quarta-feira, 9 de abril de 2014

A confiabilidade dos Evangelhos

Por Davi Lago



Podemos citar três razões que demonstram a confiabilidade da narrativa dos evangelhos:

Razão nº1: Os evangelhos foram escritos num período próximo aos eventos narrados. Isso é muito importante porque indica que os evangelhos foram escritos por testemunhas oculares e pessoas próximas às diversas testemunhas oculares. O fato de as testemunhas oculares estarem vivas no tempo em que os evangelhos foram escritos é crucial porque elas poderiam desmentir qualquer informação mentirosa.

Há muitas evidências que demonstram que os evangelhos foram escritos cedo. Há evidências internas, como por exemplo: o livro de Atos termina bruscamente com Paulo esperando seu julgamento (At 28.31) o que indica que Lucas, o autor, terminou o livro naquele período. Sabe-se que Paulo foi martirizado entre 63 e 64 d.C. Sabe-se também que o livro de Atos foi escrito por Lucas depois de seu evangelho (At 1.1). Logo, o evangelho de Lucas foi escrito no máximo, apenas trinta anos após o ministério de Jesus.

Outro exemplo de evidência interna é a ausência de qualquer referência no Novo Testamento da destruição de Jerusalém em 70 d.C. Isso claramente aponta o fato de que todos os livros no Novo Testamento foram escritos em data anterior a 70 d.C. É notável o fato de que Jesus profetizou que Jerusalém seria destruída (Mc 13.1-4,14,30). E Jerusalém foi realmente destruída no ano 70 d.C. assim como Jesus profetizou. Sem dúvida os autores do Novo Testamento, que estavam preocupados em provar que Jesus é o Filho de Deus, teriam citado o cumprimento dessa profecia para apoiar sua argumentação.

Há também evidências relacionadas aos papiros com fragmentos do Novo Testamento que sobreviveram até nossos dias. O papiro conhecido como Chester Beatty é datado de 200-250 d.C.; o papiro Bodmer II de 200 d.C.; o papiro Early Chrisitian de 150 d.C.; e o papiro John Rylands MSS de 130 d.C. Esses papiros comprovam que os evangelhos foram escritos em data próxima aos eventos narrados.

Há evidências relacionadas aos escritos patrísticos. Por exemplo, a epístola de Policarpo aos filipenses foi escrita em 120 d.C., as cartas de Inácio em 115 d.C. e a epístola de Clemente aos coríntios em 95 d.C. Todos esses escritos contém inúmeras citações dos evangelhos e demais textos do Novo Testamento.

Portanto, se concluí que os evangelhos passam do teste mais ácido de todos os escritos da Antiguidade. Os evangelhos foram escritos na mesma geração que viu os eventos narrados. O fato dessa geração ter preservado os evangelhos para as gerações posteriores indica o fato de que não houve nenhuma distorção ou fraude na narrativa dos eventos.

Razão nº2: Os eventos narrados nos evangelhos são solidamente apoiados pelas descobertas históricas e arqueológicas. A arqueologia comprova a historicidade de eventos, pessoas e lugares descritos nos evangelhos. Por exemplo: Em Lucas 2.1-3 está escrito que foi realizado um censo no período em que Quirino era governador da Síria. Sabe-se hoje que os romanos realizavam um censo a cada 14 anos e que esses censos tiveram início com César Augusto. Inscrições encontradas em Antioquia confirmam que Quirino iniciou seu governo em 7 a.C. Em Lucas 3.1 é citado um governador chamado Lisânias. Foi encontrada uma inscrição próximo à cidade de Damasco que comprova a existência dele. Em João 19.13 é mencionado um pavimento de pedra, chamado Gábata, localizado no palácio de Pilatos. O arqueólogo William Albright comprovou que esse pavimento existiu, foi destruído em 70 d.C. e reconstruído pelo governador Adriano. Esses são apenas alguns exemplos das descobertas arqueológicas que comprovam a historicidade dos eventos narrados nos evangelhos.

Razão nº3: Os evangelhos não foram alterados com o passar dos séculos. Esse fato é comprovado por evidências maciças. Primeiro, há cerca de 4.000 manuscritos completos do Novo Testamento em grego espalhados pelos museus do mundo, e cerca de 13.000 manuscritos com fragmentos do Novo Testamento. É uma diferença monumental se comparado com outras obras da Antiguidade: há apenas dez manuscritos de Guerras Gálicas de Júlio César, dois manuscritos de Anais de Tácito, e sete manuscritos gregos das obras de Platão.

Segundo, os manuscritos do Novo Testamento foram encontrados em diversas localidades como Egito, Síria, Turquia, Itália, Grécia e Palestina.

Terceiro, os manuscritos do Novo Testamento que sobreviveram aos nossos dias foram escritos transcritos próximos aos manuscritos originais escritos pelos próprios autores. Há papiros com fragmentos do Novo Testamento que datam de 50 a 100 anos após a escrita dos originais. Há manuscritos completos que datam de 400 anos após a escrita dos originais (por exemplo: Codex Sinaiticus, Codex Alexandrino, Codex Vaticanus). Há uma diferenaça descomunal aos outros escritos da Antiguidade. Por exemplo: o manuscrito mais antigo que temos da História de Tucídes, é de 1300 anos após o original; História de Heródoto de 1350 anos; Guerras Gálicas de Júlio César de 950 anos; História de Tácito de 750 anos; Anais de Tácito de 950 anos. Entre os milhares de manuscritos do Novo Testamento que possuímos hoje, há diferenças mínimas, que são apontadas em notas de rodapé nas traduções modernas. Essas diferenças mínimas em nada alteram a doutrina cristã e podem ser superadas através da análise do que diz a maioria dos manuscritos.

A conclusão a que os estudiosos chegam é que nenhum outro documento da Antiguidade é tão confiável como os evangelhos e os demais livros do Novo Testamento.

Uma Análise Dos Cânticos Nos Evangelhos: O Magnificat E O Benedictus

 

Por Isaltino Gomes Coelho Filho 

  Introdução

Tem havido uma ênfase muito grande no Antigo Testamento, em nossas igrejas. Esta ênfase se verifica inclusive nas pregações e nos cânticos. Isto não é mau, em si. O autor deste trabalho é professor de Antigo Testamento e disciplinas correlatas, e autor de vários comentários exegéticos de livros do Antigo Testamento e se sente bem nesta porção da Bíblia. O problema é que alguns parecem esquecer que somos cristãos, somos regidos pelo Novo Testamento, que interpreta o Antigo, que somos filhos de nova aliança, prometida em Jeremias 31.31 e concretizada na instituição da ceia do Senhor, como lemos em Lucas 22.20. Muitas práticas e posições têm sido estabelecidas sem o parâmetro do Novo Testamento. Inclusive na área do louvor e de adoração. Isto se torna problemático para a igreja. Cristo tem sido empurrado para a periferia em muitas pregações e em muitas celebrações de louvor. E, em algumas ocasiões em que é lembrado, mais se assemelha a um Cristo da nova era, uma força ou uma energia, um emblema de uma espiritualidade vaga, do que a pessoa histórica em que Deus se encarnou e esteve entre nós.

Somos filhos de Novo Testamento, cuja teologia deve nos reger. Por isto que examinar seu ensino teológico sobre o conteúdo do louvor nos fará bem. Há hinos no Apocalipse, nas epístolas de Paulo e de Pedro, bem como nos evangelhos. Fiquemos por hora com dois dos cânticos mais conhecidos do Novo Testamento, e encontrados, ambos, no evangelho de Lucas. Um é o cântico de Maria (Lc 1.47-55), chamado de Magnificat, e o outro é o cântico de Zacarias (Lc 1.68-79), chamado de Benedictus. Como é a teologia deles? Que sinalizam para os cânticos contemporâneos, em termos de conteúdo?

