os joelhos em consciente indignidade. Apresentamos não ultimatos, mas fazemos “petições”. E essas petições não fazemos em um espírito de auto-afirmação, mas em humilde submissão. Se nos aproximamos do Trono da Graça de uma forma correta, vamos aí conscientes da nossa ignorância e insensatez, plenamente seguros de que o Senhor conhece muito melhor do que nós o que seria bom nos conceder e o que seria melhor nos recusar.

Deus propôs infalivelmente quando e onde e sobre quem Ele concederá o Seu favor, e os cristãos não têm nenhum direito, e, quando em seu são juízo, nenhum desejo de pedir que Ele altere alguma das Suas determinações a respeito seja deles mesmos ou de outros. Consequentemente, como eles não têm meios de saber de antemão o que Ele decretou concernente à concessão de algum favor específico, eles não têm justificativa para Lhe pedir absolutamente qualquer coisa, mas antes devem proferir cada pedido com franca submissão à Sua boa vontade. Eles podem desejar grandemente ver a salvação de alguma pessoa particular, mas, como não sabem se ela é um dos eleitos de Deus, eles não devem pedir isto incondicionalmente, mas sujeitos ao Seu propósito divino. Eles podem ter algum amado gravemente doente, e, embora seja tanto o seu dever como privilégio pedir pela sua recuperação, eles não devem orar por isso absolutamente, mas em sujeição à vontade de Deus.

Cristo nos deixou um exemplo perfeito de submissão em oração, assim como em tudo o mais. Contemple-O no jardim do Getsêmane – a antecâmara do Calvário – entrando em Seus sofrimentos inconcebíveis. Note a Sua postura: Ele não está ereto, mas sobre os Seus joelhos, e depois sobre a Sua face. Ouça a Sua linguagem: “Pai, se queres, passa de Mim este cálice; todavia não se faça a Minha vontade, mas a Tua” (Lc 22:42). Era o Seu santo desejo que o Pai removesse aquele cálice terrível dEle, se graciosamente Lhe aprouvesse fazer isto; mas, se não, Ele pedia que a Sua petição fosse negada e a vontade de Seu Pai cumprida. Será que podemos, em face disto, meu leitor, chegar perante Deus e insistir que algum pedido nosso seja concedido, independente de estar ou não de acordo com a vontade divina? Decerto que não; antes, devemos sinceramente buscar graça para emularmos o exemplo deixado para nós pelo Redentor.

De fato, é triste testemunhar e ler acerca de muita coisa que está sucedendo no mundo religioso atual. Não é também que o espírito ilegal da época tenha tido uma influência maligna sobre as igrejas; antes, o mal começou nas igrejas e depois infestou a sociedade em geral. A Lei de Deus foi banida dos púlpitos antes que a ilegalidade se tornasse tão predominante no estado. A irreverência caracterizou os bancos antes que a infidelidade andasse à espreita pelas ruas. O Altíssimo foi insultado na oração pública antes que se tornasse coisa comum tomar o Seu nome em vão no palco e nos programas de rádio. Ao invés de se curvarem perante o Trono da Graça, muitos conduziram suas “devoções” públicas como se eles mesmos ocupassem esse Trono. Submissão genuína e sem reservas à vontade divina agora é uma coisa do passado, exceto entre aquele insignificante remanescente ao qual foi dado, pela Sua graça, corações quebrantados e contritos.

Como os cristãos não têm nenhum direito, nesta época, de exercerem fé na promessa de Mt 21:22, então, claramente eles não têm nenhum direito de exercer fé em seus próprios sentimentos peculiares. Os próprios apóstolos que possuíam poderes sobrenaturais não criam que absolutamente todas as coisas que pedissem seriam concedidas a eles porque tinham sentimentos peculiares a respeito daquilo que pediam; mas eles criam que, quando pedissem que um milagre fosse operado por eles, Cristo os capacitaria para isto, porque eles baseavam a sua fé na Sua promessa para esse fim. Eles sabiam que a promessa fora feita à sua fé, e não aos seus sentimentos. Este sendo o caso dos próprios apóstolos, quanto menos o cristão ordinário pode agora reivindicar um cumprimento de Mt 21:22 por causa de algum forte sentimento a que ele esteja sujeito!