 

Uma Pista Já Nos Títulos


O cântico de Maria é chamado de Magnificat por causa da primeira palavra em sua redação latina. "A minha alma engrandece ao Senhor" (Lc 1.46), diz-nos o texto em português. Mas magnificat é a expressão latina para "engrandece". É um cântico que exalta a grandeza de Deus, colocando o adorador como quem reconhece e exalta esta magnificência divina. A ênfase está na grandeza do Senhor. Nada de novo, pois o Salmo 139 é uma exultação plena sobre a majestade divina em vários aspectos. Mas guarde-se isto: a ênfase não está no adorador, mas na grandeza divina. A grandeza de Deus é o motivo central do cântico. Os cânticos são para engrandecer a Deus, e não para nos sentirmos bem, embora engrandecer a Deus não nos faça mal. Mas o foco deve ser Deus. Outros aspectos são secundários.

O cântico de Zacarias é chamado de Benedictus por causa da expressão latina para "Bendito", que é a primeira palavra do cântico (Lc 1.68). Ele segue uma estrutura comum nos cânticos de Israel. O cântico bendiz a Deus pelo agir divino no presente, que é a visitação divina na pessoa do menino, mas olha para o futuro, conforme se observa nos versículos 76-79. O cântico de Maria louva a Deus por aquilo que ele é. O cântico de Zacarias louva a Deus pelos seus atos na história, tanto no passado como no futuro. A ação de Deus na história é o motivo central do cântico do pai do Batista.

Os dois motivos centrais no dois cânticos são estes: Deus deve ser louvado pelo seu ser e pela sua obra. Pelo que é, pelo que fez e pelo que fará. Devemos adorar a Deus pelo seu caráter e por suas obras. Isto não traz nada de novo e todos concordaremos com isto, mas caminhemos mais um pouco em nossas observações.

 

Um Pouco Do Conteúdo Do Magnificat


Uma análise exaustiva do cântico de Maria nos tomaria muito espaço. Nosso propósito é uma visão geral que delineie o conteúdo do primeiro cântico de louvor a Deus no evangelho. Assim procedemos.

Começando pela exaltação do ser de Deus, o cântico logo nos desvela o sentimento da adoradora. "A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador" (vv. 46-47). Onde temos "engrandece", o correspondente em hebraico seria "Proclama as grandezas". "Minha alma" não deve ser entendida como a parte espiritual da pessoa, mas tem o sentido de todo o ser de Maria. Não é um ato mecânico, mas algo profundo, com todo o seu ser. O cântico traz o sentido de uma pessoa totalmente absorta em Deus, derramada diante dele, agradecida. O primeiro cântico de louvor do Novo Testamento nos mostra o sentimento do adorador. Não é uma catarse nem entretenimento, mas um profundo reconhecimento de quem é Deus e do se está fazendo. É um momento de contrição. A verdadeira adoração parte de um coração rendido e absorto em Deus. Não há estrelismo humano, mas uma glorificação de Deus.

Sem qualquer preocupação de desconstruir a figura de Maria, ressaltemos a expressão "Porque atentou na baixeza de sua serva" (v. 48). Não é um cântico de superioridade, mas de claro reconhecimento de sua humildade. O que Maria recebeu do Poderoso foi por causa de sua graça. Ele "atentou". O mérito é dele. É óbvio que nossos cânticos devem expressar nossa fé e nossos sentimentos, mas devem deixar claro que tudo que recebemos de Deus é por bondade sua e não mérito humano. Não reivindicamos nem declaramos, mas dizemos ter recebido manifestações da bondade divina. Nossos cânticos não devem exaltar o humano, mas sim o divino. Muitos "momentos de louvor" em nossas igrejas mostram que as pessoas estão usurpando o lugar de Deus no culto. Ou querendo aparecer mais que ele ou, ainda, tentando manipular as pessoas, produzindo-lhes emoções. Produzir emoções na vida do adorador é obra do Espírito Santo. E o evangelho de Jesus é tão poderoso que não precisa que pessoas sejam manipuladas para ele produzir efeitos. Basta centrar o foco em Deus. Ele faz o resto.

De uma perspectiva pessoal, o cântico se desloca. De Maria, passa a falar do próximo. Fala dos que temem a Deus (v. 50), e diz que ele agiu contra os soberbos e poderosos (vv. 51-52), elevou os humildes (v. 52), cuidou dos famintos e puniu os ricos (v. 53). Saiu da esfera do "eu" para a esfera do "eles". Um cântico que não olha apenas para si, mas inclui os demais. Louvamos a Deus pela sua bondade para conosco, mas devemos reconhecer sua bondade para com os demais. O culto não é apenas "eu e Deus". É "eu, Deus e os outros". Embora Maria parta de sua experiência muito particular, sua gravidez pelo Espírito Santo, seu louvor inclui os demais. Evitemos o intimismo e um tipo de culto que se restrinja a nós. Mesmo no momento mais pessoal de nosso louvor devemos lembrar que Deus é misericordioso para com todos os fiéis e carentes. Cânticos e culto não podem resvalar para o intimismo. Há uma mensagem para todos e não apenas para o adorador em particular. Em nossa gratidão lembremos dos irmãos. Deus não é propriedade um adorador em particular, mas é o Senhor de todos os que crêem em Jesus.

Mais uma vez o cântico se desloca. Sai do próximo para o povo na sua totalidade: "auxiliou a Israel" (v. 54). É lamentável que tantos cânticos e tantos cultos sejam excludentes de faixas etárias. "Culto jovem", por exemplo, enfatiza o adorador, não Deus, e restringe o culto a uma faixa etária. Faz triunfar o aspecto cultural sobre o aspecto teológico. O culto é um pecúlio espiritual de todo o povo de Deus, dirige-se a todo o povo de Deus, e em sua dimensão horizontal fala de todo o povo. Maria entoa um cântico que sai de sua pessoa, de sua gratidão pessoal para o reconhecimento da bondade de Deus para com todos. Um cântico que vê a totalidade do povo de Deus e não apenas os sentimentos da adoradora. Oportuna lembrança para nós! O culto público, principalmente, não pode primar pelo privatismo e pelo exclusivismo. O individualismo de um mundo sem Deus tem marcado até mesmo alguns de nossos cânticos, em que parecem existir apenas duas pessoas, o cantante e Deus. O culto é dos demais irmãos, repartimos as bênçãos com eles, e nos alegramos com eles.

 

Um Pouco Do Conteúdo Do Benedictus


O Benedictus é introduzido pela declaração de que Zacarias "foi cheio do Espírito Santo, e profetizou" (v. 67). Vem com a força de ser uma declaração inspirada por Deus. Só por isto merece nossa especial atenção. "Bendito" (Benedictus) é o grego eulógetos, o mesmo termo que introduz o hino trinitariano de Efésios 1.3-14. Só é usado para Deus. Geralmente o termo está sempre celebrando um benefício especial que Deus concedeu a alguém. É um cântico que celebra uma bênção recebida.

A bênção é comunitária. Zacarias entende quem é o menino e louva a Deus pelo seu significado na história de Israel. O centro teológico do cântico é o versículo 72: "Para manifestar misericórdia a nossos pais, E lembrar-se da sua santa aliança". Esta idéia de misericórdia, que é central, se repete no versículo 78: "Pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus...". As idéias principais, além da misericórdia, o hesed (amor imutável e eterno, o amor do pacto), são: salvação, liberdade, justiça e serviço. O cântico de Zacarias tem um profundo senso de história da salvação, o que é notável, sendo tão curto. A salvação não é um evento esotérico nem subjetivo. Está enraizada na história. E o Deus da história age movido pela sua misericórdia. Nossos cânticos não podem perder a historicidade da fé cristã de vista. E esta fé cristã não pode ser reduzida a meras sensações, como alguns de nossos cânticos têm feito. Isto é um empobrecimento de nosso credo.

A ação de Deus Pai na história desemboca no menino (v. 76 - "E tu, ó menino..."). É um hino cristológico. Isto se reveste de grande valor para nós. Cristo tem sido esquecido em muitos dos cânticos atuais. Somos cristãos e nosso louvor deve ser cristológico. A igreja celebra a Cristo e deve mostrar isto em seus cânticos. Precisamos cantar Cristo e a misericórdia do Pai. Porque Cristo é a maior manifestação da misericórdia do Pai. Podemos notar, sem muito esforço, que o cântico de Zacarias apresenta, na parte que trata do Pai, três divisões, no modelo de um sermão clássico: 1) Deus intervém (vv. 68-69); 2) Deus cumpre o prometido (v. 70); 3) Deus salva (vv. 71-74). A seguir, ocupa-se do menino, em quem Deus interveio, cumpriu o prometido e salva. Não é demais enfatizar isto: o cântico tem uma culminância na pessoa de Jesus. Cuidado para com nosso louvor nunca nos esquecermos de Jesus. E ele não pode ser uma vaga referência, mas o ponto culminante de nosso culto. Precisamos colocar Cristo no centro do púlpito e no centro do que cantamos.

 

À Guisa De Conclusão - A Visitação De Deus


Maria foi visitada pelo Senhor, através de seu anjo (Lc 1.26). Em seu cântico mencionou esta visitação (Lc 1.49). A idéia é expressa de maneira mais acentuada por Zacarias, em Lucas 1.68: "visitou e remiu o seu povo" e "nos há de visitar a aurora lá do alto" (Lc 1.79). A idéia de uma visitação de Deus está associada a sua entrada na história e na experiência dos homens, para libertá-los (Gn 50.24 e 26, Rt 1.6). Os dois primeiros cânticos de louvor do Novo Testamento celebram a visitação de Deus. Isto deve estar presente em nossos cânticos e cultos. Nós cantamos a visitação divina. Nós cantamos a entrada de Deus na história. Nós cantamos uma fé que se enraíza na história e cuja objetividade histórica é reconhecida. Não a reduzamos a sensações e ao sentimentalismo. O nascimento virginal, o ministério de Jesus, a cruz, a ressurreição, a ascensão, todos eles são temas históricos que devem ser cantados. Os corinhos atuais (ou qualquer que seja a nomenclatura que lhes dêem) se centram mais em sentimentos do adorador e apregoam uma religiosidade vaga, a-histórica. Isto não é a fé cristã. Nosso Deus age na história. Nós cantamos a entrada de Deus na história e o fato de que ele dirige a história.

No paganismo grego, as pseudas-divindades entravam na história para se divertir e afligir os homens. No cristianismo, Deus entrou na história para salvar os homens, para dar-lhes esperança e um sentido para suas vidas. Nossos cânticos e nossos cultos devem celebrar a esperança que Jesus nos trouxe. Devem expressar nossa salvação por causa da obra de Cristo, devem celebrar o rumo de vida que a igreja tem, devem proclamar nossa esperança. Somos o povo que Deus visitou e tomou para si, e devemos celebrar isto em nossa adoração.

Com tudo isto, podemos afirmar convictamente: o culto não é uma catarse para externar emoções, nem é um momento de entretenimento espiritual para nos sentirmos bem. Cânticos e cultos devem celebrar os atos de Deus por nós e expressar nossa gratidão pela sua obra por nossas vidas. E o referencial que nunca pode ser perdido é isto: cânticos e cultos da igreja devem ser cristológicos, exaltando a pessoa de Jesus Cristo, chamando a atenção para ele, exaltando sua pessoa e seu significado na história e na nossa vida. Se perdermos Cristo de vista, nosso culto será tudo, menos culto cristão. Maria e Zacarias nos ajudam a compreender isto um pouco mais.

Análise Bíblica Sobre A Psicopatia


Por Wilma Rejane

Acabo de ler o livro da Dra. Ana Beatriz B. Silva, intitulado “Mentes Perigosas. Julguei o tema tão instigante, que em apenas dois dias “devorei” as mais de duzentas páginas do Best Seller Brasileiro. Realmente o Recorde de vendas faz jus. A linguagem é simples e aprofundada, proporcionando ao leitor uma fácil compreensão do drama da psicopatia. Ao folhear as páginas da obra da Dra. Beatriz, fiquei na expectativa de que algum tratamento inovador apontasse para a solução. Mas não. A medicina julga o caso incurável e a médica, encerra o livro dizendo que “é mais sensato falarmos de ajuda para as vitimas dos psicopatas do que para eles mesmos” (cap. 11)

Separei alguns trechos do livro para firmar o debate do caso:

“Psicopatas em geral são indivíduos frios, calculistas, inescrupulosos, dissimulados, mentirosos, sedutores e que visam apenas o próprio beneficio. Eles são incapazes de estabelecer vínculos afetivos ou de se colocar no lugar do outro. São desprovidos de culpa ou remorso e, muitas vezes, revelam-se agressivos e violentos. Em maior ou menor nível de gravidade e com formas diferentes de manifestarem os seu atos transgressores, os psicopatas são verdadeiros “predadores sociais” em cujas veias e artérias corre um sangue gélido” Pg. 37.

“As terapias biológicas (medicamentos) e as psicoterapias em geral se mostram, até o presente momento, ineficazes para o psicopata. Por mais bizarro que possa parecer,


os psicopatas parecem estar inteiramente satisfeitos consigo mesmo e não apresentam constrangimentos morais ou sofrimentos emocionais como depressão, ansiedade, culpa, baixa auto-estima, etc. Não é possível tratar um sofrimento inexistente” Pg. 169.

"Uma característica chave na identificação de um psicopata é que ele é desprovido de consciência. O que é consciência? É a capacidade de amar. Psicopatas não amam” Capítulo 2: Psicopatas Frios e Sem Consciência.

A Bíblia e o Psicopata:
Como cristã, não pude deixar de buscar em minha mente e nas folhas do Livro Sagrado alguma referência ao tema. Não encontrei nada explícito. Se alguém souber, fará um favor coletivo em declarar. Meu primeiro ímpeto foi estudar as atitudes de Saul (não sei se isto é engraçado, patético ou revelador), mas ele é um sujeito um tanto frio que não firma laços afetivos com ninguém e põe em risco a vida dos filhos para alcançar seus objetivos. Se arrepende apenas da boca para fora, mente e apesar de todas as repreensões, morre no erro e negando a fé I Sm 28 (se é que ele tinha). Saul era um incurável? Incorrigível? Sem consciência?

Outro forte candidato a ser diagnosticado com o mal, seria Judas Iscariotes. Como pôde ser tão próximo de Jesus e fazer o que fez? Ser tão amado e desconhecer o amor? A Bíblia diz que ele se arrependeu de ter delatado Jesus aos inimigos, mas seu arrependimento foi bem parecido ao de Saul: Não conduziu ao novo nascimento. Apóstolo Paulo fala de dois tipos de arrependimento: Um para a morte e outro para a Vida (II Cor. 7:10)

Não estou dizendo que Saul e Judas eram psicopatas, por favor! No entanto, seus comportamentos eram semelhantes ao de um. A história do Rei Saul está descrita no Livro de I Samuel e a de Judas nos Evangelhos.