Mas, embora os cristãos hoje não tenham uma promessa para se apoiar tal como a de Mt 21:22, alguns deles têm um profundo sentimento de que aquilo pelo que oram será concedido. Isto é absolutamente errado e repreensível. Não temos absolutamente nenhuma garantia escriturística para basear a nossa confiança de sermos ouvidos em algum sentimento, por mais profundo e persistente, e não devemos esperar que Deus nos responda a menos que possamos alegar alguma promessa Sua. Não há promessas na Palavra feitas a quaisquer sentimentos. Todas as promessas do Evangelho são feitas a santos exercícios ou afeições, e a nada a que os homens sejam totalmente passivos. Nossos corações são enganosos mais do que todas as coisas, e aqueles que se apoiam em impulsos interiores e sentimentos secretos estão em grande perigo de incorrer nos erros mais grosseiros e nas ilusões mais brutais. Tanto espíritos maus como o Espírito Santo podem impressionar nossas mentes.

Muitos têm orado por favores particulares com a certeza equivocada de que, se os pedirem com fé resoluta, esses favores certamente lhes serão concedidos. Esta idéia “levou George Whitefield a esperar confiantemente aquilo que ele não tinha direito de esperar confiantemente. Ele tinha um filhinho amável e promissor, que ele ardentemente desejava e orava para que pudesse ser um ministro eminentemente útil; e ele teve sentimentos tão fortes e favoráveis a seu respeito que esperava confiantemente que o mesmo seria aquilo que ele desejava e orava ardentemente que fosse. Mas seu filho morreu quando tinha por volta de quatro anos, e o evento não apenas o desapontou, mas curou-o de seu erro” (N. Emmons, a quem somos endividados por vários pensamentos nesta discussão). Podemos acrescentar que, quando C. H. Spurgeon estava morrendo, dezenas de milhares jejuaram e ofereceram oração especial para que sua vida fosse poupada; mas, como a sequência mostrou, isso não estava de acordo com a vontade de Deus.

Ao procurar corrigir um erro, devemos nos esforçar por nos guardarmos de outro. Embora a promessa de Mt 21:22 não diga respeito a nós hoje, existe grande número de promessas tanto no Antigo como no Novo Testamento que os cristãos podem legitimamente tomar para si mesmos e pleitear diante de Deus. Nessas promessas eles têm todo o encorajamento para orar com fé por aquilo que podem sensatamente desejar. Deus nunca disse à semente de Jacó: “Buscai-Me em vão”, mas assegurou-os de que, se orarem corretamente, eles serão ouvidos, e ou receberão o que pedem ou algo melhor para a Sua glória e para o seu bem. A fim de orar corretamente, eles devem orar com um desejo real pelas coisas que pedem, e com uma submissão genuína à vontade de Deus, quer Ele conceda ou negue suas petições. Quando um crente apresenta petições apropriadas a Deus, de um modo correto, fundamentado nas promessas divinas, então ele não deve duvidar nem da Sua prontidão nem da capacidade de concedê-las, quer por conta da sua própria indignidade ou por causa de alguma dificuldade no caminho. “Se pedirmos alguma coisa, segundo a Sua vontade, Ele nos ouve” (1 Jo 5:14).

Fonte: Monergismo

NÃO QUERO MUITO!