Ser Cristão e Psicopata?
Se psicopata não tem consciência e é incapaz de amar, logo, é impossível ser cristão e psicopata? “Aproximou-se dele um dos escribas que os tinha ouvido disputar, e sabendo que lhes tinha respondido bem, perguntou-lhe: Qual é o primeiro de todos os mandamentos? E Jesus respondeu-lhe: O Primeiro de todos os mandamentos é: Ouve ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças. E o segundo semelhante a este é amaras o teu próximo como a ti mesmo” Mc 12: 28-30. Amar é a essência do cristianismo, o maior dos mandamentos. Ser cristão e não amar é como céu sem estrela, mar sem água (dá pra imaginar?)

Segundo a medicina, um psicopata pode fingir muito bem, enganando até os mais experientes, no entanto devido à superficialidade, em algum momento será descoberto. Ou seja, para a medicina é impossível ser cristão e psicopata. Eles podem casar, constituir família... porém devido à ausência de afetividade usará estes fatos para proveito próprio. Pessoas são como objetos para os psicopatas.

Doença ou Possessão Demoníaca?
A causa da Psicopatia é explicada da seguinte forma: “Esses indivíduos apresentam uma “desconexão” dos circuitos cerebrais relacionados à emoção. A parte do corpo responsável por este desequilíbrio é a região do lobo pré-frontal (região da testa) Psicopatas teem razão demais e total ausência de emoção” Cap. 10: De Onde Vem Tudo Isso? Essa tese é apoiada no caso de Phineas Gage que trabalhava em uma estrada de ferro no século XIX. Após sofrer um grave acidente onde uma barra de ferro atingiu sua região pré-frontal, ele nunca mais fora o mesmo. Após isso passou o resto da vida em bebedeira e aplicação de golpes.

O estudo do caso que revolucionou o diagnóstico da psicopatia, contudo, é controverso se considerarmos a batalha travada no campo da espiritualidade. A frieza emocional dos psicopatas que os conduz a matar, mentir e aplicar toda sorte de delitos, também pode ter origem no mundo das trevas: “Vós tendes por pai o diabo, e quereis satisfazer os desejos do vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, pai da mentira” João 8: 44. Eis a origem da mentira: o diabo. Não é desordem biológica, mas espiritual. Jesus também faz referência a Caim, assassino de seu irmão Abel. Seria ele julgado psicopata pela medicina atual? Estaria em algum presídio, fazendo companhia a milhares de outros psicopatas?

A Medicina Não Cura, Jesus Cura?
È bem verdade que Caim, Judas, Saul e outros personagens bíblicos morreram sem demonstrarem arrependimento, porém: Saulo, o perseguidor da Igreja, assassino de cristãos, foi transformado em Paulo, grande Apóstolo! Servo de Deus, transformado pelo amor de Jesus, pela graça Redentora! O que dizer daquele ladrão crucificado ao lado de Jesus? Seria ele considerado psicopata, sem consciência? Foi salvo. Da condenação dos homens, direto para o Paraíso.

Minha intenção não é de forma alguma desmentir a medicina e desmerecer o trabalho de especialistas, quem sou para tamanha afronta? Mas, da mesma forma que a ciência biológica tenta explicar e encontrar soluções para as pessoas nestas condições, não seria demais acreditar que esse “defeito de fábrica” pode ser solucionado por Jesus. Será que uma vez psicopata, psicopata para sempre?!

A novelista e escritora Glória Perez, faz o prefácio do livro “Mentes Perigosas” e em uma clara alusão ao terrível fato envolvendo sua filha Daniella Perez, assassinada brutalmente por Guilherme de Pádua, relata: “psicopata não tem semelhante, ele nem sabe o que é isso”. Se psicopatas não teem cura, são incapazes de amar e manter laços afetivos, o que dizer do Guilherme de Pádua, que há mais de cinco anos professa a fé cristã? Conversão ou fingimento?

Ele Tomou Nossas Enfermidades
“Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido, Mas ele foi ferido por nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele e pelas suas pisaduras fomos sarados” Is 53:4, 5.

Interessante, que o versículo não diz: Jesus sarou todas as enfermidades, menos a psicopatia. Ora, se Ele ressuscitou Lázaro após dias na sepultura, curou o endemoninhado de Gadara, a quem todos tinham como louco, e fez tantos outros milagres considerados impossíveis a medicina, não curaria um psicopata?

Milagre é a realização de Algo Considerado Impossível Aos olhos Humanos.
Se você convive com um psicopata, de forma direta e indireta, ore por ele. Está escrito: “Porque para Deus nada é impossível” Lc 1:37. As cadeias estão lotadas de homens e mulheres que cometeram crimes bárbaros e continuam de corações endurecidos para Deus. Bem perto de nós, do lado de fora das celas, convivemos percebida ou despercebidamente com pessoas doentes e perigosas em baixa ou alta escala. Não são necessariamente homicidas, mas aniquilam a vida humana de outras formas: despedaçando corações, e provocando perdas profundas. Contudo, escolho acreditar na Palavra de Deus, sempre, acima de todas as circunstâncias.


Sobre o Livro Mentes Perigosas
Recomendo a leitura desse livro, não é pelo fato de acreditar em milagres que ignoro o perigo que nos ronda. As dicas da Dra. Ana Beatriz são muito úteis e podem evitar que pessoas de bom coração sejam vitímas de psicopatas. Aliás, eles escolhem justamente aqueles que demonstram boa vontade para com o próximo. -Às vezes, nos perdemos nessa sede de amar os inimigos. - Se amar é preciso, viver em paz também o é. Os alarmes costumam tocar para avisar dos perigos de furacões e outras catástrofes, quem der ouvidos se salvará. Quando há algo errado em um relacionamento, o alarme também toca, ficar parado, é o mesmo que aceitar o erro para mais tarde (ou quem sabe instantâneamente) ser devorado por ele.

Fontes:
Livro Mentes Perigosas (link no artigo)
Bíblia Sagrada

The Next Generation – Buracos Teológicos.


Por Josemar Bessa

Nos episódios de Star Trek: The Next Generation ou nos longas da série, há algo frustrante que sempre acontece e que temos dificuldade de entender. O capitão da Enterprise (Consagrado na figura de Jean Luc Picard) – sempre que em situações terrivelmente perigosas, apesar da nave ter um escudo de proteção, deixa sempre este escudo desligado. Só depois que alguma nave desconhecida já está atacando perigosamente a Enterprise é que o capitão grita:“Levantar o escudo!” – Você pensa – por que não antes? Antes da nave ser danificada, antes de alguém morrer, antes do perigo se tornar em alguma tragédia...

Essa não é a mesma situação da maioria das pessoas que se dizem cristãos hoje? De grande parte das igrejas? Por que tantos erros teológicos prosperam na igreja – que segundo a Bíblia, devia ser o “Baluarte da Verdade?” – Ter os escudos de proteção desligados é um perigo mortal que a maioria corre o tempo todo.

Devíamos estar sempre alertas, com escudos teológicos sólidos levantados todo o tempo, pois o inimigo, suas ideias que fluem de nossa cultura pós-cristã, está sempre por perto. A palavra de ordem sempre foi: “Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça” - Efésios 6:14

Essa é outra maneira de dizer – Paulo não conhecia a Enterprise – mantenha os escudos ligados. Se alguém, a cultura... está tentando convencê-lo de uma ideia contrária a Palavra de Deus, algo imoral, algo dito comum e normal em nossos dias... mantenha os escudos levantados. O problema é que se não sentimos o perigo, para que escudos de proteção? Se você está se sentindo seguro e confortável, para que escudo de proteção? Essa é a situação da grande maioria dos cristãos, que por isso, tem sido conformados a esta geração – Quando você está mais vulnerável e em que ponto essa geração tem fracassado?

Poderíamos mencionar tantas coisas, mas em primeiro lugar, nada é mais perigoso teologicamente quando você está desejando acreditar que algo seja verdade. Porque quando isso acontece, você irá fazer de tudo para se convencer de que aquilo é realmente verdade. Então, mesmo inconscientemente você irá deixar desligado os escudos de defesas da Palavra, abrindo caminho para acreditar no que você quer acreditar. Isto tem sido tão comum.

Sempre que eu me pego querendo que algo seja verdade ( porque é confortável para mim – porque vou poder estar mais conectado a cultura ao meu redor...), eu deveria imediatamente estar em guarda, com todos os escudos teológicos levantados. Essa é uma situação extremamente perigosa... É óbvio que não é só porque eu quero que algo seja verdade que aquilo se transforma em verdade. Saio do objetivo, saio do claro ensino bíblico, saio dos dados concretos... O significado disso deve ecoar sempre em nossas mentes – “querer acreditar” é perigosíssimo, porque neste momento eu desligo os escudos da Verdade e abro as comportas da racionalização para desligar a consciência... Quando “quero acreditar” no que a cultura diz, devia acender a luz vermelha. Mas é isso que acontece?

Em segundo lugar devia não só deixar o escudo teológico ligado, mas deveria reforçá-lo ao máximo quando é mais fácil acreditar.

A vida cristã, a vida com Deus, tem implicações práticas. A salvação afeta tudo o que fazemos. E muitas vezes não deixa a vida mais fácil num mundo que desconsidera a mente de Deus. Na verdade não só desconsidera, mas é hostil a Verdade. Então somos constantemente confrontados com a tentação de acreditar em algo porque vai facilitar nossas vidas. Por exemplo, é mais fácil fazer do mundanismo uma palavra oca de significado, porque então meu estilo de vida pode expressar a cultura a minha volta e não um Deus santo. É mais fácil acreditar que viver para adquirir bens materiais – redirecionando para isso todo tempo, trabalho, estudo, carreira, família... porque então eu não tenho que mudar meu estilo de vida confortável que não se diferencia dos paradigmas que impulsionam todos os homens a minha volta que estão mortos espiritualmente. 

É mais fácil acreditar que a minha relação com Deus é essencialmente um assunto privado entre mim e Ele, porque então eu posso justificar a minha falta de compromisso na edificação da igreja de Cristo, minha falta de comunhão numa comunidade local... É mais fácil acreditar que a evangelização é um dom espiritual para alguns, porque então não sinto a culpa por não estar propagando a verdade do Evangelho para a qual fui comissionado se estou em Cristo.

Acreditar que algo é verdadeiro por tornar a minha vida mais fácil, a continuar num estilo de vida mais fácil, a ir na direção mais fácil... é ter desligado todos os escudos de proteção. O caminho fácil acena em todas as relações nesta cultura, e é difícil ignorá-lo se os escudos de proteção não estiverem ligados.

Em terceiro lugar devemos estar totalmente atentos quando a cultura a nossa voltar quer que acreditemos. A cultura tende a nos formatar. É inevitável. Nós recebemos um fluxo constante de mensagens de nossa cultura sobre o que é bom e verdadeiro, sobre o que é belo, sobre o que vale a penas investir a vida, sobre o que é divertido... a maioria de nós nem sequer percebe o fluxo constante em que isso acontece. Então, ao nos sentirmos confortáveis e seguros, para quê escudos? Lenta e progressivamente esse fluxo constante nos molda. E nada pode ser mais fácil do que ir se deixando levar. Quando sentimos isso, deveríamos ligar o alerta vermelho e ligar todos os escudos. A pressão vem de todos os lugares: mídia, colegas, leitura... Começamos a pensar, eu não faço, mais isso é comum, normal... e esse é só o primeiro passo para perdermos toda a definição bíblica para a vida. Nossa cultura, por exemplo, quer desesperadamente que acreditemos que a homossexualidade e o casamento gay são normais, corretos... A corrente e o fluxo diário é muito forte. Você não quer ser visto como um troglodita, então, aos poucos... Sutilmente nossa cultura quer que acreditemos no consumismo, no individualismo ( é por isso que é tão comum hoje o que veio a ser chamado "desigrejados" – com desculpas piedosas escondemos o deus individualismo ) – a pregação da cultura sobre o individualismo, eu como capitão da minha história... entra em nossos poros todos os dias. E sabendo o quão fácil é apenas se deixar formatar e levar pelo fluxo, precisamos manter os escudos teológicos claros contra toda essa onda levantados a cada dia. Levantados contra cada uma dessas mensagens.

Em quarto lugar, devemos ligar todos os escudos quando a resposta obtida parece tão óbvia para a mente natural, o senso comum do homem sem Deus. Isso é extremamente perigoso porque se a resposta parece tão óbvia, por que se preocupar com isso. Naturalmente o homem, por exemplo, se vê como alguém livre, se vê como estando no centro... o humanismo secular sempre parece óbvio para a mente natural. O amor que aceita toda a espécie de erros e só afirma e nunca julga... parece tão óbvio para nossa cultura. Então pensamos – a resposta está logo ali. Se encaixa tão bem a minha mente, é tão confortável... Muitas pessoas jamais começam com a Bíblia – elas dizem –“olhe, é tão óbvio...” – É lógico que neste momento todos os escudos teológicos já estão desligados. Porque é lógico que não importa o que a Bíblia diz se eu já defini que algo é lógico, a partir desse ponto qualquer coisa contrária será ilógica. O que pareceu óbvio e lógico para Eva na sua conversa com a serpente se mostrou o oposto de toda lógica divina. Se achamos lógico, já não achamos perigoso – para que serviriam então escudos? Nós simplesmente desligamos. Relaxamos e continuamos na mesma direção. Então um “alienígena” – como em Star Trek – já fez um buraco em nossa nave, e a morte está a caminho.

Você percebe diariamente em quais situações você tem deixado os escudos de proteção desligados? Quando você está propenso a deixá-los desligados, você está num perigo morta. Essa é a razão de tantos erros prosperarem em nossos dias na igreja visível...

Queríamos acreditar,
era mais fácil acreditar,
nossa cultura queria que acreditássemos,
era mais lógico acreditar...

Então desligamos os escudos.

Por Que Devemos Ser Explicitamente Teológicos


Por Kevin DeYoung

Se não me engano, nossa igreja tem uma reputação de ser bastante teológica. Sei que por isso muitas pessoas têm vindo à nossa igreja. E imagino por que algumas pessoas têm saído dela, ou nem sequer nos procuraram. Mas nenhuma igreja deveria se desculpar por falar e gostar de teologia. Contudo – isto é uma importante advertência – se somos arrogantes com a nossa teologia, se a nossa paixão doutrinária é simplesmente um objetivo intelectual eticamente duvidoso, ou se somos completamente desproporcionais em nossos afetos para com outras doutrinas não tão consideráveis, então que o Senhor nos repreenda. Não devemos ficar surpresos se a teologia receber uma péssima classificação em tais circunstâncias.