Por Fabio Campos
Assim como sempre haverá “os pobres em nosso meio” - assim também haverá “os homens entregue à suas paixões”, dominados pela ganância e pelo poder. Homens ricos e orgulhosos que zombam com desprezo dos pobres nas salas de reuniões e aparece a público na maior “cara lavada” com seus discursos sofistas e pseudo-piedosos. As esperanças escatológicas não são boas! Não sou fatalista acomodado no cinismo e na apatia ao sofrimento. Antes, no dever de todo cristão, “não me conformo com o presente mundo”. Mas o fato é que as Escrituras nos tira de uma ilusão de um possível paraíso terreno quando nos transposta para a sequência da seguinte frase: “e nos últimos tempos”...! Faça essa pesquisa e descubra por si o que “haverá nos últimos tempos”. O Novo Testamento é pessimista quanto ao que há de vir neste presente corpo.

Logo, então, não estamos imunes aos sofrimentos e decepções. O “cálice” nem sempre será removido; contudo, há descanso “na vontade de Deus”. Para onde elevaremos nossos olhos? Nosso senso de justiça é aguçado ainda mais na contemplação de toda podridão e impureza que assistimos ao nosso redor. Temos a Palavra em nosso coração e por isso, “talvez”, pecamos menos, mas pecamos. Nossa aflição é consequência da lei [do pecado] que age em nossos membros que contraria a Lei que está em nossa mente. Quero fazer o bem, nisto eu penso, e do contrário do que dizem, não posso! Miserável homem que sou! Nesta frase há salvação e redenção, pois o verso seguinte diz que “não há mais condenação para os que estão Cristo Jesus”. Só alguém convencido pelo Espírito pode dizer tal cousa, e todo aquele que o Pai enviar de maneira alguma será rejeitado pelo Filho.

O fato de não haver aparente mudança não significa necessariamente que Deus não atendeu nossa oração. O Salmista elevou a oração ao Senhor, e assim como o escravo que depende do seu dono, e as escravas que depende de suas donas-, assim também disse ele que esperava “o tempo da compaixão de Deus”. A oração através de súplicas guarda nossa mente e o nosso coração em Cristo nos momentos em que somos desprezados e jogados na marginal da vida. O homem de dores e experimentado nos sofrimentos sabe o que é padecer. Assim se compadece de todas nossas fraquezas. Ainda que o Verbo seja Divino, Criador dos céus e da terra, com Deus no princípio, Ele se Fez carne e habitou entre nós. Sua Divindade é mansa e humilde, por isso traz descanso para a alma. O Nazareno rejeitou o cavalo e preferiu o jumento, filha de jumenta, nascido Ele em Belém Efrata, criado na pior das periferias – Nazaré!

Por isso nEle despojo meu orgulho e não olho com arrogância para os demais homens. Também me contento com qualquer circunstância - seja na escassez – seja na bonança. Não vou atrás das grandes coisas e extraordinários projetos que estão fora do meu alcance. Quero viver como criança que descansa nos braços da mãe, satisfeito e tranquilo com o coração calmo dentro de mim. E lembrar diante do cenário que jaz no maligno, constituído de homens perversos – a minha esperança está no Senhor Deus, desde agora e para sempre. Isto sim quero trazer a memória! Amém!

Soli Deo Gloria!

Fonte: Fabio Campos

O que é avivamento?

Campo2

Por Maurício Zágari

Um dos conceitos mais falados na igreja mas menos compreendidos é o de avivamento. Há muitas ideias erradas sobre o que isso significa exatamente – como, por exemplo, o pensamento de que uma igreja avivada é aquela com muito barulho ou muito movimento. E não é nada disso. Para compreendermos exatamente o que avivamento significa, precisamos analisar muito bem o que esse fenômeno envolve. Não vou listar aqui histórias de avivamentos ou coisa parecida. Não desejo falar de “Pecadores nas mãos de um Deus irado”, de John Wesley ou de George Whitefield. Tampouco quero discorrer acerca dos grandes despertamentos da era moderna, muito menos do que ocorreu na rua Azuza ou em Pensacola. Se você quiser se aprofundar no tema, recomendo que leia o excelente livro “O Verdadeiro Avivamento”, de John Armstrong (editora Vida) – a meu ver, o melhor já publicado no Brasil sobre o assunto. O meu objetivo neste texto é apenas fazer uma síntese de como enxergo o fenômeno do avivamento cristão e as principais consequências disso para a sua vida.

A primeira pista está no próprio nome. A maioria de nós entende “avivamento” como “o ato de tornar vivo”. Ou seja, pegar algo morto e avivar, dar vida. Só que essa não é a única definição. O dicionário explica que “avivar” também é “dar vivacidade a algo”, “tornar mais vivo”, “renovar”.

Então, “avivamento” não se refere somente a dar vida a algo morto. Se isso fosse verdade, avivamentos espirituais viriam apenas sobre o mundo – que está morto em seus delitos e pecados – e não sobre a Igreja. Só que avivamentos acontecem justamente no Corpo de Cristo. Portanto, o conceito essencial de avivamento cristão é “dar vivacidade à Igreja”, “tornar a Igreja mais viva”. Assim, uma igreja que precisa de avivamento é aquela que está viva por estar enxertada na Videira mas que se encontra sem vivacidade – isto é, sem fulgor, energia, vigor.

A morte do mundo é não ter Deus. A “morte” no seio dos cristãos é viver como se não tivesse Deus.

Todo cristão crê que Deus existe. Mas daí a viver como se ele existisse… a distância é enorme. Eu posso crer que Jesus é meu Senhor e Salvador mas isso não ter consequência alguma na minha vida. Seja franco e olhe ao redor: você não vê isso acontecer aos montes? Assim, creio em Cristo mas vivo pecando sem me arrepender; amo ao Senhor sem compartilhar esse amor com os perdidos; valorizo a oração mas não tenho uma vida de oração; carrego a Biblia para cima e para baixo mas jamais estudo o texto sagrado; sei da importância do próximo mas não faço nada por ele… enfim, a perda de vivacidade do cristão ocorre não no que tange à perda da salvação, mas sim a um relacionamento tão mirrado com Deus e o próximo que o indivíduo torna-se espiritualmente esquelético. Pele e osso.

A imagem que vem à minha mente quando penso no cristão que precisa de um avivamento é a dos sobreviventes dos campos de concentração nazistas na 2a Guerra Mundial. Olhe para as fotos daqueles homens e mulheres raquíticos e me responda, sinceramente: parecem pessoas plenamente vivas ou sem nenhuma vivacidade… mortas em vida? Quase zumbis?

Aqueles homens e mulheres estavam vivos, o ar entrava em seus pulmões e o sangue circulava por suas artérias, mas… encontravam-se sem vida. Apáticos. Acordavam de manhã sem propósitos. Sobreviviam, sem viço e sem vigor. Compreende o que quero dizer? Do que aqueles sobreviventes do holocausto precisavam assim que foram resgatados dos campos de concentração? De vida. Ser avivados.

Ou seja: avivamento.

Aqueles esqueletos ambulantes saíram do cativeiro famintos e sedentos, desesperados por comer e beber e, assim, nutrir seu corpo. De igual modo, cristãos espiritualmente esqueléticos que são tocados pelo Espírito Santo tornam-se famintos e sedentos de Deus, desesperados por ter mais e mais do Senhor.

Cristãos sem fulgor, energia e vigor são como pessoas anoréxicas: estão extremamente desnutridas mas não se dão conta disso. É quando chega o avivamento: Deus os toca sobrenaturalmente e desperta neles uma fome incontrolável, que antes não sentiam – e fome de Deus: avivamento leva cristãos a buscar desesperadamente nutrição espiritual. De forma prática, avivamento leva você ao joelho, numa busca ávida por relacionamento com o Senhor. Também faz com que mergulhe nas páginas das Escrituras, numa sede gigantesca por conhecer mais e mais do Criador. Desperta no seu coração um amor sem tamanho pelos perdidos, que conduz invariavelmente ao compartilhamento ousado de Cristo – evangelismo. Avivamento também acende em sua alma o fogo do amor ao próximo e o leva a atos de devoção, entrega e caridade.