Mas quando se trata de pensar, alegrar-se e edificar uma igreja sobre fundamentos bíblicos saudáveis, deveríamos todos desejar uma igreja profundamente teológica. Eu poderia citar muitos motivos para pregar teologicamente e muitos motivos para pastorear uma congregação que ama teologia. Vou citar seis:

1 - Deus se nos revelou na sua palavra e nos deu o seu Espírito para que pudéssemos compreender a verdade. Obviamente, não precisamos dominar todos os temas das Escrituras para sermos cristãos. Deus é gracioso para salvar muitos de nós com falhas de discernimento. Mas se temos uma Bíblia, sem mencionar os empecilhos materiais quando se trata de recursos impressos, por que não gostaríamos de entender o máximo possível da auto-revelação de Deus? Teologia é saber mais de Deus. Você não gostaria que sua igreja conhecesse mais de Deus?

2 - O Novo Testamento dá muito valor ao discernimento entre a verdade e o erro. Há um depósito de verdade que deve ser resguardado. Falsos ensinamentos devem ser lançados fora. Os bons ensinamentos devem ser promovidos e defendidos. Isso não acontece com alguns candidatos a Ph.D. insensíveis que se consomem diante de microfichas. Foi a paixão dos Apóstolos e do próprio Senhor Jesus que elogiou a igreja em Éfeso por ser intolerante com os falsos mestres e que odiava o comportamento dos Nicolaitas.

3 - Os mandamentos morais do Novo Testamento são fundamentados em proposições teológicas. Tantas epístolas de Paulo têm uma estrutura dupla. Os capítulos iniciais apresentam doutrina e os capítulos posteriores nos exortam à obediência. Doutrina e vida estão sempre conectadas na Bíblia. É por causa das misericórdias de Deus, à vista de todas as realidades sólidas teológicas em Romanos 1-11, que somos convocados a entregar nossas vidas como sacrifícios vivos em Romanos 12. Conheça a doutrina, conheça a vida. Nenhuma doutrina, nenhuma vida.

4 - Categorias teológicas nos capacitam mais e nos fazem regozijar mais profundamente na glória de Deus. Verdades simples são maravilhosas. É bom cantar hinos simples como "Deus é bom. Sempre!" Se você cantar isso com fé sincera, o Senhor se agrada. Mas ele também se agrada quando podemos cantar e orar sobre exatamente como ele tem sido bom conosco no plano da salvação e no alcance da história da salvação. Ele se agrada quando nos gloriamos na obra completa de Cristo, quando descansamos em sua providência todo-abrangente, e nos maravilhamos na sua infinitude e auto-existência; quando podemos nos deleitar em sua santidade e meditar na sua Trindade e Unidade e nos maravilhar com sua onisciência e onipotência. Estas categorias teológicas não têm a intenção de nos encher a cabeça, mas nos dar corações maiores que adoram com mais profundidade e sermos mais altos porque pudemos ver melhor o que há em Deus.

5 - A teologia nos ajuda e nos ensina a nos regozijar mais profundamente nas bênçãos que são nossas em Cristo. Repito, é doce saber que Jesus nos salva dos nossos pecados. Não há notícia melhor do que essa no mundo. Mas como seu deleite será mais completo e mais profundo se você compreender que a salvação significa eleição pela graça de Deus, expiação para cobrir seus pecados, propiciação para desviar a ira divina, redenção para comprá-lo para Deus, justificação diante do trono do julgamento de Deus, adoção na família de Deus, santificação constante pelo Espírito, e glorificação prometida no fim dos tempos. Se Deus nos deu tantas e tão variadas bênçãos multiplicadas em Cristo, não lhe ajudaria a honrá-lo compreendendo quais são elas?

6 - Até mesmo (ou seria especialmente) os que não são cristãos precisam de boa teologia. Eles não se entusiasmam quando ouvem uma pregação ordo salutis seca. Mas quem deseja pregações secas seja sobre lá o que for? Se você pode falar de maneira simpática, apaixonada, e simplesmente sobre as bênçãos da vocação verdadeira, da regeneração e da adoção, e sobre como todas essas bênçãos que se encontram em Cristo, e sobre como a vida cristã é nada mais nem menos do que aquilo que somos em Cristo, e como isto significa que Deus realmente deseja que sejamos sinceros, quando nascidos de novo e não como éramos nascidos no pecado – se você der tudo isso aos que anão são cristãos, e o der explicitamente, você lhes dará uma porção de teologia. E, se o Espírito de Deus estiver operando, eles poderão simplesmente voltar para buscar mais.

Não existem motivos para qualquer igreja ser algo menos do que robustamente teológica. As igrejas continuarão sendo de todos os formatos e tamanhos. Mas "sem teologia", ou pior, "anti-teológicas" elas não deveriam ser.

Traduzido por: Yolanda Mirdsa Krievin

Separado dos pecadores ou comilão e glutão?



Por Josemar Bessa
“Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado,separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus” - Hebreus 7:26 - Apenas parte da verdade nos leva ao completo erro.

Muitas vezes o homem vai até as Escrituras não para ser transformado por ela, mas para tentar encontrar uma justificação para o seu estilo de vida, estilo de vida que não flui da prioridade de ver Deus glorificado na sua vida, mas centrado em si e em seus deleites.

Esse tipo de motivação fecha os olhos do entendimento das Escrituras. Muitos justificam seu estilo de vida (muitas vezes até dizem estarem sendo apenas missionais) baseado num texto de Mateus 11.19 que diz: “...e dizem: Eis aí um homem comilão e beberrão, amigo dos publicanos e pecadores” -Mateus 11:19

É assim que Cristo se descreveu? É assim que Mateus descreveu Jesus? É assim que o Pai descreveu o Filho. Jesus foi referido por seus inimigos como“glutão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores” – Esses mesmos inimigos disseram: “Mas alguns deles diziam: Ele expulsa os demônios por Belzebu, príncipe dos demônios” Lucas 11:15 – Esses mesmos homens disseram que João Batista tinha demônio: “Porquanto veio João, não comendo nem bebendo, e dizem: Tem demônio” - Mateus 11:18

Jesus não era nenhuma das coisas que a expressão quer mostrar, nem ele procurou tal reputação. Essa era a maneira de os Fariseus... difamarem o Filho de Deus, João Batista...

Ele era um “amigo de publicanos e pecadores”, apenas no sentido de que os levantou e salvou ( como Zaqueu, por exemplo, ou o próprio Mateus ) – os tirou para fora do lamaçal do pecado e colocou seus pés sobre a rocha. Tentar usar a difamação dos Fariseus como desculpa para o mundanismo, mostra a mesma hostilidade, por fim, a quem Cristo de fato era – O Deus santo, o santo Filho de Deus: “Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus” - Hebreus 7:26 – Separado dos pecadores. Essa não é uma definição que flui dos fariseus – mas de Deus.

Ele era um “amigo de publicanos e pecadores”, apenas no sentido de que os levantou e salvou, mas não em adotar ou incentivar a sua vida e seu estilo de vida de amor ao pecado, usando seu linguajar chulo, obsceno... por abraçar seus valores moldados pelo pecado, por abraçar o pecado como entretenimento... abraçando essas coisas a fim de ganhar sua admiração ou ganhar a adesão deles como discípulos... Isso é simplesmente cometer a mesma blasfêmia dos fariseus – Ele era “santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores...” – Ele confrontou a maldade e repreendeu seus pecados tão corajosamente como ele pregou contra os erros dos fariseus: “Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem! Portanto, se a tua mão ou o teu pé te escandalizar, corta-o, e atira-o para longe de ti; melhor te é entrar na vida coxo, ou aleijado, do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno”. - Mateus 18:7-8

Cristo também comeu e bebeu com fariseus - “E rogou-lhe um dos fariseus que comesse com ele; e, entrando em casa do fariseu, assentou-se à mesa” -Lucas 7:36 – tão facilmente como Ele comeu com publicamos. Nenhum dos dois – publicanos ou fariseus – moldaram a vida dEle. A vida dos dois grupos era uma vida que desonrava a Deus, digna de Seu desprazer e juízo – e os dois grupos de homens foram chamados ao arrependimento e a mudança radical operada pelo Espírito Santo que leva o homem a viver como Paulo descreveu: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus -.Romanos 12:1-2

A diferença significativa entre o cobrador de imposto típico, não é que sua vida não mudou e ele continuou com o mesma visão e estilo de vida, mas achou Jesus legal. A diferença é exatamente que eles estiveram mais dispostos a confessar seu pecado, seu estilo de vida ofensivo a Deus e confessar sua própria necessidade desesperada de perdão e transformação de sua vida que os fariseus. A diferença foi exatamente não continuarem sendo os mesmos. É o que aconteceu com Mateus. Ele foi chamado ao arrependimento e foi completamente transformado: “E Jesus, passando adiante dali, viu assentado na recebedoria um homem, chamado Mateus, e disse-lhe: Segue-me. E ele, levantando-se, o seguiu”. Mateus 9:9 – Ou seja, ninguém pode usar o cobrador, publicano Mateus, para justificar sua falta de transformação que afeta toda a sua vida, valores... do mundo para Deus, do pecado para a santidade...

A Bíblia não faz a menor sugestão que Jesus assumiu a aparência e o estilo de vida de um publicano, seus prazeres pecaminosos... tenha se tornado um glutão... (par dizer pouco)... a fim de ganhar a aceitação de uma subcultura sem Deus. Ele não o fez. Ele mesmo era e é o Deus santo, “separado dos pecadores!”.

Enaltecer símbolos de indulgência carnal, como se fossem válidos como emblemas da identidade espiritual, não passa de desculpa de um coração mundano. Nenhuma indulgência carnal pode promover a glória e a causa do reino de Deus.

Quando disfarçamos o estilo de vida do homem sem Deus e em seus pecados como estratégias... isto não altera a sua verdadeira natureza. O homem que faz isso na verdade se assemelha a Ló, que armou sua tenda na direção de Sodoma, e não com Cristo, que é “santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores...”

A descrição e visão que os fariseus tinham de Filho de Deus: “...e dizem: Eis aí um homem comilão e beberrão, amigo dos publicanos e pecadores” -Mateus 11:19 - “Mas alguns deles diziam: Ele expulsa os demônios por Belzebu, príncipe dos demônios” Lucas 11:15.

A descrição de Deus: “Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus...” - Hebreus 7:26

Que descrição encontra a alegria do teu coração e molda sua vida?

MANIFESTAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO OU ABERRAÇÃO TEOLÓGICA???


Em tempos de aberrações teológicas, apologistas e líderes evangélicos demonstram perplexidade diante de desvios doutrinários.

O crente brasileiro sabe: vez por outra, a Igreja Evangélica brasileira é agitada por uma novidade. Pode ser a chegada de um novo movimento teológico, de uma doutrina inusitada ou mesmo de uma prática heterodoxa, daquelas que causam entusiasmo em uns e estranheza em outros. Quem frequentava igrejas nos anos 1980 há de se lembrar do suposto milagre dos dentes de ouro, por exemplo. Na época, milhares de crentes começaram a testemunhar que, durante as orações, obturações douradas apareciam sobrenaturalmente em suas bocas, numa espécie de odontologia divina. Muito se disse e se fez em nome dessa alegada ação sobrenatural de Deus, que atraiu muita gente aos cultos. Embora contestados por dentistas e nunca satisfatoriamente explicados – segundo especialistas, o amarelecimento natural de obturações ao longo do tempo poderia explicar o fenômeno, e houve quem dissesse que a bênção nada mais era que o efeito de sugestão –, os dentes de ouro marcaram época e ainda aparecem em bocas por aí, numa ou noutra congregação.

Outras manifestações nada convencionais sacudiram o segmento pentecostal de tempos em tempos. Uma delas era a denominada queda no Espírito, quando o fiel, durante a oração, sofria uma espécie de arrebatamento, caindo ao solo e permanecendo como que em transe. Disseminada a partir do trabalho de pregadores americanos como Benny Hinn e Kathryn Kuhlman, a queda no poder passou a ser largamente praticada como sinal de plenitude espiritual e chegou com força ao Brasil. A coqueluche também passou, mas ainda hoje diversos ministérios e pregadores fazem do chamado cair no poder elemento importante de sua liturgia. A moda logo foi substituída por outras, ainda mais bizarras, como a “unção do riso” e a “unção dos animais”. Disseminadas pela Comunhão Cristã do Aeroporto de Toronto, no Canadá, a partir de 1993, tais práticas beiravam a histeria coletiva – a certa altura do culto, diversas pessoas caíam ao chão, rindo descontroladamente ou emitindo sons de animais como leões e águias. Tudo era atribuído ao poder do Espírito Santo.

A chamada “bênção de Toronto” logo ganhou mundo, à semelhança das mais variadas novidades. Parece que, quando mais espetacular a manifestação, mais ela tende a se popularizar, atropelando até mesmo o bom senso. Mas o que para muita gente é ato profético ou manifestação do poder do Senhor também é visto por teólogos moderados como simples modismos ou – mais sério ainda – desvios doutrinários. Pior é quando a nova teologia é usada com fins fraudulentos, para arrancar uma oferta a mais ou exercer poder eclesiástico autoritário. “A Bíblia diz claramente que haverá a disseminação de heresias nos últimos dias, e não um grande reavivamento, como alguns estão anunciando”, alerta Araripe Gurgel, pesquisador da Agência de Informações Religiosas (Agir). Pastor da Igreja Cristã da Trindade, ele é especialista e seitas e aberrações cristãs e observa que cada vez mais a Palavra de Deus tem sido contaminada e pervertida pelo apelo místico. “Essa tipo de abordagem introduz no cristianismo heresias disfarçadas em meias-verdades, levando a uma religião de aparência, sensorial, sem a real percepção de Deus”, destaca.

“Não dá para ficar quieto diante de tanta bizarrice”, protesta o pastor e escritor Renato Vargens, da Igreja Cristã da Aliança, em Niterói (RJ). Apologista, ele tem feito de seu blog uma trincheira na luta contra aberrações teológicas como as que vê florescer, sobretudo, no neopentecostalismo. “Acredito, que, mais do que nunca, a Igreja de Cristo precisa preservar a sã doutrina, defendendo os valores inegociáveis da fé cristã. A apologética cristã é um ministério indispensável a saúde do Corpo de Cristo”. Na internet, ele disponibiliza farto material, como vídeos que mostram um pouco de tudo. Um dos mais comentados foi um em que um dos líderes do Ministério de Madureira das Assembleias de Deus, Samuel Ferreira, aparece numa espécie de arrebatamento sobre uma pilha de dinheiro, arrecadado durante um culto. “Acabo de ver no YouTube o vídeo de um falso profeta chamado reverendo João Batista, que comercializa pó sagrado, perfume da prosperidade e até um tal martelão do poder”. acrescenta Vargens.

Autor do recém-lançado livro Cristianismo ao gosto do freguês, em que denuncia a redução da fé evangélica a mero instrumento de manipulação, o pastor tem sido um crítico obstinado de líderes pentecostais que fazem em seus programas de TV verdadeiras barganhas em nome de Jesus. “O denominado apóstolo Valdomiro Santiago faz apologia de sua denominação, a Igreja Mundial do Poder de Deus, desqualificando todas as outras. E tem ensinado doutrinas absolutamente antibíblicas, onde o ‘tomá-lá-dá-cá’ é a regra”. Uma delas é o trízimo, em que desafia o fiel a ofertas à instituição 30% de seus rendimentos, e não os tradicionais dez por cento. A “doutrina das sementes”, defendida por pregadores americanos como Mike Murdoch e Morris Cerullo nos programas do pastor Silas Malafaia, também rendeu diversos posts. Segundo eles, o crente deve ofertar valores específicos – no caso, donativos na faixa dos mil reais – em troca de uma unção financeira capaz de levá-lo à prosperidade. “Trata-se de um evangelho espúrio, para tirar dinheiro dos irmãos”, reclama Vargens. “Deus não é bolsa de valores, nem se submete às nossas barganhas ou àqueles que pensam que podem manipular o sagrado estabelecendo regras de sucesso pessoal.

Crise teológica – Numa confissão religiosa tão multifacetada em suas expressões e diversa em termos de organização e liderança, é natural que o segmento evangélico sofra com a perda de identidade. O próprio conceito do que é ser crente no país – tema de capa da edição nº 15 de CRISTIANISMO HOJE – é extremamente difuso. E muitas denominações, envolvidas em práticas heterodoxas, vez por outra adotam ritos estranhos à tradição protestante. Joaquim de Andrade, pastor da Igreja Missionária Evangélica Maranata, do Rio, é um pesquisador de seitas e heresias que já enfrentou até conflitos com integrantes de outras crenças, como testemunhas de Jeová e umbandistas. Destes tempos, guarda o pensamento crítico com que enxerga também a situação atual da fé evangélica: “Vivemos uma verdadeira crise teológica, de identidade e integridade. Os crentes estão dando mais valor às manifestações espirituais do que à Palavra de Deus”.

Neste caldo, qualquer liderança mais carismática logo conquista seguidores, independentemente da fidelidade de sua mensagem à Bíblia. “Manifestações atraem pessoas. O próprio Nicodemos concluiu que os sinais que Cristo operou foram além do alcance do povo, mas não temos evidência de que ele tenha mesmo se convertido”, explica o pastor Russel Shedd, doutor em teologia e um dos mais acreditados líderes evangélicos em atuação no Brasil. Ele refere-se a um personagem bíblico que teve importante discussão com Jesus, que ao final admoestou-lhe da necessidade de o homem nascer de novo pela fé. “Líderes que procuram vencer a competição entre igrejas precisam alegar que têm poder”, observa, lembrando que a oferta do sobrenatural precisa atender à imensa demanda dos dias de hoje. “Mas poder não salva nem transmite amor”, conclui.

“A busca pela expansão evangélica traz consigo essa necessidade de aculturação e, na cultura religiosa brasileira, nada mais puro do que a mistura”, acrescenta o pastor Fabrício Cunha, da Igreja Batista da Água Branca, em São Paulo. “O candomblé já fez isso, usando os símbolos do catolicismo; o espiritismo, usando a temática cristã; e agora, vêm os evangélicos neopentecostais, usando toda uma simbologia afro e um misticismo pagão”, explica. Como um dos coordenadores do Fórum Jovem de Missão Integral e membro da Fraternidade Teológica Latinoamericana, ele observa que mesmo os protestantes são fruto de uma miscigenação generalizada, o que, no campo da religião, tem em sua gênese um alto nível de sincretismo.

Acontece que, em determinadas comunidades cristãs, alguns destes elementos precisam ser compreendidos como estratégias de comunicação e atração de novos fiéis. Aí, vale tanto a distribuição de objetos com apelo mágico, como rosas ungidas ou frascos de óleo, como a oferta de manifestações tidas como milagrosas, como o já citado dente de ouro ou as estrelinhas de fogo – se o leitor ainda não conhece, saiba que trata-se de pontos luminosos que, segundo muitos crentes, costumam aparecer brilhando em reuniões de busca de poder, sobretudo vigílias durante a noite ou cultos realizados nos montes, prática comum nas periferias de grandes cidades como o Rio de Janeiro. O objetivo das tais estrelinhas? Ninguém sabe, mas costuma-se dizer que é fogo puro, assim como tantas outras manifestações do gênero.

“Alguns desses elementos são resultado de um processo de sectarização religiosa”, opina o teólogo e mestre em ciências da religião Valtair Miranda. “Ou seja, quanto mais exótico for a manifestação, mais fácil será para esse líder carismático atrair seguidores para seu grupo”. Miranda explica que, como as igrejas evangélicas, sobretudo as avivadas, são, em linhas gerais, muito parecidas, o que os grupos sectários querem é se destacar. “Eles preconizam um determinado tópico teológico ou passagem bíblica, e crescem em torno disso. Objetos como lenços ungidos, medalhas, sal ou sabonete santificados são exemplos. Quanto mais diferente, maior a probabilidade de atrair algum curioso”. A estratégia tende a dar resultado quando gira em torno de uma figura religiosa carismática. “Sem carisma, estes elementos logo provocam sarcasmo e evasão”, ressalva. O estudioso lembra o que caracteriza fundamentalmente um grupo sectário – o isolamento. “Uma seita precisa marcar bem sua diferença para segurar seu adepto. Quanto mais ele levantar seus muros, mais forte será a identidade e a adesão do fiel.”

“Propósito de Deus”– Mas quem faz das manifestações do poder do Espírito Santo parte fundamental de seu ministério defende que apenas milagres não bastam. “É necessário um propósito e uma mudança de vida”, declara o bispo Salomão dos Santos, dirigente da Associação Evangélica Missionária Ministério Vida. Como ele mesmo diz, trata-se de uma igreja movida pelo poder da Palavra de Deus, “que crê que Jesus salva, cura, liberta e transforma vidas”. O próprio líder se diz um fruto desse poder. Salomão conta que já esteve gravemente doente, sofrendo de hepatite, câncer e outras complicações que a medicina não podia curar. “Cheguei a morrer, mas miraculosamente voltei à vida”, garante o bispo, dizendo que chegou a jazer oito horas no necrotério de um hospital. “Voltei pela vontade de Deus”, comemora, cheio de fé.

Consciente, Salomão diz que milagres e manifestações naturais realmente acontecem, mas “somente para a exaltação e a glória do Senhor, e não de homens ou denominações”. O bispo também observa que alguns têm feito do poder extraordinário de Jesus uma grande indústria de milagres: “O Senhor não dá sua glória para ninguém. Ele opera maravilhas através da instrumentalidade de nossas vidas”. E faz questão de reiterar a simplicidade com que Jesus viveu sua vida terrena e que, muitas vezes, realizou grandes milagres sem nenhum alarde. “O agir de Deus não é um espetáculo.” (Colaborou Carlos Fernandes)

Sangue fajuto

A novidade chama a atenção pelo seu aspecto bizarro. Num templo da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), fiéis caminham através de pórticos representando diversos aspectos da vida (“Saúde financeira”, “Família”, “Finanças”). Até aí, nada demais – os chamados atos proféticos como este são comuns na denominação. O mais estranho acontece depois. Caracterizados como sacerdotes do Antigo Testamento, pastores da Universal recebem as pessoas e, sobre um pequeno altar estilizado, fazem um “sacrifício de sangue”. A nova prática vem ganhando espaço nos cultos da Iurd, igreja que já introduziu no neopentecostalismo uma série de elementos simbólicos. Tudo bem que o sangue não é real (trata-se de simples tinta), mas a imolação simulada vai contra tudo o que ensina o Novo Testamento, segundo o qual Jesus, o Cordeiro de Deus, entregou-se a si mesmo como supremo e definitivo sacrifício pela humanidade. Com sangue puro, e não cenográfico.