Em outras palavras, o cristão avivado é o que deseja relacionar-se sempre e mais com Deus, e que transborda de amor pelo próximo.

Infelizmente, muitos de nós acreditam que avivamento é quando a congregação começa a fazer muito barulho, berrar em línguas estranhas, ficar gritando “glória a Deus” e coisas do gênero. Não é nada disso – e falo como pentecostal. Tente visualizar aqueles esqueléticos sobreviventes dos campos de concentração, sedentos e famintos por algo que lhes dê vida e, de repente, começam a rodopiar, saltar, pular e gritar. Isso os faria ter mais vida como? Acreditar que devolver a vivacidade a alguém é fazer com que ele fique gritando e pulando é não compreender o significado de “vida”. Precisamos compreender que o avivamento cristão é o surgimento sobrenatural de uma necessidade desesperada e incontrolável por se relacionar com Deus e se aproximar dele numa intimidade inédita até então. E o Senhor não é surdo: podemos fazer isso sem barulho. Pois relacionamento com barulho é relacionamento, mas barulho sem relacionamento é só barulho.

Eu disse no início do texto que “o conceito essencial de avivamento cristão é dar vivacidade à Igreja”. Ou seja, é uma manifestação interna, que brota no Corpo de Cristo. Mas há um detalhe: quando o avivamento ocorre, a vida passa a fluir com tanto vigor e força pelas veias dos cristãos avivados que torna-se impossível conter tanta presença divina dentro das paredes da igreja. Portanto, sempre que ocorre avivamento, a vida transborda para fora e acaba levando a muitas conversões. Sim, essa é outra marca de um avivamento cristão real: salvação em massa. Centenas, milhares de pessoas sendo alcançadas pela graça salvadora de Cristo. Se você ouve dizer que em certo lugar está havendo um avivamento mas não há conversões de pecadores, pode ter certeza de que não é avivamento. Olhe para as imagens dos sobreviventes dos campos de concentração. Você consegue imaginar esses seres humanos gerando novos seres humanos? Se eles mal têm disposição para manter a si mesmos em pé, quanto mais gerar novas vidas. Como uma mulher que é pele e 0sso conseguiria nutrir por nove meses um feto, se mal tem vida para si? E como amamentar um bebê, se não tem nutrientes? Mas, uma vez que essas pessoas forem nutridas, alimentadas, saciadas, aí sim terão energia e forças para gerar novas vidas. De igual modo, a igreja avivada gera muitos filhos. E, desse modo, cresce.

Haveria muito mais a dizer sobre avivamento. Mas esta é a essência: avivamento cristão é a busca desesperada por relacionamento com Jesus de Nazaré. É a injeção caudalosa de Deus nas veias de almas apáticas, improdutivas e espiritualmente esqueléticas. É a seiva da Videira fluindo com tal força que transborda e espirra para todos os lados, fazendo mais e mais galhos se ligarem ao seu tronco.

Historicamente, avivamentos ocorrem por iniciativa única e exclusiva do Senhor. É uma ação unilateral. Eu não posso “produzir” um avivamento. Mas, quando olhamos para os grandes avivamentos da história, vemos um aspecto em comum às igrejas, denominações, cidades e nações onde brotaram avivamentos: sempre havia nesses lugares um pequeno núcleo de cristãos que oravam incansavelmente, clamando a Deus que mandasse um avivamento. É só o que podemos fazer: pedir e esperar, exatamente como os sobreviventes dos campos de concentração: eles não tinham como produzir alimento ou vida a partir do nada. Mas podiam pedir. No dia em que o exército aliado libertou os sobreviventes do holocausto, a primeira coisa que aquelas pessoas lhes pediram foi comida e bebida. E receberam.

Você quer experimentar um avivamento? Ore. Peça. Clame. E, se aprouver a Deus promover um verdadeiro avivamento, prepare-se para sentir a maior fome e sede de Jesus que já sentiu em toda a sua vida.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício